Este ensaio foi escrito para ser socializado no I Encontro de Cinema e Educação realizado no dia 14 de março de 2014 na Universidade Estadual de Goiás na Unidade Universitária de Pires do Rio, como parte das atividades do Projeto de Extensão "Cinema e Educação: uma experiência crítica na sala de aula", coordenado pela Prof. Ms. Andréa Kochhann da UnU de São Luís de Montes Belos em parceria com a Prof. Ms. Liberalina Teodoro Resende da UnU de Pires do Rio.
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AS TENDÊNCIAS PARADIGMÁTICAS NO PROCESSO DE ENSINAGEM: uma análise fílmica
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
PROJETO DE EXTENSÃO
“CINEMA E EDUCAÇÃO:
uma experiência crítica na sala de aula”
“CINEMA E EDUCAÇÃO:
Uma experiência crítica na sala de aula”PRIMEIRO ENCONTRO DE
CINEMA E EDUCAÇÃO
Coordenadoras:
Prof. Ms. Andréa Kochhann
UnU de São Luís de Montes Belos
Prof. Ms. Liberalina Teodoro Rezende
UnU de Pires do Rio
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AS TENDÊNCIAS PARADIGMÁTICAS NO PROCESSO DE ENSINAGEM: uma análise
fílmica1
KOCHHANN, Andréa2
ARANTES, Ana Paula3
RESUMO: O presente ensaio trata das questões paradigmáticas no cenário educacional. As
diferenciações entre o paradigma cartesiano e o holístico compõem importantes conceitos a serem
concebidos pelo educador. A postura didático-metodológica do professor, mediante um
paradigma, para favorecer a ensinagem. O filme „Escola da vida‟ traz uma importante contribuição
para a compreensão da teria em questão.
Palavras-chaves: Paradigmas. Ensinagem. Postura Docente.
INTRODUÇÃO
Para falar sobre as tendências paradigmáticas no processo de ensinagem é necessário
compreender o que significa paradigma. Assim como toda a humanidade e as sociedades se
transformam ao longo do tempo, também ocorrem crises dentro de um paradigma. Isso leva o
leitor a entender que existe mais de um tipo de paradigma.
Abordar-se-á, principalmente, a visão de Costa Neto, Pierre Weill e Marilyn Ferguson
para embasar o discurso dos paradigmas. Os referidos autores apresentam dois tipos de
paradigmas. O primeiro é o antigo paradigma ou paradigma tradicional ou paradigma do ensino ou
1 Ensaio expandido elaborado para o “I Encontro de Cinema e Educação” realizado na UEG – UnU de Pires do Rio,
no dia 14 de março de 2014, como parte do projeto de extensão “Cinema e Educação: uma experiência crítica em
sala de aula”, coordenado pela Prof. Andréa Kochhann da UnU de São Luís de Montes Belos e a Prof. Liberalina
Teodoro de Resende da UnU de Pires do Rio.
2 Pedagoga pela UEG, Especialista em Docência Universitária pela UEG, Mestre em Educação pela PUC – GO,
Pesquisadora e Extensionista. Coordenadora da PAIDOS – Revista de Educação e Ensino, Coordenadora do
GEFOPI – Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade. Dedicação Exclusiva da UEG –
UnU de São Luís de Montes Belos andreakochhann@yahoo.com.br
3 Acadêmica do 3º ano do Curso de Pedagogia da UEG – UnU de São Luís de Montes Belos, componente do
GEFOPI, integrante do projeto de extensão “Cinema e Educação”.
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paradigma cartesiano ou paradigma cartesiano-newtoniano. O segundo é novo paradigma ou
paradigma emergente ou paradigma da educação ou paradigma holístico ou sistêmico-
contingencial.
Os dois modelos de paradigmas podem compor a postura didático-metodológica do
professor e influenciar no processo de ensinagem. O filme „Escola da vida‟ é um longa-metragem
que apresenta a postura de dois professores de uma mesma instituição de ensino, com
características concernentes aos dois paradigmas citados.
