SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 36
Downloaden Sie, um offline zu lesen
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
         DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV
   COLEGIADO DO CURSO DE LETRAS COM HABILITAÇÃO
       EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS –
                   LICENCIATURA




          ANE TARCÍLA ARAÚJO MATOS




ARCA DE NOÉ NO ROMANCE CACAU: UMA LEITURA
                   METAFÓRICA




                  Conceição do Coité
                        2012
ANE TARCÍLA ARAÚJO MATOS




ARCA DE NOÉ NO ROMANCE CACAU: UMA LEITURA
               METAFÓRICA




              Monografia apresentada ao Departamento de Educação da
              Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Curso de
              Letras com Habilitação em Língua Portuguesa e
              Literaturas – Licenciatura, como parte do processo
              avaliativo para obtenção do grau de Licenciado em Letras.

              Orientador: Prof. José Plínio de Oliveira




              Conceição do Coité
                    2012
CONVITE



         E quando a viola gemer nas mãos do seresteiro na rua

          Trepidante da cidade mais agitada, não tenhas moça,

            Um minuto de indecisão. Atende o chamado e vem.

        A Bahia te espera para sua festa quotidiana. Teus olhos

    Te encharcarão de pitoresco, mas se entristecerão também

     Diante da miséria que sobre nestas ruas coloniais onde se

Elevaram, violentos, magros e feios, os arranha-céus modernos.

                                         (AMADO, 1991, p. 11)
DEDICATÓRIA




      Dedico esta conquista as pessoas mais importantes da minha vida.

      À minha avó Romilce, uma estrela no céu que ilumina os meus passos
diariamente; a melhor pessoa que já conheci em toda a minha existência. Deus
precisava de mais u anjo no céu e por isso a tirou da Terra.

      Aos meus pais, Umberto e Zetinha, por todo esforço e carinho durante toda a
minha trajetória, por me ajudarem de todas as maneiras.

      Ao meu filho Henry, por me fazer entender o significado do verdadeiro amor,
por me doar o sorriso mais lindo do mundo, por me fazer feliz nos momentos mais
tristes; por me amar como sou.

      Aos meus familiares e amigos, por sempre estarem na torcida pelo meu
sucesso, por compreenderem as minhas ausências e continuarem gostando de mim
mesmo quando estive totalmente distante.

      Ao meu esposo, por estimar meu crescimento, por sempre me aconselhar a
seguir em frente, a estudar, a buscar um ideal. Por demonstrar um sentimento forte
por mim, mesmo quando nem eu me suportava, quando o nervoso era bem maior do
que eu.

      Aos mestres que tive durante toda a jornada de vida pessoal, estudantil e
acadêmica.

      Essa vitória não é só minha, é nossa!
AGRADECIMENTOS




      À Deus, primeiramente, por me conceder a vida e o direito de usufruí-la. Por
trilhar meu caminho, por me fazer chorar para aprender a acertar; por me fazer sorrir
e chorar em meio as conquistas.

      Aos meus pais, por sempre me ensinarem que o estudo é o que de melhor o
ser pode ter, e assim lutarem comigo pela graduação. Por sempre estarem do meu
lado, auxiliando, apoiando e corrigindo os meus erros.

      Ao meu filho, o meu grande amor, por entender as minhas ausências nas
suas tardes, por me doar o melhor abraço, o melhor beijo, o melhor carinho. Por tão
pequeno se preocupar comigo e sempre querer me ver sorrindo. Por me fazer voltar
a ser criança como ele, por me proporcionar os melhores momentos.

      À meu avô Amorzinho, por demonstrar um carinho único, pela sabedoria
passada. Por prosear comigo sobre diversos assuntos, auxiliando no meu
crescimento.

      À Everton, meu esposo, por entender minhas falhas, meus estresses, minha
correria nesse tempo da graduação. Pôr continuar gostando de mim e me dando o
seu melhor, mesmo em meio a turbulências; por sonhar junto comigo com o meu
sucesso.

      À minha família, por me ajudar nesse processo de crescimento intelectual, e
natural. Por me incentivar a continuar, mesmo quando pensei que não conseguiria
mais. Em especial, às minhas tias Sileide, Romilza e Urânia, que o tempo todo
sabiam que eu seria vitoriosa, sempre apostaram em mim, nos meus estudos, na
minha vontade e capacidade de crescer. E ainda, por sempre me ajudarem nos
momentos difíceis, com conselhos e palavras de conforto, por demonstrarem querer
me ver brilhar.

      Ao meu irmão Juninho e a Antonia, por estarem do meu lado, mesmo quando
brigamos, por segurarem minha mão para eu não cair. Por me deixarem muito
chateada as vezes, mas depois tudo passar e estarmos rindo de novo juntos.
Aos professores da Uneb, em especial Eugênia e Plínio, pois, a primeira foi a
que mais brigou comigo durante todos esses anos, e também a que mais me
ensinou; e ainda, é ela a que posso dizer que foi a “mãe” que tive na graduação,
pois sempre me ajudou, reclamou, puxou a orelha, mas jamais desgostou de mim,
ao contrário, sempre mostrou um carinho; o que é recíproco. E ao meu orientador,
por ser mais que um companheiro no estudo amadiano, por vibrar comigo nas
conquistas e estimar um maior desenvolvimento intelectual para mim, por almejar o
mestrado e sempre me deixar otimista.

      Aos meus colegas e amigos da graduação, por serem mais que uma família
temporária, por formarem comigo laços eternos. Por me marcarem na escola da vida
e com certeza, por me deixarem muitas saudades de hoje em diante.

      As serventes da faculdade, por me demonstrarem uma amizade, por sempre
quererem me ver alegre, por me desejarem sempre uma boa tarde, pessoas boas e
que fazem da instituição não só estudos intelectuais, mas também vivências.

      A todos, muito obrigada. Vocês foram fundamentais nesta vitória!
RESUMO




O estudo de a Arca de Noé no romance Cacau: uma leitura metafórica é um
exercício de significação acerca das civilizações pré e pós-diluvianas, pois, põe-nos
a repensar questões identitárias; enquanto a primeira encontrava-se no limiar entre o
angélico e o humano, a segunda vive na “caça” do homem pelo homem no universo
sertão. Através do romance Cacau, Jorge Amado demonstra os riscos do mundo
capitalista, o qual asfixia e engole as classes que se encontram à margem da
sociedade detentora do capital. Tratando do ciclo cacaueiro, fica explícito, nesta
obra, a disparidade entre dois grupos sociais: o dos trabalhadores cacaueiros e o
dos coronéis, detentores das fazendas dos frutos valiosos. Objetivando estudar o
discurso bíblico na obra amadiana, busca-se o estudo metafórico existente nos dois
ambientes, no eixo da sobrevivência dos seres. Sendo assim, tratando dos excluídos
sertanejos na obra, é pretendido denunciar a hipocrisia da sociedade. Este estudo
foi movido por uma metodologia de cunho bibliográfico, voltando-se para obras como
Da Diáspora, de Hall (2003); Vidas Secas, de Ramos (2003); O Menino Grapiúna, de
Amado (1982); dentre tantas outras que tratam de temas relacionados à vida
humana. Estabelecida a relação entre a história bíblica (Arca de Noé) e a Literatura
(Cacau), o resultado da pesquisa é relevante pelo fato da confirmação que o
capitalismo não traz melhoria de vida à classe marginalizada, ao contrário, faz dos
trabalhadores reféns da sociedade de bens; humilhados e menosprezados, vivem
subalternamente. Confirma-se, portanto, que o capitalismo não é uma boa escolha
para o homem, pois, corrompe valores humanos, os quais eram vividos na
sociedade antes do dilúvio.



Palavras- chave: Arca de Noé. Sociedade. Capitalismo. Marginalização.
ABSTRACT


The study of the Ark of Noah in the novel Cocoa: a metaphoric reading is an exercise about
the significance of civilizations and post-diluvian there fore brings us to rethink questions of
identity, while the first was at the thres hold between the angelic and human lives in the
second "game" of     man        by     man in       the      universe interior.      Through      out      the
novel Cocoa, Jorge Amado demonstrates the risk sof the capitalist world, which chokes
and swallows the       classes          that        are outside         the company        that          owns
the capital. Since the cocoa cycle, is explicit in this work, the gap between two social groups:
the workers and the cacao colonels, holders of valuable fruit farms. Aiming at studying
the Bible talk amadiana in the work, the study seeks to metaphorical exists in both
environments, the     axis of        the       survival of     human       beings. Thus,       treating the
excluded backland in the work, is intended to expose the hypocrisy of society. This study
was motivated          by a bibliographical methodology, turning                     to such            works
as The Diaspora, Hall (2003), Barren Lives, Palm (2003),The Boy Grapiúna, Amado (1982),
among many      others dealing       topics     related to    human      life. The   relationship between
the biblical story (Noah's Ark) and Literature (Cocoa), the search result is relevant because of
the confirmation that capitalism does not bring better life to the marginalized class, by
contrast, makes workers              hostage Society goods, humiliated and                despised, living
subalternamente. Confirms,       therefore, that        capitalism is     not a good      choice        for the
man, therefore corrupts human values, which were experienced in society before the flood.




Keywords: Noah's Ark. Society. Capitalism. Marginalization.
SUMÁRIO




INTRODUÇÃO                                                               10




  1. NOÉ E AS CIVILIZAÇÕES PRÉ E PÓS- DILUVIANAS                         12
  1.1 Comunidade fraterna e o castigo divino                             12
  1.2 A pombinha pesquisadora de Noé                                     14
  1.3 Jorge Amado, o Noé do dilúvio cacaueiro                            16




  2. A PESQUISA METODOLOGICA EM “CACAU”                                  22
  2.1 Compreensão de pesquisa bibliográfica                              22
  2.2 O passo a passo investigado                                        23
  2.3 Entendendo a escolha e a organização da pesquisa                   24


  3. “CACAU”, A FOLHA DÓLAR QUE ATRAI O SERTANEJO                        26
  3.1 Entendendo o fenômeno migratório e as esperanças no Sul do Cacau   26
  3.2 A relação entre Jorge Amado e o Cacau                              28
  3.3 Um olhar sobre a obra amadiana                                     31



CONSIDERAÇÕES FINAIS                                                     35




REFERÊNCIAS                                                              36
INTRODUÇÃO




      Compreendendo que a Literatura se apropria da linguagem comum
ressignificando-a, transformando-a em arte, faz-se representação da realidade,
trazendo à tona, na ficção, textos com vida própria, que muito expressam. Jorge
Amado, a partir de suas inferências da realidade de flagelo e exclusão econômico-
social da classe trabalhadora das fazendas cacaueiras, apresenta, em sua obra
“Cacau”, a crueldade do ser homem em relação ao próprio homem, o qual movido
pela ganância e falta de solidariedade subestima e aprisiona a sua própria espécie.
Amado torna-se, nesta obra, um Noé, bem como o personagem existente na
“Sagrada Escritura”, metáfora essa que é a base e a fomentação desse estudo.

      Estabelecendo uma conexão / relação entre a história bíblica da Arca de Noé,
contida no Gênesis, e o romance “Cacau” do autor Jorge Amado, exprimem-se
características metaforicamente comuns entre os dois ambientes, afinal, ambos
tratam de seleção; enquanto Noé seleciona os animais que adentrarão à Arca,
Amado demonstra, em sua obra, os bichos homens flagelados que migram para o
Sul da Bahia em busca de ascensão; de melhoria de vida, os quais, desde o
momento que entram no navio, sofrem a diferenciação de classe social, igualmente
a seleção feita por Noé. Em face desta leitura, podemos questionar: até que ponto
essa realidade de flagelo social é imperativa na vida das populações sertanejas do
Nordeste Brasileiro, abordadas nesse romance de Jorge Amado? Como entender as
relações entre a obra “Cacau” de Jorge Amado e a Arca de Noé, no âmbito da
Sagrada Escritura?

      O escopo do trabalho é a análise da possível ligação existente entre os textos
(Cacau e a Arca), correlacionando aspectos de vida nos dois meios. Buscaram-se,
nesse viés, referências acerca do tema proposto, para a realização do estudo e
escrita do trabalho. Muitas foram as obras selecionadas, dentre elas pode-se citar:
Da Diáspora, de Hall (2003); Desconversa, de Galvão (1998); Metáfora, de Lopes
(1987); Vidas Secas, de Ramos (2003).         Com uma metodologia de caráter
bibliográfico, a leitura do objeto investigado averiguará se o capitalismo traiu os
grapiúnas sertanejos.
O presente texto está dividido em três partes: capitulo primeiro – voltado para
as sociedades pré e pós-diluvianas, recontando a história bíblica da Arca de Noé e
mostrando posteriormente o Noé (Amado) do capitalismo, que aborda na obra
literária (Cacau) a seleção dos bichos homens -; capítulo segundo – que demonstra
os passos metodológicos aplicados à pesquisa – e, capítulo terceiro – análise dos
textos, traçando a possível relação entre os dois ambientes (Cacau e a Arca de
Noé).

        Enfim, partindo-se de diversas leituras e da extração de informações dos
textos, têm-se o resultado do estudo: o trabalho monográfico constituído.
1. NOÉ E AS CIVILIZAÇÕES PRÉ E PÓS- DILUVIANAS



   Neste capítulo primeiro a análise se debruça no que foi e como se deu a
construção da arca de madeira pelo carpinteiro Noé, explicando por ora o porquê da
construção dessa Arca e o acordo entre Deus e o carpinteiro. E, principalmente,
como o próprio título diz, trata-se da diferenciação das sociedades antes e depois do
dilúvio; enquanto a primeira é próspera, feliz e conserva valores como moral e ética,
a posterior é totalmente avessa, corrompida pelo capitalismo. Jorge Amado é, pois,
nesse momento apresentado como outro Noé, o qual estratifica na obra “Cacau”
uma arca, só que com bichos homens, ou melhor, homens que “são” bichos para a
sociedade detentora do fruto lucrativo; do cacau.




      1.1 Comunidade fraterna e o castigo divino




      O pensamento inicial sobre as civilizações pré e pós dilúvio, fundadas por
Noé, levam o leitor a praticar uma demanda de leitura prévia em que se propõe a
estabelecer uma relação de entendimento das linguagens de uma era muito remota
que inaugura a trajetória existencial da humanidade. Nesse sentido o leitor se dispõe
a compreender um mundo distante do que ele se encontra, também enquanto
humano e, portanto, herdeiro dessa história.

      Compreendendo os aspectos da sociedade existente antes do dilúvio,
percebe-se que aquela foi uma era da humanidade fraterna, feliz, inclusiva e
solidária no sentido estrito do termo. Antes do dilúvio a humanidade viveu uma era
em que provavelmente “casavam-se e davam-se em casamento” (Lc 24, 38-9), ou
seja, era um tempo onde a felicidade reinava e não existiam ameaças ou outras
formas de opressão, havia prosperidade, alongava-se a dimensão da vida em
comunidade, incluindo o outro, atribuindo valor à História da humanidade na Terra.

      Nesta era não havia ódio entre os homens, fome, pobreza, miséria, pedofilia,
desemprego, violência contra a mulher, preconceito, mas sim amor e cultivo dos
sentimentos mais elevados. Esta sociedade teve um único pecado: caiu em uma
espécie de abismo existencial, matando a cultura, bem como valores e princípios, da
moral, da ética e da dignidade em que também sucumbimos – por conseqüência e
cujos ônus ainda persistem neste tempo presente.

      Uma civilização que desobedeceu às orientações do Criador e que teve o
dilúvio como forma de expiação, deixou-nos o seguinte legado:

Por conta do arrependimento de Deus de ter posto o homem na Terra, pelo fato da
malícia (corrupção) deste perante os valores proclamados pela divindade, o Criador
com muita dor e compaixão resolveu destruir o ser por ele criado, estendendo, pois,
sua vingança desde o homem até todas as espécies de animais (os que voavam,
que se arrastavam e que andavam). Naquele contexto, Deus se viu diante de Noé,
um homem justo e perfeito, filho de Lamec, um dos grandes patriarcas da origem
humana, e que andou com Ele todo o tempo.

      Noé havia gerado três filhos: Sem, Cam e Jafé, os quais assim como Noé,
tinham mulheres. O Criador, então, em face da Terra corrompida pela criatura
humana, manda Noé fazer uma arca de madeira, com três andares, para que ele e
sua família, bem como um casal de cada animal existente no Planeta (na intenção
de não aniquilar totalmente as espécies no Universo existentes, e sim restar destas
um casal para procriar e povoar o meio ambiente mais tarde) pudessem, assim,
salvar-se do castigo ou da vingança; dizendo ele a Noé, que mandaria um dilúvio de
águas sobre o Planeta Terra e que faria perecer todas as espécies viventes que
existissem debaixo do céu e que consumiria tudo que estivesse sobre a Terra.
Mandou ainda Noé depositar na Arca todos os estoques de víveres, destinados à
segurança alimentar e nutricional da sua família e das espécies da fauna então
recolhida nos espaços próprios da Arca. No momento em que o Senhor conversa
com Noé, este fala o porquê de o estar salvando, enfatizando o quanto ele foi justo
diante do homem, ao contrário dos outros homens que viviam no Planeta.

      Sete dias se passaram, a chuva começou a cair, Noé com toda a sua família
e as espécies da fauna estavam dentro da Arca. As cataratas do céu foram abertas,
chovendo, pois, quarenta dias e quarenta noites. As águas da chuva foram tão
fortes, a ponto de elevar a Arca (construída por Noé sob orientação divina) muito alta
por cima da Terra, levando-a sempre sobre a Terra. Tudo foi coberto pelas águas, o
Planeta inundou-se, todas as espécies de animais morreram, os homens pereceram
e tudo o que havia abaixo do céu não resistiu, chegando ao fim, a não ser os seres
que estavam na Arca, únicos que ficaram com vida. As águas só aumentavam com
os dias, e a chuva cobriu a superfície terrestre por cento e cinquenta dias.




