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Pesquisa em Educação, Formação de Professores e políticas Públicas
António Nóvoa
A presente narrativa refere-se à conferência realizada pelo professor
António Nóvoa, no dia vinte e quatro de Abril de 2012, no anfiteatro A da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) campus de
Araraquara.
Nóvoa deu início a conferência apresentando seu novo livro intitulado Evidentemente. – Histórias
da Educação. Lê-se nas linhas abaixo uma breve apresentação desse último lançamento.
No verso: “As coisas da educação discutem-se, quase sempre, a partir das mesmas dicotomias, das
mesmas oposições, dos mesmos argumentos. Anos e anos a fio. Banalidades. Palavras gastas.
Irritantemente óbvias, mas sempre repetidas como se fossem novidade. Uns anunciam o paraíso, outros o
caos – a educação das novas gerações é sempre pior do que a nossa. Será?! Muitas convicções e
opiniões. Pouco estudo e quase nenhuma investigação. A certeza de conhecer e de possuir “a solução” é
o caminho mais curto para a ignorância. E não se pode acabar com isto? (…) Este livro nasce de uma
necessidade de silêncio. Vivemos governados por um excesso de estímulos, amplificados por uma
sociedade que encontra na permanente exposição a melhor forma de se esconder, isto é, de não se
pensar. Estranho modo de vida, este, que nos leva de ruído em ruído, preferindo o “aborrecimento de
viver” à “alegria de pensar” (Gaston Bachelard). Precisa-se, neste “tempo detergente”, de um pacto de
silêncio, de uma pausa que permita ver para além da poeira dos dias que correm. Pensar exige
tranquilidade, persistência, seriedade, exigência, método, ciência.” (Da Introdução) É uma obra de
referência obrigatória para todos os estudiosos da educação portuguesa dos últimos 150 anos, mas que
facilmente pode interessar públicos mais vastos que os educadores e professores. São 50 textos e 50
imagens que revisitam a nossa história numa linguagem simples, interessante, directa e cativante. Muitos
dos leitores vão rever-se nas imagens que evocam a sua infância. Os livros por onde estudaram. Os
lugares por onde andaram.
Nesta obra extraordinária, de arranjo gráfico excepcional, ficamos a conhecer melhor quem somos, as
raízes do nosso atraso, os círculos viciosos onde nos temos vindo a perder. Evidentemente.
(extraído http://www.asa.pt/produtos/produto.php?id_produto=702236, em 25/04/2012 às 20:41h)
Concluiu sua apresentação da obra com o seguinte trocadilho “tudo o que é evidente... mente!”,
fazendo-nos um convite a refletir sobre a atual situação em que a educação se coloca na
sociedade e afirmando que algumas evidências na educação nos impedem de pensar, em
contrapartida que as pesquisas nessa área nos impulsionam ao pensamento crítico sobre as reais
condições em que nós, professores e estudantes nos encontramos.
Seguiu com a colocação de que a educação é metafórica, uma vez que apropria-se de inúmeras
comparações para a sua definição. Exemplos disso: o professor é o jardineiro, o guia, o
orientador, o facilitador e tantas outras mais, dentre as quais destacou a metáfora da educação
como uma viagem, ressaltando que é a sua favorita, uma vez que uma viagem é algo muito
pessoal, que ninguém pode realizar por você. Uma viagem só é realizada quando o sujeito se
propõe a fazê-la e assim o faz.
Alertou aos ouvintes sobre as “soluções mágicas” que muitos estudiosos e pesquisadores em
educação nos apresentam, pois essas são bastante inconclusivas, sabendo-se que a educação é
recheada de dicotomias. O sábio é aquele que não responde de imediato à uma determinada
situação- problema, mas sim aquele que encontra um terceiro termo, realizando uma simbiose
entre as publicações relacionadas e as situações vivenciadas.
Parafraseando Daniel Hameline, a educação é uma ciência da que toda a gente conhece, fato
esse que dificulta instaurar um novo conhecimento, pois ao ser uma coisa em que todos têm uma
opinião à dar, sendo conhecida por todos, torna-se um terreno saturado e de difícil inovação. Para
amenizar essa situação as pesquisas em educação são um instrumento valioso, desde que sejam
boas pesquisas.
