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Instituto Superior Politécnico de Viseu
ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA
FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM
ANIMAIS DE COMPANHIA
TRABALHO FINAL DE CURSO
Enfermagem Veterinária
Liliana Fonseca Ferreira
VISEU, 2010
Instituto Superior Politécnico de Viseu
ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA
FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM
ANIMAIS DE COMPANHIA
TRABALHO FINAL DE CURSO
Enfermagem Veterinária
Liliana Fonseca Ferreira
Orientador: Dr. João Mesquita
VISEU, 2010
O Orientador
_________________________________
(Dr. João Mesquita)
“As doutrinas expressas neste trabalho
são da exclusiva responsabilidade do autor”.
V
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, tornaram
possível a conclusão deste trabalho.
Agradeço aos meus pais por me terem dado a oportunidade de cursar em
Enfermagem Veterinária, pois sem o seu apoio não teria sido possível concretizar
este grande objectivo de vida.
Aos meus amigos que de uma forma ou outra me ajudaram e apoiaram ao
longo da minha vida, cada um de uma maneira especial.
Aos meus colegas de academia que lutaram comigo, me apoiaram e
vencemos muita coisa juntos, principalmente às amigas que se formaram nesta
conquista, Isabel, Diana, Armanda e Liliana.
A toda a equipa do Hospital Veterinário Montenegro, e aos meus colegas
estagiários por me terem recebido da melhor forma, pelos ensinamentos
transmitidos, pelas lições de vida e pelo companheirismo.
Ao meu orientador, Dr. João Mesquita, pelo apoio prestado durante toda a
realização do trabalho final de curso, pela orientação na sua execução e por toda
disponibilidade demonstrada.
VI
TÍTULO: Fisioterapia e Reabilitação Física em Animais de companhia.
RESUMO
A fisioterapia e reabilitação animal é uma área de actividade cada vez mais
praticada em cães e gatos, sendo sobretudo usada para ajudar os animais a
regressarem às suas funções naturais antes da lesão. O interesse por esta área em
animais surge dos benefícios já comprovados em Medicina Humana e na tentativa
de adaptar algumas das técnicas em pacientes animais. A fisioterapia encontra-se
em grande expansão em Medicina Veterinária, contudo ainda não aceite por todos.
A selecção do tratamento para um paciente animal vai depender das informações
recolhidas pelo clínico durante uma avaliação exaustiva do paciente, sendo
abordado o procedimento para um correcto exame. Sendo a avaliação da dor um
dos pontos fulcrais num processo de reabilitação é importante a sua correcta análise
e controlo. A escolha do protocolo terapêutico é um dos parâmetros mais
importantes e fundamentais para a recuperação de um paciente. Na elaboração do
protocolo é preciso ter em conta a as necessidades do paciente, as modalidades de
fisioterapia disponíveis, a disponibilidades social e financeira do proprietário,
procurando sempre o mais rápido e melhor meio de recuperação. A participação
activa do proprietário é fulcral para uma recuperação mais rápida. Abordado também
neste trabalho foram os vários métodos de fisioterapia existentes e aplicáveis à
Medicina Veterinária, nomeadamente a termoterapia, com aplicações de frio e de
calor, o uso de ultra-sons, técnicas de massagem, e exercícios terapêuticos
passivos, assistidos e activos. Abordaram-se ainda técnicas mais recentes mas de
igual sucesso, como a utilização da hidroterapia e a estimulação eléctrica. Existem
tratamentos alternativos, como a acupunctura, que estão a ganhar peso na Medicina
Veterinária de igual forma como na Medicina Humana. São apresentados três casos
clínicos que surgiram durante a realização do estágio no Hospital Veterinário
Montenegro, que foram resolvidos com o auxílio da fisioterapia e dos cuidados de
enfermagem. Não sendo uma área compreendida por todos, dá reconhecidas
vantagens para quem a pratica.
PALAVRAS-CHAVES
Fisioterapia, Dor, Massagem, TENS, Acupunctura
VII
TITLE: Physiotherapy and Physical Rehabilitation in Pets.
ABSTRACT
Animal physical therapy and rehabilitation is an area of activity with
increasing utilization in dogs and cats, but mostly to help animals to get back to their
normal functions after an injury. The interest for these practices in animals comes
from the verified benefits in Human Medicine and from the attempt to adapt some of
the techniques in animal patients. Physical therapy is in great expansion inside the
Veterinary Medicine, although not yet accepted by all. The choice of treatment for an
animal patient will depend of the information gathered by the physician during an
exhaustive clinical appraisement. Being the pain appraisement one of the key points
in the rehabilitation process, its correct analysis and control is an important phase.
The choice of the therapeutical process is one of the most important and
fundamental characteristics in patient recovery. In a protocol elaboration, the
patient’s necessities, the physical therapy modalities available and the social and
financial status of the owner, need to be accounted. The owner’s active participation
is crucial for a complete and fast recovery. Approached in this thesis were the
several physical therapy methods available and applicable in Veterinary Medicine,
such as thermotherapy with hot and cold applications, the use of ultrasounds,
massage techniques and passive therapeutical exercises, assisted and active. More
modern techniques are also approached such as hydrotherapy and electrical
stimulation. There are alternative treatments like acupuncture; these are gaining
importance in Veterinary Medicine and in Human Medicine. There are presented
three clinical cases that appeared during the realization of an internship in the
Montenegro Veterinary Hospital. These cases were solved with the help of the
physical therapist and the nursing staff. This area, although yet not fully understood
by all, is showing to be extremely fruitful in animal rehabilitation to those who practice
it.
KEYWORDS
Physiotherapy, Pain, Massage, TENS, Acupuncture
VIII
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ……………………………………………………………………....V
TÍTULO, RESUMO, PALAVRAS-CHAVE ……………………………………..………. VI
TITLE, ABSTRACT, KEYWORDS ……………………………………………….......... VII
ÍNDICE GERAL ………………………………………………………………………….. VIII
ÍNDICE DE FIGURAS ……………………………………………………………………..XI
ÍNDICE DE QUADROS …………………………………………………………………. XI
ÍNDICE DE ABREVIATURAS ………………………………………………………….. XV
I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO …………….16
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA …………………………………………………………. 18
1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA …………………………………………………… 19
1.1. OBJECTIVOS ……………………………………………………………………….. 20
1.2. INDICAÇÕES………………………………………………………………………… 20
1.3. CONCEITOS BÁSICOS…………………………………………………………….. 21
2. EXAME DO PACIENTE ………………………………………………………………. 23
2.1. EXAME CLÍNICO ……………………………………………………………………. 23
2.2. EXAME FÍSICO ……………………………………………………………………… 24
3. DOR ………………………………………………………………………………………28
3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR …………………………………………………………29
3.2. AVALIAÇÃO DA DOR ……………………………………………………………… 30
3.3. MANEIO DA DOR …………………………………………………………………… 31
4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO………………………………………………………. 34
4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO ………………………………. 34
4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO …………………………………………. 35
4.3. MANEIO DO PESO …………………………………………….…………………… 36
5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA ……………………………………………………… 37
5.1. TERMOTERAPIA …………………………………………………………………….37
5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA ……………………………… 37
5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR ……………………………………………….. 38
5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO ………………………………………….. 39
5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS ……………………………………………. 41
5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES ………………………………………….. 41
5.2. MASSAGEM …………………………………………………………………………. 42
IX
5.2.1. RESULTADOS …………………………………………………………… 42
5.2.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 43
5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………….43
5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM …………………………………………… 43
5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL …………… 43
5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA ……………..44
5.2.4.3. FRICÇÃO ………………………………………………………………..45
5.2.4.4. AGITAR …………………………………………………………………. 46
5.3.4.5. PERCUSSÃO ………………………………………………………… 46
5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA ……………………………47
5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO ………………………………. 48
5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO ……………………………. 51
5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO …………………………………54
5.4. HIDROTERAPIA …………………………………………………………………….. 60
5.4.1. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 62
5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 62
5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA ………………………………… 62
5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA ……………………………………. 63
5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS …………..………………………………….. 63
5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA ………………………………………………………65
5.5.1. EFEITOS BIOLÓGICOS ………………………………………………… 67
5.5.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 67
5.5.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 67
5.5.4. COLOCAÇÃO DOS ELÉCTRODOS E A DOSE DE ESTIMULAÇÃO
ELÉCTRICA A USAR …………………………………………………………………….. 68
5.5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS)71
5.6. MÉTODOS ALTERNATIVOS ……………………………………………………… 72
5.6.1. ACUPUNCTURA ………………………………………………………….72
5.6.1.1. INDICAÇÕES…………………………………………………………. 74
5.6.1.2. CONTRA-INDICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS …………………….74
6. ASPECTOS ECONÓMICOS DA FISIOTERAPIA …………………………………. 75
7. CASOS CLÍNICOS ……………………………………………………………………. 76
7.1. CASO CLÍNICO Nº1. “SHUMI” …………………………………………………… 76
7.1.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 76
X
7.1.2. DIAGNÓSTICO ………………………………………………………….. 76
7.1.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 79
7.1.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 80
7.2. CASO CLÍNICO Nº2. “MIRÓ” …………………………………………………….. 82
7.2.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 82
7.2.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………... 82
7.2.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 85
7.2.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 86
7.3. CASO CLÍNICO Nº3. “SPOTTY” …………………………………………………..88
7.3.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 88
7.3.2. DIAGNÓSTICO ……………………………………………………………88
7.3.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 90
7.3.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 92
8. CONCLUSÃO ………………………………………………………………………….. 94
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………… 96
ANEXO A - TABELA DOS ANALGÉSICOS MAIS USADOS EM CÃES E GATOS 102
XI
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior). ……………. ……………16
Figura 2. Localização do HVM no mapa. . ……………………………………………. 16
Figura 3. Corpo clínico do HVM. ………………………………………………………...17
Figura 4. Recepção. a) e b). ………………………...…………………………………...18
Figura 5. Consultório pequeno. .... ………………………………………………………18
Figura 6. Sala de cirurgia. ………………………………………………………………. 18
Figura 7. Internamento geral do HVM. ………...……………….……………………….18
Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético. ..…………………. ………. 21
Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade. .………. ………..…. 21
Figura 10. Realização do “Kliber test”. ...………………………………………………. 25
Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver”. ………………………...25
Figura 12. Goniómetro. …………………………………………………………………...26
Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retrivers: a) Flexão e
extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente; c) Extensão do
cotovelo e ombro, respectivamente. ……………………………………………………. 26
Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica. …………...27
Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do
tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente. ……………28
Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo. ………………………28
Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor
moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor). ……………………………………...29
Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas. ………………………. ………. 31
Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa. ………………...35
Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha.38
Figura 21. Imersão dos membros de um cavalo em água fria como técnica
escolhida. …………………………………………………………………………………...38
Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos. ……………………………39
Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons. . ………………………………. 40
Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna. ……………………………………………44
Figura 25. “Effleurage” no membro posterior. …………...……………………………. 44
Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior. …………………………………………45
Figura 27. Técnica de fricção. ……………………………………………………………46
XII
Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão.……………………………………. 47
Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha.…………………. 47
Figura 30. Flexão do membro posterior. ………………………………………………. 49
Figura 31. Alongamento do membro posterior. ………………………………………. 49
Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato. ..…………………………. 49
Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.………. 50
Figura 34. Movimento bicicleta.…………………………………………………………. 51
Figura 35. Caminhar com auxílio de uma toalha. ……………………………………...52
Figura 36. Exercício numa tábua instável. ……………………………………………. 52
Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica. a) e b). ………………. 53
Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica. 53
Figura 39. Subir e descer escadas. ……………………………………………………. 55
Figura 40. Exercício de dança. …………………………………………………………. 56
Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato. ………………. 56
Figura 42. Exercício na passadeira. ...…………………………………………………. 58
Figura 43. Exercício com cavaletes. ..…………………………………………………. 58
Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato. ..………………………. 58
Figura 45. Obstáculos verticais. …………………………………………………………59
Figura 46. Mochila com vários pesos. …….…………………………. ………………. 60
Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é
imerso. ………………………………………………………………………………………61
Figura 48. Piscina para cães. ……………………………………………………………63
Figura 49. Piscina para animais de grande porte. ……………………………………. 63
Figura 50. Passadeira sub-aquática. ……………………………………………………64
Figura 51. Colete salva-vidas para cães. ..……………………………………………. 64
Figura 52. Onda de estimulação típica. …………………………………………………66
Figura 53. Estimulação segmentária, cada área do corpo pode ser tratada numa
área específica (da mesma cor), bilateral à coluna. ………………………………...…69
Figura 54. Apresentação de diferentes áreas de tratamento (vermelho) e respectivas
áreas de aplicação dos eléctrodos, bilateral à coluna (azul). a) Anca (L2 – S1); b)
Joelho (L3 – S1); c) Tarso (L4 – S1); d) Ombro (C4 – C7); e) Cotovelo (C6 – Th1); f)
Carpo (C7 – Th2)….……………………………. …………………………………………70
Figura 55. Acupunctura veterinária. a) Adaptado de Anónimo 2, s/d; b) Adaptado de
Pereira, 2007; c) Adaptado de Anónimo 6, s/d. ………………………………………. 73
XIII
Figura 56. Shumi. ..………………………………………………………………………. 76
Figura 57. Raio X de contraste do Shumi. a) e b). ..…………………………………. 78
Figura 58. Shumi em fisioterapia, numa sessão de Exercício Passivo. ..…………. 80
Figura 59. Shumi em fisioterapia, numa caminhada com o apoio da toalha. ……. 80
Figura 60. Miró. ……………………………………………………………………………82
Figura 61. Ferida de decúbito. …………………………………………………………...82
Figura 62. Miró sem mobilidade, com apresentação de feridas de decúbito. ……...82
Figura 63. Estreitamento do espaço intravertebral L2 – L3. a) e b)…………………..83
Figura 64. Mielografia do Miró. a) Preparação da sala de cirurgia para a realização
da mielografia; b) Recolha do líquido cefalorraquidiano; c) Recolha do líquido
cefalorraquidiano para o teste de Pandy; d) Introdução do líquido de contraste……84
Figura 65. Spotty..…………………………………………………………………. ……. 88
Figura 66. Recolha de Líquido cefalorraquidiano. ……………………………………. 89
Figura 67. Imagem radiográfica da mielografia. ...……………………………………. 89
Figura 68. Aplicação de estimulação eléctrica no Spotty.………………………. ……91
Figura 69. Aplicação de frio, através de um saco de gelo revestido por uma toalha.
………………………………………………………………………………………………. 91
Figura 70. Compressão vesical no Spotty. ……………………………………………. 92
Figura 71. Algaliação no Spotty. …………………………………………………………92
XIV
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriver (em percentagem)..………………26
Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica..……………………………………...31
Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo
a classificação da OMS..…………………………………………………………………. 32
Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais..……………………………………...59
Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a terminologia electroterapêutica da
APTA..……...………………………………………………………………………………. 65
Quadro 6. Local de colocação dos eléctrodos dependendo do tipo de
estimulação………………………………………………………………………………….68
Quadro 7. Padrão Bioquímico do Shumi. ………………………………………………76
Quadro 8. Hemograma do Shumi. ………………………………………………………77
Quadro 9. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Shumi. …………………………79
Quadro 10. Plano fisioterapêutico do Shumi para casa. ……………………………...81
Quadro 11. Padrão Bioquímico do Miró..………………………………………………. 83
Quadro 12. Hemograma do Miró.....……………………………………………………. 84
Quadro 13. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Miró.....………………………. 85
Quadro 14. Plano fisioterapêutico do Miró para casa.……………….………………. 86
Quadro 15. Padrão Bioquímico do Spotty. ……………………………………………. 88
Quadro 16. Hemograma do Spotty. ……………………………………………………. 89
Quadro 17. Plano pós-cirúrgico adequado às necessidades do Spotty. ……………90
Quadro 18. Plano fisioterapêutico do Spotty para casa. ……………………………...92
XV
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
AC – Corrente alternada.
