O documento resume duas obras literárias brasileiras. A primeira parte descreve o enredo do romance Gabriela Cravo e Canela de Jorge Amado, focando na chegada da personagem Gabriela à cidade de Ilhéus e seu primeiro encontro com Nacib, dono do bar Vesúvio. A segunda parte faz um resumo rápido da trama do romance Boca do Inferno de José de Alencar, ambientado na Bahia colonial do século XVII durante o governo tirânico do militar Braço de Prata.
1. A Escrava Isaura
O livro trata de Isaura, escrava que nasceu quase branca e é tratada como filha por sua sinhá, alvo da
luxúria e paixão de Henrique (fugazmente), Leôncio (maléfica, controladora e luxuriante), Belchior
(ridícula, servil e confusa) e Álvaro (pura e amorosamente). Outros sentimentos dirigidos a Isaura
incluem a inveja de Rosa (outra escrava, preterida por Leôncio como amante)e o carinho de seu pai
Miguel.
No começo trata-se do passado de sua mãe, maltratada por seu dono, o pai de Leôncio, que a tem com um
ex-feitor de bom coração. Quando estava para ser forra morre este dono e Leôncio a herda, sem intenções
de alforriá-la. A esposa deste o deixa e ele manda Isaura para um cativeiro. De lá ela e o pai fogem para
Recife onde conhece Álvaro e se apaixona por ele. Vai a um baile da alta sociedade e é muito admirada
por seus dotes físicos e culturais, mas é denunciada como escrava pelo ganancioso Martinho.
De volta no Rio é presa por dois meses no tronco e seu pai vai para a cadeia. Prestes a ser liberta para se
casar obrigada com o deformado Belchior pela liberdade, achando que Álvaro está casado, é impedida por
este que liquida os bens de do falido Leôncio, que se mata para fugir da humilhação. A história foi
adaptada várias vezes para outras mídias, a mais célebre sendo a novela com Lucélia Santos no papel-título
O Guarani
Na primeira metade do século XVII, Portugal ainda dependia politicamente da Espanha, fato que, se por
um lado exasperava os sentimentos patrióticos de um frei Antão, como mostrou Gonçalves Dias, por
outro lado a ele se acomodavam os conservadoristas e os portugueses de pouco brio. D. Antônio de
Mariz, fidalgo dos mais insignes da nobreza de Portugal, leva adiante no Brasil uma colonização dentro
mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Representa, com sua casa-forte, elevada na Serra dos
Órgãos, um baluarte na Colônia, a desafiar o poderio espanhol. Sua casa-forte, às margens do Pequequer,
afluente do Paraíba, é abrigo de ilustres portugueses, afinados no mesmo espírito patriótico e colonizador,
mas acolhe inicialmente, com ingênua cordialidade, bandos de mercenários, homens sedentos de ouro e
prata, como o aventureiro Loredano, ex-padre que assassinara um homem desarmado, a troco do mapa
das famosas minas de prata. Dentro da respeitável casa de D. Antônio de Mariz, Loredano vai
pacientemente urdindo seu plano de destruição de toda a família e dos agregados.
Em seus planos, contudo, está o rapto da bela Cecília, filha de D. Antônio, mas que é constantemente
vigiada por um índio forte e corajoso, Peri, que em recompensa por tê-la salvo certa vez de uma
avalancha de pedras, recebeu a mais alta gratidão de D. Antônio e mesmo o afeto espontâneo da moça,
que o trata como a um irmão. A narrativa inicia seus momentos épicos logo após o incidente em que
Diogo, filho de D. Antônio, inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada.
Indignados, os aimorés procuram vingança: surpreendidos por Peri, enquanto espreitavam o banho de
Ceci, para logo após assassiná-la, dois aimorés caem transpassados por certeiras flechas; o fato é relatado
à tribo aimoré por uma índia que conseguira ver o ocorrido.
A luta que se irá travar não diminui a ambição de Loredano, que continua a tramar a destruição de todos
os que não o acompanhem. Pela bravura demonstrada do homem português, têm importância ainda dois
personagens: Álvaro, jovem enamorado de Ceci e não retribuído nesse amor, senão numa fraterna
simpatia; Aires Gomes, espécie de comandante de armas, leal defensor da casa de D. Antônio. Durante
todos os momentos da luta, Peri, vigilante, não descura dos passos de Loredano, frustrando todas suas
tentativas de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a luta passo a
passo.
