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Olhos do Bem - Inteligˆencia artificial e inteligˆencia social em 
prol de uma cidade mais inteligente 
Diego Antonio Lusa1 
1Instituto de Ciˆencias Exatas e Geociˆencias – Universidade de Passo Fundo (UPF) 
Campus 1 - BR 285 - Passo Fundo (RS) - Brasil 
f83473g@upf.br 
Abstract. Cities grow proportionally in size and problems. Besides contributing 
to the declining quality of life, the problems experienced by cities accentuate 
social inequalities situation, evidenced by the presence of individuals in extreme 
social vulnerability. One possible means of contour difficulties experienced by 
cities refers to the application of information and communication technologies 
in order to make the cities smart in terms of infrastructure and services. In 
this paper, we propose the construction of collaborative network “Good Eyes”, 
based on the concept of smart cities and aimed specifically at combating social 
vulnerability among individuals living on the streets. 
Resumo. As cidades crescem proporcionalmente em tamanho e em problemas. 
Al´em de contribuir para o decl´ınio da qualidade de vida, os problemas vivencia-dos 
pelas cidades acentuam as desigualdades sociais, situac¸ ˜ao evidenciada pela 
presenc¸a de indiv´ıduos em condic¸ ˜oes de extrema vulnerabilidade social. Um dos 
meios poss´ıveis de contorno `as dificuldades vivenciadas pelas cidades refere-se 
a aplicac¸ ˜ao das tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao, visando tornar as 
cidades mais inteligentes em termos de infraestrutura e servic¸os. Neste artigo, 
prop˜oem-se a construc¸ ˜ao da rede colaborativa “Olhos do Bem”, embasada no 
conceito de cidades inteligentes e voltada especificamente ao combate da vul-nerabilidade 
social entre indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de rua. 
1. Introduc¸ ˜ao 
O r´apido crescimento urbano vivenciado nas ´ultimas d´ecadas tem colocado a prova os 
servic¸os e a infraestrutura das grandes cidades brasileiras. Problemas no transporte 
p´ublico, sa´ude, educac¸ ˜ao e seguranc¸a s˜ao alguns exemplos dos efeitos observados em 
raz˜ao deste crescimento desordenado. Como resultado, cria-se um ambiente ca´otico e 
estressante que reduz a qualidade de vida dos cidad˜aos, tornando a cidade um local pouco 
apraz´ıvel para se viver. 
As dificuldades enfrentadas pelos grandes centros urbanos acabam tamb´em por 
acentuar as desigualdades sociais. Criam-se locais de alta concentrac¸ ˜ao populacional, 
com infra-estrutura prec´aria e alto ´ındice de violˆencia. Em decorrˆencia dos baixos ´ındices 
de qualidade de vida observados, consolida-se um c´ırculo vicioso de pobreza e mis´eria, 
dif´ıcil de ser superado sem uma quebra abrupta de realidade. 
Neste contexto, enquadram-se tamb´em aqueles indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de rua, que 
vivem `a margem da sociedade e n˜ao usufruem de praticamente nenhum dos benef´ıcios da 
vida urbana. Dentre estes indiv´ıduos que fazem da rua seu lar encontram-se in´umeras
crianc¸as e adolescentes, que devido a dura vida entregam-se muito cedo ao crime e aos 
v´ıcios, tornando-se ref´ens da situac¸ ˜ao de mis´eria em que se encontram. 
Uma das formas de tratar os grandes problemas vivenciados pelas cidades, de 
sorte a oferecer `a populac¸ ˜ao maior qualidade de vida e trabalho, compreende aplicar tec-nologias 
de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao (TIC) no meio urbano. Por meio da tecnologia, 
as responsabilidades fundamentais da cidade s˜ao capacitadas em inteligencia e eficiˆencia, 
atendendo a populac¸ ˜ao com maior velocidade e qualidade. Este ´e o princ´ıpio fundamental 
no qual est´a embasado o conceito das cidades inteligentes. 
Mais do que simplesmente aplicar tecnologias de ponta, as cidades inteligentes 
devem preocupar-se com seus cidad˜aos. Os benef´ıcios gerados pelo uso das ferramentas 
tecnol´ogicas devem ser percebidos por todos os indiv´ıduos e n˜ao por apenas uma par-cela 
da populac¸ ˜ao. Desta forma, ´e no m´ınimo imprescind´ıvel que uma cidade inteligente 
preocupe-se com aqueles cidad˜aos que encontram-se em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade so-cial, 
em especial, com os que vivem em situac¸ ˜ao de rua. 
Com intuito de propor uma ferramenta de aux´ılio no combate a vulnerabilidade 
social, com ampla aplicabilidade no contexto de cidades inteligentes, este artigo objetiva 
apresentar a rede colaborativa “Olhos do Bem”. Para tal, na Sec¸ ˜ao 2 apresentam-se os 
conceitos fundamentais que definem as cidades inteligentes e, na Sec¸ ˜ao 3, descreve-se 
a importˆancia do elemento humano dentro deste novos ambientes urbanos. Uma vez 
apresentada a fundamentac¸ ˜ao te´orica, na Sec¸ ˜ao 4 s˜ao propostos os aspectos conceituais da 
rede “Olhos do Bem”, ressaltando-se, em espec´ıfico, as t´ecnicas de inteligˆencia artificial 
necess´arias a sua construc¸ ˜ao. Por fim, na Sec¸ ˜ao 5 apresentam-se as considerac¸ ˜oes finais 
acerca da proposta apresentada. 
2. Cidades Inteligentes 
O termo “cidade inteligente” tem se tornado muito frequente no linguajar de pol´ıticos e 
autoridades governamentais nos ´ultimos anos. Boa parte das vezes, o uso do termo est´a 
muito mais atrelado `as estrat´egias de marketing, que buscam unicamente promover uma 
melhor impress˜ao da cidade em investidores e nos pr´oprios cidad˜aos, do que propriamente 
ao verdadeiro conceito de uma cidade inteligente. 
A despeito da concepc¸ ˜ao pol´ıtica dada ao termo, observa-se que as origens do 
conceito “cidade inteligente” remontam do final da d´ecada de 90, quando se discutia novas 
pol´ıticas de planejamento urbano, baseadas na teoria do crescimento inteligente (Smart 
Growth). A partir de 2005, grandes players da ind´ustria tecnol´ogica mundial, como IBM, 
Cisco e Siemens passaram a fazer uso da express˜ao para designar um aglomerado de 
tecnologias e sistemas de informac¸ ˜ao voltados `a interoperabilidade da infraestrutura e de 
servic¸os urbanos [Harrison and Donnelly 2011]. 
´E 
necess´ario ter em mente, contudo, que o conceito de cidade inteligente n˜ao est´a 
restrito `a aplicac¸ ˜ao de tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao em determinado meio 
urbano. De fato, as TICs apresentam-se como meios e n˜ao como fim neste contexto. Uma 
cidade inteligente ´e um local onde as TICs elevam as condic¸ ˜oes de vida, de trabalho e de 
sustentabilidade [Berst 2013]. Desta forma, a cidade inteligente faz uso da informac¸ ˜ao e 
da tecnologia para tornar sua infraestrutura cr´ıtica, componentes e utilidades mais atrati-vos 
e eficientes, visando proporcionar uma melhor percepc¸ ˜ao dos mesmos aos cidad˜aos 
[Committee of Digital and Knowledge-based Cities 2014].
Basicamente, uma cidade inteligente deve prezar pela obtenc¸ ˜ao de melhores 
´ındices de qualidade de vida, de trabalho e de sustentabilidade. A qualidade de vida 
est´a relacionada com um estilo de vida direcionado ao conforto, `a sa´ude e ao comprome-timento 
com o meio onde vive-se. Enquadram-se neste cen´ario, por exemplo, a presenc¸a 
de escolas de boa qualidade, ar e ´agua sem poluentes, servic¸os de emergˆencia de r´apida 
atuac¸ ˜ao, entretenimento e baixos ´ındices de violˆencia. Por sua vez, as melhores condic¸ ˜oes 
de trabalho referem-se a uma maior oferta de empregos de melhor qualidade dentro do 
ambiente urbano. J´a a quest˜ao da sustentabilidade direciona esforc¸os para o uso mais 
consciente dos recursos naturais de toda ordem, buscando garantir que as gerac¸ ˜oes futu-ras 
tenham condic¸ ˜oes de usufru´ı-los [Berst 2013]. 
Segundo Azkuna [2012], as cidades inteligentes re´unem seis importantes campos 
de atuac¸ ˜ao, os quais podem ser observados tamb´em pela perspectiva de fatores de de-sempenho. 