AINES – Anti-inflamatórios não esteróides.
APTA – Associação Americana de Fisioterapia.
BUN – Concentração de ureia no sangue.
CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média.
DC – Corrente directa.
EMS – Estimulação eléctrica muscular.
GPT (ALT) – Transaminase glutâmico pirúvica ou alanina aminotransferase.
GOT (AST) – Transaminase glutâmico oxalacética ou aspartato aminotransferase.
HCM – Hemoglobina Corpuscular Média.
HVM – Hospital Veterinário Montenegro.
MNS – Neurónio motor superior.
NMES – Estimulação eléctrica neuromuscular.
RDW – Percentagem de anisocitose de hemácias.
RMN – Ressonância magnética nuclear.
ROM – Amplitude de movimento.
TAC – Tomografia axial computorizada.
TENS – Estimulação eléctrica nervosa transcutânea.
VCM – Volume Corpuscular Médio.
16
I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO
No âmbito da Licenciatura em Enfermagem Veterinária da Escola Superior
Agrária de Viseu, realizou-se um estágio curricular de cinco meses (de Março de
2010 a Julho de 2010) no Hospital Veterinário Montenegro (HVM) (Figura 1), na
cidade do Porto, Rua Pereira Reis Nº191 (Figura 2).
Figura 1. Hospital Veterinário
Montenegro (vista exterior)
(Adaptado de Anónimo 1, s/d).
Figura 2. Localização do HVM no mapa (Adaptado de Anónimo 2, s/d).
17
Este estágio teve como objectivos principais consolidar os conhecimentos
teóricos adquiridos durante o curso de Enfermagem Veterinária e aperfeiçoar
técnicas de trabalho na prática do dia-a-dia de um hospital.
O estágio foi orientado pelo director clínico do hospital, o Dr. Luís
Montenegro e restante equipa, nas áreas de medicina interna, exames
complementares de diagnóstico, cirurgia e na formação pessoal no que respeita a
comunicação e interacção com os proprietários dos animais. O corpo clínico (Figura
3) existente no HVM durante o meu período de estágio era composto por dez
Médicos Veterinários, dois Enfermeiros Veterinários, uma recepcionista e vários
estagiários (de Medicina Veterinária e/ou Enfermagem Veterinária).
As instalações deste hospital estão adequadas às necessidades exigidas
para realizar o melhor trabalho e dar as melhores condições aos nossos clientes. As
instalações passam por um rés-do-chão, onde se encontra a recepção (que inclui
sala de espera e WC para clientes) (Figura 4), os consultórios médicos (grande e
pequeno (Figura 5)), sala de ecografia e radiografia, sala de cirurgia (Figura 6),
internamento geral (Figura 7), internamento para pacientes com patologias infecto-
contagiosas, um balcão como todo o equipamento de análises clínicas, de raio-X
digital, autoclave e uma arca onde se colocam os pacientes prontos para cremação.
No 1º piso situa-se a cozinha, a sala de estar (onde se realizam as refeições e
trabalhos/documentos), a sala de hemodiálise e a farmácia. No 2º piso temos o WC
para o pessoal do hospital, escritório de administração, sala das rações e ainda uma
Figura 3. Corpo clínico do HVM (Adaptado de
Anónimo 3, s/d).
18
sala vestuário/dormitório. Exteriormente o hospital possui um espaço onde são
realizados os passeios dos animais internados e possíveis visitas feitas no exterior.
Figura 4. Recepção (Adaptado de Anónimo 4,
s/d).
Figura 6. Sala de cirurgia (Adaptado de Anónimo
6, s/d).
Figura 5. Consultório pequeno (Adaptado de
Anónimo 5, s/d).
Figura 7. Internamento geral.
19
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA
Segundo Forterre (2004) a fisioterapia é definida como uma estimulação
generalizada ou tratamento selectivo de uma função fisiológica comprometida por
meios físicos naturais, incluindo uma terapia de estimulação, de regulação e de
adaptação. A fisioterapia pode ainda ser descrita como sendo o tratamento médico
de doenças ortopédicas e neurológicas, onde há o uso exclusivo das forças naturais,
tais como a luz, água, electricidade, calor, frio, massagem e movimento (Weeren,
2007).
Fisioterapia é um termo bastante usado na medicina humana, onde está
implementada há já muitos anos, mas só nos últimos anos é que tem revelado
interesse da medicina veterinária. Parte do interesse surge dos muitos benefícios
comprovados na reabilitação no pós-operatório de pacientes humanos e na tentativa
de adoptar algumas das técnicas para os pacientes animais. Esta área tem sido alvo
de muitos estudos por parte de investigadores para comprovar os benefícios em
pacientes animais. A fisioterapia é uma área em grande expansão em medicina
veterinária, com a existência de diversas oportunidades de formação (cursos de pós-
graduação para veterinários e fisioterapeutas em diversas universidades europeias,
Áustria, Alemanha, Espanha e cursos/palestras promovidos por diversas
associações veterinárias). Porém neste momento em Portugal não existe qualquer
tipo de regulamentação governamental ou da Ordem do Médicos Veterinários sobre
esta prática. Na área da fisioterapia e reabilitação animal só no Reino Unido existe
alguma regulamentação, nos restantes países europeus a prática da fisioterapia
encontra-se na mesma situação que Portugal.
A fisioterapia tem duas características diferentes, mas interligadas. Uma
delas diz respeito à utilização de uma máquina apropriada ou terapêutica,
empregada na fase de cicatrização para auxiliar a recuperação do tecido, a outra
preocupa-se com a reeducação do movimento e é conhecida como reabilitação
(Bromiley, 2000). É cada vez mais usada em cães e gatos, também já usada em
cavalos, sempre com o objectivo de eliminar a causa músculo-esquelética e/ou
neurológica, de melhoria dos sinais clínicos, e promover o retorno à função normal.
20
1.1. OBJECTIVOS
A fisioterapia tem como principais objectivos eliminar a causa da disfunção,
realçar os sinais clínicos e o alívio da dor. Dor que interfere com o bem-estar dos
pacientes, e é capaz de causar imunosupressão, inapetência ou caquexia, ou dor
que pode conduzir à redução ou mesmo desuso dos membros. Reduzir a
inflamação, melhorar a irrigação sanguínea, promover a cicatrização, estimular o
sistema nervoso, prevenir a neuropraxia e o entorpecimento muscular. Prevenir ou
minimizar a atrofia de músculos, cartilagem, ossos, tendões e ligamentos, evitar
aderências e a retracção dos tecidos, reduzir contracções e a tensão muscular são
outras das vantagens da fisioterapia. Esta área da medicina permite também o
maneio de peso em animais com excesso de peso, a melhora específica e geral de
aptidões cardiovasculares, permite prevenir o aparecimento de doenças
secundárias, diminui o uso de medicamentos anti-inflamatórios, diminui o esforço
físico e providencia efeitos psicológicos positivos para pacientes e proprietários
(Clark & McLaughlin, 2001; Levine & Millis, 2004; Bockstahler, 2006; Rivière, 2007;
Martins, 2010).
1.2. INDICAÇÕES
A fisioterapia está indicada em situações de reabilitação pós-cirúrgica em
casos ortopédicos e neurológicos, lesões músculo-esqueléticas como tendinites,
bursites (inflamação de uma bolsa sinovial), entorses, mobilidade reduzida, fraqueza
muscular; afecções discais associadas a dor e paresia; lesões articulares como
contracturas e artrites; alívio da dor; cicatrização de feridas; alterações no
desempenho de um animal atleta; edemas e problemas na circulação sanguínea e
linfática; complicações do sistema cardiorespiratório e maneio do peso para preparar
fisicamente o animal para a cirurgia (Clark & McLaughlin, 2001;Levine & Millis, 2004;
Rivière, 2007).
21
Tratamento de Problemas
Músculo-esqueléticos
Vascularização
Estrutura
Mobilidade
Sistema
Músculo-esquelético
1.3. CONCEITOS BÁSICOS
O sistema músculo-esquelético ocupa o papel principal na fisioterapia e
reabilitação animal (Figura 8), o seu tratamento vai actuar sobre os tecidos,
melhorando a mobilidade que tenha sido reduzida de algum modo, a dor, a estrutura
e vascularização dos tecidos.
Após um trauma é fundamental a restauração da mobilidade através da
reorganização e vascularização dos tecidos, caso contrário existe uma redução da
amplitude dos movimentos nas articulações.
O sistema músculo-esquelético tem a sua função influenciada por ciclos de
carga e de descarga (Figura 9). A estrutura e manutenção do tecido conjuntivo
dependem destes ciclos e basta um deles falhar para ocorrer uma alteração a nível
da estrutura e mobilidade da parte afectada.
Indirectamente
Carga Descarga
Figura 8. A influência do Sistema
Músculo-esquelético (Adaptado de
Forterre, 2004).
Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade (Adaptado de
Forterre (2004).
22
O movimento fisiológico é essencial para a boa condição do sistema
locomotor (Rivière, 2007). Segundo Millis (2004) e Rivière & Sawaya (2006) citado
por Rivière (2007) todos os órgãos do sistema locomotor estão sujeitos a alterações
durante a carga ou a imobilização não fisiológica. Segundo Rivière (2007) alterações
estas, em que a elasticidade e a resistência mecânica da cartilagem articular e do
osso subcondral diminuem. O metabolismo ósseo modifica-se e as cápsulas, os
ligamentos e tendões sofrem contracção e podem esclerosar. Desenvolvem-se
aderências com perda da mobilidade articular e deficiência proprioceptiva. O tecido
muscular esquelético sofre uma retracção degenerativa, com formação de fibrose e
aderências entre os ligamentos. O que irá aumentar a fadiga muscular, a
perturbação dos processos cicatriciais e provocar um decréscimo na eliminação dos
resíduos metabólicos e na má circulação sanguínea e linfática capaz de afectar as
principais funções do corpo.
Quando um paciente se encontra em condições patológicas ou pós-
operatórias muitas vezes não consegue colocar uma carga completa no membro
afectado e através de exercícios passivos e activos da fisioterapia evitam que
coloque essa carga sobre o sistema músculo-esquelético. Permitindo deste modo
uma recuperação mais rápida e eficaz.
23
2. EXAME DO PACIENTE
A selecção do tratamento vai basear-se principalmente nas bases do clínico,
bem como no conhecimento da anamnese e exame físico do paciente animal. Ao
contrário de um paciente humano um animal não tem a capacidade de descrever o
que está a sentir, apenas de mostrar sinais de problemas (Goff & Crook, 2007).
Nas perturbações da locomoção nem sempre é claro qual a causa primária,
se de ordem neurológica ou osteoarticular. Deste modo é então indispensável
realizar um exame clínico rigoroso para se poder aplicar o tratamento mais eficaz. As
afecções que provocam alterações a nível da locomoção raramente colocam o
paciente em risco de vida, contudo a rapidez com que se estabelece um tratamento
adequado e eficaz pode ser determinante para a recuperação funcional.
Para o sucesso na medicina de reabilitação física é imprescindível obter
uma exaustiva avaliação do animal de modo a se obter um diagnóstico que permita
a escolha do tratamento ideal. Em alguns casos é necessário recorrer a exames
complementares como a ressonância magnética nuclear (RMN) e a tomografia axial
computorizada (TAC) para permitir obter uma avaliação mais rigorosa. De acordo
com Bockstahler et al. (2004) nunca se deve iniciar qualquer tratamento sem possuir
um diagnóstico clínico final.
2.1. EXAME CLÍNICO
Numa avaliação inicial é importante fazer uma pesquisa profunda para obter
a informação geral acerca do animal e da sua história clínica. É importante que o
clínico saiba todos os pormenores, de modo a poder descartar hipóteses e chegar a
um diagnóstico. Dados gerais como hábitos alimentares, vacinação e
desparasitação, alergias, a actividade do animal (cão de guarda, de caça, cão guia)
e o nível de actividade em que se encontrava anteriormente ao problema são
fundamentais para o clínico. Quanto à patologia presente é importante o clínico
questionar o proprietário acerca do início, duração, tratamentos implementados,
evolução e resposta do animal ao tratamento. É importante nunca esquecer que são
os proprietários quem melhor conhece os nossos pacientes.
24
O exame clínico é bastante importante para poder determinar se existe
alguma patologia, quais as consequências, o tratamento e se possui alguma contra-
indicação a alguma das modalidades de fisioterapia, e correr o risco de agravar
sinais (Bockstahler et al., 2004; Goff & Crook, 2007). Por exemplo num animal que
sofra de insuficiência cardíaca e/ou respiratória está contra-indicado o uso da
passadeira sub-aquática no seu tratamento.
2.2. EXAME FÍSICO
Seguido do exame clínico é muito importante avaliar outros parâmetros,
como a postura, a atitude, o equilíbrio, a vivacidade, a ergonomia, a amplitude de
movimento e a dor, de modo a escolher o plano terapêutico ideal a cada paciente.
Para a avaliação da postura e da atitude recorremos à avaliação de determinados
exercícios realizados pelo animal. Exercícios como o andar, sentar, deitar, manter-se
em estação, subir e descer escadas, andar em círculos, avaliando a flexão e
extensão das articulações, a posição da cabeça, se existe claudicação através da
avaliação do modo como coloca os membros e se apresenta défices proprioceptivos,
dentro das capacidades do animal (Bockstahler et al., 2004).
Outro passo muito importante no exame clínico é a palpação dos membros e
do tronco. A importância da palpação deve-se ao facto de poder avaliar a simetria, o
tónus e a condição muscular, a temperatura das articulações e/ou músculos, a
presença de edema, algum sinal de dor e tensão. Usando as duas mãos, uma mão
em cada membro simultaneamente (para ser mais fácil verificar alguma diferença),
inicia-se a avaliação pelos membros anteriores, da parte distal para a parte proximal,
seguindo para os membros posteriores e por fim avaliar-se os músculos do tronco,
da parte cranial para a parte caudal, percorrendo todos os músculos de forma
sistemática (Bockstahler et al., 2004).
Existem dois testes específicos para avaliar o tronco do animal, são eles o
“Kibler test” e o “Spinal Process Maneuver”. O “Kliber test” consiste em fazer uma
prega de pele na região sacral e com as duas mãos colocadas lateralmente á coluna
vertebral deslocar a dobra no sentido cranial (Figura 10). Este teste é importante
porque fornece informações sobre problemas nos músculos e pontos de tensão, e
25
caso existam seria muito difícil conseguir fazer a prega de pele. O teste “Spinal
Process Maneuver” consiste em pressionar com intensidade crescente as vértebras
entre dois dedos (por exemplo polegar e indicador) deslocando-os vertical e
horizontalmente (Figura 11). Está indicado no tratamento de bloqueios vertebrais e
na detecção de défices de mobilidade, contudo é preciso ter cuidado em pacientes
com traumatismo medular e hérnias discais (Bockstahler et al., 2004).
Pode-se ainda avaliar o paciente através de um exame ortopédico e
neurológico. A avaliação ortopédica e neurológica realiza-se com o animal em
decúbito lateral ou em estação, e consiste na avaliação de músculos, ossos longos,
articulações, ligamentos, tendões, com o objectivo de o clínico verificar a existência
de alguma anomalia. Na tentativa de encontrar pontos de dor, edema, crepitação e
alguma tensão nos músculos (Bockstahler et al., 2004).
Como testes adicionais temos a avaliação da amplitude do movimento e a
medição da massa muscular, que não são apenas parte importantes no exame
clínico mas também são bastantes úteis para a avaliação do progresso da
fisioterapia do animal.
