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Novas tecnologias e psicopatologia
Diogo Frasquilho Guerreiro
Médico Psiquiatra
30 Maio 2019
Novas tecnologias?
 Não tão recentes quanto isso?... Ou talvez sim?
 3 milhões de anos: os humanos fabricam as primeira ferramentas, de
pedra, ossos, madeira, etc.
 1 a 2 milhões de anos: descoberta do fogo
 3.500 anos AC: descoberta da roda
 700-900 DC: descoberta da pólvora
 1880: Thomas Edison patenteia a lâmpada incandescente
 1958: lançamento do primeiro satélite (Sputnik), pela URSS
 1971: primeiro computador com microprocessador
 1973: primeiro telemóvel
 1990: lançamento da world wide web (internet)
 1998: nasce o Google (2003 – palavra “Googlar” surge no dicionário)
 2001: nasce a wikipedia
 2005: nasce o youtube
 2006: nasce o facebook
 2019: Smooth-talking A.I. assistants, inteligência artificial que compreende
com mais facilidade a semântica da linguagem humana
A evolução da comunicação
 Muitos milhares de anos de evolução humana vs +/- 200 anos de
evolução da comunicação em massa e imediata
A evolução do cérebro humano
 Homo sapiens - latim para "homem sábio" (nomenclatura introduzida
1758 por Carl Linnaeus). Idade: +/- 300.000 anos
Tempos de evolução comparados
 +/- 4 milhões de anos
para evoluirmos para
homo sapiens sapiens
 +/- 200 anos de evolução da
comunicação em massa e
imediata
VS
Isto levanta algumas questões...
 Estará o nosso cérebro adaptado a estes avanços
tecnológicos, especialmente no que concerne às tecnologias
da informação e comunicação em massa?
 Tempo de evolução “natural” vs “pressão tecnológica”
 Quais os efeitos que a nova realidade (ecossistema atual do ser
humano) têm no corpo (e cérebro) humano?
 Não há dúvidas que a espécie humana contínua a evoluir, mas o
tempo para a “evolução genética” conta-se em “milhares de anos” -
Stock JT (2008),EMBO reports.
 Estaremos no limite da nossa capacidade de adaptação ao
stress ambiental?
 Terá esta evolução tecnológica ultrarrápida consequências ao
nível da nossa saúde mental?
 Poderá responsabilizar-se a tecnologia por psicopatologia?
Long story short
Ainda não tivemos tempo suficiente para
saber as respostas a estas perguntas!
Mas algumas coisas já sabemos...
 A forma como os adolescentes de hoje aprendem, brincam e interagem
mudou mais nos últimos 15 anos do que nos 570 anteriores desde
a popularização da imprensa escrita por Gutenberg.
 A Internet, os iPads, os telefones celulares, o Google, o Twitter, o Facebook
e outras “maravilhas modernas” fornecem uma enorme quantidade de
informações para o cérebro adolescente
 2010: Adolescentes dos EUA passam em média 8.5h/dia em interação
com tecnologia digital (uma subida de 6.5h/dia desde 2006)
 30% desde tempo a usar mais do que um aparelho
 Mas porque é que isto interessa?...
Giedd JN (2012). The digital revolution and adolescent brain evolution. J Adolesc Health
Cérebro em desenvolvimento
 Cérebro adolescente = Work in progress!
Gogtay N , et al (2004). Dynamic mapping of human cortical development during childhood through early adulthood.
Proceedings of the National Academy of Sciences
 Maturação do cérebro
vai até bem para lá dos
20 anos
 Córtex frontal, sede das
“funções executivas”
(planeamento, decisões
morais, memória de
trabalho, controle de
impulsos) é das últimas
áreas do cérebro a
amadurecer.
 Pelos 12 anos o cérebro
começa a eliminar as
ligações em excesso,
(pruning), preservando
apenas aquelas que são
úteis
“Use it or lose it”
 Tendo em conta as extensa mudanças que ocorrem (naturalmente) no
cérebro durante a nossa infância, adolescência e inicio da vida adulta
e...
 ...sabendo a seleção das ligações entre os neurónios, ocorre baseada
num fundamento “utiliza-os ou perde-os”. Então não será
surpreendente que:
 A forma como a criança e o adolescente estimulam o cérebro é decisiva”
 O tipo de interações sociais que estabelecem é decisiva (online ou offline)!
 A exposição a fatores “neurotóxicos” (substâncias, stress crónico,
adversidades precoces) pode perturbar o desenvolvimento!
 As “novas tecnologias” estarão certamente a mudar a forma de
desenvolvimento do cérebro dos nossos jovens!
