Esta pesquisa retratou as histórias de vida dos adolescentes que se encontravam em situação de rua. Estes frequentavam o Núcleo Albergue João XXIII, um abrigo da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará (STDS). A situação de rua é carregada de preconceitos e estigmas que reforçam a exclusão social e a violação de direitos humanos. Assim, este trabalho teve como objetivo analisar a vinculação afetiva dos adolescentes atendidos em relação ao Núcleo Albergue João XXIII, com o enfoque na situação de rua e no processo de exclusão social sob a ótica da Psicologia Social Crítica e da Psicologia Comunitária Cearense. Neste sentido, dialogamos com diversos estudiosos como: Lane (2004, 2006), Martín Baró (2009), Sawaia (2000, 2011), Góis (2005, 2008, 2012). Neste estudo, enfatizamos a categoria afetividade como construção teórica e prática marcante para a Psicologia Social e Comunitária na medida em que nos permitiu desenvolver uma reflexão sobre a exclusão e a situação de rua reconhencendo-a como fenômeno socialmente construído,portanto, passível de modificação. Estudar as desigualdades sociais utilizando a afetividade significa suscitar questionamentos que permitem desnaturalizar a pobreza e desfazer a ideia de culpabilização dos adolescentes de sua situação social. Na metodologia, utilizamos a abordagem qualitativa em um estudo do tipo etnográfico. Para a coleta de dados, recorremos à observação participante, a pesquisa documental e a entrevista semiestruturada com os adolescentes do Albergue. Na narrativa dos adolescentes, percebemos que os vínculos afetivos com suas famílias estavam fragilizados, mas ainda existiam e que havia sofrimento por este afastamento, a falta de perspectiva de futuro junto de suas famílias e de sua comunidade.
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Afetividade e Exclusão social em adolescentes em situação de rua
1. “MAS,EU SÓ QUERO, EU SÓ QUERIA MESMO ERA PODER MUDAR DE VIDA”:Exclusão Social e afetividade em adolescentes em situação de rua
Maria da Conceição Gomes da Silva
Orientador: Ms. Deyseane Maria de Araújo Lima
Especialização em Psicologia Social e Comunitária
2. •Crianças e adolescentes em situação de rua.
•Trabalho com este público
•Estudo da Psicologia Social Crítica.
• Adolescentes em situação de rua:
Resultado de um processo de exclusão social a que está submetida a grande parte da população brasileira, originado na constituição da história social do país, profundamente marcada pela “desigualdade, pela exclusão e pela dominação”. (Pinheiro 2006,p.40)
INTRODUÇÃO
3. Busca-se com este estudo, à luz da Psicologia Social Crítica: Analisar a situação de rua e o processo de exclusão a que esses adolescentes que atendidos no Núcleo Albergue João XXIII, sem perder de vista a possibilidade de, através de nossas mediações, nos constituirmos instrumentos de transformação de suas realidades. (BOCK, FERREIRA & FURTADO, 2007). Quais os sonhos e expectativas dos adolescentes em situação de rua; como eles se veem? O que eles esperam da vida? O título da pesquisa nasceu da fala de um dos adolescente entrevistados, demonstrando seu desejo de superar sua situação, mas impedido de realizar seu desejo pelas situação de exclusão a que estar submetido.
INTRODUÇÃO
4. OBJETIVO GERAL
Analisar a situação de rua e o processo de exclusão social dos adolescentes atendidos no Núcleo Albergue João XXIII, sob a ótica da Psicologia Social Crítica.
5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Identificar na vida dos adolescentes, fatores que levaram a esse processo de exclusão; (Cap. 1)
Entender seus modos de pensar, sentir e agir diante de suas condições de vida;(Cap. 3)
Conhecer seus sonhos e expectativas em relação ao futuro. (Cap. 3)
6. REFERENCIAL TÉORICO
A SITUAÇÃO DE RUA COMO RESULTADO DA EXCLUSÃO SOCIAL
•Como eram vistas as crianças e adolescentes das classes pobres.(PINHEIRO, 2005):
Trombadinha, Pivete e Menor de Rua ( sempre ligado à criminalidade)
•Anos 80/90- Industrialização e crescimento urbano: Agora o pobre é representado como um bandido em potencial. (NASCIMENTO, 1994,p. 43) Culpabilização (GUARESCHI,2011)
7. REFERENCIAL TEÓRICO
•Estatuto da Criança e do Adolescente ( Lei 8069/90)
•SUJEITOS DE DIREITO X VIOLAÇÃO DE DIREITOS:
Distância entre a lei e a realidade.
• Motivos de ida para as ruas:
Drogas
Violência Doméstica
Vínculos familiares fragilizados
Miséria
Amigos
Escolha Própria
Exploração do trabalho infantil
Conflitos comunitários
Exploração Sexual (Campanha Nacional Criança não é de Rua,2012)
8. REFERENCIAL TEÓRICO
PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA: NOVOS HORIZONTES
A Ineficácia do modelo positivista( LANE, 2004)
Psicologia em bases materialistas históricas
Psicologia da Libertação( MARTIN BARÓ,2009)
Psicologia Social Comunitária (GÓIS,2005)
Categorias da Psicologia Social Crítica:
Consciência, Atividade, Identidade, Afetividade.
