SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 5
GESTÃO	LEAN	E	ÁGIL	DE	PROJECTOS	
Do	modelo	tradicional	(waterfall)	à	estrutura	Scrum	
Christiane Tscharf e João Paulo Pinto, CLT VALUEBASE SERVICES
Abstract
Lean	 Thinking	 main	 focus	 is	 reducing	 waste,	 while	 creating	 value	 and	 satisfying	 customer's	 needs,	
through	processes	that	may	guarantee	the	organisation	sustainability.	As	well	as	other	types	of	projects,	
Lean	Projects	are	subject	to	change,	risk	and	other	kinds	of	constraints.	
The	emphasis	of	the	traditional	project	management	model,	usually	named	Waterfall,	lies	in	the	initial	
planning	of	the	project,	on	setting	the	scope,	cost	and	schedule,	and	managing	these	parameters.	
The	 Scrum	 framework	 focus	 on	 deliver	 the	 greatest	 amount	 of	 value	 in	 the	 shortest	 possible	 time,	
encourages	 iterative	 decision	 making,	 based	 on	 data,	 and	 the	 delivery	 of	 results	 in	 small,	 iterative	
increments	that	are	usable.	
This	paper	aims	to	analyze	both	methods,	considering	the	principles	of	Lean	Thinking.	
Keywords
Lean,	Scrum,	Project	Management,	Sustainability,	Value.	
1.	INTRODUÇÃO	AO	PENSAMENTO	MAGRO	
Existem muitos trabalhos publicados sobre a filosofia Lean. Em 1991 é publicada a obra “A máquina
que mudou o mundo”, escrita por Womack et	al. Nesta é apresentado um estudo sobre a indústria
automóvel realizado durante a década de 1980. Neste estudo, o Sistema Toyota de Produção (TPS) é
evidenciado como um paradigma de liderança e gestão, comparando a gestão japonesa com métodos
europeus e norte-americanos (Pinto, 2009).
Em 1996, o livro “Lean	Thinking”, dos mesmos autores, aprofunda as diferenças entre a abordagem
tradicional de produção e a abordagem lean (magra). Nele é relatado o desenvolvimento histórico,
vantagens e benefı́cios, descrição e definições dos princı́pios e abordagens da filosofia lean	thinking
(pensamento magro).
Outros trabalhos importantes, como Rother et	al. (1999), Womack et	al. (2005), Lee et	al. (2006) e
Mann (2005), continuam estudando as vantagens dessa filosofia e práticas associadas e reforçam as
vantagens que ela traz. Em 2004, Liker, com o livro “The	Toyota	Way”, marcou um ponto de viragem e
trouxe o foco dessa filosofia para o factor humano, algo que é reforçado com o trabalho “Toyota	
Talent”, da Liker e Meier, em 2007.
Os cinco princı́pios, identificados por Womack e Jones (1996), resumem as principais diretrizes da
Filosofia Lean:
1. Definir valor;
2. Mapear a cadeia de valor;
3. Criar o fluxo;
4. Estabelecer o sistema pull;
5. Procurar a perfeição.
No entanto, Pinto (2009) considera que os cinco princı́pios apresentados podem ter algumas
deficiências: eles consideram apenas a cadeia de valor do cliente, mas na verdade, numa Organização,
existem várias cadeias de valor, uma para cada parte interessada. Outra limitação é que eles tendem
a levar as Organizações a ciclos intermináveis de redução de desperdı́cio, ignorando a actividade
crucial de criação de valor por meio da inovação de produtos, serviços e processos.
Todos os trabalhos acima mencionados contribuem para apoiar, teoricamente, os princı́pios e
conceitos que norteiam essa filosofia e também conhecer e compreender suas práticas,
materializadas em métodos e ferramentas, devidamente estruturadas e cuja aplicação deve respeitar
sempre dois conceitos básicos associados ao lean	thinking: elimine o desperdı́cio e crie valor.
1.1.	Desperdício	
“Muda” é daquelas palavras (japonesas) que todos numa Organização devem saber. “Muda” significa
“desperdı́cio”, especificamente qualquer actividade humana que absorva recursos, mas não cria valor
algum” (Womack et	 al., 1996). Não agrega valor e tornando os produtos e serviços que
disponibilizamos no mercado mais caros do que deveriam. A vantagem que as Organizações criam é
medida pelo valor que elas oferecem, comparado com o preço que elas pedem em troca (Pinto, 2009).
As sete categorias de muda mais conhecidas foram identificadas por Taiichi Ohno (1912-1990) e
Shigeo Shingo (1909-1990). Essa é a classificação mais popular, embora os autores afirmem que
podem ser consideradas mais categorias além daquelas apresentadas. A estes sete muda	 foi
acrescentado um oitavo desperdı́cio (desperdı́cio do talento das pessoas) ver figura 1.
Figura 1. Os oitos muda críticos do pensamento lean.
1.2.	Valor	
Quando nos referimos a um produto ou serviço que adquirimos ou usamos, tendemos a usar o termo
"valor" para classificá-lo. Pode-se dizer que “valor é a compensação pelo que recebemos em troca do
que pagamos”. No entanto, não classificamos as coisas de acordo com seu valor, apenas quando
pagamos um preço por elas. Por exemplo, para um programa de TV ou teatro, também é possı́vel ter
uma noção de valor associado. Pode, neste caso, estar relacionado com o tempo dedicado a ele, ou
com a atenção que prestamos a ele. "Valor é tudo que justifica o tempo, atenção e esforço que
colocamos em algo. Quando sentimos que não vale a pena, não vamos, não compramos, não
dedicamos tempo ou atenção" (Pinto, 2009).
Então, como podemos ter certeza de que, numa Organização, o valor é criado para todas as partes
interessadas? Em primeiro lugar, esta questão destaca a necessidade de saber quem são as partes
interessadas e de conhecer as suas necessidades e expectativas. Em segundo lugar, precisamos
identificar todas as actividades que não atendem a essas necessidades e expectativas. Nesse caso, elas
devem ser classificadas como muda. Num ambiente de melhoria contı́nua, todos os desperdı́cios
identificados devem ser vistos não apenas como um problema, mas como uma oportunidade de
melhoria e para tornar os nossos processos lean (magros, isentos de gordura).
1.3.	Lean	e	Agilidade	
Os princı́pios do Lean dão enfase à importância de saber quem são os stakeholders (as partes
interessadas) e qual é a sua noção de valor, para que os processos possam ser aprimorados, reduzindo
possı́veis desperdı́cios. Hoje, com a velocidade com que todas as mudanças ocorrem, à escala global,
a noção de valor, ou seja, as necessidades e expectativas dos clientes, muda quase frequentemente. EN,
portanto, cada vez mais necessário que as Organizações implementem não apenas princı́pios e
ferramentas lean para melhorar continuamente, mas também considerem o conceito de Agilidade.
Jim Highsmith, um popular guru da agilidade que escreveu vários livros sobre métodos ágeis e
adaptativos, o define no seu livro “Agile	Project	Management: Criando produtos inovadores” (2004):
“Agilidade é a capacidade de criar e responder a mudanças para lucrar em um ambiente
de negócios turbulento. Agilidade é a capacidade de equilibrar flexibilidade e estabilidade. ”
Ser ágil é ser adaptativo para mudar, é a capacidade de rapidamente de ajustar às mudanças. O
conceito de agilidade não se aplica apenas no desenvolvimento de software (sector onde nasceu); O
conceito de agilidade pode ser usado em qualquer projecto, independentemente da sua complexidade
ou sector de actividade, portanto, também pode ser usado em projectos lean.
A agilidade é um grupo de técnicas de desenvolvimento de produtos e serviços que utiliza uma
abordagem iterativa e incremental na qual as soluções são entregues em etapas. A agilidade promove
o planeamento adaptativo para desenvolver um produto em iterações, proporcionando maior
flexibilidade para mudanças durante o processo de desenvolvimento e reduzindo a extensão do
planeamento a longo prazo. Isto minimiza o risco envolvido com mudanças (ex. pedidos de alteração
por parte do cliente, ou necessidade de enquadrar alterações legislativas ou de mercado) ao longo de
um projecto. Um dos métodos ágeis mais conhecidos é o Scrum.
O Scrum é uma estrutura ágil, é de todos o mais popularmente adotado. Scrum concentra-se em fazer
o trabalho em intervalos de tempo fixos chamados de Sprints. Além da Sprint, o Scrum realiza uma
série de reuniões em intervalos regulares (incluı́do a daily	standup	meeting) para ajudar as partes
interessadas a acompanhar o progresso do projecto.
O Scrum, como metodologia ágil, é diferente da gestão (tradicional) projectos, sendo esta
normalmente conhecida como o método waterfall.
	