Shors TJ et al (2012). Use it or lose it: how neurogenesis keeps the brain fit for learning. Behav Brain Res.
Voltando ao tema...
 Que evidências temos sobre o uso de novas tecnologias e
psicopatologia?
 Redes sociais – depressão e ansiedade
 Videojogos – impulsividade e problemas de atenção
 Desafios “online” – comportamentos autolesivos e suicídio
 Tecnologia no local de trabalho – “multitasking” e stress
Redes sociais
 Estudo longitudinal, n= 1730, idades
entre 19-32 anos, EUA
 Caracterização do padrão de uso de
redes sociais:
 Tempo, frequência, número de
plataformas, padrão de uso problemático,
intensidade emocional
 Análise de clusters (grupos de acordos com
padrão uso)
 Avaliação de sintomas depressivos e
ansiosos
Shensa A, et al (2018). Social Media Use and Depression and Anxiety
Symptoms: A Cluster Analysis. Am J Health Behav.
Percentagens de “high”?
• Tempo: > 60mn/dia
• Frequência: > 30 visitas/ semana
• Plataformas múltiplas: > 3 redes
Redes sociais
Shensa A, et al (2018). Social Media Use and Depression and Anxiety Symptoms: A Cluster Analysis. Am J Health Behav.
Offline
Uso
moderado
Uso muito
intenso
Uso
problemático
• Uso problemático: Escala
• Intensidade: Escala
Redes sociais
Shensa A, et al (2018). Social Media Use and Depression and Anxiety Symptoms: A Cluster Analysis. Am J Health Behav.
Offline
Uso
moderado
Uso muito
intenso
Risco 2 a 3x superior de depressão e ansiedade
Dependendo do padrão de uso
Uso
problemático
Redes sociais
Seabrook EM, et al (2016). Social Networking Sites, Depression, and Anxiety: A Systematic Review. JMIR Ment Health.
 Mas também existem estudos que revelam aspetos positivos na
utilização de redes sociais:
 Utilizadores com ansiedade social ou em estados de isolamento podem
beneficiar destas tecnologias:
 Aumento das interações sociais
 Suporte social ou de grupo
 Interações positivas com outros utilizadores
 Tal como na ”vida real” tudo depende da qualidade das interações, da
forma cognitiva e emocional como é vivida o uso das redes sociais.
 A vasta literatura neste campo é pautada por resultados muito
contraditórios e o caso “permanece em aberto”
Redes sociais
Seabrook EM, et al (2016). Social Networking Sites, Depression, and Anxiety: A Systematic Review. JMIR Ment Health.
 Fatores que estão associados a piores resultados ao nível da
depressão e ansiedade:
 Interações sociais negativas (comentar negativamente, “gozar”, “dizer
mal”, “cyberbullying”)
 Comparações sociais frequentes (“quem me der ter esta vida”, “ele tem
mais amigos”, “eu sou mais feio”)
 Uso problemático (“vício de redes sociais”)
 Estilo cognitivo do tipo ruminativo (“não consigo deixar de pensar
naquele post ou naquela fotografia”)
 Estilo cognitivo inflexível ou demasiado exigente (“eu tenho de conseguir
ter o que ele tem”, “se não consigo aquela vida então não quero mais nada”)
Videojogos
 Estudo longitudinal, n= 3,034, idades entre 8-17 anos, seguimento ao
longo de 3 anos, Singapura
 Caracterização do padrão de uso de videojogos:
 Horas de uso, altura do dia, dia de escola vs dias livres, videojogos
violentos (calculados pela “mortandade” de criaturas ou pessoas numa escala de
likert)
 Avaliação de atenção (Current ADHD Symptoms Scale Self-Report),
impulsividade (Barratt Impulsiveness Scale) e performance escolar
Gentile DA, et al (2012). Video game playing, attention problems, and
impulsiveness: Evidence of bidirectional causality. Psyc Pop Med Cult
Videojogos
 Preditores de problemas de atenção e impulsividade:
 Tempo total utilizado a jogar videojogos (o mais robusto fator preditor)
 Uso preferencial de jogos violentos (aumenta ainda mais o risco)
 Sexo, idade, estatuto socioeconómico não mostraram ser fatores
moderadores
 Por outro lado, jovens que previamente apresentavam
problemas de atenção e impulsividade têm maior propensão
para:
 Maior Tempo total utilizado a jogar videojogos
 Maior uso preferencial de jogos violentos
 E já agora: > impulsividade e >desatenção levaram a pior performance
escolar
Gentile DA, et al (2012). Video game playing, attention problems, and impulsiveness: Evidence of bidirectional causality.
