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FOTOGRAFIAS COMO EXERCÍCIOS DE OLHAR 
WUNDER, Alik – Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação – Unicamp 
Grupo de Pesquisa OLHO - alik@unicamp.br 
GT: Educação e Comunicação / n. 16 
Agência Financiadora: CAPES 
Que outros jeitos de ver moram em nossos olhos? 
Quais as possibilidades da fotografia ampliar os sentidos 
daquilo que vemos e nos acontece? A fotografia além, de ser 
um registro de acontecimentos, poderia também ser 
pensada/vivenciada como acontecimento (Deleuze, 2003)? 
Estas são algumas questões que acompanham minhas 
experiências como pesquisadora em educação, formadora de 
professores (as) e fotógrafa-aprendiz. 
Neste texto, trago algumas reflexões sobre o olhar, a 
fotografia e o acontecimento, que insistem e persistem em 
minha trajetória de pesquisa de doutorado. Entremeadas a 
estas reflexões teóricas, narro três experiências educativas 
vivenciadas em cursos de formação de professores(as)1, nos 
quais os atos de fotografar e de observar fotografias foram 
compondo novas possibilidades de olhar para aquilo que lhes 
é comum: o cotidiano escolar. 
Em paralelo ao texto, no lado direito da página, há 
uma seleção de fotografias e de pensamentos. Um varal de 
vozes e imagens que querem manter uma conversa paralela, 
caótica, sem começo e sem fim, aleatória. Imagens soltas, 
falas fragmentadas, como comentários que escapam, que 
cortam o curso contínuo do texto, que podem ser recolocados, 
revistos e, quem sabe, revelarem outras verdades. Convido o 
leitor(a) que colha, a seu modo, relações e inspirações para 
acompanhar a sua leitura. 
A pessoa, o lugar, o objeto 
estão expostos e escondidos 
ao mesmo tempo só a luz, os 
dois olhos não bastam 
para captar o que se oculta 
no rápido florir de um gesto. 
É preciso que a lente mágica 
enriqueça a visão humana 
e do real de cada coisa 
um real mais seco extraia 
para que penetremos fundo 
no puro enigma das figuras. 
Fotografia é o codinome 
da mais aguda percepção 
que a nós nos vai mostrando 
e da evanescência de tudo, 
edifica uma permanência 
cristal do tempo no papel. 
Carlos Drummond de Andrade 
1Estes cursos foram realizados no Centro de Formação de Professores (Ceforma) da Secretaria Municipal de 
Educação de Campinas e fazem parte da minha pesquisa de doutorado, que se encontra em vias de finalização.
2 
Imagens são observações 
estéticas ou documentais 
da realidade? 
Rosane de Andrade 
2 
Nuvens de fantasias, pacotes de informações2 
A linguagem fotográfica gera em nós uma dupla 
sensação ao nos colocar a frente de algo que, ao mesmo 
tempo, está e não está ligado ao que chamamos de realidade. 
Uma fotografia é um pacote de informações na medida em 
que nos fornece dados sobre os lugares, as pessoas, as épocas 
e os acontecimentos. É neste sentido que ela ganha um grande 
valor como registro histórico e, mais radicalmente, como 
documento de comprovação dos fatos. 
E a fotografia é também uma nuvem de fantasias, é 
uma criação humana, marcada pelas escolhas, desejos, 
imaginações e representações daquele que fotografa e 
daqueles que observam as imagens fotografadas. 
No entanto, a primeira perspectiva - a imagem como 
pacote de informações – é mais marcante em nossa cultura 
devido à forte aproximação que fazemos entre a idéia de 
realidade e a fotografia. Vivemos em um mundo em que o 
olhar foi construído como o sentido mais adequado para 
conhecer as coisas, e nele a fotografia foi recebida como 
expressão plena, indiscutível e definitiva de um real 
imaginado. 
Marilena Chauí (1998) em seu texto Janela da Alma, 
Espelho do Mundo mostra como a visão foi se construindo 
como sentido primordial na cultura ocidental. A constituição 
do olhar como o sentido da realidade é algo que aparece em 
nossa linguagem cotidiana, em nossas expressões como: 
ponto de vista, perspectiva, sem sombra de dúvida, ter ou não 
ter a ver, visões de mundo, quando nos diferenciamos entre 
lúcidos e alucinados, iluminados e sombrios. A primazia do 
olhar molda nossa linguagem e nossa forma de pensar o 
2 Sontag, 2004. 
Cremos que as coisas e os 
outros existem porque vemos e 
os vemos porque existem. 
Marilena Chauí
3 
3 
mundo, nessa lógica, conhecer é clarear a vista (Chauí, 1998, 
p. 33). 
A fotografia, a escrita (grafia) da luz (foto), surge no 
século XIX, como conseqüência dos avanços da física e da 
química, bem dos princípios filosóficos das ciências naturais. 
Foi a ênfase que a ciência deu à visão, regularizada, 
formalizada e disciplinada, como recurso de avaliação 
rigorosa dos procedimentos experimentais nos observatórios, 
hospitais e laboratórios que abriu caminho para os 
desenvolvimentos técnicos da câmera fotográfica (Svcenko, 
1998, p.20). 
Atrelada ao racionalismo da ciência, nossa cultura 
construiu um olhar que se distancia da sensibilidade, que 
fragmenta, classifica, analisa, avalia e corrige. Um olhar 
geometrizado e em perspectiva que quer ver e organizar o 
mundo dentro de uma única lógica. Um olhar ativo e racional 
que não se deixa afetar pelas coisas. 
Diferente das outras formas de expressão como a 
pintura, o desenho e a escrita, a fotografia tem, 
necessariamente, uma máquina como mediadora. Uma 
máquina que registra quimicamente os raios de luz refletidos 
pelos objetos e que parece reproduzir automaticamente a 
aparência visual do mundo da maneira mais exata possível, 
como se estivesse a salvo da subjetividade humana 
(Machado, 1998, p.9). 
A fotografia surge partilhando os caminhos e as 
buscas da ciência, como a neutralidade e a verossimilhança. 
Por estes caminhos a fotografia se constrói como documento, 
como atestado de pré-existência da coisa fotografada (p.9). 
O efeito da emanação dos raios luminosos na superfície 
sensível parece nos unir diretamente, sem mediações, àquilo 
que esteve a frente da câmera, àquilo que aprendemos a 
chamar de realidade. 
Esse anseio pelo naturalismo 
absoluto, por um equipamento 
mecânico capaz de representar 
a natureza tal qual ela se 
manifesta, objetivamente, sem 
a intervenção das 
contingências humanas, é que 
forjou o chamado efeito 
realidade, a idéia de que uma 
foto representa o mundo como 
ele é. 
Nicolau Svcenko 
Marli de Quadros
4 
4 
A mediação humana que se dá na atuação do 
fotógrafo no ato de fotografar – na busca de ângulos, de 
focos, de efeitos de luz e sombra, de balanceamento de cores, 
na escolha de momentos - e na revelação, ampliação e seleção 
das imagens, fica obscurecida pela magia do equipamento. E 
neste nosso mundo atual repleto de imagens por todos os 
lados - na TV, no cinema, na internet, nas revistas, nos 
jornais, nos outdoors - diferente daquele no qual surgiu a 
câmera, o efeito mágico dos equipamentos de captação da 
imagem parece permanecer. 
Segundo Arlindo Machado (1998), as reflexões da 
fotografia como discurso visual que se constrói na relação 
entre a tecnologia, os códigos da fotografia e as 
subjetividades do fotógrafo, são recentes em nossa sociedade. 