2.	GESTÃO	DE	PROJECTOS	
2.1.	A	abordagem	waterfall	
A enfase da gestão tradicional de projectos, ou waterfall, é realizar o planeamento detalhado e
antecipado de todo o projecto, com ênfase no âmbito, custo e tempo (cronograma) e na gestão desses
parâmetros. A abordagem waterfall pode, às vezes, levar a uma situação em que o plano foi bem-
sucedido e o cliente não está satisfeito, ou seja, o projecto foi bem executado, mas no final não era
aquilo que o cliente queria. Sim, os clientes mudam de opinião e muitas vezes no inı́cio do projecto
não têm uma ideia muito clara do que pretendem. Que fazer nestas situações? Mudar de cliente ou de
método de gestão de projectos?
O modelo waterfall é adequado para projectos ordenados e previsı́veis nos quais todos os requisitos
estão (previamente) bem definidos e podem ser estimados com precisão e, na maioria das indústrias,
esses projectos são cada vez mais raros. As mudanças nos requisitos dos clientes levaram a uma maior
pressão sobre as empresas para que se adaptem e mudem seus métodos de entrega.
Por outro lado, as metodologias ágeis, como o Scrum, exigem uma mudança de mentalidade por parte
dos tradicionais gestores de projecto. O foco central mudou do âmbito (nos métodos waterfall) para
o “valor” (no Scrum). Enquanto que no modelo waterfall	custo e tempo são alterados para garantir
que o âmbito desejado seja alcançado, em Scrum a atenção está focalizada na qualidade e nas
restrições que podem ser alteradas para atingir o objetivo principal (ie,	 o valor máximo para o
negócio), ver figura 2.
Figura	2. Diferenças entre abordagens de gestão de projectos.
2.2.	Scrum	Framework	
Em meados dos anos 1980s, Hirotaka Takeuchi e Ikujiro Nonaka definiram uma estratégia de
desenvolvimento de produtos flexı́vel e abrangente em que a equipa de desenvolvimento trabalha
como uma unidade para alcançar um objetivo comum. Eles descreveram uma abordagem inovadora
para o desenvolvimento de produtos que chamaram de abordagem holı́stica ou de "rúgbi", em que
uma equipa tenta percorrer a distância como uma unidade, passando a bola para frente e para trás.
Estes autores basearam a sua proposta em vários case	studies	realizados em inúmeras empresas
industriais.
Takeuchi e Nonaka propuseram que o desenvolvimento de produtos não deveria ser como uma
corrida de longa distância, mas sim deveria ser análogo ao jogo de rúgbi onde a equipa trabalha junta,
passando a bola de um lado para outro enquanto se movem como uma unidade no campo. O termo
usado em rugby, “Scrum” (onde um grupo de jogadores se forma para reiniciar o jogo), foi introduzido
neste artigo para descrever a proposta dos autores de que o desenvolvimento de produtos deveria
envolver Scrum (trabalhando em pequenos ciclos iterativos).
Ken Schwaber e Jeff Sutherland elaboraram o conceito Scrum e sua aplicabilidade ao
desenvolvimento de software numa apresentação na conferência de Programação Orientada a
Objetos, Sistemas, Idiomas e Aplicações (OOPSLA) realizada em 1995, em Austin, Texas. Desde então,
vários praticantes, especialistas e autores do Scrum continuaram a refinar a conceituação e
metodologia Scrum. Nos últimos anos, o Scrum ganhou popularidade à escala mundial e actualmente
é a metodologia preferida de desenvolvimento de projectos para muitas Organizações.
A estrutura Scrum baseia-se na crença de que os trabalhadores do conhecimento de hoje podem
oferecer muito mais do que apenas sua especialização técnica e que tentar mapear e planear
completamente num ambiente em constante mudança não é eficiente. Portanto, o Scrum incentiva a
tomada de decisão iterativa baseada em dados (factos).
3.	SCRUM	E	A	GESTÃO	LEAN	DE	PROJECTOS
No Scrum, o foco principal é fornecer produtos que satisfaçam os requisitos do cliente em pequenos
incrementos de entregas iterativas. Para entregar a maior quantidade de valor no menor tempo
possı́vel, o Scrum promove a priorização e o time-boxing (fixação de blocos de tempo), fixando o
âmbito, o custo e o tempo (cronograma) de um projecto. Uma caracterı́stica importante do Scrum é a
auto-organização, que permite que os indivı́duos que estão realmente realizando o trabalho possam
estimar e apropriar-se das tarefas.
Alguns dos principais benefı́cios de usar o Scrum em projectos do projecto lean são:
