PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
Gestão democrática na educação
1. *Tecnólogo em Sistemas para Internet-IFMT;Bacharel em Ciências Contábeis-UNOPAR;Técnico em
Secretaria Escolar-IFMT/SEDUC-MT.
** Licenciatura Plena em Letras- UTP/PR; Especialista em Metodologia do Ensino de Primeiro Grau-
Faculdades Positivo; Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa-UFPR;
Mestre em Comunicação e Linguagens- UTP/PR.
Gestão Democrática – Desafios de um Gestor
Claudeir Montes de Novais*
Prof. Valter Zotto de Andrade**
RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar os desafios da gestão democrática e participativa no
papel do gestor educacional. Para isso, serão abordados alguns tópicos como o conceito de
gestor educacional estabelecido historicamente no Brasil, o papel da gestão democrática, a
relevância do PPP-Projeto Político Pedagógico, o propósito do Conselho Deliberativo dentro
da comunidade escolar e os desafios a serem superados para que a gestão democrática se
estabeleça dentro no sistema educacional. Esta pesquisa enfatiza os benefícios para a
sociedade e também os desafios de se implantar uma gestão democrática no sistema
educacional. A metodologia aplicada para a construção deste artigo se deve ao explorar como
objeto de pesquisa bibliografias acerca do tema proposto. O fruto desta pesquisa se deve ao
fato de que os agentes da gestão democrática ainda desconhecem o grande potencial que
podem exercer dentro da escola através da gestão democrática e participativa. Sendo assim,
é interessante levantar questionamentos acerca de práticas consolidadas e paradigmas pré-
estabelecidos que necessitam ser revistos, a fim de compreender que a escola deve atuar em
benefício da comunidade escolar em que ela está inserida e para isso, ela deve e tem o poder
de ser participativa.
Palavras-chave: Gestão democrática, PPP, Conselho Deliberativo.
1 - INTRODUÇÃO
O que se pretende com esta pesquisa é esclarecer que a gestão de uma escola não
é centralizada apenas no papel do diretor escolar, que por ser gestão democrática, ela
acontece através da participação de toda a comunidade escolar em que a escola está inserida,
que a gestão deve ser exercida e promovida através da participação ativa da sociedade e em
2. 2
benefício dela. E, para que isso aconteça é necessário que a escola e os envolvidos com o
fazer pedagógico entendam que a sociedade deva fazer parte das tomadas de decisões, pois
ela será devidamente afetada ou beneficiada pelas práticas exercidas dentro da escola. Com
isso, a escola abre um leque para novas perspectivas nas práticas exercidas pela gestão
centralizada no papel do diretor escolar, pois com as trocas de experiências com a sociedade,
a escola só tende a ampliar suas expectativas quanto as demandas da escola e o seu
desenvolvimento.
Frequentemente em seu cotidiano, o gestor escolar, ainda entendido como sendo
papel exclusivo do diretor da escola, confronta-se com um grande número de trabalhos
burocráticos ou diversos tipos de problemas em sua gestão. Esses problemas tomam um
tempo excessivo do gestor-diretor e pode apresentar um desgaste a curto e longo prazo.
Dentre os problemas, podemos citar os considerados mais frequentes que são: falta de
docentes, número reduzido de profissionais de apoio - vigias, limpeza, merendeiras, violência
contra a estrutura física da escola e equipamentos, desgaste e até a falta dos mesmos, falta
de material didático, higiênico e de manutenção, falta de recursos financeiros, falta de
segurança dentro e fora da escola, dentre outros pormenores.
Outro profissional dentro da escola que ainda é visto como parte da gestão
educacional é o coordenador pedagógico que por estar próximo ao gestor-diretor seus papéis
se confundem nas práticas diárias e o propósito do coordenador pedagógico dentro da escola
se torna comprometido mais com as demandas burocráticas da escola em detrimento de
coordenar as práticas pedagógicas que seria a sua função. Isso também faz com que esses
dois profissionais centralizem as decisões por demandar mais trabalho em reunir os
segmentos da comunidade escolar para todas as tomadas de decisões da escola.
