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LEIBNIZ: A MONADOLOGIA
Cleyton Diego1
Resumo:
Este texto pretende remontar a exposição da Monadologia escrita pelo matemático, físico
e filosofo Leibniz; tal pensador contribuiu bastante com seus escritos para a história da
filosofia. Leibniz é ‘pertencente’ a tradição racionalista moderna, da qual absorveu alguns
traços da filosofia cartesiana, que acreditava numa realidade ou conhecimento a priori,
para além da experiência. Dessa forma, a Monadologia engloba a explicação do mundo a
partir de um conjunto de substâncias convivendo numa harmonia pré-estabelecida aonde
também está inserido a figura de Deus.
Palavras Chave: Leibniz, Monadologia, Mônada.
Embora o conhecimento sempre tenha sido objeto da reflexão dos filósofos, o
problema do conhecimento tornou-se mais intenso a partir do século XVII. Com os
filósofos modernos, o pensamento passou a voltar-se para si mesmo, dessa forma, o
homem começou a dar importância a investigações para entender o mundo.
Um dos pontos que caracterizou o chamado período moderno, foi a forma de
abordagem da ciência natural, que procura esclarecer os fatos utilizando-se da observação
e buscando regularidades apresentadas matematicamente. O objetivo de tornar a natureza
cientificamente explicável e, poder de certa forma prever os eventos naturais, está no
âmbito do ideal de dominação da natureza.
Leibniz talvez tenha sido um dos últimos pensadores correntes do período moderno
“Enquanto Descartes acreditava que a realidade fosse em parte material e em parte
espiritual, e Espinosa, que matéria e consciência seriam somente diferentes aspectos de
uma substância nem material nem espiritual, para Leibniz a realidade era
fundamentalmente espiritual” ( W. RÖD, 2008:100). Leibniz constrói uma concepção
1
Formado em Filosofia pela Universidade de Brasília – UnB.
2
de mundo e, do conhecimento, de uma forma mais dinâmica, exposto e apresentando na
obra a Monadologia2
. As mônadas compõem tudo que existe no mundo e estão
organizadas numa harmonia predeterminada o que faria do mundo criando o melhor dos
mundos possíveis.
A Mônada enquanto substância simples faz parte de todos os compostos, tal
substância não teria partes. Pois, o composto é a união de substancias simples, dessa
forma, “as mônadas só podem começar ou acabar instantaneamente ou, por outras
palavras, só lhes é possível começar por criação e acabar por aniquilamento, ao passo
que todo o composto começa e acaba por partes” (Leibniz, 1979:105). De modo, que sua
estrutura é de uma forma tão fechada que nada entra e nada sai desse ‘átomo’ e que possa
interferir em sua harmonia.
As mônadas possuem qualidades, por meio dessas qualidades que se pode
perceber modificações das coisas; e caso as mônadas não tivessem qualidades seria
impossível distinguir uma das outras, dessa forma, não existe na natureza dois seres
idênticos. Como diz Russell:
Sendo cada mônada uma substância, todas são qualitativamente diferentes,
ao mesmo tempo que representam diversos pontos de vista. Não serve
dizer, a rigor, que ocupam diferentes posições, pois não são entidades
espaço-temporais. Espaço e tempo são aparências sensoriais carentes de
realidade. A realidade que existe por trás delas é a disposição das mônadas,
cada qual com um ponto de vista diferente. Cada uma espelha o universo
de maneira ligeiramente diferente sem que haja duas exatamente iguais. Se
duas mônadas forem exatamente iguais, então são realmente uma e a
mesma. Este é o significado do princípio de Leibniz da identidade dos
indiscerníveis. (Russell, 2001:292)
Leibniz coloca todo ser criado também sujeito a mudança, mas essas mudanças
são internas as próprias mônadas e nada que viesse de fora poderia interferir; “por
consequência tem que haver uma pluralidade de afecções e relações na substância
simples, embora ela não tenha partes” (Leibniz, 1979: 106).
