2. Ementa: Temos visto durante as aulas, que o desenvolvimento tecnológico
tem alterado profundamente a economia mundial, obrigando pessoas e
organizações a mudarem formas ou processos de compreender e atuar no
mundo. Organizações mais abertas e predispostas às mudanças têm
propiciado fórmulas de desenvolver a criatividade e a inovação dentro de
seus âmbitos. Hoje, as empresas estão mais convencidas de que o seu
valor não se encontra exatamente na quantidade de bens tangíveis, mas
na qualidade dos intangíveis, que correspondem a soma dos
conhecimentos e do potencial de produção dos mesmos a partir da
interação de seus colaboradores, que, como já vimos, constituem o capital
intelectual das empresas.
3. Dentro desses novos patamares que se encontra a economia mundial,
organizações que fomentam o desenvolvimento da criatividade e da
inovação acabam adquirindo vantagem competitiva em relação às
demais. Neste sentido, compreender como se dá os processos de criação
e inovação passa a ser fator crítico de sucesso e objeto de preocupação e
de estudo por parte da gestão do conhecimento.
4. INTRODUÇÃO
Temos visto que o mundo não é mais o mesmo, assim como as pessoas
e as organizações. Os valores também mudaram. Processos produtivos e
comunicacionais idem. O fato é que vivemos em um mundo marcado
pelas incertezas. Neste novo paradigma, o conhecimento se tornou a
mola propulsora que alavanca as mudanças que modelam este mundo.
Hoje, a produção e a distribuição de conhecimento dobram em poucos
meses, fazendo com que pessoas e empresas estejam mais predispostas
às mudanças e às adaptações.
5. Não há retorno. Ficar parado é tornar-se alvo fácil de ser atropelado
pelos acontecimentos. O caminho é seguir em frente, desenvolver novas
habilidades e competências. No caso das organizações, elas precisam ser
mais flexíveis e ágeis nas decisões, uma vez que estão dentro de um jogo
com intensa competição global. O fato é que, nesse jogo, seus atores são
múltiplos e multifacetados, as incertezas são constantes e envolvem ou
influenciam o cotidiano de pessoas e de empresas.
As mudanças de paradigmas são tão intensas, que as empresas atuais
não são mais avaliadas pela quantidade de seus bens tangíveis, mas pela
qualidade do conhecimento desenvolvido pela organização, que constitui
seu capital intelectual. Relacionar criatividade e inovação a esse capital
tornou-se fator crítico de sucesso e objeto de estudo e preocupação dos
gestores do conhecimento.
6. Neste novo contexto, em que o conhecimento se tornou valiosíssimo, as
pessoas acabam se tornando o maior patrimônio das organizações, pois
são fontes geradoras de riquezas e fatores críticos de sucesso e de
sobrevivência.
Durante esta aula, procuraremos observar a importância do processo
criativo na gestão do conhecimento organizacional. Saberemos como se
dá a inovação a partir da criatividade das pessoas e o mais importante:
saber como se constitui o capital intelectual das organizações, na
perspectiva da gestão.
7. A criatividade e a humanidade
A criatividade ou o processo criativo sempre fez parte da humanidade.
Aliás, a criatividade é um atributo humano, exclusivamente humano, o que
se sabe é que somente os homens são seres criativos.
Afinal, de onde ela vem? Qual a sua natureza? Como se processa a
criatividade?
No decorrer do tempo, acreditava-se que a criatividade tinha origem divina
e que somente pessoas “inspiradas pelo Divino” possuíam o seu cerne.
Outras a rotulavam como loucura, como Platão e Aristóteles, que viam nos
homens criativos “rebentos” de insanidade, devido à concussão de
inúmeras ideias, jamais pensadas ou concebidas, que modificariam o modo
de ver e de se conceber o mundo.