Os objetivos desse resumo expandido é discutir as questões conceituais sobre as
tendências paradigmáticas relacionando-as a postura do professor expressa no filme „Escola de
vida‟ para que os leitores se identifiquem com as análises realizadas e assim reflitam sobre suas
posturas.
CONCEITUANDO PARADIGMA
As sociedades modernas tem vivido chamada crise de paradigma. Afinal, o que é um
paradigma? Na concepção de Costa Neto (2003, p. 36) “O paradigma é uma produção humana
passível de transformação, partindo para uma postura que leve a outros resultados, o que requer,
além do entendimento, a crença de que é possível.”.
O autor ainda afirma que um paradigma determina a postura das pessoas mediante sua
realidade, o que provoca uma mudança significativa em sua vida, pois “o referencial
paradigmático estabelece os parâmetros não só do saber, mas também dos seus valores, crenças,
razões, objetivos e metas.” (p. 35).
Já o conceito de paradigma para Kuhn (apud BRANDÃO, 2002, p. 15) “é aquilo que os
membros de uma comunidade científica partilham e, inversamente, uma comunidade científica
consiste em homens que partilham um paradigma.”. Os autores compartilham da ideia de que o
paradigma envolvem todos os homens de uma comunidade em todos os seus aspectos. Dessa
forma, entende-se que a humanidade vive envolta a um paradigma.
Ao longo da história da humanidade ocorreram várias transformações tanto no campo
político, quanto no social, econômico, cultural e educacional, como cita Aranha (2006). Essas
transformações são influenciadas pelo paradigma vigente. O que portanto, conclui-se que o
paradigma sofre crise. Na visão de Marcondes (2002, p. 15)
Uma crise de paradigmas caracteriza-se assim como uma mudança conceitual, ou uma
mudança de visão de mundo, conseqüência de uma insatisfação com os modelos
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anteriores predominantes de explicação. A crise de paradigmas leva geralmente a uma
mudança de paradigmas […].
O resumo expandido que se apresenta visa discutir a crise de paradigmas no campo da
educação. O que não deixa de influenciar os outros campos ou vice-versa. Para Costa Neto (2003,
p. 26) “[...] é urgente transformar a forma de ver e fazer a educação e analisar com profundidade o
papel e a função da escola dentro de um contexto mais amplo.”.
A visão do autor propicia a compreensão de que a humanidade não suportará outro século
vivendo na concepção do paradigma tradicional, que dominou por mais de quatrocentos anos. Isso
implica que é necessário um repensar da postura dos educadores e mudar suas atitudes
caminhando para o paradigma emergente.
DIFERENCIANDO OS PARADIGMAS
Com o intuito de diferenciar os paradigmas é importante ressaltar quando se fala em
mudança não significa que ocorre uma mudança radical de pensamento e postura. Mas, o que deve
acontecer é uma análise abrangente e complexa do que é necessário para suprir as necessidades do
momento.
Relacionando esse conceito ao processo de ensinagem, conclui-se que a postura didático-
metodológica do professor em tempos outrora seguia o modelo de paradigma antigo e tradicional.
Nos tempos atuais, levando em conta que outros setores passaram pela crise dos paradigmas, na
educação convém que o professor considere o paradigma emergente.
O antigo paradigma também conhecido como tradicional, possui uma visão dividida,
linear segundo Costa Neto (2003). Para o autor a teoria não tem relação com a prática, visam o
ensino numa ação fragmentada, onde ocorre à utilização das partes em detrimento do todo.
Também não acontece a interdisciplinaridade porque as disciplinas são trabalhadas de forma
isolada e com uma verdade absoluta.
Segundo Ferguson (apud COSTA NETO, 2003), o antigo paradigma é do ensino, sendo
tecnicista, predeterminado, tem uma concepção acabada, que visa resultados prontos, sem
mudanças. As pessoas que a utilizam um pensamento racional, objetivo, de uma forma fria, sem
sentimentos, com racionalidade lógica, valorizando um fator intelectual e ênfase na aprendizagem.