Antonio Fatorelli (2003) em seu texto Fotografia e 
Viagem convida-nos a assumir o lugar híbrido da fotografia 
pertencente à natureza, ao coletivo e ao discurso, desloca a 
discussão sobre a primazia do caráter natural ou cultural para 
os agenciamentos temporais, espaciais, estéticos e políticos 
gerados por ela: 
Não se trata então de propor uma inversão das hierarquias 
(entre natureza e cultura, magia e técnica, ciência e arte), mas de 
repensar o pensamento, de recuá-lo, posicioná-lo como se 
estivesse, de certo modo, ultrapassado pelos acontecimentos, de 
certo modo em dívida para que pudesse então reconhecer o que 
escapa (Fatorelli, p.23: 2003). 
Proponho aqui que pensemos nas fotografias como 
um discurso visual mediado pelas subjetividades daqueles 
que fotografam e daqueles que observam fotografias, que 
foquemos nossa atenção para os contradisparos das 
fotografias (Wenders, 1983 apud Leite, 2001, p.99). Sugiro 
que nos desloquemos da idéia da fotografia como arte de 
captar para a idéia de arte de soltar, como se a cada disparo 
da máquina fosse o fotógrafo que se esvaísse em disparada, 
Antigamente os métodos para se 
detectar planetas eram indiretos, 
mas agora é tudo na base da 
fotografia, mesmo. 
Fala de um repórter durante o 
programa de televisão “Fantástico” – 
08 de maio de 2005. 
Uma fotografia é sempre uma 
imagem dupla: 
mostra seu objeto e 
– mais ou menos visível – 
‘atrás’, o ‘contradisparo’, 
a imagem daquele que 
fotografa, no momento de 
fotografar. 
Win Wenders
5 
5 
como se através do obturador aberto, ele se permitisse um 
vôo cego, mergulho de se expor. 
Um passeio pelo invisível 
Como seria o mundo - e os nossos pensamentos sobre 
ele - se fossemos todos cegos? Que outras sensibilidades de 
visão ficam ofuscadas pela luz que entra rotineiramente por 
nossos olhos? 
Guiados por estas questões nos lançamos a um passeio 
pelo invisível. Neste trajeto há dois personagens, um guia e 
um cego, que depois trocam seus papéis. Para o cego, com 
uma venda nos olhos, o desafio é experimentar a cegueira por 
minutos, perceber o espaço de outra forma, ouvir os sons, 
sentir cheiros e texturas das coisas e das pessoas, relacionar-se 
com seu guia. Para o guia, fica o papel de escolher os 
caminhos do cego, fazê-lo passar por experiências sensíveis, 
buscar deixá-lo seguro, ser seus olhos. 
Ao final do passeio, o guia presenteia o cego com uma 
imagem, fazendo, por meio de uma moldura de papel, uma 
fotografia de um objeto, pessoa ou paisagem que encontrou 
pelo caminho. É, para o guia, um exercício que requer as 
mesmas habilidades de um fotógrafo: escolher um tema, ter 
uma intenção nesta escolha, buscar um foco no 
distanciamento e aproximação em relação ao que será 
fotografado, e uma composição na definição das proporções 
do que fica dentro da moldura. Depois da foto pronta, já sem 
a venda, o cego pode contemplar seu presente. 
Depois das experiências sensitivas, fazemos uma 
partilha de sensações, medos e descobertas de cada aventura 
cega. Acompanham-nos nesta conversa as imagens e 
depoimentos do documentário brasileiro Janela da Alma de 
João Jardim e Walter Carvalho, as fotografias de Eugen 
O cego Estrelinho era pessoa 
de nenhuma vez: sua história 
podia ser contada e descontada 
não fosse seu guia, Gigito 
Efraim. A mão de Gigito 
conduziu o desvisado por 
tempos e idades ... 
O cego, curioso queria saber de 
tudo. Ele não fazia cerimônia 
de viver. O sempre lhe era 
pouco e o tudo insuficiente. 
Gigito, porém, o que descrevia 
era o que não havia. O mundo 
ele minunciava eram fantasias e 
rendilhados ... 
– ‘Que maravilhação esse 
mundo. Me conte tudo, Gigito!’ 
Gigito Efraim estava como 
nunca esteve São Tomé: via 
para não crer... 
Mia Couto, O cego Estrelinho
6 
6 
Bavcar, um fotógrafo cego, e o conto O cego Estrelinho do 
escritor moçambicano Mia Couto (1996). 
Um fotógrafo, um músico, uma criança, uma atriz, um 
professor, cineastas, escritores, poetas – personagens, ora 
bastante conhecidos do público, ora desconhecidos, 
preenchem o documentário Janela da Alma com suas 
experiências de olhar o mundo e olhar-se. A escolha dos 
entrevistados parece ter sido guiada por suas formas 
diferenciadas de ver, moldadas por limites, como a cegueira, 
a miopia e o estrabismo e por suas experiências com as 
linguagens artísticas, que aparecem entremeadas por suas 
memórias de amores, tristezas, incômodos e descobertas. 
Nos depoimentos o ato de olhar vai sendo dobrado e 
redobrado, desnaturalizado. Aproximando-nos da visão de 
Pasolini (1982) de que a realidade seria um cinema de plano-sequência 
ininterrupto que cada um de nós filma com seus 
sentidos, pode-se dizer que as experiências narradas no 
documentário, bem como as imagens que entremeiam estas 
narrativas, nos fazem percorrer por outras possibilidades de 
percepção, outras aproximações, focos, movimentos, jogos 
de luz e sombra, até mesmo da total sombra, nos levando a 
dimensões fílmicas dos cheiros, tatos e sons... 
Eugen Bavcar, personagem marcante do 
documentário, na sua paradoxal condição de profissional da 
imagem e cego, nos coloca em dúvida a idéia da visão como 
naturalmente o sentido prioritário de conhecer as coisas. 
Como ele mesmo conta, sua visão não lhe foi tirada 
bruscamente: fui ficando cego, pouco a pouco, como se 
tratasse de um longo adeus a luz (Bavcar, 2003(b), p.57). O 
seu contato anterior com o mundo das imagens abriu-lhe a 
possibilidade de, entre a memória, a imaginação e o uso de 
seus outros sentidos, criar imagens mentais e transformá-las 
em fotografia. Não vejo imagens, porém faço imagens, eu 
tento fazer surgir objetos, imagens a partir de um berço de 
Foi no mês de dezembro que 
levaram Gigitinho. Lhe 
tiraram do mundo para pôr 
na guerra ... O guia chamou 
Estrelinho à parte e lhe 
tranqüilizou: - ‘Não vai ficar 
sozinhando por aí. Minha 
mana já mandei para ficar no 
meu lugar’... Desde então, a 
menina passou a conduzir o 
cego. Fazia-o com discrição 
e silêncios. E era como se 
Estrelinho, por segunda vez, 
perdesse a visão. Porque a 
miúda não tinha nenhuma 
sabedoria de inventar. Ela 
descrevia tintins da 
paisagem, com senso e 
realidade. Aquele mundo a 
que o cego se habituara 
agora se desiluminava... 
Mia Couto
7 
7 
trevas (Bavcar, 2003(b), p.62). Suas fotografias brincam com 
a luz, são invenções, imaginações e nelas por vezes a luz 
ganha peso e as sombras se iluminam. 
As reflexões deste artista e pensador ofuscam a idéia 
clássica de controle do mundo pelo sentido da visão e 
mostram-nos que o visível é um campo bem menos 
homogêneo do que habitualmente nos damos conta 
(Bandeira, 2003 apud Bavcar, 2003(b), p.15). 
Em Janela da Alma, Bavcar nos instiga ao dizer: hoje 
vivemos em um mundo de cegos. As pessoas não sabem mais 
ver, pois não tem mais o olho interior. Vive-se um tipo de 
cegueira generalizada. Suas sábias palavras invertem nossas 
lógicas e fazem-nos refletir sobre onde, em nós, mora a 
escuridão. 