2
“Leibniz procurou interpretar o universo de modo tal que a visão mecanística do mundo, que focaliza a
causação material e eficiente, é apoiada por considerações teleológicas. Princípios de extremum, princípio
de conservação, e o princípio da continuidade eram bem apropriados para efetuar a integração desejada
dos pontos de vista mecanísticos e teleológico. No caso dos princípios de extremo, por exemplo, a
conotação teleológica é que os processos naturais ocorrem de certo modo a fim de que certas
quantidades atinjam um valor mínimo (ou máximo). Daí ficamos a um curto passo (e que Leibniz estava
ansioso por dar) à posição de que um ser perfeito criou o universo de modo tal que os processos naturais
satisfazem estes princípios.” LOSEE, JOHN, 2000:113.
3
O movimento da multiplicidade na substância simples é chamada por Leibniz de
Percepção, já a passagem de uma percepção a outra ele denominou Apetição, essa
faculdade nem sempre chega a perfeição que tende, mas até os homens conseguem
mediante a experiência uma multiplicidade na substancia simples quando se nota que o
menor pensamento apercebido se pode encontra variações no objeto. Mas em relação a
Percepção e tudo advindo ou dependente dela é inexplicável mecanicamente, pois, é o
tipo de explicação que só deve ser procurada na substância simples, ou seja, na substância
simples se pode encontrar as percepções e suas respectivas modificações.
Leibniz, denomina alma tudo que possui percepções e aptências, assim todas as
substancias simples também chamadas de mônadas seriam almas. Mas, as substâncias
simples enquanto tem os sentimentos vão um pouco mais além de simples percepções, as
denominando de Mônadas e Enteléquias; em relação a aquelas percepções mais distintas
e detentoras de memória, as chama de Alma. Assim, “a memória dá às almas uma espécie
de consecução que imita a razão, mas que deve distinguir-se dela” (Leibniz, 1979: 107).
A memória está a associada a fatos já ocorridos, e vem de percepções fracas e
repetidas, esse tipo de hábito quando requerido, esses tipos de percepções, ou seja, da
memória, Leibniz as direciona como sendo aquilo que os animais se reportam, dessa
forma, se os homens procedem apenas mediante a memória seriam meros animais, assim,
se faz necessário que utilize-se também da razão. Leibniz, em certo ponto, criticou
também os homens que se apoiam acerca do conhecimento do mundo simplesmente nas
crenças empíricas, que segundo ele constituiria apenas uma parte da capacidade humana,
pois, na alma racional, também chamada de espírito, se encontra o conhecimento das
verdades necessárias e eternas que conduz o conhecimento dos indivíduos e de Deus.
Mas o conhecimento das verdades necessárias e eternas, elevando-nos ao
conhecimento de nós próprios e de Deus, é o que nos distingue dos simples
animais e nos permite alcançar a razão e as ciências. É isso que em nós se
denomina a Alma racional, ou Espírito (Leibniz, 1979: 108).
Dessa forma, Leibniz não se distanciou tanto da tradição filosófica, pois, “para Descartes
e Malebranche, para Espinosa e Leibniz, não existe nenhuma solução do problema da
verdade que não tenha a mediação do problema de Deus: o conhecimento da essência
divina constitui o princípio supremo do conhecimento donde decorrem, por via dedutiva,
todas as outras certezas” (Ernst Cassirer, 1997:218).
4
Portanto, Leibniz apresenta uma concepção de causa e efeito, ou seja, a causa do
conhecimento do homem seria Deus, este conhecimento em última instância estaria no
homem a priori.
Para Leibniz, as ideias que se encontram no interior da alma, possuem
naturalmente uma maior razão de ser que aquelas que apenas dizem
respeito ao que é contingente. Isso dá às ideias inatas ao espírito um valor
superior, divino. São elas, por exemplo, que possibilitam o conhecimento
da nossa natureza moral e da subjetividade humana, e, em outras palavras,
nos permite saber que relação há entre o plano divino e as representações
que apenas a alma humana tem, entre todos os seres da natureza. (Suzane,
2012, p. 251).
Segundo Leibniz, as ideias não possuem a necessidade de serem explicadas por
indução, pois, seriam inatas, a experiência não têm, para a ciência, as verdades necessárias
de todas as proposições da matemática e pelas leis de Deus. Desse modo, as verdades
necessárias são as marcas de Deus impressas na alma da criatura.