A amplitude do movimento ou Range of Motion (ROM) corresponde ao grau
de movimento articular e é avaliada através da goniometria. O goniómetro (Figura
12) deve ser colocado mediante o animal e a sua estrutura anatómica. O objectivo é
medir o ângulo alcançado no movimento de flexão e extensão (Figura 13) da
articulação em causa até ao limite fisiológico. Tendo em conta que cada animal é
Figura 10. Realização do “Kliber test”
(Adaptado de Leiria, 2008).
Figura 11. Realização do teste “Spinal
Process Maneuver” (Adaptado de Leiria,
2008).
26
a)
b) c)
único, o melhor é efectuar a medição também no membro saudável de modo a
termos um termo de comparação do grau de alteração/normalidade (massa
muscular, patologia articular, tendões e ligamentos) (Quadro 1).
Articulação Flexão Extensão
Carpo 32 196
Cotovelo 36 166
Ombro 57 165
Tarso 39 164
Joelho 42 162
Anca 50 162
Quadro 1. ROM medidos num Labrador
Retriever (em percentagem) (Adaptado de
Bockstahler et al., 2004).
Figura 12. Goniómetro
(Adaptado de Bocktahler et
al., 2004).
Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retriever. a) Flexão e extensão do
carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente c) Extensão do cotovelo e ombro,
respectivamente (Adaptado de Bocktahler et al., 2004).
27
A medição da massa muscular consiste na medição do perímetro muscular
do membro ou da região em causa, porém mede-se frequentemente através da coxa
e/ou úmero (Bockstahler et al., 2004). Para a medição utiliza-se uma fita métrica
específica e calibrada como se verifica pela Figura 14.
Todas as medições realizadas deverão posteriormente ser realizadas no
mesmo local, com o animal no mesmo estado (sedado ou não sedado), na mesma
posição, pelo mesmo clínico e com a mesma pressão para tentar minimizar ao
máximo a ocorrência de interferências no resultado.
Figura 14. Medição da massa muscular
através de uma fita específica (Adaptado de
Leiria, 2008).
28
3. DOR
Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) a dor é
uma experiência emocional ou sensorial desagradável, que provoca reacções de
protecção motoras e autónomas, por sua vez, conducentes à aprendizagem de
processos de prevenção passíveis de alterar o comportamento específico da
espécie em causa, incluindo a interacção social (Gogny, 2006; Mills et al., 2007).
A dor é mais uma defesa do organismo como a tosse e o vómito, sendo
complicado a sua distinção entre fisiológica e patológica (Figura 15). As reacções
motoras e autónomas resultantes fazem o papel protector até um certo ponto, a
partir do qual, se tornam mais prejudiciais do que o estímulo que desencadeou
originalmente a resposta (Tacke & Henke, 2004). É a intensidade do estímulo e a
duração da respectiva aplicação que faz a distinção entre dor fisiológica e dor
patológica (Figura 16).
I
n
t
e
n
s
i
d
a
d
e
Duração
Dor fisiológica Fase II
Fase I
Fase III
Duração
I
n
t
e
n
s
i
d
a
d
e
Dor patológica
e analgesia
Figura 15. Alterações do grau de intensidade e
duração da dor, em função do tempo, na
sequência de uma lesão tecidular significativa e
persistente (Adaptado de Gogny, 2006).
Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo (Adaptado de
Gogny, 2006).
29
3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR
Podemos classificar a dor perante três parâmetros, a sua duração, origem e
características clínicas (Tacke & Henke, 2004; Mills et al., 2007). Quanto á duração
é possível classificar em dor aguda que surge imediatamente a uma lesão e
desaparece quando o ferimento cicatriza. Tem uma função de alarme e tem boa
resposta a analgésicos. A dor crónica não tem função de alarme, tem boa resposta a
fármacos e não está relacionada com estímulos nociceptivos mas tem indicação de
fisioterapia. É importante fazer a distinção entre dor aguda e dor crónica pois
necessitam de diferentes abordagens na terapia (Figura 17) (Holler, 2009).
Pode ter origem somática, em tecidos superficiais, como a pele e/ou em
tecidos profundos, como ligamentos, ossos, músculos e articulações. Origem
visceral, em órgãos internos torácicos, abdominais e pélvicos. Pode ainda surgir no
pós-operatório (como dor aguda), numa degenerescência crónica (sendo possível o
agravamento da dor, atrofia muscular e inactividade). Ser uma dor neurogénica ou
neuropática (geralmente dor crónica, e provocada por lesões no sistema nervoso) ou
mesmo dor oncológica (dependente do tamanho dos tumores e da presença de
metástases).
Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor
insuportável (verde claro), dor moderada (verde escuro) e
dor ligeira (sem cor) (Adaptado de Santos, 2009).
30
3.2. AVALIAÇÃO DA DOR
Um dos maiores problemas de identificação da dor em animais é mesmo a
incapacidade de a classificar. Ao contrário dos seres humanos, que possuem a
capacidade de classificar ou ajudar o clínico a classificar a sua dor, nos animais tem
que ser unicamente o clínico a avaliar a dor sem qualquer ajuda por parte do animal.
Um animal com dor, apesar de não conseguir expressar por meio de palavras o que
está a sentir irá tentar comunicar a dor por meio de comportamentos anormais
(expressão facial, postura corporal e vocalização), e tanto se pode refugiar como
imobilizar-se ou reagir com agressividade.
A avaliação da dor nos animais requer por parte do clínico experiência e
bom poder de observação (Tacke & Henke, 2004), porém segundo Gogny (2006)
não existe formação suficiente para avaliar e tratar os pacientes com dor. Em alguns
animais é muito complicado identificar a dor e determinar a sua intensidade. Os
recursos terapêuticos a que os clínicos normalmente têm acesso (fármacos
oficialmente aprovados) não são suficientes, pelo menos em alguns países, como a
França (Gogny, 2006).
A avaliação da dor vai depender da análise de uma série de sinais
comportamentais, como a postura, a expressão facial, alterações das pupilas, algum
tipo de vocalização e comportamento diferente, a presença de dor á palpação, o
interesse pela alimentação, possível auto-mutilação e claudicação. Podem ser
integrados em sistemas de pontuação subjectiva, ou através de escalas analógicas
(Figura 18) ou numéricas. Sendo fundamental a colaboração do proprietário para
indicar o grau de dor que lhe parece sentir o animal, sendo quem melhor conhece o
animal. Temos ainda a possibilidade de avaliação do grau da dor (Quadro 2) através
da medição da frequência cardíaca, respiratória e a pressão arterial, sendo
parâmetros que sofrem alterações na presença de dor. Contudo é preciso ter em
atenção que o stress e a agitação são factores que também podem provocar
alterações nestes parâmetros (Tacke & Henke, 2004).
31
3.3. MANEIO DA DOR
O principal objectivo do maneio da dor é prevenir o aparecimento de
sintomas e consequências da dor patológica ou no pós-operatório, porém sem
interferir com o seu ciclo (Tacke & Henke, 2004). Segundo Joshi & Ogunnaike
(2005) citado por Sellon (2009) após uma análise das consequências do inadequado
controlo da dor persistente no pós-operatório em pacientes humanos, é agora bem
aceite que a dor inadequadamente controlada e o stress gerado pela resposta do
animal têm consequências fisiológicas e psicológicas, que podem levar à disfunção
de órgãos e aumentar a taxa de morbilidade e mortalidade no pós-operatório.
Gravidade da dor Escala (mm)
Ausência de dor 0-25
Dor ligeira 26-50
Dor moderada 51-75
Dor insuportável 76-100
Quadro 2. Avaliação da escala
visual analógica (Adaptado de
Tacke & Honke, 2004).
Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas (Adaptado de
Anónimo, Carvalho & Kowacs, 2008).
32
Os analgésicos estão recomendados nas fases iniciais do tratamento (para
evitar o desenvolvimento da “memória da dor”), independente do tipo de dor e os
métodos de fisioterapia disponíveis (termoterapia, TENS, massagem, acupunctura,
etc.), porém apresentam alguns cuidados a ter. Podem ser administrados
analgésicos de classes diferentes concomitantemente, caso não haja qualquer
contra-indicação no seu uso, devem ser usadas doses muito baixas e de acordo
com as necessidades de cada paciente (Tacke & Henke, 2004).
A dor foi dividida em três níveis com consequentes protocolos analgésicos,
consoante a respectiva potência e relação benefício/risco pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), como podemos verificar pelo Quadro 3. Segundo Mills et al. (2007)
os analgésicos diminuem a sensação da dor mas não a eliminam.
As principais classes farmacológicas utilizadas nos protocolos apresentados
no Quadro 3 são os AINES, os analgésicos opiáceos, os anestésicos dissociativos e
os agonistas alfa2.
O maneio farmacológico é apenas uma parte no controlo da dor, muitos
pormenores relacionados com cuidados de enfermagem e integração no contexto
Fase I
(Dor Ligeira)
Esperada ou observada
AINES ou fármacos
similares utilizados
individualmente, ou com
dose reduzida de
morfina
Fase II
(Dor Moderada)
Esperada ou observada,
ou insucesso dos
analgésicos da fase I
AINES + opióides fracos
ou AINES + dose
reduzida de morfina ou
anestesia local
Fase III
(Dor Aguda)
Esperada ou observada
ou insucesso dos
analgésicos da fase II
Dose elevada de morfina
e/ou sistema transdérmico
de fentanil e/ou anestesia
locoregional +
potenciação (AINES,
quetamina, agonista alfa2
Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos,
segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006).
Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos,
segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006).
Legenda: AINES – fármacos anti-inflamatórios não esteróides.
33
social desempenham um papel fundamental (Tacke & Henke, 2004). Métodos de
fisioterapia como a termoterapia, massagem, TENS, tratamentos alternativos como a
acupunctura, o uso mínimo de cateteres, um ambiente calmo, maneio suave e
cuidadoso do animal são alguns exemplos de como se pode minimizar a dor do
animal. O maneio da dor desempenha um papel importantíssimo em todas as etapas
da reabilitação física e o animal jamais deve sentir algum tipo de desconforto (Clark
& McLaughlin, 2001). Cada animal necessita de um maneio específico e de uma
selecção de métodos adequados ao seu grau de dor, e para uma gestão a longo
prazo os protocolos para casa são os mais ideais (Holler, 2009).
34
4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO
O objectivo principal da realização de um protocolo terapêutico é assegurar
e preservar uma recuperação funcional total e o mais rapidamente possível.
4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO
Segundo a Associação Americana de Fisioterapia o protocolo terapêutico é
elaborado segundo cinco parâmetros, uma avaliação inicial, um exame
fisioterapêutico, um diagnóstico fisioterapêutico, um prognóstico e o tratamento
(Bockstahler et al., 2004). A avaliação inicial inclui o conhecimento minucioso da
história e exame clínico. Após a avaliação inicial o clínico deve reunir toda a
informação já recolhida e ainda o resultado do exame físico (referido no ponto 3.1.2.)
elaborando o exame fisioterapêutico. Quanto ao diagnóstico fisioterapêutico,
constitui uma avaliação mais sintomática, através da análise da tensão muscular, da
atrofia e da dor. A escolha do plano terapêutico é ainda influenciada pela experiência
do clínico e pelo conhecimento dos benefícios já provados na Medicina Humana
(Clark & McLaughlin, 2001), modalidades disponíveis, disponibilidade social e
financeira do proprietário, procurando sempre o melhor e mais rápido meio de
recuperação.
Segundo Bockstahler et al. (2004) é impossível estabelecer um plano
fisioterapêutico padrão para cada animal. Um plano de tratamento instituído para um
animal no pós-operatório não será o mesmo para um animal geriátrico. A fase em
que o animal inicia a fisioterapia também é importante, as necessidades de um
animal que inicia o tratamento no dia da cirurgia são diferentes das necessidades de
iniciar a fisioterapia após a cicatrização da sutura. Ao implementar um protocolo de
reabilitação física, deve ser usada uma abordagem centrada no animal ao decidir
quando iniciar cada passo, em vez de uma abordagem estritamente centrada no
calendário (Clark & McLaughlin, 2001). No entanto estes protocolos podem ser
tomados como gerais, e posteriormente adapta-los às necessidades individuais de
cada animal.
35
4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO
O proprietário desempenha um papel importantíssimo no que diz respeito à
reabilitação do seu animal. O sucesso da terapia não depende apenas de uma boa
intervenção terapêutica e de uma óptima escolha em relação ao protocolo, depende
fundamentalmente do acompanhamento do dono e do seu apoio. A participação
activa do proprietário é muitas vezes uma mais valia para uma recuperação mais
rápida (Bockstahler et al., 2004). A fisioterapia não é um tratamento fácil e rápido,
leva algum tempo, embora em alguns casos se observe resultados positivos pouco
tempo após o seu início, noutros, como numa situação crónica, a paciência é muitas
vezes necessária até que resultados sejam visíveis. É importante que haja uma boa
relação clínico/proprietário para que aumente a motivação do proprietário, e para
que possam debater as melhores soluções, os objectivos e meios necessários para
a realização de cada um dos tratamentos. Outro papel muito importante é o seu
envolvimento directo na reabilitação do animal, através da aplicação de métodos de
fisioterapia. Aplicações de calor e frio, massagem, exercícios terapêuticos, como os
movimentos de bicicleta tanto em decúbito lateral com em estação, o exercício de
levantar e sentar, passeios com trela, e em alguns casos usando a estimulação
eléctrica (Figura 19). Métodos minuciosamente explicados e seguindo algumas
recomendações, e comunicar com o clínico acerca dos resultados e dificuldades
presentes nas sessões, de modo a haver a actualização de frequências e métodos a
usar. No tratamento de gatos é especialmente importante a participação activa do
proprietário, permitindo uma rápida reabilitação e melhoria dos sinais clínicos.
Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de
TENS em casa (Adaptado de Bockstahler et al.,
2004).
36
4.3. MANEIO DO PESO
O maneio do peso é um importante aspecto na fisioterapia de cães e gatos
com problemas ortopédicos e neurológicos, em que o excesso de peso contribui
para o desenvolvimento de problemas músculo-esqueléticos e exerce uma pressão
excessiva sobre articulações, ligamentos e tendões (Bockstahler et al., 2004). É
preciso prevenir a obesidade em cães especialmente quando se considera que
carregam 60% do seu peso nos membros anteriores (Innes, 2006).
Um animal obeso com problemas ortopédicos exige um protocolo
terapêutico especial. Segundo a experiência de alguns clínicos a combinação da
perda de peso e a realização de exercícios especiais traz melhores resultados. O
ideal é que o início dos exercícios terapêuticos coincida com o início do programa de
perda de peso. O sucesso vai depender muito do protocolo escolhido para o
paciente, e é importante que o proprietário tenha um papel activo durante todo o
processo, cumprindo ele próprio o protocolo estabelecido para casa.
37
5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA
5.1. TERMOTERAPIA
A termoterapia consiste no uso terapêutico de agentes físicos ou meios de
aquecimento e arrefecimento do corpo do animal.
5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA
A aplicação de frio tem efeitos fisiológicos contrários à aplicação de calor
contudo ambos são ideais no combate à dor e à diminuição do grau de espasmo
muscular. Em geral induz vasoconstrição, limitando o fluxo sanguíneo à área
afectada levando a uma redução do edema; diminuição do metabolismo celular;
alívio da dor por diminuição da condução nervosa e redução do espasmo muscular
(Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Sawaya,
2007). A sua aplicação está indicada em situações agudas (após uma lesão e no
período pós-operatório até 72h), trauma, artrites, tendinites, miosites e na prevenção
de inflamação após exercício (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004;
Sawaya, 2007).