Estes campos-chave referem-se a economia, mobilidade, ambiente, cidad˜aos, 
qualidade de vida e gest˜ao. J´a na vis˜ao de Berst [2013], uma cidade inteligente ´e vista 
como uma relac¸ ˜ao entre responsabilidades e aspectos habilitadores. As responsabilidades 
referem-se aos servic¸os fundamentais providos pela cidade a seus cidad˜aos e os aspectos 
habilitadores s˜ao tecnologias e outras forc¸as transformadoras que tem a incumbˆencia de 
tornar as responsabilidades essenciais da cidade mais inteligentes. 
As cidades inteligentes, al´em de eficientes, precisam preservar as oportunidades 
para a espontaneidade, serendipidade (descobrir coisas agrad´aveis por acaso) e sociabi-lidade. 
Os cidad˜aos que vivem na cidade n˜ao podem tornar-se meros fantoches, direcio-nados 
e controlados pelos elementos tecnol´ogicos [Townsend 2013]. Em vista disso, as 
cidades inteligentes devem sempre considerar como pilar fundamental de sua construc¸ ˜ao 
o elemento humano. 
3. A importˆancia do elemento humano nas cidades inteligentes 
Independentemente do modelo conceitual associado a uma cidade inteligente, para todos 
eles o cidad˜ao, tanto na sua forma individual quanto coletiva, representa o elo funda-mental. 
Uma cidade inteligente ´e constru´ıda por pessoas para pessoas. Por isso, qual-quer 
iniciativa promovida deve contar com o engajamento dos cidad˜aos, que precisam ser 
considerados e consultados em todos os momentos [Berst 2013, Townsend 2013]. Al´em 
disso, os benef´ıcios diretos ou indiretos da construc¸ ˜ao de uma cidade inteligente devem 
estar direcionados `a elevac¸ ˜ao da qualidade de vida dos cidad˜aos em todos os aspectos 
poss´ıveis. 
Cada cidade apresenta uma realidade distinta. Quando considera-se pa´ıses desen-volvidos, 
as cidades em sua grande maioria naturalmente apresentam melhores condic¸ ˜oes 
de vida se comparadas a cidades de pa´ıses em desenvolvimento. Isso pressup˜oe que o 
processo de implantac¸ ˜ao de uma cidade inteligente est´a diretamente relacionado com as 
necessidades locais, n˜ao sendo poss´ıvel aplicar uma ´unica estrat´egia para toda e qualquer 
cidade. 
No caso espec´ıfico de cidades brasileiras, um dos grandes desafios vivenciados 
refere-se `a vulnerabilidade social. Segundo Atlas Brasil [2014], no ano de 2010, 11,61% 
dos indiv´ıduos entre 15 e 24 anos n˜ao estudavam nem trabalhavam e encontravam-se vul-ner 
´aveis a pobreza. Outro dado preocupante demonstrou que neste mesmo ano, 35,24% 
dos indiv´ıduos maiores de 18 anos n˜ao tinham ensino fundamental completo e sobrevi-
viam de ocupac¸ ˜ao informal. Al´em destes, existem tamb´em os indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de 
rua, os quais, conforme estudo realizado pelo Minist´erio do Desenvolvimento Social e 
Combate `a Fome entre os anos de 2007 e 2008, em 71 cidades brasileiras, somavam um 
total de 31.922 adultos [MDS 2008]. 
Para o Minist´erio do Trabalho e Emprego [2014], o termo vulnerabilidade social ´e 
definido como “uma zona intermedi´aria inst´avel que conjuga a precariedade do trabalho 
e a fragilidade dos suportes de proximidade”. Isso significa dizer que um cidad˜ao soci-almente 
vulner´avel ´e altamente suscet´ıvel e predisposto a ter respostas negativas e sofrer 
consequˆencias negativas quando eventos de risco ocorrem (desemprego, inflac¸ ˜ao, epide-mias, 
entre outros). Conforme observa-se pelos dados anteriormente apresentados, este ´e 
o caso de uma parcela significativa da populac¸ ˜ao brasileira. 
Um dos fatores necess´arios para alavancar a qualidade de vida nas cidades 
brasileiras ´e a erradicac¸ ˜ao dos espac¸os de alta vulnerabilidade social nas cidades 
[Macroplan 2013]. O compromisso por esta tarefa passa por todas as instˆancias soci-ais, 
n˜ao estando restrito somente a iniciativas do governo municipal. Sabe-se que numa 
cidade inteligente, a qualidade das interac¸ ˜oes sociais entre os cidad˜aos ´e um elemento-chave 
[Azkuna 2012] e neste sentido, atitudes assistencialistas que objetivam auxiliar os 
cidad˜aos em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade social s˜ao de extrema valia. Al´em de prestar 
apoio ao indiv´ıduo, tais atitudes poderiam auxiliar o cidad˜ao no processo de ascens˜ao 
social, tirando-o da zona de instabilidade em que se encontra. 
As tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao podem ser largamente utilizadas 
no apoio `as ac¸ ˜oes assistenciais, provendo um meio eficiente de compartilhamento de 
informac¸ ˜oes entre os indiv´ıduos engajados e as organizac¸ ˜oes de apoio social. Conjun-tamente, 
a aplicac¸ ˜ao de t´ecnicas de inteligˆencia artificial poderiam facilitar importantes 
tarefas, como a identificac¸ ˜ao dos indiv´ıduos, cruzamento de informac¸ ˜oes ou identificac¸ ˜ao 
de perfis, por exemplo. 
4. Rede colaborativa “Olhos do Bem” 
Voltada especificamente ao combate da vulnerabilidade social, a rede colaborativa “Olhos 
do Bem”, descrita na sequˆencia simplesmente por Rede, busca fazer uso das tecnologias 
de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao, bem como de avanc¸adas t´ecnicas de inteligˆencia artificial 
para auxiliar cidad˜aos e governantes na dif´ıcil tarefa de retirar indiv´ıduos da zona de 
vulnerabilidade social extrema. 
Dentre todas as categorias de indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade social, a 
Rede buscar´a atender especificamente aqueles que encontram-se `a margem da sociedade, 
ou seja, crianc¸as e adultos em situac¸ ˜ao de rua. Os principais motivos que levam tais in-div 
´ıduos a viver pelas ruas s˜ao em geral o uso de ´alcool, drogas, desemprego e desavenc¸as 
familiares [MDS 2008]. Entende-se que, com o devido apoio, muito provavelmente boa 
parte destes indiv´ıduos possam ser reintegrados a sociedade. 
Em termos de infraestrutura, a Rede ser´a composta por um portal web e por um 
aplicativo para dispositivos m´oveis. O aplicativo ter´a como principal incumbˆencia ali-mentar 
o portal com informac¸ ˜oes sobre os indiv´ıduos que encontram-se em situac¸ ˜ao de 
risco, fazendo registros dos eventos in loco. Por sua vez, o portal tecer´a a rede colabora-tiva 
entre cidad˜aos, governo e entidades assistenciais, oferecendo importantes ferramentas 
para aux´ılio nas ac¸ ˜oes de ajuda (Figura 1).
Figura 1. Descric¸ ˜ao dos elementos integrantes da rede “Olhos do Bem” 
O aplicativo para dispositivos m´oveis ser´a direcionado especificamente `a 
populac¸ ˜ao, com intuito de que o cidad˜ao o use para realizar registros dos indiv´ıduos em 
situac¸ ˜ao de vulnerabilidade, seja por meio de fotografias ou descritivamente, no local em 
que os indiv´ıduos vulner´aveis encontram-se situados. No momento em que os dados fo-rem 
confirmados, o aplicativo ir´a envi´a-los para a base de dados da Rede, tornando-os 
dispon´ıveis para processamento e visualizac¸ ˜ao no portal. Tanto a pr´opria Rede quando as 
entidades assistenciais far˜ao uso destes dados para tomada de decis˜ao. 
O fluxo de informac¸ ˜oes na Rede ter´a inicio com o usu´ario registrando um evento 
do cotidiano, por meio de uma fotografia e/ou descric¸ ˜ao de algum indiv´ıduo em situac¸ ˜ao 
de vulnerabilidade. Para tal tarefa, o usu´ario poder´a utilizar tanto o pr´oprio portal quanto 
o aplicativo para dispositivos m´oveis. A partir disso, a imagem e demais informac¸ ˜oes 
relevantes, como a localizac¸ ˜ao geogr´afica do indiv´ıduo vulner´avel, ser˜ao enviadas por 
meio de um canal de comunicac¸ ˜ao at´e o servidor central, alimentando a base de dados da 
Rede. Toda a comunicac¸ ˜ao estabelecida com a Rede ser´a feita via web services, utilizando 
o protocolo SOAP1 no transporte aos dados. 
Ao ser recepcionada na base de dados da Rede, a imagem ´e processada e uma 
c´opia de menor dimensionalidade ´e criada. A criac¸ ˜ao da c´opia da imagem servir´a de 
gatilho para iniciar o processo de identificac¸ ˜ao do perfil e de busca nas bases de pes-soas 
desaparecidas. Ambos os processos ser˜ao executados em background e far˜ao uso de 
t´ecnicas de inteligˆencia artificial. 
