1. UM
A lua cheia ainda estava no céu e a chuva
ainda caía quando Michele SunWinter, Roberto Rocha
e Manuel Olívio chegaram na cena do crime.
O local fora isolado pelos policiais e o
perito estava tirando fotos quando os três se
aproximaram.
“Qual foi a causa da morte?”, perguntou
SunWinter.
“Três tiros no peito. Mas ela foi torturada
antes.” , respondeu o perito.
“Que diabos é isso?”, perguntou SunWinter
olhando o rosto da garota.
“O assassino ‘desenhou’ um coração no rosto
dela com um caco de vidro, aparentemente dos
óculos dela.”
“Marcas de estupro?”
2. “Não. Mas ela foi espancada, vários ossos
estão quebrados. E o mais bizarro: Ela está sem
língua?”
“Sem língua?”
“Sim. E parece que o assassino levou como
recordação, porque não está em nenhum local aqui”.
“Alguém da vizinhança ouviu alguma coisa?”
“Ninguém mora por essas bandas”.
“E o que esta garota estava fazendo por aqui?”
“Segundo os pais, ela sempre voltava de ônibus
para casa. Fazia uma baldeação três quilômetros a
leste daqui. Acreditamos que o assassino a abordou
enquanto ela esperava o próximo ônibus e ela
tentou fugir por este caminho.”
“Algum pertence foi roubado?”
“Tirando a língua, não”.
“Alguma pista de quem fez isso?”
“Não... Não deixou impressões digitais e esse
sangue todo é da vítima”.
“já sabem que arma foi usada?”
“Essa daqui.”, o perito entregou um papel para
SunWinter.
“Conversei com os pais...”, disse Rocha, “E
pelo que eles me falaram a garota era odiada no
colégio em que frequentava, o ‘Colégio Luzier’. Eu
acho que você deveria falar com eles, Michele”.
“Farei isso sim. Mas daqui a pouco. Tenho que
fazer uma coisa antes”.
“Posso ficar com uma das balas por uma
horinha? Depois eu devolvo.”
3. “Claro que Não”, respondeu o perito.
“Por favor”, reforçou Rocha, “Ela sabe o que
faz”.
O perito entregou uma das balas. SunWinter se
retirou do local.
DOIS
O beco estava sombrio. A única fonte de
luz presente, vinda de um pequeno poste, realçava
a silhueta das duas figuras. Beijavam-se
vorazmente. Às vezes a luz atingia precisamente os
olhos azuis da garota, os fazendo brilhar. Outras
vezes iluminava a fivela dourada do cinto do
rapaz.
As mãos dele, que antes estavam na cintura da
garota, tentaram levantar a camiseta dela.
Contudo, a parceira o empurrou, interrompendo a
chuva de ósculos que estavam trocando.
“O quê foi, Marcela? Já não estamos íntimos o
suficiente para isso?”, perguntou o homem com sua
voz grossa.
“É que... Eu nunca fiz isso com ninguém e
sinto que... Não nos conhecemos tão bem... Pelo
menos não do jeito que você diz”.
“Como não? Sei dos seus medos, seus anseios,
desejos. Sei tudo sobre o seu trabalho...”
“É claro que você sabe. Eu abri meu coração
para você. Mas eu não sei nada sobre você. Tu não
quiseste me falar nem qual é o seu emprego”.
“Tudo bem... Acho que vale a pena te contar
algumas coisas...”. Disse, olhando para os peitos
da moça.
“Fale-me sobre o seu trabalho, então”.
4. “Bem... Eu sou...”. Fez uma longa pausa.
“É...?”
“Vendedor.”
“Porque hesitou em me falar isso?”
“É que o meu chefe... Ele...”
“Ele?”
“Ele...”
“Qual é o nome dele?”
O homem fez outra longa pausa.
“S-Sidney”, gaguejou.
“Meu coração diz que você está mentindo”.
Começa a chorar. À medida que fala, o choro
aumenta. “Porque você não me fala a verdade?
Pensei que me amasse. Faz poucas semanas que
estamos juntos, eu sei. Mas foram as melhores
semanas da minha vida. E você não quer nem me
falar coisas básicas sobre a sua vida? O problema
sou eu? Você quer terminar comigo? Você quer fugir
de mim? É isso? Eu sou feia? Você me acha burra?
Chata? Eu sou uma merda? É isso? Não existem
palavras que consigam descrever a dor que eu estou
sentindo agora.”
“Gerson”. Disse o homem chorando. “O nome do
meu chefe é Gerson e ele...”.
A garota parou de chorar.
“Ele...”
Ela começou a rir.
“Marcela, porque você está rindo?”
5. “Porque eu consegui o que eu queria. É óbvio
que aqueles papéis que roubei de você foram muito
úteis. Mas eu precisava que você me falasse isso”.
“Eu não estou entendo, meu amor...”
“Amor?”. Ela gargalhou. “ Você não é capaz de
amar nada. Só queria meu corpo, não é?”
A garota retirou do bolso uma pistola e a
apontou para o homem.
“Marcela, acho que estou entendendo. Você... É
daquela quadrilha rival a nossa não é? Como eu fui
ingênuo. Pensei que você queria dar para mim. Eu
vi todos os sinais.”
Marcela o encarou com uma expressão séria. O
rapaz continuou
“Ei... porque você não vem trabalhar com a
gente? Seria perfeito... E você pode ter o meu
corpo... Eu sei que você quer...”
“Meu antigo parceiro sempre dizia que...
Aquele que vê fogo onde nem fumaça há, não
encontrará o fogo, mas mesmo assim morrerá
queimado.”
“O que você quer dizer com isso, Marcela”?
“Detetive Crystalline para você, imbecil”
“Você é da polícia?”
“Você está preso.”
O homem começou a rir.
“O Gerson vai te matar quando souber que você
está prendendo membros da nossa quadrilha”.
“Quem vai morrer é você, quando ele descobrir
que você falou demais. Vire de costas”.
6. Crystalline deu uma coronhada no rapaz, que
desmaiou. Em seguida ela o algemou.
De repente, sentiu a ponta de uma arma em sua
nuca, seguida de uma voz:
“Isabel, pelo visto não é tão boa quanto era
antes.”
Isabel Crystalline riu. Em seguida, enviou a
mão para trás e apertou o gatilho do revólver de
quem havia aparecido.
Nada aconteceu.
“Você é que não é, SunWinter”.
“Como foi que você tirou as balas da minha
arma?”. Indagou Michele.
As duas riram.
“O que você quer Michele?”
“Soube que você está atrás do Gerson e preciso
de uma informação”.
“Diga.”
“Estou num caso em que uma garota foi
assassinada brutalmente. E aparentemente a arma
usada no crime foi comprada do Gerson. Aqui está
uma das balas”.
Isabel a analisou.
“É exatamente como a das armas que ele
fornece”
“É o único fornecedor da cidade, então nossas
chances são grandes. Preciso que você descubra se
algum aluno do Colégio Luzier comprou alguma coisa
daquela gangue”.