2. A aprendizagem da avaliação
Sobre a necessidade do educador em aprender a
avaliar a aprendizagem
3. Nossa história da avaliação da aprendizagem é recente,
enquanto que nossa história de exames escolares é um tanto
mais longa. Os exames escolares que conhecemos e ainda
aplicamos foram sistematizados entre os séc. XVI e XVII. A
escola que conhecemos hoje é a escola da modernidade e,
junto com ela foram sistematizados os exames escolares, da
forma como genericamente eles ainda ocorrem hoje. Nesse
longo período ocorreram mudanças, porém superficiais, nalongo período ocorreram mudanças, porém superficiais, na
medida em que o núcleo do modo de agir se cimentou ao
longo desses anos, impregnando nosso modo de conduzir no
processo de acompanhar a aprendizagem dos nossos
educandos.
Os exames escolares, da forma como foram sistematizados
nesse período têm aproximadamente 500 anos de vigência.
4. A avaliação da aprendizagem somente começou a ser
proposta, compreendida e divulgada a partir de 1930, quando
RalphTyler cunhou essa expressão para dizer do cuidado
necessário que os educadores necessitam ter com a
aprendizagem de seus educandos. Nesse período, ele estava
preocupado com o fato de que a cada cem crianças que
ingressavam na escola, somente trinta eram aprovadas, ou
seja, anualmente, permanecia um resíduo de setentaseja, anualmente, permanecia um resíduo de setenta
reprovadas, o que em síntese, supostamente significaria que
elas não tinham processado uma aprendizagem satisfatória.
Supostamente devido não haver controle dos recursos
técnicos que eram utilizados, naquele momento histórico,
para aquilatar (avaliar) a aprendizagem dos educandos.
5. Esse educador propôs que se pensasse e usasse uma prática
pedagógica eficiente e estabeleceu o “ensino por objetivos”, o
que significava estabelecer o que o educando deveria
aprender e o que o educador necessitava fazer para que o
educando efetivamente aprendesse. E para construir os
resultados desejados propôs um sistema de ensino, que seria
o mais óbvio possível:
1) Ensinar alguma coisa
2) Diagnosticar sua
aprendizagem
3) Se a aprendizagem
for satisfatória, seguir
em frente
4) Caso seja insatisfatória,
reorientar, tendo em vista
resultado satisfatório
6. E ainda hoje, após oitenta anos da proposição desse
esquema, ele ainda não conseguiu ter vigência significativa
nos meios educacionais.
No Brasil, começamos a falar em avaliação da aprendizagem
no final dos anos de 1960 e início dos anos 1970 do séc XX,
portanto temos cerca de 40 anos tratando desse tema e
dessa prática escolar.
A LDB de 1961 contém um capítulo sobre os examesA LDB de 1961 contém um capítulo sobre os exames
escolares e a Lei 5692/71 deixou de utilizar a expressão
“exames escolares” e passou a usar a expressão “aferição do
aproveitamento escolar”. Somente a LDB/96 se serviu da
expressão “avaliação da aprendizagem” no corpo legislativo.
Em nossas escolas e nos diversos níveis de ensino,
praticamos muito mais exames escolares do que avaliação da
aprendizagem.
7. Necessitamos “aprender a avaliar”, pois ainda estamos mais
examinando do que avaliando. Nosso senso comum, na vida
escolar, é de examinadores e não de avaliadores.
Para distinguir o ato de examinar ou de avaliar na escola,
vejamos:
Examinar= caracteriza-
se pela classificação e
seletividade do
educando
Avaliar= caracteriza-se
pelo diagnóstico e
inclusão do educando
8. O educando não vai para a escola para ser submetido a um
processo seletivo, mas sim para aprender e, para tanto,
necessita do investimento da escola e de seus educadores,
tendo em vista efetivamente aprender. Por si, não interessa
ao sistema escolar que o educando seja reprovado,
interessa que ele aprenda e, por ter aprendido, seja
aprovado. O investimento necessário do sistema de ensino
é para que o educando aprenda e a avaliação está a serviçoé para que o educando aprenda e a avaliação está a serviço
dessa tarefa. Os exames, por serem classificatórios, não
têm essa perspectiva; a sua função é de sustentar a
aprovação ou reprovação do educando; função diversa de
subsidiar um investimento significativo no sucesso da
aprendizagem, própria da avaliação.