1. Adaptabilidade - controlo empı́rico do processo e entrega iterativa tornam os projectos
adaptáveis e abertos à incorporação de mudanças, algo que é comum em projectos lean;
2. Transparência - todos os irradiadores de informações, como o Scrumboard e o Sprint	
Burndown	Chart, são partilhados, levando a um ambiente de trabalho aberto, que também é
um paradigma relacionado com a filosofia lean	thinking;
3. Feedback Contı́nuo - fornecido através dos vários processos da estrutura Scrum;
4. Melhoria Contı́nua - as entregas são melhoradas progressivamente a cada Sprint (ciclo de
curta duração). A melhoria contı́nua também é uma diretriz para projectos lean;
5. Entrega Contı́nua de Valor - processos iterativos permitem a entrega contı́nua de valor. A
entrega de valor ao cliente é um dos pilares do pensamento lean;
6. Ritmo Sustentável – os processos do Scrum são projetados de tal forma que as pessoas
envolvidas podem trabalhar a um ritmo que eles podem, em teoria, continuar
indefinidamente;
7. Entrega antecipada de elevado valor - foco nas necessidades e expectativas dos clientes, e
entrega de valor, são igualmente paradigmas do pensamento lean;
8. Processo de desenvolvimento eficiente - O time-boxing e a minimização do trabalho não
essencial levam a nı́veis mais altos de eficiência;
9. Motivação – os processos Scrum levam a maiores nı́veis de motivação entre os colaboradores,
sendo esta também uma diretriz do lean	thinking, que foca no desenvolvimento de pessoas
(Liker et	al, 2007).
10. Rápida resolução de problemas - a colaboração e a colocação de equipas multifuncionais
levam a uma resolução de problemas mais rápida.
4.	CONCLUSÕES	
Quando os projectos são simples, com funcionalidades bem definidas e a equipa tiver experiência na
conclusão de projectos similares, recomenda-se o método waterfall. Por outro lado, em projectos
complexos, em que o cliente não está seguro sobre o que deseja e os requisitos de funcionalidade
mudam com frequência, o modelo iterativo é mais flexı́vel para garantir que essas alterações possam
ser incluı́das antes da conclusão do projecto.
Considerando que os princı́pios lean são baseados na criação de valor, foco no cliente, redução de
desperdı́cio e melhoria contı́nua, é possı́vel identificar uma forte relação com os métodos ágeis e suas
caracterı́sticas, em particular, com a metodologia Scrum.
Os projectos lean, como qualquer outro tipo de projecto, estão sujeitos a diversas alterações. AP s vezes,
começa sem se saber com certeza o que se pretende atingir no final ou sem conhecer o processo
completo (algo que só é feito nas fases de diagnóstico, utilizando ferramentas e recursos especı́ficos),
com a necessidade de continuamente ajustar o planeamento inicial e incorporar as alterações
solicitadas pelo cliente, em vez de rejeitá-las.
Além disso, considerando os princı́pios lean e o foco no envolvimento das pessoas e no
desenvolvimento do potencial humano, fica claro o valor agregado que o uso da estrutura Scrum para
gerir projectos lean pode trazer, juntamente com todas as vantagens do método e ligando-os aos
princı́pios básicos e diretrizes desse paradigma de liderança e gestão.
REFERÊNCIAS	
Highsmith, J. (2004). Agile	Project	Management:	Creating	Innovative	Product.	Addison-Wesley.
Lee, Q. and Snyder, B. (2006). Value	stream	and	mapping	process:	genesis	of	manufacturing	strategy: Enna.
Liker, J. K. (2004). The	Toyota	Way. New York: McGraw-Hill.
Liker, J. K. and Meier, D. P. (2007). Toyota	Talent. New York: McGraw-Hill.
Mann, D. (2005). Creating	a	Lean	Culture. Productivity Press.
Pinto, J. P. (2009). Pensamento	Lean:	a	filosofia	das	organizações	vencedoras. Lisboa: Lidel.
Rother, M. and Shook, J. (1999). Learning	to	see:	value	stream	mapping	to	create	value	and	eliminate	muda. Lean
Enterprise Institute.
SCRUMStudy (2017). A	Guide	to	the	Scrum	Body	of	Knowledge. Phoenix: SCRUMStudy.
Takeuchi, H e Nonaka I. (1986). The	New	New	Product	Development	Game. HBR, January 1986 Issue.
Womack, J. et	al (1991). The	machine	that	chenged	the	world. Free Press.
Womack, J. and Jones, D. (1996). Lean	Thinking. New York: Simon & Schuster.
Steinbeck, M. (2006). Enablers	of	Reconfiguration	Dynamics. In F. Shadow (Ed.), Information Technology for
Manufacturing	(pp. 141-149). New York: Springer-Verlag.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Was ist angesagt? (20)

