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TRISTEZAS DA VIDA
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Tristezas
da Vida
Edimauro Costa
TRISTEZAS DA VIDA
3
DEDICATÓRIA
Esta minha primeira obra literária dedico aos meus
queridos pais, o cota Guilherme e a sua esposa Dona
Antónia, ou como são conhecidos – ao casal Costa. Dedico
aos meus irmãos Dickerson Costa, Guilherme Costa o Júnior
da família, as minhas irmãs Quetura, Epifania e
Conceição. Enfim dedico a todos elementos que constituem
a minha grande e linda família.
AGRADECIMENTOS
Com o coração transbordando dos mais puros
sentimentos de gratidão, agradeço a todos que me apoiaram
na criação desta obra literária, como os meus achegados
amigos, a equipe do facebook, que apesar de lerem pequenos
trechos, me davam forças para continuar. Agradeço
também aos críticos por suas críticas, pois estas me fizeram
ganhar poderes para vos mostrar que consigo escrever.
Agradecer também as mulheres que usaram meu ombro
para desabafar e por terem permitido transcrever a vossa
história. A todos, muito obrigado…
TRISTEZAS DA VIDA
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Índice
1. Você não acreditou …………. 8
2. O medo ………………………… 19
3. Quase perfeita ……………….. 27
4. No desespero ………………….. 55
5. Burro fui eu …………………... 63
6. A má escolha …………………. 92
TRISTEZAS DA VIDA
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Prelúdio
Há quem diga que viver é bom, mas haverá sempre
alguém a dizer que a “vida é injusta”, e tenho que
concordar com isso.
Há muito ouvimos que a felicidade não vem do que
possuímos materialmente, por isso é que a “tristeza da
vida” não escolhe classe social; pobre, rico ou kunanga,
todos sofrem as malambas da vida.
O “mundo é redondo”, o que hoje possuis amanhã
serão meras recordações, e o que não possuías serão nada
mais do que um plano concretizado, com um pouco de
esforço aplicado, e garantido. O imprevisto a todos
sobrevém, não há quem dele possa fugir ou escapar.
A vida torna-se triste quando surgem as várias
makas inesperadas da vida, nas diversas facetas do
quotidiano do homem e em vertentes da vida bem diferentes
um do outro.
Uma primeira vertente em que a vida torna-se triste
é quando passas a dar “escosta” ao que possuis, ou seja
quando vês a tua vida dar meia volta inesperadamente,
TRISTEZAS DA VIDA
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deixando para trás tudo que encontraste ou que conseguiste
com sacrifícios enormes e longos anos de suor.
A segunda vertente em que a vida torna-se
lastimável, é quando vão surgindo os imprevistos nos
momentos em que pensavas que fossem de enorme alegria,
na perda da pessoa amada (seja ela por meio de uma morte,
ou quando há um rompimento em um namoro ou
casamento), quando olhas para frente e vês um triste
futuro antecipado (ou seja quando dás conta de que a tua
vida já está sendo escrita: “Pobreza e tristeza eterna”).
Nossa história desenrolar-se-á em algumas facetas e
vertentes da vida do homem em que existe a presença de
tristezas no rosto de quem por elas passa. Algumas delas
são presenciadas na perda das pessoas em quem foi-se
demonstrando amor, carinho e afecto, mas que nem sequer
foi levado em conta (namoro).
Outras são presenciadas no rosto da mulher que
depois do casamento sente que fez mal escolha, da jovem
que estragou sua vida por se engravidar cedo e escolher o
homem que não soube lhe dar o devido valor, respeito, amor
e interesse genuíno; por isso, essa é a história…
TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
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Com um bom papo, conquistas a miúda mais
cobiçada, mais olhada, mais invejada... Mais todos “da”,
mas é a que o coração disse: “Essa é a desejada”. A princípio
tudo parece decorrer as mil maravilhas, ela é a miúda que
mexeu com o seu coração, aquela que por nada na vida te
faz faltar à escola, só para a poderes ver, abraçar, beijar,
sentir o seu cheiro gostoso, o perfume delicioso. Ela é a
mulher que sentiste ser entrega de Deus, ser a costela que
Deus te retirou para a poder formar, é a que todos os
brother’s da escola causavam acidentes apenas com o seu
passar, é a que a princípio achavas ser de qualidades
incomparáveis, incontestáveis, mesmo repetidas vezes
falarem o contrário dela.
TRISTEZAS DA VIDA
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Ela era a mulher que te fazia ser o mais truta da
sala, para a fazeres ver o que realmente és, era a mulher que
depositavas uma fé indiscutível, mesmo com alguém que
viesse te dar um valor incomparável. Era a mulher que o
salário mensal de dez horas de trabalho consecutivas o
entregavas de mão aberta, porque só a sua presença te
deixava de boca aberta.
No ínterim Ela é a mulher que tocou e fez dançar
meu esqueleto, com a menor das vontades.
Tudo bonito que nem paraíso, mas o que se passou?
Bem vou brincar um pouco a Deus e recuar o tempo para
poderem entender o que aconteceu...
TRISTEZAS DA VIDA
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Numa linda escola, numa sala recheada com as
mais belas “Gatas”, lá estava eu, sentado bem à frente de
quem nunca imaginara um dia vir a conhecer, embora o
coração já tivesse saltado do lugar só com o primeiro olhar.
Passei grande tempo olhando de boca mais que aberta para
aquela beleza, porque aquilo já era uma realeza. Até que,
ela dirigiu-se a minha pessoa, digo-vos este foi o mais belo
dia, pois do nada ela simplesmente deseja – me conhecer e
ser minha “colega – amiga”.
Sem um único pensamento, sem o comando de meu
coração minha mente e meu esqueleto, meus lábios de modo
inesperado abriram-se e aceitaram o emocionante convite
que foi entendido pelo coração como importante. À partir
daquele momento, a escola tornou-se valiosa, gostosa de se
contemplar por causa do grande museu que eu tinha que
visualizar e ao mesmo tempo meditar.
Fomos cultivando uma grande amizade
inicialmente de irmãos, mas que parecia querer ter outra
inclinação. Cultivamos uma relação tão funda, que já
estávamos a ser confundidos como casal de namorado,
apesar de inúmeras vezes ter desmentido. Tornamo-nos
companhia um do outro auxiliando-nos em tudo que fosse
necessário. É aí que surge o início de nossa história...
TRISTEZAS DA VIDA
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A princípio tudo parecia lindo, com abraços beijos e
até sendo mimado, acariciado. A vida era um mar de rosas,
a miúda que era achada por todos tão bela, agora era a
minha Cinderela. Causei inveja a muitos, porque eu era o
único que comia dos seus belos frutos. Apesar de não ser
tãooooo linda ou atraente fisicamente [com um lindo Q.O
(“modo de chamar o rabiosque”)] ela era um espanto no seu
interior, tinha das mais lindas qualidades que todo
homem gosta de contemplar acompanhado com grande
sentido de humor.
Por causa dela o mais “truta” tornei-me, porque para
aproximar-me cada vez mais dela essa era a única maneira,
ser “truta” afim de a poder explicar para ao lado dela
conseguir estar e acariciar.
Por causa dela tornei-me o melhor trabalhador do
mundo, por ser o único disposto a dar de tudo, trabalhava
vinte horas por dia, só para a poder conceder alegria.
Esfolava-me a arranjar dinheiro (“ da melhor forma”)
quando a mesada do papai já tivesse terminado para poder
concretizar todos desejos por ela sonhado.
Sofri zombaria, incontáveis são o número de vezes
que quase fui espancado, pois sentiam raiva de mim por
não conseguir negar nenhum pedido por ela solicitado.
TRISTEZAS DA VIDA
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Tantas vezes já ouvi que o amor é cego, mas meu
amor não era deficiente porque todos os órgãos do meu corpo
estavam dispostos a dar cem por cento de sua perfeição.
Tudo parecia paraíso, grandes cambas, casal de
namorados invejados por muitos, felicidade incomparável,
só faltava era mesmo andar vestido de folhas como “Adão e
Eva”; enfim tudo perfeito. Mas essa mulher mudou...
Senti minha vida girar em torno da música do
Matias Damásio “Você não acreditou”... No princípio era tão
bom…, tanto esforço para no fim ter uma grande decepção.
Infelizmente chega o último ano, o último mês de
nosso curso, mês em que tudo de mal passa a acontecer.
Numa manhã tão linda ela chega a escola e naquela
conversa entre namorados ela simplesmente diz que iria
colocar pircins e mais brincos na orelha, porque estava a ser
confundida como “ovelha” [“A ovelha é um animal manso,
meigo, por isso muitas vezes é confundido como animal
burro”]. Convenço-lhe a não fazer isso, mas no dia seguinte
vejo-lhe com muitos furos na orelha, penteado extravagante
e roupa muito curta ou seja imoderada o que eu nunca
pensei ter visto em minha namorada. A situação começa a
mudar, a menina que outrora era bem falada por todos,
passou a ser motivo de “fofoca”, as qualidades lindas, belas,
maravilhosas que ela possuía foram substituídas por
TRISTEZAS DA VIDA
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qualidades indesejáveis, aquelas que todo pessoal considera
como imprestáveis.
Baladeira ela se tornou, fama de ter outros “damos”
passei a ouvir, não imaginam como passei a me sentir e
como o coração derretido ficou. Na minha vida ela causou
tantos danos, quando me usou como elo para concretização
de seus planos. Fiquei sabendo que fui comprado, todos
mimos, carinhos que fui recebendo ao longo do tempo
outrora convivido, foi apenas para me iludir, mentir, para
ver se eu me tornasse um auxílio fortificante na realização
de seus planos, já que eu era um bom aliado.
Desculpas esfarrapadas foram sendo dadas,
travagens no namoro foram sendo aplicadas, sem eu saber
ao certo a razão, eu estava apanhando cotoveladas.
Discussões deliberadas foram surgindo, para ver se
eu passasse a olha-la de outra forma e para ver se do nosso
namoro eu fosse fugindo. Traições ao vivo fui presenciando,
fui tratado como corno reconhecido; o costume de me mimar
e acariciar foi-se perdendo. De namorado, de um verdadeiro
amigo, passei a ser considerado o seu pior inimigo.
Triste vida, tanto esforço, porém não visto e muito
menos levado em conta, mesmo presenciando a angústia,
ela sequer se importa. Passei a ser considerado maluco,
porque a forma de reagir era de louco. Apliquei um ditado
TRISTEZAS DA VIDA
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na minha vida de tanto desespero que eu me encontrava:
“Onde tiver uma igreja, a casa que estiver a frente da
mesma, eu devo conhecer uma mulher.” Fazia um grande
esforço de conhecer uma mulher que vivesse frente a uma
igreja, para ver se o relacionamento fosse abençoado por
Deus, para que não voltasse a acontecer o mesmo que no
primeiro relacionamento.
Cicatrizes no meu coração foram deixadas, de tanta
tristeza não conseguia arranjar um novo amor pois tinha
medo de passar novamente por uma semelhante dor, iguais
às anteriormente passadas. Infelizmente o que era
considerado um paraíso – acabou. Rompemos na sua
totalidade o namoro, ficamos sem dirigir a palavra um
para o outro durante anos, frustrando com todos os nossos
ex – planos. Mas como bom rapaz, tentei reconquistar-lhe.
Desculpas e mais desculpas, mesmo sem ser o
culpado, chachos e papos, a miúda voltou a aceitar-me.
Alegria, pulei de tanta emoção pois já não aguentava
guardar a felicidade que sentia o coração. A minha
primeira-dama, minha conquista, meu troféu voltou a ser
minha, e ocupou novamente o seu lugar no meu coração –
minha princesinha.
Novamente batalhei, como não há benefícios sem
sacrifícios, dei no duro, até na escola de condução entrei
TRISTEZAS DA VIDA
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para aprender a conduzir e com o carro do papoite levá-la a
passear. Entrei em acordo com a Unitel, para ver se
tivéssemos saldo vitalício, redobrei todos esforços outrora
feitos, para ver se sobre o coração dela eu tivesse amplos
efeitos, mas ela nem sequer estava aí. O comportamento
estava pior que anteriormente... Dessa vez nem mimo e
carinho houve, fui tratado que nem uma velha couve. De
corno passei a ser considerado “chifrudo ao quadrado”,
constantemente era insultado. A nossa relação deixou de
haver respeito e confiança, pois a minha frente ela deixava
ser paquerada, beijada e muitas vezes abraçada por outros,
mesmo sabendo que tal comportamento poderia estar me
magoando. Já não me despedia, nem sequer levava em
conta minhas opiniões sobre sair com outros damos. Mas o
que mais me doeu foi ver-lhe aos beijos e abraços, aos puros
encostos e apalpares do corpo com um seu ex de adolescência.
Da pior das formas, entendi o recado que ela quisera
transmitir-me com essa sua forma rude e cruel de tratar-
me. Dessa vez, caí em mim e desisti. Confesso que durante
anos sofri, porque do meu coração ela não saia facilmente,
mas com esforço e força de vontade expulsava-lhe
paulatinamente, e assim consegui.
Infelizmente a linda, bela relação inicial, teve um
triste final. Apesar de tanto sofrer, triste ficar, considerar
TRISTEZAS DA VIDA
17
este momento como o mais triste da minha vida, o mais
desgostoso, ainda assim o considero como vantajoso, pois
aprendi uma importante lição: “Nunca dê cem por cento do
seu amor ao seu primeiro amor. Não batalhe, não dê tanto
no duro sem conhecer perfeitamente seu companheiro(a).
Não faça coisas impossíveis para quem não sabes se serão
visíveis. Quanto mais alto subires [sem cordas de
segurança], maior será a queda. Nunca faças as coisas por
emoção, para não teres uma grande decepção”. Todas as
noites a minha cama se molhava de lágrimas, e o meu
choro encharcava o travesseiro.
Mas como todos sabemos, por mais agravante que
seja, não existe ferida que não se sare. Não há antídoto
melhor que o tempo – o tempo cura todas feridas.
Apesar de sofrer, cicatrizes em meu coração ainda
possuir, lutei para arranjar um novo amor. Procurei
encontrar alguém melhor, fantástica, alguém que
valorizasse o que eu faria por ela, alguém que me aceitasse
tal como sou, que fosse na realidade uma Cinderela, que
merecesse que a colocassem um lindo sapato de cristal.
Felizmente consegui encontrar tal pessoa, muito melhor
interior e exteriormente, mas também não foi uma relação
bonita que tivemos, mas só que desta vez o erro foi meu.
Vou explicar-vos o que sucedeu...
TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
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Para essa nova relação entrei com o coração
quebrado, partido, cicatrizado com as mágoas mais
dolorosas e pegajosas da primeira relação. Apesar de abraçar
com imenso carinho essa nova relação, no meu interior na
parte mais restrita do meu coração ainda reinava um
enorme medo de passar pelas situações outrora passadas.
Tive medo de voltar a entregar-me de corpo e alma, dar ao
máximo de minha atenção e carinho, para não voltar a abrir
as feridas que já estavam semifechadas.
Confesso que se não tivesse esse intenso medo,
poderia estar vos escrevendo um livro de “Alegrias da vida” e
não “Tristezas da vida” porque a esta hora estaria com um
enorme sorriso até a orelha, e desfrutando de tudo que
estariam me concedendo, pois tudo era uma maravilha.
TRISTEZAS DA VIDA
21
Mulher esplêndida, esbelta criação de Deus que levou
sete dias, e que quando foi entregue a sua família trouxe
enormes alegrias. Mulher com qualidades excelentes desde
a sua concepção e que foi aplicando, demonstrando-as no
decorrer de sua evolução. Mulher de dotes, boa de cozinha,
perfeita dona de casa, verdadeira ajudante e acima de tudo
muito inteligente.
Mulher linda que quebrava com todos os sistemas
de segurança só com o seu passar – Se passasse próximo a
uma agência móvel, o sistema caia, porque só o seu passar
tirava a atenção dos funcionários – que ficavam perplexos
com a tamanha beleza, com o monumento histórico que
contemplavam com alegria.
Se passasse próximo a um banco, o pior gatuno, o
mais inexperiente, do dia para noite ficava o homem mais
rico do mundo, porque ela quebrava na sua totalidade a
atenção e concentração dos funcionários e seguranças.
Mas não era apenas sua beleza exterior que me
encantou, mas também sua beleza interior.
Mulher com qualidades excelentes, apreciadas por
todos a sua volta. Ao contrário da mulher da primeira
relação, ela era por todos bem falada, tinha uma excelente
bibliografia. Era amigável, verdadeira companheira
daquela que primeiro zela pelo bem-estar do seu próximo e
TRISTEZAS DA VIDA
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só depois olha para o seu, aquela que tenta ler sempre seu
rosto para visualizar o seu estado humorístico, conselheira
fiel, verdadeira costela tirada do homem.
Muitas vezes deitado em minha cama, fico
imaginando como seria a minha vida se tivesse abraçado
com as duas mãos essa relação e como estaria a minha paz
interior e o meu coração.
Tentei lutar contra o tempo para voltar a viver os
poucos momentos alegres que tive na vida, a atenção,
carinho e mimos que desfrutei quando ao lado dela eu me
encontrava. Se o futuro fosse previsível para seres
humanos, previa-o e me protegeria das actuais decepções, de
não a ter aceitado por causa do enorme medo, e de não a ter
concedido a felicidade merecida no grau superlativo.
Digo-vos que sofri muito quando fiquei sabendo
que por causa do meu medo, do longo tempo de resposta, ela
trocou-me, e lá se foi. Minhas poucas esperanças de voltar a
conquistar-lhe perderam-se, pois ela encontrou alguém que
a valorizasse. Mas fiquei feliz por a ver feliz. Essa mulher
não merecia ser praguejada, porque diferente de muitas, ela
tinha qualidades por todos desejados.
Mas num inesperado dia, nossas vidas voltam a
cruzar-se, e sinto meu coração como um carro sem
“rolantim”, aos tremeliques. Nos dois beijos sagrados, no
TRISTEZAS DA VIDA
23
quente abraço que houve, senti seu coração borbulhar, como
água fervendo a cem porcento, e lá enxerguei o quanto ela
de mim ainda gostava. Suas palavras mostraram que ela
estava disposta a tudo, só para me ver girar a volta de seu
mundo. Foi capaz de dizer que abandonaria o seu actual
namorado ainda naquele momento, que trocaria de
faculdade batendo com todos os testes rijos que encontrasse,
só para ao meu lado poder estar. A primeira vista, para
alguém que só quer engatar, e não pensa nos pró da vida,
essa sem dúvida seria uma ótima oportunidade, nem
sequer pensaria “zero” vezes, e já lá estaria. Mas para
alguém sensato, que zela pelos sentimentos dos outros,
decidi rejeitar apesar de o coração guerrear com a minha
mente, mas não dava, pois não me sentia preparado, não
seria aquele companheiro capaz de oferecer um bom presente
quando fosse necessário, se conseguisse leva-la a um Belas
shopping dia seguinte estaria na maior aflição chorando
em tudo quanto é canto, e com grandes bolhas na planta do
pé de tanto andar a pé, por não ter grana para apanhar táxi.
Eu era um desgraçado comparando com o actual dela. Eu
raramente andava de táxi, o meu transporte indispensável,
infalível e constantemente usado eram os meus pés,
enquanto o actual dela tinha uma máquina movível de
cinco rodas, nem sei bem se posso chamar de carro. Ele
TRISTEZAS DA VIDA
24
tinha um pocket pc (“telefone – computador de bolso”), que
fazia chamadas de vídeo, enquanto eu tinha um aparelho
que nem sequer estava na categoria de telefones, o qual
tinha apenas dois objectivos – chamar quando possível e
receber chamadas. Ele tinha dólares no bolso, pagava
hambúrguer a ela e suas colegas, enquanto eu só conseguia
pagar rebuçados de cinquenta kwanzas e só para ela.
Apesar de verdadeiro amor não se medir pelo bolso, o amor
que eu tinha também não lhe concederia felicidade
duradoura, há que haver sempre um equilíbrio.
Por isso não me armei em herói, preferi não estragar
o que ela já tinha conquistado, o que lhe fazia feliz até
aquele momento sendo superficial ou não, porque mulher
ferida e arrependida é pior que feiticeiro.
Mas, apesar das duas histórias terem um triste
final, delas consegui tirar uma valiosa lição: Para assumir
grandes responsabilidades há que se estar bem preparado.
Namoro sem sérios objectivos, nunca leva ao estado da
alegria, mas na decepção, no desapontamento,
arrependimento de teres dado o que não deverias ter dado.
Namoro só de brincadeira ou namoro técnico, tal como beijo
técnico conforme dito pelos atores não existe. A medida que
forem namorando um dos cônjuges vai aprofundar os seus
sentimentos pelo outro e esquecerá que se encontra na
TRISTEZAS DA VIDA
25
brincadeira, e quando dar-se conta já se encontra na
decepção, reclamando da vida, no porquê que deu, que fez
aquilo. Por isso a moral das duas histórias na qual passei
foi: “Preparação acima de tudo, para assumir grandes e
pesadas responsabilidades”.
Desta feita preparei – me o suficiente para assumir
um terceiro compromisso, mas só que surgiu novamente
dificuldades. Parece que também quando nos sentimos
preparados, este ainda não é o momento. Nessa terceira
história foi isso que sucedeu. Senti-me o suficientemente
preparado, me jogando para esta nova relação sem hesitação,
mas só que no terreno as coisas foram diferentes…
TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
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Bela rapariga, mulher de corpo extraordinário, com
qualidades que a primeira vista são atraentes, mulher com
um óptimo registo por parte dos mais velhos que ao seu
redor, ficavam a lhe visualizar. Mas apesar de tantos
olhares, tantos galanteios e assobios, tal mulher decidiu
ficar sob minha tutela.
Num lindo levantar do sol, numa hora tranquila, lá
eu estava ajudando minha mãe a lavar a louça. Tão
distraído e bem despreparado, ouço o bater da porta seguido
de uma sequência de toques da campainha.
Apressadamente vou a porta, na perspectiva de surrar o
miúdo que tinha o hábito de incomodar as pessoas logo de
manhã com toques deliberados na campainha dos outros.
Choque ao abrir a porta. Era ela a mulher de olhar sereno, de
qualidades incomparáveis. Senti-me como se estivesse
falando com uma celebridade como por exemplo a Beyoncé,
TRISTEZAS DA VIDA
29
pois eu nunca outrora havia com ela conversado, apesar de
vários relatos sobre ela já ter ouvido. Permiti que ela
entrasse, concedi-lhe a melhor cadeira de meu quintal, e
preparei-lhe um copo bem fresco com o melhor sumo da
compal. Ela recusou o sumo e disse que preferia uma coca –
cola. Fui até ao meu quarto a correr e tirei o único tustão
que se encontrava na minha pasta de bolso sem hesitar.
Mandei comprar uma coca – cola pois meu desejo era parecer
ser um bom anfitrião, sem sequer me importar se naquele
dia iria a pé para a escola.
Na conversa que íamos tendo, assustei – me vendo o
quanto ela também já sabia a meu respeito. Tudo até
filiação, bem como data de nascimento a rapariga já sabia.
Logo deduzi que aquela desculpa esfarrapada que ela dera
inicialmente ao lhe abrir a porta era uma grande mentira.
Sua intenção não foi ver a minha família, mas sim a
minha pessoa.
A partir daquele momento nos tornamos grandes
cambas [amigos]. Ajudamo-nos em todos os assuntos que
fossem melhor dois do que um. E como todo bom rapaz,
fiquei logo com o seu número de telefone.
Quando ela saiu de minha casa, fiquei sem
palavras, tão perplexo, pois não aguentava acreditar no que
havia acontecido.
TRISTEZAS DA VIDA
30
Passamos a nos comunicar frequentemente via
telefone, perguntando o estado um do outro e muitas vezes
falando de assuntos banais, só para não deixar de ouvir a
sua voz. Fomos capazes de gastar mais de dez cartões de
saldo por semana. Fomos considerados os piores gatunos
[no bom sentido], porque quando nosso saldo terminava,
quem sofria eram os da casa que tivessem saldo. Todas as
noites lembro-me bem que recebia muitas vezes chamadas
telefónicas de números diferentes. Por causa disso surgiu
um dia que hoje marco como um dos dias alegres que já tive
na minha pouca existência:
Numa noite relaxada, ouço meu telefone tocar e
apressadamente vou a chamada verificar. Pela hora, nervoso
eu atendo, por ver que tal número não se encontrava no
telefone – agendado. Mas não demorou que logo após ouvir
a voz do outro lado o nervosismo passou; era ela, mulher que
me fazia mudar de clima num piscar de olho, que me fazia
sonhar estar deitado nas nuvens e que me fazia esquecer
todos os malembes da vida. Apesar de ter reconhecido sua
voz, brinquei perguntando quem era, e ela simplesmente
respondeu – o teu sol, teu coração a tua namorada;
confirmando tudo que eu vinha a desconfiar – ela já estava
a me pesquisar, por isso é que tinha um lote de informação
pessoal a meu respeito. Mas deixei para lá e continuamos a
TRISTEZAS DA VIDA
31
conversar, rindo imenso de algumas piadas que até me
fizeram lagrimar.