Para abordar esse paradigma Pierre Weill (apud COSTA NETO, 2003) utilizou o termo
„cartesiano‟ fazendo referência a René Descartes e as regras matemáticas e, por causa de seus
conceitos como ensino limitado, competição, possessividade, com exposição verbal, onde o
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complemento são os livros. Nesse modelo a escola fica separada da sociedade, o professor
introduz sua opinião e o aluno não tem voz ativa.
O novo paradigma também conhecido como emergente, possui uma visão ampla, onde se
desenvolve o todo para depois chegar às partes, sendo que teoria e prática trabalham juntas de
maneira complementar. Também ocorre a probabilidade, pois utiliza um pensamento subjetivo,
sujeito a imprevisto, é dinâmico, globalizado, equilibrado na concepção de Costa Neto (2003).
É baseado também na educação, nas transformações sociais, na produção do
conhecimento, acredita-se na negociação de normas, regras, de acordo com a necessidade da
questão, procuram instigar o conhecimento em várias dimensões, como na sociedade, por
exemplo, já que a escola está inserida em seu meio. O educador não só ensina como também
aprende com os alunos. Esses conceitos são apontados por Pierre Weill, Marylun Ferguson e
Costa Neto (2003).
Esse novo modelo, também chamado „holístico‟ é uma versão aprimorada do antigo, com
sua visão total e sujeita a mudanças, ele integra a sociedade, trabalha com cooperação, igualdade,
num processo de desenvolvimento e harmonia, com a subjetividade, levando em conta as
emoções, a realidade de cada um, procurando o desenvolvimento geral.
Com o intuito de relacionar a teoria à prática, far-se-á uma análise de um filme com a
temática apresentada. Almeja-se diferenciar a prática cartesiano da holística a partir da reflexão de
trechos do filme “Escola da vida”.
UMA ANÁLISE FÍLMICA
Ao assistir o filme “Escola da vida”, do diretor William Dear, tem como principais atores
Ryan Reynolds e David Paymer, interpretando o Sr. D. Ângelo e Matt Warner, respectivamente. O
filme é um longa-metragem, no gênero de drama, com duração de 115 minutos, dublado. Os
referidos personagens representam dois professores de uma instituição educacional Fallbrook
Middle School nos Estados Unidos, sendo um de História e outro de Biologia.
Em várias cenas do filme são encontradas possibilidades de discussão sobre a questão dos
paradigmas. Uma das cenas apresenta que o professor de Biologia, o sr. Matt Warner, tem mais
idade que o Sr. D. Ângelo, professor de História. Neste momento cabe indagar se a idade
influencia no paradigma. Responde-se negativamente a esse questionamento.
Lembrando que o Sr. D. Ângelo, o jovem professor e recém-formado, se espelhou no Sr.
Tormento, um professor de idade avançada mas que foi por mais de quarenta anos “o professor do
ano”, por representar para os alunos a simbologia do que é ser um bom professor. Assim, fica
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expresso que o Sr. D. Ângelo se tornou o “professor do ano”, após o falecimento do Sr. Tormento,
por seus ensinamentos.
Importante salientar que o Sr. Matt era filho do Sr. Tormento e nem por isso adotou uma
postura tal qual de seu pai, ele desenvolveu outra metodologia. Focava no conhecimento dedutivo,
onde era apresentada informações para serem armazenadas pelos alunos. Também utilizava uma
postura autoritária e tradicional. Essa postura pode ser percebida em várias cenas do filme.
Pode ser que o perfil da disciplina tenha influenciado nas posturas. O Sr. Matt ministrava
aula de Biologia, uma matéria que utiliza métodos e experimentos. A Biologia é apresentada como
uma disciplina exata, linear, objetiva, técnica, baseado nos experimentos e em testes, que podem
ser controlados e comprovados.
Isso pode favorecer o professor adotar um comportamento mais rígido, o que no caso seria
conveniente e uma forma de impor respeito e subjugar os alunos. O professor tem uma postura
racional e não leva em conta relações pessoais. O Sr. Matt tinha intenção de repassar seus
conhecimentos. Essa postura está de acordo com o paradigma cartesiano, das ciências exatas,
segundo Costa Neto (2003).