Engenharia De Processos
Engenharia De ProcessosEngenharia De Processos
Engenharia De Processos
 
Engenharia de processos: Mapeamento e Redesenho de Processos
Engenharia de processos: Mapeamento e Redesenho de ProcessosEngenharia de processos: Mapeamento e Redesenho de Processos
Engenharia de processos: Mapeamento e Redesenho de Processos
 
Apostila cronoanálise
Apostila cronoanáliseApostila cronoanálise
Apostila cronoanálise
 
Oriente e Ocidente - A busca pela competitividade através do WCM
Oriente e Ocidente - A busca pela competitividade através do WCMOriente e Ocidente - A busca pela competitividade através do WCM
Oriente e Ocidente - A busca pela competitividade através do WCM
 
Overall Labor Effectiveness
Overall Labor EffectivenessOverall Labor Effectiveness
Overall Labor Effectiveness
 
Mapeamento do fluxo de valor tcc
Mapeamento do fluxo de valor tccMapeamento do fluxo de valor tcc
Mapeamento do fluxo de valor tcc
 
Ferramentas Qualidade e Lean Six Sigma Hospital
Ferramentas Qualidade e Lean Six Sigma HospitalFerramentas Qualidade e Lean Six Sigma Hospital
Ferramentas Qualidade e Lean Six Sigma Hospital
 
Lean Manufacturing
Lean ManufacturingLean Manufacturing
Lean Manufacturing
 
Aulas 5, 6 e 7 - Engenharia de Métodos
Aulas 5, 6 e 7 - Engenharia de MétodosAulas 5, 6 e 7 - Engenharia de Métodos
Aulas 5, 6 e 7 - Engenharia de Métodos
 
Aula Lean
Aula LeanAula Lean
Aula Lean
 
Lean Manufacturing
Lean ManufacturingLean Manufacturing
Lean Manufacturing
 
Apostila de Produtividade e Redução de Perdas
Apostila de Produtividade e Redução de PerdasApostila de Produtividade e Redução de Perdas
Apostila de Produtividade e Redução de Perdas
 
Apostila Lean Six Sigma para iniciantes
Apostila Lean Six Sigma para iniciantesApostila Lean Six Sigma para iniciantes
Apostila Lean Six Sigma para iniciantes
 
3 da escola classica ao sistema toyota
3   da escola classica ao sistema toyota3   da escola classica ao sistema toyota
3 da escola classica ao sistema toyota
 
Lean Six Sigma Hospital
Lean Six Sigma Hospital Lean Six Sigma Hospital
Lean Six Sigma Hospital
 
Estudo do método de trabalho
Estudo do método de trabalhoEstudo do método de trabalho
Estudo do método de trabalho
 
Modelagem de Processos
Modelagem de ProcessosModelagem de Processos
Modelagem de Processos
 
Gestão De Processos
Gestão De ProcessosGestão De Processos
Gestão De Processos
 
Mapeamento dos sete desperdícios
Mapeamento dos sete desperdíciosMapeamento dos sete desperdícios
Mapeamento dos sete desperdícios
 
Como criar um mapa de processos da sua empresa
Como criar um mapa de processos da sua empresaComo criar um mapa de processos da sua empresa
Como criar um mapa de processos da sua empresa
 

Ähnlich wie A gestao agil de projectos

Os três direcionadores da inovação
 Os três direcionadores da inovação Os três direcionadores da inovação
Os três direcionadores da inovação
EloGroup
 
Artigo piramide lean final
Artigo piramide lean   finalArtigo piramide lean   final
Artigo piramide lean final
Startupi
 
Uma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismo
Uma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismoUma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismo
Uma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismo
Alexandre Rocha Lima e Marcondes
 
Análise das metodologias para definição de escopo em Lean Startups
Análise das metodologias para definição de escopo em Lean StartupsAnálise das metodologias para definição de escopo em Lean Startups
Análise das metodologias para definição de escopo em Lean Startups
Alexandre Rocha Lima e Marcondes
 
Lean office para administração publica
Lean office para administração publicaLean office para administração publica
Lean office para administração publica
Jader L P Alves
 
Uma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de Projetos
Uma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de ProjetosUma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de Projetos
Uma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de Projetos
Alexandre Rocha Lima e Marcondes
 

Ähnlich wie A gestao agil de projectos (20)

Os três direcionadores da inovação
 Os três direcionadores da inovação Os três direcionadores da inovação
Os três direcionadores da inovação
 