No dia seguinte ela passou pela minha casa só para
me olhar e conversar, porque já não aguentava só pelo
telefone falar. E assim foi sendo a nossa rotina,
intercalando as nossas visitas, um dia ela em minha casa,
e outro eu em sua casa, só para não deixarmos de nos ver. A
coisa começou a ficar ainda mais grave. De grandes
amigos, admitimos que já estávamos namorando, porque a
nossa reacção indicava isso. Confesso que não dei conta
quando caí no seu jogo, mas também com aquela beleza,
quem não aceitaria entrar para aquela realeza? Se caí,
também foi porque meu coração assim desejou.
Nosso modo de agir indicava que já éramos
namorados. Por exemplo, ela constantemente perguntava
que penteado gostaria de ver nela e que roupa gostaria de
ver sobre o seu corpo. Todas as decisões que ela desejava
tomar, não as tomava sem antes saber o que eu achava do
que ela pretendia realizar.
Quanto a mim, já não conseguia ficar um dia
inteiro, sem a sua bela voz ouvir, sem poder me encontrar
com ela para a poder abraçar e conversar. Virei o maior
arquitecto do mundo, porque para me encontrar com ela
todas as linhas tinham que ser bem traçadas.
TRISTEZAS DA VIDA
32
Tivemos vários encontros e saídas agradáveis. Até
que tudo estava sendo esplêndido, lógico antes de surgirem
as dificuldades ou seja os malembes da vida, porque apesar
de me sentir hyper, mega, tetra preparado para essa relação,
parece que esse não era o momento certo. Vou dizer-vos o
porquê...
A tanto ouvimos, que mulher bonita é que nem carro
velho; e vou concordar com isso.
Um carro velho apresenta vários problemas, dá dor de
cabeça e muitas frustrações na vida. Uma mulher bonita de
igual modo só concede problemas, não que ela directamente
te concederá problemas, mas os problemas virão ao teu
encontro por causa dela.
Do nada na nossa relação surgiram invejosos, com
boatos provocantes. Histórias inventadas ou seja
imaginárias daquelas que deixam de rastos, sobre ela foi se
ouvindo em tudo quanto era canto. Os vizinhos começaram
a ficar com raiva, seu comportamento muitas vezes foi
muito pior do que cães raivosos, não conseguiam acreditar
como um magricela, desgraçado que inicialmente não
tinha nem sequer um popó, conseguiu conquistar uma das
miúdas mais belas e mais bem comportadas do bairro.
Passaram a me tratar com desdenho, quando me vissem
me davam olhada, não respondiam aos meus respeitosos
TRISTEZAS DA VIDA
33
cumprimentos, e muitas vezes dava a entender que se
algum dia tivessem oportunidade me agarrariam e me
concederiam uma boa porrada. Seus colegas de escola
também foram uma ameaça. Era hábito atender as
chamadas de números que na agenda telefónica não se
encontravam guardados, porque quando o saldo dela
terminava, ela ligava de outros números desconhecidos,
mas nesse dia quem ligou não foi ela. Não sei como
conseguiram o meu número telefónico, mas só sei que
naquele dia meus joelhos beijavam-se em fracções de
segundo, por causa das ameaças assustadoras que seus
colegas de escola me haviam feito. Perplexos não
acreditavam como aquele troféu, foi estar na posse de uma
equipa despreparada e que nunca conquistou nenhum
título.
Mas apesar das invejas e das ameaças, mantive-me
firme, coloquei uma voz de “caenche - gigolô” e espantei a
todos eles. A miúda sofria tantos apertos contra a parede por
parte de todos, mas mesmo assim ela continuava comigo.
Minha alegria aumentou e senti-me firme nessa relação,
quando certa tarde ela apareceu em minha casa e me
concedeu um presente. Apesar de não ser caro, ser atraente,
considerei-lhe como adquirido com todo suor, e mais
emocionante é que ela teve de perder horas para o fazer. A
TRISTEZAS DA VIDA
34
parte que mais gostei foi o poema por ela escrito, definindo o
meu nome completo poeticamente. As lindas palavras que
ela usou, a borda a volta da página em forma de coração, o
olhar apaixonado e o magnífico sorriso que visualizei em
seu rosto quando me entregava o presente, fez-me perceber
que pela primeira vez na vida eu tinha alguém que me
amava de coração, que me amava pelo que sou, não pelo que
tenho. Alegremente recebi o presente e o poema que o
acompanhava, espantado li e reli, e meu coração perplexo
ficou pois não acreditou que realmente encontrei aquela em
quem poderia calçar-lhe os sapatos de cristais – a minha
Cinderela.
A partir daquele momento em diante, minha vida
passou a ter outro sentido. Senti que eu agora tinha
alguém que pudesse demonstrar o meu amor, e ter
responsabilidades sérias com ela. Ao contrário das duas
relações anteriores que tentei ter, dessa vez eu estava bem
preparado, tanto financeiramente como emocionalmente.
Até já tinha conseguido um popó, que muitas vezes já nos
levou a dar um passeio, e um telefone caro até já tinha.
Não hesitei, agarrei-a com as duas mãos, abracei
esta nova relação com toda a força que podia exercer.
Virei o melhor economista e contabilista do mundo,
porque a mesada que o papoite concedia era pouca, mas eu
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estudava formas de a fazer parecer ser muita. Por mês
pagava-lhe dois cartões de saldo, inventava passeios
exuberantes, só para lhe deixar com um lindo sorriso, e
fazer-lhe pensar que estivesse namorando com um
milionário.
Tudo lindo, maravilhoso, até parecia que estávamos
no céu. Mas esqueci-me que o Diabo e o imprevisto existem.
Depois de tanto tempo de convívio, comecei a conhecer
as qualidades negativas que a miúda possuía. Não dei
conta no início, mas apercebi-me mais tarde que ela era
uma tremenda ciumenta, já não conseguia ficar ao meu
lado se não se mantivesse atenta. Ao lado dela passei a me
sentir sufocado. Passou a ter a mania de ler minhas
mensagens telefónicas, bancou a detective controlando-me
com quem estive, estou e estarei, controlava as fragrâncias
que eu usava para poder distinguir de outros cheiros, ficava
fula se me visse conversando com outras miúdas, pegava o
meu telefone e apagava as minhas imagens ao lado de
minhas colegas. Namorar com ela passou a ser pior do que
estar numa delegacia policial.
Éramos um casal que bastante tínhamos para
conversar, mas também eu admiraria como não teríamos
tanto para conversar com o lote de perguntas que ela me
fazia – só que estar com ela virou uma seca. Namorar com
TRISTEZAS DA VIDA
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ela passou a significar responder perguntas. O objectivo
principal de namorar passou a ser outro. Ao dirigir-me para
sua casa, em vez de ser para a ver, acariciar, beijar-lhe e
quem sabe fazer outras coisas mais quentes, eu sabia que
encontraria uma cadeira no quintal, na qual eu me
sentaria, responderia suas perguntas e ao se aproximar a
madrugada eu me levantaria e estaria indo de volta à casa
bem triste e arrependido da vida.
Não suportando essa situação, falei com a miúda
para ver se mudasse sua reacção. A miúda me ouviu e
mudou sua forma de reagir, pediu-me desculpas e disse que
só estava reagindo daquela forma porque tinha medo de me
perder. Percebi-lhe e mostrei-lhe que apesar de ser um “gajo
de gajas”, sou um homem de uma só. Daquele dia em
diante, ela deixou de ser tãooo ciumenta, me sufocando com
suas perguntas. Mas só que piorou em outro aspecto…
Não sei se a miúda estava a ouvir muito a música
do “Anselmo Ralph – Super-homem”, ou se estava a assistir
muitos filmes de super heróis ou lendo livros dos
quadradinhos, só sei que ela esperava que eu fosse também
um super herói.
Quando sentisse dor de cabeça, ou outra dor que lhe
incomodasse ao meio da noite, ou mesmo a madrugada, ela
me ligava e contava o que estava a se passar com ela.
TRISTEZAS DA VIDA
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Apesar de ser aborrecedor acordarem-te, ainda por cima
quando estás a meio de gostosos sonhos e deliciosos “vira –
vira”, eu com isso não me incomodava, até fofo achava, pois
dava para sentir a confiança que ela em mim depositava.
Mas tornava-se chato quando essa pessoa ficava insistindo
que ao meio da noite tinhas que fazer alguma coisa para
seu benefício e resolução da dor. Acho que ela confundia
namoro com casamento. Para ela é como se estivéssemos
casados – eu aí do outro lado da cama. Não quero dizer que
não poderia ajudar-lhe, talvez levando-lhe ao hospital ou
clínica, mas o que diria a seu pai a meio da noite, ou a
madrugada, quando ele aborrecido me viesse abrir o portão
por ter lhe acordado? O quê? – Vim pegar a sua filha e leva-
la ao hospital, enquanto ela tem um pai que ainda cumpre
com suas obrigações? Acho que eu já fazia muito, dava-lhe
uma receita médica improvisada e dia seguinte de manhã
estava em sua casa lhe visitar.
Mas parece que para ela isso era pouco. Ela queria
me ver pelo menos tentar – em uma das noites em que ela
estivesse se sentido mal, eu deveria me armar em super –
herói, e para casa dela ir, mesmo sabendo que talvez levaria
uma sova de seus pais. Não atendi esses pedidos mimosos, e
por causa disso muitas vezes ela ficou sem falar comigo,
TRISTEZAS DA VIDA
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me atendia nervosa e constantemente era despachado. Não
suportei a situação e voltei a falar com ela.
A garota mudou seu comportamento, deixando para
atrás esses mimos sem nexo, e tudo voltou ao normal. Mas
esses eram apenas pormenores pequenos, que com uma boa
conversa resolvia-se. Mas com o tempo começaram a surgir
makas que deixavam-nos tristes e sem vontade de
prosseguir avante a relação – “a incompatibilidade e
opiniões familiares”.
Depois de um longo tempo de namoro, para além dos
raivosos vizinhos e colegas dela ficarem a saber, chegou a
hora dos familiares e parentes ficarem a saber. Depois de ter
aguentado os raivosos e invejosos vizinhos e colegas, pensei
que não fosse haver barulho maior que estes para aguentar,
mas acho que estava enganado, aguentar os nossos
familiares foi uma dor de cabeça.
Primeiro surgiu aquele problema que desde a década
do avô do avô do meu tetravô vem se disputando, e acho que
ele também teve de passar por ela para poder ter quem ele
teve em seus braços – As diferenças culturais de cada
família. Desde que nasci ouvi aquele ditado que entre
certas culturas não há união do tipo Malange e Catete,
Luanda e Uíge e muitas outras.
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Quando o assunto chegou aos ouvidos dos maiorais,
foi uma maka grande. Pesquisas começaram a ser feitas
por parte de todos, para poder saber de que culturas
descendiam seus familiares. Em qualquer familiar que
fosse, os conselhos que estavam guardados no baú a anos,
eram removidos. Já não conseguia conviver com tantos
conselhos a minha volta, estava sufocado com tantos
porquê – “Porquê escolheste essa cultura? Vais dar-se mal,
essa gente é rabugenta, mal-educada, vais te arrepender
com essa miúda, porque deve ter herdado os hábitos de seus
familiares”, - mas o que eles não entendiam é que cultura
não deveria constituir uma barreira a um desejo limpo do
coração. Também não entendiam que cada pessoa constitui
a sua própria qualidade, o que muitas das vezes pode ser
impossível determinada pessoa ser como seus familiares,
senão concluiríamos que todo gatuno teve antecedentes
gatunos, o que muitas das vezes não é o certo. A miúda
estaria aprovada por todos, se não fosse esse problema de
cultura. Ela era linda, exuberante, bom corpo, trabalhadora
– que zela por um lar limpo e ordenado, modesta, simples
no que refere aos desejos da carne, por fim ela era cem
porcento adequada se não fosse esse problema. Mesmo
assim tentei quebrar essa barreira, e por mais que tentasse
eu nela caia. Fiz de tudo, só que por mais que dela eu me
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aproximasse, automaticamente me afastava dos familiares.
Zangavam-se a cada instante que eu insistisse sair com
ela, e não davam-se conta que o meu coração estavam
machucando. Resolvemos então passar a sair sem eles se
aperceberem, mas mesmo assim chegamos a um ponto
crítico. Quando deram conta que estava saindo sempre com
a mesma pessoa (apesar de não sair ou passear muito),
desconfiaram que estava rolando alguma coisa, e lá
começou a entrar as opiniões familiares com respeito a
fisionomia e muitos outros aspectos de pouca importância.
Quando chegasse uma tia em casa, a mamoite lá do
fundo só gritava – “esse então anda a sair com a filha da
família da Chica, aqueles do(a) – e lá ela citava a cultura
ou província a qual eles pertenciam”. A tia só exclamava –
“aquela baixinha, gorda, desfigurada tipo a mãe dela, com
a cara tipo está a olhar atrás mas é mesmo a frente?”. Essa
mesma dizia a mãe. Porquê meu sobrinho, a família estava
bonita até agora, só queres mesmo estragar? Não viste
outra? E como conclusão ela dizia: Deixa já esta miúda, faz
favor. Confesso-vos que a miúda era linda, maravilhosa,
daquelas que você diz: “Certamente Deus sentou e a formou,
não era um projecto arquitectónico entregue a alguém para
o fazer. Mas muitas vezes, a atitude do passado dos pais
tem repercussão sobre os filhos. Só a achavam feia porque os
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pais haviam se comportado de modo feio, e raciocinavam
que talvez as atitudes ou qualidades do passado dos pais
tivesse efeito sobre os filhos, mas não era isso, pois eu a
conhecia perfeitamente e não via nada do que eles diziam
sobre ela. A insistência de a deixar foi tanta, que já estava
a perder o gosto pela linda relação inicial, e dava conta que
a percentagem de afecto estava cada vez mais sendo
subtraída por esses problemas, e logo tornava-se pouco
demonstrativa.
Ela também estava a passar por situações idênticas.
Também tinha uma mamoite que aquecia as coisas, de tal
forma que quando visse também uma tia, lá estava ela
gritando – “Essa então anda a sair com o filho da Mana
Joana” – o quê? Aquele feio, baixinho e magricela tipo tem
tuberculose? – Porquê minha sobrinha, com tantos caenches
que tem aí você foi escolher esse magricela, porquê?
Com o tempo nossa relação passou a ficar
conturbada com tantos conselhos ou seja opiniões sem
sentido, sem nexo, opiniões negativas, daquelas que só
derrubam em vez de levantar o astral. Por isso para evitar
essas makas de uma relação conturbada, decidimos não
mais nos ver, mas passar a namorar simplesmente por
telefone, e se nos cruzássemos na rua, uma olhada tipo
quem não quer era o suficiente. Mas depois desconfiaram
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que mesmo assim apesar de não nos encontrarmos,
continuávamos a namorar por telefone. Aí entraram
novamente os maiorais e começam a controlar os toques e
as chamadas dos telefones, mesmo este estando no silêncio,
eles apercebiam-se. Por isso quando eu ligava a miúda
dificilmente me atendia. Já era difícil a ver, ainda ficava
semanas sem a sua bela voz ouvir. Quando atendia a
conversa era muito rápida, naquele despacho e muitas vezes
em códigos, o que tornava ainda mais complicado.
Deu para sentir que o afecto amoroso estava
desaparecendo, também com o que se deu a seguir, eu já não
admiraria! – A mãe da miúda me detestava, por causa dos
problemas abordados acima, ela pretendia que a filha fosse
tomada por um jovem que ela lhe havia apresentado, filho
de uma amiga dela de infância, que ao parecer dela
satisfaria mais plenamente a sua filha. Com tantos
problemas e rumores, parece que a miúda passou a
enveredar pelo lado da mãe. Mesmo que tivesse espaço, ela já
não atendia minhas chamadas, fazia isso de pirraça,
talvez passasse a me considerar um chato, insuportável,
talvez estivesse fazendo comparações entre mim e o
preferido da mãe, e ficasse na dúvida. E tudo foi
caminhando assim, até que chegamos ao nível mais baixo
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de nossa bela e maravilhosa relação, e se deu da seguinte
forma…
Havia feito muitas promessas na miúda, e num belo
dia comecei a cumprir com todas elas. Faltava uma que ao
seu parecer era muito importante, conhecer um lugar
esplêndido de muita calma e paz, na qual desde a sua
concepção nunca teve a oportunidade de ter ido com seus
pais ou amigos. Lembro-me de ter dito a miúda que lhe
levaria, e foi isso que fiz. Levei-lhe a este lugar, fiz-lhe rir,
ver a vida a cores, deleitar-se de seu sonho concretizado
pelas minhas mãos. Mas enquanto ela se ria, eu triste
estava, porque dias antes de ter acontecido esse lindo
passeio, havíamos brigado e reconciliação ou pedidos de
desculpa estava longe de se ocorrer. Ao lhe dar esse passeio,
que pela mão de seus pais e amigos, nunca conseguiu ter,
pensei que fosse correr aos meus braços e agradecer-me pela
concretização de seu sonho, mas não, ela preferiu correr aos
braços de um dos meus melhores amigos, tirar foto com ele,
rir com ele e simplesmente me trancar a cara. Foi doloroso
ver isso. Eu lhe concretizei todos os sonhos e mesmo assim
me mandou lixar. Provocou em mim ciúmes, sem se
interessar se estes me estavam magoando.
Dias e dias se passaram, e lá ela liga pedindo
desculpas pelo que havia feito. Desculpei-lhe, mas ela não se
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dava conta que minha confiança estava perdendo. A partir
daquele momento não houve mais saída, porque a mamã
dela deixou de ser detective e bancou a própria DENIC. Tudo
serrado, e ficamos só por telefone. Com tudo isso a ocorrer,
conseguimos ver que nossa relação tinha ido pelos ares, até
que conseguimos assumir que havíamos chegado ao fim de
tudo, embora de modo trágico…
No dia mais importante da minha vida, meus
amigos, minhas amigas, colegas de séculos, meus
familiares me parabenizam por mais um ano de vida, mas
a pessoa que eu mais esperava, nem um liga só sequer me
envia. Dormi com o telefone ligado, na expectativa de
atender a uma chamada matinal, sentir o vibrar do telefone
as cinco da manhã, e atende-lo com um grande sorriso por
saber que seria a pessoa que o coração tanto desejava ouvir
sua linda voz… mas isso não aconteceu. Acordei ainda com
o rosto alegre pensando que talvez estivesse compondo um
lindo verso, daqueles que ocupam todas as folhas
disponibilizadas nos telefones, ou que estivesse a espera do
momento oportuno pois o clima em sua casa estava pior do
que o inferno… mas dou-me conta que a manhã havia
passado e nenhum sinal dela. Começo a mudar de clima –
de alegre passo a ficar preocupado – inicio uma sessão de
perguntas, pois sem nenhum sinal dela o coração já não
TRISTEZAS DA VIDA
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aguentava. A ansiedade era tanta que mal o telefone tocava
já lá eu estava. Eu era mais rápido do que o meu
movimento, que se estivesse naquele momento com um
espírito alegre era capaz de calcular uma fórmula física
para tal. Lembro que naquele dia tantas foram as quedas
por causa da pressa, até cheguei de partir os meus óculos,
quando numa das quedas os óculos saíram da cara e bateu
no chão. Olho para o relógio e vejo o fim da manhã e início
da tarde. Até aqui nenhum sinal, e começo já a me
preocupar – Será que ela viajou com os pais já que é feriado,
e encontra-se num local sem sinal de rede? Enquanto fui
debatendo com o meu ego, ouço o bater da porta e vejo um
grande amigo. Naquele papo que íamos tendo, de repente ele
acaba por chutar que esteve com ela, porque acabara de sair
de lá. Ele me confirma que estão todos bem de saúde e que
estavam curtindo o feriado. Mais uma vez olho para o
relógio e desesperadamente noto que findou a tarde e
começa a noite. Bem triste da vida começo a acreditar que
fui esquecido, não me deram importância, fui tratado que
nem um cão que quando a comida é pouca até os ossos
esquecem de o dar. Mas apesar de tudo isso, decidi criar
mais um pouco de esperança, e imaginar que talvez ela
quisesse ser a última ligação do dia, ser aquela que me
contaria uma história e me faria adormecer com um grande
TRISTEZAS DA VIDA
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sorriso estampado no rosto. Mas parece que isso seria
impossível…
Olho para o céu e vejo o espreguiçar da lua seguido de
seu grande bocejo e logo deduzo então que fui mesmo
esquecido. Sem saber ao certo como proceder, pego no
telefone e decido eu então ligar, e lá vem aquela senhora
chata da unitel, que se não fosse programável, juro que a
destratava, eu já estava tão chateado e ainda assim vem ela
me dizer que o telefone está desligado. Fui esquecido pela
pessoa que eu estava a planejar entregar na totalidade meu
coração.
Dias se passaram e voltei a não ter nenhum sinal
dela. Chego a escola e naquele desabafo pergunto aos meus
colegas o que fariam caso acontecesse algo idêntico com
eles, e num simples tiro eles respondem que não davam
uma segunda chance, que é um dia bastante importante
para uma namorada esquecer. E caso dessem uma chance a
relação passaria a ter falta de confiança. Passariam a ter
uma relação doentia, e para que isso não acontecesse
preferiam terminar.
Aceitei suas opiniões e raciocinei a base delas, mas
preferi ouvir ainda o outro lado, embora que com as provas
paupáveis isso não seria necessário. Dias e dias foram
passando e nenhum sinal até agora, até para lhe ouvir eu é
TRISTEZAS DA VIDA
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que tive de ligar e combinar um local para conversarmos.
No dia marcado ela foi-me apanhar imaginem sua
desculpa. Não tinha saldo! Quando ouvi-lhe dizer isso
fiquei sem força. Lhe perguntei se não sabe o que é telo, e ela
me disse que estava sem dinheiro, nem mesmo dez
kwanzas. E liga só? Estou fora do prazo. Durante todo o
percurso para a casa a miúda foi pedindo desculpas, e para
evitar choradeiras eu dei-lhe uma segunda chance, mas ela
não se apercebeu que se com aqueles problemas anteriores a
percentagem de nossa relação estava diminuindo, com esse
a nossa relação estava a um fio bem esticado, que se as asas
de uma mosca por lá batessem rompia-se com tanta
facilidade.
Mas parece que os meus colegas tinham razão, que
por mais chances que se desse, aquele já era o início de uma
doentia relação, baseada na falta de confiança. E foi isso
que se deu! Em todos os momentos alegres da minha vida
ela passou a estar ausente, nas datas em que precisava de
seu calor, eu ficava gelando. A miúda passou a me atirar
todos os seus problemas, ou seja, quando algo na sua vida
pessoal desse errado quem pagava era eu. Não sei ao certo
mas parece que ela passou a me ver como seu Macom – táxi,
mesmo se eu estivesse numa entrevista importante para
emprego, ao receber sua chamada eu tinha que ir a correr só
TRISTEZAS DA VIDA
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para lhe atender, senão era mais um dia triste para mim,
pois teria de a ver zangada e em vez de minha miúda
minha inimiga.
Por causa disso, chegamos a um último momento de
nossas vidas, um momento trágico, triste e muito
dramático.
Num belo dia, “digo belo porque o levantar do sol era
lindo, céu com nuvens carregadas, mas não contava que
aparte disso para mim seria um dia triste, cheio de
lágrimas de sangue apesar de já ter imaginado por ter
acordado com o pé esquerdo”, ela liga para mim dizendo
que ouviu que já havia saído os resultados do teste para
admissão a faculdade, e que estava com receio de os ver.
Mas como eu naquele dia tinha previsão de lá ir, disse-lhe
que os veria sem receio, e que mais tarde lhe daria o
resultado, sendo este bom ou mau. Fui até a Faculdade e
procurei o seu nome naquelas listas desorganizadas
coladas na parede, enfrentei aquela enchente de alunos
desesperados, chorando pelo resultado negativo, só para ver
seu nome. Procurei não só nas listas referentes ao curso em
que ela se matriculou, mas em toda a escola e o seu nome
não constava em nenhuma delas. Ligo para ela e lhe
informo o que estava a ocorrer, mas ela não acreditou
pedindo até que eu checasse mais uma vez em todas as
TRISTEZAS DA VIDA
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listas. Se ao verificar a primeira vez já tive de suportar
aquela confusão, e levei mais do que duas horas, imaginem
voltar a verificar? – Aceitei só já, como se tem dito – “o amor
é burro”, por isso, fazer o quê! Voltei a verificar e dessa vez
tive que suportar e até quase dar uma porrada no aluno que
quis mostrar que estava desesperado arrancando as listas
da parede. Olhei com mais cautela, levando mais tempo
para ver se desse uma resposta positiva aí a cinderela. Mas
isso seria impossível, seu nome não constava mesmo em
nenhuma lista. Olho para cima e vejo uma informação –
“Todo aluno que seu nome não consta na lista deve
reclamar hoje até as doze horas”. Olho para o relógio e já
eram dez horas, por isso ligo para ela para ir o mais rápido
possível a fal, e ver se reclamasse. Ela me diz que não podia,
porque encontrava-se longe de casa, e talvez não chegaria a
tempo. Tentei fazer o máximo para lhe ajudar, mas sem o
boletim de confirmação de matrícula não poderia fazer
nada. Por isso liguei e disse-lhe para fazer o impossível para
aparecer a horas. A miúda não apareceu a horas, encontrou
tudo fechado e reclamações encerradas. Não conseguiu
entrar para a faculdade e atirou todas as culpas a mim.
Quando eu ligava para saber o que havia acontecido, ou
qual foi o resultado da reclamação ela não me atendia.
TRISTEZAS DA VIDA
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Durante um mês não a vi, nem a ouvi, simplesmente se
recusava em me atender.