Para construc¸ ˜ao da Rede ser˜ao empregadas t´ecnicas de inteligˆencia artificial na 
identificac¸ ˜ao do perfil dos indiv´ıduos combinadas a t´ecnicas de identificac¸ ˜ao biom´etrica. 
O reconhecimento facial ser´a desenvolvido com uso de uma rede neural artificial e ter´a 
por objetivo identificar, nas imagens enviadas, a presenc¸a de uma face. Uma vez asse-gurada 
a presenc¸a da face, ser˜ao extra´ıdos e gravados na base de dados os elementos de 
identificac¸ ˜ao biom´etrica presentes na imagem. A Figura 2 ilustra funcionalmente a Rede. 
1Simple Object Access Protocol
Figura 2. Diagrama funcional da rede “Olhos do Bem” 
Os dados de identificac¸ ˜ao biom´etrica extra´ıdos, al´em de servirem ao processo de 
identificac¸ ˜ao do perfil dos indiv´ıduos, ser˜ao aplicados nas buscas sistem´aticas em bases de 
pessoas desaparecidas, a fim de localizar e notificar os ´org˜aos e familiares que procuram 
por tais pessoas. Na sequˆencia, os processos de identificac¸ ˜ao do perfil e de busca por 
pessoas desaparecidas ser˜ao descritos em maiores detalhes. 
4.1. Identificac¸ ˜ao de perfil 
Dentro da Rede, todo indiv´ıduo em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade ter´a um perfil ´unico. Este 
perfil ser´a constru´ıdo automaticamente com base nas informac¸ ˜oes enviadas pelos usu´arios 
que fazem uso do aplicativo e do portal. Para identificar de forma ´unica cada indiv´ıduo, e 
por conseguinte construir o seu perfil, ser˜ao utilizadas apenas as imagens de face enviadas. 
No processo classificat´orio das imagens ser´a aplicada uma rede neural artificial 
(RNA), adequadamente constru´ıda e treinada para identificar apenas as imagens que pos-suam 
registro de uma face. O grau de certeza emitido como respostas pela rede ser´a de 
fundamental importˆancia para a decis˜ao pela escolha ou descarte da imagem. Este grau 
dever´a estar contido numa escala real variando de 0 a 1, onde 0 indica que a imagem n˜ao 
cont´em uma face e 1 indica a presenc¸a inequ´ıvoca de uma face. Desta forma, o papel 
realizado pela RNA ser´a filtrar apenas imagens que possuam grau de certeza igual ou 
superior a 0:9. 
A seguir, as caracter´ısticas da RNA a ser constru´ıda para reconhecimento facial 
ser˜ao descritas detalhadamente. 
4.1.1. Redes Neurais Artificais 
Uma rede neural artificial ´e um processador macic¸amente paralelamente distribu´ıdo, cons-titu 
´ıdo de unidades simples, denominadas neurˆonios, que tˆem por objetivo armazenar 
conhecimento experimental e torn´a-lo dispon´ıvel para uso. Assemelham-se ao c´erebro
humano pelo fato de adquirirem conhecimento a partir de um processo de aprendiza-gem 
e por armazenar o conhecimento por meio da forc¸a de ligac¸ ˜ao entre os neurˆonios 
[HAYKIN 2001]. 
Os modelos neurais fazem parte de um paradigma de inteligˆencia artificial cha-mado 
conexionista. Este paradigma entende que o comportamento inteligente emerge 
em um sistema a partir da interconex˜ao entre os componentes simples, conex˜oes estas 
ajustadas pelo uso de um processo de aprendizagem [LUGER 2004]. 
Os principais usos das redes neurais s˜ao classificac¸ ˜ao, reconhecimento de 
padr˜oes, evocac¸ ˜ao de mem´oria, predic¸ ˜ao, otimizac¸ ˜ao e filtragem de ru´ıdos. Seu uso na 
resoluc¸ ˜ao destes problemas deve-se `as suas caracter´ısticas peculiares, como capacidade 
de generalizac¸ ˜ao, adaptabilidade e n˜ao-linearidade [HAYKIN 2001]. 
Uma rede neural artificial ´e composta por neurˆonios artificiais. Assim como a 
RNA ´e uma met´afora para a forma de funcionamento do c´erebro humano, o neurˆonio 
artificial ´e uma met´afora para o funcionamento do neurˆonio natural. Os elementos que 
comp˜oem um neurˆonio artificial s˜ao [HAYKIN 2001]: 
 Sinais de entrada: S˜ao dados enviados do ambiente ou de outros neurˆonios. Po-dem 
ser valores discretos como (1, -1), (0, 1) ou mesmo n´umeros reais, depen-dendo 
do modelo; 
 Conjunto de pesos com valor real: Os pesos determinam a forc¸a da conex˜ao. 
Est˜ao associados a cada uma das entradas que o neurˆonio recebe; 
 N´ıvel de ativac¸ ˜ao: Corresponde a soma de todas as entradas multiplicadas pelo 
peso da conex˜ao correspondente. 
 Func¸ ˜ao de limiar: Func¸ ˜ao que calcula a sa´ıda do neurˆonio. Seu objetivo ´e gerar 
uma sa´ıda do tipo ligado/desligado nos neurˆonios reais; 
A Figura 3 apresenta o modelo esquem´atico de um neurˆonio artificial. Nele, 
os elementos x1; x2; x3; :::; xn representam as entradas do neurˆonio. Os elementos 
w1;w2;w3; :::;wn referem-se aos pesos das conex˜oes. J´a a func¸ ˜ao f corresponde a func¸ ˜ao 
de limiar. 
Figura 3. Modelo esquem´atico de um neur ˆ onio artificial segundo [LUGER 2004] 
Assim como os neurˆonios artificiais, as redes neurais caracterizam-se por propri-edades 
como topologia, algoritmo de aprendizagem e esquema de codificac¸ ˜ao utilizado.
A topologia da rede ´e uma propriedade decorrente da forma como os neurˆonios se in-terconectam 
para form´a-la e pode ser do tipo alimentac¸ ˜ao direta (feedforward) ou redes 
recorrentes (feedback). Os algoritmos de aprendizagem s˜ao utilizados no treinamento da 
rede para calibrar os pesos sin´apticos entre as conex˜oes, tornando-a apta a identificar os 
padr˜oes desejados sobre os dados de entrada. Por sua vez, o esquema de codificac¸ ˜ao cor-responde 
`as interpretac¸ ˜oes atribu´ıdas aos dados fornecidos como entrada e obtidos como 
sa´ıda [LUGER 2004]. 
Em vista da sua capacidade de generalizac¸ ˜ao, as redes neurais artificiais apresen-tam 
excelentes resultados no processo de reconhecimento facial. Dentre os diversos tipos 
de redes existentes, a Back Propagation Multi-Layer Perceptron ´e uma das redes que 
apresenta bons resultados nesta tarefa [Latha et al. 2009]. 
A Multi-Layer Perceptron (MLP) ´e um tipo de rede feedforward que apresenta 
um camada de entrada com um ou mais n´os, uma ou mais camadas intermedi´arias de 
neurˆonios artificiais escondidas e uma camada de neurˆonios de sa´ıda. A rede MLP ´e 
considerada do tipo feedforward porque os sinais de entrada s˜ao propagados de camada 
em camada, de forma que as sa´ıdas da camada anterior s˜ao conectadas diretamente `as 
entradas da pr´oxima camada de modo n˜ao c´ıclico. O algoritmo de aprendizagem Back 
Propagation ´e o mais conhecido e utilizado para treinamento de redes do tipo MLP 
[Latha et al. 2009, HAYKIN 2001]. 
O aprendizado de uma rede MLP utilizando o algoritmo Back Propagation ocorre 
de maneira supervisionada. Isso significa que na fase de treinamento da rede s˜ao apre-sentadas 
as entradas e as respectivas sa´ıdas esperadas. Em vista da rede possuir mul-ticamadas, 
o erro (diferenc¸a entre o resultado esperado e o resultado obtido) gerado no 
processamento dos sinais pode espalhar-se entre as camadas, evoluindo em complexidade 
e imprevisibilidade. Como forma de resolver este problema, o algoritmo Back Propaga-tion 
atribui a cada neurˆonio da rede sua parcela de culpa pelo erro gerado, tomando por 
ac¸ ˜ao o ajuste dos pesos sin´apticos [LUGER 2004]. 