Investigando o papel da gestão por processos nos sistemas verdes
Investigando o papel da gestão por processos nos sistemas verdesInvestigando o papel da gestão por processos nos sistemas verdes
Investigando o papel da gestão por processos nos sistemas verdes
 
Os três direcionadores da inovação from BPM Global Trends
Os três direcionadores da inovação from BPM Global TrendsOs três direcionadores da inovação from BPM Global Trends
Os três direcionadores da inovação from BPM Global Trends
 
Lean Thinking
Lean ThinkingLean Thinking
Lean Thinking
 
Entrevista galp
Entrevista galpEntrevista galp
Entrevista galp
 
Lean nos Servicos 2013
Lean nos Servicos 2013Lean nos Servicos 2013
Lean nos Servicos 2013
 
Proposta de um modelo de escalonamento de metodologia ágil para grandes organ...
Proposta de um modelo de escalonamento de metodologia ágil para grandes organ...Proposta de um modelo de escalonamento de metodologia ágil para grandes organ...
Proposta de um modelo de escalonamento de metodologia ágil para grandes organ...
 
FERRAMENTAS E TEORIAS PARA ESTRATÉGIAS, NEGÓCIOS, INOVAÇÃO E PROCESSOS
FERRAMENTAS E TEORIAS PARA ESTRATÉGIAS, NEGÓCIOS, INOVAÇÃO E PROCESSOSFERRAMENTAS E TEORIAS PARA ESTRATÉGIAS, NEGÓCIOS, INOVAÇÃO E PROCESSOS
FERRAMENTAS E TEORIAS PARA ESTRATÉGIAS, NEGÓCIOS, INOVAÇÃO E PROCESSOS
 
Artigo piramide lean final
Artigo piramide lean   finalArtigo piramide lean   final
Artigo piramide lean final
 
Uma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismo
Uma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismoUma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismo
Uma proposta de gerenciamento de riscos para o empreendedorismo
 
Análise das metodologias para definição de escopo em Lean Startups
Análise das metodologias para definição de escopo em Lean StartupsAnálise das metodologias para definição de escopo em Lean Startups
Análise das metodologias para definição de escopo em Lean Startups
 
Métodos Ágeis - Guia para Projetos Eficientes
Métodos Ágeis - Guia para Projetos EficientesMétodos Ágeis - Guia para Projetos Eficientes
Métodos Ágeis - Guia para Projetos Eficientes
 
Pensamento Lean 2014
Pensamento Lean 2014Pensamento Lean 2014
Pensamento Lean 2014
 
Lean office para administração publica
Lean office para administração publicaLean office para administração publica
Lean office para administração publica
 
Artigo Expresso Set2009
Artigo Expresso Set2009Artigo Expresso Set2009
Artigo Expresso Set2009
 
Uma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de Projetos
Uma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de ProjetosUma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de Projetos
Uma correlação entre Lean Startups e Gerenciamento de Projetos
 
Manifesto Ágil.pdf
Manifesto Ágil.pdfManifesto Ágil.pdf
Manifesto Ágil.pdf
 
Transferir Valor Através da SCM
Transferir Valor Através da SCMTransferir Valor Através da SCM
Transferir Valor Através da SCM
 
Gestão Ágil de Projetos com Scrum
Gestão Ágil de Projetos com ScrumGestão Ágil de Projetos com Scrum
Gestão Ágil de Projetos com Scrum
 
Entrevista a João Paulo Pinto
Entrevista a João Paulo PintoEntrevista a João Paulo Pinto
Entrevista a João Paulo Pinto
 

Mehr von CLT Valuebased Services

Mehr von CLT Valuebased Services (20)

Estudo de um Caso
Estudo de um CasoEstudo de um Caso
Estudo de um Caso
 
Caso testo lean
Caso testo leanCaso testo lean
Caso testo lean
 
CPFR lean SCM
CPFR lean SCMCPFR lean SCM
CPFR lean SCM
 
Case study Parfois
Case study  ParfoisCase study  Parfois
Case study Parfois
 
Ikea case study
Ikea  case studyIkea  case study
Ikea case study
 
Case study Walmart
Case study WalmartCase study Walmart
Case study Walmart
 
Logistica Milk Run e Mizu
Logistica Milk Run e MizuLogistica Milk Run e Mizu
Logistica Milk Run e Mizu
 
Last Mile Logistics
Last Mile LogisticsLast Mile Logistics
Last Mile Logistics
 
Industry 4.0
Industry 4.0Industry 4.0
Industry 4.0
 
Lean 6Sigma Agile 2019
Lean 6Sigma Agile 2019Lean 6Sigma Agile 2019
Lean 6Sigma Agile 2019
 
Tabelas MTM ln IPC
Tabelas MTM ln IPCTabelas MTM ln IPC
Tabelas MTM ln IPC
 
Bordo de linha
Bordo de linhaBordo de linha
Bordo de linha
 
Scrum Book
Scrum BookScrum Book
Scrum Book
 
Domotica
DomoticaDomotica
Domotica
 
Projeto Implementação Lean
Projeto Implementação Lean Projeto Implementação Lean
Projeto Implementação Lean
 
Retrato de Poortugal 2019
Retrato de Poortugal 2019Retrato de Poortugal 2019
Retrato de Poortugal 2019
 
Fut global-edition
Fut  global-editionFut  global-edition
Fut global-edition
 
Tabelas MTM LM IPC
Tabelas MTM LM IPCTabelas MTM LM IPC
Tabelas MTM LM IPC
 
Exercicio de Dimensionamento do Mizu
Exercicio de Dimensionamento do MizuExercicio de Dimensionamento do Mizu
Exercicio de Dimensionamento do Mizu
 