A princípio pensei que ela tivesse viajado, ou que
tinha simplesmente o telefone avariado. Mas depois tive a
certeza que ela fazia de pirraça quando uma amiga dela
ligou para ela a minha frente, e em frações de segundo ela
atende o telefone. Depois de terminar a conversa, eu tento
ligar para ela, e simplesmente não me atende. Incontáveis
foram as vezes que tentei falar com ela e não houve
resposta. Nesta vida injusta posso aceitar tudo, mas me
tornar algo que não sou, isso é impossível. Para ela me
tornei seu palhaço, seu brinquedo de estimação e que
quando a gente está cansado deita-lhe fora. Meses se
passaram sem eu receber nenhum sinal de sua existência.
Quando ela me visse de longe, fugia e evitava ter um
contacto comigo. Mau relato sobre a minha pessoa ela foi
fornecendo, sem saber ao certo ela estava me entristecendo.
Com todos esses comportamentos entendi o recado
que ela quisera transmitir-me e simplesmente desisti dela e
do nosso lindo inicial namoro. Depois de algum tempo
(meses longos) ela envia – me uma mensagem a dizer que
estava arrependida e que só fez o que fez para não me
prejudicar. Mas quem não quer prejudicar não maltrata.
Por isso decidi fugir ou seja dar algum tempo a essa guerra,
TRISTEZAS DA VIDA
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a esse conturbado namoro. Sei que talvez tenha tomado a
decisão errada, deixar uma beldade, uma exótica mulher por
causa dos problemas que ocorreram! Mas é a vida, é como se
tem dito: No namoro não se come somente beleza, mas
entendimento e compreensão mútua. Para quê ficar com
uma beleza que não te entende, não te compreende, que te
manda lixar nos dias que mais precisas dela? Não tem
sentido, mas se estás passando por isso e mesmo assim
pretendes permanecer na beleza para fazer amostra, mano
força, porque eu dei um tempo.
Mas apesar de reagir assim, meu coração por ela
ainda palpitava. Lembro-me que sempre que o telefone
tocasse, ou desse o sinal de uma mensagem, eu lá ia
correndo na perspectiva de atende-la, só que havia esquecido
que ela de mim já havia desistido e talvez prometido nunca
mais me ligar. Mas apesar de todos esses problemas,
malembes da vida, entendi aquele ditado muito recitado:
“Mulher é que nem capim” – apesar de ter capim que o
cabrito aprecia, mas quando acaba o desejado há que se
procurar outro. Só que dessa vez não procurei outra
companheira, outra Cinderela que pudesse calçar os sapatos
de cristais, porque meu coração estava cheio, lotado de
mágoas da primeira e esta última relação, que só me trouxe
TRISTEZAS DA VIDA
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grande decepção. Dessa vez a Cinderela é que teve de
deslocar-se até ao meu encontro.
Se bem se aperceberam essa é a parte de nossa
história, que preencheu mais páginas, e é o relacionamento
mais curto que já tive, mas isso dá-se porque com essa
pessoa tentei demonstrar o quanto a amava, dando-lhe de
tudo, passando por alto todos os defeitos, todas as falhas
indesejáveis. Com ela tentei fazer um dia parecer um mês,
uma noite um ano. Mas mesmo com essas tácticas tudo
saiu errado, mas consegui tirar lições que espero nelas não
voltar a cair.
Aprendi que melhor ir para o namoro com uma
percentagem enorme de conhecimento a respeito da outra
pessoa, do que tentar preencher a percentagem de
conhecimento dentro do namoro. Com isso concluo que
namoros bem – sucedidos e posteriormente casamentos, em
parte, são entre pessoas conhecidas de longa data. Por isso
para que um namoro ou casamento seja bem-sucedido não
há que se estar só preparado, mas acima de tudo há que se
conhecer bem o seu cônjuge. Aprendi também que mulher é
que nem um empreendimento, há que se sentar e raciocinar
sobre o que se pretende fazer, para que quando der errado
não fiquemos com um N’dolokumuchima (dor de coração
em kimbundu). Por isso aqui estou só, ou seja restando,
TRISTEZAS DA VIDA
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decepcionado com todo tipo de mulher, mas fazer o quê se
isso é a vida, há que ter problemas para sentirmos que
estamos vivendo.
Mas não há problema pois bastou ir uma que quatro
surgiram. Se bem me lembro eu ainda estava na fase em
que era o gajo de gajas…
TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
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TRISTEZAS DA VIDA
56
Telefonemas e mensagens excitantes fui recebendo.
De quem, eu não sabia, nem desconfiava. Só sei que ela
dizia que era a minha admiradora secreta, a que foi minha
camba de infância, a que delira com os meus lábios e que
morre com o meu charme. Tentei descobrir quem era essa
pessoa, mas por mais que tentasse ela batia na mesma
tecla, não se apresentava e apenas citava meu nome. Decidi
intensificar os meus esforços, recorri a grandes bibliotecas,
daquelas que são capazes de te contar todas as cenas
mesmo que naquela época não estivesses nascido – as
manas fofoqueiras. Com ajuda delas consegui ter pistas de
quem se tratava, mas ainda assim não era o suficiente.
Desta feita tripliquei ainda mais todos os esforços outrora
feitos, pois parado não dava para ficar, pois suas
mensagens tocavam o meu ego e bombeavam os mais puros
sentimentos ao meu coração.
TRISTEZAS DA VIDA
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Felizmente consegui com todos os esforços alcançar
esta mulher que sabe com simples palavras levantar o
espírito paralítico e fazer o debilitado em sentido “mulheral”
marchar rumo o portal da alegria.
Quando a vi ganhei poderes especiais; meus olhos
ficaram que nem de um gato e uma águia – com visão
nocturna e aguçada, minha língua que nem de um lagarto
– pronto a atirar e sentir seus deliciosos lábios. Ela tinha o
que a primeira vista é realçada a visão de todo homem – um
lindo e robusto QO. Já tinha o seu número por causa das
mensagens que ela foi enviando, por isso não maiei e já
sabia seu nome completo.
De longe, passei a lhe conhecer mais, denotando que
era uma jovem trabalhadora, que mesmo sabendo que
ficaria doente e com fortes dores de cabeça estava pronta a
enfrentar qualquer tipo de serviço só para agradar quem
estivesse do seu lado e para realçar o que realmente ela era –
uma mulher higiénica.
Notei que era alguém por todos do bairro desejada, o
que me fez pensar de início que fosse uma boa menina.
Passei a lhe olhar com visão raio x para conseguir discernir
seu interior e alegremente vi que tinha um lindo e puro
coração, pois ela era alguém que com todos dava-se.
Visualizei que ao seu redor rodava amizades adultas,
TRISTEZAS DA VIDA
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idosas, o que me fez pensar que ela gostava das
experiências dos adultos e tinha o desejo de aprender, e logo
deduzi então que era uma mulher inteligente.
Pedi opinião dos mais velhos da e na área e me
aconselharam a embarcar nessa nova aventura sem receios.
Ouvi seus conselhos, corri até ao mercado, chachei
umas químguilas e uma delas aceitou vender-me um par
de seus lindos anéis a um bom preço. Saio a correr, tomo
um banho daqueles, uso o melhor perfume do meu papoite
(“ele trabalha e consegue comprar perfumes de cem dólares –
enquanto eu, chiiii, melhor nem falar”), visto o melhor grife
e vou ao encontro dessa mulher sem ela sequer desconfiar.
Aguço minha visão e tento enxergar-lhe de longe. Vejo-a de
pé ao lado da porta de sua casa, apreciando os jovens
jogando “não te irrites”. Saco um dos anéis do bolso, preparo
a cena para que quando perto dela chegar, não passe
vexame com as atrapalhações. Releio o grande e lindo poema
que escrevi e lá vou ao seu encontro.
Ao chegar perto dela, começo já a me arrepender de
ter gasto o dinheiro naqueles anéis, de ter sujado meu
grande grife, ter usado o perfume do papoite, porque teria de
aguentar o barulho. Tanto esforço e a mulher também não
presta. Talvez estejam se perguntando o que aconteceu para
TRISTEZAS DA VIDA
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haver uma mudança drástica de pensamento, mas vou
explicar-vos.
Notei que minha visão raio x e ainda por cima com o
coração borbulhando de paixão não havia focalizado os
pormenores importantes. Ao ver de perto noto que a miúda
estava fora de si, embriagada e com uma cuca (“cerveja
Angolana”) na mão. Ela não estava de pé na sua porta
apenas apreciando o jogo dos rapazes, mas estava sim a
espera de mais um convite para uma cerveja. Não
imaginam qual foi o choque ao ver a futura conquista que
nem o roque. A miúda começou a falar sem sentido, fez
figura de palhaço e ainda por cima aceitou ser levada por
um daqueles rapazes sei lá aonde. Ainda bem que não abri
meu bico cedo, declarando-lhe meus fortes sentimentos por
ela.
No dia seguinte, no dia do arrependimento como
assim o chamo, pois foi nesse dia que lhe foi contado todas
as borradas que ela fez, ela ficou sabendo por meio de suas
amigas que eu estive lhe apreciando, vendo as palhaçadas
que ela estava dando, o vexame que passou e a vergonha
interior que me causou.
A miúda correu até meu encontro, ajoelhou e pediu-
me perdão por tudo que havia feito, que era a primeira vez,
que foi desencaminhada pelas amigas, que nunca mais
TRISTEZAS DA VIDA
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voltaria a cair nesse mal proceder, e por aí, desculpas e mais
desculpas ela foi dando.
Antes de a perdoar, pedi-lhe um tempo para analisar
melhor a situação.
Vesti a minha roupa de detective e lá comecei a
minha busca, ou seja minha investigação minuciosa a seu
respeito. Entrei em todos os sites da sua vida, acessei todos
os seus links e fui bater nas suas vizinhas. Conversas e
mais conversas e fiquei sabendo que a miúda era conhecida
como doente mental. Tinha reacções e comportamentos
estranhos, adulta de idade, mas criança de cabeça. Agia por
instinto, achava-se homem, cavalona, gostava de lutar,
partir garrafas que nem uma “squad”. Assim que ouvi
aquilo, fui tirar a prova dos nove, e parece que aquele era o
meu dia de sorte. De longe avisto e ouço a conversa dela com
a amiga dizendo que estava se preparando para ir partir a
cabeça de uma jovem que havia lhe frustrado. Ao ouvir
aquilo começo a ver o meu futuro ameaçado, já dava para
ver o caixão de longe, o meu corpo bem esborrachado com as
pancadas da mulher. Saio daí com a decisão “de querer
encontrar o fim de uma recta e nunca pensar em aplicar
um ângulo de 180”. Ao meio do caminho me encontro com
mais uma de suas vizinhas, só que dessa vez é uma
vizinha adulta e por acaso também minha amiga. Portanto
TRISTEZAS DA VIDA
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decido ouvir mais uma segunda opinião, na esperança de
que aquelas jovens estavam mentindo. Começo já a lhe
ouvir… e dessa vez ouço coisas que ninguém me tinha
contado. A miúda tem fama de namoradeira, para saberes
quantos namorados ela tem, terás que fazer uma
distribuição de frequência estatística, e só daí saberás
quantos são. Admirado com essa novidade, vou triste para
casa, mais uma vez decepcionado com as mulheres. Agora
já não há esperança, desisto totalmente dela. Doente mental,
namoradeira e violenta – não posso ter uma mulher do meu
lado assim. Ainda bem que dessa vez a emoção estava na
velocidade certa. Aleluia eu digo por não ter lhe declarado os
meus puros sentimentos. Nem quero imaginar o que teria
acontecido se com ela eu permanecesse. Bendito sejas…
Mas algo não entendo, porquê que quem a gente
gosta, não gosta da gente? Alguém que me responda por
favor. Foi isso que se deu nessa última história que irei vos
contar em sentido “mulheral”. Foi o seguinte…
TRISTEZAS DA VIDA
62
TRISTEZAS DA VIDA
63
TRISTEZAS DA VIDA
64
Na minha vida de modo inesperado, não planejado,
surgiu uma bela mulher, com todos os quitutes que se
espera de uma excelente mulher.
Mulher de cabeça, alguém madura, responsável,
mais velha em idade e juízo e muito bela em corpo, e isso
posso vos dizer com certeza. Já que com as miúdas passei a
ter problemas, segui o conselho do Heavy C, quero uma
mulher mais velha, uma mais séria.
No mero acaso, de forma inexplicável viemos a nos
conhecer. Sem eu saber ao certo com quem falava, fiquei lhe
ouvindo desabafar. Tentei conquistar – lhe, mas parece que
a miúda só pretendia desabafar. Ela rasgou a capa, soltou
as folhas do livro da sua vida, deixou-me estar a par do seu
passado, presente e futuro. Em fracções de segundos, fiquei
sabendo como a mulher havia sido machucada
emocionalmente. Como um balão, ela estava cheia com
TRISTEZAS DA VIDA
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todos os desentendimentos de relacionamentos passados.
Naquele momento ela fez de mim o seu confidente, atirou-
me todas as suas cargas e apercebi-me do alívio dela ou seja
o balão a esvaziar-se. Tudo isso aconteceu via Messenger.
Mas combinamos um dia para nos encontrarmos já que ela
conhecia tanto a mim como os demais elementos da minha
família, o que me assustou pois já não fazia ideia de quem
fosse, apesar de ter o seu correio electrónico registado.
Por fim chega o momento de nos encontrarmos.
Assim que a vi a reconheci logo, sem pensar muito me atiro
logo. Faço uma apresentação a moda francesa, solto um
sorriso dos lindos lábios da miúda e com a confiança
adquirida faço-lhe soltar a idade. Noto que ela é minha
mais velha, mas que em contrapartida eu pareço ser mais
velho dela. Apesar de ser já uma mulher madura, ela tem
um corpo de vinte, olhar sereno de doze, e o rosto de uma
donzela, só para não dizer Cinderela. Não maiei… com a
apresentação a moda francesa consegui conquistar seu
coração e obter o seu número telefónico, de modo que no
calar da noite envio-lhe uma mensagem excitante,
daquelas que faz o coração trabalhar a cem porcentos. Toda
emocionada ela responde a mensagem dizendo que eu
estava colocado na lista dos melhores amigos dela,
guardado na parte mais restrita do seu coração. A miúda
TRISTEZAS DA VIDA
66
pediu que eu fosse seu grande amigo e de mãos abertas
aceitei o emocionante convite, só não me apercebi que nesse
saco havia segundas intenções.
Sempre a tentei conquistar mas ela recusava, e como
é mais velha eu não persistia, pois poderia ser mau encarado
ou até perder a sua amizade, algo que o coração não
desejava.
Eu a encarava como amiga, mas houve momentos
que me fazia enlouquecer, ficar baralhado, sem saber mais
que posição eu realmente ocupava em seu coração. Apesar de
me rejeitar, reagia como se me quisesse. Constantemente
ligava, ficava aborrecida se não atendesse uma chamada
sua telefónica, fazia confusão para sempre sairmos algo
que já não entendia pois ela já tinha arranjado um outro
namorado.
Mas numa linda e calma noite, ela liga e lá começa
novamente a desabafar, só que dessa vez seus desabafos me
deixam triste.
Ela confessa que não amava a pessoa com quem
estava, que havia ficado com ele por pena, por causa das
incontáveis persistências dele, e que eu era a pessoa que ela
amou, amava e desejava continuar amando. A princípio
deveria ficar alegre, já que a pessoa que outrora eu tentara
conquistar veio se declarar, mas fico triste por saber que a
TRISTEZAS DA VIDA
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pessoa com quem ela estava a namorar era meu amigo e ela
não lhe gostava. Fiquei sem forças, sem saber como reagir,
porque se estranhasse estaria desejando o mal de meu
amigo, se ficasse triste lhe daria a entender que não gostei
do que ela dissera. Tentei pedir conselhos aos maduros no
assunto, mas por mais que ouvisse, o meu coração já
desejava ser o “fura olho”. Na inocência do coração, aceitei o
grandioso convite feito, e lá embarquei sem medo nesse
oceano ondulado.
Com ela consegui esquecer a Joana, a Antónia, a
Chiquita e a Fatita. Bobs, Ilha, maculusso nos grandes
hambúrgueres, esses eram os nossos destinos nocturnos.
Por ela tive que fazer investimentos altos, antecipar planos
futuros, porque com ela é como se já estivesse no céu, onde
mais poderia ir?
Senti-me na obrigação de elevar a minha condição
social, porque para além de ser minha mais velha, ela já
tinha economias de sobra na sua conta. Por isso larguei
aquele mísero emprego, que também só me cansava, nem
com o salário anual eu conseguia igualar o seu salário
mensal. Chorei a frente dos tios, chateei o papoite pra ver se
conseguissem um furo em uma dessas empresas de renome.
Felizmente consegui entrar numa delas, passei a ganhar
TRISTEZAS DA VIDA
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bem, a leva-la a passear, porque agora quem pagava sem
limites era eu.
Palavras para descrever como estava a nossa relação,
não tenho. A alegria era tanta, a emoção tomava conta de
nosso ser. A miúda passou a confiar cem porcento em mim,
todas as chamadas eram pra mim, os carinhos, mimos e
prendas ela atribuiu-me, esquecendo na totalidade o Sérgio.
Querendo ou não, eu já era o fura olho. Agora todos
enxergavam em seus olhos a paixão por mim. A miúda
estava caída na totalidade. Por minha causa ela começou a
entrar em casa a madrugada, a dormir tarde se é que ainda
conseguia dormir, porque o tempo todo ela quis ficar ao
meu lado, gastar o saldo nas horas quentes só para ouvir a
minha voz. Sua oração nocturna constante era: – “Senhor
meu Pai faz já amanhecer este dia, e clareia o meu dia com
a presença do Patrício”. Ela estava habituada com 3
refeições, mas passou a fazer de mim suas 6 refeições.
Gulosa de mim ela se tornou, só nunca pensei que fosse se
empanturrar de mim… [mas chegaremos já ali] …
Com toda essa situação eu me sentia o Rei dos
homens, o super – herói. Sabes quantos homens
possivelmente estariam atrás dela? – Tantos, mas no meio
desses, eu fora o escolhido. O super – herói eu também me
tornei, não sei porquê mas Anselmo Ralph teve efeito nas
TRISTEZAS DA VIDA
69
mulheres com a sua música. Ela fez de mim seu guarda –
costas, por mais fininho que eu fosse, era a minha trás que
ela encontrava refúgio e consolo. Afogado na emoção, reuni
os papoites num grande almoço e aproveitei fazer umas
perguntas de ideias. Procurei saber qual seria a reacção
deles caso lhes apresentasse alguém mais velha com relação
a minha pessoa, como nora. Num tiro certeiro eles
responderam o que exactamente eu queria: - “Quem escolhe
és tu meu filho, nós só queremos alguém decente e
ajuizada”, mas leva em conta as vantagens e
desvantagens. Com essa resposta positiva fiz soar de quem
se tratava, e como grandes pais atentos, eles deram conta.
Sem nada mais dizerem, vi que havia feito uma boa
escolha – pois já tinha a aprovação dos papoites.
Ligo para ela, e lá lhe conto qual havia sido a reacção
dos do meu lado. Idêntica foi a reacção dos do seu lado. Mas
como é bom seguir o conselho dos mais velhos, faço-lhe ver
as vantagens e desvantagens – pois seria mais fácil ela ser
aceite pelos do meu lado, do que eu ser aceite pelos do seu
lado, tudo por causa do factor idade. Mas apesar disso, a
miúda estava disposta a enfrentar todos malembes que
pudessem vir, e isso me deixou mais confiante. Era tanta
alegria, tanta era a emoção, que sem pensar muito lhe
entreguei meu coração. Passei a confiar a todo gás nela,
TRISTEZAS DA VIDA
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também não havia como, porque tantas eram as promessas
que ela atava em meu pescoço, que aquilo funcionava que
nem um foguete – “querendo ou não, eu era obrigado a voar,
para ao lado dela estar”. A miúda já falava em casamento,
estávamos ainda no presente, mas ela já quis viver futuro.
Em crianças, já ouvi falar; empreendimentos futuros; mas
o que mais me assustou foi ver-lhe colocar tudo no plural: -
“Nossa casa”, “Nossos carros”… nossa, nossa, ai como o
nosso amor é lindo… Mas como dizem, felicidade do pobre
não dura muito tempo. Começaram a surgir alguns
pequenos demónios, surrando o nosso cupido e colocando
pedras no nosso amor, para ver se estragassem a nossa
felicidade.
Primeiro surgiu um ex da adolescência, o que havia
outrora lhe magoado muito, mas pronto acho que também o
devo agradecer porque se não fosse ele, não teria inicio esta
história. Mas esse canalha decidiu aparecer logo na hora do
bem bom, com propostas alucinantes, prendas de último
grito e charme tipo Maxmiliano (“actor da novela
acorralada”). Só que também não seria ele ainda a derrubar
o nosso murro de Berlin. Suas prendas não a serviram, e
nem foram com o seu agrado. Seu charme foi jogado no
lixo, não adianta ter um carro do último grito, se este por
motivos técnicos não anda. O gajo não tinha boa reputação,
TRISTEZAS DA VIDA
71
era conhecido como mulherengo, batedor de mulheres, e isso
sujou seu currículo de beleza externa. Suas propostas não
foram aceites, pois eram tendenciosas. O gajo quis levar a
miúda na ilha, pediu para que não levasse ninguém e note
a hora do encontro: 21h em ponto. Safado o gajo hein… só
que a miúda em mim ainda confiava. Ligou-me rápido e
contou-me tudo… sem pensar zero vezes vou a casa dela a
correr, pois ela disse que ele passaria por lá para confirmar,
já que ela não lhe atendia mais o telefone. Assim que chego,
fico já na porta de casa com a gata, abraçando-lhe bem
forte. Para proteger o que é meu viro Mike Tyson e uma
mistura de Jet Li. Não me importei se ele era maior do que
eu, lá eu estava, trémulo, mas pronto para proteger o meu
troféu. O gajo teve sorte, acho que ele sentiu o meu cheiro e
não apareceu. Por mais que persistia, a miúda lhe afastava,
ele no passado já estava. Cada vez mais o meu termómetro
de confiança aumentava, de forma que já me sentia como
escalando uma montanha sem cordas, mesmo que caísse a
gravidade reagiria nos dois sentidos (“de cima para baixo e
de baixo para cima” me estabilizando).
Mas quebrei mesmo o meu termómetro quando a
levei onde o Zinho safadinho a quis levar – ilha. Num fim-
de-semana lindo, um domingo de céu cinzento, lá partimos
nós primeiro almoçar fora de casa, num mine restaurante
TRISTEZAS DA VIDA
72
mas com comida exuberante. Demos show ali. A Indira
estava irreconhecível. Soltou a vergonha, participou no
caraoque, emocionada dedicou-me uma música, tirou-me
fotos e esteve bem próximo; juntinho de mim. Estava
confirmado. Eu já não era o único que via em seus olhos a
intensa paixão. Meus amigos me parabenizavam sem eu os
ter dito nada. O dono do restaurante simpatizando-se
conosco deu-nos bebida grátis e me chamou num canto e
disse: “Tens uma bela mulher puto”. Nesse almoço tinham
ido mais mulheres, mas ele viu em seus olhos a paixão, e
logo deduziu o que todos deduziriam. Elementos de sua
família me lançavam indirectas, sem os perguntar me
diziam que ela havia despachado o Sérgio, que parece
estava de caso novo. Enquanto eles diziam isso, eu ria em
tudo que desse, em meu coração, em minha boca, todo meu
corpo no ínterim estranhava. Joana, Antónia, Chiquita e
Fatita, podem me esquecer pois já tenho quem me ama. Me
senti como se estivesse num carro zero quilómetros (novo
em folha) não esperava que nada de errado, nenhuma
avaria ocorresse. Estava tão confiado que soltei o Peneu de
socorro, abandonei todas as pretendentes, pois queria ser
fiel a ela, mas parece que fui burro nesse aspecto… [mas
chegaremos já lá] … por enquanto continuemos com o
TRISTEZAS DA VIDA
73
maravilhoso fim-de-semana que tivemos, pois ainda não
anoiteceu.
No calar da noite, levei-lhe então onde o Zinho
encontrou rocha – ilha. Com o que aconteceu a tarde, eu
precisava me certificar se estava enveredando no caminho
certo. Dias antes desse Domingo, eu havia falado com o
Sérgio, e como amigo ele desabafou, dizendo que sentia sua
relação ir por água abaixo, porque a miúda parecia estar lhe
colocando de lado. Ele estava louco por ela, mas parece que
ela não se importava muito com ele. Naquele momento eu
também não poderia dizer muito a não ser coragem, pois eu
era o culpado dessas reacções – o fura olho.
Então para me certificar se estava no caminho certo,
pensei na dor do Sérgio e disse que a abandonaria e
deixaria o caminho livre para ela e o Sérgio. Tantas vezes a
fiz esse teste, e quando a fizesse ela se zangava, me cortava
água e luz, e dizia que eu a queria matar. Mas nessa noite
eu estava bem decidido a deixar-lhe, e ela fica triste. Pronto
bebé, a vida tem dessas, mas fazer o quê? – Lá digo eu a ela.
Fazer o quê, vou te mostrar – lá diz ela a mim. Me agarra
com tanta força e me dá um… não posso considerar aquilo
linguado, pois parecia mais cachucho. Nos beijos e amaços
ela me envolveu. Meu termómetro de confiança rebentou
quando ela abre a porta do carro e me empurra no banco de
TRISTEZAS DA VIDA
74
trás, fecha a porta… e ela quer estar aos cachuchos comigo.