      1.2 A Pombinha pesquisadora de Noé




      O Senhor, lembrando-se do acordo por ele feito com Noé, que após cento e
cinqüenta dias as águas cessariam, mandou um vento forte sobre o Planeta para a
diminuição das águas, fez com que as chuvas parassem e as águas de cima da
Terra se retirassem. Quarenta dias se passaram, a arca estava estacionada sobre o
monte Arará, situado na atual Armênia, Noé resolveu abrir a janela da Arca e deixou
sair um corvo, o qual não retornou antes das águas que estavam sobre a terra se
secarem; em seguida Noé soltou uma pomba, a qual desenvolveu uma espécie de
pesquisa para Noé, pois, esta foi averiguar se as águas já haviam se retirado de
cima da Terra, como isso ainda não tinha acontecido e a pombinha não teve onde
pousar, pelo fato das águas ainda estarem na superfície terrestre, esta retornou à
Arca, voltando a sair somente depois de mais sete dias, retornando também para à
Arca, mas só no final da tarde e trazendo no bico um ramo de oliveira, que Noé leu
como um texto narrando a retirada das águas. Uma espécie de carta de despedida.
Ainda assim Noé esperou mais sete dias, e novamente deixou a pomba ir, a qual
não retornou a Arca, tendo Noé entendido que as águas haviam cessado e que este
era o momento de abrir a Arca e sair com todas as espécies, pois, já haviam se
salvado. Noé abriu o teto da Arca e viu que a superfície terrestre estava seca; o
Senhor, portanto, mandou Noé se retirar da Arca, com todos que lá estavam, pois,
deviam sair para procriar e povoar a terra; e assim foi feito.

      Deus, enfim, resolveu que não mais amaldiçoaria a Terra, que não mais
encerraria o ciclo de vida através do dilúvio e disse ao lavrador (Noé) que daquele
momento por diante o que haveria de acontecer eram exatamente punições de
acordo o cometido, por exemplo, se o homem cometesse derramamento de sangue,
ele ira responder (pagar) por isso. E este foi o último acerto de Deus com Noé.
Com a leitura da Arca de Noé visualiza-se a pombinha como um símbolo/
representação de sobrevivência, ela mesma se tornou para Noé uma pesquisadora,
pois, dialoga com a Terra a possibilidade de vida. Sem muitas características acerca
da pombinha, suscitam-se indagações sobre sua cor, seu aspecto físico e mesmo o
seu tamanho, que são dados ainda desconhecidos e que nos faz pensar na teoria do
ocultismo para a não existência do preconceito, ou seja, o texto bíblico em nenhum
momento revela se a pomba é ou não branca, para que não pensemos sobre
questões humanas como a cor e a raça. Contudo, Noé compreende os resultados da
pesquisa da pombinha, ele vai lendo os resultados trazidos por ela, desde o
momento em que ela sai à primeira vez, retornando para a Arca com os pés sujos de
lama, fazendo Noé entender que as águas ainda reinam e que não é o momento de
sair; bem como quando volta pela última vez trazendo no bico uma folha verde de
oliveira, representando para o patriarca Noé uma grande leitura: a existência do
verde, do surgimento de alimento, da esperança de vida.

      É perceptível, pois, a importância da pesquisa da pombinha, ela coleta dados
pacientemente, esforçando-se a todo tempo e sendo perseverante, bem como tem
todo um cuidado em realizar a seleção dos dados colhidos no momento de passá-
los para Noé, que codifica essas informações. A Arca também é convertida em um
laboratório de pesquisa, pois é nesse lócus que os dados da pombinha são tratados
e interpretados, para logo depois serem passados para o outro, para o mundo, enfim
para posteridade. No momento da pesquisa a pombinha faz deslocamentos e
movimentos tanto no sentido físico como no intelectual, pois é uma pesquisa de
caráter sustentável, capaz de garantir a plenitude à humanidade, afinal à pombinha
nos ensina que os resultados de uma prática de pesquisa são destinados à melhoria
da qualidade do mundo enquanto espaço humano. Portanto, faz-se visível que o
corrompimento humano não é culpa da pombinha, mas sim dos desejos e vontades
do ser, que elevados pela vaidade e ganância acabaram motivados por vontades
contrárias a do Pai Criador.

      Nesta perspectiva de leitura, cabe ao mundo contemporâneo empreender a
releitura dos resultados da pesquisa da pombinha, visando agora a realizar a
ortopedia desse mundo. Esse símbolo dialoga, portanto, com a sociedade pós-
diluviana, com o “Cacau”, em que Jorge Amado é, pois, um outro Noé.
1.3 Jorge Amado, o Noé do dilúvio cacaueiro




      A cultura brasileira no ano de 1922 buscava afirmar-se através da Semana de
Arte Moderna, um verdadeiro dilúvio de linguagens, ocorrida em São Paulo, sendo
um movimento no qual as estruturas envelhecidas da arte e da Literatura no Brasil
ansiavam por se equiparar às da Europa com todas as suas vanguardas. Os ideais
da semana de 22 eram voltados a propostas nacionalistas, ou seja, ao desejo de
fazer uma Literatura calcada na realidade brasileira.

       A Literatura de 1930 aparece, pois, com duas vertentes paralelas: a corrente
regionalista (que diz respeito tanto ao meio rural quanto às zonas suburbanas das
grandes capitais) e a corrente psicológica (que faz a analise do comportamento
humano por si mesmo e em face de outros). Têm-se, portanto, a relação do homem
com o meio, que é a matéria-prima do regionalismo, com um conceito de afirmação
da realidade brasileira.

      A ficção brasileira tem fisionomia e comunicação verbal próprias: o povo, a
paisagem, os costumes, os tipos e patologias sociais, os problemas, tudo e todos
integrantes de um mundo brasileiro, mas não por isso menos universal. Muitos foram
os autores que narraram o Brasil em seus romances, fazendo Literatura com a “cara
da nação”, entre eles figura Jorge Amado.



                      A importância de Jorge Amado veio do caráter seco, participante e, todavia
                      lírico dos seus primeiros livros, que descrevem a miséria e a opressão do
                      trabalhador rural e das classes populares. [...] Um dos traços característicos
                      da sua maturidade foi a mistura de realismo e romantismo, de poesia e
                      documento, voltando-se para os pobres, para a humanidade da gente de
                      cor da sua terra, que apresenta com uma simpatia calorosa, um vivo senso
                      do pitoresco, e, sempre, um imperativo de justiça social sobrepairando a
                      narrativa. (CÂNDIDO, 1983, p. 271).

      Amado demonstra em seus escritos uma mistura de passado e presente,
pois, fatos por ele dantes pronunciados caracterizam a sociedade deste século
também. O romance realista de Jorge Amado tem a peculiaridade de trabalhar as
questões sociais de forma muito acentuadas. As relações entre homens, sociedade
e capitalismo são tratadas com toda a crueza típica do mundo dos conflitos e das
contradições enfrentadas pelas classes oprimidas, na perspectiva da subsistência
material. Jorge Amado escreve, pois, de acordo com a realidade, vindo a Literatura a
se constituir com base na visualização desta, que a partir do reflexo visto,
desenvolve-se, sendo esta sobrecarregada de significação; utiliza-se das mais
diferentes linguagens, para criar a partir da palavra uma imitação (mimese) do já
existente. Jorge Amado é o ficcionista mais popular do país. Sua obra tem se
caracterizado pela adesão afetiva do narrador aos fatos que relata. (JUNIOR;
CAMPEDELLI, 1999, p. 261).

       A década de 30 traz marcada na Literatura a ênfase do social, voltando-se
para os problemas regionalistas enfrentados pelo país; de cunho popular, trata dos
problemas do povo brasileiro a partir da escrita narrativa da língua falada pelos
diversos setores humanos. É como relata Cândido (1983, p. 123) um romance
fortemente marcado de neonaturalismo e de inspiração popular, visando aos dramas
contidos em aspectos característicos do país. Jorge é um escritor que junto com
Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo, e outros, integram o
modernismo brasileiro, pertencente ao grupo chamado “Regionalista”, que tem esse
nome dado pela crítica por conta de denunciarem e anunciarem a vida do povo
nordestino.

       Sendo Jorge um dos maiores romancistas de nosso país (DIAS, 2008, p.
234), percebe-se em seus escritos o amor pelo seu povo e pela Bahia, sempre
retratando a realidade destes dois signos em seus escritos. Bosi (1994) diz ser Jorge
Amado o contador de histórias regionais adaptadas em seus romances, utilizando na
grande maioria das vezes de uma linguagem de baixo calão, que veio trazer o
populismo literário para as suas narrativas. Ainda segundo tal crítico literário, o autor
divide a sua obra em fases da vida baiana, demonstrando o seu gosto por temas
sociais e pela Bahia. É, pois, conhecido como um escritor popular, justamente pelo
fato de trazer o povo em suas histórias, ele conta sobre esse povo, sobre essa
classe marginalizada, sem vez e sem voz; há então na sua arte literária a
reinterpretação histórica dessa Bahia por ele tão querida, mas tão cheia de
contradições na questão humanitária de valores.
Assim, é perceptível na obra “Cacau”, essa conotação peculiar da
Linguagem, afinal, encontramos nesses escritos um realismo premeditadamente
intoxicado de historicidade, onde a exclusão é uma forte característica.

       No romance “Cacau”, o autor deixa explicita a ganância humana, onde há a
exploração do homem pelo homem na busca do capital. O cacau, conhecido como o
dólar do sertão, traz a idéia de ascensão para os nordestinos, que iludidos com o
suposto crescimento de vida saem da sua terra natal e vão trabalhar nas fazendas
do sul da    Bahia, demonstrando o fenômeno da migração sertaneja (que em geral
é impulsionado pelas expectativas de conquistar melhores condições de vida), dos
indivíduos castigados pela seca e marcados pela pobreza, que visam a ter a sua
força de trabalho reconhecida e esperam serem melhor remunerados. Os migrantes
trabalhadores viajam de trem; das estações mais próximas dos seus lugares de
origem até a capital mais desenvolvida; de cujo porto sai o navio para o Sul,
sofrendo desde esse momento a seleção de classes em vagões de passageiros,
bem como a feita por Noé, para entrar nas camadas estratificadas da Arca.

      O autor demonstra, portanto, uma visão critica do país, onde, denuncia a
exploração dos trabalhadores que são esmagados pela opressão capitalista nesse
universo sertão, onde, nem as crianças têm mais esperança de ascensão de vida.



                     Caatingas do sertão, dor das florestas sertanejas, o manso andar do trem
                     sertanejo. Homens de alpercatas e chapéu de couro. Crianças que estudam
                     para cangaceiros na escola da miséria e da exploração do homem.
                     (AMADO, 2008, p. 248)




       Estes homens sofrem todo tipo de exploração, são menosprezados e vivem
em condições subumanas de sobrevivência, trabalham como animais e devem além
do que recebem aos coronéis, configurando uma realidade verdadeiramente inferior
e injusta, na qual o homem passa a ser devorado pelos obstáculos que o meio e a
condição de vida estão o infligindo. A narração desta obra se deve a um ex-
trabalhador destas fazendas cacaueiras, conhecido como Sergipano, que depois de
conseguir mudar o rumo da sua vida resolve contar a vida de miséria dos
trabalhadores do cacau nessa sociedade distinta, onde poucos têm muito e muitos
não têm nada. Além de tudo, os que detêm o capital ainda tiram o pouco que os
trabalhadores conseguem obter com o trabalho duro e suado que exercem.



                      [...] Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um
                      desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que será que os
                      homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo
                      essas pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.
                      (RAMOS, 2003, p. 94)




      Os coronéis são os homens detentores do capital, um mundo diferente do dos
trabalhadores, que pagam com o seu suor a sua sobrevivência; [...]a culpa era da
sociedade mal organizada, era dos ricos [...](AMADO, 2008, p. 112), eles
trabalhavam de sol a sol e pouco ou nada obtinham.



                      A despensa levava todo nosso saldo. A maioria dos trabalhadores devia ao
                      coronel e estava amarrada à fazenda. (AMADO, 2000, p.5)



                       [...] Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão
                      beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar a
                      carta de alforria! (RAMOS, 2003, p. 94)




      Jorge, portanto, compreende o universo psicológico de seus personagens,
nesta obra “Cacau”, por exemplo, ele denúncia à exploração sofrida pelos
trabalhadores, demonstrando as lutas físicas e mentais que eles sofrem.

      Na obra de Jorge Amado compreende-se, pois, a diferença dessa sociedade
pós-diluviana para a anteriormente citada. A civilização pós-diluviana é marcada por
contradições existenciais, é uma sociedade muito pouco fraterna. O homem nesta,
encontra-se indignado com o dilúvio e tenta imprimir na Terra a marca da sua
presença eterna, que agora luta para resistir ao dilúvio capitalista que visa arrastar o
ser humano para o abismo da desumanização. Este ser humano sofre, pois, com a
falta de sentimentos, os quais reinaram por muito tempo na sociedade pré-diluviana,
homem este que esta causando a sua própria extinção, diariamente comete erros
com sua própria raça, derrama seu próprio sangue, impede as crianças e
adolescentes de tentarem trazer fraternidade e prosperidade a este mundo.

       O homem aqui pensa somente em si, não olha o próximo, visa tão somente
seu crescimento material, nem enxerga a sua interioridade, muitas vezes nem
conhece a si mesmo, mas, é capaz de atos de carnificina contra o outro, é um ser de
muita coragem e muita falta de amor por si próprio e pelo próximo. Contudo,
percebe-se que as crises existenciais e os problemas mentais perduram nessa
sociedade em crise, e este é um fator relevante no quesito da desumanização
profunda em que esta sociedade está imbricada. Seres fortemente marcados com as
corrupções e degenerações do século vigente. Deus avisou a Noé o quanto a
sociedade pré-diluviana havia errado e explicou o porquê do dilúvio, mas, esta
atualidade vai além dos erros passados, comete homicídios, suicídios, vivem em
preconceitos, não aceita as diferenças de raça e humanas, mata crianças que nem
tiveram tempo de escolher os seus destinos, esta comunidade não se deu conta do
mal que esta causando a si mesma e não entende a dor que o Pai Criador está
sentindo com a perda de valores éticos e humanos desta sociedade.

       Mediante a práxis da leitura empreendida pela pombinha, fica evidente que o
antídoto contra os malefícios do capitalismo é a prática da leitura e do cultivo dos
sentimentos mais elevados, ainda que os dilúvios das contradições capitalistas
tentem encurralar os homens nos porões das arcas das favelas, das prisões, das
sarjetas, das ruas, dos flagelos e das segundas-classes dos navios que transportam
trabalhadores a serem escravizados nas grandes fazendas de Cacau, o que se
conclui é uma imperativa construção de uma sociedade capaz de interpretar o
homem no prisma de uma história em que direitos, justiça e igualdade constituem as
bases de estabelecimento de uma sociedade fraterna.

      O dilúvio marca, portanto, o fim de uma sociedade insustentável pelas
contradições criadas pelo próprio homem, na mesma perspectiva em que se
estabelece uma nova era material, ou seja, de um novo mundo em que a pessoa
humana supera todas as mazelas que fizeram sucumbir o que existiu antes. É assim
também o capitalismo contemporâneo, com todas as suas formas de injustiças, que
inspiram o escritor Jorge Amado a criar o seu mundo literário.
2 A PESQUISA METODOLÓGICA EM “CACAU”



      No capítulo vigente têm-se os preceitos metodológicos que direcionam o
estudo de caso, discorrendo sobre as técnicas aplicadas na pesquisa, explicando
como se deu a investigação e a escolha do tema, bem como se desenvolveu a
coleta de dados, análise e seleção das informações acerca dos textos suportes da
pesquisa.

      Do ponto de vista metodológico o estudo da obra Cacau, de Jorge Amado,
requer uma acentuada leitura dos pressupostos que orientam as relações de leitor
para com a arte modernista, porque esse autor integra a plêiade de escritores
surgidos naquele contexto literário.




2.1 Compreensão de pesquisa bibliográfica




      Neste capítulo, são abordadas as bases metodológicas que organizam esta
pesquisa bibliográfica. A metodologia é um conjunto de técnicas, procedimentos,
métodos e regras que servem de indicativo da realização da pesquisa, ou seja,
demonstra as etapas do processo de estudo, análise e produção do texto.

       Entendendo por técnica “um conjunto de preceitos ou processos de que se
serve uma ciência ou arte [...]” (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 176), o estudo
bibliográfico realizado além de se debruçar sobre a bibliografia já pública, traz à tona
um novo estudo, uma nova proposta sobre o assunto. Portanto, Marconi e Lakatos
(2006, p. 71) definem a pesquisa bibliográfica como o levantamento, a seleção e a
documentação de toda bibliografia [...].

      Este trabalho teve um caráter bibliográfico, justamente por se utilizar de
leituras. O método de abordagem utilizado foi o hipotético-dedutivo, pois na
elaboração do trabalho criaram-se hipóteses como pressupostos dos que buscam
comprovações aos questionamentos iniciais para o estudo do caso em questão.
Corroborando, de acordo às leituras e às análises realizadas, a terceira
hipótese contida no Projeto de Pesquisa, cuja trata que se a realidade de flagelo
social impera na vida dos grapiúnas sertanejos, o capitalismo pode ter traído essa
demanda de trabalhadores, ou seja, iludiu-os, fez com que tivessem esperança de
ascensão econômico-social e agiu contrariamente, deixando-os miseravelmente e à
margem de tudo e de todos. Enfim, conclui-se pois, a perversidade da dominação
capitalista que submete e massacra os trabalhadores oprimidos.