A História é uma disciplina da área de humanas, que aborda os fatos históricos, ocorridos
com pessoas e lugares diferentes e que pode ser aberta há discussões, realidades distintas. O
professor de História, trabalha com uma disciplina mais social, com fatos históricos, sendo mais
subjetiva. Sua postura pode ser influenciada pela matéria ou influenciar a matéria. Apresentava
dinamismo e didática. Procurou conhecer a realidade de seus alunos e começou a interagir com a
sala, de forma que todos participavam. Essa postura está de acordo com o paradigma holístico,
segundo Costa Neto (2003).
Conforme é percebido em várias cenas do filme, os professores possuíam maneiras
diferentes de tratar seus os alunos. O professor Matt era autoritário, desejava seus alunos passivos
e não procurava saber a realidade de cada um. Postura de um professor cartesiano, segundo Costa
Neto (2003) e da aprendizagem mecânica, segundo Ausubel (1982). Já o professor D. era
compreensivo, conversava com os alunos, interagia, conhecia a realidade deles e tentava ajudar.
Postura de um professor holístico, segundo Costa Neto (2003) e da aprendizagem significativa,
segundo Ausubel (1982).
A gestão das salas de aula, conforme mostra o filme, eram organizadas de maneira
diferentes. Na aula de Biologia as carteiras eram marcadas, muito silêncio, sendo uma aula muito
teórica, onde só professor falava. Na gestão da sala de História, não tinha carteiras marcadas,
haviam brincadeiras, muito diálogo, eram aulas mais práticas, numa relação recíproca entre aluno
e professor. O que se observa é que a gestão da sala de aula e da efetivação da própria aula
depende do paradigma que o professor segue.
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Os professores tiveram também escolhas diferentes no tocante ao modo de vida. Matt
optou por levar suas frustrações para o trabalho. Demonstrava-se amargurado, triste, invejoso.
Enxergou no substituto de seu pai, um rival. O Sr. D´Ângelo, apesar de seu problema de saúde,
uma doença crônica, optou por viver da melhor forma possível. Se tornou a alegria de seus alunos
e trabalhava de uma maneira carismática, sincera mas com rigor teórico.
O que se percebe é a importância de um professor assumir a postura holística de
ensinagem. A relação entre professor e aluno permeada pela simplicidade, harmonia, teoria e
companheirismo fazem parte da postura holística apresentada por Costa Neto (2003) e da relação
de coaching apresentada por Ausubel (1982).
CONSIDERAÇÕES
Mediante o que foi apresentado, pode-se observar como foram as tendências
paradigmáticas, quais seus conceitos e como diferenciá-los. Os paradigmas sofreram mudanças
com o passar dos anos, de cartesiano - com uma visão linear e fragmentada para o holístico - um
modelo amplo e cíclico.
O que se espera é que o docente reflita sobre sua postura e assuma o paradigma holístico-
sistêmico ou emergencial ou da educação para compor sua prática pedagógica. Mediante um
paradigma as escolhas de metodologias são efetivadas. Uma aprendizagem significativa passa pela
postura docente.
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. HISTORIA DA EDUCAÇAO E DA PEDAGOGIA. 3.ed. São
Paulo: Moderna,2006.
BRANDÃO, Zaia (org). A CRISE DOS PARADIGMAS E A EDUCAÇÃO. 8. ed. São Paulo:
Cortez, 2002.
COSTA NETO, Antônio da. PARADIGMAS EM EDUCAÇÃO NO NOVO MILÊNIO. 2. ed.
Goiânia: Kelps, 2003.
MARCONDES, Danilo. A CRISE DE PARADIGMAS E O SURGIMENTO DA
MODERNIDADE. In: BRANDÃO, Zaia (org). A CRISE DOS PARADIGMAS E
EDUCAÇÃO. 8.ed. São Paulo: Cortez, 2002.