Características das Pesquisas em Educação
1) Fragmentação, em vez de desejável diversidade.
Ausência de instâncias de coordenação, falta de disciplina, rigor e relevância. Esses elementos
trazem uma dificuldade em dar sentido à pesquisa.
Precisamos ter em mente que nem toda pesquisa terá a aplicação imediata, uma vez que nem
todas destinam-se a isso. Porém toda boa pesquisa deve produzir um novo conhecimento que
resultará em alguma transformação, quer seja no comportamento profissional, quer seja nas
didáticas e metodologias, quer seja nas políticas públicas.
Isso acarreta em uma falta de acumulação e de construção continuada do conhecimento
científico, causando uma fragilidade na comunidade científica no campo da educação, em vez de
alavancar um reforço interpares. Em outras palavras, a fragmentação das produções científicas
em vez de auxiliar um desenvolvimento no campo educacional acabam por fragilizá-lo ainda mais,
uma vez que não se apresenta uma continuidade, e tampouco uma colaboração entre
pesquisadores para a elaboração de propostas eficientes que produzam algum resultado.
2) Utilização
São intensamente utilizadas, porém causam um impacto fraco no campo social, político e
profissional, pois muitas pesquisas são realizadas, porém com a sua fragmentação, não há uma
valorização das investigações anteriores.
3) Subutilização
Não se consegue transferir para a prática as produções científicas. A educação evoluiu de
maneira mais ou menos parecida em diversos países, devido ao impacto causado pelas
pesquisas ao longo dos anos, porém essa evidência fica um tanto obscurecida pelo imediatismo
na utilização dos resultados obtidos diante das mesmas. Há que se olhar para a história da
educação para se perceber as diversas transformações, avanços e retrocessos, advindos das
inúmeras pesquisas realizadas nesse campo.
4) Comunicação
O conhecimento e as práticas produzidos pelas pesquisas devem servir como base para as
políticas públicas educacionais. Só assim teremos coerência entre produção científica e prática
pedagógica e, acredito, que os professores devam ser os protagonistas dessas produções, uma
vez que conhecem a realidade concreta da educação.
Segue um esquema para que a comunidade científica torne-se expressiva e efetiva:
Fragmentação
Acumulação
Utilização
Comunicação
Foi-nos apresentada uma provocação: “Quem forma os engenheiros, são engenheiros. Quem
forma os médicos, são médicos. Quem forma os químicos, são químicos, entretanto, quem forma
os professores, nem sempre são os professores.”
Na minha opinião isso é algo bastante insano, delegar a formação docente àqueles que não o são
desprofissionaliza e desvaloriza o professorado, uma vez que evidencia que qualquer um pode
ensinar. Falácia intrigante!
Diante dos estudos e pesquisas realizadas, Nóvoa nos apresenta uma proposta de Centro
Acadêmico de Educação.
O que é um Centro Acadêmico de Educação?
É uma universidade, mas não apenas uma universidade. É também um centro de pesquisa e uma
escola.(ou uma rede de escolas)
É uma escola, mas não apenas uma escola. É também uma universidade e um centro de
pesquisa.
É um centro de pesquisa, mas não apenas um centro de pesquisa. É também uma universidade e
uma escola.
É um lugar onde existe um diálogo entre a diversidade e não uma fragmentação dos diversos
papéis ocupados pelos profissionais da educação, no qual um contribui para o desenvolvimento
do outro.
É um lugar público de debate, onde todos os profissionais trocam experiências e realizam
simbioses, encontrando o terceiro termo.
É um apoio às políticas públicas de educação, apoio à avaliação do sistema e das escolas.
Causam um distanciamento entre as teorias
(teses, livros, artigos, políticas ...) e as práticas dos
professores em sala de aula.
Em resumo, o Centro Acadêmico de Educação é um lugar onde se produz conhecimento, se
media o conhecimento e se aplica o conhecimento, refletindo em todas essas etapas. É um lugar
de produção, reflexão e prática.
O que é preciso para que o Centro funcione?