Este trabalho artístico paradoxal e polêmico (Um dia, 
uma professora do curso desabafou indignada: Como pode 
um artista expor sem ele próprio ter visto sua obra!) traz 
uma contribuição interessante no pensamento da fotografia 
como acontecimento deleuziano: 
É neste sentido que é um acontecimento: com a 
condição de não confundir o acontecimento com sua 
efetuação espaço-temporal em um estado de coisas. Não 
perguntaremos, pois, qual o sentido de um acontecimento: o 
acontecimento é o próprio sentido. O acontecimento pertence 
essencialmente à linguagem (Deleuze, 2003, p.23). 
O seu modo de produzir imagens desprega por 
completo a conotação da fotografia como registro de algo que 
aconteceu em um tempo e espaço determinados. Deslocamo-nos 
da idéia da fotografia como resíduo do visto (Franceschi- 
Lima, 1984). Os acontecimentos são suas fotografias, seus 
modos de inventá-las ao sabor do acaso, da imprecisão, dos 
desejos internos e da necessidade de miraginar mundos 
(Couto, 1996). 
De manhã chega a notícia: 
Gigito morrera. A moça 
essa, deixou de falar... E 
assim ficou, sem competência 
de reviver. Até que a ela se 
chegou o cego e lhe conduziu 
para a varanda da casa. 
Então, iniciou de descrever o 
mundo, indo além dos vários 
firmamentos. Aos poucos foi 
despontando um sorriso: a 
menina se sarava da alma. 
Estrelinho miraginava terras 
e territórios... 
- ‘Isso tudo, Estrelinho? Isso 
tudo existe a onde? ’ 
E o cego, em decisão de 
passo e estrada, lhe 
respondeu: 
- ‘Venha, eu vou lhe mostrar 
o caminho!’. 
Mia Couto 
Eugen Bavcar 
série: Auto-Retratos
8 
8 
Encontro com imagens, nascimento de palavras 
Diferentes observadores, uma mesma fotografia e a 
pergunta: que palavras lhe surgem ao entrar em contato com 
esta imagem? 
Um convite: entre na imagem experimente-a. Exercite 
um olhar passivo, que se deixa afetar pelas coisas vistas, não 
aquele ativo que quer explicar a imagem, dessecá-la, revelar 
a verdade que mora por detrás dela, dar-lhe uma versão 
oficial e verdadeira. 
Durante um tempo silencioso fazemos uma viagem 
entre a imagem e suas palavras. Compartilhamos depois os 
diferentes textos. Aparecem então leituras tímidas de palavras 
soltas, aquelas emocionadas de textos poéticos, as frases 
reflexivas, as longas narrativas repletas de memórias... Há 
também em alguns textos a tentativa de explicar a fotografia 
dentro de uma lógica. Buscamos, no entanto, nesta partilha 
deixar que as diferentes visões apareçam, sem nos 
preocuparmos em produzir um sentido consensual e único. 
Deixamos que a multiplicidade apareça e se instaure. 
Preocupamos-nos assim, menos com a fotografia em si e mais 
com os efeitos que ela surte em cada pessoa, com os 
acontecimentos/sentidos que nos possuem quando 
encontramos as imagens. Deixamos que a imagem transforme 
e que também sofra as transformações dadas pelo observador. 
É bastante instigante a carga poética e reflexiva da 
maioria dos textos produzidos nesta atividade. A linguagem 
fotográfica parece exercitar o olhar circular, não causal e 
alegórico (allos=outro; agorien=falar) e parece nos convidar 
à experiência da evasão, da novidade e da imaginação, que 
produz um outro dizer, um outro saber, em que as metáforas 
precedem as explicações e conceituações. 
Estamos acostumados com uma relação de 
subordinação da imagem em relação ao texto. Ou seja, a 
Um único olhar 
é um único olhar. 
Para um único olhar 
não é possível o todo. 
Um olhar é uma forma 
de mostrar essa parte. 
Essa parte contém o todo, 
assim, como o todo 
contém a parte 
Parte-Todo, 
todo-Parte. 
A fotografia. 
Gilbert de Oliveira Santos 
professor participante do curso.
9 
9 
fotografia aparece, muitas vezes, como ilustração das 
palavras ou como comprovação dos conhecimentos 
produzidos textualmente. 
Fatorelli (2003) nos traz reflexões sobre a relação 
palavra e imagem estabelecida em algumas pesquisas, em que 
o uso de fotografias vem acompanhado de textos: 
Os comentários, via de regra, não surgem a partir de 
indagações dirigidas às imagens, referem-se a preconceitos 
adquiridos em outros momentos e se utilizam das imagens, 
compreendidas como imparciais, para validar um ponto de 
vista sobre o tema retratado: validar um ponto de vista, neste 
caso, não como um entre outros, mas como verdadeiro e 
único (Fatorelli, 2003, p.27). 
A imagem nestes casos vem como forma de 
complementação e comprovação de uma mensagem, 
enfraquecida dos seus valores expressivos e conteúdos 
propriamente visuais (p.29). 
Buscamos com esta dinâmica uma perspectiva em que 
fotografia é trazida como uma linguagem outra, produtora de 
discursos e conhecimentos outros. Lembrando Paulo Freire 
(1996) quando nos diz que a curiosidade já é conhecimento. 
Como a linguagem que anima a curiosidade e com ela se 
anima, é também conhecimento e não só expressão dele 
(p.61). 
A linguagem, seja fotográfica, oral ou escrita, deixa de 
ser considerada como instrumento de expressão e revelação 
de saberes, mas como uma matéria-prima que da forma, cor e 
textura própria aos saberes gerados por ela. 
Ensaios fotográficos 
A fotografia pode nos ajudar na busca do que Roseana 
de Andrade (2002) chama de ver com olhos livres: olhos que 
não se cegaram para o comum que ainda podem enxergar 
Fotografia de minha autoria 
Fotografar recria 
mundos: 
o fotógrafo (ou a 
fotógrafa) permanece 
detrás da câmara, 
criando um minúsculo 
elemento de outro 
mundo: 
o mundo das imagens 
que se oferecem a 
sobreviver a todos nós. 
Susan Sontag
10 
O olhar fotográfico 
percorre caminhos 
distantes da realidade 
explícita. 
Fotografar é um prazer 
interior, como se moldasse 
um mundo meu. 
Uma paisagem não é 
apenas uma paisagem. 
Uma parede, não é uma 
parede. É o tempo 
desgastado nas tintas e nas 
10 
reparando, transformando a realidade em obra, em outro 
significado que não funcional e prático (p.27). Tal exercício 
nos parece interessante para quem lida com a educação. 
Lançamos ao final do curso um desafio aos professores (as): 
realizar um ensaio fotográfico individual na/sobre a escola 
que leciona. 
Entramos em contato com narrativas de diferentes 
fotógrafos sobre suas experiências, a partir de um vídeo-documentário3, 
de livros e revistas de fotografia. A fotografia 
ganha diferentes sentidos em cada uma destas experiências. 
Cada um deles, a seu modo, se atém a alguns temas de 
interesse, suas fotografias são fruto de um olhar 
intencionado, sensível e ativo. 
Há por detrás das lentes, um olho que escolhe, recorta 
e define o momento certo do clique, de acordo com seus 
desejos. Como nas palavras de Luis Humberto (2000), o 
instante da fotografia se dá no momento em que há o encaixe 
entre o que está sendo fotografado e alguma idéia pré-existente 
do fotógrafo. Uma fotografia é resultado de um bom 
e fugaz encontro, previsto ou inesperado, mas também de 
uma busca, de uma intenção que possibilita ver coisas que 
poderiam passar despercebidas. 