Psyc Pop Med Cult
Um ciclo vicioso?
Videojogos
 Mas, mais uma vez, as evidências podem ser contraditórias!
 Uso de videojogos (dos jovens a idosos) também tem sido associado a:
 Melhoria de perícias cognitivas, nomeadamente velocidade de
processamento e tempo de reação – jogos de ação, aventura e puzzles
 Melhores resultados ao nível da memória de trabalho visual e espacial
 Indução de emoções positivas e redução dos níveis de stress (em adultos
saudáveis)
 Mais uma vez temos um “caso em aberto”, o uso de videojogos pode
aumentar ou diminuir a psicopatologia...
 Com certeza dependente do padrão de uso de videojogos, dos videojogos
em si, de fatores individuais, de risco de psicopatologia e de uma
multiplicidade de variáveis psicossociais.
Pallavicini F, et al (2018). Video Games for Well-Being: A Systematic Review on the Application of Computer Games for
Cognitive and Emotional Training in the Adult Population
Desafios online
 Adolescentes incentivados a cumprir
“desafios” por “curadores” anónimos:
 Comportamentos de risco
 Comportamentos autolesivos
 Suicídio?
 Jovens abordados através de redes sociais
(whatsapp) e jogos online (minecraft)
 Baleia Azul ou desafio Momo
 “Acorda a meio da noite”
 “Vê um filme de terror”
 “Corta o braço na forma de uma baleia”
 “Não contes a ninguém”
 Etc...
Desafios online
 Número incerto de casos
 Mas que os há, há...
 Sobretudo adolescentes mais jovens
 Suicídios consumados?
 Grande alarme a nível social
 Media
 Ativação das unidades de cibercrime
 Criador do desafio Baleia Azul, jovem Russo de 21 anos, atualmente preso
por incentivo ao suicídio de 16 jovens e que alega:
 “O objetivo era limpar a sociedade”
 “As vitimas eram lixo biológico”
Lupariello F et al (2019). Self-harm Risk Among Adolescents and the Phenomenon of the "Blue Whale Challenge": Case
Series and Review of the Literature.. J Forensic Sci.
Desafios online
A autolesão em adolescentes é presentemente vista como o resultado de
uma complexa interação entre fatores genéticos, biológicos,
psiquiátricos, psicológicos, sociais e culturais.
(Hawton et al., 2012)
Doença Psiquiátrica Genética Neurobiologia
Fatores Psicológicos Fatores Sociais Fatores culturais
Comportamentos
autolesivos/ atos suicidas
Desafios online
 Existem pessoas “más”
 Perturbação de Personalidade Antissocial – vulgo “psicopata”
 Existem jovens com vulnerabilidades para autolesão e suicídio:
 Doença psiquiátrica
 Disfunção familiar
 Impulsividade
 Abuso substâncias
 Situações de stress psicossocial
 Poucos recursos de coping adaptativos
 Experiências adversas precoces
 Exposição ao suicídio e comportamentos autolesivos
 Isolamento social
Guerreiro DF et al (2013). Comportamentos autolesivos em adolescentes: uma revisão da literatura com foco na
investigação em língua portuguesa. Rev. Port. Sau. Pub
Desafios online
 Uma “combinação perigosa”:
 Pessoas “más”
 Jovens com vulnerabilidades (e mais facilmente manipuláveis)
 Facilidade de acesso, anónimo, através de media digital
 Pode levar, de facto, ao aumento dos comportamentos autolesivos
(CAL) numa população específica:
 Números imprecisos...
 Qual a preponderância do “desafio” em si? Muitos destes jovens já
apresentavam CAL antes da exposição ao desafio...
 Uma vez começados os CAL tendem a ser cada vez mais repetitivos e
mais perigosos
 Os CAL são o principal preditor de suicídio consumado em jovens!
Lupariello F et al (2019). Self-harm Risk Among Adolescents and the Phenomenon of the "Blue Whale Challenge": Case
Series and Review of the Literature. J Forensic Sci.
Desafios online
 Internet e suicídio:
 Sites pró-suicídio vs Sites de prevenção de suicídio
 Fóruns de partilha de comportamentos autolesivos ou métodos de
suicídio vs Fóruns de apoio
 Informação adequada vs desadequada
 Desafios online vs Apps e sites de promoção de saúde mental
 Um claro ponto de interseção entre “novas tecnologias” e
“psicopatologia”
 Para o bem e para o mal!
 Sem dúvida:
 Algo para os clínicos, decisores e população em geral terem em conta!
