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Resenha crítica do livro “Cartas a um jovem poeta”, de Rainer Maria Rilke (1929)
RILKE, Maria Rainer. Cartas a um jovem poeta. Porto Alegre: L&PM Editores, 2009. 91 p. 10,7 x
17,8 cm.
Rainer Maria Rilke nasceu em 1875, em Praga, na época do Império austro-húngaro, atual
República Tcheca. Ainda adolescente escreveu seu primeiro livro de poesia: “Vida e Canções”. Livro
decisivo em sua vida, afinal, devido a ele, percebeu que ela seria dedicada à arte da escrita. Formou-se
em Literatura e História da Arte pelas Universidades de Praga, Munique e Berlim. Escritor contumaz,
além de poesia, publicou romances, contos e peças, e ainda, trocou dezenas de cartas com amigos,
admiradores e uma amante. As obras “Elegias de Duíno” e “Os Sonetos a Orfeu” são consideradas
sua magnum opus. E o seu livro “Cartas a um jovem poeta”, constitui sua missiva mais popular.
Na primeira carta ao jovem poeta, com cuidado, Rilke se obstem da crítica. Pois para ele é algo
que põe mais a perder, do que ganhar. Contudo, ressalva a ausência de um estilo. Ainda, Kappus que
está à procura de uma aprovação que confirme seus versos como os de um “verdadeiro poeta”, é
aconselhado que essa confirmação não está no mundo exterior, mas em seu íntimo, ela deve vir de
dentro, uma autoconfirmação. Na segunda carta, Rilke encontra-se com a saúde debilitada, foi
atingido pela influenza. Desta vez, alerta seu “pupilo” ao uso da ironia, no qual deve ser usada com
cautela, e ainda, cita autores que lhe inspira, como: J. P. Jacobsen e Auguste Rodin. A terceira carta
chega recheada de alegria e vigor. Nesta, Rilke está contente, afinal, seu destinatário leu um pouco de
seu autor favorito: Jacobsen. O que o faz redigir falando mais sobre tal autor. E mais uma vez, alerta
sobre textos críticos e, também, textos estéticos. Além disso, reflete sobre a escrita de Richard
Dehmel, autor conhecido por obras que remetem ao amor e sexo. E por fim, recomenda alguns de seus
próprios livros. Na quarta correspondência o autor acalenta o jovem, é natural haver dúvidas, tanto
quando, não haver respostas. Mas tudo bem, não são as respostas que hão de mover as pessoas, são as
dúvidas, e é necessário vivê-las. Casado, pai, homem vivido, apesar da pouca idade, Rilke fala do
matrimônio, da dor e prazer, e o milagre de se gerar vida. Ainda, Kappus que se queixa da solidão, é
aconselhado a não temê-la, mas amá-la, afinal, ele pode crescer com ela. Além disso, também é dita a
importância de uma profissão. A quinta carta, uma carta breve, é escrita em Roma, e a respeito dessa
cidade disserta. Ressalta o aspecto de tristeza que ela exala, à primeira vista aos estrangeiros, por ser
uma cidade museu. Também descreve um pouco da arquitetura, e como, com o tempo, as pessoas se
adaptam a este lugar. A sexta carta, de certo modo, dialoga com a quarta. Novamente assuntos como a
solidão e um ofício são abordados. É reforçada a ideia da solidão não como algo meramente negativo,
mas como caminho para o crescimento interno. Kappus, a esta altura, tornara-se um oficial, cargo no
qual não se sente plenamente bem. Em suma, como em todas as profissões, o sentimento de
“opressão” é comum e normal, contudo há coisas que consolam, ele deve busca-las. O jovem,
também, passa por uma crise na fé (religiosa), o que faz Rilke dissertar sobre Deus, e a sua relação
com o homem. A sétima carta, brevemente, tece elogios a um soneto de Kappus. E, mais uma vez,
discorre a respeito da solidão. Como assunto novo, surge maior enfoque ao amor – um approach sob o
amor jovem, da inexperiência, da imaturidade, dos erros cometidos pela pouca idade. E, aos poucos,
vai “alargando” esse assunto, até que chegue ao amor em sua maneira mais ampla. A oitava carta, a
maior de todas em extensão, tem como constante a tristeza. Rilke expõe as faces desse sentimento
tortuoso, fala o quão avassalador ele pode ser, mas que, também, tem muito a ensinar. A tristeza, em
sua concepção, é um mal que vem para o bem, pois como uma doença, a tristeza chega e se instala,
porém está ali para liberta-lo de algum corpo estranho, de algum mal. A nona carta, a penúltima, tem
gosto de despedida, de epílogo, de ultimato. Uma carta curta e direta. Rilke fala sobre as dúvidas do
jovem. E se na primeira correspondência via a crítica como algo ruim, sua resposta, quase dois anos
depois, surpreende, Rilke aconselha o jovem poeta a fazer crítica – pasme. Mas não a crítica pura e
simples, e sim uma metacrítica, a crítica da crítica. O jovem possui uma tendência à dúvida, que
muitas vezes o sabota, essa dúvida (uma forma de autocrítica) deve ser questionada, criticada. Se a
nona carta tem gosto, a décima e última de fato é a despedida, o epílogo, o ultimato. Enviada pouco
mais de quatro anos após sua antecedente, esta celebra as boas novas que Kappus lhe enviara. Mais
outra vez fala da solidão, e ainda da alegria em saber que seu pupilo, apesar de solitário, se vê bem em
sua profissão. E finaliza dizendo que a arte “é apenas um modo de viver”.