4.1.2. Caracter´ısticas da rede neural artificial de reconhecimento facial 
O processo de reconhecimento facial a ser implementado para a rede “Olhos do Bem” 
far´a uso de uma rede neural do tipo MLP devido ao seu bom desempenho neste tipo de 
tarefa. O n´umero adequado de camadas escondidas, bem como de neurˆonios por camadas 
n˜ao poder´a ser previamente definido, visto que ser´a necess´ario realizar diversos testes at´e 
ser obtida a melhor relac¸ ˜ao. 
Antes de propriamente definir a estrutura da rede neural de reconhecimento ser´a 
necess´ario definir o formato dos valores de entrada da mesma. Originalmente, a imagem 
de uma face cont´em um vasto conjunto de informac¸ ˜oes na forma de pixeis. Por´em, boa 
parte destas informac¸ ˜oes n˜ao tem relevˆancia para o processo de reconhecimento facial, 
sendo necess´ario apenas um subconjunto de caracter´ısticas. Em vista disso, ser´a preciso 
reduzir a dimensionalidade da imagem para uma proporc¸ ˜ao que permita tanto manter as 
caracter´ısticas essenciais da imagem quanto permita o adequado processamento da mesma 
pela rede neural [Silva et al. 2005]. 
Considerando-se que a captura das imagens poder´a ser feita por meio de dispo-
sitivos port´ateis, como smartphones e tablets, as imagens enviadas `a Rede ser˜ao prova-velmente 
coloridas e apresentar˜ao resoluc¸ ˜ao elevada. Para o processo de reconhecimento 
facial, contudo, as imagens dever˜ao ser convertidas para escala de cinza, com resoluc¸ ˜ao 
de 32 x 32 pixels. Uma vez reduzida a dimensionalidade das imagens, cria-se um vetor 
de 1024 posic¸ ˜oes que representar´a a entrada da rede neural. Essa mesma abordagem foi 
utilizada com sucesso no trabalho intitulado “Reconhecimento de Faces Neutras Usando 
Redes Neurais em Paralelo”, de Silva et. al [Silva et al. 2005]. 
Para a fase de treinamento da rede, ser˜ao utilizados um conjunto de 500 imagens, 
todas com resoluc¸ ˜ao 32 x 32 pixels e em escala de cinza. Deste total, 250 ser˜ao utilizadas 
para a fase de treinamento e as demais, para a fase de testes. Espera-se com isso obter um 
grau de certeza de cerca de 95% nas sa´ıdas da RNA. 
A rede neural MLP estar´a localizada numa camada imediatamente anterior ao 
extrator de informac¸ ˜oes biom´etricas faciais e ir´a atuar especificamente como filtro das 
imagens enviadas `a Rede. A filtragem das imagens pela RNA visa basicamente garantir a 
criac¸ ˜ao de um banco de dados biom´etrico de alta qualidade. 
4.2. Busca por desaparecidos 
Muitos dos indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de rua encontram-se afastados de seus familiares e 
amigos. N˜ao raramente, s˜ao parte do grupo de pessoas desaparecidas, apresentando ca-dastro 
em bancos de dados como o do Cadastro Nacional de Crianc¸as e Adolescentes De-saparecidos2 
e do Desaparecidos do Brasil.org 3. Em vista disso, t˜ao importante quanto 
identific´a-los ´e prover mecanismos para aproxim´a-los dos familiares e amigos que os bus-cam. 
Para promover esses encontros, a Rede far´a uso dos dados de identificac¸ ˜ao 
biom´etrica armazenados para realizar buscas sistem´aticas nos bancos de dados de pes-soas 
desaparecidas. Basicamente o processo ser´a dividido em trˆes etapas: aquisic¸ ˜ao, 
sincronizac¸ ˜ao e comparac¸ ˜ao. 
Na etapa de aquisic¸ ˜ao, a imagem da pessoa desaparecida, conjuntamente com 
os dados de identificac¸ ˜ao, ser˜ao capturados pela Rede do banco de dados de pessoas 
desaparecidas (parceiro). A imagem obtida ser´a ent˜ao processada e submetida `a RNA para 
validac¸ ˜ao da qualidade dos elementos faciais. Se obtida a qualidade esperada, a imagem 
passa para a etapa de sincronizac¸ ˜ao, onde ser´a equalizada temporalmente pela aplicac¸ ˜ao 
de uma t´ecnica de morphing4. Finalmente, na etapa de comparac¸ ˜ao, os dados biom´etricos 
da imagem sincronizada temporalmente ser˜ao extra´ıdos e comparados ao banco de dados 
da Rede. Se alguma similaridade for identificada, a Rede imediatamente comunicar´a o 
parceiro que disponibilizou a imagem. 
A Figura 4 ilustra as etapas do processo de busca por pessoas desaparecidas. 
2http://www.desaparecidos.gov.br/ 
3http://www.desaparecidosdobrasil.org/ 
4T´ecnica de metamorfose de imagens digitais com aplicabilidade na simulac¸ ˜ao do envelhecimento do 
rosto humano
Figura 4. Etapas do processo de busca de pessoas desaparecidas 
5. Considerac¸ ˜oes Finais 
Muito al´em de uma nova forma de se pensar o meio urbano, as cidades inteligentes s˜ao 
a tendˆencia de como ser˜ao as cidades no futuro. Utilizando como meio o uso massivo 
das tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao, as cidades inteligentes buscam aumentar a 
qualidade de vida, de trabalho e a sustentabilidade. 
Contudo, a aplicac¸ ˜ao das tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao no ambiente 
urbano n˜ao deve representar o objetivo fundamental de uma cidade inteligente. De fato, o 
foco das ac¸ ˜oes deve estar sempre direcionado ao elemento humano, ou seja, os cidad˜aos. 
Uma cidade somente pode ser considerada inteligente se valoriza seus indiv´ıduos e preza 
pela melhoria de suas condic¸ ˜oes de vida. 
Em vista disso, a rede “Olhos do Bem” se prop˜oe a ser uma ferramenta de impacto 
no combate a vulnerabilidade social extrema, situac¸ ˜ao na qual os indiv´ıduos encontram-se 
desamparados de todas as formas, sem abrigo nem expectativas para a vida. Espera-se 
com a aplicac¸ ˜ao da Rede obter um maior engajamento da populac¸ ˜ao no combate a este 
tipo de situac¸ ˜ao, tornando os cidad˜aos mais comprometidos com o bem estar do pr´oximo. 
Tamb´em ´e objetivo da Rede colaborar com as organizac¸ ˜oes que buscam por pes-soas 
desaparecidas, provendo mecanismos automatizados de identificac¸ ˜ao e notificac¸ ˜ao. 
Com isso almeja-se aproximar os indiv´ıduos desaparecidos de seus familiares e amigos, 
recolocando-os em seu local de origem e por conseguinte, devolvendo-lhes a dignidade e 
esperanc¸a de vida. 
De fato, a grande contribuic¸ ˜ao da Rede no meio urbano ser´a uma transformac¸ ˜ao 
de pensamento. Sabe-se que a vida em sociedade prevˆe a todos uma parcela de respon-sabilidade 
sobre a realidade vivida. Assim, a Rede busca reviver essa responsabilidade 
impl´ıcita que todo o cidad˜ao possui de contribuir com a sociedade em que vive. No caso
da Rede, entende-se que essa responsabilidade refere-se ao apoio e aux´ılio aos menos 
favorecidos. 
Como trabalhos futuros, existe a intenc¸ ˜ao de agregar novos servic¸os `a Rede, como 
por exemplo, a integrac¸ ˜ao com redes sociais de amplo espectro, tais como Facebook, Twit-ter, 
Google+ e Instagran. O objetivo principal desta integrac¸ ˜ao ´e agregar um n´umero cada 
vez maior de indiv´ıduos no movimento em prol da erradicac¸ ˜ao da vulnerabilidade social 
extrema. Al´em disso, ´e esperado que o aplicativo para dispositivos m´oveis receba novas 
funcionalidades, sendo a primeira delas referente ao pr´e-processamento das imagens de 
face. 
Referˆencias 
Atlas Brasil (2014). Atlas do desenvolvimento humano no brasil 2013. 
Azkuna, I. (2012). Smart cities study. Technical report, The Committee of Digital and 
Knowledge-based Cities of UCLG, Bilbao, Biscay, Espanha. 
Berst, J. (2013). Smart cities readiness guide. Technical report, Smart Cities Council, 
Redmound, WA, USA. 
Committee of Digital and Knowledge-based Cities (2014). Comisi´on de ciudades digita-les 
y del conocimiento. 
Harrison, C. and Donnelly, I. A. (2011). A theory of smart cities. International Society 
for the Systems Sciences, (55). 
HAYKIN, S. (2001). Redes Neurais - 2ed. BOOKMAN COMPANHIA ED. 
Latha, P., Ganesan, L., and Annadurai, S. (2009). Face recognition using neural networks. 
Signal Processing: An International . . . , (3):153–160. 
