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Shana Melnysyn, MA, ABD
Antropologia e História
Universidade de Michigan, EUA
shanamel@umich.edu

 Criar uma imagem da realidade social de Angola
colonial no final do século 19/início do século 20
 Esclarecer o contexto internacional
 Entender o contexto local
 Identificar os fatores que levaram à revolta
 Estabelecer uma hierarquia de importância de causas
 Dar a devida importância aos fatores não
económicos
Objectivos do Estudo

 Até que ponto é possível saber “a verdade” em
termos históricos?
 Muitos historiadores reconhecem que as fontes que
temos nunca estão completas, e nenhuma fonte pode
ser objectiva
 Nunca podemos “ouvir as vozes” de todas as
pessoas que participaram de um evento, e as vozes
que sobrevivem em forma escrita são as vozes das
pessoas que tinham o poder
História como disciplina
académica

 Qual é a função da memória na construção de
histórias?
 A memória do ser humano é perfeita? Ou pode
falhar? É completa ou parcial?
 Documentos primários = recordações particulares
de eventos
 História oral = versões de eventos que têm sido
alteradas pelo tempo, pelas circunstâncias políticas, e
por serem contadas várias vezes e por várias pessoas
História e Memória

Quais foram as forças principais na
história colonial de Angola no fim do
século 19, início do século 20?
História de Angola
O estado colonial
(português)
O comércio (de
escravos/serviçais, bor
racha, cera, marfim)
O poder das
autoridades
tradicionais
(sobas, reis)
(Ekuikui II)
As missões cristãs
(Católicas e
Protestantes)

 Portugal nunca teve facilidade na conquista de Angola
– sempre houve muita resistência em todas as regiões
de Angola
 Historiador francês René Pélissier escreveu dois livros
sobre as revoltas de Angola
 A Revolta do Bailundo (1902) foi a guerra mais
importante na conquista do planalto de Angola
Revoltas na História de Angola

O Planalto Central

 Muito importante em termos de comércio
 Foi a ligação entre o porto de Benguela e o interior
do continente africano – quem controlava o planalto
controlava o comércio Atlântico
 Comerciantes tinham que pagar impostos e tributos
às autoridades locais, e pedir a autorização para
passar com caravanas
 Entre 1890 e 1904, Portugal implementou uma
política agressiva de dominação militar sobre os
reinos Ovimbundu (Bailundo, Bié, Huambo)
A importância do planalto

 Mantinham muita autonomia até o século 20
 Tinham uma longa história de dominação do
comércio, comunicação, e transporte entre Benguela
e o interior do continente
 Era um povo bem integrado com as forças e valores
do capitalismo
 Mesmo assim, o povo mantinha tradições muito
fortes com respeito às autoridades tradicionais,
inclusive os ocimbanda (curandeiros)
A importância dos Ovimbundu

 O preço da borracha, caiu dramaticamente no
mercado mundial
 Dívida de aguardente – (Mutu-ya-Kevela)
 Mutu-ya-Kevela insultou os soldados, dizendo que
não respeitava a autoridade portuguesa
 Segundo a história oral, uma das mulheres do Rei
teve relações com um comerciante português, e o Rei
ficou furioso com essa falta de respeito
O que aconteceu em 1902?

 Concorrência com Grã Bretanha
 Muita pressão internacional para cumprir com as
exigências da Conferência de Berlim (1884-85)
 Ocupação efetiva
O que aconteceu em 1902?

 O recém-coroado Rei do Bailundo, Kalandula, foi
chamado à fortaleza e foi preso
 Os rebeldes, liderados por Mutu-ya-
Kevela, amarraram e mataram alguns comerciantes
 Os missionários foram ao campo de guerra e
tentaram negociar entre os rebeldes e as
autoridades, mas não deu certo
O que aconteceu em 1902?

 Mutu-ya-Kevela e milhares de rebeldes atacaram a
fortaleza do Bailundo
 O planalto todo ficou em revolta, os Ovimbundu
mataram comerciantes e queimaram casas de
comércio, fechando a comunicação entre o litoral e o
interior durante meses
 No final, os portugueses tinham potência de fogo
superior, e os Ovimbundu foram trucidados
O que aconteceu em 1902?