8. Para Platão, a criatividade estaria no “mundo das ideias”, cujos homens
a acessaria em busca de uma solução ou melhoria para um problema
do mundo real, que é considerado uma espécie de sombra imperfeita
daquele.
Grandes artistas e escritores foram tachados como loucos, devido a sua
criatividade como Shakespeare, Vicente VanGog, Mozart, Dante,
Leonardo da Vinci, etc. O fato é que as ideias criativas, em um dado
momento, soam estranhas àqueles que não estão preparados para
percebê-las.
9. Criatividade e oportunidade estão lado a lado. Assim aconteceu como
Alexandre Gran Bell com a invenção do telefone, muitos entenderam a
engenhoca como um “brinquedo eletrônico”, pois não perceberam
inicialmente sua finalidade (utilidade). Invenção que mudou o mundo,
tornando-o uma “Aldeia Global”.
Segundo a historiografia, Nicolas Tesla inventou o dínamo e trouxe a
corrente elétrica contínua para o nosso mundo a partir de um
“arrebatamento”, um frenesi momentâneo que ocupara-lhe a mente por
alguns instantes.
Foi a criatividade que levou Santos Dummont a alçar voo em uma máquina
mais pesada do que o ar. Pelo mesmo invento, criou também, de tabela, o
relógio de pulso.
São homens e mulheres criativos que mudaram e mudam o mundo!
10. Criatividade, o que é?
Para Alencar (apud ANGELONI, p.194), a criatividade é um fenômeno
complexo e multifacetado que envolve uma interação dinâmica entre as
pessoas e o ambiente em que se encontram. Está relacionada ao clima
psicológico, aos valores, às normas e às oportunidades de surgimento de
novas ideias.
Segundo o autor, a criatividade vem do latim creare, que significa criar,
elaborar, e do grego kraine, que significa realizar, desempenhar,
preencher. Em outras palavras, para os povos greco-romanos, os quais
somos descendentes, criatividade significa “pôr em prática uma ideia”.
11. É a partir desse conceito, que trataremos a criatividade, como uma
ideia colocada em prática como solução a um problema, como algo
novo que tem como pressuposto resolver uma determina
problemática ou questão dentro da organização.
12. O Processo Criativo
Segundo as diversas correntes da filosofia e da ciência, a criatividade é o
resultado da interação de um conjunto de atividades mentais que se
relacionam de forma sequencial e dinâmica, que por fim acabam
gerando uma nova ideia ou solução para um determinado problema.
Essas atividades podem ocorrer de forma individual ou coletiva.
De acordo com Grahan Wallas (apud ANGELONI, 2008, p.196), há quatro
estágios para o processo criativo, como pode ser visto no quadro a
seguir:
13. O PROCESSO CRIATIVO DE WALLAS
Estágios Atividades
1-Preparação O problema é investigado em todas as
direções.
2-Incubação O problema é pensado de uma maneira “não
consciente”.
3 – Iluminação Surgimento da “ideia feliz”.
4 – Verificação É feito o teste de validade da ideia.
Essa é reduzida à forma exata.
14. “No processo criativo de Wallas, a preparação é o momento em que a
pessoa assimila o problema e clarifica seu objetivo. Na incubação, o
trabalho consciente é totalmente suspenso. Na iluminação, ocorre o
“eureca! ”, em que a solução do problema se torna conhecido e, no
estágio de verificação, a pessoa, usando o pensamento racional lógico,
chega ao discernimento e opta pela solução mais adequada ao problema”.
(ANGELONI, 2008, p.196)
Kneller (apud ANGELONI,2008, p.196) corrobora a tese de Wallas:
15. O PROCESSO CRIATIVO DE KNELLER
Estágios Atividades
1-Apreensão O problema é investigado por diferentes ângulos. A
pessoa tem a percepção de que há um problema e
que este necessita de uma solução
2-Incubação As informações são entregues à mente inconsciente,
deixando o problema “cozinhar”. Nesta etapa, não há
censura ou julgamento.