Aquelas palavras bonitas que todos vós conheceis, eu ouvi.
Te amo, quero estar contigo, és a minha perdição, tudo foi
recitado pela Indira sem nenhuma mentira.
A madrugada chego a casa, vou ao quarto e tento
dormir, e o sono não quer vir, porque o pensamento voa até
ao seu encontro. Trabalhar e estudar, ou fazer uma outra
actividade já não era a mesma coisa sem antes ouvir a sua
linda voz. Amar e ser amado é lindo, agora eu tinha uma
mulher, tinha uma preocupação, tinha uma
responsabilidade. Já chegava na sexta a pensar o que fazer
com ela no fim-de-semana, e quando sem ideia estivesse, o
lugar preferido dela eram os cachuchos. Meus dias eram de
terna alegria. Dormia e acordava lendo poemas de coração.
A vida estava um mar de rosas, um paraíso. Mas como
qualquer paraíso, surgiu o Diabo.
Dessa vez não foi nenhum ex., mas sim o próprio
Sérgio. Ele estava inocente de tudo, não sabia o que se
passava. Ele pensava que a miúda o havia deixado e ficado
só, por isso ele decidiu intensificar os seus esforços, fazer de
tudo para a resgatar. Surgiu com propostas grandes,
sérias, mas apesar disso, eu ainda sentia sua confiança em
mim… só que estava enganado. Na conversa entre cambas,
o Sérgio me diz que sua relação estava um doce, que riam o
TRISTEZAS DA VIDA
75
bastante, e que até o fim-de-semana passado haviam feito
algo espectacular. O quê? Tua relação com quem? –
Pergunto eu. Com quem como assim, já não te disse que
estava a fazer planos na Indira e ela está derretida por
mim, lá diz ele. A Indira? A meio latona, com um QO a
maneira, a que trabalha no… que tem uns cabelos… a que
conduz actualmente um…? É dessa que falas Sérgio? É
sim Patrício, cumé então você, já te apresentei. Sei Sérgio,
só quis ter certeza.
[…Já chegamos…], na parte em que fui burro, na
parte em que ela se empanturrou de mim.
Trémulo vou a geleira, saco uma “rede bull” pois
precisava de energia de qualquer maneira. Despacho o
Sérgio, pois não o queria ver a minha frente, com o
nervosismo seria capaz de lhe abrir a cabeça, sem ele
perceber o porquê. Sento-me no sofá e começo a fazer as
ligações, a entender tudo.
Burro fui eu, quando passei a acreditar nas suas
promessas. Notei que ela estava tomando aquele rémedio
que muitas usam: “Apague um sentimento ferido,
arranjando um novo amor”. Naquele momento para ela, eu
era uma simples borracha de sua vida, pois ela desejaria
passar novamente o lápis, e eu não o era.
TRISTEZAS DA VIDA
76
Ela me usou para afogar as suas mágoas, encontrou
alguém que a ouviu desabafar, que aceitou ler o livro de sua
vida e fazer as correcções nele. Fiz um rescaldo dessa
relação, e vi que ao seu lado eu havia me tornado num
monstro. Para permanecer o amor, para a conquistar, fui
obrigado a passar as barreiras da minha vida, pisei na
minha moral, me tornei no que eu nunca fora, briguei com
quem nunca briguei, desejei o mal dos outros, até de meu
amigo... Me tornei num fura olho, tudo de podre ao seu lado
me tornei. Enquanto eu pensava em seriedade, enquanto eu
me preparava, enquanto planejava o futuro, ela brincava
comigo. Brincou cm meus sentimentos, atrapalhou a
minha vida, e abriu feridas q ela bem sabia q estavam
cicatrizando.
Devem estar a se perguntar o que ela realmente fez,
para eu estar nesse estado. Esperem, vou contar-vos e a
deixarei também falar.
Eu estava sentado no sofá, e lá começo a ligar os
pontos. A Indira estava ferida emocionalmente. O zinho a
havia machucado quando a trocou por outra quem sabe
outras. Como remédio ela tentou encontrar um burro para
fazer o mesmo, e na sorte da vida, encontrou esse burro –
eu.
TRISTEZAS DA VIDA
77
Descobri que ela me havia mentido com relação a
deixar o Sérgio, e que nem tempo havia pedido. Eles se
encontravam normalmente, burro fui eu que não dei conta,
ou se dei, passei por alto. Ela estava fazendo uso dos dois.
Se saísse comigo de tarde, de noite estava com ele. Lembro-
me de um dia em que pretendia sair com a minha miúda,
mas ela fingiu (o que agora percebo) que estava
incomodada e sem vontade de sair. Tudo bem, entendi,
disse que também não sairia, que ficaria com ela aí para
lhe dar o carinho necessário, mas ela persistentemente
insistia para que eu saísse, que não se preocupasse com ela,
mas eu bem rijo não quis sair, até que ela consegue me
despachar, dizendo que tinha assuntos de trabalho por
resolver e precisaria de muita atenção, e a minha presença
lhe tiraria a concentração. Entendi e lá fui, soltar umas
gargalhadas com os cambas da banda.
No meio de tanta gargalhada e birras com os
cambas, esqueci-me que deveria passar no Sérgio para
pegar umas cenas para o trabalho. Vendo a hora, como ele
gosta de dormir cedo, pego simplesmente no phone, e lhe
ligo:
[eu]… Aló Sérgio, tudo bala?
[ele]… Yá meu, o que mandas?
TRISTEZAS DA VIDA
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[eu]… Quero vir pegar já aquelas cenas que combinamos,
posso vir agora, ou já estás na cama? Hahahah
[ele]… Eu cama? Estou aqui no teatro man, a curtir a
“Sogra” do grupo Horizonte.
[eu]… Não me dissestes porquê, poderíamos ir juntos, teatro
não é bom assistir sozinho.
[ele]… quem te disse que estou sozinho, tenho namorada
para quê?
[eu]… Não entendi bem, estás aí com a Indira?
[ele]… Te apresentei quantas namoradas man, sim é ela…
olha vou desligar esses wis são estúpidos yá. Hahahah,
mais tarde.
… Lá do fundo ouço a risada da Indira. É mesmo ela. Me
disse que estava incomodada, me despachou porque não
quis que eu me encontrasse com o Sérgio. Não sei o porquê
que ela fazia isso.
Isso foi o suficiente para eu ver que ela não havia
dito nada ao Sérgio. Manteve-o em standby. Lhe envio
uma mensagem: “Tás aonde bebé?”, e ela responde-me que
estava em casa. Aié, falei com o Sérgio e ele me disse que
está contigo no teatro. E lá ela: “Bebé não é nada disso que
estás a pensar, depois vamos conversar”. Conversar mais o
quê, se tudo está bem esclarecido, um chifrudo eu estou
sendo. Magoado pego no carro e ligo para a Cleyde, pois essa
TRISTEZAS DA VIDA
79
sabe levantar o espirito decaído de um homem. Passo o resto
do domingo com ela, a miúda é boa, não pensaria duas
vezes se ela não tivesse já duas crianças. Me consolou, me
ouviu desabafar e me aconselhou a não tomar nenhuma
decisão sem antes a ouvir. Por isso deixei ela falar.
… [Fala da Indira] …
Patrício eu te amo muito, sem ti não consigo viver.
Desculpa por ontem. Realmente eu estava a me sentir mal,
não estava mesmo bem, porque estava a ganhar coragem
para de uma vez por todas falar com o Sérgio. Eu combinei
com ele para conversarmos aqui em minha casa, mas
quando o vi, a coragem desapareceu. Ele me agarrou e me
obrigou a ir ao teatro, não quis te magoar. Por favor volte
para mim. Sei o quanto estás chateado, entendo pois tens
todo o direito de estar contristado. Mas não precisas
desconfiar de mim, é de ti que eu gosto, amo e respeito. O
Sérgio tem me atormentado muito, mas ele para mim não
passa de um simples amigo. Também preciso de ter amigos,
assim como você tem a Cleyde.
Não faça nada que podes vir a te arrepender depois.
Não aconteceu nada de mais, foi um simples passeio entre
amigos. Não coloque os nossos planos de lado, pense no que
TRISTEZAS DA VIDA
80
já passamos, vivemos, nos momentos lindos que criamos,
nos nossos gostosos cachuchos na ilha. Também sabes
muito bem que quando vieste ter comigo já havia Sérgio,
então não precisas dramatizar essa cena.
Hoje já é assim, eu é q fui ter com ela. Se bem me
lembro bem sentado em minha casa eu me encontrava e
quem veio confessar tudo foi ela. Mas ela está certa num
ponto, na altura ela estava a sair com o Sérgio, mas se ela
não gostava dele conforme dizia sempre, porque não
terminou com ele assim que me conheceu? Porque omitiu a
verdade ao Sérgio, quando entre nós estava acertado o
namoro?
Mas pronto como a história é “burro fui eu”, acreditei
em suas palavras, depositei total confiança em suas
promessas e embarquei novamente nesse oceano que parece
que era constituído mais de área do que água, pois o barco
ficou atracado no mesmo assunto, e nada voltou a ser como
era.
O perdão surgiu e trouxe o conforto devido, a esta
relação. O cupido voltou a descer e devolveu o amor, os
amassos e os cachuchos. O meu termómetro de confiança
voltou a trabalhar, e dessa vez com pontos altos. De
namorado passei a ser olhado Marido. Passei a ser
TRISTEZAS DA VIDA
81
controlado por ela. Onde quer que fosse, ela tinha que saber.
Lembro-me do dia em que fui ao banco levantar uma grana
para o fim-de-semana, ela viu o carro parado e parou
também ali a minha espera. Quando tentei saber porquê do
controle cerrado, ela disse que tinha que controlar o que lhe
pertencia, o seu Marido.
Com essas palavras o meu termómetro estava a
explodir, mas ela tinha razão, e eu com isso não me
incomodava do contrário me alegrava, pois estava na época
em que a Joana, a Antónia, a Chiquita e a Fatita
intensificaram seus esforços. Voltaram a me olhar e a fazer
confusão a minha cabeça, porque elas também não eram
nada mal, mas só que o coração é que escolhe.
As saídas emocionantes voltamos a ter, agora a
Indira estava realmente a se preocupar conosco. Prendas
caras ela estava comprando, saldos, telefones, atenção
redobrada ela me estava dando. Nos nossos futuros planos
ela voltou a pensar, e agora com mais seriedade. Aos
cachuchos na nossa ilha voltamos. A cada dia ela
aprimorava-os, com maior entrega cachuchava-me. Em
seus olhos voltei a ver o fervor da paixão. Só que eram
mesmo só em meus olhos que eu via tanta alegria…
Agora ela me reservava um dia o que era bom, mas
em contra partida ela aplicava aquele ditado: “Não esteja
TRISTEZAS DA VIDA
82
muito com o teu namorado, porque ele pode se aborrecer de
ti”. Se me reservasse uma Segunda, numa Terça ela quis
se ver livre de mim, pois dizia que seria melhor para ganhar
saudades. Até ali eu entendia, pois olhar para a mesma
cara mesmo amando, pode aborrecer. Mas burro fui quando
não percebi o fundo desse plano arquitectónico. No meu dia
livre se assim o posso considerar, ela o ocupava com o
Sérgio. Agora ela estava dando um dia para cada um.
Doeu-me tanto quando caí em mim e vi que estavam
brincando com os meus puros sentimentos. Quando estava
presente em mim a vontade de realizar uma acção
agradável para ela, lá o Sérgio se antecipava, e parece que
ele tinha todo o direito.
Percebi que sua história com o Sérgio estava longe.
Na família dele ela já era apresentada como a futura nora,
cunhada, tia, prima. Por todos ela já era benquista.
Vi que em todas as suas promessas eu havia caído
como patinho molhado. Por mais que dissesse que eu era o
seu amor, isso não passava de palavras, porque provas
palpáveis desse dito amor na realidade nunca tive. As
prendas faladas, os amassos, os doces cachuchos na ilha e
tudo o mais que um dia ela me deu, foram coisas para me
cegar e ver se eu continuasse a ser a borracha da sua vida, a
tigela na qual ela despejava as mágoas.
TRISTEZAS DA VIDA
83
Palavras são só palavras e nada mais. Ao contrário
de mim, o Sérgio ela apresentou a toda sua família como
futuro marido, o companheiro ideal, o sonho realizado por
Deus.
Dorido em meu canto fiquei. Solitário eu desejei
ficar, pois já não conseguia entender absolutamente nada, e
compreender como burro fui me tornar.
Por mais visível que parecesse a sua escolha, ela
persistia em dizer que eu era o seu amor. Agarrada em mim
ainda quis ficar. Quando decidi voltar a minha atenção
para a Fatita, a Joana, a Antónia e a Chiquita, lá vem ela
interrompendo mais uma vez tudo.
Um erro é compreensível, mas cair pela segunda vez
no mesmo erro, isso é burrice. Nesta altura deixei de ser
bobo. Pus a miúda pensativa por uma semana: Ou escolhes
o Sérgio ou eu. É que já não dava para continuar na
indecisão. Havia cansado de sofrer por alguém que não
quis dar valor ao meu sincero amor. Se ela me quisesse
como sua tigela de desabafo, poderia dizer, pois varias vezes
estive disposto a ser o melhor amigo para ela, mas como
amigo ela sempre me disse que não queria. Queria me ver
ocupar o lugar de namorado, o que eu não entendia porque
quando assim o fiz, ela não me deu valor.
TRISTEZAS DA VIDA
84
Cansei de ouvir os meus amigos dizerem do amor
dos dois, porque o Sérgio fez isso para a Indira, o Sérgio
comprou aquilo para a Indira, O Sérgio colocou uma foto
linda dos dois bem coladinhos no facebook. Tudo isso quis
eu fazer, tinha meios para o fazer, mas não tinha
privilégios o suficiente. Era encarado como namorado, mas
havia descoberto que ninguém me conhecia como tal, nem
mesmo ela. Nos cachuchos ficávamos, nos puros amassos,
mas para ela isso não significava nada. Se tentasse fazer
algo que o Sérgio fazia, passaria a ser conhecido como o
fura olho, o amigo que não se pode confiar, o que quer o que
é dos outros. Enquanto eles elogiavam o Sérgio pelas
demonstrações de amor, em meu canto eu chorava. Tantas
vezes escapei…, escapei soltar o que na minha garganta
estava entalado – “eu é que sou o namorado dela”. Alguns
desconfiavam do nosso relacionamento, mas como todos,
eles concluíam: “Ela só está a brincar com ele, achas que
ficará mesmo com ele?”.
Portanto com tudo isso, com o estresse dos
comentários, eu coloquei a Indira à parede: “Escolhe Indira,
por favor tome a decisão, o que queres comigo? – Tens que
dizer, ou eu, ou o Sérgio”.
Para ela, essa se tornou a decisão mais difícil da sua
vida, porque com o tempo percebi o porquê da sua indecisão.
TRISTEZAS DA VIDA
85
É que cada um tinha qualidades boas, que se juntassem
em um só homem a mulher desse homem seria feliz
eternamente. Para além disso tinha outros motivos, que
prefiro deixar-lhe falar:
… [Fala da Indira] …
Patrício tu me deste só uma semana para decidir.
Não gostaria de chegar até esse ponto. Desejava ser feliz
contigo, mas estás certo, pois os comentários já são
imensos. Não brinquei com os teus sentimentos, o que
houve foi apenas precipitação da minha parte. Quando te
conheci, perdida no espaço fiquei, maluca por ti me tornei.
Só que uma semana antes de te conhecer, pela emoção e
precipitação, deixei-me levar pelo convite de ser apresentada
a família do Sérgio. Apresentada me tornei, só que não o
via como namorado, futuro marido. Contigo quero sempre
estar, mesmo como amiga, só não desejo perder o meu
grande amigo. Voltar o tempo eu gostaria, limpar os erros
cometidos é o meu maior desejo, tirar as mágoas que te
coloquei é a minha actual vontade. Tomar essa decisão não
será fácil, estou sem coragem. Não pretendo também ferir os
sentimentos do Sérgio e o deixar magoado. Mesmo que
assim o fizer já será tarde. Por toda família já fui
TRISTEZAS DA VIDA
86
apresentada, até aquelas do mato, do quimbo já sabem que
o Sérgio está a namorar com a filha da Claudete.
Mancharia também o meu currículo se assim procedesse.
Minha futura sogra, cunhadas, primas e sobrinhas, sempre
que me vissem me interpretariam mal, assanhada, juada,
sem juízo, todos os nomes feios que possas imaginar
eles(as) me atribuiriam. Desculpa se te magoei, mas para
manter o belo nome que criei, prefiro continuar sofrendo.
Tentarei desenvolver amor pelo Sérgio. Não quis que
sofresses, por isso respeitarei qualquer decisão que tomares.
… [fim da fala da Indira] …
A decisão parece que estava tomada. Ela achou mais
fácil partir o meu coração do que o do Sérgio. Preferiu ficar
com ele mesmo não o amando. Ela jogou tudo que vivemos
ao lixo, nada do que passamos para ela teve significado.
Preferiu elaborar planos de casamento com ele, mesmo
sabendo que casamento é algo eterno. Para alguém que
dizia não amar, esse foi um passo grande.
Burro fui eu que nas suas palavras acreditei. Amor
o tanas, a Indira nunca chegou a sentir essa linda
qualidade por mim. Ninguém prefere sofrer, ninguém
aceita o inferno, mesmo estando inconsciente. Tentarei
TRISTEZAS DA VIDA
87
amar o Sérgio, isso era mentira. Ela já amava, por ele ela se
entregava. Emocionada deixei-me apresentar, outra
mentira. Quem não quer não é obrigado. O amor é uma
qualidade que para ser dada a outros tem de estar bem
desenvolvida em nós. Se ela estava disposta a dar ao
Sérgio, nela já estava bem desenvolvida.
Eu nunca me perdoarei por um dia ter sido burro, por
ter caído no mesmo erro uma série de vezes. Tudo pus a
parte por causa das suas promessas na qual depositei total
confiança, na qual me entreguei com toda garra. Todos os
planos futuros eu antecipei, cancelei todos os projectos
actuais, porque até aonde havíamos chegado não havia
dúvida de que futuro já estava escrito. Um dia ela chega e
no passado me coloca como se fosse lixo. Perdoar-lhe, posso
perdoar, mas perdoar não significa ser o que eras, ou dar o
deste anteriormente.
Ela estragou a minha vida. Ferido eu já estava,
agora com ela, eu fiquei gangrenando. Furou com os meus
pneus de socorro e me fez embarcar numa viagem
turbulenta e sem segurança. Fatita, Joana, Antónia e a
Chiquita, todas estas já estavam ocupadas. Foi tanta espera
que decidiram embarcar para outras. Até a Cleyde
conseguiu arranjar um gato jovem, as crianças não foram
TRISTEZAS DA VIDA
88
empecilho nenhum. Só eu é que não vi que ela era boa
mulher.
Sem rumo fiquei, perdido no campo emocional me
senti. Quando estamos a namorar, tantas são as juras,
tantas são as ideias, tantos planos são feitos, é tanta
emoção quando estamos ao lado de quem amamos, que
chegamos a falar mais que a dimensão do céu. Tantos são
os apelidos lindos que damos ao parceiro(a). Tudo é passado
por cima, erros, falhas, isso não existe. Mas termine esse
momento lindo e verás q se amaram estranhamente,
nenhuma jura foi cumprida, nenhum plano foi
concretizado, os belos nomes foram banhados na lama e
estenderam-lhes sujos, visíveis a todos.
Por vezes nos é dado o poder de voltar atrás no tempo,
não para tentar acertar o que fizemos de errado, nem para
sermos melhores e reconquistarmos o amor sofrido, mas
sim para apagar o que houve, esquecer o sofrimento, tapar
os buracos pra seguires uma viagem tranquila rumo ao
futuro. Várias vezes voltei no meu tempo, e não passei uma
borracha, mas sim rasguei a folha dessa história sofrida.
Quis passar uma simples borracha, mas notei que foi
burrice um dia ter chegado até o ponto caliente, quando a
entreguei meu coração e ela brincou com ele e ria-se do bobo
que deu de mãos abertas algo precioso.
TRISTEZAS DA VIDA
89
Voltei o histórico das conversas e vi que ela me
achava emocionado, sem noção do que estava fazendo, mas
precipitada como sempre ela não viu o que eu já havia feito
pensando nela.
Por meses, guardanapos de papel, de pano, lenços de
bolso, colchas e toalhas, nada disso suportou as minhas
lágrimas. Chorei a ponto das minhas lágrimas acabarem,
as lágrimas de outros usei, mas também não foram o
suficiente. Me questionei a ponto de não sobrar mais pontos
de interrogação. Nunca havia imaginado que amor de
verdade fosse tão doloroso. Foi uma relação de se torturar.
Mas apesar de tudo, ganhei grandes lições de vida.
Primeiro aprendi que a idade não é requisito para se
ser maduro e tomar decisões positivas e meio acertadas.
Neste mundo existe quem tem idade suficiente e portanto
não é maduro. Basta girares a cabeça e verás pais, mais
velhos que deveriam dar lições aos jovens, mas são esses
mesmos que tu dizes: “Mais velhos sem juízo”.
E segundo, mais uma vez aprendi a nunca nos
deixar levar pela emoção porque podemos cair na decepção,
ou magoar a pessoa amada que temos no coração. Antes de
tomares uma decisão esboce-a no papel e só depois então
parta para acção.
TRISTEZAS DA VIDA
90
Nunca ame quem não canta a mesma canção.
Nunca caia naquela de que um dia ele(a) irá mudar. Há
coisas na vida que não se muda.
A parte emocional é a parte mais afectada pelas
tristezas, pois esta não apaga nem cura tão facilmente. As
cinco histórias contadas ficaram marcadas para sempre no
coração do Patrício. Portanto faça todos esforços para não
carimbares o teu lado emocional com TRISTEZAS DA
VIDA.
TRISTEZAS DA VIDA
91
TRISTEZAS DA VIDA
92
TRISTEZAS DA VIDA
93
O salo hoje foi difícil, puxas, esse chefe não larga o
meu pé, pensa que eu sozinho irei melhorar essa empresa
que também já está a ir mesmo a falência. Deixa arrumar
as coisas e ir… o que mais quero é estar na minha cama
relaxado, se der a ouvir um bom slow. Hoje foi demais,
nunca senti dores assim, até os ouvidos doem por ouvir
tantos berros daquele maldito… arranja confusão na
empresa, quando lhe ralham também quer vir aqui gritar
com os inocentes. Deixa-me mazé ir. Está aonde também a
chave do carro? – Opa, está aqui. É muito nervosismo,
escapei lhe entrar com um soco.
… [chegando a casa] …
[eu] … Meu mais que tudo, boa noite.
[Minha esposa] … Oi.
TRISTEZAS DA VIDA
94
Cumprimento estranho, epá talvez não está nos seus
dias. Deixa trocar-me e tomar um bom banho. Ao subir as
escadas vejo algumas sujidades arrepiantes, entro para o
meu ou nosso quarto uma bagunça total. Roupa suja em
cima da cama, um cesto no canto do quarto cheio de roupa
suja a séculos, molhada e a cheirar mofo. Cheiro estranho
que esse quarto tem, mas que cheiro é esse que até já está a
me causar gripe? Começo a procurar a causa do cheiro, o
balde está a cheirar mofo, mas esse é diferente. Chulé
também não é. Procuro bem, olho por baixo da cama e o que
encontro… os copos de iogurtes da miúda à cassula,
empurrados em baixo da cama. Cuecas e pensos usados …
ai, ai, isso é muita porcaria. Nem um porco aceitaria dormir
aqui, pois isso passa dos seus limites de porquice. Já não
aguento mais, hoje vou esfregar tudo isso na cara dessa
mulher.
Mas ó Bela, você anda a fazer o quê afinal de contas
aqui em casa? Vê a escada e olha para a sujeira, vai ao
nosso quarto e olha para as porcarias que você empurra por
baixo da cama. Nem roupa de casa em condições eu tenho,
nada está engomado, e o que você pensa estar limpo está
sujo. Você é mulher de quê afinal?
TRISTEZAS DA VIDA
95
[ela] … Porquê que não vens ajudar, sabes o que é cuidar de
uma casa? Trabalho, faculdade, crianças você e ainda a
casa. Tens noção do quanto eu faço aqui?
Tenho sim, nem preciso demorar a responder, basta olhar
para tudo aqui em casa e ver que não és uma mulher. Olha
para a nossa filha. Roupas compradas no Belas e outras
lojas de renome, mas quem lhe olha pensa que fomos pedir
emprestado no arreió arreió esses trapos que ela tem vestido.
Um gajo aguenta patrão, se esforça para colocar comida na
mesa, e cadê a comida? Panelas vazias, cozinha suja, casa
a cheirar mal. Chega estou cansado, ou você começa a ser
mulher ou ficamos por aqui. Nem para controlar o que a
empregada faz você é mulher?
[ela] … Cala a boca Patrício. Até parece que também és
homem o suficiente. Minhas amigas estão a receber
grandes carros dos maridos, telefones do último grito,
casarões, não é isso aqui… essa barraca que nem foi você
me deu. Trabalhas tanto e nem um starlet você consegue
comprar. Nossa casa até agora não consegues comprar,
temos que estar a depender de parentes, não tens vergonha?