TWI JI
TWI JITWI JI
TWI JI
 

A gestao agil de projectos

  • 1. GESTÃO LEAN E ÁGIL DE PROJECTOS Do modelo tradicional (waterfall) à estrutura Scrum Christiane Tscharf e João Paulo Pinto, CLT VALUEBASE SERVICES Abstract Lean Thinking main focus is reducing waste, while creating value and satisfying customer's needs, through processes that may guarantee the organisation sustainability. As well as other types of projects, Lean Projects are subject to change, risk and other kinds of constraints. The emphasis of the traditional project management model, usually named Waterfall, lies in the initial planning of the project, on setting the scope, cost and schedule, and managing these parameters. The Scrum framework focus on deliver the greatest amount of value in the shortest possible time, encourages iterative decision making, based on data, and the delivery of results in small, iterative increments that are usable. This paper aims to analyze both methods, considering the principles of Lean Thinking. Keywords Lean, Scrum, Project Management, Sustainability, Value. 1. INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO MAGRO Existem muitos trabalhos publicados sobre a filosofia Lean. Em 1991 é publicada a obra “A máquina que mudou o mundo”, escrita por Womack et al. Nesta é apresentado um estudo sobre a indústria automóvel realizado durante a década de 1980. Neste estudo, o Sistema Toyota de Produção (TPS) é evidenciado como um paradigma de liderança e gestão, comparando a gestão japonesa com métodos europeus e norte-americanos (Pinto, 2009). Em 1996, o livro “Lean Thinking”, dos mesmos autores, aprofunda as diferenças entre a abordagem tradicional de produção e a abordagem lean (magra). Nele é relatado o desenvolvimento histórico, vantagens e benefı́cios, descrição e definições dos princı́pios e abordagens da filosofia lean thinking (pensamento magro). Outros trabalhos importantes, como Rother et al. (1999), Womack et al. (2005), Lee et al. (2006) e Mann (2005), continuam estudando as vantagens dessa filosofia e práticas associadas e reforçam as vantagens que ela traz. Em 2004, Liker, com o livro “The Toyota Way”, marcou um ponto de viragem e trouxe o foco dessa filosofia para o factor humano, algo que é reforçado com o trabalho “Toyota Talent”, da Liker e Meier, em 2007. Os cinco princı́pios, identificados por Womack e Jones (1996), resumem as principais diretrizes da Filosofia Lean: 1. Definir valor; 2. Mapear a cadeia de valor; 3. Criar o fluxo; 4. Estabelecer o sistema pull; 5. Procurar a perfeição. No entanto, Pinto (2009) considera que os cinco princı́pios apresentados podem ter algumas deficiências: eles consideram apenas a cadeia de valor do cliente, mas na verdade, numa Organização, existem várias cadeias de valor, uma para cada parte interessada. Outra limitação é que eles tendem a levar as Organizações a ciclos intermináveis de redução de desperdı́cio, ignorando a actividade crucial de criação de valor por meio da inovação de produtos, serviços e processos.
  • 2. Todos os trabalhos acima mencionados contribuem para apoiar, teoricamente, os princı́pios e conceitos que norteiam essa filosofia e também conhecer e compreender suas práticas, materializadas em métodos e ferramentas, devidamente estruturadas e cuja aplicação deve respeitar sempre dois conceitos básicos associados ao lean thinking: elimine o desperdı́cio e crie valor. 1.1. Desperdício “Muda” é daquelas palavras (japonesas) que todos numa Organização devem saber. “Muda” significa “desperdı́cio”, especificamente qualquer actividade humana que absorva recursos, mas não cria valor algum” (Womack et al., 1996). Não agrega valor e tornando os produtos e serviços que disponibilizamos no mercado mais caros do que deveriam. A vantagem que as Organizações criam é medida pelo valor que elas oferecem, comparado com o preço que elas pedem em troca (Pinto, 2009). As sete categorias de muda mais conhecidas foram identificadas por Taiichi Ohno (1912-1990) e Shigeo Shingo (1909-1990). Essa é a classificação mais popular, embora os autores afirmem que podem ser consideradas mais categorias além daquelas apresentadas. A estes sete muda foi acrescentado um oitavo desperdı́cio (desperdı́cio do talento das pessoas) ver figura 1. Figura 1. Os oitos muda críticos do pensamento lean. 1.2. Valor Quando nos referimos a um produto ou serviço que adquirimos ou usamos, tendemos a usar o termo "valor" para classificá-lo. Pode-se dizer que “valor é a compensação pelo que recebemos em troca do que pagamos”. No entanto, não classificamos as coisas de acordo com seu valor, apenas quando pagamos um preço por elas. Por exemplo, para um programa de TV ou teatro, também é possı́vel ter uma noção de valor associado. Pode, neste caso, estar relacionado com o tempo dedicado a ele, ou com a atenção que prestamos a ele. "Valor é tudo que justifica o tempo, atenção e esforço que colocamos em algo. Quando sentimos que não vale a pena, não vamos, não compramos, não dedicamos tempo ou atenção" (Pinto, 2009). Então, como podemos ter certeza de que, numa Organização, o valor é criado para todas as partes interessadas? Em primeiro lugar, esta questão destaca a necessidade de saber quem são as partes interessadas e de conhecer as suas necessidades e expectativas. Em segundo lugar, precisamos identificar todas as actividades que não atendem a essas necessidades e expectativas. Nesse caso, elas devem ser classificadas como muda. Num ambiente de melhoria contı́nua, todos os desperdı́cios identificados devem ser vistos não apenas como um problema, mas como uma oportunidade de melhoria e para tornar os nossos processos lean (magros, isentos de gordura).