Para Leibniz, o raciocínio operaria sobre o princípio de verdadeiro, de falso, e o
de razão suficiente, sendo esse um enunciado que deve ser assim e não de outra forma,
em que nada aconteça sem que tenha uma causa, ou pelo menos, uma razão determinante;
mas em relação a verdade, existem dois tipos de verdades, as de razão e as de fato, as de
razão são necessárias, aquelas que não podem deixar de ser. As verdades de fato são
contingentes, essa por sua vez a verdade é conhecida pela experiência, sendo contrário as
de razão, pois, as de razão seriam a priori. Mas, a razão suficiente também se encontraria
nas verdades de fato, ou seja, estariam também presente no mundo que conhecemos.
Segundo Leibniz, todo esse encadeamento ás vezes não é percebido, no fundo, a razão
suficiente ou última se encontra na substância necessária que é Deus. Como diz Russell,
“[...] o princípio da razão suficiente conduz a ideia de que todas as proposições
verdadeiras, desde que suficientemente embasadas, são de caráter analítico, ainda que
só Deus possa vê-las assim. Para a mente humana, estas verdades parecem contingentes”
(Russell, 2001:295).
São as verdades necessárias que elevam a capacidade humana possibilitando as
abstrações e posteriormente permitindo o ato de reflexão, que possibilita ao homem
também a capacidade de pensar, inclusive em relação a si próprio. Sendo o indivíduo
capaz de olhar para dentro de si, neste ato, eleva o pensamento também ao Ser, na
5
substância, em Deus, concebendo em Deus aquilo que é infinito e que no homem é finito
ou limitado.
É ainda verdade encontrar-se em Deus não só a fonte das existências, mas
também a das essências enquanto reais, ou do que há de real na
possibilidade. Por isso o entendimento divino é a região das verdades
eternas, ou das ideias de que elas dependem. Sem ele nada haveria de real
nas possibilidades, e não somente nada haveria existente, como ainda nada
seria possível (Leibniz, 1979:109).
Esse tipo de atenção empregada em reportar a existência de Deus, e da mesma forma
toma-lo com garantia ou princípio de sistemas filosóficos tornou-se muito intenso na
filosofia moderna, embora Descartes também o tenha reivindicado, o sistema de Leibniz
é diferente, pelo fato do princípio de unidade do sistema, que não faz que Deus venha de
fora do sistema, mas, Deus está dentro do sistema em todas as partes. É claro que a
reivindicação de Deus para os sistemas filosóficos vem muito antes na modernidade, no
período denominado medieval, Santo Anselmo ficou conhecido por esse tipo de
argumentação, “Anselmo precede seu argumento de uma súplica para que Deus
acrescente compreensão à fé que ele já tem. Como Anselmo não tem dúvidas sobre a
existência de Deus, seu argumento não tem a intenção de convencer a ele mesmo, nem a
qualquer fiel, da existência de Deus. Seu propósito é antes esclarecer a compreensão
intelectual de Deus que o fiel já possui” (TILGHMAN, 1994: 58). Assim, Anselmo busca
demostrar que a negação da existência de Deus seria contraditória; dessa forma não se
poderia conceber Deus como algo não existente. Segundo Leibniz:
Assim, só Deus (ou o Ser necessário) possui este privilégio: se é possível
tem de existir necessariamente. Ora como nada pode impedir a
possibilidade do que não tem quaisquer limites, qualquer negação e, por
conseguinte, contradição, isso é suficiente para conhecer a priori a
existência de Deus. Demonstramo-la, também, pela realidade das verdades
eternas, mas igualmente acabamos de prová-la a posteriori pela existência
dos seres contingentes, que não podem tem a razão última ou suficiente
senão no ser necessário, que em si mesmo possui a razão de existir
(Leibniz, 1979:109).
As mônadas estariam numa harmonia estabelecida, possuem também uma ordem
nas coisas referentes as almas e aos corpos. Com tudo, todo corpo seria como uma
máquina divina em que todas as engrenagens se unissem num grande encaixe para o
melhor funcionamento das coisas; inclusive do corpo, como uma máquina altamente
6
perfeita e não como uma máquina criada pelo homem, pois, embora aquelas produzidas
pelo homem atinjam certo grau de perfeição, essas não chegam nem perto daquelas
criadas pela natureza, por Deus, pois, seriam limitadas. Mas, os corpos vivos são
máquinas em suas mínimas partes infinitamente; o criador arquitetou a natureza como
divisível ao infinito, mas, cada parte podendo se subdividir, e todas as partes, por mínima
que fossem, possuindo movimento próprio. Como diz Leibniz:
Cada porção da matéria pode ser concebida como um jardim cheio de
plantas e como um lago cheio de peixes. Mas cada ramo de planta, cada
membro de animal, cada gota de seus humores é ainda um jardim ou um
lago.