TRISTEZAS DA VIDA
96
Então elas estão a te fazer a cabeça. Então é isso… mas elas
têm feito qualquer coisa para merece-los, e você o que faz?
Calma não se esforça que eu respondo por ti – NADA. Não
sei aonde estava com a cabeça quando fui casar contigo.
Tantos conselhos e eu nada. Tiveste sorte por me obrigarem,
porque se não dissessem nada, nem com a gravidez eu
casava. Ai se eu tivesse ouvido a minha mãe, ela sempre me
dizia que mulher que te visita ao meio dia é preguiçosa, não
faz nada em casa.
[ela]… me arrependo do dia em que casei contigo. Me
arrependo do dia em que parei os meus estudos porque me
engravidei de ti. Me arrependo de ter desistido do Banco
para poder cuidar das crianças. Eu era uma criança a
tentar experimentar as coisas de adultos. Não és o único
cansado dessa situação. Eu estou mais cansada do que tu.
És um homem parado Patrício, nunca resolves nada aqui
em casa, para tudo tenho que chamar sempre alguém, se é
para substituir lâmpada, consertar interruptor, daqui a
pouco chamo também um aí para me consertar. Vens do
serviço mas és daqueles homens que nunca traz nada, nem
mesmo um saco vazio você traz. Não te lembras dos nossos
filhos. Nunca te importas, não queres saber o que lhes
aconteceu durante o dia. És um mulherengo a vista, me
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Tristezas da vida: quando o amor não é correspondido

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  • 2. TRISTEZAS DA VIDA 2 Tristezas da Vida Edimauro Costa
  • 3. TRISTEZAS DA VIDA 3 DEDICATÓRIA Esta minha primeira obra literária dedico aos meus queridos pais, o cota Guilherme e a sua esposa Dona Antónia, ou como são conhecidos – ao casal Costa. Dedico aos meus irmãos Dickerson Costa, Guilherme Costa o Júnior da família, as minhas irmãs Quetura, Epifania e Conceição. Enfim dedico a todos elementos que constituem a minha grande e linda família. AGRADECIMENTOS Com o coração transbordando dos mais puros sentimentos de gratidão, agradeço a todos que me apoiaram na criação desta obra literária, como os meus achegados amigos, a equipe do facebook, que apesar de lerem pequenos trechos, me davam forças para continuar. Agradeço também aos críticos por suas críticas, pois estas me fizeram ganhar poderes para vos mostrar que consigo escrever. Agradecer também as mulheres que usaram meu ombro para desabafar e por terem permitido transcrever a vossa história. A todos, muito obrigado…
  • 4. TRISTEZAS DA VIDA 4 Índice 1. Você não acreditou …………. 8 2. O medo ………………………… 19 3. Quase perfeita ……………….. 27 4. No desespero ………………….. 55 5. Burro fui eu …………………... 63 6. A má escolha …………………. 92
  • 5. TRISTEZAS DA VIDA 5 Prelúdio Há quem diga que viver é bom, mas haverá sempre alguém a dizer que a “vida é injusta”, e tenho que concordar com isso. Há muito ouvimos que a felicidade não vem do que possuímos materialmente, por isso é que a “tristeza da vida” não escolhe classe social; pobre, rico ou kunanga, todos sofrem as malambas da vida. O “mundo é redondo”, o que hoje possuis amanhã serão meras recordações, e o que não possuías serão nada mais do que um plano concretizado, com um pouco de esforço aplicado, e garantido. O imprevisto a todos sobrevém, não há quem dele possa fugir ou escapar. A vida torna-se triste quando surgem as várias makas inesperadas da vida, nas diversas facetas do quotidiano do homem e em vertentes da vida bem diferentes um do outro. Uma primeira vertente em que a vida torna-se triste é quando passas a dar “escosta” ao que possuis, ou seja quando vês a tua vida dar meia volta inesperadamente,
  • 6. TRISTEZAS DA VIDA 6 deixando para trás tudo que encontraste ou que conseguiste com sacrifícios enormes e longos anos de suor. A segunda vertente em que a vida torna-se lastimável, é quando vão surgindo os imprevistos nos momentos em que pensavas que fossem de enorme alegria, na perda da pessoa amada (seja ela por meio de uma morte, ou quando há um rompimento em um namoro ou casamento), quando olhas para frente e vês um triste futuro antecipado (ou seja quando dás conta de que a tua vida já está sendo escrita: “Pobreza e tristeza eterna”). Nossa história desenrolar-se-á em algumas facetas e vertentes da vida do homem em que existe a presença de tristezas no rosto de quem por elas passa. Algumas delas são presenciadas na perda das pessoas em quem foi-se demonstrando amor, carinho e afecto, mas que nem sequer foi levado em conta (namoro). Outras são presenciadas no rosto da mulher que depois do casamento sente que fez mal escolha, da jovem que estragou sua vida por se engravidar cedo e escolher o homem que não soube lhe dar o devido valor, respeito, amor e interesse genuíno; por isso, essa é a história…
  • 9. TRISTEZAS DA VIDA 9 Com um bom papo, conquistas a miúda mais cobiçada, mais olhada, mais invejada... Mais todos “da”, mas é a que o coração disse: “Essa é a desejada”. A princípio tudo parece decorrer as mil maravilhas, ela é a miúda que mexeu com o seu coração, aquela que por nada na vida te faz faltar à escola, só para a poderes ver, abraçar, beijar, sentir o seu cheiro gostoso, o perfume delicioso. Ela é a mulher que sentiste ser entrega de Deus, ser a costela que Deus te retirou para a poder formar, é a que todos os brother’s da escola causavam acidentes apenas com o seu passar, é a que a princípio achavas ser de qualidades incomparáveis, incontestáveis, mesmo repetidas vezes falarem o contrário dela.
  • 10. TRISTEZAS DA VIDA 10 Ela era a mulher que te fazia ser o mais truta da sala, para a fazeres ver o que realmente és, era a mulher que depositavas uma fé indiscutível, mesmo com alguém que viesse te dar um valor incomparável. Era a mulher que o salário mensal de dez horas de trabalho consecutivas o entregavas de mão aberta, porque só a sua presença te deixava de boca aberta. No ínterim Ela é a mulher que tocou e fez dançar meu esqueleto, com a menor das vontades. Tudo bonito que nem paraíso, mas o que se passou? Bem vou brincar um pouco a Deus e recuar o tempo para poderem entender o que aconteceu...
  • 11. TRISTEZAS DA VIDA 11 Numa linda escola, numa sala recheada com as mais belas “Gatas”, lá estava eu, sentado bem à frente de quem nunca imaginara um dia vir a conhecer, embora o coração já tivesse saltado do lugar só com o primeiro olhar. Passei grande tempo olhando de boca mais que aberta para aquela beleza, porque aquilo já era uma realeza. Até que, ela dirigiu-se a minha pessoa, digo-vos este foi o mais belo dia, pois do nada ela simplesmente deseja – me conhecer e ser minha “colega – amiga”. Sem um único pensamento, sem o comando de meu coração minha mente e meu esqueleto, meus lábios de modo inesperado abriram-se e aceitaram o emocionante convite que foi entendido pelo coração como importante. À partir daquele momento, a escola tornou-se valiosa, gostosa de se contemplar por causa do grande museu que eu tinha que visualizar e ao mesmo tempo meditar. Fomos cultivando uma grande amizade inicialmente de irmãos, mas que parecia querer ter outra inclinação. Cultivamos uma relação tão funda, que já estávamos a ser confundidos como casal de namorado, apesar de inúmeras vezes ter desmentido. Tornamo-nos companhia um do outro auxiliando-nos em tudo que fosse necessário. É aí que surge o início de nossa história...
  • 12. TRISTEZAS DA VIDA 12 A princípio tudo parecia lindo, com abraços beijos e até sendo mimado, acariciado. A vida era um mar de rosas, a miúda que era achada por todos tão bela, agora era a minha Cinderela. Causei inveja a muitos, porque eu era o único que comia dos seus belos frutos. Apesar de não ser tãooooo linda ou atraente fisicamente [com um lindo Q.O (“modo de chamar o rabiosque”)] ela era um espanto no seu interior, tinha das mais lindas qualidades que todo homem gosta de contemplar acompanhado com grande sentido de humor. Por causa dela o mais “truta” tornei-me, porque para aproximar-me cada vez mais dela essa era a única maneira, ser “truta” afim de a poder explicar para ao lado dela conseguir estar e acariciar. Por causa dela tornei-me o melhor trabalhador do mundo, por ser o único disposto a dar de tudo, trabalhava vinte horas por dia, só para a poder conceder alegria. Esfolava-me a arranjar dinheiro (“ da melhor forma”) quando a mesada do papai já tivesse terminado para poder concretizar todos desejos por ela sonhado. Sofri zombaria, incontáveis são o número de vezes que quase fui espancado, pois sentiam raiva de mim por não conseguir negar nenhum pedido por ela solicitado.
  • 13. TRISTEZAS DA VIDA 13 Tantas vezes já ouvi que o amor é cego, mas meu amor não era deficiente porque todos os órgãos do meu corpo estavam dispostos a dar cem por cento de sua perfeição. Tudo parecia paraíso, grandes cambas, casal de namorados invejados por muitos, felicidade incomparável, só faltava era mesmo andar vestido de folhas como “Adão e Eva”; enfim tudo perfeito. Mas essa mulher mudou... Senti minha vida girar em torno da música do Matias Damásio “Você não acreditou”... No princípio era tão bom…, tanto esforço para no fim ter uma grande decepção. Infelizmente chega o último ano, o último mês de nosso curso, mês em que tudo de mal passa a acontecer. Numa manhã tão linda ela chega a escola e naquela conversa entre namorados ela simplesmente diz que iria colocar pircins e mais brincos na orelha, porque estava a ser confundida como “ovelha” [“A ovelha é um animal manso, meigo, por isso muitas vezes é confundido como animal burro”]. Convenço-lhe a não fazer isso, mas no dia seguinte vejo-lhe com muitos furos na orelha, penteado extravagante e roupa muito curta ou seja imoderada o que eu nunca pensei ter visto em minha namorada. A situação começa a mudar, a menina que outrora era bem falada por todos, passou a ser motivo de “fofoca”, as qualidades lindas, belas, maravilhosas que ela possuía foram substituídas por
  • 14. TRISTEZAS DA VIDA 14 qualidades indesejáveis, aquelas que todo pessoal considera como imprestáveis. Baladeira ela se tornou, fama de ter outros “damos” passei a ouvir, não imaginam como passei a me sentir e como o coração derretido ficou. Na minha vida ela causou tantos danos, quando me usou como elo para concretização de seus planos. Fiquei sabendo que fui comprado, todos mimos, carinhos que fui recebendo ao longo do tempo outrora convivido, foi apenas para me iludir, mentir, para ver se eu me tornasse um auxílio fortificante na realização de seus planos, já que eu era um bom aliado. Desculpas esfarrapadas foram sendo dadas, travagens no namoro foram sendo aplicadas, sem eu saber ao certo a razão, eu estava apanhando cotoveladas. Discussões deliberadas foram surgindo, para ver se eu passasse a olha-la de outra forma e para ver se do nosso namoro eu fosse fugindo. Traições ao vivo fui presenciando, fui tratado como corno reconhecido; o costume de me mimar e acariciar foi-se perdendo. De namorado, de um verdadeiro amigo, passei a ser considerado o seu pior inimigo. Triste vida, tanto esforço, porém não visto e muito menos levado em conta, mesmo presenciando a angústia, ela sequer se importa. Passei a ser considerado maluco, porque a forma de reagir era de louco. Apliquei um ditado
  • 15. TRISTEZAS DA VIDA 15 na minha vida de tanto desespero que eu me encontrava: “Onde tiver uma igreja, a casa que estiver a frente da mesma, eu devo conhecer uma mulher.” Fazia um grande esforço de conhecer uma mulher que vivesse frente a uma igreja, para ver se o relacionamento fosse abençoado por Deus, para que não voltasse a acontecer o mesmo que no primeiro relacionamento. Cicatrizes no meu coração foram deixadas, de tanta tristeza não conseguia arranjar um novo amor pois tinha medo de passar novamente por uma semelhante dor, iguais às anteriormente passadas. Infelizmente o que era considerado um paraíso – acabou. Rompemos na sua totalidade o namoro, ficamos sem dirigir a palavra um para o outro durante anos, frustrando com todos os nossos ex – planos. Mas como bom rapaz, tentei reconquistar-lhe. Desculpas e mais desculpas, mesmo sem ser o culpado, chachos e papos, a miúda voltou a aceitar-me. Alegria, pulei de tanta emoção pois já não aguentava guardar a felicidade que sentia o coração. A minha primeira-dama, minha conquista, meu troféu voltou a ser minha, e ocupou novamente o seu lugar no meu coração – minha princesinha. Novamente batalhei, como não há benefícios sem sacrifícios, dei no duro, até na escola de condução entrei
  • 16. TRISTEZAS DA VIDA 16 para aprender a conduzir e com o carro do papoite levá-la a passear. Entrei em acordo com a Unitel, para ver se tivéssemos saldo vitalício, redobrei todos esforços outrora feitos, para ver se sobre o coração dela eu tivesse amplos efeitos, mas ela nem sequer estava aí. O comportamento estava pior que anteriormente... Dessa vez nem mimo e carinho houve, fui tratado que nem uma velha couve. De corno passei a ser considerado “chifrudo ao quadrado”, constantemente era insultado. A nossa relação deixou de haver respeito e confiança, pois a minha frente ela deixava ser paquerada, beijada e muitas vezes abraçada por outros, mesmo sabendo que tal comportamento poderia estar me magoando. Já não me despedia, nem sequer levava em conta minhas opiniões sobre sair com outros damos. Mas o que mais me doeu foi ver-lhe aos beijos e abraços, aos puros encostos e apalpares do corpo com um seu ex de adolescência. Da pior das formas, entendi o recado que ela quisera transmitir-me com essa sua forma rude e cruel de tratar- me. Dessa vez, caí em mim e desisti. Confesso que durante anos sofri, porque do meu coração ela não saia facilmente, mas com esforço e força de vontade expulsava-lhe paulatinamente, e assim consegui. Infelizmente a linda, bela relação inicial, teve um triste final. Apesar de tanto sofrer, triste ficar, considerar
  • 17. TRISTEZAS DA VIDA 17 este momento como o mais triste da minha vida, o mais desgostoso, ainda assim o considero como vantajoso, pois aprendi uma importante lição: “Nunca dê cem por cento do seu amor ao seu primeiro amor. Não batalhe, não dê tanto no duro sem conhecer perfeitamente seu companheiro(a). Não faça coisas impossíveis para quem não sabes se serão visíveis. Quanto mais alto subires [sem cordas de segurança], maior será a queda. Nunca faças as coisas por emoção, para não teres uma grande decepção”. Todas as noites a minha cama se molhava de lágrimas, e o meu choro encharcava o travesseiro. Mas como todos sabemos, por mais agravante que seja, não existe ferida que não se sare. Não há antídoto melhor que o tempo – o tempo cura todas feridas. Apesar de sofrer, cicatrizes em meu coração ainda possuir, lutei para arranjar um novo amor. Procurei encontrar alguém melhor, fantástica, alguém que valorizasse o que eu faria por ela, alguém que me aceitasse tal como sou, que fosse na realidade uma Cinderela, que merecesse que a colocassem um lindo sapato de cristal. Felizmente consegui encontrar tal pessoa, muito melhor interior e exteriormente, mas também não foi uma relação bonita que tivemos, mas só que desta vez o erro foi meu. Vou explicar-vos o que sucedeu...
  • 20. TRISTEZAS DA VIDA 20 Para essa nova relação entrei com o coração quebrado, partido, cicatrizado com as mágoas mais dolorosas e pegajosas da primeira relação. Apesar de abraçar com imenso carinho essa nova relação, no meu interior na parte mais restrita do meu coração ainda reinava um enorme medo de passar pelas situações outrora passadas. Tive medo de voltar a entregar-me de corpo e alma, dar ao máximo de minha atenção e carinho, para não voltar a abrir as feridas que já estavam semifechadas. Confesso que se não tivesse esse intenso medo, poderia estar vos escrevendo um livro de “Alegrias da vida” e não “Tristezas da vida” porque a esta hora estaria com um enorme sorriso até a orelha, e desfrutando de tudo que estariam me concedendo, pois tudo era uma maravilha.
  • 21. TRISTEZAS DA VIDA 21 Mulher esplêndida, esbelta criação de Deus que levou sete dias, e que quando foi entregue a sua família trouxe enormes alegrias. Mulher com qualidades excelentes desde a sua concepção e que foi aplicando, demonstrando-as no decorrer de sua evolução. Mulher de dotes, boa de cozinha, perfeita dona de casa, verdadeira ajudante e acima de tudo muito inteligente. Mulher linda que quebrava com todos os sistemas de segurança só com o seu passar – Se passasse próximo a uma agência móvel, o sistema caia, porque só o seu passar tirava a atenção dos funcionários – que ficavam perplexos com a tamanha beleza, com o monumento histórico que contemplavam com alegria. Se passasse próximo a um banco, o pior gatuno, o mais inexperiente, do dia para noite ficava o homem mais rico do mundo, porque ela quebrava na sua totalidade a atenção e concentração dos funcionários e seguranças. Mas não era apenas sua beleza exterior que me encantou, mas também sua beleza interior. Mulher com qualidades excelentes, apreciadas por todos a sua volta. Ao contrário da mulher da primeira relação, ela era por todos bem falada, tinha uma excelente bibliografia. Era amigável, verdadeira companheira daquela que primeiro zela pelo bem-estar do seu próximo e
  • 22. TRISTEZAS DA VIDA 22 só depois olha para o seu, aquela que tenta ler sempre seu rosto para visualizar o seu estado humorístico, conselheira fiel, verdadeira costela tirada do homem. Muitas vezes deitado em minha cama, fico imaginando como seria a minha vida se tivesse abraçado com as duas mãos essa relação e como estaria a minha paz interior e o meu coração. Tentei lutar contra o tempo para voltar a viver os poucos momentos alegres que tive na vida, a atenção, carinho e mimos que desfrutei quando ao lado dela eu me encontrava. Se o futuro fosse previsível para seres humanos, previa-o e me protegeria das actuais decepções, de não a ter aceitado por causa do enorme medo, e de não a ter concedido a felicidade merecida no grau superlativo. Digo-vos que sofri muito quando fiquei sabendo que por causa do meu medo, do longo tempo de resposta, ela trocou-me, e lá se foi. Minhas poucas esperanças de voltar a conquistar-lhe perderam-se, pois ela encontrou alguém que a valorizasse. Mas fiquei feliz por a ver feliz. Essa mulher não merecia ser praguejada, porque diferente de muitas, ela tinha qualidades por todos desejados. Mas num inesperado dia, nossas vidas voltam a cruzar-se, e sinto meu coração como um carro sem “rolantim”, aos tremeliques. Nos dois beijos sagrados, no
  • 23. TRISTEZAS DA VIDA 23 quente abraço que houve, senti seu coração borbulhar, como água fervendo a cem porcento, e lá enxerguei o quanto ela de mim ainda gostava. Suas palavras mostraram que ela estava disposta a tudo, só para me ver girar a volta de seu mundo. Foi capaz de dizer que abandonaria o seu actual namorado ainda naquele momento, que trocaria de faculdade batendo com todos os testes rijos que encontrasse, só para ao meu lado poder estar. A primeira vista, para alguém que só quer engatar, e não pensa nos pró da vida, essa sem dúvida seria uma ótima oportunidade, nem sequer pensaria “zero” vezes, e já lá estaria. Mas para alguém sensato, que zela pelos sentimentos dos outros, decidi rejeitar apesar de o coração guerrear com a minha mente, mas não dava, pois não me sentia preparado, não seria aquele companheiro capaz de oferecer um bom presente quando fosse necessário, se conseguisse leva-la a um Belas shopping dia seguinte estaria na maior aflição chorando em tudo quanto é canto, e com grandes bolhas na planta do pé de tanto andar a pé, por não ter grana para apanhar táxi. Eu era um desgraçado comparando com o actual dela. Eu raramente andava de táxi, o meu transporte indispensável, infalível e constantemente usado eram os meus pés, enquanto o actual dela tinha uma máquina movível de cinco rodas, nem sei bem se posso chamar de carro. Ele
  • 24. TRISTEZAS DA VIDA 24 tinha um pocket pc (“telefone – computador de bolso”), que fazia chamadas de vídeo, enquanto eu tinha um aparelho que nem sequer estava na categoria de telefones, o qual tinha apenas dois objectivos – chamar quando possível e receber chamadas. Ele tinha dólares no bolso, pagava hambúrguer a ela e suas colegas, enquanto eu só conseguia pagar rebuçados de cinquenta kwanzas e só para ela. Apesar de verdadeiro amor não se medir pelo bolso, o amor que eu tinha também não lhe concederia felicidade duradoura, há que haver sempre um equilíbrio. Por isso não me armei em herói, preferi não estragar o que ela já tinha conquistado, o que lhe fazia feliz até aquele momento sendo superficial ou não, porque mulher ferida e arrependida é pior que feiticeiro. Mas, apesar das duas histórias terem um triste final, delas consegui tirar uma valiosa lição: Para assumir grandes responsabilidades há que se estar bem preparado. Namoro sem sérios objectivos, nunca leva ao estado da alegria, mas na decepção, no desapontamento, arrependimento de teres dado o que não deverias ter dado. Namoro só de brincadeira ou namoro técnico, tal como beijo técnico conforme dito pelos atores não existe. A medida que forem namorando um dos cônjuges vai aprofundar os seus sentimentos pelo outro e esquecerá que se encontra na
  • 25. TRISTEZAS DA VIDA 25 brincadeira, e quando dar-se conta já se encontra na decepção, reclamando da vida, no porquê que deu, que fez aquilo. Por isso a moral das duas histórias na qual passei foi: “Preparação acima de tudo, para assumir grandes e pesadas responsabilidades”. Desta feita preparei – me o suficiente para assumir um terceiro compromisso, mas só que surgiu novamente dificuldades. Parece que também quando nos sentimos preparados, este ainda não é o momento. Nessa terceira história foi isso que sucedeu. Senti-me o suficientemente preparado, me jogando para esta nova relação sem hesitação, mas só que no terreno as coisas foram diferentes…
  • 28. TRISTEZAS DA VIDA 28 Bela rapariga, mulher de corpo extraordinário, com qualidades que a primeira vista são atraentes, mulher com um óptimo registo por parte dos mais velhos que ao seu redor, ficavam a lhe visualizar. Mas apesar de tantos olhares, tantos galanteios e assobios, tal mulher decidiu ficar sob minha tutela. Num lindo levantar do sol, numa hora tranquila, lá eu estava ajudando minha mãe a lavar a louça. Tão distraído e bem despreparado, ouço o bater da porta seguido de uma sequência de toques da campainha. Apressadamente vou a porta, na perspectiva de surrar o miúdo que tinha o hábito de incomodar as pessoas logo de manhã com toques deliberados na campainha dos outros. Choque ao abrir a porta. Era ela a mulher de olhar sereno, de qualidades incomparáveis. Senti-me como se estivesse falando com uma celebridade como por exemplo a Beyoncé,
  • 29. TRISTEZAS DA VIDA 29 pois eu nunca outrora havia com ela conversado, apesar de vários relatos sobre ela já ter ouvido. Permiti que ela entrasse, concedi-lhe a melhor cadeira de meu quintal, e preparei-lhe um copo bem fresco com o melhor sumo da compal. Ela recusou o sumo e disse que preferia uma coca – cola. Fui até ao meu quarto a correr e tirei o único tustão que se encontrava na minha pasta de bolso sem hesitar. Mandei comprar uma coca – cola pois meu desejo era parecer ser um bom anfitrião, sem sequer me importar se naquele dia iria a pé para a escola. Na conversa que íamos tendo, assustei – me vendo o quanto ela também já sabia a meu respeito. Tudo até filiação, bem como data de nascimento a rapariga já sabia. Logo deduzi que aquela desculpa esfarrapada que ela dera inicialmente ao lhe abrir a porta era uma grande mentira. Sua intenção não foi ver a minha família, mas sim a minha pessoa. A partir daquele momento nos tornamos grandes cambas [amigos]. Ajudamo-nos em todos os assuntos que fossem melhor dois do que um. E como todo bom rapaz, fiquei logo com o seu número de telefone. Quando ela saiu de minha casa, fiquei sem palavras, tão perplexo, pois não aguentava acreditar no que havia acontecido.