LUGER, G. (2004). Inteligˆencia Artificial: Estruturas e estrat´egias para a soluc¸ ˜ao de 
problemas complexos. Bookman. 
Macroplan (2013). A Gest˜ao das grandes cidades brasileiras: resultados  pr´aticas. Te-chnical 
report. 
MDS (2008). Pesquisa nacional sobre a populac¸ ˜ao em situac¸ ˜ao de rua. Technical report, 
Minist´erio do Desenvolvimento Social e Combate `a Fome. 
MTE (2014). Aspectos conceituais da vulnerabilidade social. 
Silva, E., Marin, A., and Gonzaga, A. (2005). Reconhecimento de Faces Neutras Usando 
Redes Neurais em Paralelo. IW orkshop de Vis˜ao . . . , 590:32–35. 
Townsend, A. (2013). Smart Cities: Big Data, Civic Hackers, and the Quest for a New 
Utopia. W. W. Norton.

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Rede "Olhos do Bem"

  • 1. Olhos do Bem - Inteligˆencia artificial e inteligˆencia social em prol de uma cidade mais inteligente Diego Antonio Lusa1 1Instituto de Ciˆencias Exatas e Geociˆencias – Universidade de Passo Fundo (UPF) Campus 1 - BR 285 - Passo Fundo (RS) - Brasil f83473g@upf.br Abstract. Cities grow proportionally in size and problems. Besides contributing to the declining quality of life, the problems experienced by cities accentuate social inequalities situation, evidenced by the presence of individuals in extreme social vulnerability. One possible means of contour difficulties experienced by cities refers to the application of information and communication technologies in order to make the cities smart in terms of infrastructure and services. In this paper, we propose the construction of collaborative network “Good Eyes”, based on the concept of smart cities and aimed specifically at combating social vulnerability among individuals living on the streets. Resumo. As cidades crescem proporcionalmente em tamanho e em problemas. Al´em de contribuir para o decl´ınio da qualidade de vida, os problemas vivencia-dos pelas cidades acentuam as desigualdades sociais, situac¸ ˜ao evidenciada pela presenc¸a de indiv´ıduos em condic¸ ˜oes de extrema vulnerabilidade social. Um dos meios poss´ıveis de contorno `as dificuldades vivenciadas pelas cidades refere-se a aplicac¸ ˜ao das tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao, visando tornar as cidades mais inteligentes em termos de infraestrutura e servic¸os. Neste artigo, prop˜oem-se a construc¸ ˜ao da rede colaborativa “Olhos do Bem”, embasada no conceito de cidades inteligentes e voltada especificamente ao combate da vul-nerabilidade social entre indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de rua. 1. Introduc¸ ˜ao O r´apido crescimento urbano vivenciado nas ´ultimas d´ecadas tem colocado a prova os servic¸os e a infraestrutura das grandes cidades brasileiras. Problemas no transporte p´ublico, sa´ude, educac¸ ˜ao e seguranc¸a s˜ao alguns exemplos dos efeitos observados em raz˜ao deste crescimento desordenado. Como resultado, cria-se um ambiente ca´otico e estressante que reduz a qualidade de vida dos cidad˜aos, tornando a cidade um local pouco apraz´ıvel para se viver. As dificuldades enfrentadas pelos grandes centros urbanos acabam tamb´em por acentuar as desigualdades sociais. Criam-se locais de alta concentrac¸ ˜ao populacional, com infra-estrutura prec´aria e alto ´ındice de violˆencia. Em decorrˆencia dos baixos ´ındices de qualidade de vida observados, consolida-se um c´ırculo vicioso de pobreza e mis´eria, dif´ıcil de ser superado sem uma quebra abrupta de realidade. Neste contexto, enquadram-se tamb´em aqueles indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de rua, que vivem `a margem da sociedade e n˜ao usufruem de praticamente nenhum dos benef´ıcios da vida urbana. Dentre estes indiv´ıduos que fazem da rua seu lar encontram-se in´umeras
  • 2. crianc¸as e adolescentes, que devido a dura vida entregam-se muito cedo ao crime e aos v´ıcios, tornando-se ref´ens da situac¸ ˜ao de mis´eria em que se encontram. Uma das formas de tratar os grandes problemas vivenciados pelas cidades, de sorte a oferecer `a populac¸ ˜ao maior qualidade de vida e trabalho, compreende aplicar tec-nologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao (TIC) no meio urbano. Por meio da tecnologia, as responsabilidades fundamentais da cidade s˜ao capacitadas em inteligencia e eficiˆencia, atendendo a populac¸ ˜ao com maior velocidade e qualidade. Este ´e o princ´ıpio fundamental no qual est´a embasado o conceito das cidades inteligentes. Mais do que simplesmente aplicar tecnologias de ponta, as cidades inteligentes devem preocupar-se com seus cidad˜aos. Os benef´ıcios gerados pelo uso das ferramentas tecnol´ogicas devem ser percebidos por todos os indiv´ıduos e n˜ao por apenas uma par-cela da populac¸ ˜ao. Desta forma, ´e no m´ınimo imprescind´ıvel que uma cidade inteligente preocupe-se com aqueles cidad˜aos que encontram-se em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade so-cial, em especial, com os que vivem em situac¸ ˜ao de rua. Com intuito de propor uma ferramenta de aux´ılio no combate a vulnerabilidade social, com ampla aplicabilidade no contexto de cidades inteligentes, este artigo objetiva apresentar a rede colaborativa “Olhos do Bem”. Para tal, na Sec¸ ˜ao 2 apresentam-se os conceitos fundamentais que definem as cidades inteligentes e, na Sec¸ ˜ao 3, descreve-se a importˆancia do elemento humano dentro deste novos ambientes urbanos. Uma vez apresentada a fundamentac¸ ˜ao te´orica, na Sec¸ ˜ao 4 s˜ao propostos os aspectos conceituais da rede “Olhos do Bem”, ressaltando-se, em espec´ıfico, as t´ecnicas de inteligˆencia artificial necess´arias a sua construc¸ ˜ao. Por fim, na Sec¸ ˜ao 5 apresentam-se as considerac¸ ˜oes finais acerca da proposta apresentada. 2. Cidades Inteligentes O termo “cidade inteligente” tem se tornado muito frequente no linguajar de pol´ıticos e autoridades governamentais nos ´ultimos anos. Boa parte das vezes, o uso do termo est´a muito mais atrelado `as estrat´egias de marketing, que buscam unicamente promover uma melhor impress˜ao da cidade em investidores e nos pr´oprios cidad˜aos, do que propriamente ao verdadeiro conceito de uma cidade inteligente. A despeito da concepc¸ ˜ao pol´ıtica dada ao termo, observa-se que as origens do conceito “cidade inteligente” remontam do final da d´ecada de 90, quando se discutia novas pol´ıticas de planejamento urbano, baseadas na teoria do crescimento inteligente (Smart Growth). A partir de 2005, grandes players da ind´ustria tecnol´ogica mundial, como IBM, Cisco e Siemens passaram a fazer uso da express˜ao para designar um aglomerado de tecnologias e sistemas de informac¸ ˜ao voltados `a interoperabilidade da infraestrutura e de servic¸os urbanos [Harrison and Donnelly 2011]. ´E necess´ario ter em mente, contudo, que o conceito de cidade inteligente n˜ao est´a restrito `a aplicac¸ ˜ao de tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao em determinado meio urbano. De fato, as TICs apresentam-se como meios e n˜ao como fim neste contexto. Uma cidade inteligente ´e um local onde as TICs elevam as condic¸ ˜oes de vida, de trabalho e de sustentabilidade [Berst 2013]. Desta forma, a cidade inteligente faz uso da informac¸ ˜ao e da tecnologia para tornar sua infraestrutura cr´ıtica, componentes e utilidades mais atrati-vos e eficientes, visando proporcionar uma melhor percepc¸ ˜ao dos mesmos aos cidad˜aos [Committee of Digital and Knowledge-based Cities 2014].