E embora a terra e o ar, interpostos entre as plantas do jardim, ou a água
entre os peixes do lago, não sejam planta nem peixe, contudo ainda contêm
algo deles; mas frequentemente com uma sutileza imperceptível para nós
(Leibniz, 1979:112).
Para Leibniz, existiria algo para além da extensão e movimento, chamado de
substância, sendo essa a causa ou força de tudo. Assim, o espaço e tempo seriam apenas
modos dessa substância, ou modos da realidade conforme nos apresenta. O mundo, em
sua totalidade, opera em uma grande rede causal, cujo a finalidade é Deus. Tudo que
existe seria uma mônada composta de outras mônadas, todas convergindo para sua causa
final, que é Deus, detentor da força primeira. A substância conteria em si a própria
finalidade, essa força primeira, Leibniz chama de mônada, que é a unidade ou substância
simples que contêm em si a própria finalidade, ou seja, Deus é mônada originária do qual
todas as demais participam.
BIBLIOGRAFIA
ERNST CASSIRER, A Filosofia do Iluminismo, Tradução: Alvaro Cabra, 3ed.
Campinas SP, UNICAMP, 1997
LOSEE, JOHN- Introdução Histórica à Filosofia da Ciência, Tradução: Borisas
Cimbleris, Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 2000.
LEIBNIZ - (Newton/Leibniz), A Monadolgia, São Paulo, Abril Cultural, 1979.
RUSSELL, BERTRAND – História do Pensamento Ocidental, Tradução: Laura Alves
e Aurélio Rabelo, Rio de Janeiro, Ed. Ediouro, 2001.
SUZANE DA SILVA ARAÚJO- Hume e Leibniz: Entre o Inatismo e o Empirismo,
Mestranda em História da Filosofia Moderna pela Universidade Federal do Pará. Kínesis,
Vol. IV, n° 07, Julho2012,p.245-253, GIOVANNI REALE - História da filosofia: de
Spinoza a Kant, v. IV.
WOLFGANG RÖD – O Caminho da Filosofia, Brasília, Editora Universidade de
Brasília, 2008.

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Leibniz Monadologia

  • 1. LEIBNIZ: A MONADOLOGIA Cleyton Diego1 Resumo: Este texto pretende remontar a exposição da Monadologia escrita pelo matemático, físico e filosofo Leibniz; tal pensador contribuiu bastante com seus escritos para a história da filosofia. Leibniz é ‘pertencente’ a tradição racionalista moderna, da qual absorveu alguns traços da filosofia cartesiana, que acreditava numa realidade ou conhecimento a priori, para além da experiência. Dessa forma, a Monadologia engloba a explicação do mundo a partir de um conjunto de substâncias convivendo numa harmonia pré-estabelecida aonde também está inserido a figura de Deus. Palavras Chave: Leibniz, Monadologia, Mônada. Embora o conhecimento sempre tenha sido objeto da reflexão dos filósofos, o problema do conhecimento tornou-se mais intenso a partir do século XVII. Com os filósofos modernos, o pensamento passou a voltar-se para si mesmo, dessa forma, o homem começou a dar importância a investigações para entender o mundo. Um dos pontos que caracterizou o chamado período moderno, foi a forma de abordagem da ciência natural, que procura esclarecer os fatos utilizando-se da observação e buscando regularidades apresentadas matematicamente. O objetivo de tornar a natureza cientificamente explicável e, poder de certa forma prever os eventos naturais, está no âmbito do ideal de dominação da natureza. Leibniz talvez tenha sido um dos últimos pensadores correntes do período moderno “Enquanto Descartes acreditava que a realidade fosse em parte material e em parte espiritual, e Espinosa, que matéria e consciência seriam somente diferentes aspectos de uma substância nem material nem espiritual, para Leibniz a realidade era fundamentalmente espiritual” ( W. RÖD, 2008:100). Leibniz constrói uma concepção 1 Formado em Filosofia pela Universidade de Brasília – UnB.