A crioterapia consiste na aplicação de cubos de gelo (Figura 20), cobertos
com uma toalha (de modo a não estarem em contacto directo com a pele) e colocar
sobre a área a tratar. Existem também acumuladores de frio, compressas ou panos
molhados e sistemas de imersão de água fria (usado muito em cavalos, Figura 21)
como alternativas aos cubos de gelo. O tempo de aplicação deve ser entre 15 a 25
minutos mas vai depender da estrutura e do animal em tratamento. Nos cavalos são
relatados períodos de exposição até 45 minutos, revelando um estudo que um
cavalo com lesão do tendão flexor digital superficial foi submetido a tratamento com
frio durante uma hora com resultados positivos e sem sinais de qualquer tipo de
dano celular (Leiria, 2008).
De acordo com Clark & McLaughlin (2001) a crioterapia superficial pode
penetrar nos tecidos a uma profundidade de 1 a 4 cm, com a maior alteração de
temperatura a ocorrer a 1 cm de profundidade. Para atingir temperaturas mais
baixas em tecidos mais profundos pode-se usar um penso compressivo, como uma
ligadura elástica. Deve-se sempre não prolongar o tempo de exposição e evitar o
38
contacto directo com a área afectada de modo a não causar o efeito contrário,
vasodilatação e formação de edema local por diminuição da temperatura local.
A crioterapia não está indicada em animais com alterações de sensibilidade,
problemas circulatórios (como vasculite, doença vascular periférica, lesão isquémica
e formigamento), diabetes mellitus ou feridas abertas (Clark & McLaughlin, 2001;
Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR
Após a inflamação aguda estar resolvida é benéfica a aplicação de calor na
área afectada (hipertermia superficial) de modo a estimular a vasodilatação,
melhorar o fluxo sanguíneo nos tecidos superficiais, aliviar a dor, provocar o
relaxamento muscular, aumentar a velocidade de condução do impulso, alterar o
limiar de excitabilidade nociceptiva e aumentar a oxigenação, e facilitar a
cicatrização (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke,
2004; Sawaya, 2007;). É aplicada normalmente em situações de artrites crónicas,
rigidez e tensão muscular, espondiloartrose, espondilose. Para promover maior
elasticidade e flexibilidade criando boas condições para a aplicação de métodos
passivos de fisioterapia, como massagens e a estimulação eléctrica (Clark &
McLaughlin, 2001;Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
Figura 20. Aplicação de frio através de um saco
de gelo revestido por uma toalha.
Figura 21. Imersão dos
membros de um cavalo em água
fria como técnica escolhida
(Adaptado de Leiria, 2008).
39
Este método consiste na aplicação de uma fonte de calor na área afectada,
atingindo cerca de 1 a 11 mm de profundidade do tecido (terapia superficial) através
de compressas, toalhas, botijas de água quente, parafina, hidroterapia, e
infravermelhos (Figura 22), durante 15 a 20 minutos. Se pelo contrário a temperatura
atingir 1 a 3 cm de profundidades já se realiza uma terapia profunda, alcançada
através de ultra-sons. A frequência do tratamento vai depender do tipo, do grau de
problema e do efeito desejado. É muito importante uma vigilância constante da pele
para prevenir danos como queimaduras.
A aplicação de calor deve ser evitada em situações de inflamação local
aguda, tumores, feridas abertas, hematomas, problemas graves de circulação e na
ausência de sensibilidade (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004;
Sawaya, 2007).
5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO
O ultra-som terapêutico é a técnica mais usada em animais domésticos para
aquecer os tecidos mais profundos. O ultra-som é produzido incidindo uma corrente
eléctrica de alta frequência num cristal, como o quartzo (piezoeléctrico). Graças ao
efeito piezoeléctrico o cristal altera a corrente que recebe produzindo ondas
ultrasónicas (Bockstahler et al., 2004). As ondas à medida que vão sendo
absorvidas no músculo vão transformando a energia mecânica em calor. A
Figura 22. Aplicação de calor através de
infravermelhos.
40
quantidade de calor produzida vai depender da área a tratar (tipo de tecido e
gravidade), frequência, intensidade, modo de aplicação e resposta individual do
animal.
Na fisioterapia e reabilitação são usadas ondas de frequência que variam
entre 0.5 a 5 MHz, mas o mais frequente é verificar-se equipamentos com
frequências de 1 MHz (baixa frequência) e 3.3 MHz (alta frequência) (Bockstahler et
al., 2004). A frequência é escolhida consoante a profundidade do tecido desejado
para incidir o ultra-som, se a profundidade de penetração desejada for entre 0 a 3
cm (zonas ósseas) usa-se a frequência 3 MHz, se for entre 2 e 5 cm (tecidos mais
profundos) já se utiliza a frequência mais baixa, 1MHz (Bockstahler et al., 2004). A
intensidade corresponde à taxa de energia distribuída por unidade de área (W/cm2
).
Podem ser usados dois modos de transmissão de ultra-sons, modo contínuo, em
que a energia é constantemente produzida e modo pulsátil. No modo pulsátil é
possível escolher a duração do período de transmissão e do período de pausa,
permitindo o uso de intensidades mais elevadas alcançando os níveis de
temperatura desejados sem provocar qualquer tipo de dano tecidular e alterar a
permeabilidade das células e melhorar o seu metabolismo (Bockstahler et al., 2004).
A sonda pode ser colocada directamente na pele sobre um gel hidrossolúvel
(sobre uma pele tosquiada, aumenta a transmissão de ultra-sons) (Figura 23) ou
quando se trata de uma área pequena ou irregular pode-se imergir a área submersa
em água e colocar a sonda a 1 a 2 cm de distância (Clark & McLaughlin, 2001;
Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). Os movimentos devem ser suaves, lentos e
em círculos (Bockstahler et al., 2004).
Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons (Adaptado de Anónimo 7, s/d).
41
5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS
Existe uma grande variedade de indicações para o uso do ultra-som como
meio terapêutico, patologias articulares ou componentes ligados, como artrites,
sinovites, tendinites, bursites, patologias musculares, aderências. Pode também
potenciar a aplicação transdérmica de fármacos (Clark & McLaughlin, 2001).
A terapia por ultra-sons apresenta efeitos térmicos e efeitos não térmicos.
Os efeitos térmicos permitem um alívio da dor, diminuindo a tensão muscular
levando a um aumento do fluxo sanguíneo para os músculos, melhoria da
elasticidade das estruturas fibrosas, melhoria da nutrição dos tecidos, aumentando a
suplementação de oxigénio e aumentando a eliminação de produtos metabólicos. Os
efeitos não térmicos incluem o aumento da permeabilidade celular, do transporte de
cálcio, remoção de células sanguíneas do espaço intersticial e aumento da
actividade fagocítica dos macrófagos (Clark & McLaughlin, 2001).
5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES
O seu uso está contra-indicado em áreas infectadas, áreas com problemas
de circulação, na presença de trombos ou na presença de tumores malignos. Não se
deve aplicar directamente sobre os olhos, coração, útero grávido, gónadas e
cartilagem em animais jovens (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004;
Sawaya, 2007; Leiria, 2008). A maior parte das preocupações surge do perigo de
queimaduras dos tecidos, devido a intensidades muito elevadas e movimentos muito
lentos ou então períodos de paragem da sonda no mesmo ponto, podendo provocar
cavitação instável, um fenómeno no qual se formam e crescem umas bolhas de gás
que expandem e explodem afectando os tecidos (Clark & McLaughlin, 2001;
Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
42
5.2. MASSAGEM
A massagem tem sido parte integrante e natural da fisioterapia, medicina do
desporto e da reabilitação humana. É já um facto conhecido há muito tempo que a
massagem se confirmou eficaz em animais, que eles a aceitam bem e até reagem
favoravelmente; daí ter sido tida como modalidade no tratamento veterinário
(Bockstahler et al., 2004). Apesar de poder haver alguma passagem directa de
princípios e práticas de humanos para os animais, é claro que existem ideias
unicamente para os animais, até porque existem diferenças anatómicas, funcionais e
cinesiológicas. Os animais não podem ser instruídos para relaxarem ao contrário
dos humanos (Monk, 2007).
A sessão deve ser realizada num ambiente calmo, numa superfície
confortável que permita ao animal relaxar mais facilmente. O próprio clínico devera
apresentar-se relaxado, confiável de modo a transmitir alguma tranquilidade ao
animal e tentar estabelecer algum contacto inicial com ele de modo a criar algum
relaxamento entre ambos. Sempre que possível deve ser aplicado calor na área a
massajar, antes e após a massagem.
5.2.1. RESULTADOS
Esta modalidade tem diferentes efeitos e objectivos, consoante as técnicas
escolhidas, a sua duração, frequência, intensidade, velocidade e direcção.
Os seus efeitos passam por permitir o relaxamento mental e físico do animal;
quebrar aderências, o ciclo vicioso da dor e a tensão muscular; libertar endorfinas
endógenas; melhorar a circulação venosa, linfática e arterial; facilitar a eliminação de
resíduos e a suplementação de oxigénio; estimula o sistema nervoso e acelera a
recuperação muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke &
Henke, 2004; Rivière, 2007). A massagem não afecta a massa muscular, o grau de
atrofia ou a força segundo Geiringer (1988) citado por Clark & McLaughlin (2001).
43
5.2.2. INDICAÇÕES
As suas principais indicações são consequências dos efeitos descritos
anteriormente, estando como objectivo primário a eliminação da dor e consequente
contracção muscular, que exacerba ainda mais a dor pré-existente (Bockstahler et
al., 2004). Podemos recorrer á massagem em situações de tensão muscular
secundária a um problema medular ou articular, mobilização de aderências,
regulação da tonicidade muscular, prevenção e/ou recuperação de lesões antes e
após os exercícios ou redução ou prevenção de estase e linfostase (Bockstahler,
2004).
5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES
Esta modalidade está contra-indicada em situações em que a área a
massajar se encontre com uma inflamação e/ou infecção, doenças dermatológicas,
como presença de dermatófitos, tumores, febre, insuficiências cardíacas
descompensadas ou distúrbios circulatórios (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler,
2004).
5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM
Existe uma grande diversidade de técnicas possíveis de aplicar em Medicina
Veterinária, porém apenas serão apresentadas as que são consideradas como as
mais eficazes.
5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL
Esta técnica permite a manipulação de músculos superficiais, aumentando o
fluxo sanguíneo e linfático, neutralizando a estase (Bockstahler et al., 2004). Pode
ainda ser usada entre massagens mais profundas ou no fim de cada sessão de
massagens com a intenção de relaxar o animal. É frequentemente realizada com o
animal em estação, colocando-se o clínico de lado ou mesmo atrás do animal. A
44
técnica consiste em deslocar as mãos suavemente sobre a superfície da pele do
animal, com movimentos no sentido do crescimento do pêlo, começando pelo
pescoço partindo para as costas, garupa (Figura 24) e terminando nos membros
(Figura 25). Depois de massajar os membros partir novamente para o pescoço, e
assim repetidamente. As mãos devem permanecer abertas, realizando movimentos
lentos e que estejam sempre em contacto, nunca passar com as duas mãos de uma
vez directamente duma área para a outra, por exemplo deixar uma mão no membro
posterior e colocar a outra no pescoço e só então largar a mão do membro e passa-
la para o pescoço (Bockstahler et al., 2004). Permitir que a pele deslize suavemente
sobre a fáscia subjacente vai reduzir as aderências segundo Blaser (1988) citado
por Clark & McLaughlin (2001).
5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA
Pode ser aplicado superficialmente ou mais profundamente (Bockstahler et
al., 2004). Uma vez superficial obtém-se uma diminuição do tónus muscular, através
da realização de uma prega de pele e massajando os tecidos (Figura 26). A direcção
deve ser no sentido das fibras musculares, podendo em todo o caso ser diagonal ou
perpendicular a elas, iniciando sempre na cauda e ir evoluindo para o pescoço, se a
lesão for nos membros deve evoluir da região distal-proximal (Bockstahler et al.,
Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna
(Adaptado de Leiria, 2008).
Figura 25. “Effleurage” no
membro posterior (Adaptado de
Leiria, 2008).
45
2004; Rivière, 2007). O “Pétrissage” em profundidade consiste em manobrar um
grupo de músculos entre o polegar e os restantes dedos (abrindo e fechando as
mãos). Nas costas colocamos uma mão de cada lado da coluna vertebral ou ambas
as mãos do mesmo lado. Devemos aumentar o grau de pressão muito lentamente,
uma vez com este exercício verificar-se um aumento da tonicidade muscular,
podendo gerar dor.
5.2.4.3. FRICÇÃO
Esta técnica pode ser realizada de forma superficial ou profunda, numa área
localizada ou disseminada do corpo do animal (Figura 27) (Bockstahler et al., 2004).
Permite o aumento do fluxo sanguíneo, promove a eliminação de toxinas e ainda
pode quebrar aderências (Bockstahler et al., 2004). Para exercer esta técnica numa
área maior são utilizadas as pontas dos dedos ou o punho, deslizando
cuidadosamente para a frente e para trás ou em direcção contrária às fibras
musculares, aumentando a pressão conforme a necessidade. Numa área mais
localizada desliza-se de forma circular as pontas dos dedos (idealmente uma mão
em cima da outra para ajudar na massagem), deslocando assim a pele e numa
pressão baixa inicialmente, aumentando até atingir as camadas mais profundas de
músculos. É uma excelente técnica para aliviar áreas com demasiada tensão.
Encontra-se contra-indicada em situações agudas, inflamatórias e/ou infecciosas ou
Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior
(Adaptado de Leiria, 2008).
46
em regiões com deposições de cálcio segundo Pinheiro (1998) citado por Leiria
(2008).
5.2.4.4. AGITAR
Consiste numa técnica superficial usada para o relaxamento de músculos,
durante a manipulação de tecidos profundos e no final de sessões de massagens.
Através desta técnica pode-se trabalhar um conjunto de músculos (agarrando um
grupo de músculos e gentilmente agitar para a frente e para trás) ou o membro
inteiro (agarrando a parte distal do membro e agitando gentilmente).
5.2.4.5. PERCUSSÃO
Técnica muito usada para relaxar os músculos e melhorar a circulação
(Bockstahler et al., 2004). Através de batimentos suaves realizados na pele com a
palma da mão em forma de concha (Figura 28) ou com a zona lateral (Figura 29)
(Rivière, 2007; Bockstahler et al., 2004). Permite trabalhar grandes áreas
musculares (Rivière, 2007).
Figura 27. Técnica de fricção (Adaptado de Leiria,
2008).
47
5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA
Segundo Mikail & Pedro (2006) citado por Leiria (2008) a cinesioterapia é um
método não invasivo e utiliza o movimento como meio de terapia.
Os principais objectivos passam por aumentar o ROM, a flexibilidade, o uso
do membro afectado, reduzindo o grau de claudicação, fortalecer e aumentar a
massa muscular e a agilidade sem presença de dor (Clark & McLaughlin, 2001;
Bockstahler et al., 2004; Rivière, 2007). Os exercícios terapêuticos são uma parte
fundamental na reabilitação física de um paciente em condições crónicas e no pós-
operatório, fazem também parte de um plano de tratamento para casa, onde os
proprietários são os principais responsáveis pela evolução do seu animal. Esta fase
é muito importante pois cria-se uma ligação cada vez mais forte entre proprietário e
animal, e os proprietários começam a ter noção das alterações da condição física
dos seus animais e quando tal acontece procuram ajuda médica de imediato.
Graças à grande variedade de exercícios é possível escolher os que melhor
se adequam a cada paciente, desde movimentos passivos, assistidos a activos, e é
importante que não se torne numa rotina, numa sessão de exercícios repetidos que
aborreçam tanto o clínico como o paciente (Bockstahler et al., 2004). Deve-se tentar
nunca provocar dor no paciente podendo prejudicar toda a recuperação conseguida
até ao momento, através do reflexo inibidor, e encadear um menor uso do membro.
Figura 28. Percussão com a zona lateral da
mão (Adaptado de Leiria, 2008).
