Este documento discute a influência das relações familiares no desenvolvimento da aprendizagem de crianças e adolescentes. Ele descreve como a visão da infância mudou ao longo dos séculos, passando de irrelevante para valorizada. Também discute como vínculos familiares afetam o desenvolvimento e como famílias estruturadas emocionalmente promovem melhor aprendizagem escolar.
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Relações familiares e aprendizagem
1. Relações Familiares e Aprendizagem
Elieuza A. dos Santos
As relações familiares e suas repercussões têm forte influência na formação dos
sintomas das dificuldades de aprendizagens em crianças e adolescentes no contexto
escolar. Tal pressuposto é considerável no campo de estudo sobre o elevado nível de
crianças e jovens que apresentam dificuldades na aquisição do conhecimento. Diante
dessa necessidade, é preciso compreender a formação dinâmica do contexto familiar e
seus reflexos no desenvolvimento das crianças e adolescentes no ambiente familiar e
escolar.
Estudos pautados nas ciências sociais e psicológicas nos levam a tecer uma
conceito sobre essa demanda, embora seja um assunto amplo e complexo. A família é
definida como estrutura social básica com um conjunto diferenciado de papéis,
composta de pessoas que convivem numa escala de tempo prolongada, em uma inter-
relação recíproca com a cultura e a sociedade; no seio da qual se desenvolve o ser
humano, premiado pela necessidade de restringir-se a situação narcísica e constituir-se
em um adulto pleno e capaz de conduzir sua existência no convívio social. Neste
sentido, cabe a família auxiliá-lo neste percurso. Assim sendo, as funções primordiais
da família se resume em ensino e aprendizagem, nas quais estão incluso valores,
conceitos e costumes.
De acordo Philippe Áries, a historia social da criança e da família passa por um
processo evolutivo de valores entre a idade média e moderna. Este relata a que a criança
tinha pouca importância no seio familiar no século XII. A família a via como um adulto
em miniatura, que era instruído pra se torna replica dos pais, não existia uma denotação
de infância. As discussões em relação às crianças com seus pais e parentes vinculava
apenas na questão de se ter filhos, o parto, o batismo; a criança não tinha seu espaço na
família, só alcançaria seu lugar na fase adulta, que já iniciava precocemente.
Ainda consta nos relatos de Philippe Áries que no seio da sociedade, também
não havia sentimento de infância, criança tinha um sentido conotativo angelical, criança
era figura, irreal, algo projetado na tela, sem existência própria. Nem o nome lhe era
especifico, mas sim o sobrenome que lhe dava o selo de pertencimento aquela família,
uma vez que, apenas o nome não era o suficiente identificá-lo, devido a pouca
importância que se dava a este ser.
2. Mesmo com avanço das ciências, entre os séculos XVI e XVII, ainda sim, não se
priorizaria a questão da infância. A criança era vista como mercadoria, empreendimento
familiar. Embora, a partir do século XVI, os religiosos terem começado dar um novo
foco a criança, a importância à noção de idade. Esta começou a ser firmada, quando
reformadores religiosos impuseram essa condição de que as crianças tivessem registro
de idade, assim como registro dos eventos que ocorriam na família, como casamentos,
nascimentos e mortes e, demais eventos significativos. As idades da vida eram
compradas com temas populares como signos dos zodíacos e quatros estações que
correspondiam a etapas biológicas bem delimitadas e serviam de referências para
identificar os indivíduos em etapas de vida. Eram os costumes e os valores se fundando
nas famílias, re-significando os conceitos permearia os séculos vindouros.
Em suma, “a historia social da criança e da família”, aborda os aspectos da
imagem da criança na mente da sociedade dos séculos X a XIX. A infância era apenas
uma fase sem importância que não fazia sentido fixar na lembrança. Essa visão de
desconsideração ao fato da existência de um ser que nasce, cresce, tem existência
própria que passa por fases só mudou em meados do século XIX. A valorização da
infância se tornou mais evidente a partir do século XX, embora ainda tenhamos uma
sociedade capitalista que vê a infância como produto de mercado e que o individuo só
pode ser considerado membro da sociedade quando adulto. Tal afirmação pode ser
descrita quando usamos a expressão corriqueira que “se começa á vida quando se sai da
infância”.
Para compreendermos essa dinâmica da valorização da infância, é necessário
conhecermos este contexto sócio-histórico da criança e da família e a visão psicossocial
que se tem da formação desse conjunto. Uma vez que a família aparece representada de
acordo o papel social que ela assume em determinado tempo da história da humanidade.