Alguns rebeldes conseguiram fugir até às
montanhas do Bimbe
Ficaram lá a resistir o domínio português até
1904...
Resistência até o fim:
Bimbe

Resistência até o fim:
Pedras de Kandumbu

Monumentos contraditórios
 “Homenagem a Coluna
do Sul - que aqui
travou em 18 e 19 de
setembro de 1902, os
últimos combates para
a ocupação do
Huambo”
 19-09-1948

Monumentos contraditórios
 “Governo Provincial do
Huambo – Administração
de Chicala Choloanga”
 “Memorial Heróis da Pedra
de Candumbo”
 16 maio 2009

 Não há só uma razão que tenha levado à Revolta do
Bailundo
 Uns historiadores tem argumentado que foi a
primeira instância de unidade étnica dos
Ovimbundu
 Mas há muita evidência ao contrário – Bailundo e Bié
ainda eram rivais, e o Rei do Bié não participou da
Revolta
 Houve casos de traições e alianças com os
portugueses durante a revolta
Conclusões

 Os missionários protestantes acreditavam que a
Revolta fosse uma demostração de desgosto com o
sistema de trabalho forçado e o comércio de
“serviçais” mandados para São Tomé
 Os missionários eram contra a escravatura e o
aguardente e uma grande parte da missão deles em
Angola foi a abolição
 Os líderes da Revolta eram elites, autoridades
tradicionais, que também vendiam e compravam
serviçais
Conclusões

 Causa primária: a necessidade de Portugal de
legitimar o seu projeto colonial nos olhos das
potências europeias (principalmente Grã
Bretanha), mas também nos olhos dos angolanos
 Os colonos preocupavam-se muito com a sua falta
de prestígio, dentro e fora de Angola
 Queriam tomar de vez o planalto para mostrar o seu
poder e solidificar sua soberania
Conclusões

 Causas secundárias:
 A queda do preço da borracha
 Crise de autoridade entre os reinos Ovimbundu
 Falta de entendimento em termos sociais (a dívida de
aguardente, o caso da mulher do rei)
 Descontentamento com os abusos das autoridades
portugueses e dos comerciantes contra os
Ovimbundu
 A questão de abusos foi a única constante nas
análises após a Revolta – cada grupo culpava ao
outro
Conclusões
Shana Melnysyn, MA, ABD
Antropologia e História
Universidade de Michigan, EUA
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A Revolta do Bailundo - Shana Melnysyn, 23 Agosto 2013