Figura 29. Percussão com a palma da mão em
forma de concha (Adaptado de Leiria, 2008).
48
A aplicação de frio (crioterapia) posteriormente a uma sessão de exercícios intensos
é o ideal para permitir o alívio da dor e minimizar a inflamação.
5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO
É um exercício que ajuda a manter ou melhorar a flexibilidade dos músculos,
tendões e ligamentos, a flexão e extensão das articulações, e melhorar a estrutura e
a função neuromuscular. É muito usado na recuperação de cães em condições
neurológicas, como ruptura do disco intervertebral, ou complicações do sistema
músculo-esquelético (Bockstahler et al., 2004). O tempo e a frequência do exercício
vão depender de cada animal. É fundamental proporcionar conforto ao animal,
colocando-o sob uma superfície protegida por algo acolchoado e não proporcionar
uma sessão muito exigente, correndo o risco de provocar dor e atrasar a
recuperação. Tal como o nome indica o animal não participa activamente no
processo, o que também exige do clínico um maior conhecimento da anatomia e
fisiologia do corpo.
a) Exercício de amplitude de movimento (ROM)
Segundo Bockstahler et al. (2004) este exercício é importante em cães
jovens e cães submetidos a cirurgias da articulação, principalmente fracturas de
cotovelo e fémur e estabilização de uma ruptura do ligamento cruzado cranial. O
objectivo principal é flectir e estender as articulações individualmente dependendo
do seu grau de amplitude confortável (Bockstahler et al., 2004). Isto é, uma
articulação é lentamente flectida ou estendida (dependendo do movimento desejado)
até se obter qualquer sinal de desconforto por parte do animal, como uma
vocalização, um aumento de tensão no membro ou um revirar da cabeça no sentido
do estímulo. Geralmente a flexão da articulação é mais tolerada que a extensão.
Existem outros movimentos considerados como apropriados, como é o caso
do movimento de rotação, principalmente no ombro e quadril, e os movimentos de
adução e abdução.
49
b) Exercício de alongamento
Muitas vezes é usado em associação com o exercício ROM, e em situações
de rigidez muscular e diminuição da amplitude do movimento (ROM). O seu principal
objectivo é alongar e realinhar os tecidos moles e o colageneo para não rasgar nem
dilacerar os tecidos, de acordo com (Bockstahler et al., 2004). Este exercício
consiste em flectir (Figura 30) ou estender lentamente (Figuras 31 e 32) uma
articulação dependendo do movimento desejado, até se obter qualquer sinal de
desconforto por parte do animal, como uma vocalização, um aumento de tensão no
membro ou um revirar da cabeça no sentido do estímulo. Em geral o movimento de
extensão é menos confortável que o de flexão. Podem ser também realizados
movimentos de adução, abdução e rotação.
Figura 30. Flexão do membro posterior. Figura 31. Alongamento do membro
posterior (Adaptado de Leiria, 2008).
Figura 32. Alongamento do membro
posterior num gato (Adaptado de Anónimo
8, s/d).
50
c) Exercício do reflexo flexor
Este exercício é principalmente usado em pacientes com défices
neurológicos bem como no exame neurológico. Consiste em beliscar a pele
existente entre os dedos, em resposta o paciente deve flectir o membro estimulado
(Figura 33). O estímulo tem como objectivo a contracção muscular, de modo a
prevenir atrofia por desuso e aumento do tónus muscular.
d) Movimento de bicicleta
O movimento de bicicleta pode ser realizado posicionando o animal em
decúbito lateral ou em estação. Este exercício é muito utilizado em animais com
défices neurológicos, em associação com o ROM e em animais que tenham
dificuldade em suportar o seu peso nos membros (usando neste caso apenas a
posição de estação). Neste movimento o exercício passa por ir lentamente formando
círculos, no sentido caudal-dorsal-cranial (Figura 34), caso necessário em posição
de estação pode-se colocar uma mão de lado para auxiliar o animal. Sendo preciso
flectir e estender todas as articulações durante a execução de um círculo. O
objectivo principal passa por influenciar o sentido pela marcha e prevenir ou
melhorar o ROM.
Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.
51
5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO
É um exercício adequado para pacientes que já conseguem suportar algum
do seu peso, principalmente pacientes com défices neurológicos e/ou lesões
pélvicas bilaterais. Tem como principais objectivos aumentar a força, resistência,
propriocepção e sensibilidade neuromuscular (Bockstahler et al., 2004). Os
exercícios assistidos consistem em exercícios em que o animal participa activamente
porém com auxílio do clínico.
a) Manter-se em estação assistido por uma toalha
O exercício assistido consiste em providenciar um suporte para o cão ou
gato (um arnês, uma toalha, etc.) para o conduzir e apoiar durante a execução de
movimentos simples, como o caminhar (Figura 35) (Rivière, 2007). O exercício
permite assistir um animal que não tenha força necessária para suportar a totalidade
do peso do seu corpo. O cão é colocado na posição de estação e com o auxílio de
uma toalha ou funda auxiliar o animal na sustentação do seu peso, permitindo que
este carregue apenas o peso que é capaz (Bockstahler et al., 2004). Porém com o
seguimento do tratamento a força realizada pelo clínico deve diminuir à medida que
o animal vai aumentando a quantidade de peso capaz de suportar.
Figura 34. Movimento bicicleta (Adaptado de Leiria, 2008).
52
b) Prancha de equilíbrio
É uma actividade que permite fortalecer o equilíbrio do animal. Consiste em
colocar o animal sobre uma prancha de equilíbrio ou uma simples tábua instável,
auxiliando-o para evitar possíveis quedas, realizando-se movimentos oscilatórios em
todas as direcções (Figura 36).
c) Bola terapêutica
A bola terapêutica é uma boa ajuda para o animal com problemas
proprioceptivos que o apoia durante a marcha. De acordo com Saunders (2007)
citado por Leiria (2008) é muito importante em pacientes neurológicos, pós-
cirúrgicos, com displasia da anca ou cotovelo, com artrites, patologia lombosagrada
Figura 35. Caminhar com auxílio de uma
toalha.
Figura 36. Exercício numa tábua instável (Adaptado de Anónimo 7, s/d).
53
a) b)
e em animais de desporto, O exercício consiste em colocar o animal em estação
sobre a bola (Figura 37) ou apoiando apenas os membros posteriores ou anteriores
(Figura 38), movimentando-se lateralmente, para a frente e para trás (Bockstahler et
al., 2004).
d) Flexão e extensão cervical e flexão lateral
Flexão e extensão cervical e flexão lateral permitem que o animal melhore a
mobilidade de modo a se manter em estação, equilibrado. Realiza-se este exercício
estimulando o animal a movimentar a cabeça no sentido lateral e/ou dorsal – ventral,
caso necessário pode-se usar objectos (como uma bola) ou mesmo uma
recompensa como estímulos.
Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010).
Figura 38. Animal apoiando os membros
posteriores sobre uma bola terapêutica
(Adaptado de HVM, 2010).
54
5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO
De acordo com Riviére (2007) os exercícios terapêuticos activos deverão ser
iniciados o mais cedo possível, tendo em conta as fases de cicatrização do tecido
lesado. Isto é, a iniciação deste tipo de exercícios vai depender da resposta do
paciente á reabilitação. É necessário que o animal responda aos exercícios passivos
sem desconforto aparente e que já seja capaz de suportar o seu peso sobre o
membro afectado. Os exercícios activos têm como principal objectivo a recuperação
da força e locomoção. Permitindo também uma recuperação e melhoramento da
capacidade cardiorespiratória bem como do nível de actividade e um alívio da dor.
Existe uma grande variabilidade de exercícios activos e o importante é saber
escolher os que melhor se adequam a cada animal.
a) Caminhar lentamente
Este exercício talvez seja dos mais importantes na reabilitação do pós-
operatório e em animais com afecções crónicas. As caminhadas são frequentemente
realizadas incorrectamente, têm de ser realizadas á velocidade do cão, não de quem
o leva a caminhar (Bockstahler et al., 2004). Estas caminhadas têm que ser feitas
muito lentamente para o animal conseguir equilibrar o seu peso e não ter receio de ir
colocando o membro afectado no solo, podemos também contribuir para que isso
aconteça elogiando-o sempre que o apoiar no solo.
Inicialmente as caminhadas devem ser realizadas 2 a 3 vezes por dia
durante uns 2 a 5 minutos cada. Após os primeiros dias de caminhadas se a
claudicação não tiver piorado pode-se ir aumentando o tempo em 1 a 3 minutos por
dia (Bockstahler et al., 2004).
b) Subir / Descer escadas
Subir e descer escadas é o exercício ideal para trabalhar a extensão das
articulações (Figura 39). Este exercício deve ser iniciado quando o animal já se
encontra com melhorias visíveis e já ser capaz de caminhar sobre o membro
afectado apesar da existência de alguma claudicação. Deverá começar por
55
caminhar lentamente em degraus de altura baixa de modo a ir adquirindo o uso
normal dos membros e adaptando os membros a alguma extensão, não permitindo
que este avance degraus ou mesmo que salte sobre eles. Assim verificado evolução
no quadro do animal poder-se-á introduzir desafios e caminhar por degraus de altura
mais elevada. É vantajoso para criar força muscular principalmente nos membros
posteriores (Bockstahler et al., 2004).
c) Dançar
Este exercício consiste em levantar os membros anteriores do solo e
movimentar o animal para a frente e para trás, parecendo que este está a dançar
(Figura 40). Este método permite um fortalecimento dos músculos dos membros
posteriores. Alguns animais tentam se esticar de tal modo que quase conseguem
chegar ao solo, nestas situações o ideal é que o clínico se coloque na parte de trás
do animal e que lhe levante os membros anteriores, segurando pelas axilas
(Bockstahler et al., 2004).
Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito
que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam
sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004).
Figura 39. Subir e descer escadas
(Adaptado de Rivière, 2007).
56
d) Carrinho de mão
O exercício “carrinho de mão” permite que o animal fortaleça os músculos
dos membros anteriores. Este método exige que se levante ambos os membros
posteriores do solo e se mova o animal para a frente (Figura 41). Um animal com
propriocepção normal vai mover-se para a frente para não cair, animais com alguma
fraqueza dos membros anteriores podem necessitar de um apoio.
Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito
que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam
sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004).
Figura 40. Exercício de dança
(Adaptado de Leiria, 2008).
Figura 41. Aplicação do exercício de
carrinho de mão em um gato
(Adaptado de Rivière, 2007).
57
e) Levantar / Sentar
Os exercícios de levantar/sentar são ideais para aumentar a capacidade de
ROM e força nos posteriores, fortalecendo os glúteos, os extensores do joelho e do
pescoço. Segundo Bockstahler et al. (2004) são movimentos usados principalmente
em situações de displasia da anca e afecções dos membros posteriores. É preciso
ter atenção e verificar se o animal se senta e levanta correctamente, flectindo ao
mesmo tempo ambos os membros posteriores quando se senta e se os estende ao
mesmo tempo quando se coloca em estação.
f) Estímulo nociceptivo
Este exercício consiste em colocar por exemplo uma carica ou mesmo uma
tampa de plástico na extremidade do membro saudável, de modo a criar um
desconforto e encorajar o uso do membro afectado. Contudo é preciso ter cuidado
com este exercício pois pode provocar desconforto tal que o animal recuse mesmo a
movimentar-se.
g) Passadeira rolante
A passadeira rolante é dos métodos mais utilizados em reabilitação animal
(Figura 42). A sensação do solo movimentar-se debaixo do animal vai incentiva-lo a
usar o membro afectado para tentar equilibrar o seu peso de modo a não cair,
realizando deste modo uma marcha mais equilibrada e correcta. Durante esta
actividade o ideal é que esteja presente mais que uma pessoa a acompanhar o
animal no exercício. Uma pessoa pode colocar-se em frente ao animal a incentiva-lo
a andar, se necessário recorrer a recompensas, e outra de lado do animal de modo
a que possa visualizar adequadamente a sua marcha e efectuar qualquer correcção
se necessário. Inicialmente ou em animais mais fracos pode ser usado uma faixa a
suportar o peso.
Este exercício permite um alívio da dor e do stress do movimento em certas
circunstâncias, tais como, dor em casos de distensão da anca num cão com
58
displasia da anca e num pós-operatório de ligamento cruzado (Bockstahler et al.,
2004).
h) Obstáculos horizontais
Este é um método usado com a finalidade de incentivar o uso do membro
afectado e aumentar o ROM, através do uso de cavaletes (Figuras 43 e 44). Em
alguns casos uma simples escada pode servir para a realização do exercício
(Bockstahler et al., 2004). Os trilhos estão espaçados igualmente ou com larguras
diferentes, um boa ideia é inicialmente os espaços terem a mesma largura mas um
pouco menor que o comprimento das passadas do paciente (Bockstahler et al.,
2004). O objectivo é fazer com que o animal caminhe por entre os espaços,
permitindo a extensão e flexão das articulações dos membros.
Figura 42. Exercício na
passadeira (Adaptado de
Anónimo 9, s/d).
Figura 43. Exercício com cavaletes
(Adaptado de Anónimo 7, s/d).
Figura 44. Exercício com cavaletes
realizado por um gato (Adaptado de
Anónimo 9, s/d).
59
i) Obstáculos verticais
Estes obstáculos verticais são postes colocados em linha recta, de modo a
que o animal passe entre eles, de um lado para o outro (Figura 45). É útil para
permitir a flexão lateral da medula espinal, aumentar a propriocepção e fortalecer os
músculos. A distância entre os postes deverá ser menor que o comprimento do
próprio animal, de modo que o obrigue a flectir a medula espinal.
j) Exercícios de fortalecimento muscular
Os exercícios de fortalecimento muscular são usados para melhorar a força
e a velocidade do animal. Incluem actividades como levantar e carregar pesos
(Quadro 4), e correr a grandes velocidades em pequenas distâncias. Levantar e
carregar pesos em fisioterapia animal é semelhante ao levantar pesos de uma
pessoa (Bockstahler et al., 2004). Existem umas mochilas com vários pesos (Figura
46) que podem ser colocadas sobre o dorso do animal fortalecendo vários músculos
e uns pesos para se colocarem directamente nos membros com objectivo de ajudar
a fortalecer os músculos durante a flexão na marcha.
Peso (Kg) 0.25 0.5 1 2
Tamanho do cão Pequeno Médio Grande Muito grande
Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais (Adaptado
de Bockstahler et al., 2004).
Figura 45. Obstáculos verticais
(Adaptado de Anónimo 7, s/d).
60
k) Levantar a pata
Este exercício consiste em estimular o cão a levantar um dos membros
anteriores usando um biscoito como recompensa. Tem como finalidade flectir a
articulação do cotovelo e fortalecer os músculos dos membros anteriores. Pode
também ser utilizado para combater uma atrofia muscular.
5.4. HIDROTERAPIA
Existem provas suficientes na actualidade do sucesso da hidroterapia em
seres humanos, contudo existe uma grande falta de informação na literatura
veterinária e de fisioterapia no que diz respeito a protocolos, directrizes e na
implementação desses programas em animais (Monk, 2007). Muitos dos princípios e
técnicas de hidroterapia usadas em humanos podem ser usados em pacientes
animais, tendo em consideração as diferenças de tamanho, tipo de corpo, lesões e
diferenças na comunicação (Monk, 2007).
A água tem uma variedade de propriedades que são importantes avaliar de
modo a ser possível desenvolver programas de hidroterapia ideias para animais, de
modo a haver um correcto uso e máximo aproveitamento da técnica. A densidade da
Figura 46. Mochila com
vários pesos (Adaptado de
CiaPet, 2008).