Biddle L, et al (20118). Using the internet for suicide-related purposes: Contrasting findings from young people in the
community and self-harm patients admitted to hospital. PLoS One
Tecnologia, trabalho e multitasking
 O nosso “hardware” (cérebro) permite
multitasking?
 R: Não!
 O busílis da questão:
 Mais do que em algum tempo na
história do Homem, se pretende que
jovens e adultos (e mesmo crianças e
idosos!), acompanhem o “ritmo das
coisas”
 O “verdadeiro profissional” deve estar
sempre a par de tudo, contactável
24/24h, 7/7 dias. Sabendo tudo,
tratando de várias tarefas ao mesmo
tempo.
Rothbart MK, et al (2015). The developing brain in a multitasking world. Dev
Rev.
Tecnologia, trabalho e multitasking
 O que é que o nosso “hardware” (cérebro) permite?
 Fracionar a capacidade de atenção, mudando o foco rapidamente de
uma tarefa para a outra
 Resistir a distrações
 Estas capacidades dependem principalmente da rede de atenção
executiva (que incluí o cingulado anterior, a ínsula anterior e o corpo
estriado) e a sua “eficácia” varia de pessoa para pessoa:
 Depende da conectividade e eficiência dos circuitos neuronais
Rothbart MK, et al (2015). The developing brain in a multitasking world. Dev Rev.
Tecnologia, trabalho e multitasking
 Estudo laboratorial de 21 adultos saudáveis
 Método: “The multitasking Framework” – 8 tarefas, apresentadas de forma
singular ou até 4 ao mesmo tempo num ecrã.
Tecnologia, trabalho e multitasking
 Avaliou-se:
 Reatividade cardiovascular
 Intensidade do trabalho não mostrou efeito significativo
 “Multitasking” (durante 15mn!) levou a aumento da frequência
cardíaca, dos valores de tensão arterial e maior tempo de
recuperação pós-exposição.
 Reatividade emocional
 Aumento da intensidade tem relação dose-resposta (potenciada por
“multitasking”) com:
 Aumento do estado de alerta e maior tempo de recuperação
 Diminuição nos níveis de calma (“calmness”) e maior TDR.
 Diminuição dos níveis de contentamento com a tarefa
Wetherell MA, et al (2014), The Multitasking Framework: The Effects of Increasing Workload on Acute Psychobiological
Stress Reactivity. Stress Health
Tecnologia, trabalho e multitasking
 E aquilo que se vê no dia a dia:
Wetherell MA, et al (2014), The Multitasking Framework: The Effects of Increasing Workload on Acute Psychobiological
Stress Reactivity. Stress Health
Tecnologia, trabalho e multitasking
 O que a investigação nos diz sobre os risco do multitasking:
 Pode atrofiar o nosso cérebro – menor densidade matéria cinzenta no
córtex anterior cingulado (Loh KK, 2014, PLoS One)
 Pode levar a problemas de memória (Uncapher MR, 2016, Psychon Bull Rer)
 Pode aumentar a distratibilidade (Moisala M, 2016, NeuroImage)
 Pode levar a mais acidentes de viação (Nijboer M, 2016, Front Psychol)
 Pode levar a redução da performance académica e escolar (Rothbart MK,
2015, Dev Ver)
 Pode levar a mais quedas e fraturas nos idosos (Johansson J, 2016, J Am Med
Dir Assoc.)
 Pode prejudicar as nossas relações íntimas – medindo qualidade da
relação e intensidade do uso do smartphone (Amichai-Hamburger Y, 2016, Psychol
Rep.)
 Pode levar a aumento dos marcadores de stress crónico – resistência
ao cortisol, hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (Wetherell
MA, 2017, Neurobiol Stress)
Sugestão de leitura
 A propósito deste tema:
 “A mente organizada: Como pensar
com clareza na era da sobrecarga de
informação”
 Daniel Levitin:
 Neurocientista, psicólogo cognitivista,
músico, escritor e produtor de música
 Professor psicologia e neurociência
comportamental. Universidade
McGill, Montreal, Canadá
 É possível fazer muita coisa e ser
produtivo não fazendo multitasking!
Em jeito de conclusão
 Cérebro “velho” vs “novas tecnologias”
 Mas sabemos que a cérebro (e o ser humano) está em constante evolução...
 A tecnologia também...
 Quem vai ganhar a corrida?