_ Organização coerente. Cada responsável pelo seu departamento caminhando e decidindo
junto com seus pares;
_ Direção única. Considerando a diversidade e construindo redes colaborativas;
_ Profissionais que constituam uma comunidade solidária, cooperativa e colaborativa.
Uma triste constatação foi colocada. “ A educação é um campo social valorizado, mas um
campo profissional empobrecido.” Não podemos cair no conformismo diante dessa máxima,
nosso papel, como professores, é trabalhar nas bases do impossível, pois o possível todos
fazem. Diante disso nosso papel é contribuir para que as produções científicas causem um
maior impacto positivo nas práticas educativas.
Os Centros constituem-se em lugares para a teorização da prática, que inspire as pesquisas
em Educação.
Nesse momento Nóvoa encerrou sua explanação e foi aberto um espaço para os participantes
da conferência darem suas contribuições, trazendo questionamentos, dúvidas e provocações.
Houve participação de alguns, inclusive do nosso conhecido, prof. Dr. Hamilton Sérgio
Machado, considerando sobre a dificuldade financeira que muitos estudantes enfrentam
durante sua formação inicial.
As demais contribuições não serão apresentadas de forma explícita nessa narrativa, uma vez
que não são relevantes para a compreensão do conteúdo aqui exposto.
Diante das muitas contribuições colocadas pelos participantes Nóvoa explanou sobre algumas
máximas de Bernard Shaw (renomado filósofo americano), relacionando-as com a profissão
docente. As mesmas encontram-se disponíveis no livro do autor já citado “Máximas para
revolucionários”.
“Quem sabe faz. Quem não sabe ensina.”
“A atividade é o único caminho para o conhecimento.”
“Os homens são sábios na proporção, não da sua experiência, mas da sua capacidade para
pensar a experiência.”
Diante disso chegou à conclusão de que infelizmente a profissão docente, muitas vezes,
caminha para uma desprofissionalização, pois aceita-se nessa profissão aqueles que não se
preparam para isso, sob a premissa de que para ensinar não é preciso apropriar-se do
conhecimento, nem tampouco, preparar-se para tal.É como se a carreira docente fosse vista
como sacerdócio ou uma semi-profissão. Desconsiderou-se também as publicações de tantas
investigações sobre os processos de ensino-aprendizagem-ação-reflexão-ação, da carreira
docente, enaltecendo a prática em detrimento a reflexão sobre a mesma que pode gerar uma
outra prática (aqui o processo relaciona-se com a dialética).E finalmente, na última premissa,
chega a clarificar um pouco as coisas ao considerar a reflexão como parte essencial da
formação de professores e dos anos que se seguem na carreira docente.
Afirmou também que essas máximas são as bases para a elaboração de um programa eficaz
para a formação continuada de professores. Aqui entende-se formação continuada, como um
processo que envolve o professorado, levando-os a refletir sobre sua prática, suas teorias e
muito provavelmente, direciona-os para uma mudança em sua prática dentro de sala de aula.
Não podemos confundir formação continuada com cursos impostos, que não envolvem o
docente, não coloca-o como protagonista do processo, pois isso gera descaracterização da
proposta inicial de tais cursos.
Uma das questões levantadas por uma docente da Unesp (responsável pelo departamento de
Didática) foi a proposta de uma residência pedagógica, uma vez que ao se formarem os
professores novatos são alocados nas “piores escolas, com os piores alunos e nas piores
condições” e ali são abandonados como se ao receber o diploma sua autonomia profissional
estivesse embutida naquele “canudo”.
Nóvoa considerou a questão do ciclo de vida dos professores, evidenciando os anos de
indução (3 primeiros anos de inserção na profissão) como os anos mais críticos da profissão,
necessitando, nesse período, de uma maior orientação e apoio de professores mais
experientes que vá desvendando os detalhes da profissão. Para ficar mais claro, faça uma
comparação com a formação dos médicos citada no início da palestra, onde os estudantes de
medicina ao concluírem o curso passam pelos anos de residência sob a supervisão de um
médico mais experiente. Destacando também que os “professores residentes” teriam a
responsabilidade de estar em uma sala de aula de Ensino Fundamental e Médio ao menos
uma vez na semana.