61
água é de 1.0, a densidade de outros corpos depende da sua composição e é
comparada á da água. A gordura possui 0,8 de densidade, que uma vez menor que
a da água, irá flutuar, já o tecido ósseo tem densidade de 2.0, afundando na água
(Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). A capacidade de flutuar de um corpo vai ser
igual ao peso do liquido movimentado por esse mesmo corpo quando imerso,
segundo o principio de Arquimedes. A terapia aquática é uma forma especial de
exercício que ajuda a reduzir a quantidade de peso que o paciente suporta até 91%
(Figura 47). Esta situação permite que o animal suporte menor peso que em terra,
permitindo exercer movimentos mais confortavelmente. A pressão hidrostática
também é um parâmetro importante de avaliar, corresponde á pressão exercida pela
água sobre o corpo imerso. Esta pressão confere algum grau de apoio e
sustentação ao animal auxiliando no movimento e pode ainda reduzir edemas por
melhorar a circulação sanguínea e linfática, contudo cria alguma resistência ao
movimento do tórax sendo um pouco perigoso para animais com problemas
cardíacos e/ou respiratórios. É importante também perceber que existe à superfície
uma maior e mais forte ligação entre moléculas em relação á profundidade, o que
torna a terapia dentro de água mais fácil ao animal (Bockstahler et al., 2004; Monk,
2007).
Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a
quantidade de água em que é imerso (Adaptado de Leiria,
2008).
62
5.4.1. INDICAÇÕES
A hidroterapia ou terapia aquática tem se tornado muito importante na
reabilitação de pequenos e grandes animais. É considerada por muitos como o
melhor método de fortalecimento muscular; aumento da mobilidade; melhoria da
condição corporal, da circulação sanguínea e da capacidade cardiorespiratória;
reduzir e/ou prevenir a atrofia, espasmos musculares, hipertonicidade e o edema
(Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). Está indicada principalmente em situações
de patologia neurológica como no pós-cirúrgico do disco intervertebral, mielopatia
degenerativa e mielopatia fibrocartilaginosa embólica; no pós-cirúrgico de ortopedia
com fracturas, ruptura do ligamento cruzado cranial e displasia da anca. É favorável
também em casos de artrite, espondilose e fraqueza muscular (Bockstahler et al.,
2004; Monk, 2007; Rivière, 2007).
5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES
A hidroterapia não é uma terapia que possa ser aplicada a todos os animais,
apesar de ser excelente em certas situações existem outras em que o seu uso é
contra indicado ou é preciso ter um cuidado acrescido. Como na presença de uma
situação de ferida aberta, drenante e/ou infectante, a incisão ainda por cicatrizar,
problemas gastrointestinais, respiratórios, cardíacos ou sistémicos, medo da água,
hipertermia, falta de condição física, epilepsia, animal com tosse do canil ou na
presença de problemas de incontinência urinária ou fecal (Clark & McLaughlin, 2001;
Bockstahler et al, 2004; Monk, 2007).
5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA
Após a avaliação do estado de reabilitação em que se encontra o animal é
preciso escolher o método de hidroterapia mais adequado aos objectivos do seu
tratamento, ao seu tamanho e ao equipamento disponível. Existe uma enorme
variedade de opções para animais de pequeno porte como uma simples banheira,
tanque, piscinas para crianças e piscinas para adultos (usada para natação e a
63
realização de exercícios), praias, barragens, lagos, rios, passadeiras aquáticas,
piscinas próprias para animais de pequeno porte (usada para natação e a realização
de exercícios, Figura 48). Para animais de grande porte pode-se recorrer a piscinas
construídas para o efeito (Figura 49), praias, barragens, rios e a passadeiras
aquáticas.
É importante nesta terapia pensarmos como entra e sai o animal da água.
Se for numa piscina de reabilitação permite que o animal entre de um modo gradual
através de uma rampa, se estiver a usar um tanque ou uma banheira baixa-se
lentamente e com cuidado o animal ou coloca-se o animal dentro e vai-se enchendo
o tanque ou banheira calmamente com água. O importante é não encorajar o animal
a saltar para dentro e/ou para fora e nunca deixá-lo sozinho durante a terapia.
5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA
Para a realização de exercícios dentro de água, a passadeira sub-aquática
(Figura 50) constitui o equipamento mais valioso, permitindo adaptar a cada animal
as condições mais favoráveis, desenvolvendo a sua força muscular e aumentando o
ROM. Mas é preciso ter alguns cuidados, colocá-la num local amplo e ter umas
Figura 49. Piscina para animais de grande porte
(Adaptado de Monk, 2007).
Figura 48. Piscina para cães (Adaptado de
Monk, 2007).
64
dimensões consideráveis de modo a ser possível monitorizar o tratamento por todos
os lados e ainda contribuir para a diminuição da ansiedade do animal. Deve ser
inspeccionada regularmente, avaliar a funcionalidade do termóstato (que mantém
automaticamente a temperatura da água) e efectuar a limpeza necessária.
A passadeira sub-aquática permite ainda, andar a velocidades, inclinações e
níveis de água diferentes, mediante a condição do animal e a sua progressão
(Bockstahler et al., 2004).
Exercícios como manter-se em estação são benéficos em situações de
patologia neurológica como pós cirúrgico de hérnias discais, mielopatia degenerativa
e mielopatia fibrocartilaginosa embólica. Este exercício permite-lhes ganhar alguma
estabilidade, coordenação e força muscular. Inicialmente pode-se apoiar o animal
com as mãos ou com alguma faixa para o ajudar a equilibrar-se e ir soltando as
mãos, porém assim que se vir algum sinal de fraqueza voltar a apoiá-lo. É
recomendável a utilização de colete salva-vidas (Figura 51), facilitando a
manipulação e é um suporte extra para o animal. Uma vez já capaz de permanecer
em estação pode-se avançar para exercícios como o de “bicicleta” com o objectivo
de melhoramento da locomoção, da propriocepção e melhoramento da amplitude do
movimento. Pode-se ainda tentar provocar desequilíbrios no animal através da
colocação de pressão sobre o animal ou provocando alguma turbulência na água,
permitindo alguma conquista da coordenação, propriocepção e fortalecimento
muscular. Outro exercício também ele importante é o caminhar dentro de água, mas
é preciso dar algum tempo ao animal para se habituar, o ideal é que a primeira
sessão seja apenas de brincadeira, dando muitos elogios e prémios.
Figura 50. Passadeira sub-aquática (Adaptado de
Bockstahler et al., 2004).
Figura 51. Colete salva-vidas para cães
(Adaptado de Monk, 2007).
65
5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS
No caso de não haver a possibilidade de uso de uma passadeira, os
exercícios descritos anteriormente, o manter-se em estação na água, a colocação de
obstáculos (como o exercício de bicicleta, sustentação de pesos) e o simples
caminhar na água podem ser realizados num lago ou lagoa. Podemos acrescentar o
exercício da natação como uma mais valia para o animal. A natação é um excelente
exercício para o fortalecimento dos músculos e aumentar o ROM das articulações,
uma vez que nadar requer uma maior flexão do joelho e um movimento maior dos
membros. Para se poder executar este exercício é preciso haver condições
favoráveis, a temperatura ser a mais adequada, e é importante secar bem o animal
após este sair da água.
5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA
De acordo com Bockstahler et al. (2004) a estimulação eléctrica corresponde
a uma modalidade de fisioterapia e reabilitação muito vantajosa no tratamento de
várias doenças ortopédicas e neurológicas, principalmente aquelas que causam dor
aguda e crónica ou atrofia muscular.
Existe uma diversidade de tipos de estimulação (Quadro 5) possíveis através
da aplicação de uma corrente eléctrica, cuja resposta vai depender de parâmetros
de estimulação como, intensidade, frequência e duração do pulso (Figura 52).
NMES
(Estimulação eléctrica neuromuscular)
Estimulação eléctrica de um músculo ou tecido
através de um nervo ileso.
TENS
(Estimulação eléctrica nervosa transcutânea)
Uma forma de NMES, usada para o tratamento
da dor.
EMS
(Estimulação eléctrica muscular)
Estimulação directa sobre as fibras musculares
de um músculo sem nervo.
Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a Terminologia
electroterapêutica da APTA (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).
66
Segundo Bockstahler et al. (2004) as correntes utilizadas para a emissão de
estímulos são classificadas consoante as suas propriedades físicas, existindo assim,
uma corrente contínua (DC) ou galvânica, corrente cujo fluxo é unidireccional e
raramente é usado em terapia somente em iontoforese. Iontoforese é definida como
a introdução de radicais químicos nos tecidos, técnica usada com vários objectivos
fisioterapêuticos, tais como, promover a vasodilatação, analgesia e o relaxamento
muscular. Uma corrente alternada (AC) é uma corrente eléctrica cujo fluxo inverte a
direcção, sendo por isso bidireccional. Uma corrente pulsátil que tal como o nome
indica, é transmitida por pulsos e é frequentemente usada em terapia.
A intensidade da estimulação corresponde á amplitude do impulso, quando a
intensidade do estímulo é aumentada pelo terapeuta, a amplitude é maior. A
duração do impulso (microsegundos) é o parâmetro chave para determinar os
efeitos da estimulação, estimulação muscular ou alívio da dor (Baxter & McDonough,
2007). A frequência corresponde ao número de impulsos por segundo, em hertz
(Hz), ao qual vai depender a resposta do estímulo.
Duração do impulso
Amplitude do impulso
Figura 52. Onda de estimulação típica (Adaptado
de Baxter & McDonough, 2007).
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  • 1. Instituto Superior Politécnico de Viseu ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM ANIMAIS DE COMPANHIA TRABALHO FINAL DE CURSO Enfermagem Veterinária Liliana Fonseca Ferreira VISEU, 2010
  • 2. Instituto Superior Politécnico de Viseu ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA FISIOTERAPIA E REABILITAÇÃO FÍSICA EM ANIMAIS DE COMPANHIA TRABALHO FINAL DE CURSO Enfermagem Veterinária Liliana Fonseca Ferreira Orientador: Dr. João Mesquita VISEU, 2010
  • 4. “As doutrinas expressas neste trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor”.
  • 5. V AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, tornaram possível a conclusão deste trabalho. Agradeço aos meus pais por me terem dado a oportunidade de cursar em Enfermagem Veterinária, pois sem o seu apoio não teria sido possível concretizar este grande objectivo de vida. Aos meus amigos que de uma forma ou outra me ajudaram e apoiaram ao longo da minha vida, cada um de uma maneira especial. Aos meus colegas de academia que lutaram comigo, me apoiaram e vencemos muita coisa juntos, principalmente às amigas que se formaram nesta conquista, Isabel, Diana, Armanda e Liliana. A toda a equipa do Hospital Veterinário Montenegro, e aos meus colegas estagiários por me terem recebido da melhor forma, pelos ensinamentos transmitidos, pelas lições de vida e pelo companheirismo. Ao meu orientador, Dr. João Mesquita, pelo apoio prestado durante toda a realização do trabalho final de curso, pela orientação na sua execução e por toda disponibilidade demonstrada.
  • 6. VI TÍTULO: Fisioterapia e Reabilitação Física em Animais de companhia. RESUMO A fisioterapia e reabilitação animal é uma área de actividade cada vez mais praticada em cães e gatos, sendo sobretudo usada para ajudar os animais a regressarem às suas funções naturais antes da lesão. O interesse por esta área em animais surge dos benefícios já comprovados em Medicina Humana e na tentativa de adaptar algumas das técnicas em pacientes animais. A fisioterapia encontra-se em grande expansão em Medicina Veterinária, contudo ainda não aceite por todos. A selecção do tratamento para um paciente animal vai depender das informações recolhidas pelo clínico durante uma avaliação exaustiva do paciente, sendo abordado o procedimento para um correcto exame. Sendo a avaliação da dor um dos pontos fulcrais num processo de reabilitação é importante a sua correcta análise e controlo. A escolha do protocolo terapêutico é um dos parâmetros mais importantes e fundamentais para a recuperação de um paciente. Na elaboração do protocolo é preciso ter em conta a as necessidades do paciente, as modalidades de fisioterapia disponíveis, a disponibilidades social e financeira do proprietário, procurando sempre o mais rápido e melhor meio de recuperação. A participação activa do proprietário é fulcral para uma recuperação mais rápida. Abordado também neste trabalho foram os vários métodos de fisioterapia existentes e aplicáveis à Medicina Veterinária, nomeadamente a termoterapia, com aplicações de frio e de calor, o uso de ultra-sons, técnicas de massagem, e exercícios terapêuticos passivos, assistidos e activos. Abordaram-se ainda técnicas mais recentes mas de igual sucesso, como a utilização da hidroterapia e a estimulação eléctrica. Existem tratamentos alternativos, como a acupunctura, que estão a ganhar peso na Medicina Veterinária de igual forma como na Medicina Humana. São apresentados três casos clínicos que surgiram durante a realização do estágio no Hospital Veterinário Montenegro, que foram resolvidos com o auxílio da fisioterapia e dos cuidados de enfermagem. Não sendo uma área compreendida por todos, dá reconhecidas vantagens para quem a pratica. PALAVRAS-CHAVES Fisioterapia, Dor, Massagem, TENS, Acupunctura
  • 7. VII TITLE: Physiotherapy and Physical Rehabilitation in Pets. ABSTRACT Animal physical therapy and rehabilitation is an area of activity with increasing utilization in dogs and cats, but mostly to help animals to get back to their normal functions after an injury. The interest for these practices in animals comes from the verified benefits in Human Medicine and from the attempt to adapt some of the techniques in animal patients. Physical therapy is in great expansion inside the Veterinary Medicine, although not yet accepted by all. The choice of treatment for an animal patient will depend of the information gathered by the physician during an exhaustive clinical appraisement. Being the pain appraisement one of the key points in the rehabilitation process, its correct analysis and control is an important phase. The choice of the therapeutical process is one of the most important and fundamental characteristics in patient recovery. In a protocol elaboration, the patient’s necessities, the physical therapy modalities available and the social and financial status of the owner, need to be accounted. The owner’s active participation is crucial for a complete and fast recovery. Approached in this thesis were the several physical therapy methods available and applicable in Veterinary Medicine, such as thermotherapy with hot and cold applications, the use of ultrasounds, massage techniques and passive therapeutical exercises, assisted and active. More modern techniques are also approached such as hydrotherapy and electrical stimulation. There are alternative treatments like acupuncture; these are gaining importance in Veterinary Medicine and in Human Medicine. There are presented three clinical cases that appeared during the realization of an internship in the Montenegro Veterinary Hospital. These cases were solved with the help of the physical therapist and the nursing staff. This area, although yet not fully understood by all, is showing to be extremely fruitful in animal rehabilitation to those who practice it. KEYWORDS Physiotherapy, Pain, Massage, TENS, Acupuncture