9. Há necessidade, entre nós educadores, de investir na
“aprendizagem da avaliação”, pois essa é uma habilidade
que necessitamos adquirir. Hoje, como educadores,
repetimos com nossos educandos o que aconteceu conosco
(submetemos nossos alunos as práticas examinativas). Nem
nos perguntamos se o que aconteceu conosco em nossa
história escolar foi adequada ou não. Como estudantes,
fomos examinados, agora examinamos e agimos dessafomos examinados, agora examinamos e agimos dessa
forma pelo senso comum adquirido ao longo de nossa
vivência.
O que significa “aprender a avaliar”? Significa aprender os
conceitos teóricos sobre avaliação, mas concomitante a isso,
aprender a praticar a avaliação, traduzindo-a em atos do
cotidiano. Aprender conceitos é fácil, o difícil mesmo é
passar da compreensão para a prática.
10. Conceitos podem ser aprendidos em livros e artigos,
conferências e debates, a prática terá que ser aprendida no
dia a dia da vida escolar, experimentando, investigando,
buscando novas possibilidades, ultrapassando os impasses e
incômodos, sempre assentados sobre conhecimentos
significativos e válidos. Certamente que essa aprendizagem
não se fará de um dia para outro ou de um momento para
outro. É uma aprendizagem que exige tempo e atençãooutro. É uma aprendizagem que exige tempo e atenção
específicas, na medida em que herdamos e constituímos
hábitos que conduzem a uma forma automática de agir.
Para aprender a agir com avaliação da aprendizagem,
necessitamos de colocar à nossa frente esse desejo, tomá-lo
em nossas mãos, dedicando todos os dias atenção a ele,
agindo e refletindo sobre nossa ação, fazendo diferente do
que já foi, em compatibilidade com o que efetivamente
significa avaliar.
11. Não basta somente termos uma intenção e um desejo
genérico de mudar. Não basta gostar da literatura e das
conversas sobre avaliação. É preciso decidir investir
cotidianamente nessa atividade.
Em grego existe um termo para dizer isso. É “metanoia”, que
significa “conversão”. Conversão tem a ver com mais do que
mudar a compreensão, expressa mudança de conduta, que se
traduz em prática diária. Uma aprendizagem,traduz em prática diária. Uma aprendizagem,
verdadeiramente, só é uma aprendizagem quando ela se
transforma em prática de vida cotidiana. O que é aprendido é
vida, é prática; e, quanto mais se pratica, mais se aprende.
Como aprender a avaliar a aprendizagem de nossos
educandos, incluindo a nossa autoavaliação como educadores
e avaliadores?
12. Em primeiro lugar, importa estar aberto a aprender essa
prática. O fator emocional aqui, como em qualquer outra
situação humana, é fundamental. Caso não nos
disponhamos a aprender, não haverá aprendizagem.
Aprender depende de desejar afetiva e efetivamente a
aprender.
Em segundo lugar, podemos aprender sobre avaliação da
aprendizagem observando se estamos satisfeitos ou nãoaprendizagem observando se estamos satisfeitos ou não
com os resultados de aprendizagem de nossos educandos
decorrentes de nossa ação pedagógica.
Muitos fatores podem estar presentes, mas um deles pode
ser nossa prática avaliativa. Podemos estar utilizando
instrumentos inadequados para coletar dados sobre o seu
desempenho.
13. Podemos também não estar dando atenção suficiente às
necessidades dos nossos educandos; nossos educandos
podem estar com mais dificuldades do que esperávamos...
Podemos não estar efetivamente liderando, com
entusiasmo, nossos educandos em nossas aulas.
Olhar para nossa prática pode ser uma grande oportunidade
de aprender. Nossas leituras nos despertam para dar
atenção ao tema, mas não necessariamente realizamatenção ao tema, mas não necessariamente realizam
transformações, pois essas são decorrentes da prática e da
crítica a ela.
Em terceiro lugar, ainda que o estudo do que já foi escrito
sobre avaliação da aprendizagem não ofereça para nós
todos os recursos necessários à aprendizagem desse modo
de agir, ele é um bom aliado. A compreensão e experiência
dos outros podem servir para nossa busca e aprendizagem
do ato de avaliar.
14. Do trânsito necessário dos
exames escolares para a
avaliação da aprendizagem
Na escola, histórica e sociologicamente,
estamos prisioneiros do modelo dos exames
escolares.Transitar para a prática daescolares.Transitar para a prática da
avaliação da aprendizagem exige
compreensão teórica e investimento em
novas práticas.