Num momento, dos mais heróicos por sinal, Peri, conhecendo que estavam quase perdidos, tenta uma
solução tipicamente indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimorés são antropófagos, desce a
montanha e vai lutar "in loco" contra os aimorés: sabe que, morrendo, seria sua carne devorada pelos
2. antropófagos e aí estaria a salvação da casa de D. Antônio: eles morreriam, pois seu organismo já estaria
de todo envenenado. Depois de encarniçada luta, onde morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e, já
sem forças, espera, armado, o sacrifício que lhe irão impingir. Álvaro (a esta altura enamorado de Isabel,
irmã adotiva de Cecília) consegue heroicamente salvar Peri. Peri volta e diz a Ceci que havia tomado
veneno. Ante o desespero da moça com essa revelação, Peri volta à floresta em busca de um antídoto,
espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno. De volta, traz o cadáver de Álvaro morto em
combate com os aimorés.
Dá-se então o momento trágico da narrativa: Isabel, inconformada com a desgraça ocorrida ao amado,
suicida-se sobre seu corpo. Loredano continua agindo. Crendo-se completamente seguro, trama agora a
morte de D. Antônio e parte para a ação. Quando menos supõe, é preso e condenado a morrer na fogueira,
como traidor. O cerco dos selvagens é cada vez maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz cristão,
única maneira possível para que D. Antônio concordasse, na fuga dos dois, os únicos que se poderiam
salvar. Descendo por uma corda através do abismo, carregando Cecília entorpecida pelo vinho que o pai
lhe dera para que dormisse, Peri, consegue afinal chegar ao rio Paquequer. Numa frágil canoa, vai
descendo rio abaixo, até que ouve o grande estampido provocado por D. Antônio, que, vendo entrarem os
aimorés em sua fortaleza, ateia fogo aos barris de pólvora, destruindo índios e portugueses.
Testemunhas únicas do ocorrido, Peri e Ceci caminham agora por uma natureza revolta em águas,
enfrentando a fúria dos elementos da tempestade. Cecília acorda e Peri lhe relata o sucedido.
Transtornada, a moça se vê sozinha no mundo. Prefere não mais voltar ao Rio de Janeiro, para onde iria.
Prefere ficar com Peri, morando nas selvas. A tempestade faz as águas subirem ainda mais. Por
segurança, Peri sobe ao alto de uma palmeira, protegendo fielmente a moça. Como as águas fossem
subindo perigosamente, Peri, com força descomunal, arranca a palmeira do solo, improvisando uma
canoa. O romance termina com a palmeira perdendo-se no horizonte, não sem antes Alencar ter sugerido,
nas últimas linhas do romance, uma bela união amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça
brasileira
Boca do Inferno
Este é um romance escrito em 3ª pessoa e dividido em A Cidade, O Crime, A Vingança, A Devassa, A
Queda e O Destino, passado no século XVII (1863), na Bahia colonial, durante o governo tirânico do
militar Antônio de Souza de Menezes, apelidado de Braço de Prata, por usar uma peça deste metal no
lugar do braço (perdido numa batalha naval contra os invasores holandeses). A ação se passa em
Salvador. Nessa cidade de desmandos e devassidão, desenrola-se a trama de Boca do Inferno, recriação
de uma época turbulenta centrada na feroz luta pelo poder entre o governador Antônio de Souza de
Menezes, o temível Braço de Prata, e a facção liderada por Bernardo Vieira Ravasco, da qual faziam parte
o padre Antônio Vieira e o poeta Gregório de Matos. Note-se a linguagem histórica, com expressões
chulas (vulgares), uma referência à sátira mordaz do poeta Gregório de Matos Guerra.
