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Economic Letter
2002 número 1
Nova Ordem Econômica
Luiz Nelson Porto Araujo
Existe uma correlação entre o avanço do mercado de capitais de um país e seu progresso
econômico. Sem ele não se consegue gerar poupança interna. Trata-se, porém, de uma
condição necessária, mas não suficiente. O papel da boa governança corporativa é cada vez
mais fundamental nas empresas públicas e privadas. No cenário internacional, a
globalização dos fluxos dos capitais financeiros e produtivos, suas restrições, tributação e
internalização são assuntos da ordem do dia.
Nos últimos anos, os economistas chegaram a uma conclusão aparentemente nova, mas definitiva:
existe uma correlação entre o avanço do mercado de capitais de um país e seu progresso econômico.
Quando se analisa o crescimento da Alemanha, do Japão e dos Estados Unidos – três referenciais
históricos importantes, pois tiveram que reconstruir suas economias após a Segunda Guerra Mundial –
conclui-se que o papel do mercado de capitais é fundamental no processo de desenvolvimento. Sem
ele não se consegue gerar poupança interna. Trata-se, porém, de uma condição necessária, mas não
suficiente.
O Brasil vem acumulando, nos últimos anos, déficits nas transações correntes que variam de
US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões, refletindo o baixo nível de poupança que a sociedade consegue
gerar em relação à sua capacidade produtiva. Isso significa que o País está sendo financiado pelo resto
do mundo. Se de um dia para o outro – hipoteticamente – os investidores internacionais cortarem
nosso crédito, teremos que ajustar as contas e botar ordem na casa.
Por essa razão, aplicar o conceito de governança corporativa parece oportuno. Esse conceito
surgiu no começo do século XX, quando teve início o processo de industrialização nos Estados Unidos
e discutia-se a separação entre o controle e a propriedade. Uma boa estrutura de governança
corporativa tem um impacto relevante e significativo sobre o valor de um negócio, pois reduz o custo
do capital, aumentando o valor econômico do empreendimento. Essa é a consequência positiva da
adoção dessa prática tanto para o acionista, o governo e o regulador quanto para o funcionário, que
pode ter participação no lucro ou no resultado da companhia.
Fruto de um processo de mudanças baseado em diversas variáveis, a chamada nova ordem
econômica possui duas dimensões distintas: a primeira, é um componente de governança corporativa
representado pela forma como a sociedade distribui o poder e coordena o processo decisório de um
empreendimento; a segunda, é a questão da "disclosure", a transparência da informação. Hoje em dia,
o problema da informação não é sua disponibilidade, mas sua credibilidade. Embora possamos acessar
E C O N O M I C L E T T E R
__________________________________________________________________________________
uma enorme gama de informações com grande velocidade e a custos cada vez menores, temos dúvidas
sobre o conteúdo informativo que estamos alcançando. Exemplos recentes comprovam essa teoria.
A "boa governança" chegou também às empresas públicas, consequência da redefinição do papel
do Estado iniciada na Inglaterra há pouco mais de vinte anos. Pois competitividade, produtividade e
qualidade são fatores vitais para a sobrevivência de qualquer empresa. A busca de alianças estratégicas
também passou a fazer parte do dia-a-dia das organizações. Já é possível enxergar o concorrente como
um aliado, dependendo da circunstância, da batalha a ser vencida e da estratégia montada para
determinada atividade. Contudo, ao mesmo tempo que assusta, a nova ordem econômica traz uma
série de oportunidades que podem ser agrupadas em dois planos.
O primeiro é a redistribuição geográfica da produção industrial. Nos últimos 80 anos, a siderurgia
se deslocou dos Estados Unidos para o Japão, do Japão para a Índia e o Brasil e, finalmente, chegou a
outros países do Sudeste Asiático. Outro exemplo é o setor automobilístico: o Brasil possui hoje mais
montadoras instaladas que os Estados Unidos. A principal conclusão da análise da geografia
econômica é que na nova visão global a indústria passeia pelo mundo.
O segundo plano é a mudança na matriz industrial. Sistematicamente o setor industrial vem
perdendo espaço para o de serviços, e os países que têm tido mais sucesso nesse processo são aqueles
que conseguem migrar de uma estrutura para outra com agilidade e rapidez. Quando a atividade
industrial se reduz, a capacidade de redistribuir o capital humano, físico e financeiro para outro setor
irá definir se a economia sobreviverá ou se será engolida pela recessão.