Entretanto, a gestão democrática nas escolas é um dos caminhos mais importantes
para se amenizar esses conflitos e alcançar a melhor qualidade da educação, e isso não
compreende apenas em poder escolher por meio de voto quem estará a frente da gestão
escolar. A participação da família, dos estudantes, dos professores, dos apoios, enfim, de
toda a comunidade escolar nas atividades e também nas tomadas de decisões dentro da
escola, torna mais fácil o serviço do gestor-diretor, do coordenador pedagógico, e, faz com
que as chances de aprendizagem se ampliem. Além disso, o gestor-diretor deve ter
consciência de que sozinho ele não consegue resolver todos os problemas e sendo assim,
ele precisará compartilhar as responsabilidades e compromissos com os diversos setores da
instituição escolar, ou seja, buscar ajuda do coletivo.
Quando influentes, os conselhos escolares e as associações de pais e mestres são
bons modelos de busca da gestão democrática. Afinal, nos conselhos e associações desse
tipo, os integrantes podem participar da elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola
3. 3
e intervir em questões como: na criação do regimento relacionado ao ambiente escolar, na
metodologia aplicada nas salas de aula, na filosofia da escola e também na qualidade dos
serviços prestados para a escola.
Sabe-se que para o gestor-diretor são inúmeros desafios a serem superados e
paradigmas consolidados a serem explorados, porém os benefícios a longo prazo corroboram
para que a gestão escolar democrática e participativa se estabeleça como a melhor opção
nas práticas que gerenciam a escola visando sempre a qualidade e a melhoria da educação
no país.
2- GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL- PRÁTICAS CONSOLIDADAS.
Após a Primeira, a Segunda República e a Ditadura Militar, o Brasil caminhou para
uma avalanche de movimentos populares por diversos segmentos da sociedade a fim de exigir
a abertura política e o retorno ao estado legal. As chamadas “diretas já”, buscando as eleições
diretas culminou com a eleição indireta de Tancredo Neves, morto tragicamente, e a ascensão
do seu vice, José Sarney, como o primeiro presidente civil, desde o ano de 1964.
Em meio ao enfraquecimento da ditadura e a avanços tímidos da democracia, a nova
Constituição de 1988 foi promulgada, Fernando Collor foi eleito pelo voto popular e também
deposto por movimentos populares que o levaram ao impeachment. Os reflexos da violenta
ditadura militar que fizeram os brasileiros perderem o poder de participação e crítica são nesse
momento molas propulsoras que impulsionam a luta pela democratização da política no pais
e também no ensino.
Embora toda essa euforia por mudanças, a concepção de gestão capitalista,
autoritária e administrativa ainda demonstram a prática do modelo de gestão presente em
algumas escolas. Uma das evidências dessa prática é a constatação de que uma das práticas
que garantiriam a democratização da gestão escolar seriam as eleições para diretor,
entretanto a prática de eleição se tornou não mais do que restrita a mera substituição de
pessoas no poder, ou seja, em boa parte das gestões educacionais ainda imperam a busca
pelo poder.
Essa prática ainda está arraigada na cultura brasileira que ainda existem diretores
escolares nomeados por prefeitos em algumas cidades do país contrariando a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação. Ainda existem escolas com nenhuma participação ou
intervenção da sociedade nas tomadas de decisão a respeito da mesma. Lugares onde
imperam o domínio através do poder absoluto, assim como esse relato publicado na Revista
Gestão Escolar sobre a escolha de um diretor no estado da Bahia há alguns anos atrás
.
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“Ainda lutando para estabelecer seus critérios para a escolha de
diretores, o estado da Bahia (como a maioria do Brasil) tem
muitas denúncias de indicação política para o cargo, mas pouco
se pode provar sobre o fato. O que é possível constatar, no
entanto, é uma grande insatisfação por parte da comunidade
escolar em relação ao desempenho de certos gestores, e a
contestação de sua legitimidade no cargo. Este ano, por
exemplo, estudantes de um colégio de Salvador realizaram uma
manifestação no bairro, pedindo o afastamento do diretor da
escola. Alegando extremo autoritarismo incluindo penalidades
exageradas aos alunos e atitudes preconceituosas do gestor, o
movimento foi apoiado por parte dos professores da escola. No
dia seguinte à manifestação, o diretor pediu afastamento do
cargo”.