  • 3. Basicamente, uma cidade inteligente deve prezar pela obtenc¸ ˜ao de melhores ´ındices de qualidade de vida, de trabalho e de sustentabilidade. A qualidade de vida est´a relacionada com um estilo de vida direcionado ao conforto, `a sa´ude e ao comprome-timento com o meio onde vive-se. Enquadram-se neste cen´ario, por exemplo, a presenc¸a de escolas de boa qualidade, ar e ´agua sem poluentes, servic¸os de emergˆencia de r´apida atuac¸ ˜ao, entretenimento e baixos ´ındices de violˆencia. Por sua vez, as melhores condic¸ ˜oes de trabalho referem-se a uma maior oferta de empregos de melhor qualidade dentro do ambiente urbano. J´a a quest˜ao da sustentabilidade direciona esforc¸os para o uso mais consciente dos recursos naturais de toda ordem, buscando garantir que as gerac¸ ˜oes futu-ras tenham condic¸ ˜oes de usufru´ı-los [Berst 2013]. Segundo Azkuna [2012], as cidades inteligentes re´unem seis importantes campos de atuac¸ ˜ao, os quais podem ser observados tamb´em pela perspectiva de fatores de de-sempenho. Estes campos-chave referem-se a economia, mobilidade, ambiente, cidad˜aos, qualidade de vida e gest˜ao. J´a na vis˜ao de Berst [2013], uma cidade inteligente ´e vista como uma relac¸ ˜ao entre responsabilidades e aspectos habilitadores. As responsabilidades referem-se aos servic¸os fundamentais providos pela cidade a seus cidad˜aos e os aspectos habilitadores s˜ao tecnologias e outras forc¸as transformadoras que tem a incumbˆencia de tornar as responsabilidades essenciais da cidade mais inteligentes. As cidades inteligentes, al´em de eficientes, precisam preservar as oportunidades para a espontaneidade, serendipidade (descobrir coisas agrad´aveis por acaso) e sociabi-lidade. Os cidad˜aos que vivem na cidade n˜ao podem tornar-se meros fantoches, direcio-nados e controlados pelos elementos tecnol´ogicos [Townsend 2013]. Em vista disso, as cidades inteligentes devem sempre considerar como pilar fundamental de sua construc¸ ˜ao o elemento humano. 3. A importˆancia do elemento humano nas cidades inteligentes Independentemente do modelo conceitual associado a uma cidade inteligente, para todos eles o cidad˜ao, tanto na sua forma individual quanto coletiva, representa o elo funda-mental. Uma cidade inteligente ´e constru´ıda por pessoas para pessoas. Por isso, qual-quer iniciativa promovida deve contar com o engajamento dos cidad˜aos, que precisam ser considerados e consultados em todos os momentos [Berst 2013, Townsend 2013]. Al´em disso, os benef´ıcios diretos ou indiretos da construc¸ ˜ao de uma cidade inteligente devem estar direcionados `a elevac¸ ˜ao da qualidade de vida dos cidad˜aos em todos os aspectos poss´ıveis. Cada cidade apresenta uma realidade distinta. Quando considera-se pa´ıses desen-volvidos, as cidades em sua grande maioria naturalmente apresentam melhores condic¸ ˜oes de vida se comparadas a cidades de pa´ıses em desenvolvimento. Isso pressup˜oe que o processo de implantac¸ ˜ao de uma cidade inteligente est´a diretamente relacionado com as necessidades locais, n˜ao sendo poss´ıvel aplicar uma ´unica estrat´egia para toda e qualquer cidade. No caso espec´ıfico de cidades brasileiras, um dos grandes desafios vivenciados refere-se `a vulnerabilidade social. Segundo Atlas Brasil [2014], no ano de 2010, 11,61% dos indiv´ıduos entre 15 e 24 anos n˜ao estudavam nem trabalhavam e encontravam-se vul-ner ´aveis a pobreza. Outro dado preocupante demonstrou que neste mesmo ano, 35,24% dos indiv´ıduos maiores de 18 anos n˜ao tinham ensino fundamental completo e sobrevi-
  • 4. viam de ocupac¸ ˜ao informal. Al´em destes, existem tamb´em os indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de rua, os quais, conforme estudo realizado pelo Minist´erio do Desenvolvimento Social e Combate `a Fome entre os anos de 2007 e 2008, em 71 cidades brasileiras, somavam um total de 31.922 adultos [MDS 2008]. Para o Minist´erio do Trabalho e Emprego [2014], o termo vulnerabilidade social ´e definido como “uma zona intermedi´aria inst´avel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de proximidade”. Isso significa dizer que um cidad˜ao soci-almente vulner´avel ´e altamente suscet´ıvel e predisposto a ter respostas negativas e sofrer consequˆencias negativas quando eventos de risco ocorrem (desemprego, inflac¸ ˜ao, epide-mias, entre outros). Conforme observa-se pelos dados anteriormente apresentados, este ´e o caso de uma parcela significativa da populac¸ ˜ao brasileira. Um dos fatores necess´arios para alavancar a qualidade de vida nas cidades brasileiras ´e a erradicac¸ ˜ao dos espac¸os de alta vulnerabilidade social nas cidades [Macroplan 2013]. O compromisso por esta tarefa passa por todas as instˆancias soci-ais, n˜ao estando restrito somente a iniciativas do governo municipal. Sabe-se que numa cidade inteligente, a qualidade das interac¸ ˜oes sociais entre os cidad˜aos ´e um elemento-chave [Azkuna 2012] e neste sentido, atitudes assistencialistas que objetivam auxiliar os cidad˜aos em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade social s˜ao de extrema valia. Al´em de prestar apoio ao indiv´ıduo, tais atitudes poderiam auxiliar o cidad˜ao no processo de ascens˜ao social, tirando-o da zona de instabilidade em que se encontra. As tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao podem ser largamente utilizadas no apoio `as ac¸ ˜oes assistenciais, provendo um meio eficiente de compartilhamento de informac¸ ˜oes entre os indiv´ıduos engajados e as organizac¸ ˜oes de apoio social. Conjun-tamente, a aplicac¸ ˜ao de t´ecnicas de inteligˆencia artificial poderiam facilitar importantes tarefas, como a identificac¸ ˜ao dos indiv´ıduos, cruzamento de informac¸ ˜oes ou identificac¸ ˜ao de perfis, por exemplo. 4. Rede colaborativa “Olhos do Bem” Voltada especificamente ao combate da vulnerabilidade social, a rede colaborativa “Olhos do Bem”, descrita na sequˆencia simplesmente por Rede, busca fazer uso das tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao, bem como de avanc¸adas t´ecnicas de inteligˆencia artificial para auxiliar cidad˜aos e governantes na dif´ıcil tarefa de retirar indiv´ıduos da zona de vulnerabilidade social extrema. Dentre todas as categorias de indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade social, a Rede buscar´a atender especificamente aqueles que encontram-se `a margem da sociedade, ou seja, crianc¸as e adultos em situac¸ ˜ao de rua. Os principais motivos que levam tais in-div ´ıduos a viver pelas ruas s˜ao em geral o uso de ´alcool, drogas, desemprego e desavenc¸as familiares [MDS 2008]. Entende-se que, com o devido apoio, muito provavelmente boa parte destes indiv´ıduos possam ser reintegrados a sociedade. Em termos de infraestrutura, a Rede ser´a composta por um portal web e por um aplicativo para dispositivos m´oveis. O aplicativo ter´a como principal incumbˆencia ali-mentar o portal com informac¸ ˜oes sobre os indiv´ıduos que encontram-se em situac¸ ˜ao de risco, fazendo registros dos eventos in loco. Por sua vez, o portal tecer´a a rede colabora-tiva entre cidad˜aos, governo e entidades assistenciais, oferecendo importantes ferramentas para aux´ılio nas ac¸ ˜oes de ajuda (Figura 1).