      Os procedimentos aplicados foram o histórico, revisitando a Sagrada
Escritura; o comparativo, visualizando a metáfora entre os dois textos que tratam da
seleção de animais e do bicho homem; e ainda, e principalmente, o monográfico
(estudo de caso), examinando minuciosamente diversas bibliografias e escrevendo
concretamente acerca do tema proposto. A fenomenologia teve uma abordagem
qualitativa, com etapas investigativas e diversas informações da analise acerca do
tema em foco, buscando compreender os dados significativos da pesquisa,
descrevendo-os e investigando-os diretamente.




2.2 O passo a passo investigado




      A leitura e a análise do romance “Cacau”, de Jorge Amado e da história
bíblica da “Arca de Noé”, presente na Sagrada Escritura, foram as primeiras etapas
investigativas na relação da arca estratificada.

      Posteriormente, durante o levantamento, fichamento e análise bibliográfica,
outros livros foram selecionados e acrescidos a este estudo, como “Da Diáspora”, de
Hall (2003); “Desconversa”, de Galvão (1998); “Metáfora”, de Lopes (1987); “História
da Literatura Brasileira”, de Moisés (2001); “História Concisa da Literatura Brasileira”,
de Bosi (1994); “As Transformações da Literatura Brasileira no século XX”, de Lucas
(1989); “O Menino Grapiúna”, de Amado (1982); “Bahia de Todos os Santos”, de
Amado (1991); “Fragmentos de História”, de Souza (2008); “Vidas Secas”, de Ramos
(2003); dentre tantos outros que também foram somados a este estudo bibliográfico.
Além dos textos em análise, as diversas leituras feitas em outras obras
enriqueceram de informações o tema em foco, pois, extraíram-se dos teóricos,
citações e comentários importantes para a constituição do trabalho.

      Sendo assim, a coleta de dados acerca do tema proposto foi um estudo acima
de tudo cultural, por conta de englobar a vida de trabalhadores nas fazendas
cacaueiras, com aspectos relacionados as explorações e mazelas sofridas por essa
classe marginalizada e desprezada pela sociedade detentora do capital de lucro.

      Portanto, este estudo literário analisa questões relacionadas à vida humana,
buscando demonstrar o imperativo sofrimento de uma classe; através do eixo da
análise e interpretação dos textos. Conclui-se que é uma pesquisa bibliográfica
importante no quesito de apresentação e representação da vida humana.




2.3 Entendendo a escolha e a organização da pesquisa




      A escolha do tipo de pesquisa foi feita por questão de afinidade com a área da
Literatura Brasileira. O autor selecionado aconteceu pelo fato da sua critica e sua
denúncia social, a qual serve de inspiração a esta sociedade que vive em crise
existencial de valores e que elege o dinheiro como meio de afirmação.

      Conhecendo diversas obras amadianas, suscitou o questionamento acerca do
valor da vida humana e, após muitas leituras e análises, chegou-se ao denominador
comum que deveria ser “Cacau” a obra a ser estudada, mas, não como as
pesquisas já encontradas, cujas analisam, muitas vezes, um determinado
personagem e sua participação influente no texto, mas de maneira diferenciada, que
se tornasse um desafio e, ao mesmo tempo, um tema inovador. Neste quesito, foi
pensada a “Arca de Noé”.

      Quando foi possível abordar os dois textos, “Arca de Noé” e “Cacau”,
metaforicamente, encontrando um ambiente comum, inicialmente se tornou mais
que um desafio, pelo fato de muitos perguntarem (e interrogarem de certa maneira)
se daria certo, se seria possível, se havia realmente o que se falar em conjunto
sobre dois ambientes distintos (o mito bíblico e o texto amadiano), mas que
demonstram, no decorrer da análise, serem comuns. Posteriormente, o trabalho
aumentou, tornou-se visível a metáfora da vida humana existente nesses dois
meios, com a sua diferenciação, e o estudo seguiu o trajeto junto com Sergipano
(personagem de “Cacau”).

      A pesquisa ganhou vida própria e a análise e estudo do caso foram se
construindo aos poucos, visando o demonstrativo da fúria do capitalismo acirrado
das sociedades, afinal, trata-se de tempos únicos, uma sociedade antes do dilúvio e
a outra após o dilúvio. São trazidos para o estudo bibliográfico, o Noé da Bíblia e o
Noé (Amado) da sociedade corrompida.

      A organização da pesquisa deu-se de maneira simples e objetiva, inicialmente
trazendo o mito do Noé pré-diluviano, posteriormente tratando da metodologia, que
visa justamente demonstrar o porquê e como se deu esta pesquisa; e, por fim,
buscando confirmações nos teóricos sobre o Noé Amado, cujo transcreve o íntimo
dos trabalhadores cacaueiros, conseguindo assimilar e escrever esta dor das
injustiças e diferenças sociais sofridas por esta classe trabalhadora.

      Tendo se tornado visível esta realidade de flagelo social sofrida por esta
classe marginalizada, compreende-se o pouco valor do ser humano, o qual vale ou
não moedas, pois, o homem nesta sociedade passa a ser visto não pelos seus
valores adquiridos no berço familiar e ao longo da vida, mas pelos bens que possui.

      Eis aqui um exercício de estudo da vida, da imperativa dor humana, a qual é
causada pelo próprio homem mediante a exploração do homem, regida por suas
próprias regras, um universo diferente do divino.
3. “CACAU”, A FOLHA-DÓLAR QUE ATRAI O SERTANEJO



       Neste capítulo, inicialmente é explicado o fenômeno migratório da classe
sertaneja para o Sul da Bahia (mas precisamente Itabuna e Ilhéus); em seguida, é
demonstrado o porquê de Jorge Amado escrever sobre a vida no cacau e por último
traz-se as considerações sobre esta obra “Cacau”, motivação dessa pesquisa
bibliográfica.

       Cacau, de Jorge Amado, inicialmente atrai a atenção do leitor porque amplia
as possibilidades de diálogo com outros discursos, por exemplo, o mito bíblico da
Criação, A Arca de Noé. Então adentrar à leitura desse romance é como principiar
um exercício de percepção de valores míticos, que incluem, inclusive, o mito do
capital.




3.1 Entendendo o fenômeno migratório e as esperanças no Sul do Cacau



       Este capítulo é uma forma de leitura literária dos movimentos migratórios,
desenvolvidos por correntes de trabalhadores sertanejos atraídos por melhores
condições de vida humana. Inicialmente percebe-se que o homem no sertão do
flagelo social têm sérias implicações de natureza climática, de ordem econômica, de
projeto político, de educação escolar e até de espaço social, com motivações de
demandas geográficas.

       Partindo-se do ponto de vista sócio geográfico, a migração tem como
significado um indivíduo ou um grupo de indivíduos que saem de suas fronteiras de
terra em demanda de outros territórios que lhe propiciem melhores condições de
sobrevivência. Muitos são os fatores que causam esse deslocamento, entre eles, o
principal é o fator econômico. As pessoas muitas vezes migram em busca de
trabalho e de melhores condições de vida. (COELHO; TERRA, 2003, p. 339).

       Entendendo que é muito baixo o nível de vida da população nordestina (sem
contar na existência de uma classe dominante que é a minoria da população, que
concentra em suas mãos parte das riquezas regionais), milhões de brasileiros
migram para as demais regiões do Brasil, em busca de se reestruturem
economicamente. Grande parte dessa população flagelada migrou para o sul da
Bahia (Itabuna e Ilhéus), trabalhando nas fazendas de cultivo do cacau, importante
produto de exportação e enriquecimento para uma minoria, e de exploração da força
de trabalho de uma maioria oprimida.

      O cacau é uma planta originária da floresta Amazônica, que se desenvolve a
sombra de outras árvores maiores (cultivo sombreado). Seus frutos, produtos, são
exportados de caminhões e de navios (para o Brasil e para o exterior). É uma das
principais atividades econômicas da Zona da Mata Baiana.

      Sendo a Literatura uma apresentação da realidade, percebe-se, de acordo
com os Estudos Culturais, que os textos literários são transmissores da cultura, que,
na maioria das vezes, é determinada na sociedade por um grupo restrito de
pessoas, “elite”, que impõe como deve ser esse meio social e não dá “voz” aos que
estão à margem, que carregam consigo diversos fardos desde o nascimento, não
por opção, mas por imposição. Portanto, a Literatura é também uma forma de
manifestação social que se utiliza do poder do discurso da Linguagem e da Arte,
vindo esses estudos culturais a serem a prática da teoria literária. É nesse contexto
que a ficção brasileira ganha vida.

      A ficção literária tem fisionomia e comunicação verbal próprias: o povo, a
paisagem, os costumes, os tipos e patologias sociais, os problemas, tudo e todos
integrantes de um mundo brasileiro, mas não por isso menos universal. Muitos foram
os autores que narraram o Brasil em seus romances, fazendo literatura com a “cara”
da nação, entre eles têm-se Jorge Amado, que buscou, nos marginalizados,
histórias para suas obras ficcionais de cunho realista.

      Em se tratando do Sul do cacau, Amado, por ser filho de um proprietário de
fazendas cacaueiras, pôde visualizar o sofrimento dos trabalhadores que viviam na
esperança de crescerem, melhorarem de vida. Aqueles homens que trabalhavam de
sol a sol, e ali chegaram por acharem que, sendo o cacau um fruto lucrativo muito
valioso, iriam com ele enriquecer, mesmo sendo empregados e não detentores do
capital de lucro e das fazendas cacaueiras. Sendo o nordestino um “forte”, como
afirma Euclides da Cunha, esses esperançosos, com todo sofrimento que
passavam, ainda acreditavam que tudo daria certo com o tempo, que parecia não
passar, mesmo passando.

      O fruto cacau seduziu todas as esferas sociais que viveram um jogo de
interesses econômicos. A população de pouca renda nordestina tinha duas opções
de mudança: São Paulo (a grande capital urbana e universo cafeeiro) ou o Sul da
Bahia, onde se encontrava o cheiro do chocolate, as matas cacaueiras. Duas
opções distintas, mas em algum ponto iguais: a ilusão do sucesso era a mesma e a
desilusão também. Muitos migraram para São Paulo, outros não partiram e
enfrentaram a Seca trazida pelo sol e ainda atrelada à existência; e o restante se
arriscou na busca do dólar do Sertão.

      As migrações impulsionadas pela busca do sucesso e pelo cansaço do
fracasso fizeram com que os outros horizontes fossem sempre os melhores e,
portanto, a luta de vida se expandisse e os navios estratificados da Arca que
transportava os trabalhadores sertanejos continuassem a existir, resgatando
grandes levas de trabalhadores do dilúvio da pobreza para as promessas de
abastança no universo cacaueiro. O trabalhador Sergipano é um grande exemplo
desse drama da economia cacaueira.




3.2 A Relação entre Jorge Amado e o Cacau




      Jorge Amado nasceu na fazenda Auricidia, no distrito de Ferradas, município
de Itabuna, no Sul do Estado da Bahia, em 10 de Agosto de 1912. Era filho do
fazendeiro de cacau João Amado de Faria e Eulália Leal Amado. Ao completar dois
anos de idade, junto com a sua família, vai morar em Ilhéus (cidade vizinha a
Itabuna), por conta de uma enchente e de um surto de varíola, uma espécie de
dilúvio epidemiológico, que destruiu a casa e a lavoura da família e que “operou”
entre os homens uma espécie de seleção biológica, tal como a do mito Noé.

      Em Ilhéus, aos poucos a família reestruturou-se financeiramente, e, logo, o
coronel (titulo comprado à Guarda Nacional) João Amado conseguiu comprar outra
fazenda, onde recomeçou a plantar suas roças de cacau, que viriam a inspirar Jorge
posteriormente em seus romances, em meio às lutas políticas, às tocaias e brigas de
jagunços e pistoleiros.

      Jorge Amado cresceu na realidade do cacau, aprendendo então a conviver
com todo tipo de gente, sem preconceito. Anos mais tarde, vai morar em Salvador
para estudar. Aos 13 anos, o padre Cabral, professor de Jorge, recebe uma redação
sua (“O Mar”) e postula que será escritor. Mais tarde, muda-se para o Rio de
Janeiro, pois seus pais almejavam que ele seguisse a carreira de bacharel em
Direito, vindo a se formar posteriormente, mas nunca tendo exercido a profissão. No
Rio de Janeiro, publica seu primeiro romance, O País do Carnaval, que se torna um
sucesso de crítica e de público, animando-o a outras empreitadas. Nesta época,
conhece pessoas importantes tanto na política quanto nas letras, vindo a fazer
novas amizades e a aliar-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).

      Retornando a Ilhéus, interessa-se pelos dramas humanos da zona do cacau,
criando, portanto, o romance Cacau (1933), primeiro do ciclo cacaueiro, que narra à
saga dos nordestinos flagelados, das contradições humanas. Morreu em 06 de
Agosto de 2001, em sua casa no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.

      Tendo visto a realidade desumana de flagelo social vivida pelos trabalhadores
explorados nas fazendas de cacau, o escritor Jorge Amado, em sua ficção, cria um
mundo de outras realidades humanas como forma de crítica ao universo real. Jorge
é um intérprete dessa realidade, e transpôs isso em sua Literatura.



                     A produção literária é uma reflexão sobre o social, sobre as práticas sociais
                     e não apenas uma repetição destas, logo, possibilita-nos perceber o
                     contexto social mais amplo no qual foi produzida. Os romancistas, como os
                     historiadores, vão construindo uma certa história social, vão instituindo uma
                     memória em detrimento de outras, dentro do momento e do contexto em
                     que cada um se encontra. (SOUSA, 2008, p.52)



      Sendo Jorge Amado o Noé do mundo capitalista, cria uma arca literária que
abriga bichos homens em estado de miséria quase extrema, que vão se aventurar,
pois, no mito do Cacau. Na região grapiúna não havia lugar para vagabundos, o
trabalho era duro, a luta sem tréguas (AMADO, 1982, p. 66). Naquela região, a vida
humana valia muito pouco, reinava ali só o fruto valioso; no mais, o ser humano valia
o que tinha. Como os empregados não tinham nada, este era o valor adquirido.
Pagavam com a sua existência a moradia no caro reino. A vida humana continuava
a valer pouco, moeda com que se pagava um pedaço de terra, um sorriso de
mulher, uma parada de pôquer (p.37).

      O romance Cacau é a Arca literária em que as demandas de trabalhadores
navegam para o território das incertezas: a fome, as relações sociais, a violência, as
opressões, entre tantas outras que os marcam, afligem e maltratam. Esses seres
perpassam, portanto, por crises existenciais, que, apesar de serem inerentes à
condição humana, os afloram ainda mais, desde a instabilidade emocional até ao
próprio vazio existencial, onde esses migrantes se questionam sobre sua própria
identidade e seu valor perante a sociedade dominante.

      Jorge traz,na sua obra, uma realidade regional e universal, afinal a nação
converte tradicionalmente esses valores para os impactos da exclusão social. A obra
de Jorge Amado funciona, portanto, como via de acesso à realidade brasileira
extraliterária (GOLDSTEIN, 2003, p.226). Em Cacau, o autor faz uma dura crítica ao
sistema capitalista de relações, pois, demonstra que, apesar de todo sofrimento nas
terras fartas, esses trabalhadores não desistiam da luta pela vitória, e, mesmo em
meio a lágrimas, continuavam a comemorar a vida. Povo alegre, festeiro, otimista e
resistente ao sofrimento é o povo de Jorge Amado (GOLDSTEIN, 2003, p.116).
Porque assim é a Bahia, mistura de beleza e sofrimento, de fartura e fome, de risos
álacres e de lágrimas doloridas (AMADO, 1991, p. 12-13). Amado compreende o
povo e escreve acerca desse povo e suas lutas pela ascensão, pois, por conviver
com essa realidade cacaueira de divisão de classes ele acabou por pertencer de
certa forma a este mundo bipartido de culturas e economias distintas. Vidas opostas
e que se cruzam são a dos empregadores e dos empregados, os quais necessitam
um do outro para que a vida financeira continue acontecendo. Em se tratando da
realidade do fruto valioso, as figuras, na obra em questão, são, pois, transposições
de uma realidade vista e relatada, não precisamente igual, mas muito semelhante,
como afirma Amado:



                     Os personagens das obras de ficção resultam da soma de figuras que se
                     impuseram ao autor, que fazem parte de sua experiência vital. Assim são os
                     coronéis de cacau nos livros onde trato de região grapiúna, nos quais tentei
                     recriar a saga das conquistas da terra e as etapas da construção de uma
                     cultura própria (AMADO, 1982, p. 71-72).
Muitas são as classes relatadas nas obras amadianas, entre putas e
vagabundos, trabalhadores e coronéis, todas personagens de obras ficcionais,
espelho do real. Lutas pelo dinheiro e pela vida fazem parte desses seres meio
humanos, afinal apesar de serem homens sobrevivem como animais.

       A região grapiúna por ser povoada por sergipanos faz desta demanda
humana desbravadores, pois, vão à terras por ora desconhecidas encontrar frutos
valiosos mas para eles não tão lucrativos, afinal acabam pagando com seus
esforços físicos e psicológicos a sobrevivência na “nova casa”. A arca de animais do
mito bíblico se mantém, pois, na sociedade capitalista que imprime regras e reprime
muitos seres humanos.