 Exposição às “novas tecnologias” é inevitável
 Psicopatologia está claramente associada a novas tecnologias
 Mas qual a direção da associação? (Pessoas com mais psicopatologia de
base tendem a ter mais risco de psicopatologia associada às novas
tecnologias)
 Claramente depende da quantidade e forma de uso da tecnologia
 Encontram-se riscos e benefícios na exposição à tecnologia
VS
Muito obrigado pela atenção
Novas tecnologias e psicopatologia
Diogo Frasquilho Guerreiro
dr.diogo.guerreiro@gmail.com
reflexoesdeumpsiquiatra.com

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  • 1. Novas tecnologias e psicopatologia Diogo Frasquilho Guerreiro Médico Psiquiatra 30 Maio 2019
  • 2. Novas tecnologias?  Não tão recentes quanto isso?... Ou talvez sim?  3 milhões de anos: os humanos fabricam as primeira ferramentas, de pedra, ossos, madeira, etc.  1 a 2 milhões de anos: descoberta do fogo  3.500 anos AC: descoberta da roda  700-900 DC: descoberta da pólvora  1880: Thomas Edison patenteia a lâmpada incandescente  1958: lançamento do primeiro satélite (Sputnik), pela URSS  1971: primeiro computador com microprocessador  1973: primeiro telemóvel  1990: lançamento da world wide web (internet)  1998: nasce o Google (2003 – palavra “Googlar” surge no dicionário)  2001: nasce a wikipedia  2005: nasce o youtube  2006: nasce o facebook  2019: Smooth-talking A.I. assistants, inteligência artificial que compreende com mais facilidade a semântica da linguagem humana
  • 3. A evolução da comunicação  Muitos milhares de anos de evolução humana vs +/- 200 anos de evolução da comunicação em massa e imediata
  • 4. A evolução do cérebro humano  Homo sapiens - latim para "homem sábio" (nomenclatura introduzida 1758 por Carl Linnaeus). Idade: +/- 300.000 anos
  • 5. Tempos de evolução comparados  +/- 4 milhões de anos para evoluirmos para homo sapiens sapiens  +/- 200 anos de evolução da comunicação em massa e imediata VS
  • 6. Isto levanta algumas questões...  Estará o nosso cérebro adaptado a estes avanços tecnológicos, especialmente no que concerne às tecnologias da informação e comunicação em massa?  Tempo de evolução “natural” vs “pressão tecnológica”  Quais os efeitos que a nova realidade (ecossistema atual do ser humano) têm no corpo (e cérebro) humano?  Não há dúvidas que a espécie humana contínua a evoluir, mas o tempo para a “evolução genética” conta-se em “milhares de anos” - Stock JT (2008),EMBO reports.  Estaremos no limite da nossa capacidade de adaptação ao stress ambiental?  Terá esta evolução tecnológica ultrarrápida consequências ao nível da nossa saúde mental?  Poderá responsabilizar-se a tecnologia por psicopatologia?
  • 7. Long story short Ainda não tivemos tempo suficiente para saber as respostas a estas perguntas!
  • 8. Mas algumas coisas já sabemos...  A forma como os adolescentes de hoje aprendem, brincam e interagem mudou mais nos últimos 15 anos do que nos 570 anteriores desde a popularização da imprensa escrita por Gutenberg.  A Internet, os iPads, os telefones celulares, o Google, o Twitter, o Facebook e outras “maravilhas modernas” fornecem uma enorme quantidade de informações para o cérebro adolescente  2010: Adolescentes dos EUA passam em média 8.5h/dia em interação com tecnologia digital (uma subida de 6.5h/dia desde 2006)  30% desde tempo a usar mais do que um aparelho  Mas porque é que isto interessa?... Giedd JN (2012). The digital revolution and adolescent brain evolution. J Adolesc Health
  • 9. Cérebro em desenvolvimento  Cérebro adolescente = Work in progress! Gogtay N , et al (2004). Dynamic mapping of human cortical development during childhood through early adulthood. Proceedings of the National Academy of Sciences  Maturação do cérebro vai até bem para lá dos 20 anos  Córtex frontal, sede das “funções executivas” (planeamento, decisões morais, memória de trabalho, controle de impulsos) é das últimas áreas do cérebro a amadurecer.  Pelos 12 anos o cérebro começa a eliminar as ligações em excesso, (pruning), preservando apenas aquelas que são úteis
  • 10. “Use it or lose it”  Tendo em conta as extensa mudanças que ocorrem (naturalmente) no cérebro durante a nossa infância, adolescência e inicio da vida adulta e...  ...sabendo a seleção das ligações entre os neurónios, ocorre baseada num fundamento “utiliza-os ou perde-os”. Então não será surpreendente que:  A forma como a criança e o adolescente estimulam o cérebro é decisiva”  O tipo de interações sociais que estabelecem é decisiva (online ou offline)!  A exposição a fatores “neurotóxicos” (substâncias, stress crónico, adversidades precoces) pode perturbar o desenvolvimento!  As “novas tecnologias” estarão certamente a mudar a forma de desenvolvimento do cérebro dos nossos jovens! Shors TJ et al (2012). Use it or lose it: how neurogenesis keeps the brain fit for learning. Behav Brain Res.