9. REFERENCIAL TEÓRICO
Psicologia Social e Afetividade
•A emoção como instrumento de mediação na constituição do psiquismo Humano (LANE, 2006)
•A emoção vista pelos racionalistas como perturbadora da racionalidade do conhecimento.( SAWAIA, 2000)
•O resgate da emoção como fonte de desnaturalização dos fenômenos sociais e instrumento de transformação social (LIMA, BONFIM, PASCUAL,2009)
•A compreensão da situação de rua à luz da categoria afetividade, superação do paradigma da neutralidade científica(SAWAIA,2011)
10. REFERENCIAL TEÓRICO
Afetividade e Potência de Ação
Todo ser Humano traz em si a raiz da Felicidade e da Alegria.(ESPINOSA, 1989)
Potencializar é dar positividade as emoções , transformando-as de fonte de desordem em modos de pensar e agir positivamente.(SAWAIA,2010)
O ser humano não existe isoladamente, afeta e é afetado.( BRANDÃO,2012)
11. REFERENCIAL TEÓRICO
Afetividade e Exclusão
“A afetividade é o nome atribuído à capacidade humana de elevar seus instintos à altura da consciência, por meio de significados, de mediar à afecção pelos signos sociais aumentando ou diminuindo sua potência de ação”.(Sawaia (2000, p.15),
Utilizar a afetividade como categoria de análise, permite:
Desenvolver uma reflexão da dialética inclusão /exclusão, para desfazer a ideia de que os indivíduos são responsáveis por sua situação social e analisa-os como resultado de uma situação perversa de exclusão social;
12. REFERENCIAL TEÓRICO
A exclusão numa compreensão dialética Excluídos são todos aqueles rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores (Xiberras, APUD WANDERLEY, 2011,p. 21) O Conceito de exclusão é ambiguo e permite usos “retóricos de diferentes qualidades, desde a concepção de desigualdade como resultante de deficiência ou inadaptação individual, falta de qualquer coisa(...) até a da injustiça e exploração social.(SAWAIA ,2011, p.8)
14. METODOLOGIA
Sujeitos e Lócus Seis adolescentes atendidos no Núcleo Albergue João XIII Análise dos dados: Análise de discurso
15. A rua como alternativa de vida e espaço de privação, sofrimento e violência(MORAIS, NEIVA-SILVA,KOLLER,2010): Viver nas ruas assim...É muito difícil, é, né? Mas tem que encarar as coisas difícil, né ? Eu em cada dia, em dia a dia, eu encaro uma coisa difícil, encaro um sentido difícil no meio da rua, tem que encarar as drogas, tem que encarar os “pessoal”, né?
O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
16. O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
Os encantos da rua, a perspectiva de diversão e liberdade (RIZZINNI 2003):
“Tem vez que acho bom ficar na rua também porque é livre, pode fazer um bocado de coisa.” (PABLO, 17 anos)
As Estratégias de sobrevivência:
Ao irem para as ruas, os adolescentes desenvolvem estratégias psicológicas de enfrentamento que levam a formas peculiares de existência que são fundamentais para sua sobrevivência.
Góis (2003) identifica categorias psicológicas (identidade do oprimido e explorado) que se desenvolve em condições de pobreza extrema que levam a cristalização de uma identidade, que não compreendidas ,são julgadas, como delinquência.