A Cidade Descrição da Bahia do século XVII - imagem de um paraíso natural, mas onde os demônios
aliciavam almas para proverem o inferno - há também a apresentação do poeta sátiro Gregório, o Boca do
Inferno, de estilo barroco. O Crime Francisco Teles de Menezes é emborrado por 8 homens encapuzados,
tem sua mão arrancada do braço e é morto por Antônio de Brito. O motivo se deu por perseguição política
- estarão envolvidos no crime: Ravasco, irmão do Padre Vieira e Moura Rolim, primo de Gregório. Os
homens fogem para o Colégio dos Jesuítas, mas o governador da Bahia - Antônio de Sousa Menezes, O
Braço de Prata, será avisado e começará uma terrível perseguição contra todos envolvidos. A Vingança
Antônio de Brito será torturado e delatará os envolvidos - Viera será perseguido - mas por representar a
igreja e o poder papal, o governador releva, mas quer o irmão Bernardo Ravasco preso e destituído do
cargo de Secretário do Estado. Ao tentar proteger a filha Bernardina Ravasco, Gregório conhece Maria
Berco, que será presa ao saber que ela possuía a mão e o anel do Alcaide (o anel será penhorado). São
confiscados de Bernardo documentos escritos e os poemas de Gregório.
Bernardina é presa para pressionar Ravasco a se entregar. A Devassa Rocha Pita é nomeado
desembargador para investigar a morte do Alcaide. Palma, também desembargador, nega a vingança
planejada pelo governador e por falta de provas, exige a soltura dos envolvidos mas, para soltar Maria
3. Berco, Gregório teria que pagar uma fiança de 600 mil réis. O Queda Bernardino é libertado e expatriado.
O governador é destituído do cardo e o Marquês de Minas é nomeado para substituí-lo, restituir o cargo
de secretário a Bernardo Ravasco e se apresentar imediatamente ao Rei de Portugal. Mesmo assim sai do
Brasil com muitas riquezas. O próximo governador, Antônio Luís da Câmara Coutinho, também será
satirizado pelo poeta Gregório que terá sua morte encomendada, mas só o próximo governador, João de
Lancastre, é que conseguirá prendê-lo e expatriá-lo para a Angola, volta mais tarde para Pernambuco,
mas será proibido de escrever suas sátiras.
Volta a advogar e morre em 1695, aos 59 anos. O Destino Padre Vieira lutará por justiça social através de
seus sermões, morre cego e surdo em 1697. Bernardo Ravasco recebe sentença favorável ao crime contra
o Alcaide e é substituído pelo filho, Gonçalo Ravasco. Maria Berco ficará rica mas deformada, rejeita
pedidos de casamento à espera do poeta Gregório, que se casa com uma negra viúva, Maria de Povos,
mas não se afasta da vida de devassidão pelos bordéis da cidade. ...se eu tiver que morrer, seja por aqui
mesmo. E valha-me Deus, que não seja pela boca de uma garrucha, mas pela cona de uma mulher. A
cidade da Bahia cresceu, modificou-se o cenário de prazer e pecado da cidade onde viveu o poeta Boca do
Inferno
Gabriela Cravo e Canela
Modernismo de segunda fase. Gabriela Cravo e Canela é dividido em duas partes, que são em si divididas
em outras duas. A história começa em 1925, na cidade de Ilhéus. A primeira parte é Um Brasileiro das
Arábias e sua primeira divisão é O langor de Ofenísia. Vai centrando-se a história nesta parte em dois
personagens: Mundinho Falcão e Nacib. Mundinho é um jovem carioca que emigrou para Ilhéus e lá
enriqueceu como exportador e planeja acelerar o desenvolvimento da cidade, melhorar os portos e
derrubar Bastos, o inepto governante. Nacib é um sírio ("turco é a mãe!") dono do bar Vesúvio, que se vê
em meio a uma grande tragédia pessoal: a cozinheira de seu partiu para ir morar com o filho e ele precisa
entregar um jantar para 30 pessoas em comemoração a inauguração de uma linha automotiva regular para
a cidade de Itabuna.
Ele encomenda com um par de gêmeas careiras, mas passa toda a parte procurando por uma nova
cozinheira. No final desta pequena parte aparece Gabriela, uma retirante que planeja estabelecer-se em
Ilhéus como cozinheira ou doméstica, apesar dos pedidos do amante que planeja ganhar dinheiro
plantando cacau. A segunda parte desta primeira parte é A solidão de Glória e passa-se apenas em um dia.