O fluxo de capitais aumentou com as mudanças ocorridas no mundo, principalmente nos países
em que esses recursos são mais escassos em relação ao capital humano. Proporcionalmente ao PIB,
nas últimas décadas países da África, da América Latina e do Leste Europeu receberam mais
investimentos que as nações desenvolvidas. A lógica é simples: quando um recurso é escasso, sua
produtividade marginal é maior e, portanto, o rendimento esperado também é superior.
Para enfrentar os desafios dessa nova ordem econômica, o BNDES tem dado sinais de que
pretende onerar menos suas operações de empréstimo e financiamento para as empresas que adotem
práticas de governança corporativa. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
propôs para as concessionárias e as permissionárias do setor elétrico brasileiro a instituição de um
manual de contabilidade. São bons exemplos de medidas que buscam aumentar a transparência na
gestão empresarial no Brasil.
No cenário internacional, a globalização dos fluxos dos capitais financeiros e produtivos, suas
restrições, tributação e internalização são assuntos da ordem do dia. No plano nacional, o
deslocamento do papel do Estado produtor para regulador e as políticas cambial, industrial e de
comércio exterior têm sido responsáveis por assegurar um desenvolvimento sustentável para o País.
Ainda que os economistas não tenham considerado o impacto do mercado de capitais sobre o
desenvolvimento econômico do ponto de vista da governança corporativa – ou seja, de que maneira o
mercado financeiro permite distribuir riscos –, o intuito é aumentar a qualidade da informação.
Quando a ANEEL propõe a criação de um manual de contabilidade, ela quer apenas que o grau de
informação disponível aos investidores seja o maior possível. Porque, quando isso acontece, o custo
do capital da empresa é menor e seu valor econômico aumenta. E aí não só ela, mas toda a sociedade
se beneficia.
Luiz Nelson Porto Araujo, economista, é sócio-diretor da Delta Economics & Finance. Foi Professor do Departamento de
Planejamento e Análise Econômica da EAESP-FGV e da FCECA da Universidade Mackenzie.
As opiniões expressas nesse estudo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es) e não expressam, necessariamente, a
visão da Delta Economics & Finance.

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El - 2002 - nova ordem econômica

  • 1. Economic Letter 2002 número 1 Nova Ordem Econômica Luiz Nelson Porto Araujo Existe uma correlação entre o avanço do mercado de capitais de um país e seu progresso econômico. Sem ele não se consegue gerar poupança interna. Trata-se, porém, de uma condição necessária, mas não suficiente. O papel da boa governança corporativa é cada vez mais fundamental nas empresas públicas e privadas. No cenário internacional, a globalização dos fluxos dos capitais financeiros e produtivos, suas restrições, tributação e internalização são assuntos da ordem do dia. Nos últimos anos, os economistas chegaram a uma conclusão aparentemente nova, mas definitiva: existe uma correlação entre o avanço do mercado de capitais de um país e seu progresso econômico. Quando se analisa o crescimento da Alemanha, do Japão e dos Estados Unidos – três referenciais históricos importantes, pois tiveram que reconstruir suas economias após a Segunda Guerra Mundial – conclui-se que o papel do mercado de capitais é fundamental no processo de desenvolvimento. Sem ele não se consegue gerar poupança interna. Trata-se, porém, de uma condição necessária, mas não suficiente. O Brasil vem acumulando, nos últimos anos, déficits nas transações correntes que variam de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões, refletindo o baixo nível de poupança que a sociedade consegue gerar em relação à sua capacidade produtiva. Isso significa que o País está sendo financiado pelo resto do mundo. Se de um dia para o outro – hipoteticamente – os investidores internacionais cortarem nosso crédito, teremos que ajustar as contas e botar ordem na casa. Por essa razão, aplicar o conceito de governança corporativa parece oportuno. Esse conceito surgiu no começo do século XX, quando teve início o processo de industrialização nos Estados Unidos e discutia-se a separação entre o controle e a propriedade. Uma boa estrutura de governança corporativa tem um impacto relevante e significativo sobre o valor de um negócio, pois reduz o custo do capital, aumentando o valor econômico do empreendimento. Essa é a consequência positiva da adoção dessa prática tanto para o acionista, o governo e o regulador quanto para o funcionário, que pode ter participação no lucro ou no resultado da companhia. Fruto de um processo de mudanças baseado em diversas variáveis, a chamada nova ordem econômica possui duas dimensões distintas: a primeira, é um componente de governança corporativa representado pela forma como a sociedade distribui o poder e coordena o processo decisório de um empreendimento; a segunda, é a questão da "disclosure", a transparência da informação. Hoje em dia, o problema da informação não é sua disponibilidade, mas sua credibilidade. Embora possamos acessar