      Neste prisma, a figura humana do escritor grapiúna Jorge Amado emerge não
somente como a de um grande pensador literário, mas também como uma vítima
das mazelas sofridas pelos migrantes sertanejos que inundavam o Sul cacaueiro.
Dessa forma, Jorge é uma alma marcada pelos estigmas da dor que martirizava o
seu povo convertido – pelos sofrimentos – em personagens de sua obra.




3.3 Um olhar sobre a obra amadiana




      Jorge Amado, pertencente ao grupo chamado de Regionalista, em sua obra
Cacau, trata da saga cacaueira na região Sul da Bahia, tendo como personagem
principal Sergipano, um migrante nordestino que busca mudança e melhoria de vida
nas fazendas do “dólar do sertão”. Nesta obra, Jorge por meio do narrador José
Cordeiro (o Sergipano), relata as opressões, as marginalizações, os flagelos e as
misérias sofridas por essa classe trabalhadora, que acaba vivendo um escravismo
no capitalismo que os sucumbi.

      Com diferentes manifestações culturais, a classe oprimida e a repressora
convivem nas mesmas fazendas, mas com afazeres e estadias distintas. Enquanto
os coronéis aproveitavam-se de seu título de nobreza e capital de lucro para ordenar
e reprimir, os trabalhadores, surrados e suados dessa vida de incertezas
continuavam a aventurar o mito. Sergipano trabalhava e residia na fazenda
Fraternidade, do coronel Mané Fragelo.



                    Mané Fragelo fora um apelido posto na cidade. Pegou. Um flagelo, de fato,
                    aquele homem gordo, de setenta anos, que falava com uma voz arrastada e
                    vestia miseravelmente. Manoel Misael de Souza Telles era o seu verdadeiro
                    nome (AMADO, 2000, p.5).




      Sergipano trabalhava como alugado, bem como os outros, era assim que os
coronéis tratavam os empregados; diminuindo-os, tratando-os como “máquinas de
serviço” somente, algo descartável, que só serve enquanto está funcionando de
acordo com o que os patrões desejam.



                    O termo me humilhava. Alugado...
                    Eu estava reduzido a muito menos que homem [...](AMADO, 2000, p. 23)




      Apesar de a fazenda ter o nome de Fraternidade, esse valor não existia entre
patrão e empregados, solidariedade era uma utopia da classe subalterna e valores
como ética e moral jamais existiram. Ao contrário das sociedades pré-diluvianas,
esta que é sucumbida pelo capitalismo acirrado, visualizada no fruto do cacau,
destrói sentimentos, honra, ilusões e ideais daqueles que buscam trabalhar
honestamente para alcançar o direito à vida. Honestidade se torna uma palavra e
realidade em desuso pela classe dominante, que vive na ganância de imperar no
fruto valioso, tornam-se mercenários e não têm pudores na busca incessante pelo
lucro, atropelam pessoas e não se comovem com a perda de vidas de empregados,
matam os que “sabem demais”. A maldade não tem limites quando o intuito é o
aumento do patrimônio financeiro, os valores humanos inexistem e até o seguimento
familiar é esquecido. Em se tratando de Mané Frajelo, diz um empregado:



                    [...]A alegria desse miserável é fazer mal aos outros. A mãe morreu pedindo
                    esmolas e o irmão vive ai cheio de feridas, vestido que nem a gente.
                    Miserável assim nunca vi. (AMADO, 2000, p. 20)
A história de Sergipano, personagem de “Cacau”, divide-se em três fases:
operário da fábrica de seu pai, trabalhador das roças cacaueiras e por último
tipógrafo no Rio de Janeiro. Antes de entrar no drama do cacau, tinha uma estável
condição financeira, pois seus pais eram donos de uma fábrica, mas, com a morte
de seu pai e as alucinações posteriores de sua mãe, seu tio que tinha ganhado de
seu pai sociedade nos negócios acabara por tornar-se proprietário único da
empresa, pois, segundo ele, para o nome da família não ir para “o brejo” quitou as
inúmeras dívidas deixadas por seu irmão na fábrica e como forma de pagamento se
apropriou do comércio, deixando sua cunhada e sobrinhos ao desamparo. Ficando
pobre, Sergipano partiu para a terra do cacau, região em que os operários falavam
como da terra de Canaã (p. 15), um mito, a prosperidade financeira.

      A vida na roça do Sul da Bahia não foi a imaginada, o eldorado passava longe
daquela realidade inóspita e grotesca, afinal, viviam miseravelmente, pouco comiam,
o dinheiro do suor não dava nem para a alimentação, a despensa ficava com tudo e
o saldo ainda era devedor. Em meio a esta classe humilhada, crianças, desde cedo,
começavam a trabalhar, e não havia tempo para os estudos, cresciam e mal sabiam
falar, os palavrões imperavam, homens feitos quase nenhum sabia ler.



                     Pobres crianças amarelas, que corriam entre o ouro dos cacauais, vestidos
                     de farrapos, os olhos mortos, quase imbecis. A maioria deles desde os
                     cinco anos trabalhava na juntagem. Conservavam-se assim enfezados e
                     pequenos até aos 10 e 12 anos. (AMADO, 2000, p. 70)




      Sergipano, bem como os outros empregados das fazendas, tinha como
filosofia de vida a obediência aos patrões. Trabalhavam de sol a sol, viviam mais
como animais do que como homens, e, naquela terra, a única coisa, que soava bem
para os fazendeiros e que tinha valor, era o cacau. O cacau exercia sobre eles uma
fascinação doentia (AMADO, 2000, p.12). As roças são belas quando carregadas de
frutos amarelos (p. 58).

      As mulheres que ali residiam acabavam se engraçando com os filhos dos
coronéis, os quais as tratavam como mero objeto sexual, tiravam sua honra, usavam
e abusavam e, em seguida, jogavam-nas fora. Defloradas, iam residir na Rua da
Lama e trabalhar como prostitutas. Pobres mulheres, que choravam, rezavam e se
embriagavam na Rua da Lama. Pobres operárias do sexo. Quando chegará o dia da
vossa libertação? (p.57). Enfim, no Sul da Bahia até as mulheres não tinham valor,
juntamente com os empregados e filhos viviam quase fora do mundo, da maneira
que dava, vivendo por viver, aprendendo com a miséria reinante. Olhávamos os
cacaueiros e não achávamos a solução. Se nós não estivéssemos muito
acostumados com a miséria, os suicídios seriam diários. (p.84)

      Poucos conseguiram a libertação das roças dos frutos amarelos, uns fugiram,
outros pagaram para sair e ir embora. Sergipano depois de beijos e caricias trocados
com a filha do coronel, com consciência de classe, vai embora para o Rio de
Janeiro, torna-se tipógrafo e conhece outra esfera de vida em sociedade, em que o
trabalho não é tão duro e tem-se recompensa, ao contrário de muitos anos passados
na Fazenda Fraternidade. Deixou de ser bicho homem e tornou-se gente, digno e
com valores humanos.

      O personagem Sergipano, dessa forma, fecha o ciclo factual de um
determinismo que condena o trabalhador explorado a uma eterna relação de
subserviência e exclusão humana. Também Sergipano fecha um discurso de
inspiração marxista no romance amadiano, no sentido de que o homem oprimido é o
principal agente de sua libertação.

      A guisa de conclusão, este trabalho de estudo literário chega a uma base
irrefutável de que o romance Cacau, de Jorge Amado é um manifesto de afirmação
que trata da exploração do homem pelo homem, quanto das possibilidades que este
tem para promover a sua emancipação, mediante o conhecimento de uma cultura
literária emancipadora em todos os sentidos, inclusive a da própria Arte Literária.
Enfim, Jorge Amado liberta a Literatura e mostra a “cara da terra”, do povo, dos
costumes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS



      Realizou-se o estudo entre a Arca de Noé, texto contido na Sagrada Escritura
e o romance Cacau, obra amadiana, encontrando a metáfora da vida existente nos
dois ambientes. Enquanto a Arca, feita por Noé, visou à salvação das espécies,
Amado demonstra que o navio cacaueiro, arca estratificada, tenta sucumbir e
destruir o ser humano. Por isso, o estudo metafórico entre os ambientes já citados,
deixa-nos a analisar as relações humanas enquanto sociedade e economia no
mundo das desigualdades.
      São denunciadas à sociedade as mazelas do capitalismo. Considerando os
objetivos e hipóteses iniciais a este estudo, confirmou-se a hipótese que condena o
capitalismo como destruidor de sonhos e esperanças de ascensão e como traidor da
classe trabalhadora, que sai de suas terras em busca de crescimento social e
econômico e acaba retornando igual ou pior do que quando partiu.

      Este estudo buscou, em teóricos, aprimoramentos e citações relevantes ao
tema abordado, bem como criou por si um texto que visa o repensar do ser homem
na sociedade vigente, afinal, vive-se como ser humano e age-se como irracional.
Enquanto a arca de Noé salvou os animais da total destruição para que não se
aniquilasse totalmente as espécies, o bicho homem, que tem voz na época presente,
torna-se canibal da sua própria raça.

      Enfim, o estudo de anúncio e denúncia da sociedade contido nas páginas de
Cacau cruza-se com o Gênesis enquanto sociedades distintas, mas sofrem a dor
existencial em universos diferentes, pois, a sociedade pré- diluviana era fraterna e
cultivava valores como moral e ética e, após o corrompimento humano, recebeu o
dilúvio e passou a viver uma era insustentável, bem como a dos dias de hoje.

      Portanto, o estudo monográfico possibilitou a visualização da crueldade
humana, que marginaliza, reprime, sucumbi, menospreza e destrói o seu próximo,
manifestando-se de acordo os interesses próprios. Sendo o texto repleto de
significados e interpretações, este se reescreve e reconstrói a cada leitura, por isso,
esta obra amadiana discute também uma consciência histórica, fato este que se
encontra imbricado nestas páginas de análise; há, pois, o dedo da arte literária
refletida nas diferentes gerações.
REFERÊNCIAS




AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. 39 ed. Rio de
Janeiro: Record, 1991.
AMADO, Jorge. Academia dos Rebeldes. In: SANTANA, Valdomiro. Literatura
Baiana 1920- 1980. Salvador: Casa das Palavras, 2009.
AMADO, Jorge. Cacau. 35. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
AMADO, Jorge. Capitães de Areia. 6. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
AMADO, Jorge. O Menino Grapiúna. Ed. Especial. Rio de Janeiro: Record, 1982.
Bíblia Sagrada. Tradução de Ivo Storniolo. Revista e Corrigida. São Paulo: Pastoral,
1991.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 40. Ed. São Paulo:
Cultrix, 1994.
CÂNDIDO, Antonio. Presença da literatura brasileira. 9. Ed. São Paulo: Difel,
1983.
COELHO, Marcos de Amorim; TERRA, Lygia. Geografia Geral e do Brasil. 1.ed.
São Paulo: Moderna, 2003.
DIAS, Léa Costa Santana. O ciclo do cacau na Bahia: Jorge Amado e as Terras do
sem fim. In: O olhar de Castro Alves: ensaios críticos da literatura baiana.
FONSECA, Aleilton (org.). Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia;
Academia de Letras da Bahia, 2008.
FONSECA, Aleilton. O pêndulo de Euclides. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
GALVÃO, Walnice Nogueira. Metáforas Náuticas. In: Desconversa. 1.ed. Rio de
Janeiro: UFRJ, 1998.
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar.7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. O Brasil Best Seller de Jorge Amado: literatura e
identidade nacional. São Paulo: SENAE, 2003.
HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Tradução de
Adelaine La Guardia Resende. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
JÚNIOR, Benjamim Abdala; CAMPEDELLI, Samira Youssef. Tempos da literatura
brasileira.6. Ed. São Paulo: Ática, 1999.
LOPES, Edward. Metáfora: da retórica à semiótica. 2. Ed. São Paulo: Atual, 1987.
LUCAS, Fábio. As transformações da literatura brasileira no século XX: In: Do
barroco ao moderno. São Paulo: Ática, 1989.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de
metodologia científica. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006.
MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira. 5.ed. São Paulo: Cultrix, 2001.
V.III.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 92. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
SEIXAS, Cid. Triste Bahia. Oh! Quão dessemelhante. Salvador: EGBA, 1996.
SOUZA, Antonio Pereira. Fragmentos de História: contribuições teóricas sobre
história e literatura. Rio de Janeiro: T.mais.oito, 2008.
TORRES, Antonio. Meu querido canibal. 2. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

O campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIX
O campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIXO campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIX
O campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIXUNEB
 
O léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerra
O léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerraO léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerra
O léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerraUNEB
 
Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...
Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...
Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...viviannapoles
 
Tese de doutorado patrícia porto -narrativas memorialísticas_ por uma arte...
Tese de doutorado   patrícia porto  -narrativas memorialísticas_ por uma arte...Tese de doutorado   patrícia porto  -narrativas memorialísticas_ por uma arte...
Tese de doutorado patrícia porto -narrativas memorialísticas_ por uma arte...Universidade Federal Fluminense
 
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris VelascoApostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velascoinstitutobrincante
 
Livro o povo brasileiro - darcy ribeiro
Livro   o povo brasileiro - darcy ribeiroLivro   o povo brasileiro - darcy ribeiro
Livro o povo brasileiro - darcy ribeiroNádia Guimarães
 
Tcc i adriana final oficial
Tcc i adriana final oficialTcc i adriana final oficial
Tcc i adriana final oficialUNEB
 
A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...
A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...
A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...UNEB
 
Metodologia Instituto Brincante
Metodologia  Instituto BrincanteMetodologia  Instituto Brincante
Metodologia Instituto Brincanteinstitutobrincante
 
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo CruzPara uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruzinstitutobrincante
 
Atividade formacao e serviço
Atividade  formacao e serviçoAtividade  formacao e serviço
Atividade formacao e serviçoMARYBACELA
 
MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...
MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...
MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...Patrícia Loebens
 
Jornal pjs 2ª edição
Jornal pjs 2ª ediçãoJornal pjs 2ª edição
Jornal pjs 2ª ediçãoJosue Lima
 
O caipira chico bento
O caipira chico bentoO caipira chico bento
O caipira chico bentoUNIOESTE
 
Débora leite david
Débora leite davidDébora leite david
Débora leite davidliterafro
 

Was ist angesagt? (18)

O campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIX
O campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIXO campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIX
O campo lexical de pessoas em uma carta dde liberdade do século XIX
 
O léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerra
O léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerraO léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerra
O léxico regionalista de jorge amado em tereza batista cansada de guerra
 
Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...
Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...
Ethos e pathos discursivos em semiolinguística: Uma proposta de análise do co...
 
Monografia Cia Soma
Monografia Cia SomaMonografia Cia Soma
Monografia Cia Soma
 
Tese de doutorado patrícia porto -narrativas memorialísticas_ por uma arte...
Tese de doutorado   patrícia porto  -narrativas memorialísticas_ por uma arte...Tese de doutorado   patrícia porto  -narrativas memorialísticas_ por uma arte...
Tese de doutorado patrícia porto -narrativas memorialísticas_ por uma arte...
 
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris VelascoApostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
 
Livro o povo brasileiro - darcy ribeiro
Livro   o povo brasileiro - darcy ribeiroLivro   o povo brasileiro - darcy ribeiro
Livro o povo brasileiro - darcy ribeiro
 
Tcc i adriana final oficial
Tcc i adriana final oficialTcc i adriana final oficial
Tcc i adriana final oficial
 
A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...
A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...
A reprodução do discurso sexista e a dominação masculina uma análise da relaç...
 
Crônica e Conto
Crônica e ContoCrônica e Conto
Crônica e Conto
 
Metodologia Instituto Brincante
Metodologia  Instituto BrincanteMetodologia  Instituto Brincante
Metodologia Instituto Brincante
 
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo CruzPara uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
 
Atividade formacao e serviço
Atividade  formacao e serviçoAtividade  formacao e serviço
Atividade formacao e serviço
 
MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...
MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...
MORRER NO PLURAL: UMA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE A MORTE E A MORTE DE QUINC...
 
Jornal pjs 2ª edição
Jornal pjs 2ª ediçãoJornal pjs 2ª edição
Jornal pjs 2ª edição
 
O caipira chico bento
O caipira chico bentoO caipira chico bento
O caipira chico bento
 
Livro miolo
Livro mioloLivro miolo
Livro miolo
 
Débora leite david
Débora leite davidDébora leite david
Débora leite david
 

Andere mochten auch

TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...
TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...
TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...UNEB
 
A prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovarA prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovarUNEB
 
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...UNEB
 
Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb universidade do estado d...
Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb   universidade do estado d...Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb   universidade do estado d...
Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb universidade do estado d...UNEB
 
Flor do lácio o latim o que quer, oque pode esta língua
Flor do lácio o latim o que quer, oque pode esta línguaFlor do lácio o latim o que quer, oque pode esta língua
Flor do lácio o latim o que quer, oque pode esta línguaUNEB
 
Monografia em Língua Portuguesa
Monografia em Língua PortuguesaMonografia em Língua Portuguesa
Monografia em Língua PortuguesaJose Arnaldo Silva
 
A parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagem
A parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagemA parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagem
A parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagemUNEB
 
TCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira Batista
TCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira BatistaTCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira Batista
TCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira BatistaTiago Batista
 
O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face u...
O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face   u...O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face   u...
O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face u...UNEB
 
A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...
A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...
A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...UNEB
 
Monografia de Trabalho de Graduação apresentada ao Centro de Informátic...
Monografia  de  Trabalho  de  Graduação  apresentada ao Centro de  Informátic...Monografia  de  Trabalho  de  Graduação  apresentada ao Centro de  Informátic...
Monografia de Trabalho de Graduação apresentada ao Centro de Informátic...Andre Carvalho
 
Classes Palavras 7ano
Classes Palavras 7anoClasses Palavras 7ano
Classes Palavras 7anoTeresa Pombo
 
Morfologia. Palavras Variáveis e Invariáveis
Morfologia. Palavras Variáveis e InvariáveisMorfologia. Palavras Variáveis e Invariáveis
Morfologia. Palavras Variáveis e InvariáveisRosalina Simão Nunes
 

Andere mochten auch (14)

TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...
TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...
TCC: As expressões idiomáticas: Histórico e uso contidiano social - Adriana B...
 
A prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovarA prática de literatura no ensino médio como inovar
A prática de literatura no ensino médio como inovar
 
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...Um sertão(tão) filosoficamente jagunço   uma leitura de grande sertão veredas...
Um sertão(tão) filosoficamente jagunço uma leitura de grande sertão veredas...
 
Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb universidade do estado d...
Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb   universidade do estado d...Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb   universidade do estado d...
Os objetivos do curso de letras vernáculas da uneb universidade do estado d...
 
Flor do lácio o latim o que quer, oque pode esta língua
Flor do lácio o latim o que quer, oque pode esta línguaFlor do lácio o latim o que quer, oque pode esta língua
Flor do lácio o latim o que quer, oque pode esta língua
 
Monografia em Língua Portuguesa
Monografia em Língua PortuguesaMonografia em Língua Portuguesa
Monografia em Língua Portuguesa
 
A parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagem
A parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagemA parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagem
A parceria escola e família e as possibilidades para a aprendizagem
 
TCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira Batista
TCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira BatistaTCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira Batista
TCC Letras Português/Inglês UNIUBE Tiago Pereira Batista
 
O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face u...
O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face   u...O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face   u...
O gênero canção e aludicidade nas aulas de língua portuguesa projeto face u...
 
A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...
A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...
A linguagem utilizada nas redes sociais e a interferência nas produções reali...
 
Monografia Adriana Pedagogia 2012
Monografia Adriana Pedagogia 2012Monografia Adriana Pedagogia 2012
Monografia Adriana Pedagogia 2012
 
Monografia de Trabalho de Graduação apresentada ao Centro de Informátic...
Monografia  de  Trabalho  de  Graduação  apresentada ao Centro de  Informátic...Monografia  de  Trabalho  de  Graduação  apresentada ao Centro de  Informátic...
Monografia de Trabalho de Graduação apresentada ao Centro de Informátic...
 
Classes Palavras 7ano
Classes Palavras 7anoClasses Palavras 7ano
Classes Palavras 7ano
 
Morfologia. Palavras Variáveis e Invariáveis
Morfologia. Palavras Variáveis e InvariáveisMorfologia. Palavras Variáveis e Invariáveis
Morfologia. Palavras Variáveis e Invariáveis
 

Ähnlich wie Arca de noé no romance cacau um leitura metafórica

A Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro Lobato
A Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro LobatoA Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro Lobato
A Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro Lobatojaquemiranda
 
Esopo bilbiografia, fábula, importância lingua
Esopo bilbiografia, fábula, importância linguaEsopo bilbiografia, fábula, importância lingua
Esopo bilbiografia, fábula, importância linguaJomari
 
Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...
Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...
Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...UNEB
 
I Simpósio Quilombola 2
I  Simpósio Quilombola   2I  Simpósio Quilombola   2
I Simpósio Quilombola 2culturaafro
 
Dissertação - Samba de Roda
Dissertação - Samba de RodaDissertação - Samba de Roda
Dissertação - Samba de RodaIgor Bulhões
 
A literatura retratada na arte da fotonovela
A literatura retratada na arte da fotonovelaA literatura retratada na arte da fotonovela
A literatura retratada na arte da fotonovelaDirce Cristiane Camilotti
 
Autores presentes na Feira do Livro
Autores presentes na Feira do LivroAutores presentes na Feira do Livro
Autores presentes na Feira do Livromartamedeiros
 
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39Valter Gomes
 
Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011
Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011
Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011Sérgio Pitaki
 
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJAA IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJAVis-UAB
 
olhos-dagua-evaristo-conceicao.pdf
olhos-dagua-evaristo-conceicao.pdfolhos-dagua-evaristo-conceicao.pdf
olhos-dagua-evaristo-conceicao.pdfcanalaleatrio6
 
O rádio como ator
O rádio como atorO rádio como ator
O rádio como atorBarBlanco
 
Cyro na feira do livro de itapé
Cyro na feira do livro de itapéCyro na feira do livro de itapé
Cyro na feira do livro de itapéRoberto Rabat Chame
 

Ähnlich wie Arca de noé no romance cacau um leitura metafórica (20)

A Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro Lobato
A Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro LobatoA Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro Lobato
A Representação do Negro em Obras Infantis de Monteiro Lobato
 
Suri[1]poscrivo.pdf
Suri[1]poscrivo.pdfSuri[1]poscrivo.pdf
Suri[1]poscrivo.pdf
 
Esopo bilbiografia, fábula, importância lingua
Esopo bilbiografia, fábula, importância linguaEsopo bilbiografia, fábula, importância lingua
Esopo bilbiografia, fábula, importância lingua
 
Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...
Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...
Entre missa de galo, a cartomante e outras leituras diálogos entre tradição e...
 
I Simpósio Quilombola 2
I  Simpósio Quilombola   2I  Simpósio Quilombola   2
I Simpósio Quilombola 2
 
Inf historia 9
Inf historia 9Inf historia 9
Inf historia 9
 
Dissertação - Samba de Roda
Dissertação - Samba de RodaDissertação - Samba de Roda
Dissertação - Samba de Roda
 
A literatura retratada na arte da fotonovela
A literatura retratada na arte da fotonovelaA literatura retratada na arte da fotonovela
A literatura retratada na arte da fotonovela
 
Autores presentes na Feira do Livro
Autores presentes na Feira do LivroAutores presentes na Feira do Livro
Autores presentes na Feira do Livro
 
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 39
 
Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011
Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011
Gralha Azul no. 13 - Sobrames Paraná - Julho 2011
 
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJAA IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA
 
olhos-dagua-evaristo-conceicao.pdf
olhos-dagua-evaristo-conceicao.pdfolhos-dagua-evaristo-conceicao.pdf
olhos-dagua-evaristo-conceicao.pdf
 
O rádio como ator
O rádio como atorO rádio como ator
O rádio como ator
 
Literatura portuguesa barroco
Literatura portuguesa barrocoLiteratura portuguesa barroco
Literatura portuguesa barroco
 
Cyro na feira do livro de itapé
Cyro na feira do livro de itapéCyro na feira do livro de itapé
Cyro na feira do livro de itapé
 
23 Um Novo Comeco
23   Um Novo Comeco23   Um Novo Comeco
23 Um Novo Comeco
 
23 Um Novo Comeco
23  Um Novo Comeco23  Um Novo Comeco
23 Um Novo Comeco
 
Um Novo Comeco
Um Novo ComecoUm Novo Comeco
Um Novo Comeco
 
Um Novo Comeco
Um Novo ComecoUm Novo Comeco
Um Novo Comeco
 

Mehr von UNEB

TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraTCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraUNEB
 
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneTCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneUNEB
 
TCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesTCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesUNEB
 
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraTCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraUNEB
 
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoTCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoUNEB
 
Memorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosMemorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosUNEB
 
TCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosTCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosUNEB
 
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaTCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaUNEB
 
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraMonografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraUNEB
 
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazMonografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazUNEB
 
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraMonografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraUNEB
 
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraMonografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraUNEB
 
Monografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraMonografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraUNEB
 
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraMonografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraUNEB
 
Monografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaMonografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaUNEB
 
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosMonografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosUNEB
 
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosMonografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosUNEB
 
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAMONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAUNEB
 
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...UNEB
 
1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e ModerniddeUNEB
 

Mehr von UNEB (20)

TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraTCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
 
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneTCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
 
TCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesTCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges Alves
 
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraTCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
 
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoTCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
 
Memorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosMemorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira Santos
 
TCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosTCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira Santos
 
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaTCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
 
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraMonografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
 
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazMonografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
 
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraMonografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
 
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraMonografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
 
Monografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraMonografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima Oliveira
 
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraMonografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
 
Monografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaMonografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana Miranda
 
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosMonografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
 
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosMonografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
 
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAMONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
 