  • 30. TRISTEZAS DA VIDA 30 Passamos a nos comunicar frequentemente via telefone, perguntando o estado um do outro e muitas vezes falando de assuntos banais, só para não deixar de ouvir a sua voz. Fomos capazes de gastar mais de dez cartões de saldo por semana. Fomos considerados os piores gatunos [no bom sentido], porque quando nosso saldo terminava, quem sofria eram os da casa que tivessem saldo. Todas as noites lembro-me bem que recebia muitas vezes chamadas telefónicas de números diferentes. Por causa disso surgiu um dia que hoje marco como um dos dias alegres que já tive na minha pouca existência: Numa noite relaxada, ouço meu telefone tocar e apressadamente vou a chamada verificar. Pela hora, nervoso eu atendo, por ver que tal número não se encontrava no telefone – agendado. Mas não demorou que logo após ouvir a voz do outro lado o nervosismo passou; era ela, mulher que me fazia mudar de clima num piscar de olho, que me fazia sonhar estar deitado nas nuvens e que me fazia esquecer todos os malembes da vida. Apesar de ter reconhecido sua voz, brinquei perguntando quem era, e ela simplesmente respondeu – o teu sol, teu coração a tua namorada; confirmando tudo que eu vinha a desconfiar – ela já estava a me pesquisar, por isso é que tinha um lote de informação pessoal a meu respeito. Mas deixei para lá e continuamos a
  • 31. TRISTEZAS DA VIDA 31 conversar, rindo imenso de algumas piadas que até me fizeram lagrimar. No dia seguinte ela passou pela minha casa só para me olhar e conversar, porque já não aguentava só pelo telefone falar. E assim foi sendo a nossa rotina, intercalando as nossas visitas, um dia ela em minha casa, e outro eu em sua casa, só para não deixarmos de nos ver. A coisa começou a ficar ainda mais grave. De grandes amigos, admitimos que já estávamos namorando, porque a nossa reacção indicava isso. Confesso que não dei conta quando caí no seu jogo, mas também com aquela beleza, quem não aceitaria entrar para aquela realeza? Se caí, também foi porque meu coração assim desejou. Nosso modo de agir indicava que já éramos namorados. Por exemplo, ela constantemente perguntava que penteado gostaria de ver nela e que roupa gostaria de ver sobre o seu corpo. Todas as decisões que ela desejava tomar, não as tomava sem antes saber o que eu achava do que ela pretendia realizar. Quanto a mim, já não conseguia ficar um dia inteiro, sem a sua bela voz ouvir, sem poder me encontrar com ela para a poder abraçar e conversar. Virei o maior arquitecto do mundo, porque para me encontrar com ela todas as linhas tinham que ser bem traçadas.
  • 32. TRISTEZAS DA VIDA 32 Tivemos vários encontros e saídas agradáveis. Até que tudo estava sendo esplêndido, lógico antes de surgirem as dificuldades ou seja os malembes da vida, porque apesar de me sentir hyper, mega, tetra preparado para essa relação, parece que esse não era o momento certo. Vou dizer-vos o porquê... A tanto ouvimos, que mulher bonita é que nem carro velho; e vou concordar com isso. Um carro velho apresenta vários problemas, dá dor de cabeça e muitas frustrações na vida. Uma mulher bonita de igual modo só concede problemas, não que ela directamente te concederá problemas, mas os problemas virão ao teu encontro por causa dela. Do nada na nossa relação surgiram invejosos, com boatos provocantes. Histórias inventadas ou seja imaginárias daquelas que deixam de rastos, sobre ela foi se ouvindo em tudo quanto era canto. Os vizinhos começaram a ficar com raiva, seu comportamento muitas vezes foi muito pior do que cães raivosos, não conseguiam acreditar como um magricela, desgraçado que inicialmente não tinha nem sequer um popó, conseguiu conquistar uma das miúdas mais belas e mais bem comportadas do bairro. Passaram a me tratar com desdenho, quando me vissem me davam olhada, não respondiam aos meus respeitosos
  • 33. TRISTEZAS DA VIDA 33 cumprimentos, e muitas vezes dava a entender que se algum dia tivessem oportunidade me agarrariam e me concederiam uma boa porrada. Seus colegas de escola também foram uma ameaça. Era hábito atender as chamadas de números que na agenda telefónica não se encontravam guardados, porque quando o saldo dela terminava, ela ligava de outros números desconhecidos, mas nesse dia quem ligou não foi ela. Não sei como conseguiram o meu número telefónico, mas só sei que naquele dia meus joelhos beijavam-se em fracções de segundo, por causa das ameaças assustadoras que seus colegas de escola me haviam feito. Perplexos não acreditavam como aquele troféu, foi estar na posse de uma equipa despreparada e que nunca conquistou nenhum título. Mas apesar das invejas e das ameaças, mantive-me firme, coloquei uma voz de “caenche - gigolô” e espantei a todos eles. A miúda sofria tantos apertos contra a parede por parte de todos, mas mesmo assim ela continuava comigo. Minha alegria aumentou e senti-me firme nessa relação, quando certa tarde ela apareceu em minha casa e me concedeu um presente. Apesar de não ser caro, ser atraente, considerei-lhe como adquirido com todo suor, e mais emocionante é que ela teve de perder horas para o fazer. A
  • 34. TRISTEZAS DA VIDA 34 parte que mais gostei foi o poema por ela escrito, definindo o meu nome completo poeticamente. As lindas palavras que ela usou, a borda a volta da página em forma de coração, o olhar apaixonado e o magnífico sorriso que visualizei em seu rosto quando me entregava o presente, fez-me perceber que pela primeira vez na vida eu tinha alguém que me amava de coração, que me amava pelo que sou, não pelo que tenho. Alegremente recebi o presente e o poema que o acompanhava, espantado li e reli, e meu coração perplexo ficou pois não acreditou que realmente encontrei aquela em quem poderia calçar-lhe os sapatos de cristais – a minha Cinderela. A partir daquele momento em diante, minha vida passou a ter outro sentido. Senti que eu agora tinha alguém que pudesse demonstrar o meu amor, e ter responsabilidades sérias com ela. Ao contrário das duas relações anteriores que tentei ter, dessa vez eu estava bem preparado, tanto financeiramente como emocionalmente. Até já tinha conseguido um popó, que muitas vezes já nos levou a dar um passeio, e um telefone caro até já tinha. Não hesitei, agarrei-a com as duas mãos, abracei esta nova relação com toda a força que podia exercer. Virei o melhor economista e contabilista do mundo, porque a mesada que o papoite concedia era pouca, mas eu
  • 35. TRISTEZAS DA VIDA 35 estudava formas de a fazer parecer ser muita. Por mês pagava-lhe dois cartões de saldo, inventava passeios exuberantes, só para lhe deixar com um lindo sorriso, e fazer-lhe pensar que estivesse namorando com um milionário. Tudo lindo, maravilhoso, até parecia que estávamos no céu. Mas esqueci-me que o Diabo e o imprevisto existem. Depois de tanto tempo de convívio, comecei a conhecer as qualidades negativas que a miúda possuía. Não dei conta no início, mas apercebi-me mais tarde que ela era uma tremenda ciumenta, já não conseguia ficar ao meu lado se não se mantivesse atenta. Ao lado dela passei a me sentir sufocado. Passou a ter a mania de ler minhas mensagens telefónicas, bancou a detective controlando-me com quem estive, estou e estarei, controlava as fragrâncias que eu usava para poder distinguir de outros cheiros, ficava fula se me visse conversando com outras miúdas, pegava o meu telefone e apagava as minhas imagens ao lado de minhas colegas. Namorar com ela passou a ser pior do que estar numa delegacia policial. Éramos um casal que bastante tínhamos para conversar, mas também eu admiraria como não teríamos tanto para conversar com o lote de perguntas que ela me fazia – só que estar com ela virou uma seca. Namorar com
  • 36. TRISTEZAS DA VIDA 36 ela passou a significar responder perguntas. O objectivo principal de namorar passou a ser outro. Ao dirigir-me para sua casa, em vez de ser para a ver, acariciar, beijar-lhe e quem sabe fazer outras coisas mais quentes, eu sabia que encontraria uma cadeira no quintal, na qual eu me sentaria, responderia suas perguntas e ao se aproximar a madrugada eu me levantaria e estaria indo de volta à casa bem triste e arrependido da vida. Não suportando essa situação, falei com a miúda para ver se mudasse sua reacção. A miúda me ouviu e mudou sua forma de reagir, pediu-me desculpas e disse que só estava reagindo daquela forma porque tinha medo de me perder. Percebi-lhe e mostrei-lhe que apesar de ser um “gajo de gajas”, sou um homem de uma só. Daquele dia em diante, ela deixou de ser tãooo ciumenta, me sufocando com suas perguntas. Mas só que piorou em outro aspecto… Não sei se a miúda estava a ouvir muito a música do “Anselmo Ralph – Super-homem”, ou se estava a assistir muitos filmes de super heróis ou lendo livros dos quadradinhos, só sei que ela esperava que eu fosse também um super herói. Quando sentisse dor de cabeça, ou outra dor que lhe incomodasse ao meio da noite, ou mesmo a madrugada, ela me ligava e contava o que estava a se passar com ela.
  • 37. TRISTEZAS DA VIDA 37 Apesar de ser aborrecedor acordarem-te, ainda por cima quando estás a meio de gostosos sonhos e deliciosos “vira – vira”, eu com isso não me incomodava, até fofo achava, pois dava para sentir a confiança que ela em mim depositava. Mas tornava-se chato quando essa pessoa ficava insistindo que ao meio da noite tinhas que fazer alguma coisa para seu benefício e resolução da dor. Acho que ela confundia namoro com casamento. Para ela é como se estivéssemos casados – eu aí do outro lado da cama. Não quero dizer que não poderia ajudar-lhe, talvez levando-lhe ao hospital ou clínica, mas o que diria a seu pai a meio da noite, ou a madrugada, quando ele aborrecido me viesse abrir o portão por ter lhe acordado? O quê? – Vim pegar a sua filha e leva- la ao hospital, enquanto ela tem um pai que ainda cumpre com suas obrigações? Acho que eu já fazia muito, dava-lhe uma receita médica improvisada e dia seguinte de manhã estava em sua casa lhe visitar. Mas parece que para ela isso era pouco. Ela queria me ver pelo menos tentar – em uma das noites em que ela estivesse se sentido mal, eu deveria me armar em super – herói, e para casa dela ir, mesmo sabendo que talvez levaria uma sova de seus pais. Não atendi esses pedidos mimosos, e por causa disso muitas vezes ela ficou sem falar comigo,
  • 38. TRISTEZAS DA VIDA 38 me atendia nervosa e constantemente era despachado. Não suportei a situação e voltei a falar com ela. A garota mudou seu comportamento, deixando para atrás esses mimos sem nexo, e tudo voltou ao normal. Mas esses eram apenas pormenores pequenos, que com uma boa conversa resolvia-se. Mas com o tempo começaram a surgir makas que deixavam-nos tristes e sem vontade de prosseguir avante a relação – “a incompatibilidade e opiniões familiares”. Depois de um longo tempo de namoro, para além dos raivosos vizinhos e colegas dela ficarem a saber, chegou a hora dos familiares e parentes ficarem a saber. Depois de ter aguentado os raivosos e invejosos vizinhos e colegas, pensei que não fosse haver barulho maior que estes para aguentar, mas acho que estava enganado, aguentar os nossos familiares foi uma dor de cabeça. Primeiro surgiu aquele problema que desde a década do avô do avô do meu tetravô vem se disputando, e acho que ele também teve de passar por ela para poder ter quem ele teve em seus braços – As diferenças culturais de cada família. Desde que nasci ouvi aquele ditado que entre certas culturas não há união do tipo Malange e Catete, Luanda e Uíge e muitas outras.
  • 39. TRISTEZAS DA VIDA 39 Quando o assunto chegou aos ouvidos dos maiorais, foi uma maka grande. Pesquisas começaram a ser feitas por parte de todos, para poder saber de que culturas descendiam seus familiares. Em qualquer familiar que fosse, os conselhos que estavam guardados no baú a anos, eram removidos. Já não conseguia conviver com tantos conselhos a minha volta, estava sufocado com tantos porquê – “Porquê escolheste essa cultura? Vais dar-se mal, essa gente é rabugenta, mal-educada, vais te arrepender com essa miúda, porque deve ter herdado os hábitos de seus familiares”, - mas o que eles não entendiam é que cultura não deveria constituir uma barreira a um desejo limpo do coração. Também não entendiam que cada pessoa constitui a sua própria qualidade, o que muitas das vezes pode ser impossível determinada pessoa ser como seus familiares, senão concluiríamos que todo gatuno teve antecedentes gatunos, o que muitas das vezes não é o certo. A miúda estaria aprovada por todos, se não fosse esse problema de cultura. Ela era linda, exuberante, bom corpo, trabalhadora – que zela por um lar limpo e ordenado, modesta, simples no que refere aos desejos da carne, por fim ela era cem porcento adequada se não fosse esse problema. Mesmo assim tentei quebrar essa barreira, e por mais que tentasse eu nela caia. Fiz de tudo, só que por mais que dela eu me
  • 40. TRISTEZAS DA VIDA 40 aproximasse, automaticamente me afastava dos familiares. Zangavam-se a cada instante que eu insistisse sair com ela, e não davam-se conta que o meu coração estavam machucando. Resolvemos então passar a sair sem eles se aperceberem, mas mesmo assim chegamos a um ponto crítico. Quando deram conta que estava saindo sempre com a mesma pessoa (apesar de não sair ou passear muito), desconfiaram que estava rolando alguma coisa, e lá começou a entrar as opiniões familiares com respeito a fisionomia e muitos outros aspectos de pouca importância. Quando chegasse uma tia em casa, a mamoite lá do fundo só gritava – “esse então anda a sair com a filha da família da Chica, aqueles do(a) – e lá ela citava a cultura ou província a qual eles pertenciam”. A tia só exclamava – “aquela baixinha, gorda, desfigurada tipo a mãe dela, com a cara tipo está a olhar atrás mas é mesmo a frente?”. Essa mesma dizia a mãe. Porquê meu sobrinho, a família estava bonita até agora, só queres mesmo estragar? Não viste outra? E como conclusão ela dizia: Deixa já esta miúda, faz favor. Confesso-vos que a miúda era linda, maravilhosa, daquelas que você diz: “Certamente Deus sentou e a formou, não era um projecto arquitectónico entregue a alguém para o fazer. Mas muitas vezes, a atitude do passado dos pais tem repercussão sobre os filhos. Só a achavam feia porque os
  • 41. TRISTEZAS DA VIDA 41 pais haviam se comportado de modo feio, e raciocinavam que talvez as atitudes ou qualidades do passado dos pais tivesse efeito sobre os filhos, mas não era isso, pois eu a conhecia perfeitamente e não via nada do que eles diziam sobre ela. A insistência de a deixar foi tanta, que já estava a perder o gosto pela linda relação inicial, e dava conta que a percentagem de afecto estava cada vez mais sendo subtraída por esses problemas, e logo tornava-se pouco demonstrativa. Ela também estava a passar por situações idênticas. Também tinha uma mamoite que aquecia as coisas, de tal forma que quando visse também uma tia, lá estava ela gritando – “Essa então anda a sair com o filho da Mana Joana” – o quê? Aquele feio, baixinho e magricela tipo tem tuberculose? – Porquê minha sobrinha, com tantos caenches que tem aí você foi escolher esse magricela, porquê? Com o tempo nossa relação passou a ficar conturbada com tantos conselhos ou seja opiniões sem sentido, sem nexo, opiniões negativas, daquelas que só derrubam em vez de levantar o astral. Por isso para evitar essas makas de uma relação conturbada, decidimos não mais nos ver, mas passar a namorar simplesmente por telefone, e se nos cruzássemos na rua, uma olhada tipo quem não quer era o suficiente. Mas depois desconfiaram
  • 42. TRISTEZAS DA VIDA 42 que mesmo assim apesar de não nos encontrarmos, continuávamos a namorar por telefone. Aí entraram novamente os maiorais e começam a controlar os toques e as chamadas dos telefones, mesmo este estando no silêncio, eles apercebiam-se. Por isso quando eu ligava a miúda dificilmente me atendia. Já era difícil a ver, ainda ficava semanas sem a sua bela voz ouvir. Quando atendia a conversa era muito rápida, naquele despacho e muitas vezes em códigos, o que tornava ainda mais complicado. Deu para sentir que o afecto amoroso estava desaparecendo, também com o que se deu a seguir, eu já não admiraria! – A mãe da miúda me detestava, por causa dos problemas abordados acima, ela pretendia que a filha fosse tomada por um jovem que ela lhe havia apresentado, filho de uma amiga dela de infância, que ao parecer dela satisfaria mais plenamente a sua filha. Com tantos problemas e rumores, parece que a miúda passou a enveredar pelo lado da mãe. Mesmo que tivesse espaço, ela já não atendia minhas chamadas, fazia isso de pirraça, talvez passasse a me considerar um chato, insuportável, talvez estivesse fazendo comparações entre mim e o preferido da mãe, e ficasse na dúvida. E tudo foi caminhando assim, até que chegamos ao nível mais baixo
  • 43. TRISTEZAS DA VIDA 43 de nossa bela e maravilhosa relação, e se deu da seguinte forma… Havia feito muitas promessas na miúda, e num belo dia comecei a cumprir com todas elas. Faltava uma que ao seu parecer era muito importante, conhecer um lugar esplêndido de muita calma e paz, na qual desde a sua concepção nunca teve a oportunidade de ter ido com seus pais ou amigos. Lembro-me de ter dito a miúda que lhe levaria, e foi isso que fiz. Levei-lhe a este lugar, fiz-lhe rir, ver a vida a cores, deleitar-se de seu sonho concretizado pelas minhas mãos. Mas enquanto ela se ria, eu triste estava, porque dias antes de ter acontecido esse lindo passeio, havíamos brigado e reconciliação ou pedidos de desculpa estava longe de se ocorrer. Ao lhe dar esse passeio, que pela mão de seus pais e amigos, nunca conseguiu ter, pensei que fosse correr aos meus braços e agradecer-me pela concretização de seu sonho, mas não, ela preferiu correr aos braços de um dos meus melhores amigos, tirar foto com ele, rir com ele e simplesmente me trancar a cara. Foi doloroso ver isso. Eu lhe concretizei todos os sonhos e mesmo assim me mandou lixar. Provocou em mim ciúmes, sem se interessar se estes me estavam magoando. Dias e dias se passaram, e lá ela liga pedindo desculpas pelo que havia feito. Desculpei-lhe, mas ela não se
  • 44. TRISTEZAS DA VIDA 44 dava conta que minha confiança estava perdendo. A partir daquele momento não houve mais saída, porque a mamã dela deixou de ser detective e bancou a própria DENIC. Tudo serrado, e ficamos só por telefone. Com tudo isso a ocorrer, conseguimos ver que nossa relação tinha ido pelos ares, até que conseguimos assumir que havíamos chegado ao fim de tudo, embora de modo trágico… No dia mais importante da minha vida, meus amigos, minhas amigas, colegas de séculos, meus familiares me parabenizam por mais um ano de vida, mas a pessoa que eu mais esperava, nem um liga só sequer me envia. Dormi com o telefone ligado, na expectativa de atender a uma chamada matinal, sentir o vibrar do telefone as cinco da manhã, e atende-lo com um grande sorriso por saber que seria a pessoa que o coração tanto desejava ouvir sua linda voz… mas isso não aconteceu. Acordei ainda com o rosto alegre pensando que talvez estivesse compondo um lindo verso, daqueles que ocupam todas as folhas disponibilizadas nos telefones, ou que estivesse a espera do momento oportuno pois o clima em sua casa estava pior do que o inferno… mas dou-me conta que a manhã havia passado e nenhum sinal dela. Começo a mudar de clima – de alegre passo a ficar preocupado – inicio uma sessão de perguntas, pois sem nenhum sinal dela o coração já não
  • 45. TRISTEZAS DA VIDA 45 aguentava. A ansiedade era tanta que mal o telefone tocava já lá eu estava. Eu era mais rápido do que o meu movimento, que se estivesse naquele momento com um espírito alegre era capaz de calcular uma fórmula física para tal. Lembro que naquele dia tantas foram as quedas por causa da pressa, até cheguei de partir os meus óculos, quando numa das quedas os óculos saíram da cara e bateu no chão. Olho para o relógio e vejo o fim da manhã e início da tarde. Até aqui nenhum sinal, e começo já a me preocupar – Será que ela viajou com os pais já que é feriado, e encontra-se num local sem sinal de rede? Enquanto fui debatendo com o meu ego, ouço o bater da porta e vejo um grande amigo. Naquele papo que íamos tendo, de repente ele acaba por chutar que esteve com ela, porque acabara de sair de lá. Ele me confirma que estão todos bem de saúde e que estavam curtindo o feriado. Mais uma vez olho para o relógio e desesperadamente noto que findou a tarde e começa a noite. Bem triste da vida começo a acreditar que fui esquecido, não me deram importância, fui tratado que nem um cão que quando a comida é pouca até os ossos esquecem de o dar. Mas apesar de tudo isso, decidi criar mais um pouco de esperança, e imaginar que talvez ela quisesse ser a última ligação do dia, ser aquela que me contaria uma história e me faria adormecer com um grande
  • 46. TRISTEZAS DA VIDA 46 sorriso estampado no rosto. Mas parece que isso seria impossível… Olho para o céu e vejo o espreguiçar da lua seguido de seu grande bocejo e logo deduzo então que fui mesmo esquecido. Sem saber ao certo como proceder, pego no telefone e decido eu então ligar, e lá vem aquela senhora chata da unitel, que se não fosse programável, juro que a destratava, eu já estava tão chateado e ainda assim vem ela me dizer que o telefone está desligado. Fui esquecido pela pessoa que eu estava a planejar entregar na totalidade meu coração. Dias se passaram e voltei a não ter nenhum sinal dela. Chego a escola e naquele desabafo pergunto aos meus colegas o que fariam caso acontecesse algo idêntico com eles, e num simples tiro eles respondem que não davam uma segunda chance, que é um dia bastante importante para uma namorada esquecer. E caso dessem uma chance a relação passaria a ter falta de confiança. Passariam a ter uma relação doentia, e para que isso não acontecesse preferiam terminar. Aceitei suas opiniões e raciocinei a base delas, mas preferi ouvir ainda o outro lado, embora que com as provas paupáveis isso não seria necessário. Dias e dias foram passando e nenhum sinal até agora, até para lhe ouvir eu é
  • 47. TRISTEZAS DA VIDA 47 que tive de ligar e combinar um local para conversarmos. No dia marcado ela foi-me apanhar imaginem sua desculpa. Não tinha saldo! Quando ouvi-lhe dizer isso fiquei sem força. Lhe perguntei se não sabe o que é telo, e ela me disse que estava sem dinheiro, nem mesmo dez kwanzas. E liga só? Estou fora do prazo. Durante todo o percurso para a casa a miúda foi pedindo desculpas, e para evitar choradeiras eu dei-lhe uma segunda chance, mas ela não se apercebeu que se com aqueles problemas anteriores a percentagem de nossa relação estava diminuindo, com esse a nossa relação estava a um fio bem esticado, que se as asas de uma mosca por lá batessem rompia-se com tanta facilidade. Mas parece que os meus colegas tinham razão, que por mais chances que se desse, aquele já era o início de uma doentia relação, baseada na falta de confiança. E foi isso que se deu! Em todos os momentos alegres da minha vida ela passou a estar ausente, nas datas em que precisava de seu calor, eu ficava gelando. A miúda passou a me atirar todos os seus problemas, ou seja, quando algo na sua vida pessoal desse errado quem pagava era eu. Não sei ao certo mas parece que ela passou a me ver como seu Macom – táxi, mesmo se eu estivesse numa entrevista importante para emprego, ao receber sua chamada eu tinha que ir a correr só
  • 48. TRISTEZAS DA VIDA 48 para lhe atender, senão era mais um dia triste para mim, pois teria de a ver zangada e em vez de minha miúda minha inimiga. Por causa disso, chegamos a um último momento de nossas vidas, um momento trágico, triste e muito dramático. Num belo dia, “digo belo porque o levantar do sol era lindo, céu com nuvens carregadas, mas não contava que aparte disso para mim seria um dia triste, cheio de lágrimas de sangue apesar de já ter imaginado por ter acordado com o pé esquerdo”, ela liga para mim dizendo que ouviu que já havia saído os resultados do teste para admissão a faculdade, e que estava com receio de os ver. Mas como eu naquele dia tinha previsão de lá ir, disse-lhe que os veria sem receio, e que mais tarde lhe daria o resultado, sendo este bom ou mau. Fui até a Faculdade e procurei o seu nome naquelas listas desorganizadas coladas na parede, enfrentei aquela enchente de alunos desesperados, chorando pelo resultado negativo, só para ver seu nome. Procurei não só nas listas referentes ao curso em que ela se matriculou, mas em toda a escola e o seu nome não constava em nenhuma delas. Ligo para ela e lhe informo o que estava a ocorrer, mas ela não acreditou pedindo até que eu checasse mais uma vez em todas as
  • 49. TRISTEZAS DA VIDA 49 listas. Se ao verificar a primeira vez já tive de suportar aquela confusão, e levei mais do que duas horas, imaginem voltar a verificar? – Aceitei só já, como se tem dito – “o amor é burro”, por isso, fazer o quê! Voltei a verificar e dessa vez tive que suportar e até quase dar uma porrada no aluno que quis mostrar que estava desesperado arrancando as listas da parede. Olhei com mais cautela, levando mais tempo para ver se desse uma resposta positiva aí a cinderela. Mas isso seria impossível, seu nome não constava mesmo em nenhuma lista. Olho para cima e vejo uma informação – “Todo aluno que seu nome não consta na lista deve reclamar hoje até as doze horas”. Olho para o relógio e já eram dez horas, por isso ligo para ela para ir o mais rápido possível a fal, e ver se reclamasse. Ela me diz que não podia, porque encontrava-se longe de casa, e talvez não chegaria a tempo. Tentei fazer o máximo para lhe ajudar, mas sem o boletim de confirmação de matrícula não poderia fazer nada. Por isso liguei e disse-lhe para fazer o impossível para aparecer a horas. A miúda não apareceu a horas, encontrou tudo fechado e reclamações encerradas. Não conseguiu entrar para a faculdade e atirou todas as culpas a mim. Quando eu ligava para saber o que havia acontecido, ou qual foi o resultado da reclamação ela não me atendia.
