Seminário apresentado na UNIOESTE em novembro de 2019 pelos acadêmicos Claudia Ten Caten e Dérik Leonhardt Neske na disciplina de Literatura Brasileira II, ministrada pelo Prof. Dr. Paulo Konzen
2. Tropicalismo, Tropicália,
Movimento Tropicalista
O movimento tropicalista foi
um movimento cultural
brasileiro que surgiu sob a
influência das correntes
artísticas da vanguarda e da
cultura pop, misturando
manifestações tradicionais da
cultura brasileira à inovações
estéticas.
3. Contexto
Histórico no
Mundo
Guerra Fria, Muro de Berlim (polarização
ideológica)
Revolução Cubana (revolução socialista)
Revolução Sexual (pílula)
Martin Luther King (direito civis)
Feminismo “Bra Burnign”
Chegada do homem à Lua
Guerra do Vietnã
4. Contexto
Histórico
No Brasil:
Golpe Militar de 1964:
Repressão e tortura
Brasília: nova capital
Greves operárias e
manifestações estudantis
Ato Institucional nº 5
(AI-5): fechamento do
Congresso
5. No Brasil
Clima de agitação cultural
Cinema Novo (Glauber
Rocha)
Explosão da Era do Rádio (Radio
Nacional do Rio de Janeiro)
Nascimento da televisão e dos
Festivais de Música
Contracultura ou beat
generation
6. Contracultura
/Beat
generation
Linhas gerais: EUA ( Anos 1960/70
); estilo de vida nômade; caráter
existencial
Ideário beat: inconformismo,
criatividade espontânea, contra as
convenções sociais
Desbunde: liberdade irrestrita,
descompromisso, sexo e drogas
Principais representantes: Charles
Bukowski, Jack Kerouak e Allen
Ginsberg
7. Características
Rompe com a música protesto (engajada);
Descompromisso com os estilos e modismos,
com as coisas feitas e esgotadas;
Traça uma alegoria dos contrastes do Brasil;
Adaptação das contribuições da
contracultura;
Influência da poesia concreta e de Oswald
de Andrade (antropofagia)
8. Resgate
antropofágico
“Só me interessa o que
não é meu. Lei do
homem. Lei do
antropófago.”
Oswald deAndrade
Dessa forma, propunham a
devoração e a deglutição de todo e
qualquer tipo de cultura, desde as
guitarras elétricas dos Beatles até a
Bossa Nova de João Gilberto e o
“nordestinismo” de Luiz Gonzaga
“Com humor, irreverência, atitudes rebeldes e
anarquistas, os tropicalistas procuravam
combater o nacionalismo ingênuo que
dominava o cenário brasileiro, retomando o
ideário e as propostas do Movimento
Antropofágico de Oswald de Andrade”
QUARESMA, 2011, p. 13
9. Tropicália
e o
Concretismo
As letras das canções eram
inovadoras, criando jogos de
linguagem, se aproximando da poesia
dos concretistas.
Os diálogos com as obras literárias
como as de Oswald de Andrade ou dos
poetas concretistas elevaram algumas
composições tropicalistas ao status de
poesia.
11. Alegria,
Alegria
As canções compunham um quadro crítico e complexo
do país – uma conjunção do Brasil arcaico e das suas
tradições, do Brasil moderno e sua cultura de massa.
“Caminhando contra o vento” , contra a
repressão e a ditadura. “Sem lenço, sem
documento” , com coragem.
Caetano incluiu uma citação do livro As
Palavras, de Jean-Paul Sartre: "nada nos bolsos
e nada nas mãos“
Realidade urbana, múltipla e fragmentária, onde predominam
substantivos: crimes, espaçonaves, guerrilhas, caras de presidentes,
beijos, dentes, pernas, bandeiras, bomba, casamento.
Referências da cultura “pop”: Coca-cola, Brigite
Bardot, televisão, cardinale (Claudia
Cardinale), capas de revista
O arranjo com guitarras elétricas foi fortemente
influenciado pelo trabalho dos Beatles
12. Poesia
Marginal ou
Geração
Mimeógrafo
Desbunde poético
Fenômeno da década de
1970, a geração
mimeógrafo reuniu jovens
poetas que produziram à
margem do sistema
editorial brasileiro e
deixaram como legado
uma maneira mais livre,
leve e solta de escrever,
agir artisticamente e viver.
13. Características
A Poesia Marginal foi um movimento cultural
importante para uma geração que buscou
através da Literatura uma atuação cultural
distante dos da Academia e indiferente à crítica
literária.
Tendência à coloquialidade (oralidade),
espontaneidade, experimentação,
humor, paródia e representação do
cotidiano urbano, crítica ao
conservadorismo.
Recusa de modelos literários, de
forma que não se “encaixam” em
nenhuma escola ou tradição
literária.