Segundo Szymanski, ‘é a família pensada’, o modelo oferecido por nossa sociedade
(Szymanski, 2004. p.2). Essa família aparece de acordo os padrões e ditames: social,
econômico e político da época. Uma família que é pensada como projeto de construção
d perfeito, que possui estruturas sólidas e perfeitas, que atendam as necessidades sociais
da época, priorizando e promovendo a ordem e a felicidade do núcleo familiar de seus
membros na sociedade.
É sabido que os padrões sociais mudam, mas os valores e costumes são passados
de gerações a gerações, e estes são constituídos no núcleo familiar. A ruptura nesse
tramite, acarretaria os transtornos e as dificuldades que são refletidas na vida
3. psicossocial do individuo. A família como lócus de desenvolvimento é a base que
sustentará o indivíduo, da infância à fase adulta.
Para Szymanski (2004), quando se pensa em famílias como lócus de
desenvolvimento, faz-se necessário lembrar elas se divergem quanto à concepção de
infância, que conseqüentemente irão possibilitar diferentes oportunidades a criança no
processo socializador. Porém, não podemos nos abster do pressuposto de que famílias
de classes sociais e econômicas diferentes têm seu modo específico de orientar, educar
suas crianças. Embora, sabemos que atualmente a infância é questionada em todos os
níveis sociais, em relação à sobrecarga de responsabilidades que recaem sobres elas e as
influências do meio social que invadem o seio familiar.
Contudo, o meio psicológico sócio-educacional da criança pode ser afetado de
forma positiva e/ou também negativa pela ação recíproca entre os ambientes mais
importantes que ela passa, desde sua casa ao ambiente social e escolar. Por isso, o bom
e saudável desenvolvimento físico, biológico, cognitivo, social e emocional da criança é
à base de toda a estrutura de seu comportamento no convívio social. É evidente que isto
também inclui o processo reflexivo de desenvolvimento pessoal de todos os membros
da família, e aceitabilidade destes membros entre si na inter-relação com a criança.
Neste sentido, vale ressaltar a importância do vinculo dos pais com a criança
desde a gestação a adolescência, pois este vínculo vai influenciar de forma significativa
no desenvolvimento e no comportamento da criança. Podemos dizer que a gestação
desde o momento que é desejada e pelos pais, principalmente pela mãe, torna-se a
gênese do desenvolvimento da criança no ambiente familiar e de aprendizagem.
De acordo Borsa (2006), o sentimento e o comportamento da mãe em relação ao
seu bebê assim como as atitudes dela com ele, advindas de suas experiências pessoais
prévias serão de suma importância para desenvolvimento global da criança. E,
considerando a importância desse laço entre os pais e o bebê, em especifico com a mãe
que o acompanhará mais de perto no seu percurso formativo infanto-juvenil, vale
ressalta que a forma como ocorrerão os recortes neste laço, vai ser determinante para a
formação do desenvolvimento global desta criança.
Portanto, é imprescindível que nesta relação se construa uma base emocional
segura para que a criança se sinta protegida e amparada para enfrentar os desafios e os
desligamentos que irão ocorrer durante sua infância quando está se inserir no ambiente
escolar.
4. Pressupõe-se que as crianças que procedem de famílias carentes ou
disfuncionais, de pais que não acompanham de perto o desenvolvimento delas, podem a
vim ser desmotivadas, e consequentemente, destinadas a fracassar na sua escolaridade,
tendo seu futuro comprometido na sociedade, algo já predeterminado numa sociedade
capitalista. Por isso, os pais têm a responsabilidade de participar do processo
educacional de seus filhos para que possam ter um desempenho escolar positivo. E para
tanto, a escola deve ter uma dinâmica aberta e acolhedora, conhecer e compreender as
ações que carregam os valores que influenciam o desenvolvimento das crianças e
adolescentes que estão inseridos naquele ambiente. Assim, a instituição juntamente com
professores terá a possibilidade de fazer a intervenção necessária junto à criança e sua
família.
Contudo, podemos dizer, a crianças que se desenvolvem em famílias
estruturadas emocionalmente, nas quais as atitudes dos pais são adequadas à formação e
ao desenvolvimento da criança no período da infância à adolescência; a probabilidade
de haver conflitos neuróticos ligados à patologia do sistema familiar será meramente
descartável e, consequentemente está criança terá uma boa aprendizagem escolar e/ou
uma conduta escolar normal. As práticas educativas desenvolvidas na família são
básicas para convivência humana porque a aprendizagem se inicia no lar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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