  • 8. VIII ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS ……………………………………………………………………....V TÍTULO, RESUMO, PALAVRAS-CHAVE ……………………………………..………. VI TITLE, ABSTRACT, KEYWORDS ……………………………………………….......... VII ÍNDICE GERAL ………………………………………………………………………….. VIII ÍNDICE DE FIGURAS ……………………………………………………………………..XI ÍNDICE DE QUADROS …………………………………………………………………. XI ÍNDICE DE ABREVIATURAS ………………………………………………………….. XV I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO …………….16 II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA …………………………………………………………. 18 1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA …………………………………………………… 19 1.1. OBJECTIVOS ……………………………………………………………………….. 20 1.2. INDICAÇÕES………………………………………………………………………… 20 1.3. CONCEITOS BÁSICOS…………………………………………………………….. 21 2. EXAME DO PACIENTE ………………………………………………………………. 23 2.1. EXAME CLÍNICO ……………………………………………………………………. 23 2.2. EXAME FÍSICO ……………………………………………………………………… 24 3. DOR ………………………………………………………………………………………28 3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR …………………………………………………………29 3.2. AVALIAÇÃO DA DOR ……………………………………………………………… 30 3.3. MANEIO DA DOR …………………………………………………………………… 31 4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO………………………………………………………. 34 4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO ………………………………. 34 4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO …………………………………………. 35 4.3. MANEIO DO PESO …………………………………………….…………………… 36 5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA ……………………………………………………… 37 5.1. TERMOTERAPIA …………………………………………………………………….37 5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA ……………………………… 37 5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR ……………………………………………….. 38 5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO ………………………………………….. 39 5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS ……………………………………………. 41 5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES ………………………………………….. 41 5.2. MASSAGEM …………………………………………………………………………. 42
  • 9. IX 5.2.1. RESULTADOS …………………………………………………………… 42 5.2.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 43 5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………….43 5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM …………………………………………… 43 5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL …………… 43 5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA ……………..44 5.2.4.3. FRICÇÃO ………………………………………………………………..45 5.2.4.4. AGITAR …………………………………………………………………. 46 5.3.4.5. PERCUSSÃO ………………………………………………………… 46 5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA ……………………………47 5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO ………………………………. 48 5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO ……………………………. 51 5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO …………………………………54 5.4. HIDROTERAPIA …………………………………………………………………….. 60 5.4.1. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 62 5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 62 5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA ………………………………… 62 5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA ……………………………………. 63 5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS …………..………………………………….. 63 5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA ………………………………………………………65 5.5.1. EFEITOS BIOLÓGICOS ………………………………………………… 67 5.5.2. INDICAÇÕES …………………………………………………………….. 67 5.5.3. CONTRA-INDICAÇÕES ………………………………………………… 67 5.5.4. COLOCAÇÃO DOS ELÉCTRODOS E A DOSE DE ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA A USAR …………………………………………………………………….. 68 5.5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS)71 5.6. MÉTODOS ALTERNATIVOS ……………………………………………………… 72 5.6.1. ACUPUNCTURA ………………………………………………………….72 5.6.1.1. INDICAÇÕES…………………………………………………………. 74 5.6.1.2. CONTRA-INDICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS …………………….74 6. ASPECTOS ECONÓMICOS DA FISIOTERAPIA …………………………………. 75 7. CASOS CLÍNICOS ……………………………………………………………………. 76 7.1. CASO CLÍNICO Nº1. “SHUMI” …………………………………………………… 76 7.1.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 76
  • 10. X 7.1.2. DIAGNÓSTICO ………………………………………………………….. 76 7.1.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 79 7.1.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 80 7.2. CASO CLÍNICO Nº2. “MIRÓ” …………………………………………………….. 82 7.2.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 82 7.2.2. DIAGNÓSTICO …………………………………………………………... 82 7.2.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 85 7.2.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 86 7.3. CASO CLÍNICO Nº3. “SPOTTY” …………………………………………………..88 7.3.1. IDENTIFICAÇÃO ………………………………………………………… 88 7.3.2. DIAGNÓSTICO ……………………………………………………………88 7.3.3. PLANO FISIOTERAPÊUTICO DURANTE O INTERNAMENTO …… 90 7.3.4. PLANO FISIOTERAPÊUTICO APÓS A ALTA ……………………….. 92 8. CONCLUSÃO ………………………………………………………………………….. 94 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………… 96 ANEXO A - TABELA DOS ANALGÉSICOS MAIS USADOS EM CÃES E GATOS 102
  • 11. XI ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior). ……………. ……………16 Figura 2. Localização do HVM no mapa. . ……………………………………………. 16 Figura 3. Corpo clínico do HVM. ………………………………………………………...17 Figura 4. Recepção. a) e b). ………………………...…………………………………...18 Figura 5. Consultório pequeno. .... ………………………………………………………18 Figura 6. Sala de cirurgia. ………………………………………………………………. 18 Figura 7. Internamento geral do HVM. ………...……………….……………………….18 Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético. ..…………………. ………. 21 Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade. .………. ………..…. 21 Figura 10. Realização do “Kliber test”. ...………………………………………………. 25 Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver”. ………………………...25 Figura 12. Goniómetro. …………………………………………………………………...26 Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retrivers: a) Flexão e extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente; c) Extensão do cotovelo e ombro, respectivamente. ……………………………………………………. 26 Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica. …………...27 Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente. ……………28 Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo. ………………………28 Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor). ……………………………………...29 Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas. ………………………. ………. 31 Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa. ………………...35 Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha.38 Figura 21. Imersão dos membros de um cavalo em água fria como técnica escolhida. …………………………………………………………………………………...38 Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos. ……………………………39 Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons. . ………………………………. 40 Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna. ……………………………………………44 Figura 25. “Effleurage” no membro posterior. …………...……………………………. 44 Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior. …………………………………………45 Figura 27. Técnica de fricção. ……………………………………………………………46
  • 12. XII Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão.……………………………………. 47 Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha.…………………. 47 Figura 30. Flexão do membro posterior. ………………………………………………. 49 Figura 31. Alongamento do membro posterior. ………………………………………. 49 Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato. ..…………………………. 49 Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.………. 50 Figura 34. Movimento bicicleta.…………………………………………………………. 51 Figura 35. Caminhar com auxílio de uma toalha. ……………………………………...52 Figura 36. Exercício numa tábua instável. ……………………………………………. 52 Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica. a) e b). ………………. 53 Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica. 53 Figura 39. Subir e descer escadas. ……………………………………………………. 55 Figura 40. Exercício de dança. …………………………………………………………. 56 Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato. ………………. 56 Figura 42. Exercício na passadeira. ...…………………………………………………. 58 Figura 43. Exercício com cavaletes. ..…………………………………………………. 58 Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato. ..………………………. 58 Figura 45. Obstáculos verticais. …………………………………………………………59 Figura 46. Mochila com vários pesos. …….…………………………. ………………. 60 Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é imerso. ………………………………………………………………………………………61 Figura 48. Piscina para cães. ……………………………………………………………63 Figura 49. Piscina para animais de grande porte. ……………………………………. 63 Figura 50. Passadeira sub-aquática. ……………………………………………………64 Figura 51. Colete salva-vidas para cães. ..……………………………………………. 64 Figura 52. Onda de estimulação típica. …………………………………………………66 Figura 53. Estimulação segmentária, cada área do corpo pode ser tratada numa área específica (da mesma cor), bilateral à coluna. ………………………………...…69 Figura 54. Apresentação de diferentes áreas de tratamento (vermelho) e respectivas áreas de aplicação dos eléctrodos, bilateral à coluna (azul). a) Anca (L2 – S1); b) Joelho (L3 – S1); c) Tarso (L4 – S1); d) Ombro (C4 – C7); e) Cotovelo (C6 – Th1); f) Carpo (C7 – Th2)….……………………………. …………………………………………70 Figura 55. Acupunctura veterinária. a) Adaptado de Anónimo 2, s/d; b) Adaptado de Pereira, 2007; c) Adaptado de Anónimo 6, s/d. ………………………………………. 73
  • 13. XIII Figura 56. Shumi. ..………………………………………………………………………. 76 Figura 57. Raio X de contraste do Shumi. a) e b). ..…………………………………. 78 Figura 58. Shumi em fisioterapia, numa sessão de Exercício Passivo. ..…………. 80 Figura 59. Shumi em fisioterapia, numa caminhada com o apoio da toalha. ……. 80 Figura 60. Miró. ……………………………………………………………………………82 Figura 61. Ferida de decúbito. …………………………………………………………...82 Figura 62. Miró sem mobilidade, com apresentação de feridas de decúbito. ……...82 Figura 63. Estreitamento do espaço intravertebral L2 – L3. a) e b)…………………..83 Figura 64. Mielografia do Miró. a) Preparação da sala de cirurgia para a realização da mielografia; b) Recolha do líquido cefalorraquidiano; c) Recolha do líquido cefalorraquidiano para o teste de Pandy; d) Introdução do líquido de contraste……84 Figura 65. Spotty..…………………………………………………………………. ……. 88 Figura 66. Recolha de Líquido cefalorraquidiano. ……………………………………. 89 Figura 67. Imagem radiográfica da mielografia. ...……………………………………. 89 Figura 68. Aplicação de estimulação eléctrica no Spotty.………………………. ……91 Figura 69. Aplicação de frio, através de um saco de gelo revestido por uma toalha. ………………………………………………………………………………………………. 91 Figura 70. Compressão vesical no Spotty. ……………………………………………. 92 Figura 71. Algaliação no Spotty. …………………………………………………………92
  • 14. XIV ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriver (em percentagem)..………………26 Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica..……………………………………...31 Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo a classificação da OMS..…………………………………………………………………. 32 Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais..……………………………………...59 Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a terminologia electroterapêutica da APTA..……...………………………………………………………………………………. 65 Quadro 6. Local de colocação dos eléctrodos dependendo do tipo de estimulação………………………………………………………………………………….68 Quadro 7. Padrão Bioquímico do Shumi. ………………………………………………76 Quadro 8. Hemograma do Shumi. ………………………………………………………77 Quadro 9. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Shumi. …………………………79 Quadro 10. Plano fisioterapêutico do Shumi para casa. ……………………………...81 Quadro 11. Padrão Bioquímico do Miró..………………………………………………. 83 Quadro 12. Hemograma do Miró.....……………………………………………………. 84 Quadro 13. Plano pós-cirúrgico instituído no caso do Miró.....………………………. 85 Quadro 14. Plano fisioterapêutico do Miró para casa.……………….………………. 86 Quadro 15. Padrão Bioquímico do Spotty. ……………………………………………. 88 Quadro 16. Hemograma do Spotty. ……………………………………………………. 89 Quadro 17. Plano pós-cirúrgico adequado às necessidades do Spotty. ……………90 Quadro 18. Plano fisioterapêutico do Spotty para casa. ……………………………...92
  • 15. XV ÍNDICE DE ABREVIATURAS AC – Corrente alternada. AINES – Anti-inflamatórios não esteróides. APTA – Associação Americana de Fisioterapia. BUN – Concentração de ureia no sangue. CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. DC – Corrente directa. EMS – Estimulação eléctrica muscular. GPT (ALT) – Transaminase glutâmico pirúvica ou alanina aminotransferase. GOT (AST) – Transaminase glutâmico oxalacética ou aspartato aminotransferase. HCM – Hemoglobina Corpuscular Média. HVM – Hospital Veterinário Montenegro. MNS – Neurónio motor superior. NMES – Estimulação eléctrica neuromuscular. RDW – Percentagem de anisocitose de hemácias. RMN – Ressonância magnética nuclear. ROM – Amplitude de movimento. TAC – Tomografia axial computorizada. TENS – Estimulação eléctrica nervosa transcutânea. VCM – Volume Corpuscular Médio.
  • 16. 16 I. APRESENTAÇÃO DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO No âmbito da Licenciatura em Enfermagem Veterinária da Escola Superior Agrária de Viseu, realizou-se um estágio curricular de cinco meses (de Março de 2010 a Julho de 2010) no Hospital Veterinário Montenegro (HVM) (Figura 1), na cidade do Porto, Rua Pereira Reis Nº191 (Figura 2). Figura 1. Hospital Veterinário Montenegro (vista exterior) (Adaptado de Anónimo 1, s/d). Figura 2. Localização do HVM no mapa (Adaptado de Anónimo 2, s/d).
  • 17. 17 Este estágio teve como objectivos principais consolidar os conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso de Enfermagem Veterinária e aperfeiçoar técnicas de trabalho na prática do dia-a-dia de um hospital. O estágio foi orientado pelo director clínico do hospital, o Dr. Luís Montenegro e restante equipa, nas áreas de medicina interna, exames complementares de diagnóstico, cirurgia e na formação pessoal no que respeita a comunicação e interacção com os proprietários dos animais. O corpo clínico (Figura 3) existente no HVM durante o meu período de estágio era composto por dez Médicos Veterinários, dois Enfermeiros Veterinários, uma recepcionista e vários estagiários (de Medicina Veterinária e/ou Enfermagem Veterinária). As instalações deste hospital estão adequadas às necessidades exigidas para realizar o melhor trabalho e dar as melhores condições aos nossos clientes. As instalações passam por um rés-do-chão, onde se encontra a recepção (que inclui sala de espera e WC para clientes) (Figura 4), os consultórios médicos (grande e pequeno (Figura 5)), sala de ecografia e radiografia, sala de cirurgia (Figura 6), internamento geral (Figura 7), internamento para pacientes com patologias infecto- contagiosas, um balcão como todo o equipamento de análises clínicas, de raio-X digital, autoclave e uma arca onde se colocam os pacientes prontos para cremação. No 1º piso situa-se a cozinha, a sala de estar (onde se realizam as refeições e trabalhos/documentos), a sala de hemodiálise e a farmácia. No 2º piso temos o WC para o pessoal do hospital, escritório de administração, sala das rações e ainda uma Figura 3. Corpo clínico do HVM (Adaptado de Anónimo 3, s/d).
  • 18. 18 sala vestuário/dormitório. Exteriormente o hospital possui um espaço onde são realizados os passeios dos animais internados e possíveis visitas feitas no exterior. Figura 4. Recepção (Adaptado de Anónimo 4, s/d). Figura 6. Sala de cirurgia (Adaptado de Anónimo 6, s/d). Figura 5. Consultório pequeno (Adaptado de Anónimo 5, s/d). Figura 7. Internamento geral.
  • 19. 19 II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA Segundo Forterre (2004) a fisioterapia é definida como uma estimulação generalizada ou tratamento selectivo de uma função fisiológica comprometida por meios físicos naturais, incluindo uma terapia de estimulação, de regulação e de adaptação. A fisioterapia pode ainda ser descrita como sendo o tratamento médico de doenças ortopédicas e neurológicas, onde há o uso exclusivo das forças naturais, tais como a luz, água, electricidade, calor, frio, massagem e movimento (Weeren, 2007). Fisioterapia é um termo bastante usado na medicina humana, onde está implementada há já muitos anos, mas só nos últimos anos é que tem revelado interesse da medicina veterinária. Parte do interesse surge dos muitos benefícios comprovados na reabilitação no pós-operatório de pacientes humanos e na tentativa de adoptar algumas das técnicas para os pacientes animais. Esta área tem sido alvo de muitos estudos por parte de investigadores para comprovar os benefícios em pacientes animais. A fisioterapia é uma área em grande expansão em medicina veterinária, com a existência de diversas oportunidades de formação (cursos de pós- graduação para veterinários e fisioterapeutas em diversas universidades europeias, Áustria, Alemanha, Espanha e cursos/palestras promovidos por diversas associações veterinárias). Porém neste momento em Portugal não existe qualquer tipo de regulamentação governamental ou da Ordem do Médicos Veterinários sobre esta prática. Na área da fisioterapia e reabilitação animal só no Reino Unido existe alguma regulamentação, nos restantes países europeus a prática da fisioterapia encontra-se na mesma situação que Portugal. A fisioterapia tem duas características diferentes, mas interligadas. Uma delas diz respeito à utilização de uma máquina apropriada ou terapêutica, empregada na fase de cicatrização para auxiliar a recuperação do tecido, a outra preocupa-se com a reeducação do movimento e é conhecida como reabilitação (Bromiley, 2000). É cada vez mais usada em cães e gatos, também já usada em cavalos, sempre com o objectivo de eliminar a causa músculo-esquelética e/ou neurológica, de melhoria dos sinais clínicos, e promover o retorno à função normal.