  • 50. TRISTEZAS DA VIDA 50 Durante um mês não a vi, nem a ouvi, simplesmente se recusava em me atender. A princípio pensei que ela tivesse viajado, ou que tinha simplesmente o telefone avariado. Mas depois tive a certeza que ela fazia de pirraça quando uma amiga dela ligou para ela a minha frente, e em frações de segundo ela atende o telefone. Depois de terminar a conversa, eu tento ligar para ela, e simplesmente não me atende. Incontáveis foram as vezes que tentei falar com ela e não houve resposta. Nesta vida injusta posso aceitar tudo, mas me tornar algo que não sou, isso é impossível. Para ela me tornei seu palhaço, seu brinquedo de estimação e que quando a gente está cansado deita-lhe fora. Meses se passaram sem eu receber nenhum sinal de sua existência. Quando ela me visse de longe, fugia e evitava ter um contacto comigo. Mau relato sobre a minha pessoa ela foi fornecendo, sem saber ao certo ela estava me entristecendo. Com todos esses comportamentos entendi o recado que ela quisera transmitir-me e simplesmente desisti dela e do nosso lindo inicial namoro. Depois de algum tempo (meses longos) ela envia – me uma mensagem a dizer que estava arrependida e que só fez o que fez para não me prejudicar. Mas quem não quer prejudicar não maltrata. Por isso decidi fugir ou seja dar algum tempo a essa guerra,
  • 51. TRISTEZAS DA VIDA 51 a esse conturbado namoro. Sei que talvez tenha tomado a decisão errada, deixar uma beldade, uma exótica mulher por causa dos problemas que ocorreram! Mas é a vida, é como se tem dito: No namoro não se come somente beleza, mas entendimento e compreensão mútua. Para quê ficar com uma beleza que não te entende, não te compreende, que te manda lixar nos dias que mais precisas dela? Não tem sentido, mas se estás passando por isso e mesmo assim pretendes permanecer na beleza para fazer amostra, mano força, porque eu dei um tempo. Mas apesar de reagir assim, meu coração por ela ainda palpitava. Lembro-me que sempre que o telefone tocasse, ou desse o sinal de uma mensagem, eu lá ia correndo na perspectiva de atende-la, só que havia esquecido que ela de mim já havia desistido e talvez prometido nunca mais me ligar. Mas apesar de todos esses problemas, malembes da vida, entendi aquele ditado muito recitado: “Mulher é que nem capim” – apesar de ter capim que o cabrito aprecia, mas quando acaba o desejado há que se procurar outro. Só que dessa vez não procurei outra companheira, outra Cinderela que pudesse calçar os sapatos de cristais, porque meu coração estava cheio, lotado de mágoas da primeira e esta última relação, que só me trouxe
  • 52. TRISTEZAS DA VIDA 52 grande decepção. Dessa vez a Cinderela é que teve de deslocar-se até ao meu encontro. Se bem se aperceberam essa é a parte de nossa história, que preencheu mais páginas, e é o relacionamento mais curto que já tive, mas isso dá-se porque com essa pessoa tentei demonstrar o quanto a amava, dando-lhe de tudo, passando por alto todos os defeitos, todas as falhas indesejáveis. Com ela tentei fazer um dia parecer um mês, uma noite um ano. Mas mesmo com essas tácticas tudo saiu errado, mas consegui tirar lições que espero nelas não voltar a cair. Aprendi que melhor ir para o namoro com uma percentagem enorme de conhecimento a respeito da outra pessoa, do que tentar preencher a percentagem de conhecimento dentro do namoro. Com isso concluo que namoros bem – sucedidos e posteriormente casamentos, em parte, são entre pessoas conhecidas de longa data. Por isso para que um namoro ou casamento seja bem-sucedido não há que se estar só preparado, mas acima de tudo há que se conhecer bem o seu cônjuge. Aprendi também que mulher é que nem um empreendimento, há que se sentar e raciocinar sobre o que se pretende fazer, para que quando der errado não fiquemos com um N’dolokumuchima (dor de coração em kimbundu). Por isso aqui estou só, ou seja restando,
  • 53. TRISTEZAS DA VIDA 53 decepcionado com todo tipo de mulher, mas fazer o quê se isso é a vida, há que ter problemas para sentirmos que estamos vivendo. Mas não há problema pois bastou ir uma que quatro surgiram. Se bem me lembro eu ainda estava na fase em que era o gajo de gajas…
  • 56. TRISTEZAS DA VIDA 56 Telefonemas e mensagens excitantes fui recebendo. De quem, eu não sabia, nem desconfiava. Só sei que ela dizia que era a minha admiradora secreta, a que foi minha camba de infância, a que delira com os meus lábios e que morre com o meu charme. Tentei descobrir quem era essa pessoa, mas por mais que tentasse ela batia na mesma tecla, não se apresentava e apenas citava meu nome. Decidi intensificar os meus esforços, recorri a grandes bibliotecas, daquelas que são capazes de te contar todas as cenas mesmo que naquela época não estivesses nascido – as manas fofoqueiras. Com ajuda delas consegui ter pistas de quem se tratava, mas ainda assim não era o suficiente. Desta feita tripliquei ainda mais todos os esforços outrora feitos, pois parado não dava para ficar, pois suas mensagens tocavam o meu ego e bombeavam os mais puros sentimentos ao meu coração.
  • 57. TRISTEZAS DA VIDA 57 Felizmente consegui com todos os esforços alcançar esta mulher que sabe com simples palavras levantar o espírito paralítico e fazer o debilitado em sentido “mulheral” marchar rumo o portal da alegria. Quando a vi ganhei poderes especiais; meus olhos ficaram que nem de um gato e uma águia – com visão nocturna e aguçada, minha língua que nem de um lagarto – pronto a atirar e sentir seus deliciosos lábios. Ela tinha o que a primeira vista é realçada a visão de todo homem – um lindo e robusto QO. Já tinha o seu número por causa das mensagens que ela foi enviando, por isso não maiei e já sabia seu nome completo. De longe, passei a lhe conhecer mais, denotando que era uma jovem trabalhadora, que mesmo sabendo que ficaria doente e com fortes dores de cabeça estava pronta a enfrentar qualquer tipo de serviço só para agradar quem estivesse do seu lado e para realçar o que realmente ela era – uma mulher higiénica. Notei que era alguém por todos do bairro desejada, o que me fez pensar de início que fosse uma boa menina. Passei a lhe olhar com visão raio x para conseguir discernir seu interior e alegremente vi que tinha um lindo e puro coração, pois ela era alguém que com todos dava-se. Visualizei que ao seu redor rodava amizades adultas,
  • 58. TRISTEZAS DA VIDA 58 idosas, o que me fez pensar que ela gostava das experiências dos adultos e tinha o desejo de aprender, e logo deduzi então que era uma mulher inteligente. Pedi opinião dos mais velhos da e na área e me aconselharam a embarcar nessa nova aventura sem receios. Ouvi seus conselhos, corri até ao mercado, chachei umas químguilas e uma delas aceitou vender-me um par de seus lindos anéis a um bom preço. Saio a correr, tomo um banho daqueles, uso o melhor perfume do meu papoite (“ele trabalha e consegue comprar perfumes de cem dólares – enquanto eu, chiiii, melhor nem falar”), visto o melhor grife e vou ao encontro dessa mulher sem ela sequer desconfiar. Aguço minha visão e tento enxergar-lhe de longe. Vejo-a de pé ao lado da porta de sua casa, apreciando os jovens jogando “não te irrites”. Saco um dos anéis do bolso, preparo a cena para que quando perto dela chegar, não passe vexame com as atrapalhações. Releio o grande e lindo poema que escrevi e lá vou ao seu encontro. Ao chegar perto dela, começo já a me arrepender de ter gasto o dinheiro naqueles anéis, de ter sujado meu grande grife, ter usado o perfume do papoite, porque teria de aguentar o barulho. Tanto esforço e a mulher também não presta. Talvez estejam se perguntando o que aconteceu para
  • 59. TRISTEZAS DA VIDA 59 haver uma mudança drástica de pensamento, mas vou explicar-vos. Notei que minha visão raio x e ainda por cima com o coração borbulhando de paixão não havia focalizado os pormenores importantes. Ao ver de perto noto que a miúda estava fora de si, embriagada e com uma cuca (“cerveja Angolana”) na mão. Ela não estava de pé na sua porta apenas apreciando o jogo dos rapazes, mas estava sim a espera de mais um convite para uma cerveja. Não imaginam qual foi o choque ao ver a futura conquista que nem o roque. A miúda começou a falar sem sentido, fez figura de palhaço e ainda por cima aceitou ser levada por um daqueles rapazes sei lá aonde. Ainda bem que não abri meu bico cedo, declarando-lhe meus fortes sentimentos por ela. No dia seguinte, no dia do arrependimento como assim o chamo, pois foi nesse dia que lhe foi contado todas as borradas que ela fez, ela ficou sabendo por meio de suas amigas que eu estive lhe apreciando, vendo as palhaçadas que ela estava dando, o vexame que passou e a vergonha interior que me causou. A miúda correu até meu encontro, ajoelhou e pediu- me perdão por tudo que havia feito, que era a primeira vez, que foi desencaminhada pelas amigas, que nunca mais
  • 60. TRISTEZAS DA VIDA 60 voltaria a cair nesse mal proceder, e por aí, desculpas e mais desculpas ela foi dando. Antes de a perdoar, pedi-lhe um tempo para analisar melhor a situação. Vesti a minha roupa de detective e lá comecei a minha busca, ou seja minha investigação minuciosa a seu respeito. Entrei em todos os sites da sua vida, acessei todos os seus links e fui bater nas suas vizinhas. Conversas e mais conversas e fiquei sabendo que a miúda era conhecida como doente mental. Tinha reacções e comportamentos estranhos, adulta de idade, mas criança de cabeça. Agia por instinto, achava-se homem, cavalona, gostava de lutar, partir garrafas que nem uma “squad”. Assim que ouvi aquilo, fui tirar a prova dos nove, e parece que aquele era o meu dia de sorte. De longe avisto e ouço a conversa dela com a amiga dizendo que estava se preparando para ir partir a cabeça de uma jovem que havia lhe frustrado. Ao ouvir aquilo começo a ver o meu futuro ameaçado, já dava para ver o caixão de longe, o meu corpo bem esborrachado com as pancadas da mulher. Saio daí com a decisão “de querer encontrar o fim de uma recta e nunca pensar em aplicar um ângulo de 180”. Ao meio do caminho me encontro com mais uma de suas vizinhas, só que dessa vez é uma vizinha adulta e por acaso também minha amiga. Portanto
  • 61. TRISTEZAS DA VIDA 61 decido ouvir mais uma segunda opinião, na esperança de que aquelas jovens estavam mentindo. Começo já a lhe ouvir… e dessa vez ouço coisas que ninguém me tinha contado. A miúda tem fama de namoradeira, para saberes quantos namorados ela tem, terás que fazer uma distribuição de frequência estatística, e só daí saberás quantos são. Admirado com essa novidade, vou triste para casa, mais uma vez decepcionado com as mulheres. Agora já não há esperança, desisto totalmente dela. Doente mental, namoradeira e violenta – não posso ter uma mulher do meu lado assim. Ainda bem que dessa vez a emoção estava na velocidade certa. Aleluia eu digo por não ter lhe declarado os meus puros sentimentos. Nem quero imaginar o que teria acontecido se com ela eu permanecesse. Bendito sejas… Mas algo não entendo, porquê que quem a gente gosta, não gosta da gente? Alguém que me responda por favor. Foi isso que se deu nessa última história que irei vos contar em sentido “mulheral”. Foi o seguinte…
  • 64. TRISTEZAS DA VIDA 64 Na minha vida de modo inesperado, não planejado, surgiu uma bela mulher, com todos os quitutes que se espera de uma excelente mulher. Mulher de cabeça, alguém madura, responsável, mais velha em idade e juízo e muito bela em corpo, e isso posso vos dizer com certeza. Já que com as miúdas passei a ter problemas, segui o conselho do Heavy C, quero uma mulher mais velha, uma mais séria. No mero acaso, de forma inexplicável viemos a nos conhecer. Sem eu saber ao certo com quem falava, fiquei lhe ouvindo desabafar. Tentei conquistar – lhe, mas parece que a miúda só pretendia desabafar. Ela rasgou a capa, soltou as folhas do livro da sua vida, deixou-me estar a par do seu passado, presente e futuro. Em fracções de segundos, fiquei sabendo como a mulher havia sido machucada emocionalmente. Como um balão, ela estava cheia com
  • 65. TRISTEZAS DA VIDA 65 todos os desentendimentos de relacionamentos passados. Naquele momento ela fez de mim o seu confidente, atirou- me todas as suas cargas e apercebi-me do alívio dela ou seja o balão a esvaziar-se. Tudo isso aconteceu via Messenger. Mas combinamos um dia para nos encontrarmos já que ela conhecia tanto a mim como os demais elementos da minha família, o que me assustou pois já não fazia ideia de quem fosse, apesar de ter o seu correio electrónico registado. Por fim chega o momento de nos encontrarmos. Assim que a vi a reconheci logo, sem pensar muito me atiro logo. Faço uma apresentação a moda francesa, solto um sorriso dos lindos lábios da miúda e com a confiança adquirida faço-lhe soltar a idade. Noto que ela é minha mais velha, mas que em contrapartida eu pareço ser mais velho dela. Apesar de ser já uma mulher madura, ela tem um corpo de vinte, olhar sereno de doze, e o rosto de uma donzela, só para não dizer Cinderela. Não maiei… com a apresentação a moda francesa consegui conquistar seu coração e obter o seu número telefónico, de modo que no calar da noite envio-lhe uma mensagem excitante, daquelas que faz o coração trabalhar a cem porcentos. Toda emocionada ela responde a mensagem dizendo que eu estava colocado na lista dos melhores amigos dela, guardado na parte mais restrita do seu coração. A miúda
  • 66. TRISTEZAS DA VIDA 66 pediu que eu fosse seu grande amigo e de mãos abertas aceitei o emocionante convite, só não me apercebi que nesse saco havia segundas intenções. Sempre a tentei conquistar mas ela recusava, e como é mais velha eu não persistia, pois poderia ser mau encarado ou até perder a sua amizade, algo que o coração não desejava. Eu a encarava como amiga, mas houve momentos que me fazia enlouquecer, ficar baralhado, sem saber mais que posição eu realmente ocupava em seu coração. Apesar de me rejeitar, reagia como se me quisesse. Constantemente ligava, ficava aborrecida se não atendesse uma chamada sua telefónica, fazia confusão para sempre sairmos algo que já não entendia pois ela já tinha arranjado um outro namorado. Mas numa linda e calma noite, ela liga e lá começa novamente a desabafar, só que dessa vez seus desabafos me deixam triste. Ela confessa que não amava a pessoa com quem estava, que havia ficado com ele por pena, por causa das incontáveis persistências dele, e que eu era a pessoa que ela amou, amava e desejava continuar amando. A princípio deveria ficar alegre, já que a pessoa que outrora eu tentara conquistar veio se declarar, mas fico triste por saber que a
  • 67. TRISTEZAS DA VIDA 67 pessoa com quem ela estava a namorar era meu amigo e ela não lhe gostava. Fiquei sem forças, sem saber como reagir, porque se estranhasse estaria desejando o mal de meu amigo, se ficasse triste lhe daria a entender que não gostei do que ela dissera. Tentei pedir conselhos aos maduros no assunto, mas por mais que ouvisse, o meu coração já desejava ser o “fura olho”. Na inocência do coração, aceitei o grandioso convite feito, e lá embarquei sem medo nesse oceano ondulado. Com ela consegui esquecer a Joana, a Antónia, a Chiquita e a Fatita. Bobs, Ilha, maculusso nos grandes hambúrgueres, esses eram os nossos destinos nocturnos. Por ela tive que fazer investimentos altos, antecipar planos futuros, porque com ela é como se já estivesse no céu, onde mais poderia ir? Senti-me na obrigação de elevar a minha condição social, porque para além de ser minha mais velha, ela já tinha economias de sobra na sua conta. Por isso larguei aquele mísero emprego, que também só me cansava, nem com o salário anual eu conseguia igualar o seu salário mensal. Chorei a frente dos tios, chateei o papoite pra ver se conseguissem um furo em uma dessas empresas de renome. Felizmente consegui entrar numa delas, passei a ganhar
  • 68. TRISTEZAS DA VIDA 68 bem, a leva-la a passear, porque agora quem pagava sem limites era eu. Palavras para descrever como estava a nossa relação, não tenho. A alegria era tanta, a emoção tomava conta de nosso ser. A miúda passou a confiar cem porcento em mim, todas as chamadas eram pra mim, os carinhos, mimos e prendas ela atribuiu-me, esquecendo na totalidade o Sérgio. Querendo ou não, eu já era o fura olho. Agora todos enxergavam em seus olhos a paixão por mim. A miúda estava caída na totalidade. Por minha causa ela começou a entrar em casa a madrugada, a dormir tarde se é que ainda conseguia dormir, porque o tempo todo ela quis ficar ao meu lado, gastar o saldo nas horas quentes só para ouvir a minha voz. Sua oração nocturna constante era: – “Senhor meu Pai faz já amanhecer este dia, e clareia o meu dia com a presença do Patrício”. Ela estava habituada com 3 refeições, mas passou a fazer de mim suas 6 refeições. Gulosa de mim ela se tornou, só nunca pensei que fosse se empanturrar de mim… [mas chegaremos já ali] … Com toda essa situação eu me sentia o Rei dos homens, o super – herói. Sabes quantos homens possivelmente estariam atrás dela? – Tantos, mas no meio desses, eu fora o escolhido. O super – herói eu também me tornei, não sei porquê mas Anselmo Ralph teve efeito nas
  • 69. TRISTEZAS DA VIDA 69 mulheres com a sua música. Ela fez de mim seu guarda – costas, por mais fininho que eu fosse, era a minha trás que ela encontrava refúgio e consolo. Afogado na emoção, reuni os papoites num grande almoço e aproveitei fazer umas perguntas de ideias. Procurei saber qual seria a reacção deles caso lhes apresentasse alguém mais velha com relação a minha pessoa, como nora. Num tiro certeiro eles responderam o que exactamente eu queria: - “Quem escolhe és tu meu filho, nós só queremos alguém decente e ajuizada”, mas leva em conta as vantagens e desvantagens. Com essa resposta positiva fiz soar de quem se tratava, e como grandes pais atentos, eles deram conta. Sem nada mais dizerem, vi que havia feito uma boa escolha – pois já tinha a aprovação dos papoites. Ligo para ela, e lá lhe conto qual havia sido a reacção dos do meu lado. Idêntica foi a reacção dos do seu lado. Mas como é bom seguir o conselho dos mais velhos, faço-lhe ver as vantagens e desvantagens – pois seria mais fácil ela ser aceite pelos do meu lado, do que eu ser aceite pelos do seu lado, tudo por causa do factor idade. Mas apesar disso, a miúda estava disposta a enfrentar todos malembes que pudessem vir, e isso me deixou mais confiante. Era tanta alegria, tanta era a emoção, que sem pensar muito lhe entreguei meu coração. Passei a confiar a todo gás nela,
  • 70. TRISTEZAS DA VIDA 70 também não havia como, porque tantas eram as promessas que ela atava em meu pescoço, que aquilo funcionava que nem um foguete – “querendo ou não, eu era obrigado a voar, para ao lado dela estar”. A miúda já falava em casamento, estávamos ainda no presente, mas ela já quis viver futuro. Em crianças, já ouvi falar; empreendimentos futuros; mas o que mais me assustou foi ver-lhe colocar tudo no plural: - “Nossa casa”, “Nossos carros”… nossa, nossa, ai como o nosso amor é lindo… Mas como dizem, felicidade do pobre não dura muito tempo. Começaram a surgir alguns pequenos demónios, surrando o nosso cupido e colocando pedras no nosso amor, para ver se estragassem a nossa felicidade. Primeiro surgiu um ex da adolescência, o que havia outrora lhe magoado muito, mas pronto acho que também o devo agradecer porque se não fosse ele, não teria inicio esta história. Mas esse canalha decidiu aparecer logo na hora do bem bom, com propostas alucinantes, prendas de último grito e charme tipo Maxmiliano (“actor da novela acorralada”). Só que também não seria ele ainda a derrubar o nosso murro de Berlin. Suas prendas não a serviram, e nem foram com o seu agrado. Seu charme foi jogado no lixo, não adianta ter um carro do último grito, se este por motivos técnicos não anda. O gajo não tinha boa reputação,
  • 71. TRISTEZAS DA VIDA 71 era conhecido como mulherengo, batedor de mulheres, e isso sujou seu currículo de beleza externa. Suas propostas não foram aceites, pois eram tendenciosas. O gajo quis levar a miúda na ilha, pediu para que não levasse ninguém e note a hora do encontro: 21h em ponto. Safado o gajo hein… só que a miúda em mim ainda confiava. Ligou-me rápido e contou-me tudo… sem pensar zero vezes vou a casa dela a correr, pois ela disse que ele passaria por lá para confirmar, já que ela não lhe atendia mais o telefone. Assim que chego, fico já na porta de casa com a gata, abraçando-lhe bem forte. Para proteger o que é meu viro Mike Tyson e uma mistura de Jet Li. Não me importei se ele era maior do que eu, lá eu estava, trémulo, mas pronto para proteger o meu troféu. O gajo teve sorte, acho que ele sentiu o meu cheiro e não apareceu. Por mais que persistia, a miúda lhe afastava, ele no passado já estava. Cada vez mais o meu termómetro de confiança aumentava, de forma que já me sentia como escalando uma montanha sem cordas, mesmo que caísse a gravidade reagiria nos dois sentidos (“de cima para baixo e de baixo para cima” me estabilizando). Mas quebrei mesmo o meu termómetro quando a levei onde o Zinho safadinho a quis levar – ilha. Num fim- de-semana lindo, um domingo de céu cinzento, lá partimos nós primeiro almoçar fora de casa, num mine restaurante
  • 72. TRISTEZAS DA VIDA 72 mas com comida exuberante. Demos show ali. A Indira estava irreconhecível. Soltou a vergonha, participou no caraoque, emocionada dedicou-me uma música, tirou-me fotos e esteve bem próximo; juntinho de mim. Estava confirmado. Eu já não era o único que via em seus olhos a intensa paixão. Meus amigos me parabenizavam sem eu os ter dito nada. O dono do restaurante simpatizando-se conosco deu-nos bebida grátis e me chamou num canto e disse: “Tens uma bela mulher puto”. Nesse almoço tinham ido mais mulheres, mas ele viu em seus olhos a paixão, e logo deduziu o que todos deduziriam. Elementos de sua família me lançavam indirectas, sem os perguntar me diziam que ela havia despachado o Sérgio, que parece estava de caso novo. Enquanto eles diziam isso, eu ria em tudo que desse, em meu coração, em minha boca, todo meu corpo no ínterim estranhava. Joana, Antónia, Chiquita e Fatita, podem me esquecer pois já tenho quem me ama. Me senti como se estivesse num carro zero quilómetros (novo em folha) não esperava que nada de errado, nenhuma avaria ocorresse. Estava tão confiado que soltei o Peneu de socorro, abandonei todas as pretendentes, pois queria ser fiel a ela, mas parece que fui burro nesse aspecto… [mas chegaremos já lá] … por enquanto continuemos com o
  • 73. TRISTEZAS DA VIDA 73 maravilhoso fim-de-semana que tivemos, pois ainda não anoiteceu. No calar da noite, levei-lhe então onde o Zinho encontrou rocha – ilha. Com o que aconteceu a tarde, eu precisava me certificar se estava enveredando no caminho certo. Dias antes desse Domingo, eu havia falado com o Sérgio, e como amigo ele desabafou, dizendo que sentia sua relação ir por água abaixo, porque a miúda parecia estar lhe colocando de lado. Ele estava louco por ela, mas parece que ela não se importava muito com ele. Naquele momento eu também não poderia dizer muito a não ser coragem, pois eu era o culpado dessas reacções – o fura olho. Então para me certificar se estava no caminho certo, pensei na dor do Sérgio e disse que a abandonaria e deixaria o caminho livre para ela e o Sérgio. Tantas vezes a fiz esse teste, e quando a fizesse ela se zangava, me cortava água e luz, e dizia que eu a queria matar. Mas nessa noite eu estava bem decidido a deixar-lhe, e ela fica triste. Pronto bebé, a vida tem dessas, mas fazer o quê? – Lá digo eu a ela. Fazer o quê, vou te mostrar – lá diz ela a mim. Me agarra com tanta força e me dá um… não posso considerar aquilo linguado, pois parecia mais cachucho. Nos beijos e amaços ela me envolveu. Meu termómetro de confiança rebentou quando ela abre a porta do carro e me empurra no banco de
  • 74. TRISTEZAS DA VIDA 74 trás, fecha a porta… e ela quer estar aos cachuchos comigo. Aquelas palavras bonitas que todos vós conheceis, eu ouvi. Te amo, quero estar contigo, és a minha perdição, tudo foi recitado pela Indira sem nenhuma mentira. A madrugada chego a casa, vou ao quarto e tento dormir, e o sono não quer vir, porque o pensamento voa até ao seu encontro. Trabalhar e estudar, ou fazer uma outra actividade já não era a mesma coisa sem antes ouvir a sua linda voz. Amar e ser amado é lindo, agora eu tinha uma mulher, tinha uma preocupação, tinha uma responsabilidade. Já chegava na sexta a pensar o que fazer com ela no fim-de-semana, e quando sem ideia estivesse, o lugar preferido dela eram os cachuchos. Meus dias eram de terna alegria. Dormia e acordava lendo poemas de coração. A vida estava um mar de rosas, um paraíso. Mas como qualquer paraíso, surgiu o Diabo. Dessa vez não foi nenhum ex., mas sim o próprio Sérgio. Ele estava inocente de tudo, não sabia o que se passava. Ele pensava que a miúda o havia deixado e ficado só, por isso ele decidiu intensificar os seus esforços, fazer de tudo para a resgatar. Surgiu com propostas grandes, sérias, mas apesar disso, eu ainda sentia sua confiança em mim… só que estava enganado. Na conversa entre cambas, o Sérgio me diz que sua relação estava um doce, que riam o
  • 75. TRISTEZAS DA VIDA 75 bastante, e que até o fim-de-semana passado haviam feito algo espectacular. O quê? Tua relação com quem? – Pergunto eu. Com quem como assim, já não te disse que estava a fazer planos na Indira e ela está derretida por mim, lá diz ele. A Indira? A meio latona, com um QO a maneira, a que trabalha no… que tem uns cabelos… a que conduz actualmente um…? É dessa que falas Sérgio? É sim Patrício, cumé então você, já te apresentei. Sei Sérgio, só quis ter certeza. […Já chegamos…], na parte em que fui burro, na parte em que ela se empanturrou de mim. Trémulo vou a geleira, saco uma “rede bull” pois precisava de energia de qualquer maneira. Despacho o Sérgio, pois não o queria ver a minha frente, com o nervosismo seria capaz de lhe abrir a cabeça, sem ele perceber o porquê. Sento-me no sofá e começo a fazer as ligações, a entender tudo. Burro fui eu, quando passei a acreditar nas suas promessas. Notei que ela estava tomando aquele rémedio que muitas usam: “Apague um sentimento ferido, arranjando um novo amor”. Naquele momento para ela, eu era uma simples borracha de sua vida, pois ela desejaria passar novamente o lápis, e eu não o era.