17. Martin- Baró (1998) aponta que essa identidade de oprimido e explorado é justificado pelo fatalismo que leva o indivíduo a explicar o fatos cotidianos de sua existência “por meio de fenômenos da natureza ou da vontade de uma identidade superior, ambos impossíveis de serem controlados” (CIDADE,MOURA &XIMENES,2012,p.94). O uso da droga e situação de rua como obra de uma força superior: “Eu vou pra minha casa e fico pensando, penso na rua, aí bate aquela vontade de você tá bem pertinho assim, parece o “cão” atentando... (RONALDO, 14 anos)
O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
18. O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
Drogas: impotência (MIRANDA, 2005) “Mas é que a rua é muito difícil, a pessoa vai pra casa da mãe, a pessoa fica pensando, pensando nas drogas(...) (RONALDO, 14 anos) Reações diante da exclusão (SAWAIA(2011):
•Consciência da Exclusão e desejo de sair dela(PABLO);
•Impotência(RONALDO);
•Cristalização de uma identidade negativa.(RONALDO)
19. AS PRINCIAPAIS ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA
Esmolar: “quando eu estou na rua, eu saio pedindo aos outros, comida nas mesas” (PABLO, 17 anos),
A realização de pequenos serviços: “uma pessoa precisando de uma pessoa pra jogar lixo, jogar umas coisas, aí eu ganho um dinheirinho,ou ganho uma merenda...ou às vezes os ‘pessoal’ me chama pra ir na casa, tomar banho, me dão uma roupa, me dão uma chinela, assim.” ( PAULO, 16 anos)
Prática de atos infracionais: “às vezes eu peço, às vezes eu ‘robo’”(RONALDO, 14 ANOS
O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
20. O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
Essas práticas causam sentimentos de compaixão,mas o sentimento mais frequente é o medo ( MARINHO, 2012): “Às vezes eu penso que as pessoas têm medo, nojo porque eu sou de rua. Primeiro porque eu sou de rua e depois que eu sou ladrão”(RONALDO, 14 anos) A procura das Instituições para a realização de necessidades físicas e até afetivas. Quando eu chego aqui no Albergue o que eu espero encontrar, os educadores que eu mais gosto, as cozinheiras, a comida, que eu adoro a comida daqui do Albergue, gosto de todo mundo do Albergue, se “dou” com todo mundo aqui do albergue, todo mundo do Albergue gosta de mim.( PAULO, 16 anos)
21. O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
Vínculos com a família( MARINHO,2012) Minha vó se aposentou, ganha o dinheiro dela, tem a casa dela lá no Parque Santa Rosa. Minha mãe, minha mãe ela vive lá na favela ali do Henrique Jorge, mais ou menos assim.(...)(PABLO,16 anos) Idealização da família( ALVES, 1998): Você sabe, né, mãe é sagrada”.(PABLO, 16 anos) Ao mesmo tempo culpa a mãe:“Foi depois que minha mãe me bateu, né porque eu peguei minha mãe usando drogas, eu tinha cinco anos de idade. A minha mãe me bateu, peguei fugi de casa (...)”( PABLO,16 anos)
22. O pensar, o sentir e o agir dos adolescentes do Núcleo Albergue
Sonhos e expectativas
Retorno às redes de sociabilidade
“Morar sozinho e trabalhar. Fazer faculdade. Estudar também...”( PABLO, 17 anos)
Estudo e trabalho
“Eu queria muito, eu sinto muita, muita vontade (...) de começar a estudar novamente, começar a trabalhar.(PAULO, 16 anos).
Experiências sócio-culturais
“Trabalhar na Dakota” (MONALISA, 13 anos)
A mediação da Instituição como possibilidade – sonhos possíveis e sonhos mirabolantes:
(...)Se tiver alguma chance eu queria ir para uma escolinha (de futebol), se eu tiver aqui...Se aparecer algum atleta, né, eu queria ir pra escolinha, se eu tiver aqui, eu vou pedir a ele pra eu ir treinar onde ele tá... pra eu ir pra escolinha...(RAÍ, 17 anos) (
23. CONCLUSÃO
•Compreensão da situação de exclusão como processo que afasta os sujeitos da positividade de sua potência.
•o título da pesquisa: “Mas eu só quero, eu só queria mesmo era poder mudar de vida”,.
•Espinosa (1989 apud BRANDÃO, 2012): “toda coisa se esforça enquanto está em si, para perseverar no seu ser”.
• O desejo de ser feliz,ou pelo menos uma força em potencial para buscar essa felicidade,
24. •Percepção dos desejos dos adolescentes.
• Ouvi-los representa para eles uma possibilidade.
•O objetivo primordial da Psicologia Social Crítica: Propor caminhos de transformação das realidades sociais injustas, ouvindo as vozes dos injustiçados.
CONCLUSÃO
25. REFERÊNCIAS
LANE, S.T.M. & CODO, W (Orgs.) Psicologia Social: O homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1989. LANE, S.T.M. & SAWAIA, Bader B.Org A Mediação emocional na constituição do psiquismo humano. In: LANE, S.T.M. & SAWAIA, Bader B. (Orgs) Novas veredas da Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, Educ. 2006. MARTIN-BARÓ. Para uma Psicologia da Libertação. In: GUZZO, Raquel S.L. LACERDA Júnior, Fernando (Org.). Psicologia Social para a América Latina: o resgate da Psicologia da Libertação.Campinas, São Paulo: Alínea, 2009 PINHEIRO, Ângela. Criança e Adolescente no Brasil: Porque o abismo entre a lei e a realidade. Fortaleza: Editora UFC. 2005.
26. SAWAIA, B. B. (2000). A emoção como locus de produção do conhecimento: Uma reflexão inspirada em Vygotsky e no seu diálogo com Espinosa. Trabalho não publicado, III Conferência de Pesquisa Sociocultural, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Campinas, SP, 2000. Disponível em WWW.fae.unicamp.br/br. Impresso em 26/10/2012.
SAWAIA, Bader. O sofrimento ético político como categoria de análise da dialética exclusão/inclusão. In: SAWAIA, Bader.(org.)As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 11. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011,pp.99-117
SAWAIA, Bader.Introdução: Exclusão ou inclusão perversa. In: SAWAIA, Bader.(org.)As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 11. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011, pp. 7-13
REFERÊNCIAS