15. Avaliação da aprendizagem
escolar: apontamentos sobre a
pedagogia do exame
Sobre a fenomenologia da presença dos
exames escolares em nosso meio
16. A principal característica na nossa prática educativa é de que
a avaliação da aprendizagem ganhou um espaço amplo nos
processos de ensino que nossa prática educativa escolar
passou a ser direcionada por uma “pedagogia do exame”.
Podemos ver isso claramente no 3º ano do ensino médio, no
qual o ensino centra-se em resolver provas a partir de
determinados conteúdos referentes ao vestibular.
O nosso exercício pedagógico escolar é atravessado maisO nosso exercício pedagógico escolar é atravessado mais
por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia do
ensino/aprendizagem.
17. Atenção na promoção
Os alunos têm sua atenção centrada na
promoção, querendo saber como se dará o
processo de promoção de uma série para
outra no final do período escolar.outra no final do período escolar.
Durante o ano letivo o que predomina são as
notas, não importando como foram obtidas e
nem por quais caminhos. São manipuladas
como se nada tivessem a ver com o percurso
ativo do processo de aprendizagem.
18. Atenção nas provas
Os professores usam as provas como
instrumentos de ameaça e tortura dos alunos.
Alguns até utilizam o sadismo homeopático,
soltando frases e expressões que aterrorizamsoltando frases e expressões que aterrorizam
os alunos, no cotidiano da sala de aula.
O estudante deverá se dedicar aos estudos
porque são ameaçados por uma prova e não
porque os conteúdos são importantes e
significativos. O medo os levará a estudar.
19. Os pais estão voltados para a
promoção
Os pais, em geral, estão na expectativa das
notas de seus filhos. O importante é que
tenham notas para serem aprovados.
Isso se nota na chamada Reunião de Pais eIsso se nota na chamada Reunião de Pais e
Mestres, na qual o assunto central é a entrega
de boletins e a conversa com os pais de
alunos com problemas (notas baixas). Os
pais, cujos filhos tem boas notas, não
conversam com os professores, pois a
dinâmica das tais reuniões não o permite.
20. O estabelecimento de ensino está
centrado nos resultados das provas e
exames
Os estabelecimentos de ensino procuram verificar
no todo das notas como estão os alunos.
As curvas estatísticas são suficientes, pois
demonstram o quadro global dos alunos no quedemonstram o quadro global dos alunos no que
se refere ao seu processo de promoção ou não
nas séries de escolaridade. A aparência dos
quadros estatísticos, por vezes, esconde mais do
que nossa imaginação é capaz de atentar. Mas
essa experiência satisfaz, se for compatível com
a expectativa que se tem. Ex: IAS e a
manipulação dos quadros.
21. O sistema social se contenta com
as notas obtidas nos exames
Os sistemas de exames, com suas
consequências em termos de notas e suas
manipulações, polarizam a todos. Os
acontecimentos do processo de ensino e
aprendizagem, seja para analisá-los
acontecimentos do processo de ensino e
aprendizagem, seja para analisá-los
criticamente, seja para encaminhá-los de
uma forma mais significativa e vitalizante,
permanecem adormecidos em um canto. Se
os alunos estão indo bem nas provas e obtêm
boas notas, o mais vai...
23. Provas para reprovar
Os professores elaboram suas provas para
“provar” os alunos e não para auxiliá-los na
sua aprendizagem; em muitos casos,
elaboram provas para “reprovar” seus alunos.elaboram provas para “reprovar” seus alunos.
24. Pontos a mais e pontos a
menos
Os professores prometem “pontos a mais” ou
“pontos a menos” em função de atividades
escolares regulares ou extras, que não estão
essencialmente ligadas a determinadoessencialmente ligadas a determinado
conteúdo. E tais atividades normalmente não
tem nada a ver com a efetiva aprendizagem
dos alunos.
25. Uso da avaliação da aprendizagem como
disciplinamento social dos alunos
A utilização das provas como ameaça aos
alunos, por si, não tem nada a ver com o
significado dos conteúdos escolares, mas sim
com disciplinamento social dos educandoscom disciplinamento social dos educandos
sob a égide do medo.
26. Fetiche
Entende-se por fetiche= algo criado pelo ser
humano para atender a uma necessidade,
mas que se torna independente dele e o
domina, universalizando-se. (Karl Marx, Odomina, universalizando-se. (Karl Marx, O
capital)
Ao longo da história da educação e de nossa
prática educativa, a avaliação da
aprendizagem escolar (exames e provas), foi
se tornando um fetiche.