O livro configura-se no gênero epistolar. Organizado por Franz Kappus, militar que também
escrevia poesia, é o resultado das missivas entre ele e Rilke. A obra foi publicada três anos após a
morte do escritor, e é formada por dez cartas endereçadas ao jovem, que, de maneira sugestiva,
transmitem a ideia que cada uma constitui um capítulo.
Rilke é um autor de referência no gênero epistolar, assim como seu contemporâneo Franz
Kafka, contudo, muitos outros antes deles já escreviam no gênero, como Lewis Carroll, Henry James,
e mesmo Machado de Assis – e não apenas escritores, pessoas comuns também. Assim, apesar de não
ser o pioneiro, longe disso, Rilke foi um importante missivista com sua escrita terna e poética. Sua
influência, inclusive, atravessou o Atlântico inspirando autores brasileiros como Cecília Meireles e
Manuel Bandeira. Como também, portugueses, americanos e tantos outros que não cabe aqui citar. Ler
o livro se configura uma experiência única. As cartas que se destinam a Kappus, também se destinam
a mim, a você. O conteúdo é universal. Se no inicio ansiava ajudar o jovem poeta a se entender melhor
no universo da escrita, acabou tornando-se um almanaque de questões, discussões, inquietações que
cercam a vida humana. O livro é indicado a todos que tenham a sensibilidade de enxergar a poesia, o
cuidado, e a sabedoria impressa em suas páginas.

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  • 1. Resenha crítica do livro “Cartas a um jovem poeta”, de Rainer Maria Rilke (1929) RILKE, Maria Rainer. Cartas a um jovem poeta. Porto Alegre: L&PM Editores, 2009. 91 p. 10,7 x 17,8 cm. Rainer Maria Rilke nasceu em 1875, em Praga, na época do Império austro-húngaro, atual República Tcheca. Ainda adolescente escreveu seu primeiro livro de poesia: “Vida e Canções”. Livro decisivo em sua vida, afinal, devido a ele, percebeu que ela seria dedicada à arte da escrita. Formou-se em Literatura e História da Arte pelas Universidades de Praga, Munique e Berlim. Escritor contumaz, além de poesia, publicou romances, contos e peças, e ainda, trocou dezenas de cartas com amigos, admiradores e uma amante. As obras “Elegias de Duíno” e “Os Sonetos a Orfeu” são consideradas sua magnum opus. E o seu livro “Cartas a um jovem poeta”, constitui sua missiva mais popular. Na primeira carta ao jovem poeta, com cuidado, Rilke se obstem da crítica. Pois para ele é algo que põe mais a perder, do que ganhar. Contudo, ressalva a ausência de um estilo. Ainda, Kappus que está à procura de uma aprovação que confirme seus versos como os de um “verdadeiro poeta”, é aconselhado que essa confirmação não está no mundo exterior, mas em seu íntimo, ela deve vir de dentro, uma autoconfirmação. Na segunda carta, Rilke encontra-se com a saúde debilitada, foi atingido pela influenza. Desta vez, alerta seu “pupilo” ao uso da ironia, no qual deve ser usada com cautela, e ainda, cita autores que lhe inspira, como: J. P. Jacobsen e Auguste Rodin. A terceira carta chega recheada de alegria e vigor. Nesta, Rilke está contente, afinal, seu destinatário leu um pouco de seu autor favorito: Jacobsen. O que o faz redigir falando mais sobre tal autor. E mais uma vez, alerta sobre textos críticos e, também, textos estéticos. Além disso, reflete sobre a escrita de Richard Dehmel, autor conhecido por obras que remetem ao amor e sexo. E por fim, recomenda alguns de seus próprios livros. Na quarta correspondência o autor acalenta o jovem, é natural haver dúvidas, tanto quando, não haver respostas. Mas tudo bem, não são as respostas que hão de mover as pessoas, são as dúvidas, e é necessário vivê-las. Casado, pai, homem vivido, apesar da pouca idade, Rilke fala do matrimônio, da dor e prazer, e o milagre de se gerar vida. Ainda, Kappus que se queixa da solidão, é aconselhado a não temê-la, mas amá-la, afinal, ele pode crescer com ela. Além disso, também é dita a importância de uma