Fazer um ensaio fotográfico é estudar algo por meio do 
olhar, é fotografar muitas vezes a mesma coisa até conseguir 
dizer aquilo que se quer, é colecionar imagens, é ir à busca de 
uma resposta para uma pergunta ou, como nas palavras do 
fotógrafo Gal Oppido: é ter uma idéia e tentar traduzi-la em 
imagem4. Para Juca Martins, fotojornalista, a busca pelos 
ensaios fotográficos é uma forma de tentar contar uma 
história, não mais com uma fotografia, mas com várias. Uma 
maneira da imagem se libertar do texto.5 
Gene Heber - professora 
participante do curso. 
3 Série “Encontros” do Itaú Cultural – Caixa Cultura: fotografia, no qual há depoimentos dos fotógrafos: Maureen 
Bisilliat, Juca Martins, Cristiano Mascaro e Gal Oppido. 
4 Trecho selecionado do vídeo “Encontros”. 
5 Trecho selecionado do vídeo “Encontros”. 
chuvas. 
Roubo da realidade o que 
não existe no mundo real. 
É aí que estampo meus 
sonhos, e que os sonhos 
saídos de mim, façam 
alguém outro sonhar. 
Leonardo Crescenti
11 
11 
Contar uma história, traduzir idéias, encontrar nossas 
minguadas verdades, moldar um mundo, estampar sonhos, 
criar territórios, colecionar... Diferentes sentidos que vão 
nos ajudando a descobrir nossas de artes de fazer fotografia. 
Como preparação para a elaboração dos ensaios, 
abordamos algumas técnicas básicas da fotografia, como 
enquadramento, composição e jogo de luz e sombra, para 
equipamentos simples, digital ou comum. 
Foram criados diversos ensaios, cada qual enfatizando 
um tema do cotidiano escolar, escolhidos e pesquisados por 
meio da observação e da fotografia pelos professores (as): os 
olhares externos por entre as janelas de uma escola, os 
movimentos da criança nos diferentes espaços e tempos, os 
instantes de solidariedade em uma sala de aula, o encontro 
com o que não quer ser visto... 
Fotografar é um movimento de expressão e produção 
de sentidos que se faz na relação entre os mundos internos e 
os externos. E nesta dança entre a informação e a imaginação, 
entre o registro e a invenção que se dá no ato de fotografar 
buscamos compreender por onde caminham os significados 
dados aos pequenos acontecimentos dos nossos ricos e 
conflituosos cotidianos. 
Antonio Carlos Amorim (2005), inspirado em 
vertentes pós-estruturalistas, sugere-nos uma forma de 
produzir e de olhar para tais imagens do cotidiano: 
Como recursos de construção de nossas experiências 
cotidianas e de nosso imaginário e não uma expressão que 
possa ser submetida à análise e interpretação, assumida 
como possível e verdadeira nas apresentações do cotidiano 
(p.115). 
Parece-me que pelas fotografias produzidas nos 
ensaios fotográficos expressam-se e produzem-se sentidos, 
desejos, questionamentos e encantamentos sobre o vivo 
Crio territórios para 
fazer o espectador 
duvidar daquilo que vê, 
um espelho distorcido. É 
possível forjar situações 
simplesmente pelo olhar 
do fotógrafo e pela 
edição. Faço o que se 
passou a chamar de 
fotografia construída. 
Rosângela Rennó 
Deise Fahl – professora 
participante do curso.
12 
12 
mundo da escola e busca-se eternizar o que muitas vezes se 
esvai nas rotinas escolares. 
Nas escolas fotografa-se muito. Parece haver uma 
busca cotidiana de imortalizar alguns instantes, de dar 
importância a eles, de trazê-los a vista. A escola muitas vezes 
é um lugar de apagamentos - os escritos da lousa 
transformam-se diariamente em pó de giz, os cartazes jogados 
no lixo ao final dos bimestres, os cadernos queimados pelos 
alunos ao final do ano. 
Há muitos que passam e não deixam seus nomes, há 
os que passam e que insistentemente querem marcar o 
espaço: nomes de adolescentes por todos os lados, paredes, 
mesas, cadeiras, portas de banheiro... O que se quer que 
sobreviva a partir das fotografias? Na relação com as 
fotografias como se fazem e refazem sentidos sobre a escola? 
A escola com seus tempos esmagados pelos sinais que 
separam as aulas, pelos bimestres que separam os conteúdos, 
pelos anos... Esmagada pelo tempo que corre, esmagada por 
tudo que querem fazer caber nela, esmagada pelos desejos do 
que deve ser a professora, os alunos, os pais... tempo que 
nunca chega. As caixas repletas de fotografias que se 
empilham nos armários das escolas, os computadores e os 
disquetes repletos de imagens digitais. O tempo na escola 
flui... 
Geralmente são os bons momentos que são 
fotografados, parecem ser as alegrias, as boas sensações, as 
conquistas, os bons encontros que merecem ser eternizados. 
Outras vezes não... Restos escolhidos para serem mantidos. 
Os acontecimentos passam, morrem, morremos e as 
fotografias são objetos que se oferecem a sobreviver entre 
nós. Pulverizam-se sentidos/acontecimentos neste 
oferecimento à sobrevivência. Os reveladores e os fixadores 
do processo fotográfico nos servem para este processo de 
Entendo o ato de 
fotografar como um gesto 
de colecionar. Você 
escolhe uma imagem a ser 
retida, processa pela 
fotografia como forma de 
possuir aquilo 
representado pela imagem. 
O fotógrafo é um 
colecionador. 
Rochelle Costi 
Janaína Pinheiro – professora 
participante do curso. 
A câmera é uma maneira 
fluida de encontrar outra 
realidade 
Jerry Uelsmann
13 
13 
mumificação. Tentativa de reter a passagem do tempo, de 
reter aquilo que inexoravelmente passa. 
As fotografias são restos que recriam sentidos, objetos 
que materializam desejos. Como as fotos dão às pessoas a 
posse imaginária de um passado irreal, também as ajudam a 
tomar posse de um espaço que se acham inseguras (Sontag, 
1984, p.19). Um passado imaginário... Penso na fotografia 
como aquilo que se cria como resto, como objetos simbólicos 
que dão certa materialidade há o que insiste em esvair, como 
restos do que foi, do que não foi, do que poderia ter sido, do 
que se deseja que seja. 
Talvez, poderíamos pensar na fotografia como aquilo que 
deseja ser realidade, que busca dar materialidade às luzes fugazes 
que continuam no espaço em destino infinito. Buscam criar um 
outro mundo... uma aspiração... perfumes fugindo do mundo 
(Couto, 1996). 
Bibliografia 
1. AMORIM, Antonio Carlos. Photografias, 
escritascotidiano e currículo deformação. In: 
FERRAÇO, Carlos Eduardo (org). Cotidiano 
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2. ANDRADE, Rosane. Fotografia e Antropologia – 
olhares fora-dentro. São Paulo: Edusp, 2002. 
3. BAVCAR, Eugen. Memória do Brasil. São Paulo: Cosac 
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4. BAVCAR, Eugen. Um outro olhar. Revista 
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5. CHAUI, Marilena. Janela da alma espelho do mundo. In: 
O olhar. NOVAES, Adauto (Org.) São Paulo: Cia. 
das Letras, 1999. 
6. COSTI, Rochelle. Sem título=untitled=sin titulo. São 
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14 
14 
7. COUTO, Mia. O cego Estrelinho. In: Histórias 
Abençonhadas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 
1995. 
8. DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. 4ª ed, São Paulo: 
Editora Perspectiva, 2003. 
9. FATORELLI, Antonio. Fotografia e Viagem: entre a 
natureza e o artifício. Rio de Janeiro: Relume 
Dumará: FAPERJ, 2003. 
10. FRANCESCHI-LIMA, Sérgio Cláudio de. Collage: 
textos sobre a re-utilização de resíduos (impressos) 
do registro fotográfico em nova superfície. São 
Paulo: Hassao Ohno: Parma Raul de Pace, 1984. 
11. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - saberes 
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e 
Terra, 1996. (Coleção Leitura). 
12. HUMBERTO, Luis. Fotografia, a poética do banal. 
Brasília: Editora UnB e Imprensa Oficial, 2000. 
13. LEITE, Márcia. Remexendo Fotografias e Cotidianos. In: 
ALVES, Nilda & SGARBI, Paulo (Org). Espaços e 
Imagens na Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 
14. MACHADO, Arlindo. A ilusão especular: introdução à 
fotografia. São Paulo: Brasiliense, 1984. 
15. MACHADO, Arlindo. Fotografia: visão do fotógrafo ou 
visão do real. In: ITAU CULTURAL. Caixa de 
Cultura: fotografia (Caderno do Professor), 1998. 
16. NOVAES, Adauto. Imagens Impossíveis. Revista 
Humanidades. nº 49, janeiro de 2003. 
17. PASOLINI, Píer. Empirismo Herege. Lisboa: Assírio e 
Aluim, 1982. 
18. REVISTA BIEN´ART. Ano II, no7, mar, 2006. 
19. SONTAG, Susan. Ensaios sobre a fotografia. São Paulo: 
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20. SVCENKO, Nicolau. Eu queria roubar a natureza. In: 
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Fotografias como exercício de olhar - Alik Wunder

  • 1. FOTOGRAFIAS COMO EXERCÍCIOS DE OLHAR WUNDER, Alik – Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação – Unicamp Grupo de Pesquisa OLHO - alik@unicamp.br GT: Educação e Comunicação / n. 16 Agência Financiadora: CAPES Que outros jeitos de ver moram em nossos olhos? Quais as possibilidades da fotografia ampliar os sentidos daquilo que vemos e nos acontece? A fotografia além, de ser um registro de acontecimentos, poderia também ser pensada/vivenciada como acontecimento (Deleuze, 2003)? Estas são algumas questões que acompanham minhas experiências como pesquisadora em educação, formadora de professores (as) e fotógrafa-aprendiz. Neste texto, trago algumas reflexões sobre o olhar, a fotografia e o acontecimento, que insistem e persistem em minha trajetória de pesquisa de doutorado. Entremeadas a estas reflexões teóricas, narro três experiências educativas vivenciadas em cursos de formação de professores(as)1, nos quais os atos de fotografar e de observar fotografias foram compondo novas possibilidades de olhar para aquilo que lhes é comum: o cotidiano escolar. Em paralelo ao texto, no lado direito da página, há uma seleção de fotografias e de pensamentos. Um varal de vozes e imagens que querem manter uma conversa paralela, caótica, sem começo e sem fim, aleatória. Imagens soltas, falas fragmentadas, como comentários que escapam, que cortam o curso contínuo do texto, que podem ser recolocados, revistos e, quem sabe, revelarem outras verdades. Convido o leitor(a) que colha, a seu modo, relações e inspirações para acompanhar a sua leitura. A pessoa, o lugar, o objeto estão expostos e escondidos ao mesmo tempo só a luz, os dois olhos não bastam para captar o que se oculta no rápido florir de um gesto. É preciso que a lente mágica enriqueça a visão humana e do real de cada coisa um real mais seco extraia para que penetremos fundo no puro enigma das figuras. Fotografia é o codinome da mais aguda percepção que a nós nos vai mostrando e da evanescência de tudo, edifica uma permanência cristal do tempo no papel. Carlos Drummond de Andrade 1Estes cursos foram realizados no Centro de Formação de Professores (Ceforma) da Secretaria Municipal de Educação de Campinas e fazem parte da minha pesquisa de doutorado, que se encontra em vias de finalização.
  • 2. 2 Imagens são observações estéticas ou documentais da realidade? Rosane de Andrade 2 Nuvens de fantasias, pacotes de informações2 A linguagem fotográfica gera em nós uma dupla sensação ao nos colocar a frente de algo que, ao mesmo tempo, está e não está ligado ao que chamamos de realidade. Uma fotografia é um pacote de informações na medida em que nos fornece dados sobre os lugares, as pessoas, as épocas e os acontecimentos. É neste sentido que ela ganha um grande valor como registro histórico e, mais radicalmente, como documento de comprovação dos fatos. E a fotografia é também uma nuvem de fantasias, é uma criação humana, marcada pelas escolhas, desejos, imaginações e representações daquele que fotografa e daqueles que observam as imagens fotografadas. No entanto, a primeira perspectiva - a imagem como pacote de informações – é mais marcante em nossa cultura devido à forte aproximação que fazemos entre a idéia de realidade e a fotografia. Vivemos em um mundo em que o olhar foi construído como o sentido mais adequado para conhecer as coisas, e nele a fotografia foi recebida como expressão plena, indiscutível e definitiva de um real imaginado. Marilena Chauí (1998) em seu texto Janela da Alma, Espelho do Mundo mostra como a visão foi se construindo como sentido primordial na cultura ocidental. A constituição do olhar como o sentido da realidade é algo que aparece em nossa linguagem cotidiana, em nossas expressões como: ponto de vista, perspectiva, sem sombra de dúvida, ter ou não ter a ver, visões de mundo, quando nos diferenciamos entre lúcidos e alucinados, iluminados e sombrios. A primazia do olhar molda nossa linguagem e nossa forma de pensar o 2 Sontag, 2004. Cremos que as coisas e os outros existem porque vemos e os vemos porque existem. Marilena Chauí
  • 3. 3 3 mundo, nessa lógica, conhecer é clarear a vista (Chauí, 1998, p. 33). A fotografia, a escrita (grafia) da luz (foto), surge no século XIX, como conseqüência dos avanços da física e da química, bem dos princípios filosóficos das ciências naturais. Foi a ênfase que a ciência deu à visão, regularizada, formalizada e disciplinada, como recurso de avaliação rigorosa dos procedimentos experimentais nos observatórios, hospitais e laboratórios que abriu caminho para os desenvolvimentos técnicos da câmera fotográfica (Svcenko, 1998, p.20). Atrelada ao racionalismo da ciência, nossa cultura construiu um olhar que se distancia da sensibilidade, que fragmenta, classifica, analisa, avalia e corrige. Um olhar geometrizado e em perspectiva que quer ver e organizar o mundo dentro de uma única lógica. Um olhar ativo e racional que não se deixa afetar pelas coisas. Diferente das outras formas de expressão como a pintura, o desenho e a escrita, a fotografia tem, necessariamente, uma máquina como mediadora. Uma máquina que registra quimicamente os raios de luz refletidos pelos objetos e que parece reproduzir automaticamente a aparência visual do mundo da maneira mais exata possível, como se estivesse a salvo da subjetividade humana (Machado, 1998, p.9). A fotografia surge partilhando os caminhos e as buscas da ciência, como a neutralidade e a verossimilhança. Por estes caminhos a fotografia se constrói como documento, como atestado de pré-existência da coisa fotografada (p.9). O efeito da emanação dos raios luminosos na superfície sensível parece nos unir diretamente, sem mediações, àquilo que esteve a frente da câmera, àquilo que aprendemos a chamar de realidade. Esse anseio pelo naturalismo absoluto, por um equipamento mecânico capaz de representar a natureza tal qual ela se manifesta, objetivamente, sem a intervenção das contingências humanas, é que forjou o chamado efeito realidade, a idéia de que uma foto representa o mundo como ele é. Nicolau Svcenko Marli de Quadros