É claro, que não podemos basear nossa construção da identidade profissional em
experiências e relatos de colegas mais experientes, devemos também possuir um aporte
teórico vasto e relacionar todos os fatores com um pensamento crítico constante.
Uma citação muito interessante que foi apresentada foi : “A Educação é uma locomotiva
perfeita, porém não anda.” (Decroly). Podemos fazer uma analogia com vários comentários
que já ouvimos inúmeras vezes, como “o papel aceita tudo” e muitas outros que evidenciam o
distanciamento entre as práticas, os resultados das pesquisas, as publicações, os livros e as
políticas públicas em educação.
Item importante na formação de professores é que ela é situada, ou seja, se dá dentro de uma
realidade concreta que não pode ser desconsiderada, pois existem fatores externos e internos
que influenciam a construção da identidade profissional docente, bem como muitas outras.
Relatou sobre a exigência, em Portugal, que os professores tenham o curso de mestrado para
poderem ingressarem na profissão e as estratégias facilitadoras para o ingressos de
estudantes no referido curso. Deixou bastante claro que tais estratégias são massificadoras de
diploma, porém não podemos permitir que tal massificação conduza à desvalorização do
mesmo, tornando-o obsoleto. Essa massificação deve ser encarada como uma
democratização do ensino, uma vez que cultura nunca é demais.
Concluindo a conferência citou o poeta francês Michel Serres:
Renascido, (o professor renasce a cada dia diante da reflexão e formação)
Ele conhece, (o conhecimento das coisas, dos outros e das relações)
Ele tem piedade. (ele cuida dos outros, tem responsabilidade sobre o conhecimento dos outros)
Enfim, ele pode ensinar.
Essa é a essência da profissão docente. E que essência mais linda!!!
Meninas, aqui encerro minha interpretação daquilo tudo que pudemos presenciar. Espero que a minha
interpretação não tenha um ponto final, mas que ela tenha muitas reticências que possam ser seguidas
pela interpretação de vocês.
E que realmente possamos dar cada passo em direção a construção de uma identidade profissional
íntegra, amorosa e interminável, uma vez que nosso desenvolvimento é contínuo e que margeamos o
desenvolvimento de outros. Que as palavras de Nóvoa e Serres estejam vivas em nossa prática!!!
Profª M. Bárbara Floriano 24/04/2012
Pesquisa em educação  conferência com nóvoa

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  • 1. Pesquisa em Educação, Formação de Professores e políticas Públicas António Nóvoa A presente narrativa refere-se à conferência realizada pelo professor António Nóvoa, no dia vinte e quatro de Abril de 2012, no anfiteatro A da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) campus de Araraquara. Nóvoa deu início a conferência apresentando seu novo livro intitulado Evidentemente. – Histórias da Educação. Lê-se nas linhas abaixo uma breve apresentação desse último lançamento. No verso: “As coisas da educação discutem-se, quase sempre, a partir das mesmas dicotomias, das mesmas oposições, dos mesmos argumentos. Anos e anos a fio. Banalidades. Palavras gastas. Irritantemente óbvias, mas sempre repetidas como se fossem novidade. Uns anunciam o paraíso, outros o caos – a educação das novas gerações é sempre pior do que a nossa. Será?! Muitas convicções e opiniões. Pouco estudo e quase nenhuma investigação. A certeza de conhecer e de possuir “a solução” é o caminho mais curto para a ignorância. E não se pode acabar com isto? (…) Este livro nasce de uma necessidade de silêncio. Vivemos governados por um excesso de estímulos, amplificados por uma sociedade que encontra na permanente exposição a melhor forma de se esconder, isto é, de não se pensar. Estranho modo de vida, este, que nos leva de ruído em ruído, preferindo o “aborrecimento de viver” à “alegria de pensar” (Gaston Bachelard). Precisa-se, neste “tempo detergente”, de um pacto de silêncio, de uma pausa que permita ver para além da poeira dos dias que correm. Pensar exige tranquilidade, persistência, seriedade, exigência, método, ciência.” (Da Introdução) É uma obra de referência obrigatória para todos os estudiosos da educação portuguesa dos últimos 150 anos, mas que facilmente pode interessar públicos mais vastos que os educadores e professores. São 50 textos e 50 imagens que