  • 5. Figura 1. Descric¸ ˜ao dos elementos integrantes da rede “Olhos do Bem” O aplicativo para dispositivos m´oveis ser´a direcionado especificamente `a populac¸ ˜ao, com intuito de que o cidad˜ao o use para realizar registros dos indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade, seja por meio de fotografias ou descritivamente, no local em que os indiv´ıduos vulner´aveis encontram-se situados. No momento em que os dados fo-rem confirmados, o aplicativo ir´a envi´a-los para a base de dados da Rede, tornando-os dispon´ıveis para processamento e visualizac¸ ˜ao no portal. Tanto a pr´opria Rede quando as entidades assistenciais far˜ao uso destes dados para tomada de decis˜ao. O fluxo de informac¸ ˜oes na Rede ter´a inicio com o usu´ario registrando um evento do cotidiano, por meio de uma fotografia e/ou descric¸ ˜ao de algum indiv´ıduo em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade. Para tal tarefa, o usu´ario poder´a utilizar tanto o pr´oprio portal quanto o aplicativo para dispositivos m´oveis. A partir disso, a imagem e demais informac¸ ˜oes relevantes, como a localizac¸ ˜ao geogr´afica do indiv´ıduo vulner´avel, ser˜ao enviadas por meio de um canal de comunicac¸ ˜ao at´e o servidor central, alimentando a base de dados da Rede. Toda a comunicac¸ ˜ao estabelecida com a Rede ser´a feita via web services, utilizando o protocolo SOAP1 no transporte aos dados. Ao ser recepcionada na base de dados da Rede, a imagem ´e processada e uma c´opia de menor dimensionalidade ´e criada. A criac¸ ˜ao da c´opia da imagem servir´a de gatilho para iniciar o processo de identificac¸ ˜ao do perfil e de busca nas bases de pes-soas desaparecidas. Ambos os processos ser˜ao executados em background e far˜ao uso de t´ecnicas de inteligˆencia artificial. Para construc¸ ˜ao da Rede ser˜ao empregadas t´ecnicas de inteligˆencia artificial na identificac¸ ˜ao do perfil dos indiv´ıduos combinadas a t´ecnicas de identificac¸ ˜ao biom´etrica. O reconhecimento facial ser´a desenvolvido com uso de uma rede neural artificial e ter´a por objetivo identificar, nas imagens enviadas, a presenc¸a de uma face. Uma vez asse-gurada a presenc¸a da face, ser˜ao extra´ıdos e gravados na base de dados os elementos de identificac¸ ˜ao biom´etrica presentes na imagem. A Figura 2 ilustra funcionalmente a Rede. 1Simple Object Access Protocol
  • 6. Figura 2. Diagrama funcional da rede “Olhos do Bem” Os dados de identificac¸ ˜ao biom´etrica extra´ıdos, al´em de servirem ao processo de identificac¸ ˜ao do perfil dos indiv´ıduos, ser˜ao aplicados nas buscas sistem´aticas em bases de pessoas desaparecidas, a fim de localizar e notificar os ´org˜aos e familiares que procuram por tais pessoas. Na sequˆencia, os processos de identificac¸ ˜ao do perfil e de busca por pessoas desaparecidas ser˜ao descritos em maiores detalhes. 4.1. Identificac¸ ˜ao de perfil Dentro da Rede, todo indiv´ıduo em situac¸ ˜ao de vulnerabilidade ter´a um perfil ´unico. Este perfil ser´a constru´ıdo automaticamente com base nas informac¸ ˜oes enviadas pelos usu´arios que fazem uso do aplicativo e do portal. Para identificar de forma ´unica cada indiv´ıduo, e por conseguinte construir o seu perfil, ser˜ao utilizadas apenas as imagens de face enviadas. No processo classificat´orio das imagens ser´a aplicada uma rede neural artificial (RNA), adequadamente constru´ıda e treinada para identificar apenas as imagens que pos-suam registro de uma face. O grau de certeza emitido como respostas pela rede ser´a de fundamental importˆancia para a decis˜ao pela escolha ou descarte da imagem. Este grau dever´a estar contido numa escala real variando de 0 a 1, onde 0 indica que a imagem n˜ao cont´em uma face e 1 indica a presenc¸a inequ´ıvoca de uma face. Desta forma, o papel realizado pela RNA ser´a filtrar apenas imagens que possuam grau de certeza igual ou superior a 0:9. A seguir, as caracter´ısticas da RNA a ser constru´ıda para reconhecimento facial ser˜ao descritas detalhadamente. 4.1.1. Redes Neurais Artificais Uma rede neural artificial ´e um processador macic¸amente paralelamente distribu´ıdo, cons-titu ´ıdo de unidades simples, denominadas neurˆonios, que tˆem por objetivo armazenar conhecimento experimental e torn´a-lo dispon´ıvel para uso. Assemelham-se ao c´erebro
  • 7. humano pelo fato de adquirirem conhecimento a partir de um processo de aprendiza-gem e por armazenar o conhecimento por meio da forc¸a de ligac¸ ˜ao entre os neurˆonios [HAYKIN 2001]. Os modelos neurais fazem parte de um paradigma de inteligˆencia artificial cha-mado conexionista. Este paradigma entende que o comportamento inteligente emerge em um sistema a partir da interconex˜ao entre os componentes simples, conex˜oes estas ajustadas pelo uso de um processo de aprendizagem [LUGER 2004]. Os principais usos das redes neurais s˜ao classificac¸ ˜ao, reconhecimento de padr˜oes, evocac¸ ˜ao de mem´oria, predic¸ ˜ao, otimizac¸ ˜ao e filtragem de ru´ıdos. Seu uso na resoluc¸ ˜ao destes problemas deve-se `as suas caracter´ısticas peculiares, como capacidade de generalizac¸ ˜ao, adaptabilidade e n˜ao-linearidade [HAYKIN 2001]. Uma rede neural artificial ´e composta por neurˆonios artificiais. Assim como a RNA ´e uma met´afora para a forma de funcionamento do c´erebro humano, o neurˆonio artificial ´e uma met´afora para o funcionamento do neurˆonio natural. Os elementos que comp˜oem um neurˆonio artificial s˜ao [HAYKIN 2001]: Sinais de entrada: S˜ao dados enviados do ambiente ou de outros neurˆonios. Po-dem ser valores discretos como (1, -1), (0, 1) ou mesmo n´umeros reais, depen-dendo do modelo; Conjunto de pesos com valor real: Os pesos determinam a forc¸a da conex˜ao. Est˜ao associados a cada uma das entradas que o neurˆonio recebe; N´ıvel de ativac¸ ˜ao: Corresponde a soma de todas as entradas multiplicadas pelo peso da conex˜ao correspondente. Func¸ ˜ao de limiar: Func¸ ˜ao que calcula a sa´ıda do neurˆonio. Seu objetivo ´e gerar uma sa´ıda do tipo ligado/desligado nos neurˆonios reais; A Figura 3 apresenta o modelo esquem´atico de um neurˆonio artificial. Nele, os elementos x1; x2; x3; :::; xn representam as entradas do neurˆonio. Os elementos w1;w2;w3; :::;wn referem-se aos pesos das conex˜oes. J´a a func¸ ˜ao f corresponde a func¸ ˜ao de limiar. Figura 3. Modelo esquem´atico de um neur ˆ onio artificial segundo [LUGER 2004] Assim como os neurˆonios artificiais, as redes neurais caracterizam-se por propri-edades como topologia, algoritmo de aprendizagem e esquema de codificac¸ ˜ao utilizado.
  • 8. A topologia da rede ´e uma propriedade decorrente da forma como os neurˆonios se in-terconectam para form´a-la e pode ser do tipo alimentac¸ ˜ao direta (feedforward) ou redes recorrentes (feedback). Os algoritmos de aprendizagem s˜ao utilizados no treinamento da rede para calibrar os pesos sin´apticos entre as conex˜oes, tornando-a apta a identificar os padr˜oes desejados sobre os dados de entrada. Por sua vez, o esquema de codificac¸ ˜ao cor-responde `as interpretac¸ ˜oes atribu´ıdas aos dados fornecidos como entrada e obtidos como sa´ıda [LUGER 2004]. Em vista da sua capacidade de generalizac¸ ˜ao, as redes neurais artificiais apresen-tam excelentes resultados no processo de reconhecimento facial. Dentre os diversos tipos de redes existentes, a Back Propagation Multi-Layer Perceptron ´e uma das redes que apresenta bons resultados nesta tarefa [Latha et al. 2009]. A Multi-Layer Perceptron (MLP) ´e um tipo de rede feedforward que apresenta um camada de entrada com um ou mais n´os, uma ou mais camadas intermedi´arias de neurˆonios artificiais escondidas e uma camada de neurˆonios de sa´ıda. A rede MLP ´e considerada do tipo feedforward porque os sinais de entrada s˜ao propagados de camada em camada, de forma que as sa´ıdas da camada anterior s˜ao conectadas diretamente `as entradas da pr´oxima camada de modo n˜ao c´ıclico. O algoritmo de aprendizagem Back Propagation ´e o mais conhecido e utilizado para treinamento de redes do tipo MLP [Latha et al. 2009, HAYKIN 2001]. O aprendizado de uma rede MLP utilizando o algoritmo Back Propagation ocorre de maneira supervisionada. Isso significa que na fase de treinamento da rede s˜ao apre-sentadas as entradas e as respectivas sa´ıdas esperadas. Em vista da rede possuir mul-ticamadas, o erro (diferenc¸a entre o resultado esperado e o resultado obtido) gerado no processamento dos sinais pode espalhar-se entre as camadas, evoluindo em complexidade e imprevisibilidade. Como forma de resolver este problema, o algoritmo Back Propaga-tion atribui a cada neurˆonio da rede sua parcela de culpa pelo erro gerado, tomando por ac¸ ˜ao o ajuste dos pesos sin´apticos [LUGER 2004]. 