  • 4. 4 4 A mediação humana que se dá na atuação do fotógrafo no ato de fotografar – na busca de ângulos, de focos, de efeitos de luz e sombra, de balanceamento de cores, na escolha de momentos - e na revelação, ampliação e seleção das imagens, fica obscurecida pela magia do equipamento. E neste nosso mundo atual repleto de imagens por todos os lados - na TV, no cinema, na internet, nas revistas, nos jornais, nos outdoors - diferente daquele no qual surgiu a câmera, o efeito mágico dos equipamentos de captação da imagem parece permanecer. Segundo Arlindo Machado (1998), as reflexões da fotografia como discurso visual que se constrói na relação entre a tecnologia, os códigos da fotografia e as subjetividades do fotógrafo, são recentes em nossa sociedade. Antonio Fatorelli (2003) em seu texto Fotografia e Viagem convida-nos a assumir o lugar híbrido da fotografia pertencente à natureza, ao coletivo e ao discurso, desloca a discussão sobre a primazia do caráter natural ou cultural para os agenciamentos temporais, espaciais, estéticos e políticos gerados por ela: Não se trata então de propor uma inversão das hierarquias (entre natureza e cultura, magia e técnica, ciência e arte), mas de repensar o pensamento, de recuá-lo, posicioná-lo como se estivesse, de certo modo, ultrapassado pelos acontecimentos, de certo modo em dívida para que pudesse então reconhecer o que escapa (Fatorelli, p.23: 2003). Proponho aqui que pensemos nas fotografias como um discurso visual mediado pelas subjetividades daqueles que fotografam e daqueles que observam fotografias, que foquemos nossa atenção para os contradisparos das fotografias (Wenders, 1983 apud Leite, 2001, p.99). Sugiro que nos desloquemos da idéia da fotografia como arte de captar para a idéia de arte de soltar, como se a cada disparo da máquina fosse o fotógrafo que se esvaísse em disparada, Antigamente os métodos para se detectar planetas eram indiretos, mas agora é tudo na base da fotografia, mesmo. Fala de um repórter durante o programa de televisão “Fantástico” – 08 de maio de 2005. Uma fotografia é sempre uma imagem dupla: mostra seu objeto e – mais ou menos visível – ‘atrás’, o ‘contradisparo’, a imagem daquele que fotografa, no momento de fotografar. Win Wenders
  • 5. 5 5 como se através do obturador aberto, ele se permitisse um vôo cego, mergulho de se expor. Um passeio pelo invisível Como seria o mundo - e os nossos pensamentos sobre ele - se fossemos todos cegos? Que outras sensibilidades de visão ficam ofuscadas pela luz que entra rotineiramente por nossos olhos? Guiados por estas questões nos lançamos a um passeio pelo invisível. Neste trajeto há dois personagens, um guia e um cego, que depois trocam seus papéis. Para o cego, com uma venda nos olhos, o desafio é experimentar a cegueira por minutos, perceber o espaço de outra forma, ouvir os sons, sentir cheiros e texturas das coisas e das pessoas, relacionar-se com seu guia. Para o guia, fica o papel de escolher os caminhos do cego, fazê-lo passar por experiências sensíveis, buscar deixá-lo seguro, ser seus olhos. Ao final do passeio, o guia presenteia o cego com uma imagem, fazendo, por meio de uma moldura de papel, uma fotografia de um objeto, pessoa ou paisagem que encontrou pelo caminho. É, para o guia, um exercício que requer as mesmas habilidades de um fotógrafo: escolher um tema, ter uma intenção nesta escolha, buscar um foco no distanciamento e aproximação em relação ao que será fotografado, e uma composição na definição das proporções do que fica dentro da moldura. Depois da foto pronta, já sem a venda, o cego pode contemplar seu presente. Depois das experiências sensitivas, fazemos uma partilha de sensações, medos e descobertas de cada aventura cega. Acompanham-nos nesta conversa as imagens e depoimentos do documentário brasileiro Janela da Alma de João Jardim e Walter Carvalho, as fotografias de Eugen O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua história podia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvisado por tempos e idades ... O cego, curioso queria saber de tudo. Ele não fazia cerimônia de viver. O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente. Gigito, porém, o que descrevia era o que não havia. O mundo ele minunciava eram fantasias e rendilhados ... – ‘Que maravilhação esse mundo. Me conte tudo, Gigito!’ Gigito Efraim estava como nunca esteve São Tomé: via para não crer... Mia Couto, O cego Estrelinho
  • 6. 6 6 Bavcar, um fotógrafo cego, e o conto O cego Estrelinho do escritor moçambicano Mia Couto (1996). Um fotógrafo, um músico, uma criança, uma atriz, um professor, cineastas, escritores, poetas – personagens, ora bastante conhecidos do público, ora desconhecidos, preenchem o documentário Janela da Alma com suas experiências de olhar o mundo e olhar-se. A escolha dos entrevistados parece ter sido guiada por suas formas diferenciadas de ver, moldadas por limites, como a cegueira, a miopia e o estrabismo e por suas experiências com as linguagens artísticas, que aparecem entremeadas por suas memórias de amores, tristezas, incômodos e descobertas. Nos depoimentos o ato de olhar vai sendo dobrado e redobrado, desnaturalizado. Aproximando-nos da visão de Pasolini (1982) de que a realidade seria um cinema de plano-sequência ininterrupto que cada um de nós filma com seus sentidos, pode-se dizer que as experiências narradas no documentário, bem como as imagens que entremeiam estas narrativas, nos fazem percorrer por outras possibilidades de percepção, outras aproximações, focos, movimentos, jogos de luz e sombra, até mesmo da total sombra, nos levando a dimensões fílmicas dos cheiros, tatos e sons... Eugen Bavcar, personagem marcante do documentário, na sua paradoxal condição de profissional da imagem e cego, nos coloca em dúvida a idéia da visão como naturalmente o sentido prioritário de conhecer as coisas. Como ele mesmo conta, sua visão não lhe foi tirada bruscamente: fui ficando cego, pouco a pouco, como se tratasse de um longo adeus a luz (Bavcar, 2003(b), p.57). O seu contato anterior com o mundo das imagens abriu-lhe a possibilidade de, entre a memória, a imaginação e o uso de seus outros sentidos, criar imagens mentais e transformá-las em fotografia. Não vejo imagens, porém faço imagens, eu tento fazer surgir objetos, imagens a partir de um berço de Foi no mês de dezembro que levaram Gigitinho. Lhe tiraram do mundo para pôr na guerra ... O guia chamou Estrelinho à parte e lhe tranqüilizou: - ‘Não vai ficar sozinhando por aí. Minha mana já mandei para ficar no meu lugar’... Desde então, a menina passou a conduzir o cego. Fazia-o com discrição e silêncios. E era como se Estrelinho, por segunda vez, perdesse a visão. Porque a miúda não tinha nenhuma sabedoria de inventar. Ela descrevia tintins da paisagem, com senso e realidade. Aquele mundo a que o cego se habituara agora se desiluminava... Mia Couto
  • 7. 7 7 trevas (Bavcar, 2003(b), p.62). Suas fotografias brincam com a luz, são invenções, imaginações e nelas por vezes a luz ganha peso e as sombras se iluminam. As reflexões deste artista e pensador ofuscam a idéia clássica de controle do mundo pelo sentido da visão e mostram-nos que o visível é um campo bem menos homogêneo do que habitualmente nos damos conta (Bandeira, 2003 apud Bavcar, 2003(b), p.15). Em Janela da Alma, Bavcar nos instiga ao dizer: hoje vivemos em um mundo de cegos. As pessoas não sabem mais ver, pois não tem mais o olho interior. Vive-se um tipo de cegueira generalizada. Suas sábias palavras invertem nossas lógicas e fazem-nos refletir sobre onde, em nós, mora a escuridão. Este trabalho artístico paradoxal e polêmico (Um dia, uma professora do curso desabafou indignada: Como pode um artista expor sem ele próprio ter visto sua obra!) traz uma contribuição interessante no pensamento da fotografia como acontecimento deleuziano: É neste sentido que é um acontecimento: com a condição de não confundir o acontecimento com sua efetuação espaço-temporal em um estado de coisas. Não perguntaremos, pois, qual o sentido de um acontecimento: o acontecimento é o próprio sentido. O acontecimento pertence essencialmente à linguagem (Deleuze, 2003, p.23). O seu modo de produzir imagens desprega por completo a conotação da fotografia como registro de algo que aconteceu em um tempo e espaço determinados. Deslocamo-nos da idéia da fotografia como resíduo do visto (Franceschi- Lima, 1984). Os acontecimentos são suas fotografias, seus modos de inventá-las ao sabor do acaso, da imprecisão, dos desejos internos e da necessidade de miraginar mundos (Couto, 1996). De manhã chega a notícia: Gigito morrera. A moça essa, deixou de falar... E assim ficou, sem competência de reviver. Até que a ela se chegou o cego e lhe conduziu para a varanda da casa. Então, iniciou de descrever o mundo, indo além dos vários firmamentos. Aos poucos foi despontando um sorriso: a menina se sarava da alma. Estrelinho miraginava terras e territórios... - ‘Isso tudo, Estrelinho? Isso tudo existe a onde? ’ E o cego, em decisão de passo e estrada, lhe respondeu: - ‘Venha, eu vou lhe mostrar o caminho!’. Mia Couto Eugen Bavcar série: Auto-Retratos