  • 3. 1.3. Lean e Agilidade Os princı́pios do Lean dão enfase à importância de saber quem são os stakeholders (as partes interessadas) e qual é a sua noção de valor, para que os processos possam ser aprimorados, reduzindo possı́veis desperdı́cios. Hoje, com a velocidade com que todas as mudanças ocorrem, à escala global, a noção de valor, ou seja, as necessidades e expectativas dos clientes, muda quase frequentemente. EN, portanto, cada vez mais necessário que as Organizações implementem não apenas princı́pios e ferramentas lean para melhorar continuamente, mas também considerem o conceito de Agilidade. Jim Highsmith, um popular guru da agilidade que escreveu vários livros sobre métodos ágeis e adaptativos, o define no seu livro “Agile Project Management: Criando produtos inovadores” (2004): “Agilidade é a capacidade de criar e responder a mudanças para lucrar em um ambiente de negócios turbulento. Agilidade é a capacidade de equilibrar flexibilidade e estabilidade. ” Ser ágil é ser adaptativo para mudar, é a capacidade de rapidamente de ajustar às mudanças. O conceito de agilidade não se aplica apenas no desenvolvimento de software (sector onde nasceu); O conceito de agilidade pode ser usado em qualquer projecto, independentemente da sua complexidade ou sector de actividade, portanto, também pode ser usado em projectos lean. A agilidade é um grupo de técnicas de desenvolvimento de produtos e serviços que utiliza uma abordagem iterativa e incremental na qual as soluções são entregues em etapas. A agilidade promove o planeamento adaptativo para desenvolver um produto em iterações, proporcionando maior flexibilidade para mudanças durante o processo de desenvolvimento e reduzindo a extensão do planeamento a longo prazo. Isto minimiza o risco envolvido com mudanças (ex. pedidos de alteração por parte do cliente, ou necessidade de enquadrar alterações legislativas ou de mercado) ao longo de um projecto. Um dos métodos ágeis mais conhecidos é o Scrum. O Scrum é uma estrutura ágil, é de todos o mais popularmente adotado. Scrum concentra-se em fazer o trabalho em intervalos de tempo fixos chamados de Sprints. Além da Sprint, o Scrum realiza uma série de reuniões em intervalos regulares (incluı́do a daily standup meeting) para ajudar as partes interessadas a acompanhar o progresso do projecto. O Scrum, como metodologia ágil, é diferente da gestão (tradicional) projectos, sendo esta normalmente conhecida como o método waterfall. 2. GESTÃO DE PROJECTOS 2.1. A abordagem waterfall A enfase da gestão tradicional de projectos, ou waterfall, é realizar o planeamento detalhado e antecipado de todo o projecto, com ênfase no âmbito, custo e tempo (cronograma) e na gestão desses parâmetros. A abordagem waterfall pode, às vezes, levar a uma situação em que o plano foi bem- sucedido e o cliente não está satisfeito, ou seja, o projecto foi bem executado, mas no final não era aquilo que o cliente queria. Sim, os clientes mudam de opinião e muitas vezes no inı́cio do projecto não têm uma ideia muito clara do que pretendem. Que fazer nestas situações? Mudar de cliente ou de método de gestão de projectos? O modelo waterfall é adequado para projectos ordenados e previsı́veis nos quais todos os requisitos estão (previamente) bem definidos e podem ser estimados com precisão e, na maioria das indústrias, esses projectos são cada vez mais raros. As mudanças nos requisitos dos clientes levaram a uma maior pressão sobre as empresas para que se adaptem e mudem seus métodos de entrega. Por outro lado, as metodologias ágeis, como o Scrum, exigem uma mudança de mentalidade por parte dos tradicionais gestores de projecto. O foco central mudou do âmbito (nos métodos waterfall) para o “valor” (no Scrum). Enquanto que no modelo waterfall custo e tempo são alterados para garantir que o âmbito desejado seja alcançado, em Scrum a atenção está focalizada na qualidade e nas restrições que podem ser alteradas para atingir o objetivo principal (ie, o valor máximo para o negócio), ver figura 2.
  • 4. Figura 2. Diferenças entre abordagens de gestão de projectos. 2.2. Scrum Framework Em meados dos anos 1980s, Hirotaka Takeuchi e Ikujiro Nonaka definiram uma estratégia de desenvolvimento de produtos flexı́vel e abrangente em que a equipa de desenvolvimento trabalha como uma unidade para alcançar um objetivo comum. Eles descreveram uma abordagem inovadora para o desenvolvimento de produtos que chamaram de abordagem holı́stica ou de "rúgbi", em que uma equipa tenta percorrer a distância como uma unidade, passando a bola para frente e para trás. Estes autores basearam a sua proposta em vários case studies realizados em inúmeras empresas industriais. Takeuchi e Nonaka propuseram que o desenvolvimento de produtos não deveria ser como uma corrida de longa distância, mas sim deveria ser análogo ao jogo de rúgbi onde a equipa trabalha junta, passando a bola de um lado para outro enquanto se movem como uma unidade no campo. O termo usado em rugby, “Scrum” (onde um grupo de jogadores se forma para reiniciar o jogo), foi introduzido neste artigo para descrever a proposta dos autores de que o desenvolvimento de produtos deveria envolver Scrum (trabalhando em pequenos ciclos iterativos). Ken Schwaber e Jeff Sutherland elaboraram o conceito Scrum e sua aplicabilidade ao desenvolvimento de software numa apresentação na conferência de Programação Orientada a Objetos, Sistemas, Idiomas e Aplicações (OOPSLA) realizada em 1995, em Austin, Texas. Desde então, vários praticantes, especialistas e autores do Scrum continuaram a refinar a conceituação e metodologia Scrum. Nos últimos anos, o Scrum ganhou popularidade à escala mundial e actualmente é a metodologia preferida de desenvolvimento de projectos para muitas Organizações. A estrutura Scrum baseia-se na crença de que os trabalhadores do conhecimento de hoje podem oferecer muito mais do que apenas sua especialização técnica e que tentar mapear e planear completamente num ambiente em constante mudança não é eficiente. Portanto, o Scrum incentiva a tomada de decisão iterativa baseada em dados (factos). 