Como se percebe no texto, embora ainda impere em alguns Estados e cidades do
Brasil a prática da nomeação política para o cargo de diretor escolar, algumas comunidades
já entendem que devem fazer parte desse processo de escolha e aprovação por participar,
opinar, contribuir e desejar uma melhor escola e educação para os seus filhos. Essas
comunidades estão dispostas a lutar juntamente com os profissionais das escolas por
melhorias na educação e na melhor gestão dos recursos.
Em determinados Estados, por exemplo, no Estado do Mato Grosso, a gestão
democrática participativa já se encontra bem consolidada. Os diretores são na sua maioria
escolhidos pela comunidade escolar desde que sejam professores efetivos já conhecidos por
seus trabalhos desenvolvidos naquela instituição. O coordenador pedagógico também é
escolhido dentre os profissionais das escolas e por seus pares, o que torna a aceitação e a
adaptação de gestão mais adequada às necessidades da escola e apropriadas ao segmento
da sua filosofia e práticas consolidadas.
O projeto de lei de autoria do deputado Luiz Soares, já previa, em 1990, toda a
organização e modelo de gestão estabelecida e consolidada até os dias atuais, assim como
diz a redação dos artigos 1° e 2° da LEI Nº 5.604, DE 22 DE MAIO DE 1990 - D.O. 22.05.90:
Art. 1º A presente lei regulamenta a gestão democrática do
sistema estadual de ensino de Mato Grosso, nos termos do
Artigo 237, inciso IV, da Constituição Estadual.
Art. 2º São princípios da gestão democrática do sistema
estadual de ensino:
I - autonomia dos estabelecimentos de ensino, no que lhe
couber pela lei, na gestão pedagógica, administrativa e
financeira de seu projeto educativo, sob responsabilidade última
de seu Conselho Deliberativo Escolar, com representação eleita
e paritária dos quatro segmentos da comunidade escolar:
alunos, pais, professores e funcionários, e presença nata da
direção eleita;
II - eleição direta dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino
e dos dirigentes regionais do sistema, esgotando-se o processo
no âmbito do respectivo coletivo e eleitores;
III - subordinação dos dirigentes de estabelecimento e do
sistema a colegiados locais e regionais, sem prejuízo do
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acatamento de leis e normas gerais, assim como dos projetos e
determinações do Executivo, desde que com amparo legal;
IV - livre organização dos segmentos da comunidade escolar em
nível de escola, do município, da região e do Estado, com
incentivos para sua consolidação institucional;
V - transparência nos mecanismos administrativos e financeiros
de forma a assegurar a participação e respaldar a autonomia
deliberativa dos colegiados e das instâncias descentralizadas;
VI - garantia de recursos financeiros proporcionais ao número de
alunos distribuídos diretamente às escolas, suficientes para o
custeio de suas atividades pedagógicas e administrativas e para
investimentos de manutenção física, com padrão mínimo de
qualidade definida em lei;
VII - participação de todos os segmentos de todas as escolas
dos sistemas nos processos e instâncias decisórias, desde que
se garanta nas bases sua representação democrática e
organizada, na forma da lei.
Esse modelo de gestão participativa tem demonstrado que com a sociedade
envolvida com a educação o papel do gestor escolar se transforma em um mediador e
articulador de ideias com a comunidade para que ocorra as transformações necessárias ao
melhor desenvolvimento escolar. Por ser quem articula com a comunidade esse deve ser
escolhido e aprovado por ela. Assim como já afirmava Paulo Freire:
"É preciso e até urgente que a escola vá se tornando em espaço
escolar acolhedor e multiplicador de certos gostos democráticos
como o de ouvir os outros, não por puro favor, mas por dever, o
de respeitá-los, o da tolerância, o do acatamento às decisões
tomadas pela maioria a que não falte, contudo o direito de quem
diverge de exprimir sua contrariedade." (Paulo Freire. 1995 p.