  • 2. 2 de mundo e, do conhecimento, de uma forma mais dinâmica, exposto e apresentando na obra a Monadologia2 . As mônadas compõem tudo que existe no mundo e estão organizadas numa harmonia predeterminada o que faria do mundo criando o melhor dos mundos possíveis. A Mônada enquanto substância simples faz parte de todos os compostos, tal substância não teria partes. Pois, o composto é a união de substancias simples, dessa forma, “as mônadas só podem começar ou acabar instantaneamente ou, por outras palavras, só lhes é possível começar por criação e acabar por aniquilamento, ao passo que todo o composto começa e acaba por partes” (Leibniz, 1979:105). De modo, que sua estrutura é de uma forma tão fechada que nada entra e nada sai desse ‘átomo’ e que possa interferir em sua harmonia. As mônadas possuem qualidades, por meio dessas qualidades que se pode perceber modificações das coisas; e caso as mônadas não tivessem qualidades seria impossível distinguir uma das outras, dessa forma, não existe na natureza dois seres idênticos. Como diz Russell: Sendo cada mônada uma substância, todas são qualitativamente diferentes, ao mesmo tempo que representam diversos pontos de vista. Não serve dizer, a rigor, que ocupam diferentes posições, pois não são entidades espaço-temporais. Espaço e tempo são aparências sensoriais carentes de realidade. A realidade que existe por trás delas é a disposição das mônadas, cada qual com um ponto de vista diferente. Cada uma espelha o universo de maneira ligeiramente diferente sem que haja duas exatamente iguais. Se duas mônadas forem exatamente iguais, então são realmente uma e a mesma. Este é o significado do princípio de Leibniz da identidade dos indiscerníveis. (Russell, 2001:292) Leibniz coloca todo ser criado também sujeito a mudança, mas essas mudanças são internas as próprias mônadas e nada que viesse de fora poderia interferir; “por consequência tem que haver uma pluralidade de afecções e relações na substância simples, embora ela não tenha partes” (Leibniz, 1979: 106). 2 “Leibniz procurou interpretar o universo de modo tal que a visão mecanística do mundo, que focaliza a causação material e eficiente, é apoiada por considerações teleológicas. Princípios de extremum, princípio de conservação, e o princípio da continuidade eram bem apropriados para efetuar a integração desejada dos pontos de vista mecanísticos e teleológico. No caso dos princípios de extremo, por exemplo, a conotação teleológica é que os processos naturais ocorrem de certo modo a fim de que certas quantidades atinjam um valor mínimo (ou máximo). Daí ficamos a um curto passo (e que Leibniz estava ansioso por dar) à posição de que um ser perfeito criou o universo de modo tal que os processos naturais satisfazem estes princípios.” LOSEE, JOHN, 2000:113.
  • 3. 3 O movimento da multiplicidade na substância simples é chamada por Leibniz de Percepção, já a passagem de uma percepção a outra ele denominou Apetição, essa faculdade nem sempre chega a perfeição que tende, mas até os homens conseguem mediante a experiência uma multiplicidade na substancia simples quando se nota que o menor pensamento apercebido se pode encontra variações no objeto. Mas em relação a Percepção e tudo advindo ou dependente dela é inexplicável mecanicamente, pois, é o tipo de explicação que só deve ser procurada na substância simples, ou seja, na substância simples se pode encontrar as percepções e suas respectivas modificações. Leibniz, denomina alma tudo que possui percepções e aptências, assim todas as substancias simples também chamadas de mônadas seriam almas. Mas, as substâncias simples enquanto tem os sentimentos vão um pouco mais além de simples percepções, as denominando de Mônadas e Enteléquias; em relação a aquelas percepções mais distintas e detentoras de memória, as chama de Alma. Assim, “a memória dá às almas uma espécie de consecução que imita a razão, mas que deve distinguir-se dela” (Leibniz, 1979: 107). A memória está a associada a fatos já ocorridos, e vem de percepções fracas e repetidas, esse tipo de hábito quando requerido, esses tipos de percepções, ou seja, da memória, Leibniz as direciona como sendo aquilo que os animais se reportam, dessa forma, se os homens procedem apenas mediante a memória seriam meros animais, assim, se faz necessário que utilize-se também da razão. Leibniz, em certo ponto, criticou também os homens que se apoiam acerca do conhecimento do mundo simplesmente nas crenças empíricas, que segundo ele constituiria apenas uma parte da capacidade humana, pois, na alma racional, também chamada de espírito, se encontra o conhecimento das verdades necessárias e eternas que conduz o conhecimento dos indivíduos e de Deus. Mas o conhecimento das verdades necessárias e eternas, elevando-nos ao conhecimento de nós próprios e de Deus, é o que nos distingue dos simples animais e nos permite alcançar a razão e as ciências. É isso que em nós se denomina a Alma racional, ou Espírito (Leibniz, 1979: 108). Dessa forma, Leibniz não se distanciou tanto da tradição filosófica, pois, “para Descartes e Malebranche, para Espinosa e Leibniz, não existe nenhuma solução do problema da verdade que não tenha a mediação do problema de Deus: o conhecimento da essência divina constitui o princípio supremo do conhecimento donde decorrem, por via dedutiva, todas as outras certezas” (Ernst Cassirer, 1997:218).