  • 76. TRISTEZAS DA VIDA 76 Ela me usou para afogar as suas mágoas, encontrou alguém que a ouviu desabafar, que aceitou ler o livro de sua vida e fazer as correcções nele. Fiz um rescaldo dessa relação, e vi que ao seu lado eu havia me tornado num monstro. Para permanecer o amor, para a conquistar, fui obrigado a passar as barreiras da minha vida, pisei na minha moral, me tornei no que eu nunca fora, briguei com quem nunca briguei, desejei o mal dos outros, até de meu amigo... Me tornei num fura olho, tudo de podre ao seu lado me tornei. Enquanto eu pensava em seriedade, enquanto eu me preparava, enquanto planejava o futuro, ela brincava comigo. Brincou cm meus sentimentos, atrapalhou a minha vida, e abriu feridas q ela bem sabia q estavam cicatrizando. Devem estar a se perguntar o que ela realmente fez, para eu estar nesse estado. Esperem, vou contar-vos e a deixarei também falar. Eu estava sentado no sofá, e lá começo a ligar os pontos. A Indira estava ferida emocionalmente. O zinho a havia machucado quando a trocou por outra quem sabe outras. Como remédio ela tentou encontrar um burro para fazer o mesmo, e na sorte da vida, encontrou esse burro – eu.
  • 77. TRISTEZAS DA VIDA 77 Descobri que ela me havia mentido com relação a deixar o Sérgio, e que nem tempo havia pedido. Eles se encontravam normalmente, burro fui eu que não dei conta, ou se dei, passei por alto. Ela estava fazendo uso dos dois. Se saísse comigo de tarde, de noite estava com ele. Lembro- me de um dia em que pretendia sair com a minha miúda, mas ela fingiu (o que agora percebo) que estava incomodada e sem vontade de sair. Tudo bem, entendi, disse que também não sairia, que ficaria com ela aí para lhe dar o carinho necessário, mas ela persistentemente insistia para que eu saísse, que não se preocupasse com ela, mas eu bem rijo não quis sair, até que ela consegue me despachar, dizendo que tinha assuntos de trabalho por resolver e precisaria de muita atenção, e a minha presença lhe tiraria a concentração. Entendi e lá fui, soltar umas gargalhadas com os cambas da banda. No meio de tanta gargalhada e birras com os cambas, esqueci-me que deveria passar no Sérgio para pegar umas cenas para o trabalho. Vendo a hora, como ele gosta de dormir cedo, pego simplesmente no phone, e lhe ligo: [eu]… Aló Sérgio, tudo bala? [ele]… Yá meu, o que mandas?
  • 78. TRISTEZAS DA VIDA 78 [eu]… Quero vir pegar já aquelas cenas que combinamos, posso vir agora, ou já estás na cama? Hahahah [ele]… Eu cama? Estou aqui no teatro man, a curtir a “Sogra” do grupo Horizonte. [eu]… Não me dissestes porquê, poderíamos ir juntos, teatro não é bom assistir sozinho. [ele]… quem te disse que estou sozinho, tenho namorada para quê? [eu]… Não entendi bem, estás aí com a Indira? [ele]… Te apresentei quantas namoradas man, sim é ela… olha vou desligar esses wis são estúpidos yá. Hahahah, mais tarde. … Lá do fundo ouço a risada da Indira. É mesmo ela. Me disse que estava incomodada, me despachou porque não quis que eu me encontrasse com o Sérgio. Não sei o porquê que ela fazia isso. Isso foi o suficiente para eu ver que ela não havia dito nada ao Sérgio. Manteve-o em standby. Lhe envio uma mensagem: “Tás aonde bebé?”, e ela responde-me que estava em casa. Aié, falei com o Sérgio e ele me disse que está contigo no teatro. E lá ela: “Bebé não é nada disso que estás a pensar, depois vamos conversar”. Conversar mais o quê, se tudo está bem esclarecido, um chifrudo eu estou sendo. Magoado pego no carro e ligo para a Cleyde, pois essa
  • 79. TRISTEZAS DA VIDA 79 sabe levantar o espirito decaído de um homem. Passo o resto do domingo com ela, a miúda é boa, não pensaria duas vezes se ela não tivesse já duas crianças. Me consolou, me ouviu desabafar e me aconselhou a não tomar nenhuma decisão sem antes a ouvir. Por isso deixei ela falar. … [Fala da Indira] … Patrício eu te amo muito, sem ti não consigo viver. Desculpa por ontem. Realmente eu estava a me sentir mal, não estava mesmo bem, porque estava a ganhar coragem para de uma vez por todas falar com o Sérgio. Eu combinei com ele para conversarmos aqui em minha casa, mas quando o vi, a coragem desapareceu. Ele me agarrou e me obrigou a ir ao teatro, não quis te magoar. Por favor volte para mim. Sei o quanto estás chateado, entendo pois tens todo o direito de estar contristado. Mas não precisas desconfiar de mim, é de ti que eu gosto, amo e respeito. O Sérgio tem me atormentado muito, mas ele para mim não passa de um simples amigo. Também preciso de ter amigos, assim como você tem a Cleyde. Não faça nada que podes vir a te arrepender depois. Não aconteceu nada de mais, foi um simples passeio entre amigos. Não coloque os nossos planos de lado, pense no que
  • 80. TRISTEZAS DA VIDA 80 já passamos, vivemos, nos momentos lindos que criamos, nos nossos gostosos cachuchos na ilha. Também sabes muito bem que quando vieste ter comigo já havia Sérgio, então não precisas dramatizar essa cena. Hoje já é assim, eu é q fui ter com ela. Se bem me lembro bem sentado em minha casa eu me encontrava e quem veio confessar tudo foi ela. Mas ela está certa num ponto, na altura ela estava a sair com o Sérgio, mas se ela não gostava dele conforme dizia sempre, porque não terminou com ele assim que me conheceu? Porque omitiu a verdade ao Sérgio, quando entre nós estava acertado o namoro? Mas pronto como a história é “burro fui eu”, acreditei em suas palavras, depositei total confiança em suas promessas e embarquei novamente nesse oceano que parece que era constituído mais de área do que água, pois o barco ficou atracado no mesmo assunto, e nada voltou a ser como era. O perdão surgiu e trouxe o conforto devido, a esta relação. O cupido voltou a descer e devolveu o amor, os amassos e os cachuchos. O meu termómetro de confiança voltou a trabalhar, e dessa vez com pontos altos. De namorado passei a ser olhado Marido. Passei a ser
  • 81. TRISTEZAS DA VIDA 81 controlado por ela. Onde quer que fosse, ela tinha que saber. Lembro-me do dia em que fui ao banco levantar uma grana para o fim-de-semana, ela viu o carro parado e parou também ali a minha espera. Quando tentei saber porquê do controle cerrado, ela disse que tinha que controlar o que lhe pertencia, o seu Marido. Com essas palavras o meu termómetro estava a explodir, mas ela tinha razão, e eu com isso não me incomodava do contrário me alegrava, pois estava na época em que a Joana, a Antónia, a Chiquita e a Fatita intensificaram seus esforços. Voltaram a me olhar e a fazer confusão a minha cabeça, porque elas também não eram nada mal, mas só que o coração é que escolhe. As saídas emocionantes voltamos a ter, agora a Indira estava realmente a se preocupar conosco. Prendas caras ela estava comprando, saldos, telefones, atenção redobrada ela me estava dando. Nos nossos futuros planos ela voltou a pensar, e agora com mais seriedade. Aos cachuchos na nossa ilha voltamos. A cada dia ela aprimorava-os, com maior entrega cachuchava-me. Em seus olhos voltei a ver o fervor da paixão. Só que eram mesmo só em meus olhos que eu via tanta alegria… Agora ela me reservava um dia o que era bom, mas em contra partida ela aplicava aquele ditado: “Não esteja
  • 82. TRISTEZAS DA VIDA 82 muito com o teu namorado, porque ele pode se aborrecer de ti”. Se me reservasse uma Segunda, numa Terça ela quis se ver livre de mim, pois dizia que seria melhor para ganhar saudades. Até ali eu entendia, pois olhar para a mesma cara mesmo amando, pode aborrecer. Mas burro fui quando não percebi o fundo desse plano arquitectónico. No meu dia livre se assim o posso considerar, ela o ocupava com o Sérgio. Agora ela estava dando um dia para cada um. Doeu-me tanto quando caí em mim e vi que estavam brincando com os meus puros sentimentos. Quando estava presente em mim a vontade de realizar uma acção agradável para ela, lá o Sérgio se antecipava, e parece que ele tinha todo o direito. Percebi que sua história com o Sérgio estava longe. Na família dele ela já era apresentada como a futura nora, cunhada, tia, prima. Por todos ela já era benquista. Vi que em todas as suas promessas eu havia caído como patinho molhado. Por mais que dissesse que eu era o seu amor, isso não passava de palavras, porque provas palpáveis desse dito amor na realidade nunca tive. As prendas faladas, os amassos, os doces cachuchos na ilha e tudo o mais que um dia ela me deu, foram coisas para me cegar e ver se eu continuasse a ser a borracha da sua vida, a tigela na qual ela despejava as mágoas.
  • 83. TRISTEZAS DA VIDA 83 Palavras são só palavras e nada mais. Ao contrário de mim, o Sérgio ela apresentou a toda sua família como futuro marido, o companheiro ideal, o sonho realizado por Deus. Dorido em meu canto fiquei. Solitário eu desejei ficar, pois já não conseguia entender absolutamente nada, e compreender como burro fui me tornar. Por mais visível que parecesse a sua escolha, ela persistia em dizer que eu era o seu amor. Agarrada em mim ainda quis ficar. Quando decidi voltar a minha atenção para a Fatita, a Joana, a Antónia e a Chiquita, lá vem ela interrompendo mais uma vez tudo. Um erro é compreensível, mas cair pela segunda vez no mesmo erro, isso é burrice. Nesta altura deixei de ser bobo. Pus a miúda pensativa por uma semana: Ou escolhes o Sérgio ou eu. É que já não dava para continuar na indecisão. Havia cansado de sofrer por alguém que não quis dar valor ao meu sincero amor. Se ela me quisesse como sua tigela de desabafo, poderia dizer, pois varias vezes estive disposto a ser o melhor amigo para ela, mas como amigo ela sempre me disse que não queria. Queria me ver ocupar o lugar de namorado, o que eu não entendia porque quando assim o fiz, ela não me deu valor.
  • 84. TRISTEZAS DA VIDA 84 Cansei de ouvir os meus amigos dizerem do amor dos dois, porque o Sérgio fez isso para a Indira, o Sérgio comprou aquilo para a Indira, O Sérgio colocou uma foto linda dos dois bem coladinhos no facebook. Tudo isso quis eu fazer, tinha meios para o fazer, mas não tinha privilégios o suficiente. Era encarado como namorado, mas havia descoberto que ninguém me conhecia como tal, nem mesmo ela. Nos cachuchos ficávamos, nos puros amassos, mas para ela isso não significava nada. Se tentasse fazer algo que o Sérgio fazia, passaria a ser conhecido como o fura olho, o amigo que não se pode confiar, o que quer o que é dos outros. Enquanto eles elogiavam o Sérgio pelas demonstrações de amor, em meu canto eu chorava. Tantas vezes escapei…, escapei soltar o que na minha garganta estava entalado – “eu é que sou o namorado dela”. Alguns desconfiavam do nosso relacionamento, mas como todos, eles concluíam: “Ela só está a brincar com ele, achas que ficará mesmo com ele?”. Portanto com tudo isso, com o estresse dos comentários, eu coloquei a Indira à parede: “Escolhe Indira, por favor tome a decisão, o que queres comigo? – Tens que dizer, ou eu, ou o Sérgio”. Para ela, essa se tornou a decisão mais difícil da sua vida, porque com o tempo percebi o porquê da sua indecisão.
  • 85. TRISTEZAS DA VIDA 85 É que cada um tinha qualidades boas, que se juntassem em um só homem a mulher desse homem seria feliz eternamente. Para além disso tinha outros motivos, que prefiro deixar-lhe falar: … [Fala da Indira] … Patrício tu me deste só uma semana para decidir. Não gostaria de chegar até esse ponto. Desejava ser feliz contigo, mas estás certo, pois os comentários já são imensos. Não brinquei com os teus sentimentos, o que houve foi apenas precipitação da minha parte. Quando te conheci, perdida no espaço fiquei, maluca por ti me tornei. Só que uma semana antes de te conhecer, pela emoção e precipitação, deixei-me levar pelo convite de ser apresentada a família do Sérgio. Apresentada me tornei, só que não o via como namorado, futuro marido. Contigo quero sempre estar, mesmo como amiga, só não desejo perder o meu grande amigo. Voltar o tempo eu gostaria, limpar os erros cometidos é o meu maior desejo, tirar as mágoas que te coloquei é a minha actual vontade. Tomar essa decisão não será fácil, estou sem coragem. Não pretendo também ferir os sentimentos do Sérgio e o deixar magoado. Mesmo que assim o fizer já será tarde. Por toda família já fui
  • 86. TRISTEZAS DA VIDA 86 apresentada, até aquelas do mato, do quimbo já sabem que o Sérgio está a namorar com a filha da Claudete. Mancharia também o meu currículo se assim procedesse. Minha futura sogra, cunhadas, primas e sobrinhas, sempre que me vissem me interpretariam mal, assanhada, juada, sem juízo, todos os nomes feios que possas imaginar eles(as) me atribuiriam. Desculpa se te magoei, mas para manter o belo nome que criei, prefiro continuar sofrendo. Tentarei desenvolver amor pelo Sérgio. Não quis que sofresses, por isso respeitarei qualquer decisão que tomares. … [fim da fala da Indira] … A decisão parece que estava tomada. Ela achou mais fácil partir o meu coração do que o do Sérgio. Preferiu ficar com ele mesmo não o amando. Ela jogou tudo que vivemos ao lixo, nada do que passamos para ela teve significado. Preferiu elaborar planos de casamento com ele, mesmo sabendo que casamento é algo eterno. Para alguém que dizia não amar, esse foi um passo grande. Burro fui eu que nas suas palavras acreditei. Amor o tanas, a Indira nunca chegou a sentir essa linda qualidade por mim. Ninguém prefere sofrer, ninguém aceita o inferno, mesmo estando inconsciente. Tentarei
  • 87. TRISTEZAS DA VIDA 87 amar o Sérgio, isso era mentira. Ela já amava, por ele ela se entregava. Emocionada deixei-me apresentar, outra mentira. Quem não quer não é obrigado. O amor é uma qualidade que para ser dada a outros tem de estar bem desenvolvida em nós. Se ela estava disposta a dar ao Sérgio, nela já estava bem desenvolvida. Eu nunca me perdoarei por um dia ter sido burro, por ter caído no mesmo erro uma série de vezes. Tudo pus a parte por causa das suas promessas na qual depositei total confiança, na qual me entreguei com toda garra. Todos os planos futuros eu antecipei, cancelei todos os projectos actuais, porque até aonde havíamos chegado não havia dúvida de que futuro já estava escrito. Um dia ela chega e no passado me coloca como se fosse lixo. Perdoar-lhe, posso perdoar, mas perdoar não significa ser o que eras, ou dar o deste anteriormente. Ela estragou a minha vida. Ferido eu já estava, agora com ela, eu fiquei gangrenando. Furou com os meus pneus de socorro e me fez embarcar numa viagem turbulenta e sem segurança. Fatita, Joana, Antónia e a Chiquita, todas estas já estavam ocupadas. Foi tanta espera que decidiram embarcar para outras. Até a Cleyde conseguiu arranjar um gato jovem, as crianças não foram
  • 88. TRISTEZAS DA VIDA 88 empecilho nenhum. Só eu é que não vi que ela era boa mulher. Sem rumo fiquei, perdido no campo emocional me senti. Quando estamos a namorar, tantas são as juras, tantas são as ideias, tantos planos são feitos, é tanta emoção quando estamos ao lado de quem amamos, que chegamos a falar mais que a dimensão do céu. Tantos são os apelidos lindos que damos ao parceiro(a). Tudo é passado por cima, erros, falhas, isso não existe. Mas termine esse momento lindo e verás q se amaram estranhamente, nenhuma jura foi cumprida, nenhum plano foi concretizado, os belos nomes foram banhados na lama e estenderam-lhes sujos, visíveis a todos. Por vezes nos é dado o poder de voltar atrás no tempo, não para tentar acertar o que fizemos de errado, nem para sermos melhores e reconquistarmos o amor sofrido, mas sim para apagar o que houve, esquecer o sofrimento, tapar os buracos pra seguires uma viagem tranquila rumo ao futuro. Várias vezes voltei no meu tempo, e não passei uma borracha, mas sim rasguei a folha dessa história sofrida. Quis passar uma simples borracha, mas notei que foi burrice um dia ter chegado até o ponto caliente, quando a entreguei meu coração e ela brincou com ele e ria-se do bobo que deu de mãos abertas algo precioso.
  • 89. TRISTEZAS DA VIDA 89 Voltei o histórico das conversas e vi que ela me achava emocionado, sem noção do que estava fazendo, mas precipitada como sempre ela não viu o que eu já havia feito pensando nela. Por meses, guardanapos de papel, de pano, lenços de bolso, colchas e toalhas, nada disso suportou as minhas lágrimas. Chorei a ponto das minhas lágrimas acabarem, as lágrimas de outros usei, mas também não foram o suficiente. Me questionei a ponto de não sobrar mais pontos de interrogação. Nunca havia imaginado que amor de verdade fosse tão doloroso. Foi uma relação de se torturar. Mas apesar de tudo, ganhei grandes lições de vida. Primeiro aprendi que a idade não é requisito para se ser maduro e tomar decisões positivas e meio acertadas. Neste mundo existe quem tem idade suficiente e portanto não é maduro. Basta girares a cabeça e verás pais, mais velhos que deveriam dar lições aos jovens, mas são esses mesmos que tu dizes: “Mais velhos sem juízo”. E segundo, mais uma vez aprendi a nunca nos deixar levar pela emoção porque podemos cair na decepção, ou magoar a pessoa amada que temos no coração. Antes de tomares uma decisão esboce-a no papel e só depois então parta para acção.
  • 90. TRISTEZAS DA VIDA 90 Nunca ame quem não canta a mesma canção. Nunca caia naquela de que um dia ele(a) irá mudar. Há coisas na vida que não se muda. A parte emocional é a parte mais afectada pelas tristezas, pois esta não apaga nem cura tão facilmente. As cinco histórias contadas ficaram marcadas para sempre no coração do Patrício. Portanto faça todos esforços para não carimbares o teu lado emocional com TRISTEZAS DA VIDA.
  • 93. TRISTEZAS DA VIDA 93 O salo hoje foi difícil, puxas, esse chefe não larga o meu pé, pensa que eu sozinho irei melhorar essa empresa que também já está a ir mesmo a falência. Deixa arrumar as coisas e ir… o que mais quero é estar na minha cama relaxado, se der a ouvir um bom slow. Hoje foi demais, nunca senti dores assim, até os ouvidos doem por ouvir tantos berros daquele maldito… arranja confusão na empresa, quando lhe ralham também quer vir aqui gritar com os inocentes. Deixa-me mazé ir. Está aonde também a chave do carro? – Opa, está aqui. É muito nervosismo, escapei lhe entrar com um soco. … [chegando a casa] … [eu] … Meu mais que tudo, boa noite. [Minha esposa] … Oi.
  • 94. TRISTEZAS DA VIDA 94 Cumprimento estranho, epá talvez não está nos seus dias. Deixa trocar-me e tomar um bom banho. Ao subir as escadas vejo algumas sujidades arrepiantes, entro para o meu ou nosso quarto uma bagunça total. Roupa suja em cima da cama, um cesto no canto do quarto cheio de roupa suja a séculos, molhada e a cheirar mofo. Cheiro estranho que esse quarto tem, mas que cheiro é esse que até já está a me causar gripe? Começo a procurar a causa do cheiro, o balde está a cheirar mofo, mas esse é diferente. Chulé também não é. Procuro bem, olho por baixo da cama e o que encontro… os copos de iogurtes da miúda à cassula, empurrados em baixo da cama. Cuecas e pensos usados … ai, ai, isso é muita porcaria. Nem um porco aceitaria dormir aqui, pois isso passa dos seus limites de porquice. Já não aguento mais, hoje vou esfregar tudo isso na cara dessa mulher. Mas ó Bela, você anda a fazer o quê afinal de contas aqui em casa? Vê a escada e olha para a sujeira, vai ao nosso quarto e olha para as porcarias que você empurra por baixo da cama. Nem roupa de casa em condições eu tenho, nada está engomado, e o que você pensa estar limpo está sujo. Você é mulher de quê afinal?
  • 95. TRISTEZAS DA VIDA 95 [ela] … Porquê que não vens ajudar, sabes o que é cuidar de uma casa? Trabalho, faculdade, crianças você e ainda a casa. Tens noção do quanto eu faço aqui? Tenho sim, nem preciso demorar a responder, basta olhar para tudo aqui em casa e ver que não és uma mulher. Olha para a nossa filha. Roupas compradas no Belas e outras lojas de renome, mas quem lhe olha pensa que fomos pedir emprestado no arreió arreió esses trapos que ela tem vestido. Um gajo aguenta patrão, se esforça para colocar comida na mesa, e cadê a comida? Panelas vazias, cozinha suja, casa a cheirar mal. Chega estou cansado, ou você começa a ser mulher ou ficamos por aqui. Nem para controlar o que a empregada faz você é mulher? [ela] … Cala a boca Patrício. Até parece que também és homem o suficiente. Minhas amigas estão a receber grandes carros dos maridos, telefones do último grito, casarões, não é isso aqui… essa barraca que nem foi você me deu. Trabalhas tanto e nem um starlet você consegue comprar. Nossa casa até agora não consegues comprar, temos que estar a depender de parentes, não tens vergonha?
  • 96. TRISTEZAS DA VIDA 96 Então elas estão a te fazer a cabeça. Então é isso… mas elas têm feito qualquer coisa para merece-los, e você o que faz? Calma não se esforça que eu respondo por ti – NADA. Não sei aonde estava com a cabeça quando fui casar contigo. Tantos conselhos e eu nada. Tiveste sorte por me obrigarem, porque se não dissessem nada, nem com a gravidez eu casava. Ai se eu tivesse ouvido a minha mãe, ela sempre me dizia que mulher que te visita ao meio dia é preguiçosa, não faz nada em casa. [ela]… me arrependo do dia em que casei contigo. Me arrependo do dia em que parei os meus estudos porque me engravidei de ti. Me arrependo de ter desistido do Banco para poder cuidar das crianças. Eu era uma criança a tentar experimentar as coisas de adultos. Não és o único cansado dessa situação. Eu estou mais cansada do que tu. És um homem parado Patrício, nunca resolves nada aqui em casa, para tudo tenho que chamar sempre alguém, se é para substituir lâmpada, consertar interruptor, daqui a pouco chamo também um aí para me consertar. Vens do serviço mas és daqueles homens que nunca traz nada, nem mesmo um saco vazio você traz. Não te lembras dos nossos filhos. Nunca te importas, não queres saber o que lhes aconteceu durante o dia. És um mulherengo a vista, me