91)
Diante disso é preciso constatar que o gestor diretor necessita romper barreiras e
práticas consolidadas historicamente de administração centralizada no poder. Entender que
as demandas e a gestão deva ser compartilhada demonstra grande nível de amadurecimento
intelectual, pois além de aceitar é preciso saber administrar na coletividade, saber dar voz a
comunidade, ouvi-la, discutir questões pertinentes e juntas decidir o melhor caminho e a
melhor solução. Isso exige também do gestor diretor conhecimento da realidade dessa
comunidade e que ele tenha um bom relacionamento com ela.
3- GESTÃO DEMOCRÁTICA
A gestão democrática compreende-se em um modelo de administração em que o seu
gestor principal é eleito pelo voto. Entretanto para compreender melhor sobre Gestão
Democrática, a publicação virtual que define bem o seu conceito foi publicado em 2014. Nele
a definição compreende-se em:
6. 6
“A gestão democrática pressupõe a participação efetiva dos
vários segmentos da comunidade escolar – pais,
professores, estudantes e funcionários – em todos os aspectos
da organização da escola. Esta participação incide diretamente
nas mais diferentes etapas da gestão escolar (planejamento,
implementação e avaliação) seja no que diz respeito à
construção do projeto e processos pedagógicos quanto às
questões de natureza burocrática.”
Outra definição bastante interessante fica a critério de Castro (2006),
“A gestão democrática é: O registro do ato político e pedagógico
de educar, o projeto da escola, elaborado coletivamente por
representantes de todos os segmentos da comunidade escolar,
transpõe os “muros invisíveis” da escola e elimina as distâncias
entre o espaço – tempo escolar e o espaço – tempo social,
político e cultural, para transformá-los em um único espaço
tempo de viver.”
No ano de 1996, após vários empasses enfim a LDB- Lei de Diretrizes e Bases da
Educação é aprovada e um novo perfil de gestor diretor foi traçado. O gestor diretor teria como
principal papel o de assumir uma postura crítica na adoção de novas perspectivas, planejar e
acompanhar sua introdução no sistema educacional, levando-o um processo de auto-
organização, pesquisa e análise de novos processos, tendo uma solidez na resolução de
problemas encontrados no dia-a-dia.
Assim como a redação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional de 1996
fundamenta a educação democrática, em seu Art. 3º, que compreende um ensino ministrado
pelos princípios de:
I – Igualdade de condições de acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III – Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas;
IV – Respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V – Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI – Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII – Valorização do profissional da educação escolar;
VIII – Gestão democrática do ensino público, na forma da lei e
da legislação dos sistemas de ensino;
IX – Garantia de padrão de qualidade; valorização da
experiência extra-escolar;
X – Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
práticas sociais.
Nessa perspectiva fica evidente que a partir da LDB, a gestão escolar deveria ter sido
democratizada, com o direito a escolha do gestor-diretor, do coordenador pedagógico, dos
membros do Conselho Deliberativo Escolar, de acordo com a organização da rede de ensino.
Também na Constituição Federal de 1988 ficou estabelecido que haveria um Plano
Decenal para planejar e estabelecer as metas para a Educação Nacional a última foi aprovada
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em 2014. Desta se estendeu ao Plano Estadual e Municipais de Educação. Essas ações
também corroboram para que toda a gestão da educação passe a ser gerida pelos segmentos
da sociedade, onde todos planejam, definem e atuam para que as metas sejam alcançadas.
Assim como a redação:
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de
duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional
de educação em regime de colaboração e definir diretrizes,
objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar
a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos
níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos
poderes públicos das diferentes esferas federativas que
conduzam a: (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 59, de 2009)
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos
em educação como proporção do produto interno bruto.