  • 11. Voltando ao tema...  Que evidências temos sobre o uso de novas tecnologias e psicopatologia?  Redes sociais – depressão e ansiedade  Videojogos – impulsividade e problemas de atenção  Desafios “online” – comportamentos autolesivos e suicídio  Tecnologia no local de trabalho – “multitasking” e stress
  • 12. Redes sociais  Estudo longitudinal, n= 1730, idades entre 19-32 anos, EUA  Caracterização do padrão de uso de redes sociais:  Tempo, frequência, número de plataformas, padrão de uso problemático, intensidade emocional  Análise de clusters (grupos de acordos com padrão uso)  Avaliação de sintomas depressivos e ansiosos Shensa A, et al (2018). Social Media Use and Depression and Anxiety Symptoms: A Cluster Analysis. Am J Health Behav.
  • 13. Percentagens de “high”? • Tempo: > 60mn/dia • Frequência: > 30 visitas/ semana • Plataformas múltiplas: > 3 redes Redes sociais Shensa A, et al (2018). Social Media Use and Depression and Anxiety Symptoms: A Cluster Analysis. Am J Health Behav. Offline Uso moderado Uso muito intenso Uso problemático • Uso problemático: Escala • Intensidade: Escala
  • 14. Redes sociais Shensa A, et al (2018). Social Media Use and Depression and Anxiety Symptoms: A Cluster Analysis. Am J Health Behav. Offline Uso moderado Uso muito intenso Risco 2 a 3x superior de depressão e ansiedade Dependendo do padrão de uso Uso problemático
  • 15. Redes sociais Seabrook EM, et al (2016). Social Networking Sites, Depression, and Anxiety: A Systematic Review. JMIR Ment Health.  Mas também existem estudos que revelam aspetos positivos na utilização de redes sociais:  Utilizadores com ansiedade social ou em estados de isolamento podem beneficiar destas tecnologias:  Aumento das interações sociais  Suporte social ou de grupo  Interações positivas com outros utilizadores  Tal como na ”vida real” tudo depende da qualidade das interações, da forma cognitiva e emocional como é vivida o uso das redes sociais.  A vasta literatura neste campo é pautada por resultados muito contraditórios e o caso “permanece em aberto”
  • 16. Redes sociais Seabrook EM, et al (2016). Social Networking Sites, Depression, and Anxiety: A Systematic Review. JMIR Ment Health.  Fatores que estão associados a piores resultados ao nível da depressão e ansiedade:  Interações sociais negativas (comentar negativamente, “gozar”, “dizer mal”, “cyberbullying”)  Comparações sociais frequentes (“quem me der ter esta vida”, “ele tem mais amigos”, “eu sou mais feio”)  Uso problemático (“vício de redes sociais”)  Estilo cognitivo do tipo ruminativo (“não consigo deixar de pensar naquele post ou naquela fotografia”)  Estilo cognitivo inflexível ou demasiado exigente (“eu tenho de conseguir ter o que ele tem”, “se não consigo aquela vida então não quero mais nada”)
  • 17. Videojogos  Estudo longitudinal, n= 3,034, idades entre 8-17 anos, seguimento ao longo de 3 anos, Singapura  Caracterização do padrão de uso de videojogos:  Horas de uso, altura do dia, dia de escola vs dias livres, videojogos violentos (calculados pela “mortandade” de criaturas ou pessoas numa escala de likert)  Avaliação de atenção (Current ADHD Symptoms Scale Self-Report), impulsividade (Barratt Impulsiveness Scale) e performance escolar Gentile DA, et al (2012). Video game playing, attention problems, and impulsiveness: Evidence of bidirectional causality. Psyc Pop Med Cult
  • 18. Videojogos  Preditores de problemas de atenção e impulsividade:  Tempo total utilizado a jogar videojogos (o mais robusto fator preditor)  Uso preferencial de jogos violentos (aumenta ainda mais o risco)  Sexo, idade, estatuto socioeconómico não mostraram ser fatores moderadores  Por outro lado, jovens que previamente apresentavam problemas de atenção e impulsividade têm maior propensão para:  Maior Tempo total utilizado a jogar videojogos  Maior uso preferencial de jogos violentos  E já agora: > impulsividade e >desatenção levaram a pior performance escolar Gentile DA, et al (2012). Video game playing, attention problems, and impulsiveness: Evidence of bidirectional causality. Psyc Pop Med Cult Um ciclo vicioso?