3 – Iluminação Ocorre o “insight”. Surge a resposta ao problema
inicial.
4 – Verificação O processo criativo se encerra. A pessoa verifica se a
ideia pode ou não ser exequível (colocada em
prática).
16. O PROCESSO CRIATIVO DE AMÁBILE
Etapas Atividades
1 - Apresentação Nesta etapa, ocorre a apresentação do problema e a
tarefa a ser desenvolvida.
2 – Preparação (ou apreensão) A pessoa recolhe inúmeras informações relevantes
para o problema
3 – Geração (de ideias) A pessoa procura caminhos viáveis para a solução do
problema, surgindo vários insights.
4- Experimentação As ideias (soluções) são testadas.
5 - Validação Etapa final, em que se determina a ideia ou solução
apropriada.
17. A criatividade nas organizações
Como temos visto, nas organizações, a criatividade é entendida como uma
capacidade individual ou coletiva de resolver problemas, ou seja, em um
mundo em constante mutação, saber resolver problemas (que serão
muitos) passa a ser um diferencial de competitividade para as empresas.
Logo, pensar o fomento da criatividade passa a ser uma fórmula sábia de
estratégia. Em outro sentido, possuir indivíduos criativos na organização
pode significar construir um capital intelectual único (altamente valorativo
e competitivo) indispensável à manutenção e ao crescimento
organizacional.
18. Assim, a criatividade pode ser vista como um processo em que as ideias
são geradas, desenvolvidas e transformadas em algo de valor para a
organização, quando melhora produtos, processos, serviços e traz
resultados satisfatórios para a empresa.
Considerando o contexto de fomento da criatividade, para os referidos
autores, todas as pessoas podem ser criativas, desde que haja condições
ambientais, psicológicas e culturais propícias. Logo, em um mundo em
transformação, fazer uso da criatividade é algo quase natural, desde que
exista uma estrutura organizacional favorável a isso.
19. A criatividade e a inovação nas organizações
Vimos o que pode ser criatividade ou processo criativo, agora trataremos
das inovações que ocorrem nas empresas. Afinal, o que são inovações? E
quais são os seus tipos?
Segundo Kanter (apud ANGELONI,2008, p.200) inovação é o processo que
põe em uso uma ideia nova para a solução de um problema; é a geração,
aceitação e implementação de novas ideias, processos, produtos ou
serviços. Por meio desta conceituação, podemos perceber que inovação e
criatividade caminham lado a lado, pois a criatividade encontra-se
inserida nos processos de inovação, tornando-se inseparáveis.
20. Embora inseparáveis, criatividade e inovação são conceitos distintos, pois,
enquanto a criatividade pode ser um trabalho cognitivo individual para a
solução de um problema, a inovação é a implementação de uma nova ideia
em um produto, processo ou empreendimento, visando a um
melhoramento (inovação) beneficiando de forma significativa o indivíduo,
o grupo, a organização e a sociedade.
“Ideias criativas são fundamentais para que ocorra o processo de inovação,
sendo, portanto, um dos elementos essenciais do processo. A criatividade é
a fonte, o elemento básico de onde nasce a inovação. É um dos elementos
da idealização da inovação, enquanto a inovação é a aplicação das novas
ideias criadas”. (ANGELONI, 2008, p.201)
21. Devemos destacar, também, o fato de que ter ideias criativas não significa
necessariamente que estaremos inovando, pois, dentro das organizações
podem surgir muitas ideias, mas devido a uma estrutura rígida, a um
ambiente nada favorável, ou a um estilo gerencial nada receptivo, a
suposta inovação, que poderia melhorar as condições competitivas da
empresa, estaria comprometida. Nesse sentido, uma ideia poderia ficar
esquecida por muito tempo, não porque não apresente condições de ser
viabilizada, mas sim por não haver pessoas dispostas a colocá-la em ação.