  • 4. 4 Portanto, Leibniz apresenta uma concepção de causa e efeito, ou seja, a causa do conhecimento do homem seria Deus, este conhecimento em última instância estaria no homem a priori. Para Leibniz, as ideias que se encontram no interior da alma, possuem naturalmente uma maior razão de ser que aquelas que apenas dizem respeito ao que é contingente. Isso dá às ideias inatas ao espírito um valor superior, divino. São elas, por exemplo, que possibilitam o conhecimento da nossa natureza moral e da subjetividade humana, e, em outras palavras, nos permite saber que relação há entre o plano divino e as representações que apenas a alma humana tem, entre todos os seres da natureza. (Suzane, 2012, p. 251). Segundo Leibniz, as ideias não possuem a necessidade de serem explicadas por indução, pois, seriam inatas, a experiência não têm, para a ciência, as verdades necessárias de todas as proposições da matemática e pelas leis de Deus. Desse modo, as verdades necessárias são as marcas de Deus impressas na alma da criatura. Para Leibniz, o raciocínio operaria sobre o princípio de verdadeiro, de falso, e o de razão suficiente, sendo esse um enunciado que deve ser assim e não de outra forma, em que nada aconteça sem que tenha uma causa, ou pelo menos, uma razão determinante; mas em relação a verdade, existem dois tipos de verdades, as de razão e as de fato, as de razão são necessárias, aquelas que não podem deixar de ser. As verdades de fato são contingentes, essa por sua vez a verdade é conhecida pela experiência, sendo contrário as de razão, pois, as de razão seriam a priori. Mas, a razão suficiente também se encontraria nas verdades de fato, ou seja, estariam também presente no mundo que conhecemos. Segundo Leibniz, todo esse encadeamento ás vezes não é percebido, no fundo, a razão suficiente ou última se encontra na substância necessária que é Deus. Como diz Russell, “[...] o princípio da razão suficiente conduz a ideia de que todas as proposições verdadeiras, desde que suficientemente embasadas, são de caráter analítico, ainda que só Deus possa vê-las assim. Para a mente humana, estas verdades parecem contingentes” (Russell, 2001:295). São as verdades necessárias que elevam a capacidade humana possibilitando as abstrações e posteriormente permitindo o ato de reflexão, que possibilita ao homem também a capacidade de pensar, inclusive em relação a si próprio. Sendo o indivíduo capaz de olhar para dentro de si, neste ato, eleva o pensamento também ao Ser, na
  • 5. 5 substância, em Deus, concebendo em Deus aquilo que é infinito e que no homem é finito ou limitado. É ainda verdade encontrar-se em Deus não só a fonte das existências, mas também a das essências enquanto reais, ou do que há de real na possibilidade. Por isso o entendimento divino é a região das verdades eternas, ou das ideias de que elas dependem. Sem ele nada haveria de real nas possibilidades, e não somente nada haveria existente, como ainda nada seria possível (Leibniz, 1979:109). Esse tipo de atenção empregada em reportar a existência de Deus, e da mesma forma toma-lo com garantia ou princípio de sistemas filosóficos tornou-se muito intenso na filosofia moderna, embora Descartes também o tenha reivindicado, o sistema de Leibniz é diferente, pelo fato do princípio de unidade do sistema, que não faz que Deus venha de fora do sistema, mas, Deus está dentro do sistema em todas as partes. É claro que a reivindicação de Deus para os sistemas filosóficos vem muito antes na modernidade, no período denominado medieval, Santo Anselmo ficou conhecido por esse tipo de argumentação, “Anselmo precede seu argumento de uma súplica para que Deus acrescente compreensão à fé que ele já tem. Como Anselmo não tem dúvidas sobre a existência de