Todas essas medidas contribuem e reforçam o modelo de gestão participativa, onde
não se aplica a o mais a gestão administrativa com característica empresarial, que visa
apenas resultados capitalistas, mas parte de uma concepção de que os recursos destinados
à educação devem ser direcionados para o propósito da melhoria da qualidade do ensino de
acordo com os interesses e necessidades educacionais da comunidade. Uma vez que a
arrecadação é feita pela comunidade, ela deverá retornar para esta da forma mais apropriada
às suas demandas educacionais e não em detrimento de interesses arbitrários determinados
por gestões centralizadas e desvinculadas aos que serão diretamente beneficiadas ou
afetados por essa gestão.
4 – A CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO.
O Projeto Político Pedagógico –PPP, compreende-se como uma ferramenta de
gestão e organização planejada das demandas da escola. Se na Gestão democrática deve
haver a compreensão da administração escolar como atividade em meio a reunião de esforços
coletivos para o implemento dos fins da educação, o PPP seria o instrumento de planejamento
participativo das ações internas da escola.
O PPP ficou por algum tempo na maioria das vezes, sendo reproduzido pelos
gestores imediatos da escola e conhecido como um documento de “gaveta” , apenas para
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cumprir o seu papel burocrático de documentações administrativas das instituições. Muitos
professores e funcionários da escola desconheciam o seu conteúdo.
Entretanto já houve um esforço político, até, de que esse documento tão importante
para o Planejamento da escola pudesse realmente cumprir com o seu propósito e fim.
Para Vasconcellos (2005, p. 169),
“O PPP: Pode ser entendido como a sistematização, nunca
definida, de um processo de Planejamento Participativo, que se
aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente
o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento
teórico-metodológico para a intervenção e mudança da
realidade.”
O interessante dessa colocação é que a expressão “nunca indefinida”, ou seja,
planejada sistematicamente entende-se que como um documento de planejar poderia ficar
guardado se ele deve ser atualizado, se ele deve prever a característica da sua clientela, a
filosofia, o regimento e todas as demandas e anuais para a escola. Se a escola é um ambiente
em processo ativo de mudanças e de políticas educacionais, de uma clientela que se renova
todos os anos é provável que seu planejamento e sua filosofia se adequem aos novos perfis
e às novas expectativas de mudança.
Para a sua construção Gandin defende que:
A construção do PPP, de forma participativa possibilita que as
pessoas discutam a escola – nas dimensões política,
pedagógica, cultural - que re-signifiquem suas práticas,
atualizem valores, explicitem suas expectativas e suas utopias,
revelem suas queixas, construam novos valores, evidenciem
seus conhecimentos, seus saberes, enfim estabeleçam novos
parâmetros, novas relações de convivência e de trabalho
coletiva valores coletivos e coloca em seu horizonte próximo a
transformação da escola. (GANDIN, 2000, p.87)
Assim, o PPP se configura como parte desse processo de consolidação democrática
da educação, com o propósito de contribuir para que a participação da sociedade se
concretize na medida em que a escola também atua no seu dia a dia.
5- CONSELHO DELIBERATIVO PARTICIPATIVO
Para definir quem participa diretamente da construção do PPP, o funcionamento e
as normas internas para a organização da escola é preciso que um conselho seja criado. Por
isso existe o se Conselho Deliberativo Escolar.
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O portal do Ministério da Educação sobre o fortalecimento dos Conselhos escolares
descreve sua função da seguinte forma:
“Aos conselhos escolares cabe deliberar sobre as normas
internas e o funcionamento da escola, além de participar da
elaboração do Projeto Político-Pedagógico; analisar as questões
encaminhadas pelos diversos segmentos da escola, propondo
sugestões; acompanhar a execução das ações pedagógicas,
administrativas e financeiras da escola e mobilizar a comunidade
escolar e local para a participação em atividades em prol da
melhoria da qualidade da educação, como prevê a legislação. ”
Para compor esse Conselho fica definido por votação da comunidade envolvida, os
representantes dos segmentos de pais, alunos, dos professores, o diretor - como membro
nato, e o representante de funcionários. Desses representantes são definidos o Presidente do
Conselho, o secretário, o tesoureiro.