  • 1. Shana Melnysyn, MA, ABD Antropologia e História Universidade de Michigan, EUA shanamel@umich.edu
  • 2.   Criar uma imagem da realidade social de Angola colonial no final do século 19/início do século 20  Esclarecer o contexto internacional  Entender o contexto local  Identificar os fatores que levaram à revolta  Estabelecer uma hierarquia de importância de causas  Dar a devida importância aos fatores não económicos Objectivos do Estudo
  • 3.   Até que ponto é possível saber “a verdade” em termos históricos?  Muitos historiadores reconhecem que as fontes que temos nunca estão completas, e nenhuma fonte pode ser objectiva  Nunca podemos “ouvir as vozes” de todas as pessoas que participaram de um evento, e as vozes que sobrevivem em forma escrita são as vozes das pessoas que tinham o poder História como disciplina académica
  • 4.   Qual é a função da memória na construção de histórias?  A memória do ser humano é perfeita? Ou pode falhar? É completa ou parcial?  Documentos primários = recordações particulares de eventos  História oral = versões de eventos que têm sido alteradas pelo tempo, pelas circunstâncias políticas, e por serem contadas várias vezes e por várias pessoas História e Memória
  • 5.
  • 6.
  • 7.
  • 8.
  • 9.  Quais foram as forças principais na história colonial de Angola no fim do século 19, início do século 20? História de Angola
  • 11. O comércio (de escravos/serviçais, bor racha, cera, marfim)
  • 14.   Portugal nunca teve facilidade na conquista de Angola – sempre houve muita resistência em todas as regiões de Angola  Historiador francês René Pélissier escreveu dois livros sobre as revoltas de Angola  A Revolta do Bailundo (1902) foi a guerra mais importante na conquista do planalto de Angola Revoltas na História de Angola
  • 16.   Muito importante em termos de comércio  Foi a ligação entre o porto de Benguela e o interior do continente africano – quem controlava o planalto controlava o comércio Atlântico  Comerciantes tinham que pagar impostos e tributos às autoridades locais, e pedir a autorização para passar com caravanas  Entre 1890 e 1904, Portugal implementou uma política agressiva de dominação militar sobre os reinos Ovimbundu (Bailundo, Bié, Huambo) A importância do planalto
  • 17.   Mantinham muita autonomia até o século 20  Tinham uma longa história de dominação do comércio, comunicação, e transporte entre Benguela e o interior do continente  Era um povo bem integrado com as forças e valores do capitalismo  Mesmo assim, o povo mantinha tradições muito fortes com respeito às autoridades tradicionais, inclusive os ocimbanda (curandeiros) A importância dos Ovimbundu
  • 18.   O preço da borracha, caiu dramaticamente no mercado mundial  Dívida de aguardente – (Mutu-ya-Kevela)  Mutu-ya-Kevela insultou os soldados, dizendo que não respeitava a autoridade portuguesa  Segundo a história oral, uma das mulheres do Rei teve relações com um comerciante português, e o Rei ficou furioso com essa falta de respeito O que aconteceu em 1902?
  • 19.
  • 20.   Concorrência com Grã Bretanha  Muita pressão internacional para cumprir com as exigências da Conferência de Berlim (1884-85)  Ocupação efetiva O que aconteceu em 1902?
  • 21.   O recém-coroado Rei do Bailundo, Kalandula, foi chamado à fortaleza e foi preso  Os rebeldes, liderados por Mutu-ya- Kevela, amarraram e mataram alguns comerciantes  Os missionários foram ao campo de guerra e tentaram negociar entre os rebeldes e as autoridades, mas não deu certo O que aconteceu em 1902?
  • 22.   Mutu-ya-Kevela e milhares de rebeldes atacaram a fortaleza do Bailundo  O planalto todo ficou em revolta, os Ovimbundu mataram comerciantes e queimaram casas de comércio, fechando a comunicação entre o litoral e o interior durante meses  No final, os portugueses tinham potência de fogo superior, e os Ovimbundu foram trucidados O que aconteceu em 1902?
  • 23.  Alguns rebeldes conseguiram fugir até às montanhas do Bimbe Ficaram lá a resistir o domínio português até 1904... Resistência até o fim: Bimbe
  • 24.
  • 25.
  • 26.  Resistência até o fim: Pedras de Kandumbu
  • 27.
  • 28.  Monumentos contraditórios  “Homenagem a Coluna do Sul - que aqui travou em 18 e 19 de setembro de 1902, os últimos combates para a ocupação do Huambo”  19-09-1948
  • 29.  Monumentos contraditórios  “Governo Provincial do Huambo – Administração de Chicala Choloanga”  “Memorial Heróis da Pedra de Candumbo”  16 maio 2009
  • 30.   Não há só uma razão que tenha levado à Revolta do Bailundo  Uns historiadores tem argumentado que foi a primeira instância de unidade étnica dos Ovimbundu  Mas há muita evidência ao contrário – Bailundo e Bié ainda eram rivais, e o Rei do Bié não participou da Revolta  Houve casos de traições e alianças com os portugueses durante a revolta Conclusões
  • 31.   Os missionários protestantes acreditavam que a Revolta fosse uma demostração de desgosto com o sistema de trabalho forçado e o comércio de “serviçais” mandados para São Tomé  Os missionários eram contra a escravatura e o aguardente e uma grande parte da missão deles em Angola foi a abolição  Os líderes da Revolta eram elites, autoridades tradicionais, que também vendiam e compravam serviçais Conclusões
  • 32.   Causa primária: a necessidade de Portugal de legitimar o seu projeto colonial nos olhos das potências europeias (principalmente Grã Bretanha), mas também nos olhos dos angolanos  Os colonos preocupavam-se muito com a sua falta de prestígio, dentro e fora de Angola  Queriam tomar de vez o planalto para mostrar o seu poder e solidificar sua soberania Conclusões
  • 33.   Causas secundárias:  A queda do preço da borracha  Crise de autoridade entre os reinos Ovimbundu  Falta de entendimento em termos sociais (a dívida de aguardente, o caso da mulher do rei)  Descontentamento com os abusos das autoridades portugueses e dos comerciantes contra os Ovimbundu  A questão de abusos foi a única constante nas análises após a Revolta – cada grupo culpava ao outro Conclusões
  • 34. Shana Melnysyn, MA, ABD Antropologia e História Universidade de Michigan, EUA shanamel@umich.edu