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Elísio Estanque*
Jornal PÚBLICO, 3.09.2012
Rentrée política

Passos inseguros
Com a espada de Dâmocles da troika a pairar sobre a cabeça dos portugueses até final da
próxima semana, esta rentrée dificilmente seria mais que um simulacro, sobretudo da parte do
PSD. Perante a perda de credibilidade do governo e as contradições em torno da RTP, o “bom
aluno” precisaria de um novo sopro de convicção e de resultados palpáveis que aliviassem as
ansiedades e apontassem o como e o quando o apertar do cinto começará a aliviar. Falou-se
dos “erros do passado”, da “década desperdiçada” e das ambições do governo para criar as
oportunidades da globalização que não foram aproveitadas no passado.

A economia e o desemprego foram referências mas o diapasão continuou a ecoar apenas mais
austeridade. Assumiu-se a política de continuidade, sem fazer esquecer lemas centrais como o
empobrecimento e o “fim do regabofe”, ou seja, alguns dos clichés malditos que ainda
estremecem nos nossos ouvidos. Exaltando o “rigor” e a reconciliação com os “mercados”, não
houve da parte do PM sinais de esperar da troika uma recompensa palpável que aliviasse os
limites do défice e que desse um impulso à economia e ao emprego. Que 2013 será um ano
difícil, já o sabíamos. E que privatizar é um desígnio que este governo pretende levar até às
últimas consequências, também. Depois dos anéis restam os dedos?

Neste quadro, o discurso que A. J. Seguro adotou na sua rentrée, não deixou de agarrar alguns
dos passos em falso de Passos – a derrapagem do OE 2012, o crescimento do desemprego, o
excesso de austeridade, a privatização da RTP, etc. – apontando “outro caminho” para a
economia portuguesa e a saída da crise. Propostas consistentes de política económica, ciência e
ambiente casaram bem com a análise da crise na Europa e a luta por uma inversão de rumo da
UE, contrariando o vazio de ideias do governo nessas matérias.

Sem conseguir ultrapassar o estigma que advém do seu próprio comprometimento com a
troika, o líder socialista deixou no ar um possível bater o pé na votação do OE 2013, embora os
caminhos ambíguos do PS soem ainda muito hesitantes e inseguros na voz de Seguro. A
ambivalência entre, por um lado, a atração pelo poder e a adesão ao statu quo com o
pensamento em 2015, e, por outro, a recusa da política de austeridade e exigência da
restruturação da dívida, a aposta no crescimento económico e a defesa do que resta do Estado
social, são orientações que traduzem a tensão – entre compromisso e rutura – com que o PS
terá de continuar a conviver.

__
* Investigador do Centro de Estudos Sociais e professor da
Faculdade de Economia da Univ. Coimbra

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  • 1. Elísio Estanque* Jornal PÚBLICO, 3.09.2012 Rentrée política Passos inseguros Com a espada de Dâmocles da troika a pairar sobre a cabeça dos portugueses até final da próxima semana, esta rentrée dificilmente seria mais que um simulacro, sobretudo da parte do PSD. Perante a perda de credibilidade do governo e as contradições em torno da RTP, o “bom aluno” precisaria de um novo sopro de convicção e de resultados palpáveis que aliviassem as ansiedades e apontassem o como e o quando o apertar do cinto começará a aliviar. Falou-se dos “erros do passado”, da “década desperdiçada” e das ambições do governo para criar as oportunidades da globalização que não foram aproveitadas no passado. A economia e o desemprego foram referências mas o diapasão continuou a ecoar apenas mais austeridade. Assumiu-se a política de continuidade, sem fazer esquecer lemas centrais como o empobrecimento e o “fim do regabofe”, ou seja, alguns dos clichés malditos que ainda estremecem nos nossos ouvidos. Exaltando o “rigor” e a reconciliação com os “mercados”, não houve da parte do PM sinais de esperar da troika uma recompensa palpável que aliviasse os limites do défice e que desse um impulso à economia e ao emprego. Que 2013 será um ano difícil, já o sabíamos. E que privatizar é um desígnio que este governo pretende levar até às últimas consequências, também. Depois dos anéis restam os dedos? Neste quadro, o discurso que A. J. Seguro adotou na sua rentrée, não deixou de agarrar alguns dos passos em falso de Passos – a derrapagem do OE 2012, o crescimento do desemprego, o excesso de austeridade, a privatização da RTP, etc. – apontando “outro caminho” para a economia portuguesa e a saída da crise. Propostas consistentes de política económica, ciência e ambiente casaram bem com a análise da crise na Europa e a luta por uma inversão de rumo da UE, contrariando o vazio de ideias do governo nessas matérias. Sem conseguir ultrapassar o estigma que advém do seu próprio comprometimento com a troika, o líder socialista deixou no ar um possível bater o pé na votação do OE 2013, embora os caminhos ambíguos do PS soem ainda muito hesitantes e inseguros na voz de Seguro. A
  • 2. ambivalência entre, por um lado, a atração pelo poder e a adesão ao statu quo com o pensamento em 2015, e, por outro, a recusa da política de austeridade e exigência da restruturação da dívida, a aposta no crescimento económico e a defesa do que resta do Estado social, são orientações que traduzem a tensão – entre compromisso e rutura – com que o PS terá de continuar a conviver. __ * Investigador do Centro de Estudos Sociais e professor da Faculdade de Economia da Univ. Coimbra