Deus, seu argumento não tem a intenção de convencer a ele mesmo, nem a qualquer fiel, da existência de Deus. Seu propósito é antes esclarecer a compreensão intelectual de Deus que o fiel já possui” (TILGHMAN, 1994: 58). Assim, Anselmo busca demostrar que a negação da existência de Deus seria contraditória; dessa forma não se poderia conceber Deus como algo não existente. Segundo Leibniz: Assim, só Deus (ou o Ser necessário) possui este privilégio: se é possível tem de existir necessariamente. Ora como nada pode impedir a possibilidade do que não tem quaisquer limites, qualquer negação e, por conseguinte, contradição, isso é suficiente para conhecer a priori a existência de Deus. Demonstramo-la, também, pela realidade das verdades eternas, mas igualmente acabamos de prová-la a posteriori pela existência dos seres contingentes, que não podem tem a razão última ou suficiente senão no ser necessário, que em si mesmo possui a razão de existir (Leibniz, 1979:109). As mônadas estariam numa harmonia estabelecida, possuem também uma ordem nas coisas referentes as almas e aos corpos. Com tudo, todo corpo seria como uma máquina divina em que todas as engrenagens se unissem num grande encaixe para o melhor funcionamento das coisas; inclusive do corpo, como uma máquina altamente
  • 6. 6 perfeita e não como uma máquina criada pelo homem, pois, embora aquelas produzidas pelo homem atinjam certo grau de perfeição, essas não chegam nem perto daquelas criadas pela natureza, por Deus, pois, seriam limitadas. Mas, os corpos vivos são máquinas em suas mínimas partes infinitamente; o criador arquitetou a natureza como divisível ao infinito, mas, cada parte podendo se subdividir, e todas as partes, por mínima que fossem, possuindo movimento próprio. Como diz Leibniz: Cada porção da matéria pode ser concebida como um jardim cheio de plantas e como um lago cheio de peixes. Mas cada ramo de planta, cada membro de animal, cada gota de seus humores é ainda um jardim ou um lago. E embora a terra e o ar, interpostos entre as plantas do jardim, ou a água entre os peixes do lago, não sejam planta nem peixe, contudo ainda contêm algo deles; mas frequentemente com uma sutileza imperceptível para nós (Leibniz, 1979:112). Para Leibniz, existiria algo para além da extensão e movimento, chamado de substância, sendo essa a causa ou força de tudo. Assim, o espaço e tempo seriam apenas modos dessa substância, ou modos da realidade conforme nos apresenta. O mundo, em sua totalidade, opera em uma grande rede causal, cujo a finalidade é Deus. Tudo que existe seria uma mônada composta de outras mônadas, todas convergindo para sua causa final, que é Deus, detentor da força primeira. A substância conteria em si a própria finalidade, essa força primeira, Leibniz chama de mônada, que é a unidade ou substância simples que contêm em si a própria finalidade, ou seja, Deus é mônada originária do qual todas as demais participam. BIBLIOGRAFIA ERNST CASSIRER, A Filosofia do Iluminismo, Tradução: Alvaro Cabra, 3ed. Campinas SP, UNICAMP, 1997 LOSEE, JOHN- Introdução Histórica à Filosofia da Ciência, Tradução: Borisas Cimbleris, Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 2000. LEIBNIZ - (Newton/Leibniz), A Monadolgia, São Paulo, Abril Cultural, 1979. RUSSELL, BERTRAND – História do Pensamento Ocidental, Tradução: Laura Alves e Aurélio Rabelo, Rio de Janeiro, Ed. Ediouro, 2001. SUZANE DA SILVA ARAÚJO- Hume e Leibniz: Entre o Inatismo e o Empirismo, Mestranda em História da Filosofia Moderna pela Universidade Federal do Pará. Kínesis, Vol. IV, n° 07, Julho2012,p.245-253, GIOVANNI REALE - História da filosofia: de Spinoza a Kant, v. IV. WOLFGANG RÖD – O Caminho da Filosofia, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2008.