  • 8. 8 8 Encontro com imagens, nascimento de palavras Diferentes observadores, uma mesma fotografia e a pergunta: que palavras lhe surgem ao entrar em contato com esta imagem? Um convite: entre na imagem experimente-a. Exercite um olhar passivo, que se deixa afetar pelas coisas vistas, não aquele ativo que quer explicar a imagem, dessecá-la, revelar a verdade que mora por detrás dela, dar-lhe uma versão oficial e verdadeira. Durante um tempo silencioso fazemos uma viagem entre a imagem e suas palavras. Compartilhamos depois os diferentes textos. Aparecem então leituras tímidas de palavras soltas, aquelas emocionadas de textos poéticos, as frases reflexivas, as longas narrativas repletas de memórias... Há também em alguns textos a tentativa de explicar a fotografia dentro de uma lógica. Buscamos, no entanto, nesta partilha deixar que as diferentes visões apareçam, sem nos preocuparmos em produzir um sentido consensual e único. Deixamos que a multiplicidade apareça e se instaure. Preocupamos-nos assim, menos com a fotografia em si e mais com os efeitos que ela surte em cada pessoa, com os acontecimentos/sentidos que nos possuem quando encontramos as imagens. Deixamos que a imagem transforme e que também sofra as transformações dadas pelo observador. É bastante instigante a carga poética e reflexiva da maioria dos textos produzidos nesta atividade. A linguagem fotográfica parece exercitar o olhar circular, não causal e alegórico (allos=outro; agorien=falar) e parece nos convidar à experiência da evasão, da novidade e da imaginação, que produz um outro dizer, um outro saber, em que as metáforas precedem as explicações e conceituações. Estamos acostumados com uma relação de subordinação da imagem em relação ao texto. Ou seja, a Um único olhar é um único olhar. Para um único olhar não é possível o todo. Um olhar é uma forma de mostrar essa parte. Essa parte contém o todo, assim, como o todo contém a parte Parte-Todo, todo-Parte. A fotografia. Gilbert de Oliveira Santos professor participante do curso.
  • 9. 9 9 fotografia aparece, muitas vezes, como ilustração das palavras ou como comprovação dos conhecimentos produzidos textualmente. Fatorelli (2003) nos traz reflexões sobre a relação palavra e imagem estabelecida em algumas pesquisas, em que o uso de fotografias vem acompanhado de textos: Os comentários, via de regra, não surgem a partir de indagações dirigidas às imagens, referem-se a preconceitos adquiridos em outros momentos e se utilizam das imagens, compreendidas como imparciais, para validar um ponto de vista sobre o tema retratado: validar um ponto de vista, neste caso, não como um entre outros, mas como verdadeiro e único (Fatorelli, 2003, p.27). A imagem nestes casos vem como forma de complementação e comprovação de uma mensagem, enfraquecida dos seus valores expressivos e conteúdos propriamente visuais (p.29). Buscamos com esta dinâmica uma perspectiva em que fotografia é trazida como uma linguagem outra, produtora de discursos e conhecimentos outros. Lembrando Paulo Freire (1996) quando nos diz que a curiosidade já é conhecimento. Como a linguagem que anima a curiosidade e com ela se anima, é também conhecimento e não só expressão dele (p.61). A linguagem, seja fotográfica, oral ou escrita, deixa de ser considerada como instrumento de expressão e revelação de saberes, mas como uma matéria-prima que da forma, cor e textura própria aos saberes gerados por ela. Ensaios fotográficos A fotografia pode nos ajudar na busca do que Roseana de Andrade (2002) chama de ver com olhos livres: olhos que não se cegaram para o comum que ainda podem enxergar Fotografia de minha autoria Fotografar recria mundos: o fotógrafo (ou a fotógrafa) permanece detrás da câmara, criando um minúsculo elemento de outro mundo: o mundo das imagens que se oferecem a sobreviver a todos nós. Susan Sontag
  • 10. 10 O olhar fotográfico percorre caminhos distantes da realidade explícita. Fotografar é um prazer interior, como se moldasse um mundo meu. Uma paisagem não é apenas uma paisagem. Uma parede, não é uma parede. É o tempo desgastado nas tintas e nas 10 reparando, transformando a realidade em obra, em outro significado que não funcional e prático (p.27). Tal exercício nos parece interessante para quem lida com a educação. Lançamos ao final do curso um desafio aos professores (as): realizar um ensaio fotográfico individual na/sobre a escola que leciona. Entramos em contato com narrativas de diferentes fotógrafos sobre suas experiências, a partir de um vídeo-documentário3, de livros e revistas de fotografia. A fotografia ganha diferentes sentidos em cada uma destas experiências. Cada um deles, a seu modo, se atém a alguns temas de interesse, suas fotografias são fruto de um olhar intencionado, sensível e ativo. Há por detrás das lentes, um olho que escolhe, recorta e define o momento certo do clique, de acordo com seus desejos. Como nas palavras de Luis Humberto (2000), o instante da fotografia se dá no momento em que há o encaixe entre o que está sendo fotografado e alguma idéia pré-existente do fotógrafo. Uma fotografia é resultado de um bom e fugaz encontro, previsto ou inesperado, mas também de uma busca, de uma intenção que possibilita ver coisas que poderiam passar despercebidas. Fazer um ensaio fotográfico é estudar algo por meio do olhar, é fotografar muitas vezes a mesma coisa até conseguir dizer aquilo que se quer, é colecionar imagens, é ir à busca de uma resposta para uma pergunta ou, como nas palavras do fotógrafo Gal Oppido: é ter uma idéia e tentar traduzi-la em imagem4. Para Juca Martins, fotojornalista, a busca pelos ensaios fotográficos é uma forma de tentar contar uma história, não mais com uma fotografia, mas com várias. Uma maneira da imagem se libertar do texto.5 Gene Heber - professora participante do curso. 3 Série “Encontros” do Itaú Cultural – Caixa Cultura: fotografia, no qual há depoimentos dos fotógrafos: Maureen Bisilliat, Juca Martins, Cristiano Mascaro e Gal Oppido. 4 Trecho selecionado do vídeo “Encontros”. 5 Trecho selecionado do vídeo “Encontros”. chuvas. Roubo da realidade o que não existe no mundo real. É aí que estampo meus sonhos, e que os sonhos saídos de mim, façam alguém outro sonhar. Leonardo Crescenti
  • 11. 11 11 Contar uma história, traduzir idéias, encontrar nossas minguadas verdades, moldar um mundo, estampar sonhos, criar territórios, colecionar... Diferentes sentidos que vão nos ajudando a descobrir nossas de artes de fazer fotografia. Como preparação para a elaboração dos ensaios, abordamos algumas técnicas básicas da fotografia, como enquadramento, composição e jogo de luz e sombra, para equipamentos simples, digital ou comum. Foram criados diversos ensaios, cada qual enfatizando um tema do cotidiano escolar, escolhidos e pesquisados por meio da observação e da fotografia pelos professores (as): os olhares externos por entre as janelas de uma escola, os movimentos da criança nos diferentes espaços e tempos, os instantes de solidariedade em uma sala de aula, o encontro com o que não quer ser visto... Fotografar é um movimento de expressão e produção de sentidos que se faz na relação entre os mundos internos e os externos. E nesta dança entre a informação e a imaginação, entre o registro e a invenção que se dá no ato de fotografar buscamos compreender por onde caminham os significados dados aos pequenos acontecimentos dos nossos ricos e conflituosos cotidianos. Antonio Carlos Amorim (2005), inspirado em vertentes pós-estruturalistas, sugere-nos uma forma de produzir e de olhar para tais imagens do cotidiano: Como recursos de construção de nossas experiências cotidianas e de nosso imaginário e não uma expressão que possa ser submetida à análise e interpretação, assumida como possível e verdadeira nas apresentações do cotidiano (p.115). Parece-me que pelas fotografias produzidas nos ensaios fotográficos expressam-se e produzem-se sentidos, desejos, questionamentos e encantamentos sobre o vivo Crio territórios para fazer o espectador duvidar daquilo que vê, um espelho distorcido. É possível forjar situações simplesmente pelo olhar do fotógrafo e pela edição. Faço o que se passou a chamar de fotografia construída. Rosângela Rennó Deise Fahl – professora participante do curso.