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
 
1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde
 

Arca de noé no romance cacau um leitura metafórica

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV COLEGIADO DO CURSO DE LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS – LICENCIATURA ANE TARCÍLA ARAÚJO MATOS ARCA DE NOÉ NO ROMANCE CACAU: UMA LEITURA METAFÓRICA Conceição do Coité 2012
  • 2. ANE TARCÍLA ARAÚJO MATOS ARCA DE NOÉ NO ROMANCE CACAU: UMA LEITURA METAFÓRICA Monografia apresentada ao Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Curso de Letras com Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas – Licenciatura, como parte do processo avaliativo para obtenção do grau de Licenciado em Letras. Orientador: Prof. José Plínio de Oliveira Conceição do Coité 2012
  • 3. CONVITE E quando a viola gemer nas mãos do seresteiro na rua Trepidante da cidade mais agitada, não tenhas moça, Um minuto de indecisão. Atende o chamado e vem. A Bahia te espera para sua festa quotidiana. Teus olhos Te encharcarão de pitoresco, mas se entristecerão também Diante da miséria que sobre nestas ruas coloniais onde se Elevaram, violentos, magros e feios, os arranha-céus modernos. (AMADO, 1991, p. 11)
  • 4. DEDICATÓRIA Dedico esta conquista as pessoas mais importantes da minha vida. À minha avó Romilce, uma estrela no céu que ilumina os meus passos diariamente; a melhor pessoa que já conheci em toda a minha existência. Deus precisava de mais u anjo no céu e por isso a tirou da Terra. Aos meus pais, Umberto e Zetinha, por todo esforço e carinho durante toda a minha trajetória, por me ajudarem de todas as maneiras. Ao meu filho Henry, por me fazer entender o significado do verdadeiro amor, por me doar o sorriso mais lindo do mundo, por me fazer feliz nos momentos mais tristes; por me amar como sou. Aos meus familiares e amigos, por sempre estarem na torcida pelo meu sucesso, por compreenderem as minhas ausências e continuarem gostando de mim mesmo quando estive totalmente distante. Ao meu esposo, por estimar meu crescimento, por sempre me aconselhar a seguir em frente, a estudar, a buscar um ideal. Por demonstrar um sentimento forte por mim, mesmo quando nem eu me suportava, quando o nervoso era bem maior do que eu. Aos mestres que tive durante toda a jornada de vida pessoal, estudantil e acadêmica. Essa vitória não é só minha, é nossa!
  • 5. AGRADECIMENTOS À Deus, primeiramente, por me conceder a vida e o direito de usufruí-la. Por trilhar meu caminho, por me fazer chorar para aprender a acertar; por me fazer sorrir e chorar em meio as conquistas. Aos meus pais, por sempre me ensinarem que o estudo é o que de melhor o ser pode ter, e assim lutarem comigo pela graduação. Por sempre estarem do meu lado, auxiliando, apoiando e corrigindo os meus erros. Ao meu filho, o meu grande amor, por entender as minhas ausências nas suas tardes, por me doar o melhor abraço, o melhor beijo, o melhor carinho. Por tão pequeno se preocupar comigo e sempre querer me ver sorrindo. Por me fazer voltar a ser criança como ele, por me proporcionar os melhores momentos. À meu avô Amorzinho, por demonstrar um carinho único, pela sabedoria passada. Por prosear comigo sobre diversos assuntos, auxiliando no meu crescimento. À Everton, meu esposo, por entender minhas falhas, meus estresses, minha correria nesse tempo da graduação. Pôr continuar gostando de mim e me dando o seu melhor, mesmo em meio a turbulências; por sonhar junto comigo com o meu sucesso. À minha família, por me ajudar nesse processo de crescimento intelectual, e natural. Por me incentivar a continuar, mesmo quando pensei que não conseguiria mais. Em especial, às minhas tias Sileide, Romilza e Urânia, que o tempo todo sabiam que eu seria vitoriosa, sempre apostaram em mim, nos meus estudos, na minha vontade e capacidade de crescer. E ainda, por sempre me ajudarem nos momentos difíceis, com conselhos e palavras de conforto, por demonstrarem querer me ver brilhar. Ao meu irmão Juninho e a Antonia, por estarem do meu lado, mesmo quando brigamos, por segurarem minha mão para eu não cair. Por me deixarem muito chateada as vezes, mas depois tudo passar e estarmos rindo de novo juntos.
  • 6. Aos professores da Uneb, em especial Eugênia e Plínio, pois, a primeira foi a que mais brigou comigo durante todos esses anos, e também a que mais me ensinou; e ainda, é ela a que posso dizer que foi a “mãe” que tive na graduação, pois sempre me ajudou, reclamou, puxou a orelha, mas jamais desgostou de mim, ao contrário, sempre mostrou um carinho; o que é recíproco. E ao meu orientador, por ser mais que um companheiro no estudo amadiano, por vibrar comigo nas conquistas e estimar um maior desenvolvimento intelectual para mim, por almejar o mestrado e sempre me deixar otimista. Aos meus colegas e amigos da graduação, por serem mais que uma família temporária, por formarem comigo laços eternos. Por me marcarem na escola da vida e com certeza, por me deixarem muitas saudades de hoje em diante. As serventes da faculdade, por me demonstrarem uma amizade, por sempre quererem me ver alegre, por me desejarem sempre uma boa tarde, pessoas boas e que fazem da instituição não só estudos intelectuais, mas também vivências. A todos, muito obrigada. Vocês foram fundamentais nesta vitória!
  • 7. RESUMO O estudo de a Arca de Noé no romance Cacau: uma leitura metafórica é um exercício de significação acerca das civilizações pré e pós-diluvianas, pois, põe-nos a repensar questões identitárias; enquanto a primeira encontrava-se no limiar entre o angélico e o humano, a segunda vive na “caça” do homem pelo homem no universo sertão. Através do romance Cacau, Jorge Amado demonstra os riscos do mundo capitalista, o qual asfixia e engole as classes que se encontram à margem da sociedade detentora do capital. Tratando do ciclo cacaueiro, fica explícito, nesta obra, a disparidade entre dois grupos sociais: o dos trabalhadores cacaueiros e o dos coronéis, detentores das fazendas dos frutos valiosos. Objetivando estudar o discurso bíblico na obra amadiana, busca-se o estudo metafórico existente nos dois ambientes, no eixo da sobrevivência dos seres. Sendo assim, tratando dos excluídos sertanejos na obra, é pretendido denunciar a hipocrisia da sociedade. Este estudo foi movido por uma metodologia de cunho bibliográfico, voltando-se para obras como Da Diáspora, de Hall (2003); Vidas Secas, de Ramos (2003); O Menino Grapiúna, de Amado (1982); dentre tantas outras que tratam de temas relacionados à vida humana. Estabelecida a relação entre a história bíblica (Arca de Noé) e a Literatura (Cacau), o resultado da pesquisa é relevante pelo fato da confirmação que o capitalismo não traz melhoria de vida à classe marginalizada, ao contrário, faz dos trabalhadores reféns da sociedade de bens; humilhados e menosprezados, vivem subalternamente. Confirma-se, portanto, que o capitalismo não é uma boa escolha para o homem, pois, corrompe valores humanos, os quais eram vividos na sociedade antes do dilúvio. Palavras- chave: Arca de Noé. Sociedade. Capitalismo. Marginalização.
  • 8. ABSTRACT The study of the Ark of Noah in the novel Cocoa: a metaphoric reading is an exercise about the significance of civilizations and post-diluvian there fore brings us to rethink questions of identity, while the first was at the thres hold between the angelic and human lives in the second "game" of man by man in the universe interior. Through out the novel Cocoa, Jorge Amado demonstrates the risk sof the capitalist world, which chokes and swallows the classes that are outside the company that owns the capital. Since the cocoa cycle, is explicit in this work, the gap between two social groups: the workers and the cacao colonels, holders of valuable fruit farms. Aiming at studying the Bible talk amadiana in the work, the study seeks to metaphorical exists in both environments, the axis of the survival of human beings. Thus, treating the excluded backland in the work, is intended to expose the hypocrisy of society. This study was motivated by a bibliographical methodology, turning to such works as The Diaspora, Hall (2003), Barren Lives, Palm (2003),The Boy Grapiúna, Amado (1982), among many others dealing topics related to human life. The relationship between the biblical story (Noah's Ark) and Literature (Cocoa), the search result is relevant because of the confirmation that capitalism does not bring better life to the marginalized class, by contrast, makes workers hostage Society goods, humiliated and despised, living subalternamente. Confirms, therefore, that capitalism is not a good choice for the man, therefore corrupts human values, which were experienced in society before the flood. Keywords: Noah's Ark. Society. Capitalism. Marginalization.
  • 9. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 1. NOÉ E AS CIVILIZAÇÕES PRÉ E PÓS- DILUVIANAS 12 1.1 Comunidade fraterna e o castigo divino 12 1.2 A pombinha pesquisadora de Noé 14 1.3 Jorge Amado, o Noé do dilúvio cacaueiro 16 2. A PESQUISA METODOLOGICA EM “CACAU” 22 2.1 Compreensão de pesquisa bibliográfica 22 2.2 O passo a passo investigado 23 2.3 Entendendo a escolha e a organização da pesquisa 24 3. “CACAU”, A FOLHA DÓLAR QUE ATRAI O SERTANEJO 26 3.1 Entendendo o fenômeno migratório e as esperanças no Sul do Cacau 26 3.2 A relação entre Jorge Amado e o Cacau 28 3.3 Um olhar sobre a obra amadiana 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 REFERÊNCIAS 36
  • 10. INTRODUÇÃO Compreendendo que a Literatura se apropria da linguagem comum ressignificando-a, transformando-a em arte, faz-se representação da realidade, trazendo à tona, na ficção, textos com vida própria, que muito expressam. Jorge Amado, a partir de suas inferências da realidade de flagelo e exclusão econômico- social da classe trabalhadora das fazendas cacaueiras, apresenta, em sua obra “Cacau”, a crueldade do ser homem em relação ao próprio homem, o qual movido pela ganância e falta de solidariedade subestima e aprisiona a sua própria espécie. Amado torna-se, nesta obra, um Noé, bem como o personagem existente na “Sagrada Escritura”, metáfora essa que é a base e a fomentação desse estudo. Estabelecendo uma conexão / relação entre a história bíblica da Arca de Noé, contida no Gênesis, e o romance “Cacau” do autor Jorge Amado, exprimem-se características metaforicamente comuns entre os dois ambientes, afinal, ambos tratam de seleção; enquanto Noé seleciona os animais que adentrarão à Arca, Amado demonstra, em sua obra, os bichos homens flagelados que migram para o Sul da Bahia em busca de ascensão; de melhoria de vida, os quais, desde o momento que entram no navio, sofrem a diferenciação de classe social, igualmente a seleção feita por Noé. Em face desta leitura, podemos questionar: até que ponto essa realidade de flagelo social é imperativa na vida das populações sertanejas do Nordeste Brasileiro, abordadas nesse romance de Jorge Amado? Como entender as relações entre a obra “Cacau” de Jorge Amado e a Arca de Noé, no âmbito da Sagrada Escritura? O escopo do trabalho é a análise da possível ligação existente entre os textos (Cacau e a Arca), correlacionando aspectos de vida nos dois meios. Buscaram-se, nesse viés, referências acerca do tema proposto, para a realização do estudo e escrita do trabalho. Muitas foram as obras selecionadas, dentre elas pode-se citar: Da Diáspora, de Hall (2003); Desconversa, de Galvão (1998); Metáfora, de Lopes (1987); Vidas Secas, de Ramos (2003). Com uma metodologia de caráter bibliográfico, a leitura do objeto investigado averiguará se o capitalismo traiu os grapiúnas sertanejos.
  • 11. O presente texto está dividido em três partes: capitulo primeiro – voltado para as sociedades pré e pós-diluvianas, recontando a história bíblica da Arca de Noé e mostrando posteriormente o Noé (Amado) do capitalismo, que aborda na obra literária (Cacau) a seleção dos bichos homens -; capítulo segundo – que demonstra os passos metodológicos aplicados à pesquisa – e, capítulo terceiro – análise dos textos, traçando a possível relação entre os dois ambientes (Cacau e a Arca de Noé). Enfim, partindo-se de diversas leituras e da extração de informações dos textos, têm-se o resultado do estudo: o trabalho monográfico constituído.
  • 12. 1. NOÉ E AS CIVILIZAÇÕES PRÉ E PÓS- DILUVIANAS Neste capítulo primeiro a análise se debruça no que foi e como se deu a construção da arca de madeira pelo carpinteiro Noé, explicando por ora o porquê da construção dessa Arca e o acordo entre Deus e o carpinteiro. E, principalmente, como o próprio título diz, trata-se da diferenciação das sociedades antes e depois do dilúvio; enquanto a primeira é próspera, feliz e conserva valores como moral e ética, a posterior é totalmente avessa, corrompida pelo capitalismo. Jorge Amado é, pois, nesse momento apresentado como outro Noé, o qual estratifica na obra “Cacau” uma arca, só que com bichos homens, ou melhor, homens que “são” bichos para a sociedade detentora do fruto lucrativo; do cacau. 1.1 Comunidade fraterna e o castigo divino O pensamento inicial sobre as civilizações pré e pós dilúvio, fundadas por Noé, levam o leitor a praticar uma demanda de leitura prévia em que se propõe a estabelecer uma relação de entendimento das linguagens de uma era muito remota que inaugura a trajetória existencial da humanidade. Nesse sentido o leitor se dispõe a compreender um mundo distante do que ele se encontra, também enquanto humano e, portanto, herdeiro dessa história. Compreendendo os aspectos da sociedade existente antes do dilúvio, percebe-se que aquela foi uma era da humanidade fraterna, feliz, inclusiva e solidária no sentido estrito do termo. Antes do dilúvio a humanidade viveu uma era em que provavelmente “casavam-se e davam-se em casamento” (Lc 24, 38-9), ou seja, era um tempo onde a felicidade reinava e não existiam ameaças ou outras formas de opressão, havia prosperidade, alongava-se a dimensão da vida em comunidade, incluindo o outro, atribuindo valor à História da humanidade na Terra. Nesta era não havia ódio entre os homens, fome, pobreza, miséria, pedofilia, desemprego, violência contra a mulher, preconceito, mas sim amor e cultivo dos
  • 13. sentimentos mais elevados. Esta sociedade teve um único pecado: caiu em uma espécie de abismo existencial, matando a cultura, bem como valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade em que também sucumbimos – por conseqüência e cujos ônus ainda persistem neste tempo presente. Uma civilização que desobedeceu às orientações do Criador e que teve o dilúvio como forma de expiação, deixou-nos o seguinte legado: Por conta do arrependimento de Deus de ter posto o homem na Terra, pelo fato da malícia (corrupção) deste perante os valores proclamados pela divindade, o Criador com muita dor e compaixão resolveu destruir o ser por ele criado, estendendo, pois, sua vingança desde o homem até todas as espécies de animais (os que voavam, que se arrastavam e que andavam). Naquele contexto, Deus se viu diante de Noé, um homem justo e perfeito, filho de Lamec, um dos grandes patriarcas da origem humana, e que andou com Ele todo o tempo. Noé havia gerado três filhos: Sem, Cam e Jafé, os quais assim como Noé, tinham mulheres. O Criador, então, em face da Terra corrompida pela criatura humana, manda Noé fazer uma arca de madeira, com três andares, para que ele e sua família, bem como um casal de cada animal existente no Planeta (na intenção de não aniquilar totalmente as espécies no Universo existentes, e sim restar destas um casal para procriar e povoar o meio ambiente mais tarde) pudessem, assim, salvar-se do castigo ou da vingança; dizendo ele a Noé, que mandaria um dilúvio de águas sobre o Planeta Terra e que faria perecer todas as espécies viventes que existissem debaixo do céu e que consumiria tudo que estivesse sobre a Terra. Mandou ainda Noé depositar na Arca todos os estoques de víveres, destinados à segurança alimentar e nutricional da sua família e das espécies da fauna então recolhida nos espaços próprios da Arca. No momento em que o Senhor conversa com Noé, este fala o porquê de o estar salvando, enfatizando o quanto ele foi justo diante do homem, ao contrário dos outros homens que viviam no Planeta. Sete dias se passaram, a chuva começou a cair, Noé com toda a sua família e as espécies da fauna estavam dentro da Arca. As cataratas do céu foram abertas, chovendo, pois, quarenta dias e quarenta noites. As águas da chuva foram tão fortes, a ponto de elevar a Arca (construída por Noé sob orientação divina) muito alta por cima da Terra, levando-a sempre sobre a Terra. Tudo foi coberto pelas águas, o
  • 14. Planeta inundou-se, todas as espécies de animais morreram, os homens pereceram e tudo o que havia abaixo do céu não resistiu, chegando ao fim, a não ser os seres que estavam na Arca, únicos que ficaram com vida. As águas só aumentavam com os dias, e a chuva cobriu a superfície terrestre por cento e cinquenta dias. 1.2 A Pombinha pesquisadora de Noé O Senhor, lembrando-se do acordo por ele feito com Noé, que após cento e cinqüenta dias as águas cessariam, mandou um vento forte sobre o Planeta para a diminuição das águas, fez com que as chuvas parassem e as águas de cima da Terra se retirassem. Quarenta dias se passaram, a arca estava estacionada sobre o monte Arará, situado na atual Armênia, Noé resolveu abrir a janela da Arca e deixou sair um corvo, o qual não retornou antes das águas que estavam sobre a terra se secarem; em seguida Noé soltou uma pomba, a qual desenvolveu uma espécie de pesquisa para Noé, pois, esta foi averiguar se as águas já haviam se retirado de cima da Terra, como isso ainda não tinha acontecido e a pombinha não teve onde pousar, pelo fato das águas ainda estarem na superfície terrestre, esta retornou à Arca, voltando a sair somente depois de mais sete dias, retornando também para à Arca, mas só no final da tarde e trazendo no bico um ramo de oliveira, que Noé leu como um texto narrando a retirada das águas. Uma espécie de carta de despedida. Ainda assim Noé esperou mais sete dias, e novamente deixou a pomba ir, a qual não retornou a Arca, tendo Noé entendido que as águas haviam cessado e que este era o momento de abrir a Arca e sair com todas as espécies, pois, já haviam se salvado. Noé abriu o teto da Arca e viu que a superfície terrestre estava seca; o Senhor, portanto, mandou Noé se retirar da Arca, com todos que lá estavam, pois, deviam sair para procriar e povoar a terra; e assim foi feito. Deus, enfim, resolveu que não mais amaldiçoaria a Terra, que não mais encerraria o ciclo de vida através do dilúvio e disse ao lavrador (Noé) que daquele momento por diante o que haveria de acontecer eram exatamente punições de acordo o cometido, por exemplo, se o homem cometesse derramamento de sangue, ele ira responder (pagar) por isso. E este foi o último acerto de Deus com Noé.
  • 15. Com a leitura da Arca de Noé visualiza-se a pombinha como um símbolo/ representação de sobrevivência, ela mesma se tornou para Noé uma pesquisadora, pois, dialoga com a Terra a possibilidade de vida. Sem muitas características acerca da pombinha, suscitam-se indagações sobre sua cor, seu aspecto físico e mesmo o seu tamanho, que são dados ainda desconhecidos e que nos faz pensar na teoria do ocultismo para a não existência do preconceito, ou seja, o texto bíblico em nenhum momento revela se a pomba é ou não branca, para que não pensemos sobre questões humanas como a cor e a raça. Contudo, Noé compreende os resultados da pesquisa da pombinha, ele vai lendo os resultados trazidos por ela, desde o momento em que ela sai à primeira vez, retornando para a Arca com os pés sujos de lama, fazendo Noé entender que as águas ainda reinam e que não é o momento de sair; bem como quando volta pela última vez trazendo no bico uma folha verde de oliveira, representando para o patriarca Noé uma grande leitura: a existência do verde, do surgimento de alimento, da esperança de vida. É perceptível, pois, a importância da pesquisa da pombinha, ela coleta dados pacientemente, esforçando-se a todo tempo e sendo perseverante, bem como tem todo um cuidado em realizar a seleção dos dados colhidos no momento de passá- los para Noé, que codifica essas informações. A Arca também é convertida em um laboratório de pesquisa, pois é nesse lócus que os dados da pombinha são tratados e interpretados, para logo depois serem passados para o outro, para o mundo, enfim para posteridade. No momento da pesquisa a pombinha faz deslocamentos e movimentos tanto no sentido físico como no intelectual, pois é uma pesquisa de caráter sustentável, capaz de garantir a plenitude à humanidade, afinal à pombinha nos ensina que os resultados de uma prática de pesquisa são destinados à melhoria da qualidade do mundo enquanto espaço humano. Portanto, faz-se visível que o corrompimento humano não é culpa da pombinha, mas sim dos desejos e vontades do ser, que elevados pela vaidade e ganância acabaram motivados por vontades contrárias a do Pai Criador. Nesta perspectiva de leitura, cabe ao mundo contemporâneo empreender a releitura dos resultados da pesquisa da pombinha, visando agora a realizar a ortopedia desse mundo. Esse símbolo dialoga, portanto, com a sociedade pós- diluviana, com o “Cacau”, em que Jorge Amado é, pois, um outro Noé.