Suas reuniões devem acontecer ordinariamente, uma vez por mês, a fim de deliberar
as demandas da escola, ou, extraordinariamente sempre que forem solicitados pelo
presidente.
Nesse conjunto cada membro tem sua função definida e parcela de responsabilidade
na gestão da escola. Embora o gestor-diretor seja um membro nato por já haver passado por
outro processo de escolha democrática, a eleição para a escolha de diretor, não fica a critério
desse único a decisão das demandas, mas da votação e consentimentos coletivo também
através de discussões, votação para se chegar há um denominador comum entre as partes.
Desta forma mesmo sendo sua função de organizar e hierarquicamente conduzir a
escola, fica descentralizada a gestão no papel do diretor, e, a responsabilidade se trona
coletiva, uma vez que toda a sociedade envolvida tem voz e voto através de seus
representantes eleitos.
CONSIDERAÇÕES
A gestão democrática em nosso país é um processo que ainda vem sendo vivenciado
ao longo dos anos por toda a sociedade, no que diz respeito ao âmbito político, foram
ocorrendo mudanças em todos os seus segmentos e a escola como instituição que tem como
compromisso, socializar o saber historicamente construído não poderia estar alheia a todas
estas mudanças.
A Democracia no Brasil que teve início a partir da década de 80, com base legal na
Constituição de 1988 impôs o desafio para a educação subverter a lógica de escola
conservadora para uma nova concepção baseada nos também democráticos.
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Para essa consolidação tem sido preciso romper paradigmas e modelos de gestão
centralizada tanto no poder do diretor, quanto no poder de definir papéis de acordo com os
interesses políticos no setor público. A grande luta, no entanto, tem sido de fazer com que a
gestão democrática na educação definitivamente aconteça com a finalidade de proporcionar
melhorias significativas na educação. Para tanto são necessárias estratégias para envolver a
sociedade na organização desses papéis que fazem parte dessa gestão emancipatória.
Para tanto fica definida a construção dos Planos Político Pedagógico e do Conselhos
Deliberativo Escolar.
Assim como já se definiu o Plano Político Pedagógico (PPP) deve ser elaborado
através de construção coletiva e que além da sua formação deve haver o fortalecimento do
Conselho Escolar na medida em que a comunidade entende a importância do seu papel frente
as demandas escolares da mesma forma que se compreende que:
Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que
vivem em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de
participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mão,
também. Tudo o que a gente puder fazer nesse sentido é pouco
ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós
que é o de assumir esse país democraticamente. (FREIRE,
2009, p.1).
Assim, entende-se que participação de todos os setores envolvidos na instituição
escolar, não depende apenas do gestor - diretor, mas principalmente, da conscientização de
cada um sobre a importância da participação no processo educacional, entretanto é papel
fundamental do diretor o despertamento do interesse de todos os segmentos da comunidade
escolar para que a sua participação seja efetiva na instituição, e assim, possa ser criando um
ambiente favorável e que envolva a todos em um clima de respeito e comprometimento com
o processo de mudança, da construção da identidade escolar e responsabilidade na melhoria
na qualidade na educação.
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REFERÊNCIAS
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CASTRO, Maria Helena Guimarães.Como anda a Educação Básica no Brasil:
O desafio da qualidade. São Paulo, 2006.
DIRETOR É CARGO DE CONFIANÇA, MAS DA COMUNIDADE, disponível
em:<https://gestaoescolar.org.br/conteudo/815/diretor-e-cargo-de-confianca-mas-da-
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EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 59, de 11 de novembro de 2009, disponível
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FREIRE, Paulo. Entrevista. In: Reconstruir. Ano 8, n. 70, mar. 2009. GESTÃO
DEMOCRÁTICA, disponível em: http://educador.brasilescola.uol.com.br/gestao-
educacional/gestao-democratica.htm. Acesso: dia 31 out. 2016.
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Olho D'água. 6.
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GANDIN, Danilo, A Prática do Planejamento Participativo. Petrópolis: (2000a) Vozes,
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Acesso: 16 fev. 2016.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e
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do Libertad; 1)