revisitam a nossa história numa linguagem simples, interessante, directa e cativante. Muitos dos leitores vão rever-se nas imagens que evocam a sua infância. Os livros por onde estudaram. Os lugares por onde andaram. Nesta obra extraordinária, de arranjo gráfico excepcional, ficamos a conhecer melhor quem somos, as raízes do nosso atraso, os círculos viciosos onde nos temos vindo a perder. Evidentemente. (extraído http://www.asa.pt/produtos/produto.php?id_produto=702236, em 25/04/2012 às 20:41h) Concluiu sua apresentação da obra com o seguinte trocadilho “tudo o que é evidente... mente!”, fazendo-nos um convite a refletir sobre a atual situação em que a educação se coloca na sociedade e afirmando que algumas evidências na educação nos impedem de pensar, em contrapartida que as pesquisas nessa área nos impulsionam ao pensamento crítico sobre as reais condições em que nós, professores e estudantes nos encontramos. Seguiu com a colocação de que a educação é metafórica, uma vez que apropria-se de inúmeras comparações para a sua definição. Exemplos disso: o professor é o jardineiro, o guia, o orientador, o facilitador e tantas outras mais, dentre as quais destacou a metáfora da educação como uma viagem, ressaltando que é a sua favorita, uma vez que uma viagem é algo muito pessoal, que ninguém pode realizar por você. Uma viagem só é realizada quando o sujeito se propõe a fazê-la e assim o faz. Alertou aos ouvintes sobre as “soluções mágicas” que muitos estudiosos e pesquisadores em educação nos apresentam, pois essas são bastante inconclusivas, sabendo-se que a educação é recheada de dicotomias. O sábio é aquele que não responde de imediato à uma determinada situação- problema, mas sim aquele que encontra um terceiro termo, realizando uma simbiose entre as publicações relacionadas e as situações vivenciadas.
  • 2. Parafraseando Daniel Hameline, a educação é uma ciência da que toda a gente conhece, fato esse que dificulta instaurar um novo conhecimento, pois ao ser uma coisa em que todos têm uma opinião à dar, sendo conhecida por todos, torna-se um terreno saturado e de difícil inovação. Para amenizar essa situação as pesquisas em educação são um instrumento valioso, desde que sejam boas pesquisas. Características das Pesquisas em Educação 1) Fragmentação, em vez de desejável diversidade. Ausência de instâncias de coordenação, falta de disciplina, rigor e relevância. Esses elementos trazem uma dificuldade em dar sentido à pesquisa. Precisamos ter em mente que nem toda pesquisa terá a aplicação imediata, uma vez que nem todas destinam-se a isso. Porém toda boa pesquisa deve produzir um novo conhecimento que resultará em alguma transformação, quer seja no comportamento profissional, quer seja nas didáticas e metodologias, quer seja nas políticas públicas. Isso acarreta em uma falta de acumulação e de construção continuada do conhecimento científico, causando uma fragilidade na comunidade científica no campo da educação, em vez de alavancar um reforço interpares. Em outras palavras, a fragmentação das produções científicas em vez de auxiliar um desenvolvimento no campo educacional acabam por fragilizá-lo ainda mais, uma vez que não se apresenta uma continuidade, e tampouco uma colaboração entre pesquisadores para a elaboração de propostas eficientes que produzam algum resultado. 2) Utilização São intensamente utilizadas, porém causam um impacto fraco no campo social, político e profissional, pois muitas pesquisas são realizadas, porém com a sua fragmentação, não há uma valorização das investigações anteriores. 3) Subutilização Não se consegue transferir para a prática as produções científicas. A educação evoluiu de maneira mais ou menos parecida em diversos países, devido ao impacto causado pelas pesquisas ao longo dos anos, porém essa evidência fica um tanto obscurecida pelo imediatismo na utilização dos resultados obtidos diante das mesmas. Há que se olhar para a história da educação para se perceber as diversas transformações, avanços e retrocessos, advindos das inúmeras pesquisas realizadas nesse campo. 4) Comunicação O conhecimento e as práticas produzidos pelas pesquisas devem servir como base para as políticas públicas educacionais. Só assim teremos coerência entre produção científica e prática pedagógica e, acredito, que os professores devam ser os protagonistas dessas produções, uma vez que conhecem a realidade concreta da educação. Segue um esquema para que a comunidade científica torne-se expressiva e efetiva:
  • 3. Fragmentação Acumulação Utilização Comunicação Foi-nos apresentada uma provocação: “Quem forma os engenheiros, são engenheiros. Quem forma os médicos, são médicos. Quem forma os químicos, são químicos, entretanto, quem forma os professores, nem sempre são os professores.” Na minha opinião isso é algo bastante insano, delegar a formação docente àqueles que não o são desprofissionaliza e desvaloriza o professorado, uma vez que evidencia que qualquer um pode ensinar. Falácia intrigante! Diante dos estudos e pesquisas realizadas, Nóvoa nos apresenta uma proposta de Centro Acadêmico de Educação. O que é um Centro Acadêmico de Educação? É uma universidade, mas não apenas uma universidade. É também um centro de pesquisa e uma escola.(ou uma rede de escolas) É uma escola, mas não apenas uma escola. É também uma universidade e um centro de pesquisa. É um centro de pesquisa, mas não apenas um centro de pesquisa. É também uma universidade e uma escola. É um lugar onde existe um diálogo entre a diversidade e não uma fragmentação dos diversos papéis ocupados pelos profissionais da educação, no qual um contribui para o desenvolvimento do outro. É um lugar público de debate, onde todos os profissionais trocam experiências e realizam simbioses, encontrando o terceiro termo. É um apoio às políticas públicas de educação, apoio à avaliação do sistema e das escolas. Causam um distanciamento entre as teorias (teses, livros, artigos, políticas ...) e as práticas dos professores em sala de aula.
  • 4. Em resumo, o Centro Acadêmico de Educação é um lugar onde se produz conhecimento, se media o conhecimento e se aplica o conhecimento, refletindo em todas essas etapas. É um lugar de produção, reflexão e prática. O que é preciso para que o Centro funcione? _ Organização coerente. Cada responsável pelo seu departamento caminhando e decidindo junto com seus pares; _ Direção única. Considerando a diversidade e construindo redes colaborativas; _ Profissionais que constituam uma comunidade solidária, cooperativa e colaborativa. Uma triste constatação foi colocada. “ A educação é um campo social valorizado, mas um campo profissional empobrecido.” Não podemos cair no conformismo diante dessa máxima, nosso papel, como professores, é trabalhar nas bases do impossível, pois o possível todos fazem. Diante disso nosso papel é contribuir para que as produções científicas causem um maior impacto positivo nas práticas educativas. Os Centros constituem-se em lugares para a teorização da prática, que inspire as pesquisas em Educação. Nesse momento Nóvoa encerrou sua explanação e foi aberto um espaço para os participantes da conferência darem suas contribuições, trazendo questionamentos, dúvidas e provocações. Houve participação de alguns, inclusive do nosso conhecido, prof. Dr. Hamilton Sérgio Machado, considerando sobre a dificuldade financeira que muitos estudantes enfrentam durante sua formação inicial. As demais contribuições não serão apresentadas de forma explícita nessa narrativa, uma vez que não são relevantes para a compreensão do conteúdo aqui exposto. Diante das muitas contribuições colocadas pelos participantes Nóvoa explanou sobre algumas máximas de Bernard Shaw (renomado filósofo americano), relacionando-as com a profissão
  • 5. docente. As mesmas encontram-se disponíveis no livro do autor já citado “Máximas para revolucionários”. “Quem sabe faz. Quem não sabe ensina.” “A atividade é o único caminho para o conhecimento.” “Os homens são sábios na proporção, não da sua experiência, mas da sua capacidade para pensar a experiência.” Diante disso chegou à conclusão de que infelizmente a profissão docente, muitas vezes, caminha para uma desprofissionalização, pois aceita-se nessa profissão aqueles que não se preparam para isso, sob a premissa de que para ensinar não é preciso apropriar-se do conhecimento, nem tampouco, preparar-se para tal.