27. A avaliação da aprendizagem escolar, além de ser
praticada com uma tal independência do processo de
ensino- aprendizagem também tem sido realizada
conforme o interesse do professor ou do sistema de
ensino. Nem sempre se leva em consideração aquilo
que foi ensinado.
No que se refere à aprovação ou reprovação, asNo que se refere à aprovação ou reprovação, as
médias são mais importantes e têm mais peso do que
a relação professor-aluno e nesse caso uma relação
entre sujeitos, torna-se uma relação entre coisas: as
notas.
A nota é que domina tudo e é em função dela que se
vive na prática escolar.
28. Consequências da pedagogia
do exame
Pedagogicamente= centraliza a atenção nos
exames; não auxilia a aprendizagem dos
estudantes;
Psicologicamente= desenvolvePsicologicamente= desenvolve
personalidades submissas;
Sociologicamente= auxilia os processos de
seletividade social. A avaliação está muito
mais articulada com a reprovação do que com
a aprovação e daí vem a sua contribuição
para a seletividade social.
29. Verificação ou avaliação: o
que pratica a escola?
A avaliação, tanto no geral quanto no caso da
específico da aprendizagem, não possui uma
finalidade em si; ela subsidia um curso de ação
que visa construir um resultado previamente
definido.definido.
No caso que nos interessa, a avaliação subsidia
decisões a respeito da aprendizagem dos
educandos, tendo em vista garantir a qualidade
do resultado que estamos construindo. Por isso,
não pode ser estudada, definida e delineada sem
um projeto que a articule.
30. Projeto educativo
Deve priorizar o desenvolvimento dos educandos –
crianças, jovens e adultos- a partir de um
processo de assimilação ativa do legado cultural
já produzido pela sociedade: filosofia, ciência,
arte, literatura, modos de ser e de viver.arte, literatura, modos de ser e de viver.
Desse modo a prática da avaliação da
aprendizagem destina-se a servir de base para
tomadas de decisões no sentido de construir com
e nos alunos conhecimentos, habilidades e
hábitos que possibilitem o seu efetivo
desenvolvimento,por meio da assimilação ativa
do legado cultural da sociedade.
31. Fenomenologia da aferição dos
resultados da aprendizagem escolar
Para aferir os resultados do aproveitamento
escolar, os professores realizam três
procedimentos sucessivos:
medida do aproveitamento escolar;medida do aproveitamento escolar;
transformação da medida em nota ou
conceito;
utilização dos resultados identificados.
32. Obtenção da medida dos
resultados da aprendizagem
Medida é uma forma de comparar grandezas,
tomando uma como padrão e outro como objeto
a ser medido, tendo como resultado a
quantidade de vezes que a medida padrão cabe
dentro do objeto de medida. Na aprendizagemdentro do objeto de medida. Na aprendizagem
escolar, os professores utilizam como padrão de
medida o “acerto” das questões. A medida da
aprendizagem do educando corresponde à
contagem das respostas corretas emitidas sobre
um determinado conteúdo da aprendizagem que
se esteja trabalhando.
33. Transformação da medida em nota
ou conceito
Tal transformação dá-se por meio do
estabelecimento de uma equivalência simples
entre os acertos ou pontos obtidos pelo
educando e uma escala, previamente definida,
de notas ou conceitos.de notas ou conceitos.
Notas e conceitos expressam a qualidade que se dá
a aprendizagem do educando, medida sob a
forma de acertos ou pontos. Caso seja adotado
vários momentos de aferição do aproveitamento
escolar, para obter o resultado final de um
bimestre ou ano letivo, o professor se utiliza da
média de notas ou conceitos.
34. Utilização dos resultados
De posse dos resultados o professor tem
diversas possibilidades de utilizá-lo, tais
como:
• Simplesmente registrá-lo no diário de classe;• Simplesmente registrá-lo no diário de classe;
• Oferecer ao educando uma oportunidade de
melhorar a nota ou conceito;
• Atentar para as dificuldades e desvios da
aprendizagem dos educando e decidir
trabalhar com eles, para que de fato
aprendam.
35. A aferição da aprendizagem escolar é utilizada, na
quase totalidade das vezes, para classificar os alunos
em aprovados ou reprovados. E nas ocasiões em que
se possibilita uma revisão de conteúdos, em si, não é
para proceder a uma aprendizagem ainda não
realizada ou ao aprofundamento de determinada
aprendizagem, mas sim para “melhorar” a nota doaprendizagem, mas sim para “melhorar” a nota do
educando e, com isso, aprová-lo.