  • 16. 1.3 Jorge Amado, o Noé do dilúvio cacaueiro A cultura brasileira no ano de 1922 buscava afirmar-se através da Semana de Arte Moderna, um verdadeiro dilúvio de linguagens, ocorrida em São Paulo, sendo um movimento no qual as estruturas envelhecidas da arte e da Literatura no Brasil ansiavam por se equiparar às da Europa com todas as suas vanguardas. Os ideais da semana de 22 eram voltados a propostas nacionalistas, ou seja, ao desejo de fazer uma Literatura calcada na realidade brasileira. A Literatura de 1930 aparece, pois, com duas vertentes paralelas: a corrente regionalista (que diz respeito tanto ao meio rural quanto às zonas suburbanas das grandes capitais) e a corrente psicológica (que faz a analise do comportamento humano por si mesmo e em face de outros). Têm-se, portanto, a relação do homem com o meio, que é a matéria-prima do regionalismo, com um conceito de afirmação da realidade brasileira. A ficção brasileira tem fisionomia e comunicação verbal próprias: o povo, a paisagem, os costumes, os tipos e patologias sociais, os problemas, tudo e todos integrantes de um mundo brasileiro, mas não por isso menos universal. Muitos foram os autores que narraram o Brasil em seus romances, fazendo Literatura com a “cara da nação”, entre eles figura Jorge Amado. A importância de Jorge Amado veio do caráter seco, participante e, todavia lírico dos seus primeiros livros, que descrevem a miséria e a opressão do trabalhador rural e das classes populares. [...] Um dos traços característicos da sua maturidade foi a mistura de realismo e romantismo, de poesia e documento, voltando-se para os pobres, para a humanidade da gente de cor da sua terra, que apresenta com uma simpatia calorosa, um vivo senso do pitoresco, e, sempre, um imperativo de justiça social sobrepairando a narrativa. (CÂNDIDO, 1983, p. 271). Amado demonstra em seus escritos uma mistura de passado e presente, pois, fatos por ele dantes pronunciados caracterizam a sociedade deste século também. O romance realista de Jorge Amado tem a peculiaridade de trabalhar as questões sociais de forma muito acentuadas. As relações entre homens, sociedade e capitalismo são tratadas com toda a crueza típica do mundo dos conflitos e das
  • 17. contradições enfrentadas pelas classes oprimidas, na perspectiva da subsistência material. Jorge Amado escreve, pois, de acordo com a realidade, vindo a Literatura a se constituir com base na visualização desta, que a partir do reflexo visto, desenvolve-se, sendo esta sobrecarregada de significação; utiliza-se das mais diferentes linguagens, para criar a partir da palavra uma imitação (mimese) do já existente. Jorge Amado é o ficcionista mais popular do país. Sua obra tem se caracterizado pela adesão afetiva do narrador aos fatos que relata. (JUNIOR; CAMPEDELLI, 1999, p. 261). A década de 30 traz marcada na Literatura a ênfase do social, voltando-se para os problemas regionalistas enfrentados pelo país; de cunho popular, trata dos problemas do povo brasileiro a partir da escrita narrativa da língua falada pelos diversos setores humanos. É como relata Cândido (1983, p. 123) um romance fortemente marcado de neonaturalismo e de inspiração popular, visando aos dramas contidos em aspectos característicos do país. Jorge é um escritor que junto com Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo, e outros, integram o modernismo brasileiro, pertencente ao grupo chamado “Regionalista”, que tem esse nome dado pela crítica por conta de denunciarem e anunciarem a vida do povo nordestino. Sendo Jorge um dos maiores romancistas de nosso país (DIAS, 2008, p. 234), percebe-se em seus escritos o amor pelo seu povo e pela Bahia, sempre retratando a realidade destes dois signos em seus escritos. Bosi (1994) diz ser Jorge Amado o contador de histórias regionais adaptadas em seus romances, utilizando na grande maioria das vezes de uma linguagem de baixo calão, que veio trazer o populismo literário para as suas narrativas. Ainda segundo tal crítico literário, o autor divide a sua obra em fases da vida baiana, demonstrando o seu gosto por temas sociais e pela Bahia. É, pois, conhecido como um escritor popular, justamente pelo fato de trazer o povo em suas histórias, ele conta sobre esse povo, sobre essa classe marginalizada, sem vez e sem voz; há então na sua arte literária a reinterpretação histórica dessa Bahia por ele tão querida, mas tão cheia de contradições na questão humanitária de valores.
  • 18. Assim, é perceptível na obra “Cacau”, essa conotação peculiar da Linguagem, afinal, encontramos nesses escritos um realismo premeditadamente intoxicado de historicidade, onde a exclusão é uma forte característica. No romance “Cacau”, o autor deixa explicita a ganância humana, onde há a exploração do homem pelo homem na busca do capital. O cacau, conhecido como o dólar do sertão, traz a idéia de ascensão para os nordestinos, que iludidos com o suposto crescimento de vida saem da sua terra natal e vão trabalhar nas fazendas do sul da Bahia, demonstrando o fenômeno da migração sertaneja (que em geral é impulsionado pelas expectativas de conquistar melhores condições de vida), dos indivíduos castigados pela seca e marcados pela pobreza, que visam a ter a sua força de trabalho reconhecida e esperam serem melhor remunerados. Os migrantes trabalhadores viajam de trem; das estações mais próximas dos seus lugares de origem até a capital mais desenvolvida; de cujo porto sai o navio para o Sul, sofrendo desde esse momento a seleção de classes em vagões de passageiros, bem como a feita por Noé, para entrar nas camadas estratificadas da Arca. O autor demonstra, portanto, uma visão critica do país, onde, denuncia a exploração dos trabalhadores que são esmagados pela opressão capitalista nesse universo sertão, onde, nem as crianças têm mais esperança de ascensão de vida. Caatingas do sertão, dor das florestas sertanejas, o manso andar do trem sertanejo. Homens de alpercatas e chapéu de couro. Crianças que estudam para cangaceiros na escola da miséria e da exploração do homem. (AMADO, 2008, p. 248) Estes homens sofrem todo tipo de exploração, são menosprezados e vivem em condições subumanas de sobrevivência, trabalham como animais e devem além do que recebem aos coronéis, configurando uma realidade verdadeiramente inferior e injusta, na qual o homem passa a ser devorado pelos obstáculos que o meio e a condição de vida estão o infligindo. A narração desta obra se deve a um ex- trabalhador destas fazendas cacaueiras, conhecido como Sergipano, que depois de conseguir mudar o rumo da sua vida resolve contar a vida de miséria dos trabalhadores do cacau nessa sociedade distinta, onde poucos têm muito e muitos
  • 19. não têm nada. Além de tudo, os que detêm o capital ainda tiram o pouco que os trabalhadores conseguem obter com o trabalho duro e suado que exercem. [...] Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que será que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo essas pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias. (RAMOS, 2003, p. 94) Os coronéis são os homens detentores do capital, um mundo diferente do dos trabalhadores, que pagam com o seu suor a sua sobrevivência; [...]a culpa era da sociedade mal organizada, era dos ricos [...](AMADO, 2008, p. 112), eles trabalhavam de sol a sol e pouco ou nada obtinham. A despensa levava todo nosso saldo. A maioria dos trabalhadores devia ao coronel e estava amarrada à fazenda. (AMADO, 2000, p.5) [...] Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar a carta de alforria! (RAMOS, 2003, p. 94) Jorge, portanto, compreende o universo psicológico de seus personagens, nesta obra “Cacau”, por exemplo, ele denúncia à exploração sofrida pelos trabalhadores, demonstrando as lutas físicas e mentais que eles sofrem. Na obra de Jorge Amado compreende-se, pois, a diferença dessa sociedade pós-diluviana para a anteriormente citada. A civilização pós-diluviana é marcada por contradições existenciais, é uma sociedade muito pouco fraterna. O homem nesta, encontra-se indignado com o dilúvio e tenta imprimir na Terra a marca da sua presença eterna, que agora luta para resistir ao dilúvio capitalista que visa arrastar o ser humano para o abismo da desumanização. Este ser humano sofre, pois, com a falta de sentimentos, os quais reinaram por muito tempo na sociedade pré-diluviana, homem este que esta causando a sua própria extinção, diariamente comete erros
  • 20. com sua própria raça, derrama seu próprio sangue, impede as crianças e adolescentes de tentarem trazer fraternidade e prosperidade a este mundo. O homem aqui pensa somente em si, não olha o próximo, visa tão somente seu crescimento material, nem enxerga a sua interioridade, muitas vezes nem conhece a si mesmo, mas, é capaz de atos de carnificina contra o outro, é um ser de muita coragem e muita falta de amor por si próprio e pelo próximo. Contudo, percebe-se que as crises existenciais e os problemas mentais perduram nessa sociedade em crise, e este é um fator relevante no quesito da desumanização profunda em que esta sociedade está imbricada. Seres fortemente marcados com as corrupções e degenerações do século vigente. Deus avisou a Noé o quanto a sociedade pré-diluviana havia errado e explicou o porquê do dilúvio, mas, esta atualidade vai além dos erros passados, comete homicídios, suicídios, vivem em preconceitos, não aceita as diferenças de raça e humanas, mata crianças que nem tiveram tempo de escolher os seus destinos, esta comunidade não se deu conta do mal que esta causando a si mesma e não entende a dor que o Pai Criador está sentindo com a perda de valores éticos e humanos desta sociedade. Mediante a práxis da leitura empreendida pela pombinha, fica evidente que o antídoto contra os malefícios do capitalismo é a prática da leitura e do cultivo dos sentimentos mais elevados, ainda que os dilúvios das contradições capitalistas tentem encurralar os homens nos porões das arcas das favelas, das prisões, das sarjetas, das ruas, dos flagelos e das segundas-classes dos navios que transportam trabalhadores a serem escravizados nas grandes fazendas de Cacau, o que se conclui é uma imperativa construção de uma sociedade capaz de interpretar o homem no prisma de uma história em que direitos, justiça e igualdade constituem as bases de estabelecimento de uma sociedade fraterna. O dilúvio marca, portanto, o fim de uma sociedade insustentável pelas contradições criadas pelo próprio homem, na mesma perspectiva em que se estabelece uma nova era material, ou seja, de um novo mundo em que a pessoa humana supera todas as mazelas que fizeram sucumbir o que existiu antes. É assim também o capitalismo contemporâneo, com todas as suas formas de injustiças, que inspiram o escritor Jorge Amado a criar o seu mundo literário.
  • 21. 2 A PESQUISA METODOLÓGICA EM “CACAU” No capítulo vigente têm-se os preceitos metodológicos que direcionam o estudo de caso, discorrendo sobre as técnicas aplicadas na pesquisa, explicando como se deu a investigação e a escolha do tema, bem como se desenvolveu a coleta de dados, análise e seleção das informações acerca dos textos suportes da pesquisa. Do ponto de vista metodológico o estudo da obra Cacau, de Jorge Amado, requer uma acentuada leitura dos pressupostos que orientam as relações de leitor para com a arte modernista, porque esse autor integra a plêiade de escritores surgidos naquele contexto literário. 2.1 Compreensão de pesquisa bibliográfica Neste capítulo, são abordadas as bases metodológicas que organizam esta pesquisa bibliográfica. A metodologia é um conjunto de técnicas, procedimentos, métodos e regras que servem de indicativo da realização da pesquisa, ou seja, demonstra as etapas do processo de estudo, análise e produção do texto. Entendendo por técnica “um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte [...]” (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 176), o estudo bibliográfico realizado além de se debruçar sobre a bibliografia já pública, traz à tona um novo estudo, uma nova proposta sobre o assunto. Portanto, Marconi e Lakatos (2006, p. 71) definem a pesquisa bibliográfica como o levantamento, a seleção e a documentação de toda bibliografia [...]. Este trabalho teve um caráter bibliográfico, justamente por se utilizar de leituras. O método de abordagem utilizado foi o hipotético-dedutivo, pois na elaboração do trabalho criaram-se hipóteses como pressupostos dos que buscam comprovações aos questionamentos iniciais para o estudo do caso em questão.
  • 22. Corroborando, de acordo às leituras e às análises realizadas, a terceira hipótese contida no Projeto de Pesquisa, cuja trata que se a realidade de flagelo social impera na vida dos grapiúnas sertanejos, o capitalismo pode ter traído essa demanda de trabalhadores, ou seja, iludiu-os, fez com que tivessem esperança de ascensão econômico-social e agiu contrariamente, deixando-os miseravelmente e à margem de tudo e de todos. Enfim, conclui-se pois, a perversidade da dominação capitalista que submete e massacra os trabalhadores oprimidos. Os procedimentos aplicados foram o histórico, revisitando a Sagrada Escritura; o comparativo, visualizando a metáfora entre os dois textos que tratam da seleção de animais e do bicho homem; e ainda, e principalmente, o monográfico (estudo de caso), examinando minuciosamente diversas bibliografias e escrevendo concretamente acerca do tema proposto. A fenomenologia teve uma abordagem qualitativa, com etapas investigativas e diversas informações da analise acerca do tema em foco, buscando compreender os dados significativos da pesquisa, descrevendo-os e investigando-os diretamente. 2.2 O passo a passo investigado A leitura e a análise do romance “Cacau”, de Jorge Amado e da história bíblica da “Arca de Noé”, presente na Sagrada Escritura, foram as primeiras etapas investigativas na relação da arca estratificada. Posteriormente, durante o levantamento, fichamento e análise bibliográfica, outros livros foram selecionados e acrescidos a este estudo, como “Da Diáspora”, de Hall (2003); “Desconversa”, de Galvão (1998); “Metáfora”, de Lopes (1987); “História da Literatura Brasileira”, de Moisés (2001); “História Concisa da Literatura Brasileira”, de Bosi (1994); “As Transformações da Literatura Brasileira no século XX”, de Lucas (1989); “O Menino Grapiúna”, de Amado (1982); “Bahia de Todos os Santos”, de Amado (1991); “Fragmentos de História”, de Souza (2008); “Vidas Secas”, de Ramos (2003); dentre tantos outros que também foram somados a este estudo bibliográfico.
  • 23. Além dos textos em análise, as diversas leituras feitas em outras obras enriqueceram de informações o tema em foco, pois, extraíram-se dos teóricos, citações e comentários importantes para a constituição do trabalho. Sendo assim, a coleta de dados acerca do tema proposto foi um estudo acima de tudo cultural, por conta de englobar a vida de trabalhadores nas fazendas cacaueiras, com aspectos relacionados as explorações e mazelas sofridas por essa classe marginalizada e desprezada pela sociedade detentora do capital de lucro. Portanto, este estudo literário analisa questões relacionadas à vida humana, buscando demonstrar o imperativo sofrimento de uma classe; através do eixo da análise e interpretação dos textos. Conclui-se que é uma pesquisa bibliográfica importante no quesito de apresentação e representação da vida humana. 2.3 Entendendo a escolha e a organização da pesquisa A escolha do tipo de pesquisa foi feita por questão de afinidade com a área da Literatura Brasileira. O autor selecionado aconteceu pelo fato da sua critica e sua denúncia social, a qual serve de inspiração a esta sociedade que vive em crise existencial de valores e que elege o dinheiro como meio de afirmação. Conhecendo diversas obras amadianas, suscitou o questionamento acerca do valor da vida humana e, após muitas leituras e análises, chegou-se ao denominador comum que deveria ser “Cacau” a obra a ser estudada, mas, não como as pesquisas já encontradas, cujas analisam, muitas vezes, um determinado personagem e sua participação influente no texto, mas de maneira diferenciada, que se tornasse um desafio e, ao mesmo tempo, um tema inovador. Neste quesito, foi pensada a “Arca de Noé”. Quando foi possível abordar os dois textos, “Arca de Noé” e “Cacau”, metaforicamente, encontrando um ambiente comum, inicialmente se tornou mais que um desafio, pelo fato de muitos perguntarem (e interrogarem de certa maneira) se daria certo, se seria possível, se havia realmente o que se falar em conjunto sobre dois ambientes distintos (o mito bíblico e o texto amadiano), mas que
  • 24. demonstram, no decorrer da análise, serem comuns. Posteriormente, o trabalho aumentou, tornou-se visível a metáfora da vida humana existente nesses dois meios, com a sua diferenciação, e o estudo seguiu o trajeto junto com Sergipano (personagem de “Cacau”). A pesquisa ganhou vida própria e a análise e estudo do caso foram se construindo aos poucos, visando o demonstrativo da fúria do capitalismo acirrado das sociedades, afinal, trata-se de tempos únicos, uma sociedade antes do dilúvio e a outra após o dilúvio. São trazidos para o estudo bibliográfico, o Noé da Bíblia e o Noé (Amado) da sociedade corrompida. A organização da pesquisa deu-se de maneira simples e objetiva, inicialmente trazendo o mito do Noé pré-diluviano, posteriormente tratando da metodologia, que visa justamente demonstrar o porquê e como se deu esta pesquisa; e, por fim, buscando confirmações nos teóricos sobre o Noé Amado, cujo transcreve o íntimo dos trabalhadores cacaueiros, conseguindo assimilar e escrever esta dor das injustiças e diferenças sociais sofridas por esta classe trabalhadora. Tendo se tornado visível esta realidade de flagelo social sofrida por esta classe marginalizada, compreende-se o pouco valor do ser humano, o qual vale ou não moedas, pois, o homem nesta sociedade passa a ser visto não pelos seus valores adquiridos no berço familiar e ao longo da vida, mas pelos bens que possui. Eis aqui um exercício de estudo da vida, da imperativa dor humana, a qual é causada pelo próprio homem mediante a exploração do homem, regida por suas próprias regras, um universo diferente do divino.
  • 25. 3. “CACAU”, A FOLHA-DÓLAR QUE ATRAI O SERTANEJO Neste capítulo, inicialmente é explicado o fenômeno migratório da classe sertaneja para o Sul da Bahia (mas precisamente Itabuna e Ilhéus); em seguida, é demonstrado o porquê de Jorge Amado escrever sobre a vida no cacau e por último traz-se as considerações sobre esta obra “Cacau”, motivação dessa pesquisa bibliográfica. Cacau, de Jorge Amado, inicialmente atrai a atenção do leitor porque amplia as possibilidades de diálogo com outros discursos, por exemplo, o mito bíblico da Criação, A Arca de Noé. Então adentrar à leitura desse romance é como principiar um exercício de percepção de valores míticos, que incluem, inclusive, o mito do capital. 3.1 Entendendo o fenômeno migratório e as esperanças no Sul do Cacau Este capítulo é uma forma de leitura literária dos movimentos migratórios, desenvolvidos por correntes de trabalhadores sertanejos atraídos por melhores condições de vida humana. Inicialmente percebe-se que o homem no sertão do flagelo social têm sérias implicações de natureza climática, de ordem econômica, de projeto político, de educação escolar e até de espaço social, com motivações de demandas geográficas. Partindo-se do ponto de vista sócio geográfico, a migração tem como significado um indivíduo ou um grupo de indivíduos que saem de suas fronteiras de terra em demanda de outros territórios que lhe propiciem melhores condições de sobrevivência. Muitos são os fatores que causam esse deslocamento, entre eles, o principal é o fator econômico. As pessoas muitas vezes migram em busca de trabalho e de melhores condições de vida. (COELHO; TERRA, 2003, p. 339). Entendendo que é muito baixo o nível de vida da população nordestina (sem contar na existência de uma classe dominante que é a minoria da população, que concentra em suas mãos parte das riquezas regionais), milhões de brasileiros