É como se a carreira docente fosse vista como sacerdócio ou uma semi-profissão. Desconsiderou-se também as publicações de tantas investigações sobre os processos de ensino-aprendizagem-ação-reflexão-ação, da carreira docente, enaltecendo a prática em detrimento a reflexão sobre a mesma que pode gerar uma outra prática (aqui o processo relaciona-se com a dialética).E finalmente, na última premissa, chega a clarificar um pouco as coisas ao considerar a reflexão como parte essencial da formação de professores e dos anos que se seguem na carreira docente. Afirmou também que essas máximas são as bases para a elaboração de um programa eficaz para a formação continuada de professores. Aqui entende-se formação continuada, como um processo que envolve o professorado, levando-os a refletir sobre sua prática, suas teorias e muito provavelmente, direciona-os para uma mudança em sua prática dentro de sala de aula. Não podemos confundir formação continuada com cursos impostos, que não envolvem o docente, não coloca-o como protagonista do processo, pois isso gera descaracterização da proposta inicial de tais cursos. Uma das questões levantadas por uma docente da Unesp (responsável pelo departamento de Didática) foi a proposta de uma residência pedagógica, uma vez que ao se formarem os professores novatos são alocados nas “piores escolas, com os piores alunos e nas piores condições” e ali são abandonados como se ao receber o diploma sua autonomia profissional estivesse embutida naquele “canudo”. Nóvoa considerou a questão do ciclo de vida dos professores, evidenciando os anos de indução (3 primeiros anos de inserção na profissão) como os anos mais críticos da profissão, necessitando, nesse período, de uma maior orientação e apoio de professores mais experientes que vá desvendando os detalhes da profissão. Para ficar mais claro, faça uma comparação com a formação dos médicos citada no início da palestra, onde os estudantes de medicina ao concluírem o curso passam pelos anos de residência sob a supervisão de um médico mais experiente. Destacando também que os “professores residentes” teriam a responsabilidade de estar em uma sala de aula de Ensino Fundamental e Médio ao menos uma vez na semana. É claro, que não podemos basear nossa construção da identidade profissional em experiências e relatos de colegas mais experientes, devemos também possuir um aporte teórico vasto e relacionar todos os fatores com um pensamento crítico constante. Uma citação muito interessante que foi apresentada foi : “A Educação é uma locomotiva perfeita, porém não anda.” (Decroly). Podemos fazer uma analogia com vários comentários
  • 6. que já ouvimos inúmeras vezes, como “o papel aceita tudo” e muitas outros que evidenciam o distanciamento entre as práticas, os resultados das pesquisas, as publicações, os livros e as políticas públicas em educação. Item importante na formação de professores é que ela é situada, ou seja, se dá dentro de uma realidade concreta que não pode ser desconsiderada, pois existem fatores externos e internos que influenciam a construção da identidade profissional docente, bem como muitas outras. Relatou sobre a exigência, em Portugal, que os professores tenham o curso de mestrado para poderem ingressarem na profissão e as estratégias facilitadoras para o ingressos de estudantes no referido curso. Deixou bastante claro que tais estratégias são massificadoras de diploma, porém não podemos permitir que tal massificação conduza à desvalorização do mesmo, tornando-o obsoleto. Essa massificação deve ser encarada como uma democratização do ensino, uma vez que cultura nunca é demais. Concluindo a conferência citou o poeta francês Michel Serres: Renascido, (o professor renasce a cada dia diante da reflexão e formação) Ele conhece, (o conhecimento das coisas, dos outros e das relações) Ele tem piedade. (ele cuida dos outros, tem responsabilidade sobre o conhecimento dos outros) Enfim, ele pode ensinar. Essa é a essência da profissão docente. E que essência mais linda!!! Meninas, aqui encerro minha interpretação daquilo tudo que pudemos presenciar. Espero que a minha interpretação não tenha um ponto final, mas que ela tenha muitas reticências que possam ser seguidas pela interpretação de vocês. E que realmente possamos dar cada passo em direção a construção de uma identidade profissional íntegra, amorosa e interminável, uma vez que nosso desenvolvimento é contínuo e que margeamos o desenvolvimento de outros. Que as palavras de Nóvoa e Serres estejam vivas em nossa prática!!! Profª M. Bárbara Floriano 24/04/2012