36. A escola opera com verificação e
não com avaliação da aprendizagem
o termo verificar provém etimologicamente do latim e
significa “fazer verdadeiro”.
A dinâmica do ato de verificar encerra-se com a
obtenção do dado ou informação que se busca, isto
é, “vê-se” ou “não se vê” alguma coisa.é, “vê-se” ou “não se vê” alguma coisa.
O termo avaliar também de origem latina, quer dizer
“dar valor a...”
O ato de avaliar implica coleta, análise e síntese dos
dados que configuram o objeto da avaliação,
acrescido de uma atribuição de valor ou qualidade,
que se processa a partir da comparação do objeto
avaliado com um determinado padrão de qualidade
estabelecido para aquele objeto.
37. A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que
ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo
decisão do que fazer ante ou com ele. A verificação é uma ação
que “congela “o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o
objeto numa trilha dinâmica de ação.
No geral, a escola brasileira opera com verificação e não com a
avaliação da aprendizagem. Este fato fica patente ao
observarmos que os resultados da aprendizagem usualmente
têm tido a função de estabelecer uma classificação dotêm tido a função de estabelecer uma classificação do
educando, expressa em sua aprovação ou reprovação.O uso
dos resultados tem se encerrado na obtenção e registro da
configuração da aprendizagem do educando, nada decorrendo
daí. São raras as exceções que fogem desse padrão.
O modo de trabalhar com os resultados da aprendizagem
escolar reifica a aprendizagem, fazendo dela uma “coisa” e não
um processo.
38. O momento da aferição do aproveitamento escolar não é
ponto definitivo de chegada, mas um momento de parar
para observar se a caminhada está ocorrendo com a
qualidade que deveria ter. Neste sentido, a verificação
transforma o processo dinâmico da aprendizagem em
passos estáticos e definitivos. A avaliação, ao contrário,
manifesta-se como um ato dinâmico que qualifica e
subsidia o reencaminhamento da ação, possibilitandosubsidia o reencaminhamento da ação, possibilitando
consequências no sentido da construção dos resultados
que se deseja.
39. De examinar para avaliar, um
trânsito difícil, mas necessário
Jonh Hunter, em seu livro Princípios de liderança
segundo o monge e o executivo, define
insanidade como o ato de desejar resultados
novos, sem mudar hábitos antigos. De fato,
assim é.
novos, sem mudar hábitos antigos. De fato,
assim é.
Para termos resultados novos no processo
ensino-aprendizagem em nossas escolas são
necessários hábitos novos e estes, por sua
vez, exigem aprendizagens novas, como
também novas condições para exercitá-las.
40. Tem sido difícil para nós, educadores, transitar dos
hábitos relativos aos exames escolares para hábitos
relativos à avaliação. São 3 as razões para isso:
1) As contribuições da história da educação;
2) O modelo de sociedade no qual vivemos;
3) Repetição inconsciente do que aconteceu com cada
um de nós, ao longo de nossa vida escolar.
Para mudar é preciso remover o peso do modo dePara mudar é preciso remover o peso do modo de
compreender e agir a avaliação. Assim sendo, não faz
muito sentido condenar educadores que, hoje, ainda
não conseguiram transitar do ato de examinar para o
ato de avaliar na escola. Devemos agir junto a eles
para que possam produzir um desconstrução intera
desse modo de agir , reconstruindo um novo.
41. O sucesso, em que área de atuação for, exige
investimento; e o ato de avaliar dá suporte e sustentação
para a busca desse sucesso. Ela subsidiou os grandes
cientistas, os inventores das tecnologias, os
empreendedores bem –sucedidos em todas as áreas
humanas, assim como subsidiou todos aqueles que
buscaram a superação de uma dificuldade ou impasse nabuscaram a superação de uma dificuldade ou impasse na
vida. O ato de avaliar é um aliado de todos que desejam
produzir resultados satisfatórios com sua ação. Por que
não na prática educativa?
42. Para além do autoritarismo
AVALIAÇÃO EDUCACIONAL ESCOLAR
43. A atual prática da avaliação escolar:
manifestação e exacerbação do
autoritarismo
A avaliação é um julgamento de valor sobre
manifestações relevantes da realidade, tendo em vista
uma tomada de decisão (Luckesi, 1978).
• O objeto avaliado será tanto mais satisfatório
quanto mais se aproximar do idealJuízo de valor quanto mais se aproximar do ideal
estabelecido.
Juízo de valor
• São os sinais do objeto que elicidam o juízo. E
a seleção dos sinais que fundamentarão o
juízo de valor dependerá da finalidade a que
se destina o objeto a ser avaliado.