  • 12. 12 12 mundo da escola e busca-se eternizar o que muitas vezes se esvai nas rotinas escolares. Nas escolas fotografa-se muito. Parece haver uma busca cotidiana de imortalizar alguns instantes, de dar importância a eles, de trazê-los a vista. A escola muitas vezes é um lugar de apagamentos - os escritos da lousa transformam-se diariamente em pó de giz, os cartazes jogados no lixo ao final dos bimestres, os cadernos queimados pelos alunos ao final do ano. Há muitos que passam e não deixam seus nomes, há os que passam e que insistentemente querem marcar o espaço: nomes de adolescentes por todos os lados, paredes, mesas, cadeiras, portas de banheiro... O que se quer que sobreviva a partir das fotografias? Na relação com as fotografias como se fazem e refazem sentidos sobre a escola? A escola com seus tempos esmagados pelos sinais que separam as aulas, pelos bimestres que separam os conteúdos, pelos anos... Esmagada pelo tempo que corre, esmagada por tudo que querem fazer caber nela, esmagada pelos desejos do que deve ser a professora, os alunos, os pais... tempo que nunca chega. As caixas repletas de fotografias que se empilham nos armários das escolas, os computadores e os disquetes repletos de imagens digitais. O tempo na escola flui... Geralmente são os bons momentos que são fotografados, parecem ser as alegrias, as boas sensações, as conquistas, os bons encontros que merecem ser eternizados. Outras vezes não... Restos escolhidos para serem mantidos. Os acontecimentos passam, morrem, morremos e as fotografias são objetos que se oferecem a sobreviver entre nós. Pulverizam-se sentidos/acontecimentos neste oferecimento à sobrevivência. Os reveladores e os fixadores do processo fotográfico nos servem para este processo de Entendo o ato de fotografar como um gesto de colecionar. Você escolhe uma imagem a ser retida, processa pela fotografia como forma de possuir aquilo representado pela imagem. O fotógrafo é um colecionador. Rochelle Costi Janaína Pinheiro – professora participante do curso. A câmera é uma maneira fluida de encontrar outra realidade Jerry Uelsmann
  • 13. 13 13 mumificação. Tentativa de reter a passagem do tempo, de reter aquilo que inexoravelmente passa. As fotografias são restos que recriam sentidos, objetos que materializam desejos. Como as fotos dão às pessoas a posse imaginária de um passado irreal, também as ajudam a tomar posse de um espaço que se acham inseguras (Sontag, 1984, p.19). Um passado imaginário... Penso na fotografia como aquilo que se cria como resto, como objetos simbólicos que dão certa materialidade há o que insiste em esvair, como restos do que foi, do que não foi, do que poderia ter sido, do que se deseja que seja. Talvez, poderíamos pensar na fotografia como aquilo que deseja ser realidade, que busca dar materialidade às luzes fugazes que continuam no espaço em destino infinito. Buscam criar um outro mundo... uma aspiração... perfumes fugindo do mundo (Couto, 1996). Bibliografia 1. AMORIM, Antonio Carlos. Photografias, escritascotidiano e currículo deformação. In: FERRAÇO, Carlos Eduardo (org). Cotidiano escolar, formação de professores (as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2005. 2. ANDRADE, Rosane. Fotografia e Antropologia – olhares fora-dentro. São Paulo: Edusp, 2002. 3. BAVCAR, Eugen. Memória do Brasil. São Paulo: Cosac & Naify, 2003(b). 4. BAVCAR, Eugen. Um outro olhar. Revista Humanidades. nº 49, janeiro de 2003(a). 5. CHAUI, Marilena. Janela da alma espelho do mundo. In: O olhar. NOVAES, Adauto (Org.) São Paulo: Cia. das Letras, 1999. 6. COSTI, Rochelle. Sem título=untitled=sin titulo. São Paulo: Metalivros, 2005. O instante da fotografia, acontece quando se dá o encaixe entre os significados descobertos no objeto de nosso interesse e alguma coisa pré-existente dentro de nós... Cada instante desses é uma espécie de sofrida e exultante redescoberta de nós mesmos, de encontro com nossas minguadas verdades, com as quais queremos estar apaziguados, mesmo que sejam incompletas. Luis Humberto Rosimar Alves - professora participante do curso
  • 14. 14 14 7. COUTO, Mia. O cego Estrelinho. In: Histórias Abençonhadas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. 8. DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. 4ª ed, São Paulo: Editora Perspectiva, 2003. 9. FATORELLI, Antonio. Fotografia e Viagem: entre a natureza e o artifício. Rio de Janeiro: Relume Dumará: FAPERJ, 2003. 10. FRANCESCHI-LIMA, Sérgio Cláudio de. Collage: textos sobre a re-utilização de resíduos (impressos) do registro fotográfico em nova superfície. São Paulo: Hassao Ohno: Parma Raul de Pace, 1984. 11. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura). 12. HUMBERTO, Luis. Fotografia, a poética do banal. Brasília: Editora UnB e Imprensa Oficial, 2000. 13. LEITE, Márcia. Remexendo Fotografias e Cotidianos. In: ALVES, Nilda & SGARBI, Paulo (Org). Espaços e Imagens na Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 14. MACHADO, Arlindo. A ilusão especular: introdução à fotografia. São Paulo: Brasiliense, 1984. 15. MACHADO, Arlindo. Fotografia: visão do fotógrafo ou visão do real. In: ITAU CULTURAL. Caixa de Cultura: fotografia (Caderno do Professor), 1998. 16. NOVAES, Adauto. Imagens Impossíveis. Revista Humanidades. nº 49, janeiro de 2003. 17. PASOLINI, Píer. Empirismo Herege. Lisboa: Assírio e Aluim, 1982. 18. REVISTA BIEN´ART. Ano II, no7, mar, 2006. 19. SONTAG, Susan. Ensaios sobre a fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 20. SVCENKO, Nicolau. Eu queria roubar a natureza. In: ITAU CULTURAL. Caixa de Cultura: fotografia (Caderno do Professor), 1998.