O dia começa com o amanhecer de dois corpos na praia, frutos de um crime passional (todo mundo dá
razão ao marido traído/assassino), segue com as preparações do jantar e a contratação de Gabriela por
Nacib. No jantar acirram-se as diferenças políticas e, na prática, declara-se a guerra pelo poder em Ilhéus
entre Mundinho Falcão (oposição) e os Bastos (governo). Quando o jantar acaba (em paz), Nacib volta
para casa e, quando ia deixar um presente para Gabriela silenciosa mas não inocentemente, tem com ela a
primeira noite de amor/luxúria.
A segunda parte chama-se propriamente Gabriela Cravo e Canela e sua primeira parte, o capítulo terceiro,
chama-se O segredo de Malvina, terceiro capítulo, passa-se cerca de três meses após o fim do outro
capítulo, e três problemas existem: o caso Malvina-Josué-Glória-Rômulo, as complicações políticas e o
ciúmes de Nacib. Vamos pela ordem. Josué era admirador de Malvina, filha de um coronel com espírito
livre. Esta começa a namorar Rômulo, um engenheiro chamado por Mundinho Falcão para estudar o caso
da barra (que impedia que navios grandes atracassem no porto de Ilhéus). Josué se desaponta e se
interessa por Glória, amante de um outro coronel. Rômulo foge após um escândalo feito pelo machista
(tão machista quanto o resto da sociedade ilheense) pai de Malvina, Malvina faz planos de se libertar e
Josué começa um caso em segredo com Glória. Na política, acirra-se a disputa por votos ao ponto do
coronel Bastos mandar queimar toda uma tiragem do jornal de Mundinho.
Mas Mundinho ganha terreno com a chegada do engenheiro. E perde quando esse foge covarde. E ganha
com a promessa da chegada de dragas a Ilhéus. Nacib enquanto isso desenvolveu um caso com Gabriela.
Mas está sendo atacado pelo ciúmes (todos querem Gabriela, perfume de cravo, cor de canela). Aos
poucos ele percebe que é amor e acaba propondo casamento a Gabriela após a última investida do juiz
4. (alarme falso, ele já havia desistido). Mas foi a tempo, já que até roças do poderoso cacau de Ilhéus já
haviam sido oferecidas a Gabriela.
O capítulo acaba durante a festa de casamento de Nacib e Gabriela (no civil, já que Nacib é muçulmano
não-praticante), quando chegam as dragas no porto de Ilhéus. A quarta e última parte chama-se O luar de
Gabriela. Nesta resolvem-se todos os casos. Pela ordem: Josué e Glória oficializam a relação e Glória é
expulsa de sua casa por seu coronel. Na parte da política, após o coronel Ramiro Bastos perder o apoio de
Itabuna (e mandar matar, sem sucesso, seu ex-aliado; o quase assassino foge com a ajuda de Gabriela, que
o conhecia), ele morre placidamente em seu sono, seus aliados reconhecem que estavam errados (a
lealdade era com o homem, não suas idéias) e a guerra política acaba com Mundinho e seus candidatos
vencedores. Quanto a Nacib e Gabriela... Gabriela não se adapta de jeito nenhum à vida de "senhora
Saad", para desespero de Nacib.
Nacib acaba anulando o casamento ao pegá-la na cama com Tonico Bastos, seu padrinho de casamento.
Mas ninguém ri de Nacib; pelo contrário, Tonico é humilhado e sai da cidade, o casamento é anulado sem
complicações (os papéis de Gabriela eram falsos) e Gabriela sai de casa. Nacib fica amargurado e vai se
recuperando. As obras na barra se completam com sucesso e Nacib e Mundinho abrem um restaurante
juntos. O cozinheiro chamado pelos dois é... convidado a se retirar da cidade por admiradores de
Gabriela, que acaba sendo recontratada por Nacib. Semanas depois, Nacib e ela reiniciam seu caso, tão
ardente como era no começo e deixara e ser após o casamento. Num epílogo, o coronel, assassino dos
dois amante da primeira parte, é condenado à prisão. Cheio de uma crítica à sociedade ilheense, a própria
linguagem do autor muda quando foca-se a atenção em Gabriela. Torna-se mais cantada, mais típica da
região (como é a fala de todos), deixando a leitura cada vez mais saborosa