  • 19. Videojogos  Mas, mais uma vez, as evidências podem ser contraditórias!  Uso de videojogos (dos jovens a idosos) também tem sido associado a:  Melhoria de perícias cognitivas, nomeadamente velocidade de processamento e tempo de reação – jogos de ação, aventura e puzzles  Melhores resultados ao nível da memória de trabalho visual e espacial  Indução de emoções positivas e redução dos níveis de stress (em adultos saudáveis)  Mais uma vez temos um “caso em aberto”, o uso de videojogos pode aumentar ou diminuir a psicopatologia...  Com certeza dependente do padrão de uso de videojogos, dos videojogos em si, de fatores individuais, de risco de psicopatologia e de uma multiplicidade de variáveis psicossociais. Pallavicini F, et al (2018). Video Games for Well-Being: A Systematic Review on the Application of Computer Games for Cognitive and Emotional Training in the Adult Population
  • 20. Desafios online  Adolescentes incentivados a cumprir “desafios” por “curadores” anónimos:  Comportamentos de risco  Comportamentos autolesivos  Suicídio?  Jovens abordados através de redes sociais (whatsapp) e jogos online (minecraft)  Baleia Azul ou desafio Momo  “Acorda a meio da noite”  “Vê um filme de terror”  “Corta o braço na forma de uma baleia”  “Não contes a ninguém”  Etc...
  • 21. Desafios online  Número incerto de casos  Mas que os há, há...  Sobretudo adolescentes mais jovens  Suicídios consumados?  Grande alarme a nível social  Media  Ativação das unidades de cibercrime  Criador do desafio Baleia Azul, jovem Russo de 21 anos, atualmente preso por incentivo ao suicídio de 16 jovens e que alega:  “O objetivo era limpar a sociedade”  “As vitimas eram lixo biológico” Lupariello F et al (2019). Self-harm Risk Among Adolescents and the Phenomenon of the "Blue Whale Challenge": Case Series and Review of the Literature.. J Forensic Sci.
  • 22. Desafios online A autolesão em adolescentes é presentemente vista como o resultado de uma complexa interação entre fatores genéticos, biológicos, psiquiátricos, psicológicos, sociais e culturais. (Hawton et al., 2012) Doença Psiquiátrica Genética Neurobiologia Fatores Psicológicos Fatores Sociais Fatores culturais Comportamentos autolesivos/ atos suicidas
  • 23. Desafios online  Existem pessoas “más”  Perturbação de Personalidade Antissocial – vulgo “psicopata”  Existem jovens com vulnerabilidades para autolesão e suicídio:  Doença psiquiátrica  Disfunção familiar  Impulsividade  Abuso substâncias  Situações de stress psicossocial  Poucos recursos de coping adaptativos  Experiências adversas precoces  Exposição ao suicídio e comportamentos autolesivos  Isolamento social Guerreiro DF et al (2013). Comportamentos autolesivos em adolescentes: uma revisão da literatura com foco na investigação em língua portuguesa. Rev. Port. Sau. Pub
  • 24. Desafios online  Uma “combinação perigosa”:  Pessoas “más”  Jovens com vulnerabilidades (e mais facilmente manipuláveis)  Facilidade de acesso, anónimo, através de media digital  Pode levar, de facto, ao aumento dos comportamentos autolesivos (CAL) numa população específica:  Números imprecisos...  Qual a preponderância do “desafio” em si? Muitos destes jovens já apresentavam CAL antes da exposição ao desafio...  Uma vez começados os CAL tendem a ser cada vez mais repetitivos e mais perigosos  Os CAL são o principal preditor de suicídio consumado em jovens! Lupariello F et al (2019). Self-harm Risk Among Adolescents and the Phenomenon of the "Blue Whale Challenge": Case Series and Review of the Literature. J Forensic Sci.
  • 25. Desafios online  Internet e suicídio:  Sites pró-suicídio vs Sites de prevenção de suicídio  Fóruns de partilha de comportamentos autolesivos ou métodos de suicídio vs Fóruns de apoio  Informação adequada vs desadequada  Desafios online vs Apps e sites de promoção de saúde mental  Um claro ponto de interseção entre “novas tecnologias” e “psicopatologia”  Para o bem e para o mal!  Sem dúvida:  Algo para os clínicos, decisores e população em geral terem em conta! Biddle L, et al (20118). Using the internet for suicide-related purposes: Contrasting findings from young people in the community and self-harm patients admitted to hospital. PLoS One
  • 26. Tecnologia, trabalho e multitasking  O nosso “hardware” (cérebro) permite multitasking?  R: Não!  O busílis da questão:  Mais do que em algum tempo na história do Homem, se pretende que jovens e adultos (e mesmo crianças e idosos!), acompanhem o “ritmo das coisas”  O “verdadeiro profissional” deve estar sempre a par de tudo, contactável 24/24h, 7/7 dias. Sabendo tudo, tratando de várias tarefas ao mesmo tempo. Rothbart MK, et al (2015). The developing brain in a multitasking world. Dev Rev.