14. 26PoetasHoje
Org.Heloisa
BuarquedeHollanda
“Modéstia à parte
Exagerado em matéria de ironia e em
matéria de matéria moderado”
Cacaso
“Assim também, há uma poesia que desce agora da torre do
prestígio literário e aparece com uma atuação que,
restabelecendo o elo entre poesia e vida, restabelece o nexo
entre poesia e público”.
“Era uma poesia aparentemente light e bem-humorada,
mas cujo tema principal era grave: o ethos de uma geração
traumatizada pelos limites impostos a sua experiência
social e pelo cerceamento de suas possibilidades de
expressão e informação através da censura e do estado de
exceção institucional no qual o país se encontrava.”
15. Paulo Leminski
(1944-1989)
Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.
Marginal, escrever na
entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.
16. Cacaso(1944-1987)
Lar doce lar
Minha pátria é minha infância:
por isso vivo no exílio.
Vida e obra
Você sabe o que Kant dizia?
Que se tudo desse certo no meio também
daria no fim dependendo da ideia que se
fizesse de começo
e depois – pra ilustrar – saiu dançando um
foxtrote
17. NicolasBehr1958
Receita
Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver
parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões.
18. Chacal(1951)
Charles(1948)
Rápido e rasteiro
Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida.
Drama Familiar
Mais um berro histérico
e mato um.
19. FranciscoAlvim
(1938)
CENA DE OBRA
Sob um céu de rapina operários
trabalham.
Um deles, um negro, o serviço acabado
lava-se nas águas de um esgoto.
Revolução
Antes da revolução eu era professor
Com ela veio a demissão da Universidade
Passei a cobrar posições, de mim e dos outros,
(meus pais eram marxistas)
Melhorei nisso –
hoje já não me maltrado
Nem a ninguém.
20. TorquatoNeto(1944-
1972)
D’engenho de dentro ( Excertos)
[...]
7/4/71
– Foi um caminhão que passou. bateu na minha
cabeça. aqui. isso aqui é péssimo, não me lembro de
nada.
– Eles não deixam ninguém ficar em paz aqui dentro.
são bestas. Não deixam a gente cortar a carne com
faca mas dão gilete pra se fazer a barba.
– Pode me dar um cigarro? eu só tenho um maço, eu
tenho que pedir porque senão acaba. Pode me dar as
vinte.
21. AnaCristinaCesar
1952-1983
Arpejos
[...]
2 Ontem na recepção virei inadvertidamente
a cabeça contra o beijo de saudação de
Antônia. Senti na nuca o bafo do susto. Não
havia como desfazer o engano. Sorrimos o
resto da noite. Falo o tempo todo em mim.
Não deixo Antônia abrir sua boca de lagarta
beijando para sempre o ar. Na saída nos
beijamos de acordo, dos dois lados. Aguardo
crise aguda de remorsos.
22. Referências
AMBRÓSIO, Cris. Blog da BBM. Raridades da poesia marginal. Disponível em:
<https://blog.bbm.usp.br/2017/raridades-da-poesia-marginal/> . Acesso em 05 out. 2019.
CORREA, Priscila Gomes. O crítico e a Tropicália. Contemporâneos Revista de Artes e
Humanidade, n.3, São Paulo 2009.
HOLANDA, Heloísa Buarque (Org.). 26 poetas hoje. 6º ed. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora,
2007.
JÚNIOR, Luiz Guilherme dos Santos. Uma revisão crítica da Poesia Marginal Brasileira. Revista
Estação Literária, V.12. Londrina-PR,2014.
MATOSO, Glauco. O que é poesia marginal? São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. Disponível em:
< https://www.slideshare.net/monefontes/o-que-poesia-marginal?qid=2eca03e0-ce98-
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MEDEIROS, Manuela Quadra. Diálogos antropofágicos: Poesia Concreta e Tropicalismo.
Disponível em: <
http://letrasportugues.grad.ufsc.br/files/2012/06/TCC_MANUELA_QUADRA_DE_MEDEIROS_VE
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23. PASCOAL, Raíssa. Blog de Leitura. Ana Cristina César: a poesia marginal no centro das
atenções. Disponível em: < https://novaescola.org.br/conteudo/4514/ana-cristina-cesar-a-
poesia-marginal-no-centro-das-atenções> . Acesso em 05 out. 2019.
PEREZ, Luana Castro Alves. Poesia Marginal. Disponível em:
http://português.uol.com.br/literatura/poesia-marginal.html. Acesso em 07 out. 2019
POOTZ, Angela Karina Shulz et al. Poesias pós-modernas: poesia marginal e
tropicalismo. Revista Ensaio, vol. 1, nº 1, 2017. Disponível em:
<http://saber.unioeste.br/index.php/ensaio/article/view/18446>. Acesso em 04
out. 2019.
SANTOS, Marcio Renato. BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ. Geração
Mimeógrafo: desbunde poético. Disponível em:
<http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=938>. Acesso em 10
out. 2019.