4.1.2. Caracter´ısticas da rede neural artificial de reconhecimento facial O processo de reconhecimento facial a ser implementado para a rede “Olhos do Bem” far´a uso de uma rede neural do tipo MLP devido ao seu bom desempenho neste tipo de tarefa. O n´umero adequado de camadas escondidas, bem como de neurˆonios por camadas n˜ao poder´a ser previamente definido, visto que ser´a necess´ario realizar diversos testes at´e ser obtida a melhor relac¸ ˜ao. Antes de propriamente definir a estrutura da rede neural de reconhecimento ser´a necess´ario definir o formato dos valores de entrada da mesma. Originalmente, a imagem de uma face cont´em um vasto conjunto de informac¸ ˜oes na forma de pixeis. Por´em, boa parte destas informac¸ ˜oes n˜ao tem relevˆancia para o processo de reconhecimento facial, sendo necess´ario apenas um subconjunto de caracter´ısticas. Em vista disso, ser´a preciso reduzir a dimensionalidade da imagem para uma proporc¸ ˜ao que permita tanto manter as caracter´ısticas essenciais da imagem quanto permita o adequado processamento da mesma pela rede neural [Silva et al. 2005]. Considerando-se que a captura das imagens poder´a ser feita por meio de dispo-
  • 9. sitivos port´ateis, como smartphones e tablets, as imagens enviadas `a Rede ser˜ao prova-velmente coloridas e apresentar˜ao resoluc¸ ˜ao elevada. Para o processo de reconhecimento facial, contudo, as imagens dever˜ao ser convertidas para escala de cinza, com resoluc¸ ˜ao de 32 x 32 pixels. Uma vez reduzida a dimensionalidade das imagens, cria-se um vetor de 1024 posic¸ ˜oes que representar´a a entrada da rede neural. Essa mesma abordagem foi utilizada com sucesso no trabalho intitulado “Reconhecimento de Faces Neutras Usando Redes Neurais em Paralelo”, de Silva et. al [Silva et al. 2005]. Para a fase de treinamento da rede, ser˜ao utilizados um conjunto de 500 imagens, todas com resoluc¸ ˜ao 32 x 32 pixels e em escala de cinza. Deste total, 250 ser˜ao utilizadas para a fase de treinamento e as demais, para a fase de testes. Espera-se com isso obter um grau de certeza de cerca de 95% nas sa´ıdas da RNA. A rede neural MLP estar´a localizada numa camada imediatamente anterior ao extrator de informac¸ ˜oes biom´etricas faciais e ir´a atuar especificamente como filtro das imagens enviadas `a Rede. A filtragem das imagens pela RNA visa basicamente garantir a criac¸ ˜ao de um banco de dados biom´etrico de alta qualidade. 4.2. Busca por desaparecidos Muitos dos indiv´ıduos em situac¸ ˜ao de rua encontram-se afastados de seus familiares e amigos. N˜ao raramente, s˜ao parte do grupo de pessoas desaparecidas, apresentando ca-dastro em bancos de dados como o do Cadastro Nacional de Crianc¸as e Adolescentes De-saparecidos2 e do Desaparecidos do Brasil.org 3. Em vista disso, t˜ao importante quanto identific´a-los ´e prover mecanismos para aproxim´a-los dos familiares e amigos que os bus-cam. Para promover esses encontros, a Rede far´a uso dos dados de identificac¸ ˜ao biom´etrica armazenados para realizar buscas sistem´aticas nos bancos de dados de pes-soas desaparecidas. Basicamente o processo ser´a dividido em trˆes etapas: aquisic¸ ˜ao, sincronizac¸ ˜ao e comparac¸ ˜ao. Na etapa de aquisic¸ ˜ao, a imagem da pessoa desaparecida, conjuntamente com os dados de identificac¸ ˜ao, ser˜ao capturados pela Rede do banco de dados de pessoas desaparecidas (parceiro). A imagem obtida ser´a ent˜ao processada e submetida `a RNA para validac¸ ˜ao da qualidade dos elementos faciais. Se obtida a qualidade esperada, a imagem passa para a etapa de sincronizac¸ ˜ao, onde ser´a equalizada temporalmente pela aplicac¸ ˜ao de uma t´ecnica de morphing4. Finalmente, na etapa de comparac¸ ˜ao, os dados biom´etricos da imagem sincronizada temporalmente ser˜ao extra´ıdos e comparados ao banco de dados da Rede. Se alguma similaridade for identificada, a Rede imediatamente comunicar´a o parceiro que disponibilizou a imagem. A Figura 4 ilustra as etapas do processo de busca por pessoas desaparecidas. 2http://www.desaparecidos.gov.br/ 3http://www.desaparecidosdobrasil.org/ 4T´ecnica de metamorfose de imagens digitais com aplicabilidade na simulac¸ ˜ao do envelhecimento do rosto humano
  • 10. Figura 4. Etapas do processo de busca de pessoas desaparecidas 5. Considerac¸ ˜oes Finais Muito al´em de uma nova forma de se pensar o meio urbano, as cidades inteligentes s˜ao a tendˆencia de como ser˜ao as cidades no futuro. Utilizando como meio o uso massivo das tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao, as cidades inteligentes buscam aumentar a qualidade de vida, de trabalho e a sustentabilidade. Contudo, a aplicac¸ ˜ao das tecnologias de informac¸ ˜ao e comunicac¸ ˜ao no ambiente urbano n˜ao deve representar o objetivo fundamental de uma cidade inteligente. De fato, o foco das ac¸ ˜oes deve estar sempre direcionado ao elemento humano, ou seja, os cidad˜aos. Uma cidade somente pode ser considerada inteligente se valoriza seus indiv´ıduos e preza pela melhoria de suas condic¸ ˜oes de vida. Em vista disso, a rede “Olhos do Bem” se prop˜oe a ser uma ferramenta de impacto no combate a vulnerabilidade social extrema, situac¸ ˜ao na qual os indiv´ıduos encontram-se desamparados de todas as formas, sem abrigo nem expectativas para a vida. Espera-se com a aplicac¸ ˜ao da Rede obter um maior engajamento da populac¸ ˜ao no combate a este tipo de situac¸ ˜ao, tornando os cidad˜aos mais comprometidos com o bem estar do pr´oximo. Tamb´em ´e objetivo da Rede colaborar com as organizac¸ ˜oes que buscam por pes-soas desaparecidas, provendo mecanismos automatizados de identificac¸ ˜ao e notificac¸ ˜ao. Com isso almeja-se aproximar os indiv´ıduos desaparecidos de seus familiares e amigos, recolocando-os em seu local de origem e por conseguinte, devolvendo-lhes a dignidade e esperanc¸a de vida. De fato, a grande contribuic¸ ˜ao da Rede no meio urbano ser´a uma transformac¸ ˜ao de pensamento. Sabe-se que a vida em sociedade prevˆe a todos uma parcela de respon-sabilidade sobre a realidade vivida. Assim, a Rede busca reviver essa responsabilidade impl´ıcita que todo o cidad˜ao possui de contribuir com a sociedade em que vive. No caso
  • 11. da Rede, entende-se que essa responsabilidade refere-se ao apoio e aux´ılio aos menos favorecidos. Como trabalhos futuros, existe a intenc¸ ˜ao de agregar novos servic¸os `a Rede, como por exemplo, a integrac¸ ˜ao com redes sociais de amplo espectro, tais como Facebook, Twit-ter, Google+ e Instagran. O objetivo principal desta integrac¸ ˜ao ´e agregar um n´umero cada vez maior de indiv´ıduos no movimento em prol da erradicac¸ ˜ao da vulnerabilidade social extrema. Al´em disso, ´e esperado que o aplicativo para dispositivos m´oveis receba novas funcionalidades, sendo a primeira delas referente ao pr´e-processamento das imagens de face. Referˆencias Atlas Brasil (2014). Atlas do desenvolvimento humano no brasil 2013. Azkuna, I. (2012). Smart cities study. Technical report, The Committee of Digital and Knowledge-based Cities of UCLG, Bilbao, Biscay, Espanha. Berst, J. (2013). Smart cities readiness guide. Technical report, Smart Cities Council, Redmound, WA, USA. Committee of Digital and Knowledge-based Cities (2014). Comisi´on de ciudades digita-les y del conocimiento. Harrison, C. and Donnelly, I. A. (2011). A theory of smart cities. International Society for the Systems Sciences, (55). HAYKIN, S. (2001). Redes Neurais - 2ed. BOOKMAN COMPANHIA ED. Latha, P., Ganesan, L., and Annadurai, S. (2009). Face recognition using neural networks. Signal Processing: An International . . . , (3):153–160. LUGER, G. (2004). Inteligˆencia Artificial: Estruturas e estrat´egias para a soluc¸ ˜ao de problemas complexos. Bookman. Macroplan (2013). A Gest˜ao das grandes cidades brasileiras: resultados pr´aticas. Te-chnical report. MDS (2008). Pesquisa nacional sobre a populac¸ ˜ao em situac¸ ˜ao de rua. Technical report, Minist´erio do Desenvolvimento Social e Combate `a Fome. MTE (2014). Aspectos conceituais da vulnerabilidade social. Silva, E., Marin, A., and Gonzaga, A. (2005). Reconhecimento de Faces Neutras Usando Redes Neurais em Paralelo. IW orkshop de Vis˜ao . . . , 590:32–35. Townsend, A. (2013). Smart Cities: Big Data, Civic Hackers, and the Quest for a New Utopia. W. W. Norton.