  • 26. migram para as demais regiões do Brasil, em busca de se reestruturem economicamente. Grande parte dessa população flagelada migrou para o sul da Bahia (Itabuna e Ilhéus), trabalhando nas fazendas de cultivo do cacau, importante produto de exportação e enriquecimento para uma minoria, e de exploração da força de trabalho de uma maioria oprimida. O cacau é uma planta originária da floresta Amazônica, que se desenvolve a sombra de outras árvores maiores (cultivo sombreado). Seus frutos, produtos, são exportados de caminhões e de navios (para o Brasil e para o exterior). É uma das principais atividades econômicas da Zona da Mata Baiana. Sendo a Literatura uma apresentação da realidade, percebe-se, de acordo com os Estudos Culturais, que os textos literários são transmissores da cultura, que, na maioria das vezes, é determinada na sociedade por um grupo restrito de pessoas, “elite”, que impõe como deve ser esse meio social e não dá “voz” aos que estão à margem, que carregam consigo diversos fardos desde o nascimento, não por opção, mas por imposição. Portanto, a Literatura é também uma forma de manifestação social que se utiliza do poder do discurso da Linguagem e da Arte, vindo esses estudos culturais a serem a prática da teoria literária. É nesse contexto que a ficção brasileira ganha vida. A ficção literária tem fisionomia e comunicação verbal próprias: o povo, a paisagem, os costumes, os tipos e patologias sociais, os problemas, tudo e todos integrantes de um mundo brasileiro, mas não por isso menos universal. Muitos foram os autores que narraram o Brasil em seus romances, fazendo literatura com a “cara” da nação, entre eles têm-se Jorge Amado, que buscou, nos marginalizados, histórias para suas obras ficcionais de cunho realista. Em se tratando do Sul do cacau, Amado, por ser filho de um proprietário de fazendas cacaueiras, pôde visualizar o sofrimento dos trabalhadores que viviam na esperança de crescerem, melhorarem de vida. Aqueles homens que trabalhavam de sol a sol, e ali chegaram por acharem que, sendo o cacau um fruto lucrativo muito valioso, iriam com ele enriquecer, mesmo sendo empregados e não detentores do capital de lucro e das fazendas cacaueiras. Sendo o nordestino um “forte”, como afirma Euclides da Cunha, esses esperançosos, com todo sofrimento que
  • 27. passavam, ainda acreditavam que tudo daria certo com o tempo, que parecia não passar, mesmo passando. O fruto cacau seduziu todas as esferas sociais que viveram um jogo de interesses econômicos. A população de pouca renda nordestina tinha duas opções de mudança: São Paulo (a grande capital urbana e universo cafeeiro) ou o Sul da Bahia, onde se encontrava o cheiro do chocolate, as matas cacaueiras. Duas opções distintas, mas em algum ponto iguais: a ilusão do sucesso era a mesma e a desilusão também. Muitos migraram para São Paulo, outros não partiram e enfrentaram a Seca trazida pelo sol e ainda atrelada à existência; e o restante se arriscou na busca do dólar do Sertão. As migrações impulsionadas pela busca do sucesso e pelo cansaço do fracasso fizeram com que os outros horizontes fossem sempre os melhores e, portanto, a luta de vida se expandisse e os navios estratificados da Arca que transportava os trabalhadores sertanejos continuassem a existir, resgatando grandes levas de trabalhadores do dilúvio da pobreza para as promessas de abastança no universo cacaueiro. O trabalhador Sergipano é um grande exemplo desse drama da economia cacaueira. 3.2 A Relação entre Jorge Amado e o Cacau Jorge Amado nasceu na fazenda Auricidia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, no Sul do Estado da Bahia, em 10 de Agosto de 1912. Era filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e Eulália Leal Amado. Ao completar dois anos de idade, junto com a sua família, vai morar em Ilhéus (cidade vizinha a Itabuna), por conta de uma enchente e de um surto de varíola, uma espécie de dilúvio epidemiológico, que destruiu a casa e a lavoura da família e que “operou” entre os homens uma espécie de seleção biológica, tal como a do mito Noé. Em Ilhéus, aos poucos a família reestruturou-se financeiramente, e, logo, o coronel (titulo comprado à Guarda Nacional) João Amado conseguiu comprar outra fazenda, onde recomeçou a plantar suas roças de cacau, que viriam a inspirar Jorge
  • 28. posteriormente em seus romances, em meio às lutas políticas, às tocaias e brigas de jagunços e pistoleiros. Jorge Amado cresceu na realidade do cacau, aprendendo então a conviver com todo tipo de gente, sem preconceito. Anos mais tarde, vai morar em Salvador para estudar. Aos 13 anos, o padre Cabral, professor de Jorge, recebe uma redação sua (“O Mar”) e postula que será escritor. Mais tarde, muda-se para o Rio de Janeiro, pois seus pais almejavam que ele seguisse a carreira de bacharel em Direito, vindo a se formar posteriormente, mas nunca tendo exercido a profissão. No Rio de Janeiro, publica seu primeiro romance, O País do Carnaval, que se torna um sucesso de crítica e de público, animando-o a outras empreitadas. Nesta época, conhece pessoas importantes tanto na política quanto nas letras, vindo a fazer novas amizades e a aliar-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Retornando a Ilhéus, interessa-se pelos dramas humanos da zona do cacau, criando, portanto, o romance Cacau (1933), primeiro do ciclo cacaueiro, que narra à saga dos nordestinos flagelados, das contradições humanas. Morreu em 06 de Agosto de 2001, em sua casa no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Tendo visto a realidade desumana de flagelo social vivida pelos trabalhadores explorados nas fazendas de cacau, o escritor Jorge Amado, em sua ficção, cria um mundo de outras realidades humanas como forma de crítica ao universo real. Jorge é um intérprete dessa realidade, e transpôs isso em sua Literatura. A produção literária é uma reflexão sobre o social, sobre as práticas sociais e não apenas uma repetição destas, logo, possibilita-nos perceber o contexto social mais amplo no qual foi produzida. Os romancistas, como os historiadores, vão construindo uma certa história social, vão instituindo uma memória em detrimento de outras, dentro do momento e do contexto em que cada um se encontra. (SOUSA, 2008, p.52) Sendo Jorge Amado o Noé do mundo capitalista, cria uma arca literária que abriga bichos homens em estado de miséria quase extrema, que vão se aventurar, pois, no mito do Cacau. Na região grapiúna não havia lugar para vagabundos, o trabalho era duro, a luta sem tréguas (AMADO, 1982, p. 66). Naquela região, a vida humana valia muito pouco, reinava ali só o fruto valioso; no mais, o ser humano valia o que tinha. Como os empregados não tinham nada, este era o valor adquirido.
  • 29. Pagavam com a sua existência a moradia no caro reino. A vida humana continuava a valer pouco, moeda com que se pagava um pedaço de terra, um sorriso de mulher, uma parada de pôquer (p.37). O romance Cacau é a Arca literária em que as demandas de trabalhadores navegam para o território das incertezas: a fome, as relações sociais, a violência, as opressões, entre tantas outras que os marcam, afligem e maltratam. Esses seres perpassam, portanto, por crises existenciais, que, apesar de serem inerentes à condição humana, os afloram ainda mais, desde a instabilidade emocional até ao próprio vazio existencial, onde esses migrantes se questionam sobre sua própria identidade e seu valor perante a sociedade dominante. Jorge traz,na sua obra, uma realidade regional e universal, afinal a nação converte tradicionalmente esses valores para os impactos da exclusão social. A obra de Jorge Amado funciona, portanto, como via de acesso à realidade brasileira extraliterária (GOLDSTEIN, 2003, p.226). Em Cacau, o autor faz uma dura crítica ao sistema capitalista de relações, pois, demonstra que, apesar de todo sofrimento nas terras fartas, esses trabalhadores não desistiam da luta pela vitória, e, mesmo em meio a lágrimas, continuavam a comemorar a vida. Povo alegre, festeiro, otimista e resistente ao sofrimento é o povo de Jorge Amado (GOLDSTEIN, 2003, p.116). Porque assim é a Bahia, mistura de beleza e sofrimento, de fartura e fome, de risos álacres e de lágrimas doloridas (AMADO, 1991, p. 12-13). Amado compreende o povo e escreve acerca desse povo e suas lutas pela ascensão, pois, por conviver com essa realidade cacaueira de divisão de classes ele acabou por pertencer de certa forma a este mundo bipartido de culturas e economias distintas. Vidas opostas e que se cruzam são a dos empregadores e dos empregados, os quais necessitam um do outro para que a vida financeira continue acontecendo. Em se tratando da realidade do fruto valioso, as figuras, na obra em questão, são, pois, transposições de uma realidade vista e relatada, não precisamente igual, mas muito semelhante, como afirma Amado: Os personagens das obras de ficção resultam da soma de figuras que se impuseram ao autor, que fazem parte de sua experiência vital. Assim são os coronéis de cacau nos livros onde trato de região grapiúna, nos quais tentei recriar a saga das conquistas da terra e as etapas da construção de uma cultura própria (AMADO, 1982, p. 71-72).
  • 30. Muitas são as classes relatadas nas obras amadianas, entre putas e vagabundos, trabalhadores e coronéis, todas personagens de obras ficcionais, espelho do real. Lutas pelo dinheiro e pela vida fazem parte desses seres meio humanos, afinal apesar de serem homens sobrevivem como animais. A região grapiúna por ser povoada por sergipanos faz desta demanda humana desbravadores, pois, vão à terras por ora desconhecidas encontrar frutos valiosos mas para eles não tão lucrativos, afinal acabam pagando com seus esforços físicos e psicológicos a sobrevivência na “nova casa”. A arca de animais do mito bíblico se mantém, pois, na sociedade capitalista que imprime regras e reprime muitos seres humanos. Neste prisma, a figura humana do escritor grapiúna Jorge Amado emerge não somente como a de um grande pensador literário, mas também como uma vítima das mazelas sofridas pelos migrantes sertanejos que inundavam o Sul cacaueiro. Dessa forma, Jorge é uma alma marcada pelos estigmas da dor que martirizava o seu povo convertido – pelos sofrimentos – em personagens de sua obra. 3.3 Um olhar sobre a obra amadiana Jorge Amado, pertencente ao grupo chamado de Regionalista, em sua obra Cacau, trata da saga cacaueira na região Sul da Bahia, tendo como personagem principal Sergipano, um migrante nordestino que busca mudança e melhoria de vida nas fazendas do “dólar do sertão”. Nesta obra, Jorge por meio do narrador José Cordeiro (o Sergipano), relata as opressões, as marginalizações, os flagelos e as misérias sofridas por essa classe trabalhadora, que acaba vivendo um escravismo no capitalismo que os sucumbi. Com diferentes manifestações culturais, a classe oprimida e a repressora convivem nas mesmas fazendas, mas com afazeres e estadias distintas. Enquanto os coronéis aproveitavam-se de seu título de nobreza e capital de lucro para ordenar e reprimir, os trabalhadores, surrados e suados dessa vida de incertezas
  • 31. continuavam a aventurar o mito. Sergipano trabalhava e residia na fazenda Fraternidade, do coronel Mané Fragelo. Mané Fragelo fora um apelido posto na cidade. Pegou. Um flagelo, de fato, aquele homem gordo, de setenta anos, que falava com uma voz arrastada e vestia miseravelmente. Manoel Misael de Souza Telles era o seu verdadeiro nome (AMADO, 2000, p.5). Sergipano trabalhava como alugado, bem como os outros, era assim que os coronéis tratavam os empregados; diminuindo-os, tratando-os como “máquinas de serviço” somente, algo descartável, que só serve enquanto está funcionando de acordo com o que os patrões desejam. O termo me humilhava. Alugado... Eu estava reduzido a muito menos que homem [...](AMADO, 2000, p. 23) Apesar de a fazenda ter o nome de Fraternidade, esse valor não existia entre patrão e empregados, solidariedade era uma utopia da classe subalterna e valores como ética e moral jamais existiram. Ao contrário das sociedades pré-diluvianas, esta que é sucumbida pelo capitalismo acirrado, visualizada no fruto do cacau, destrói sentimentos, honra, ilusões e ideais daqueles que buscam trabalhar honestamente para alcançar o direito à vida. Honestidade se torna uma palavra e realidade em desuso pela classe dominante, que vive na ganância de imperar no fruto valioso, tornam-se mercenários e não têm pudores na busca incessante pelo lucro, atropelam pessoas e não se comovem com a perda de vidas de empregados, matam os que “sabem demais”. A maldade não tem limites quando o intuito é o aumento do patrimônio financeiro, os valores humanos inexistem e até o seguimento familiar é esquecido. Em se tratando de Mané Frajelo, diz um empregado: [...]A alegria desse miserável é fazer mal aos outros. A mãe morreu pedindo esmolas e o irmão vive ai cheio de feridas, vestido que nem a gente. Miserável assim nunca vi. (AMADO, 2000, p. 20)
  • 32. A história de Sergipano, personagem de “Cacau”, divide-se em três fases: operário da fábrica de seu pai, trabalhador das roças cacaueiras e por último tipógrafo no Rio de Janeiro. Antes de entrar no drama do cacau, tinha uma estável condição financeira, pois seus pais eram donos de uma fábrica, mas, com a morte de seu pai e as alucinações posteriores de sua mãe, seu tio que tinha ganhado de seu pai sociedade nos negócios acabara por tornar-se proprietário único da empresa, pois, segundo ele, para o nome da família não ir para “o brejo” quitou as inúmeras dívidas deixadas por seu irmão na fábrica e como forma de pagamento se apropriou do comércio, deixando sua cunhada e sobrinhos ao desamparo. Ficando pobre, Sergipano partiu para a terra do cacau, região em que os operários falavam como da terra de Canaã (p. 15), um mito, a prosperidade financeira. A vida na roça do Sul da Bahia não foi a imaginada, o eldorado passava longe daquela realidade inóspita e grotesca, afinal, viviam miseravelmente, pouco comiam, o dinheiro do suor não dava nem para a alimentação, a despensa ficava com tudo e o saldo ainda era devedor. Em meio a esta classe humilhada, crianças, desde cedo, começavam a trabalhar, e não havia tempo para os estudos, cresciam e mal sabiam falar, os palavrões imperavam, homens feitos quase nenhum sabia ler. Pobres crianças amarelas, que corriam entre o ouro dos cacauais, vestidos de farrapos, os olhos mortos, quase imbecis. A maioria deles desde os cinco anos trabalhava na juntagem. Conservavam-se assim enfezados e pequenos até aos 10 e 12 anos. (AMADO, 2000, p. 70) Sergipano, bem como os outros empregados das fazendas, tinha como filosofia de vida a obediência aos patrões. Trabalhavam de sol a sol, viviam mais como animais do que como homens, e, naquela terra, a única coisa, que soava bem para os fazendeiros e que tinha valor, era o cacau. O cacau exercia sobre eles uma fascinação doentia (AMADO, 2000, p.12). As roças são belas quando carregadas de frutos amarelos (p. 58). As mulheres que ali residiam acabavam se engraçando com os filhos dos coronéis, os quais as tratavam como mero objeto sexual, tiravam sua honra, usavam e abusavam e, em seguida, jogavam-nas fora. Defloradas, iam residir na Rua da
  • 33. Lama e trabalhar como prostitutas. Pobres mulheres, que choravam, rezavam e se embriagavam na Rua da Lama. Pobres operárias do sexo. Quando chegará o dia da vossa libertação? (p.57). Enfim, no Sul da Bahia até as mulheres não tinham valor, juntamente com os empregados e filhos viviam quase fora do mundo, da maneira que dava, vivendo por viver, aprendendo com a miséria reinante. Olhávamos os cacaueiros e não achávamos a solução. Se nós não estivéssemos muito acostumados com a miséria, os suicídios seriam diários. (p.84) Poucos conseguiram a libertação das roças dos frutos amarelos, uns fugiram, outros pagaram para sair e ir embora. Sergipano depois de beijos e caricias trocados com a filha do coronel, com consciência de classe, vai embora para o Rio de Janeiro, torna-se tipógrafo e conhece outra esfera de vida em sociedade, em que o trabalho não é tão duro e tem-se recompensa, ao contrário de muitos anos passados na Fazenda Fraternidade. Deixou de ser bicho homem e tornou-se gente, digno e com valores humanos. O personagem Sergipano, dessa forma, fecha o ciclo factual de um determinismo que condena o trabalhador explorado a uma eterna relação de subserviência e exclusão humana. Também Sergipano fecha um discurso de inspiração marxista no romance amadiano, no sentido de que o homem oprimido é o principal agente de sua libertação. A guisa de conclusão, este trabalho de estudo literário chega a uma base irrefutável de que o romance Cacau, de Jorge Amado é um manifesto de afirmação que trata da exploração do homem pelo homem, quanto das possibilidades que este tem para promover a sua emancipação, mediante o conhecimento de uma cultura literária emancipadora em todos os sentidos, inclusive a da própria Arte Literária. Enfim, Jorge Amado liberta a Literatura e mostra a “cara da terra”, do povo, dos costumes.
  • 34. CONSIDERAÇÕES FINAIS Realizou-se o estudo entre a Arca de Noé, texto contido na Sagrada Escritura e o romance Cacau, obra amadiana, encontrando a metáfora da vida existente nos dois ambientes. Enquanto a Arca, feita por Noé, visou à salvação das espécies, Amado demonstra que o navio cacaueiro, arca estratificada, tenta sucumbir e destruir o ser humano. Por isso, o estudo metafórico entre os ambientes já citados, deixa-nos a analisar as relações humanas enquanto sociedade e economia no mundo das desigualdades. São denunciadas à sociedade as mazelas do capitalismo. Considerando os objetivos e hipóteses iniciais a este estudo, confirmou-se a hipótese que condena o capitalismo como destruidor de sonhos e esperanças de ascensão e como traidor da classe trabalhadora, que sai de suas terras em busca de crescimento social e econômico e acaba retornando igual ou pior do que quando partiu. Este estudo buscou, em teóricos, aprimoramentos e citações relevantes ao tema abordado, bem como criou por si um texto que visa o repensar do ser homem na sociedade vigente, afinal, vive-se como ser humano e age-se como irracional. Enquanto a arca de Noé salvou os animais da total destruição para que não se aniquilasse totalmente as espécies, o bicho homem, que tem voz na época presente, torna-se canibal da sua própria raça. Enfim, o estudo de anúncio e denúncia da sociedade contido nas páginas de Cacau cruza-se com o Gênesis enquanto sociedades distintas, mas sofrem a dor existencial em universos diferentes, pois, a sociedade pré- diluviana era fraterna e cultivava valores como moral e ética e, após o corrompimento humano, recebeu o dilúvio e passou a viver uma era insustentável, bem como a dos dias de hoje. Portanto, o estudo monográfico possibilitou a visualização da crueldade humana, que marginaliza, reprime, sucumbi, menospreza e destrói o seu próximo, manifestando-se de acordo os interesses próprios. Sendo o texto repleto de significados e interpretações, este se reescreve e reconstrói a cada leitura, por isso, esta obra amadiana discute também uma consciência histórica, fato este que se encontra imbricado nestas páginas de análise; há, pois, o dedo da arte literária refletida nas diferentes gerações.
  • 35. REFERÊNCIAS AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. 39 ed. Rio de Janeiro: Record, 1991. AMADO, Jorge. Academia dos Rebeldes. In: SANTANA, Valdomiro. Literatura Baiana 1920- 1980. Salvador: Casa das Palavras, 2009. AMADO, Jorge. Cacau. 35. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. AMADO, Jorge. Capitães de Areia. 6. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. AMADO, Jorge. O Menino Grapiúna. Ed. Especial. Rio de Janeiro: Record, 1982. Bíblia Sagrada. Tradução de Ivo Storniolo. Revista e Corrigida. São Paulo: Pastoral, 1991. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 40. Ed. São Paulo: Cultrix, 1994. CÂNDIDO, Antonio. Presença da literatura brasileira. 9. Ed. São Paulo: Difel, 1983. COELHO, Marcos de Amorim; TERRA, Lygia. Geografia Geral e do Brasil. 1.ed. São Paulo: Moderna, 2003. DIAS, Léa Costa Santana. O ciclo do cacau na Bahia: Jorge Amado e as Terras do sem fim. In: O olhar de Castro Alves: ensaios críticos da literatura baiana. FONSECA, Aleilton (org.). Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia; Academia de Letras da Bahia, 2008. FONSECA, Aleilton. O pêndulo de Euclides. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. GALVÃO, Walnice Nogueira. Metáforas Náuticas. In: Desconversa. 1.ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar.7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. O Brasil Best Seller de Jorge Amado: literatura e identidade nacional. São Paulo: SENAE, 2003. HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Tradução de Adelaine La Guardia Resende. Belo Horizonte: UFMG, 2003. JÚNIOR, Benjamim Abdala; CAMPEDELLI, Samira Youssef. Tempos da literatura brasileira.6. Ed. São Paulo: Ática, 1999. LOPES, Edward. Metáfora: da retórica à semiótica. 2. Ed. São Paulo: Atual, 1987. LUCAS, Fábio. As transformações da literatura brasileira no século XX: In: Do barroco ao moderno. São Paulo: Ática, 1989.
  • 36. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006. MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira. 5.ed. São Paulo: Cultrix, 2001. V.III. RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 92. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. SEIXAS, Cid. Triste Bahia. Oh! Quão dessemelhante. Salvador: EGBA, 1996. SOUZA, Antonio Pereira. Fragmentos de História: contribuições teóricas sobre história e literatura. Rio de Janeiro: T.mais.oito, 2008. TORRES, Antonio. Meu querido canibal. 2. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.