  • 2. E C O N O M I C L E T T E R __________________________________________________________________________________ uma enorme gama de informações com grande velocidade e a custos cada vez menores, temos dúvidas sobre o conteúdo informativo que estamos alcançando. Exemplos recentes comprovam essa teoria. A "boa governança" chegou também às empresas públicas, consequência da redefinição do papel do Estado iniciada na Inglaterra há pouco mais de vinte anos. Pois competitividade, produtividade e qualidade são fatores vitais para a sobrevivência de qualquer empresa. A busca de alianças estratégicas também passou a fazer parte do dia-a-dia das organizações. Já é possível enxergar o concorrente como um aliado, dependendo da circunstância, da batalha a ser vencida e da estratégia montada para determinada atividade. Contudo, ao mesmo tempo que assusta, a nova ordem econômica traz uma série de oportunidades que podem ser agrupadas em dois planos. O primeiro é a redistribuição geográfica da produção industrial. Nos últimos 80 anos, a siderurgia se deslocou dos Estados Unidos para o Japão, do Japão para a Índia e o Brasil e, finalmente, chegou a outros países do Sudeste Asiático. Outro exemplo é o setor automobilístico: o Brasil possui hoje mais montadoras instaladas que os Estados Unidos. A principal conclusão da análise da geografia econômica é que na nova visão global a indústria passeia pelo mundo. O segundo plano é a mudança na matriz industrial. Sistematicamente o setor industrial vem perdendo espaço para o de serviços, e os países que têm tido mais sucesso nesse processo são aqueles que conseguem migrar de uma estrutura para outra com agilidade e rapidez. Quando a atividade industrial se reduz, a capacidade de redistribuir o capital humano, físico e financeiro para outro setor irá definir se a economia sobreviverá ou se será engolida pela recessão. O fluxo de capitais aumentou com as mudanças ocorridas no mundo, principalmente nos países em que esses recursos são mais escassos em relação ao capital humano. Proporcionalmente ao PIB, nas últimas décadas países da África, da América Latina e do Leste Europeu receberam mais investimentos que as nações desenvolvidas. A lógica é simples: quando um recurso é escasso, sua produtividade marginal é maior e, portanto, o rendimento esperado também é superior. Para enfrentar os desafios dessa nova ordem econômica, o BNDES tem dado sinais de que pretende onerar menos suas operações de empréstimo e financiamento para as empresas que adotem práticas de governança corporativa. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) propôs para as concessionárias e as permissionárias do setor elétrico brasileiro a instituição de um manual de contabilidade. São bons exemplos de medidas que buscam aumentar a transparência na gestão empresarial no Brasil. No cenário internacional, a globalização dos fluxos dos capitais financeiros e produtivos, suas restrições, tributação e internalização são assuntos da ordem do dia. No plano nacional, o deslocamento do papel do Estado produtor para regulador e as políticas cambial, industrial e de comércio exterior têm sido responsáveis por assegurar um desenvolvimento sustentável para o País. Ainda que os economistas não tenham considerado o impacto do mercado de capitais sobre o desenvolvimento econômico do ponto de vista da governança corporativa – ou seja, de que maneira o mercado financeiro permite distribuir riscos –, o intuito é aumentar a qualidade da informação. Quando a ANEEL propõe a criação de um manual de contabilidade, ela quer apenas que o grau de informação disponível aos investidores seja o maior possível. Porque, quando isso acontece, o custo do capital da empresa é menor e seu valor econômico aumenta. E aí não só ela, mas toda a sociedade se beneficia. Luiz Nelson Porto Araujo, economista, é sócio-diretor da Delta Economics & Finance. Foi Professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica da EAESP-FGV e da FCECA da Universidade Mackenzie. As opiniões expressas nesse estudo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es) e não expressam, necessariamente, a visão da Delta Economics & Finance.