  • 27. Tecnologia, trabalho e multitasking  O que é que o nosso “hardware” (cérebro) permite?  Fracionar a capacidade de atenção, mudando o foco rapidamente de uma tarefa para a outra  Resistir a distrações  Estas capacidades dependem principalmente da rede de atenção executiva (que incluí o cingulado anterior, a ínsula anterior e o corpo estriado) e a sua “eficácia” varia de pessoa para pessoa:  Depende da conectividade e eficiência dos circuitos neuronais Rothbart MK, et al (2015). The developing brain in a multitasking world. Dev Rev.
  • 28. Tecnologia, trabalho e multitasking  Estudo laboratorial de 21 adultos saudáveis  Método: “The multitasking Framework” – 8 tarefas, apresentadas de forma singular ou até 4 ao mesmo tempo num ecrã.
  • 29. Tecnologia, trabalho e multitasking  Avaliou-se:  Reatividade cardiovascular  Intensidade do trabalho não mostrou efeito significativo  “Multitasking” (durante 15mn!) levou a aumento da frequência cardíaca, dos valores de tensão arterial e maior tempo de recuperação pós-exposição.  Reatividade emocional  Aumento da intensidade tem relação dose-resposta (potenciada por “multitasking”) com:  Aumento do estado de alerta e maior tempo de recuperação  Diminuição nos níveis de calma (“calmness”) e maior TDR.  Diminuição dos níveis de contentamento com a tarefa Wetherell MA, et al (2014), The Multitasking Framework: The Effects of Increasing Workload on Acute Psychobiological Stress Reactivity. Stress Health
  • 30. Tecnologia, trabalho e multitasking  E aquilo que se vê no dia a dia: Wetherell MA, et al (2014), The Multitasking Framework: The Effects of Increasing Workload on Acute Psychobiological Stress Reactivity. Stress Health
  • 31. Tecnologia, trabalho e multitasking  O que a investigação nos diz sobre os risco do multitasking:  Pode atrofiar o nosso cérebro – menor densidade matéria cinzenta no córtex anterior cingulado (Loh KK, 2014, PLoS One)  Pode levar a problemas de memória (Uncapher MR, 2016, Psychon Bull Rer)  Pode aumentar a distratibilidade (Moisala M, 2016, NeuroImage)  Pode levar a mais acidentes de viação (Nijboer M, 2016, Front Psychol)  Pode levar a redução da performance académica e escolar (Rothbart MK, 2015, Dev Ver)  Pode levar a mais quedas e fraturas nos idosos (Johansson J, 2016, J Am Med Dir Assoc.)  Pode prejudicar as nossas relações íntimas – medindo qualidade da relação e intensidade do uso do smartphone (Amichai-Hamburger Y, 2016, Psychol Rep.)  Pode levar a aumento dos marcadores de stress crónico – resistência ao cortisol, hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (Wetherell MA, 2017, Neurobiol Stress)
  • 32. Sugestão de leitura  A propósito deste tema:  “A mente organizada: Como pensar com clareza na era da sobrecarga de informação”  Daniel Levitin:  Neurocientista, psicólogo cognitivista, músico, escritor e produtor de música  Professor psicologia e neurociência comportamental. Universidade McGill, Montreal, Canadá  É possível fazer muita coisa e ser produtivo não fazendo multitasking!
  • 33. Em jeito de conclusão  Cérebro “velho” vs “novas tecnologias”  Mas sabemos que a cérebro (e o ser humano) está em constante evolução...  A tecnologia também...  Quem vai ganhar a corrida?  Exposição às “novas tecnologias” é inevitável  Psicopatologia está claramente associada a novas tecnologias  Mas qual a direção da associação? (Pessoas com mais psicopatologia de base tendem a ter mais risco de psicopatologia associada às novas tecnologias)  Claramente depende da quantidade e forma de uso da tecnologia  Encontram-se riscos e benefícios na exposição à tecnologia VS
  • 34. Muito obrigado pela atenção Novas tecnologias e psicopatologia Diogo Frasquilho Guerreiro dr.diogo.guerreiro@gmail.com reflexoesdeumpsiquiatra.com