profissão. A quinta carta, uma carta breve, é escrita em Roma, e a respeito dessa cidade disserta. Ressalta o aspecto de tristeza que ela exala, à primeira vista aos estrangeiros, por ser uma cidade museu. Também descreve um pouco da arquitetura, e como, com o tempo, as pessoas se adaptam a este lugar. A sexta carta, de certo modo, dialoga com a quarta. Novamente assuntos como a solidão e um ofício são abordados. É reforçada a ideia da solidão não como algo meramente negativo, mas como caminho para o crescimento interno. Kappus, a esta altura, tornara-se um oficial, cargo no qual não se sente plenamente bem. Em suma, como em todas as profissões, o sentimento de “opressão” é comum e normal, contudo há coisas que consolam, ele deve busca-las. O jovem, também, passa por uma crise na fé (religiosa), o que faz Rilke dissertar sobre Deus, e a sua relação
  • 2. com o homem. A sétima carta, brevemente, tece elogios a um soneto de Kappus. E, mais uma vez, discorre a respeito da solidão. Como assunto novo, surge maior enfoque ao amor – um approach sob o amor jovem, da inexperiência, da imaturidade, dos erros cometidos pela pouca idade. E, aos poucos, vai “alargando” esse assunto, até que chegue ao amor em sua maneira mais ampla. A oitava carta, a maior de todas em extensão, tem como constante a tristeza. Rilke expõe as faces desse sentimento tortuoso, fala o quão avassalador ele pode ser, mas que, também, tem muito a ensinar. A tristeza, em sua concepção, é um mal que vem para o bem, pois como uma doença, a tristeza chega e se instala, porém está ali para liberta-lo de algum corpo estranho, de algum mal. A nona carta, a penúltima, tem gosto de despedida, de epílogo, de ultimato. Uma carta curta e direta. Rilke fala sobre as dúvidas do jovem. E se na primeira correspondência via a crítica como algo ruim, sua resposta, quase dois anos depois, surpreende, Rilke aconselha o jovem poeta a fazer crítica – pasme. Mas não a crítica pura e simples, e sim uma metacrítica, a crítica da crítica. O jovem possui uma tendência à dúvida, que muitas vezes o sabota, essa dúvida (uma forma de autocrítica) deve ser questionada, criticada. Se a nona carta tem gosto, a décima e última de fato é a despedida, o epílogo, o ultimato. Enviada pouco mais de quatro anos após sua antecedente, esta celebra as boas novas que Kappus lhe enviara. Mais outra vez fala da solidão, e ainda da alegria em saber que seu pupilo, apesar de solitário, se vê bem em sua profissão. E finaliza dizendo que a arte “é apenas um modo de viver”. O livro configura-se no gênero epistolar. Organizado por Franz Kappus, militar que também escrevia poesia, é o resultado das missivas entre ele e Rilke. A obra foi publicada três anos após a morte do escritor, e é formada por dez cartas endereçadas ao jovem, que, de maneira sugestiva, transmitem a ideia que cada uma constitui um capítulo. Rilke é um autor de referência no gênero epistolar, assim como seu contemporâneo Franz Kafka, contudo, muitos outros antes deles já escreviam no gênero, como Lewis Carroll, Henry James, e mesmo Machado de Assis – e não apenas escritores, pessoas comuns também. Assim, apesar de não ser o pioneiro, longe disso, Rilke foi um importante missivista com sua escrita terna e poética. Sua influência, inclusive, atravessou o Atlântico inspirando autores brasileiros como Cecília Meireles e Manuel Bandeira. Como também, portugueses, americanos e tantos outros que não cabe aqui citar. Ler o livro se configura uma experiência única. As cartas que se destinam a Kappus, também se destinam a mim, a você. O conteúdo é universal. Se no inicio ansiava ajudar o jovem poeta a se entender melhor no universo da escrita, acabou tornando-se um almanaque de questões, discussões, inquietações que cercam a vida humana. O livro é indicado a todos que tenham a sensibilidade de enxergar a poesia, o cuidado, e a sabedoria impressa em suas páginas.