Uma nova ideia só terá valor quando for colocada em prática, gerando
benefícios para todos.
22. Características de uma pessoa criativa
Embora as pesquisas comprovem que a criatividade é inerente a todas
as pessoas, porém, alguns fatores são condições importantes para que
as práticas criativas aconteçam.
Angeloni (2008, p.203) propõe três grupos de características:
intelectuais, motivacionais e de personalidade criativa.
23. CARACTERÍSTICAS DE UMA PESSOA CRIATIVA (ANGELONI)
1-Intelectuais Envolvem aspectos como iniciativa,
originalidade, reflexão, flexibilidade,
comunicação, elaboração, memória,
cognição e avaliação.
2-Motivacionais Extrínseca (salários, recompensas,
premiações)
Intrínseca (paixão, interesse, satisfação
pelo trabalho, desejo de solucionar um
problema)
3-Personalidade criativa São mais autônomas, autossuficientes,
independentes, abertas, complexas,
engenhosas do que outras.
24. CARACTERÍSTICAS DE UM GRUPO CRIATIVO (ANGELONI)
1-Coesão A união e a harmonia entre os integrantes
do grupo facilitam a produção de ideias.
2-Longevidade Ajuda a manter a coesão
3-Composição Número de homens e mulheres,
diversidade, nível cultural e educacional.
4-Estrutura Como o grupo se organiza, as relações de
poder e subordinação.
5-Liderança O líder participativo e democrático motiva
grupos inovadores.
25. FATORES QUE NÃO FAVORECEM A CRIATIVIDADE (ANGELONI)
1-Segmentação de processos Herança tayloriana. Cria um nível de especialização
tão grande que departamentaliza a empresa,
impedindo a prática da interdisciplinaridade e
geração de novas ideias
2- Superespecialização de tarefas Característica de uma organização tradicional
burocrática, tolhe a capacidade imaginativa do
homem, conduzindo a processos de adestramento
técnico, ignorando a sensibilidade e a inteligência do
fazer.
3 –Estrutura rígida e inflexível Tolhe qualquer iniciativa e consequentemente a
criatividade.
4 –Dirigentes rígidos Ao policiar os empregados, acaba coibindo as
inovações.
26. Por outro lado, uma cultura criativa, característica das organizações do
conhecimento, valoriza o talento, estimula a geração de ideias e a coragem
de assumir riscos. Ela deve estar presente em todos os níveis
organizacionais, inserida nas ações diárias, na prática administrativa, nas
estratégias, objetivos e metas da organização. Uma cultura criativa
caracteriza-se pela flexibilidade, pela comunicação livre e aberta, pelos
desafios e pelo prazer que as pessoas têm em seu trabalho. (ANGELONI,
2008, p.208)
27. CONCLUSÃO
O nosso mundo é caracterizado pelas mudanças, a cada momento surge um produto, um
serviço, um processo novo, fazendo com que as organizações busquem novos meios e ou
métodos de resolução de problemas e aperfeiçoamentos de processos produtivos.
Diante de imenso desafio, habilidades com as de trabalhar em grupo, de forma
colaborativa, de modo flexível, com pessoas criativas que estão sempre inovando,
tornaram-se fatores indispensáveis para o sucesso e sobrevivência da empresa.
Enfim, devemos saber que uma ideia criativa nem sempre será sinônimo de inovação,
uma vez que esta exige pessoas que estejam dispostas a fazerem a diferença neste
mundo marcadamente competitivo.
28. ATIVIDADES NO BLOG
Pensando nas reflexões que fizemos até aqui, em sua opinião, quais
seriam os fatores que impedem ou favorecem a implementação de
inovações e mudanças nos âmbitos das organizações?
29. REFERÊNCIAS
ANGELONI, M. T. (Org.) Organizações do Conhecimento: infraestrutura, pessoas e
tecnologia, 2. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2008.
SVEIBY, Karl Erick. A nova riqueza das organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.