3. SCRUM E A GESTÃO LEAN DE PROJECTOS No Scrum, o foco principal é fornecer produtos que satisfaçam os requisitos do cliente em pequenos incrementos de entregas iterativas. Para entregar a maior quantidade de valor no menor tempo possı́vel, o Scrum promove a priorização e o time-boxing (fixação de blocos de tempo), fixando o âmbito, o custo e o tempo (cronograma) de um projecto. Uma caracterı́stica importante do Scrum é a auto-organização, que permite que os indivı́duos que estão realmente realizando o trabalho possam estimar e apropriar-se das tarefas. Alguns dos principais benefı́cios de usar o Scrum em projectos do projecto lean são: 1. Adaptabilidade - controlo empı́rico do processo e entrega iterativa tornam os projectos adaptáveis e abertos à incorporação de mudanças, algo que é comum em projectos lean; 2. Transparência - todos os irradiadores de informações, como o Scrumboard e o Sprint Burndown Chart, são partilhados, levando a um ambiente de trabalho aberto, que também é um paradigma relacionado com a filosofia lean thinking; 3. Feedback Contı́nuo - fornecido através dos vários processos da estrutura Scrum; 4. Melhoria Contı́nua - as entregas são melhoradas progressivamente a cada Sprint (ciclo de curta duração). A melhoria contı́nua também é uma diretriz para projectos lean;
  • 5. 5. Entrega Contı́nua de Valor - processos iterativos permitem a entrega contı́nua de valor. A entrega de valor ao cliente é um dos pilares do pensamento lean; 6. Ritmo Sustentável – os processos do Scrum são projetados de tal forma que as pessoas envolvidas podem trabalhar a um ritmo que eles podem, em teoria, continuar indefinidamente; 7. Entrega antecipada de elevado valor - foco nas necessidades e expectativas dos clientes, e entrega de valor, são igualmente paradigmas do pensamento lean; 8. Processo de desenvolvimento eficiente - O time-boxing e a minimização do trabalho não essencial levam a nı́veis mais altos de eficiência; 9. Motivação – os processos Scrum levam a maiores nı́veis de motivação entre os colaboradores, sendo esta também uma diretriz do lean thinking, que foca no desenvolvimento de pessoas (Liker et al, 2007). 10. Rápida resolução de problemas - a colaboração e a colocação de equipas multifuncionais levam a uma resolução de problemas mais rápida. 4. CONCLUSÕES Quando os projectos são simples, com funcionalidades bem definidas e a equipa tiver experiência na conclusão de projectos similares, recomenda-se o método waterfall. Por outro lado, em projectos complexos, em que o cliente não está seguro sobre o que deseja e os requisitos de funcionalidade mudam com frequência, o modelo iterativo é mais flexı́vel para garantir que essas alterações possam ser incluı́das antes da conclusão do projecto. Considerando que os princı́pios lean são baseados na criação de valor, foco no cliente, redução de desperdı́cio e melhoria contı́nua, é possı́vel identificar uma forte relação com os métodos ágeis e suas caracterı́sticas, em particular, com a metodologia Scrum. Os projectos lean, como qualquer outro tipo de projecto, estão sujeitos a diversas alterações. AP s vezes, começa sem se saber com certeza o que se pretende atingir no final ou sem conhecer o processo completo (algo que só é feito nas fases de diagnóstico, utilizando ferramentas e recursos especı́ficos), com a necessidade de continuamente ajustar o planeamento inicial e incorporar as alterações solicitadas pelo cliente, em vez de rejeitá-las. Além disso, considerando os princı́pios lean e o foco no envolvimento das pessoas e no desenvolvimento do potencial humano, fica claro o valor agregado que o uso da estrutura Scrum para gerir projectos lean pode trazer, juntamente com todas as vantagens do método e ligando-os aos princı́pios básicos e diretrizes desse paradigma de liderança e gestão. REFERÊNCIAS Highsmith, J. (2004). Agile Project Management: Creating Innovative Product. Addison-Wesley. Lee, Q. and Snyder, B. (2006). Value stream and mapping process: genesis of manufacturing strategy: Enna. Liker, J. K. (2004). The Toyota Way. New York: McGraw-Hill. Liker, J. K. and Meier, D. P. (2007). Toyota Talent. New York: McGraw-Hill. Mann, D. (2005). Creating a Lean Culture. Productivity Press. Pinto, J. P. (2009). Pensamento Lean: a filosofia das organizações vencedoras. Lisboa: Lidel. Rother, M. and Shook, J. (1999). Learning to see: value stream mapping to create value and eliminate muda. Lean Enterprise Institute. SCRUMStudy (2017). A Guide to the Scrum Body of Knowledge. Phoenix: SCRUMStudy. Takeuchi, H e Nonaka I. (1986). The New New Product Development Game. HBR, January 1986 Issue. Womack, J. et al (1991). The machine that chenged the world. Free Press. Womack, J. and Jones, D. (1996). Lean Thinking. New York: Simon & Schuster. Steinbeck, M. (2006). Enablers of Reconfiguration Dynamics. In F. Shadow (Ed.), Information Technology for Manufacturing (pp. 141-149). New York: Springer-Verlag.