Caracteres
relevantes da
realidade
• O julgamento de valor desemboca num
posicionamento de “não diferença”, o que
significa obrigatoriamente uma tomada de
posição sobre o objeto avaliado.
Tomada de decisão
44. Qualquer um desses elementos perpassa pela posição
autoritária, porém a tomada de decisão é o componente da
avaliação que coloca mais poder na mão do professor.
A atual prática da avaliação escolar estipulou como função
do ato de avaliar a classificação e não o diagnóstico, como
deveria ser constitutivamente. O julgamento de valor, que
teria a função de possibilitar uma nova tomada de decisão
sobre o objeto avaliado, passa a ter a função estática de
classificar um objeto ou um ser humano histórico numclassificar um objeto ou um ser humano histórico num
padrão definitivamente determinado.
Do ponto de vista da aprendizagem escolar, poderá ser
definitivamente classificado como inferior, médio ou superior.
Mas será que o inferior não pode atingir o nível médio ou
superior?Todos os educadores sabem que é possível, todavia
preferem que isso não ocorra, deixando o aluno com as
notas obtidas, como forma de “castigo” pelo seu
desempenho possivelmente inadequado.
45. Vejamos como isso se dá...
Trabalha-se uma
unidade de
estudo
Verifica-se o
aprendido
Encerra-se ai o
ato de avaliar aprendido
Atribuem-se
conceitos ou
notas
Conceitos
simbolizam o valor
do aprendizado
ato de avaliar
46. Dessa forma, o ato de avaliar não serve como pausa para
pensar a prática e retornar a ela; mas sim como um meio de
julgar a prática e torná-la estratificada. De fato, momento da
avaliação deveria ser um “momento de fôlego” na escalada,
para, em seguida, ocorrer a retomada da marcha de forma
mais adequada, e nunca um ponto definitivo de chegada,
especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico
como, no caso, a aprendizagem.como, no caso, a aprendizagem.
47. Outro uso autoritário da avaliação escolar é a sua
transformação me mecanismo disciplinador de condutas
sociais. É uma prática comum ameaçar os alunos com o poder
e o veredicto da avaliação, caso a “ordem social” da escola ou
das salas de aula seja infringida. De instrumentos de
diagnóstico para o crescimento, a avaliação passa a ser um
instrumento que ameaça e disciplina os alunos pelo poder do
medo. De instrumento de libertação, passa a assumir o papelmedo. De instrumento de libertação, passa a assumir o papel
de espada ameaçadora que pode descer a qualquer hora sobre
a cabeça daqueles que feriem possíveis ditames da ordem
escolar.
Que inversão!!!
48. Da forma como vem sendo exercida, a
A avaliação educacional escolar serve de
e mecanismo mediador da reprodução e
n conservação da sociedade, no contexto
das das pedagogias domesticadoras; para tanto,
a avaliação necessita da autoridade
exacerbada, ou seja, do autoritarismo.
49. Avaliação educacional no contexto de
UMA PROPOSTA DE ULTRAPASSAGEM
DO AUTORITARISMO
Avaliação educacional no contexto de
uma pedagogia para a humanização
50. A avaliação educacional escolar, como instrumento tradutor
de uma pedagogia, que por sua vez, é representativa de um
modelo social, não poderá mudar sua forma se continuar
sendo vista e exercitada no âmago do mesmo corpo teórico-
prático no qual está inserida.
Para que a avaliação educacional escolar assuma o seu
verdadeiro papel de instrumento dialético de diagnóstico
para o crescimento, terá de se situar e estar a serviço depara o crescimento, terá de se situar e estar a serviço de
uma pedagogia que esteja preocupada com a
transformação social e não com a sua conservação. A
avaliação deixará de ser autoritária se o modelo social e a
concepção teórico- prática da educação também não forem
autoritários.
Para tanto o educador que estiver afeito a dar um novo
encaminhamento para a prática da avaliação escolar deverá
estar preocupado em redefinir ou em definir propriamente
51. Os rumo de sua ação pedagógica, pois ela não é neutra,
como todos nós sabemos. Ela se insere num contexto maior e
está a serviço dele. Então, o primeiro passo que nos parece
fundamental para redirecionar os caminhos da prática da
avaliação é assumir um posicionamento pedagógico claro e
explícito. Claro e explícito de tal modo que possa orientar
diuturnamente (prolongadamente) a prática pedagógica, no
planejamento, na execução e na avaliação.planejamento, na execução e na avaliação.