  • 20. 20 1.1. OBJECTIVOS A fisioterapia tem como principais objectivos eliminar a causa da disfunção, realçar os sinais clínicos e o alívio da dor. Dor que interfere com o bem-estar dos pacientes, e é capaz de causar imunosupressão, inapetência ou caquexia, ou dor que pode conduzir à redução ou mesmo desuso dos membros. Reduzir a inflamação, melhorar a irrigação sanguínea, promover a cicatrização, estimular o sistema nervoso, prevenir a neuropraxia e o entorpecimento muscular. Prevenir ou minimizar a atrofia de músculos, cartilagem, ossos, tendões e ligamentos, evitar aderências e a retracção dos tecidos, reduzir contracções e a tensão muscular são outras das vantagens da fisioterapia. Esta área da medicina permite também o maneio de peso em animais com excesso de peso, a melhora específica e geral de aptidões cardiovasculares, permite prevenir o aparecimento de doenças secundárias, diminui o uso de medicamentos anti-inflamatórios, diminui o esforço físico e providencia efeitos psicológicos positivos para pacientes e proprietários (Clark & McLaughlin, 2001; Levine & Millis, 2004; Bockstahler, 2006; Rivière, 2007; Martins, 2010). 1.2. INDICAÇÕES A fisioterapia está indicada em situações de reabilitação pós-cirúrgica em casos ortopédicos e neurológicos, lesões músculo-esqueléticas como tendinites, bursites (inflamação de uma bolsa sinovial), entorses, mobilidade reduzida, fraqueza muscular; afecções discais associadas a dor e paresia; lesões articulares como contracturas e artrites; alívio da dor; cicatrização de feridas; alterações no desempenho de um animal atleta; edemas e problemas na circulação sanguínea e linfática; complicações do sistema cardiorespiratório e maneio do peso para preparar fisicamente o animal para a cirurgia (Clark & McLaughlin, 2001;Levine & Millis, 2004; Rivière, 2007).
  • 21. 21 Tratamento de Problemas Músculo-esqueléticos Vascularização Estrutura Mobilidade Sistema Músculo-esquelético 1.3. CONCEITOS BÁSICOS O sistema músculo-esquelético ocupa o papel principal na fisioterapia e reabilitação animal (Figura 8), o seu tratamento vai actuar sobre os tecidos, melhorando a mobilidade que tenha sido reduzida de algum modo, a dor, a estrutura e vascularização dos tecidos. Após um trauma é fundamental a restauração da mobilidade através da reorganização e vascularização dos tecidos, caso contrário existe uma redução da amplitude dos movimentos nas articulações. O sistema músculo-esquelético tem a sua função influenciada por ciclos de carga e de descarga (Figura 9). A estrutura e manutenção do tecido conjuntivo dependem destes ciclos e basta um deles falhar para ocorrer uma alteração a nível da estrutura e mobilidade da parte afectada. Indirectamente Carga Descarga Figura 8. A influência do Sistema Músculo-esquelético (Adaptado de Forterre, 2004). Figura 9. Factores importantes para a estrutura e mobilidade (Adaptado de Forterre (2004).
  • 22. 22 O movimento fisiológico é essencial para a boa condição do sistema locomotor (Rivière, 2007). Segundo Millis (2004) e Rivière & Sawaya (2006) citado por Rivière (2007) todos os órgãos do sistema locomotor estão sujeitos a alterações durante a carga ou a imobilização não fisiológica. Segundo Rivière (2007) alterações estas, em que a elasticidade e a resistência mecânica da cartilagem articular e do osso subcondral diminuem. O metabolismo ósseo modifica-se e as cápsulas, os ligamentos e tendões sofrem contracção e podem esclerosar. Desenvolvem-se aderências com perda da mobilidade articular e deficiência proprioceptiva. O tecido muscular esquelético sofre uma retracção degenerativa, com formação de fibrose e aderências entre os ligamentos. O que irá aumentar a fadiga muscular, a perturbação dos processos cicatriciais e provocar um decréscimo na eliminação dos resíduos metabólicos e na má circulação sanguínea e linfática capaz de afectar as principais funções do corpo. Quando um paciente se encontra em condições patológicas ou pós- operatórias muitas vezes não consegue colocar uma carga completa no membro afectado e através de exercícios passivos e activos da fisioterapia evitam que coloque essa carga sobre o sistema músculo-esquelético. Permitindo deste modo uma recuperação mais rápida e eficaz.
  • 23. 23 2. EXAME DO PACIENTE A selecção do tratamento vai basear-se principalmente nas bases do clínico, bem como no conhecimento da anamnese e exame físico do paciente animal. Ao contrário de um paciente humano um animal não tem a capacidade de descrever o que está a sentir, apenas de mostrar sinais de problemas (Goff & Crook, 2007). Nas perturbações da locomoção nem sempre é claro qual a causa primária, se de ordem neurológica ou osteoarticular. Deste modo é então indispensável realizar um exame clínico rigoroso para se poder aplicar o tratamento mais eficaz. As afecções que provocam alterações a nível da locomoção raramente colocam o paciente em risco de vida, contudo a rapidez com que se estabelece um tratamento adequado e eficaz pode ser determinante para a recuperação funcional. Para o sucesso na medicina de reabilitação física é imprescindível obter uma exaustiva avaliação do animal de modo a se obter um diagnóstico que permita a escolha do tratamento ideal. Em alguns casos é necessário recorrer a exames complementares como a ressonância magnética nuclear (RMN) e a tomografia axial computorizada (TAC) para permitir obter uma avaliação mais rigorosa. De acordo com Bockstahler et al. (2004) nunca se deve iniciar qualquer tratamento sem possuir um diagnóstico clínico final. 2.1. EXAME CLÍNICO Numa avaliação inicial é importante fazer uma pesquisa profunda para obter a informação geral acerca do animal e da sua história clínica. É importante que o clínico saiba todos os pormenores, de modo a poder descartar hipóteses e chegar a um diagnóstico. Dados gerais como hábitos alimentares, vacinação e desparasitação, alergias, a actividade do animal (cão de guarda, de caça, cão guia) e o nível de actividade em que se encontrava anteriormente ao problema são fundamentais para o clínico. Quanto à patologia presente é importante o clínico questionar o proprietário acerca do início, duração, tratamentos implementados, evolução e resposta do animal ao tratamento. É importante nunca esquecer que são os proprietários quem melhor conhece os nossos pacientes.
  • 24. 24 O exame clínico é bastante importante para poder determinar se existe alguma patologia, quais as consequências, o tratamento e se possui alguma contra- indicação a alguma das modalidades de fisioterapia, e correr o risco de agravar sinais (Bockstahler et al., 2004; Goff & Crook, 2007). Por exemplo num animal que sofra de insuficiência cardíaca e/ou respiratória está contra-indicado o uso da passadeira sub-aquática no seu tratamento. 2.2. EXAME FÍSICO Seguido do exame clínico é muito importante avaliar outros parâmetros, como a postura, a atitude, o equilíbrio, a vivacidade, a ergonomia, a amplitude de movimento e a dor, de modo a escolher o plano terapêutico ideal a cada paciente. Para a avaliação da postura e da atitude recorremos à avaliação de determinados exercícios realizados pelo animal. Exercícios como o andar, sentar, deitar, manter-se em estação, subir e descer escadas, andar em círculos, avaliando a flexão e extensão das articulações, a posição da cabeça, se existe claudicação através da avaliação do modo como coloca os membros e se apresenta défices proprioceptivos, dentro das capacidades do animal (Bockstahler et al., 2004). Outro passo muito importante no exame clínico é a palpação dos membros e do tronco. A importância da palpação deve-se ao facto de poder avaliar a simetria, o tónus e a condição muscular, a temperatura das articulações e/ou músculos, a presença de edema, algum sinal de dor e tensão. Usando as duas mãos, uma mão em cada membro simultaneamente (para ser mais fácil verificar alguma diferença), inicia-se a avaliação pelos membros anteriores, da parte distal para a parte proximal, seguindo para os membros posteriores e por fim avaliar-se os músculos do tronco, da parte cranial para a parte caudal, percorrendo todos os músculos de forma sistemática (Bockstahler et al., 2004). Existem dois testes específicos para avaliar o tronco do animal, são eles o “Kibler test” e o “Spinal Process Maneuver”. O “Kliber test” consiste em fazer uma prega de pele na região sacral e com as duas mãos colocadas lateralmente á coluna vertebral deslocar a dobra no sentido cranial (Figura 10). Este teste é importante porque fornece informações sobre problemas nos músculos e pontos de tensão, e
  • 25. 25 caso existam seria muito difícil conseguir fazer a prega de pele. O teste “Spinal Process Maneuver” consiste em pressionar com intensidade crescente as vértebras entre dois dedos (por exemplo polegar e indicador) deslocando-os vertical e horizontalmente (Figura 11). Está indicado no tratamento de bloqueios vertebrais e na detecção de défices de mobilidade, contudo é preciso ter cuidado em pacientes com traumatismo medular e hérnias discais (Bockstahler et al., 2004). Pode-se ainda avaliar o paciente através de um exame ortopédico e neurológico. A avaliação ortopédica e neurológica realiza-se com o animal em decúbito lateral ou em estação, e consiste na avaliação de músculos, ossos longos, articulações, ligamentos, tendões, com o objectivo de o clínico verificar a existência de alguma anomalia. Na tentativa de encontrar pontos de dor, edema, crepitação e alguma tensão nos músculos (Bockstahler et al., 2004). Como testes adicionais temos a avaliação da amplitude do movimento e a medição da massa muscular, que não são apenas parte importantes no exame clínico mas também são bastantes úteis para a avaliação do progresso da fisioterapia do animal. A amplitude do movimento ou Range of Motion (ROM) corresponde ao grau de movimento articular e é avaliada através da goniometria. O goniómetro (Figura 12) deve ser colocado mediante o animal e a sua estrutura anatómica. O objectivo é medir o ângulo alcançado no movimento de flexão e extensão (Figura 13) da articulação em causa até ao limite fisiológico. Tendo em conta que cada animal é Figura 10. Realização do “Kliber test” (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 11. Realização do teste “Spinal Process Maneuver” (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 26. 26 a) b) c) único, o melhor é efectuar a medição também no membro saudável de modo a termos um termo de comparação do grau de alteração/normalidade (massa muscular, patologia articular, tendões e ligamentos) (Quadro 1). Articulação Flexão Extensão Carpo 32 196 Cotovelo 36 166 Ombro 57 165 Tarso 39 164 Joelho 42 162 Anca 50 162 Quadro 1. ROM medidos num Labrador Retriever (em percentagem) (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). Figura 12. Goniómetro (Adaptado de Bocktahler et al., 2004). Figura 13. Medição da ROM nas articulações num Labrador Retriever. a) Flexão e extensão do carpo; b) Flexão do cotovelo e ombro, respectivamente c) Extensão do cotovelo e ombro, respectivamente (Adaptado de Bocktahler et al., 2004).
  • 27. 27 A medição da massa muscular consiste na medição do perímetro muscular do membro ou da região em causa, porém mede-se frequentemente através da coxa e/ou úmero (Bockstahler et al., 2004). Para a medição utiliza-se uma fita métrica específica e calibrada como se verifica pela Figura 14. Todas as medições realizadas deverão posteriormente ser realizadas no mesmo local, com o animal no mesmo estado (sedado ou não sedado), na mesma posição, pelo mesmo clínico e com a mesma pressão para tentar minimizar ao máximo a ocorrência de interferências no resultado. Figura 14. Medição da massa muscular através de uma fita específica (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 28. 28 3. DOR Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) a dor é uma experiência emocional ou sensorial desagradável, que provoca reacções de protecção motoras e autónomas, por sua vez, conducentes à aprendizagem de processos de prevenção passíveis de alterar o comportamento específico da espécie em causa, incluindo a interacção social (Gogny, 2006; Mills et al., 2007). A dor é mais uma defesa do organismo como a tosse e o vómito, sendo complicado a sua distinção entre fisiológica e patológica (Figura 15). As reacções motoras e autónomas resultantes fazem o papel protector até um certo ponto, a partir do qual, se tornam mais prejudiciais do que o estímulo que desencadeou originalmente a resposta (Tacke & Henke, 2004). É a intensidade do estímulo e a duração da respectiva aplicação que faz a distinção entre dor fisiológica e dor patológica (Figura 16). I n t e n s i d a d e Duração Dor fisiológica Fase II Fase I Fase III Duração I n t e n s i d a d e Dor patológica e analgesia Figura 15. Alterações do grau de intensidade e duração da dor, em função do tempo, na sequência de uma lesão tecidular significativa e persistente (Adaptado de Gogny, 2006). Figura 16. Exemplos de variações da dor ao longo do tempo (Adaptado de Gogny, 2006).
  • 29. 29 3.1. CLASSIFICAÇÃO DA DOR Podemos classificar a dor perante três parâmetros, a sua duração, origem e características clínicas (Tacke & Henke, 2004; Mills et al., 2007). Quanto á duração é possível classificar em dor aguda que surge imediatamente a uma lesão e desaparece quando o ferimento cicatriza. Tem uma função de alarme e tem boa resposta a analgésicos. A dor crónica não tem função de alarme, tem boa resposta a fármacos e não está relacionada com estímulos nociceptivos mas tem indicação de fisioterapia. É importante fazer a distinção entre dor aguda e dor crónica pois necessitam de diferentes abordagens na terapia (Figura 17) (Holler, 2009). Pode ter origem somática, em tecidos superficiais, como a pele e/ou em tecidos profundos, como ligamentos, ossos, músculos e articulações. Origem visceral, em órgãos internos torácicos, abdominais e pélvicos. Pode ainda surgir no pós-operatório (como dor aguda), numa degenerescência crónica (sendo possível o agravamento da dor, atrofia muscular e inactividade). Ser uma dor neurogénica ou neuropática (geralmente dor crónica, e provocada por lesões no sistema nervoso) ou mesmo dor oncológica (dependente do tamanho dos tumores e da presença de metástases). Figura 17. Localização das áreas comuns de dor. Dor insuportável (verde claro), dor moderada (verde escuro) e dor ligeira (sem cor) (Adaptado de Santos, 2009).
  • 30. 30 3.2. AVALIAÇÃO DA DOR Um dos maiores problemas de identificação da dor em animais é mesmo a incapacidade de a classificar. Ao contrário dos seres humanos, que possuem a capacidade de classificar ou ajudar o clínico a classificar a sua dor, nos animais tem que ser unicamente o clínico a avaliar a dor sem qualquer ajuda por parte do animal. Um animal com dor, apesar de não conseguir expressar por meio de palavras o que está a sentir irá tentar comunicar a dor por meio de comportamentos anormais (expressão facial, postura corporal e vocalização), e tanto se pode refugiar como imobilizar-se ou reagir com agressividade. A avaliação da dor nos animais requer por parte do clínico experiência e bom poder de observação (Tacke & Henke, 2004), porém segundo Gogny (2006) não existe formação suficiente para avaliar e tratar os pacientes com dor. Em alguns animais é muito complicado identificar a dor e determinar a sua intensidade. Os recursos terapêuticos a que os clínicos normalmente têm acesso (fármacos oficialmente aprovados) não são suficientes, pelo menos em alguns países, como a França (Gogny, 2006). A avaliação da dor vai depender da análise de uma série de sinais comportamentais, como a postura, a expressão facial, alterações das pupilas, algum tipo de vocalização e comportamento diferente, a presença de dor á palpação, o interesse pela alimentação, possível auto-mutilação e claudicação. Podem ser integrados em sistemas de pontuação subjectiva, ou através de escalas analógicas (Figura 18) ou numéricas. Sendo fundamental a colaboração do proprietário para indicar o grau de dor que lhe parece sentir o animal, sendo quem melhor conhece o animal. Temos ainda a possibilidade de avaliação do grau da dor (Quadro 2) através da medição da frequência cardíaca, respiratória e a pressão arterial, sendo parâmetros que sofrem alterações na presença de dor. Contudo é preciso ter em atenção que o stress e a agitação são factores que também podem provocar alterações nestes parâmetros (Tacke & Henke, 2004).
  • 31. 31 3.3. MANEIO DA DOR O principal objectivo do maneio da dor é prevenir o aparecimento de sintomas e consequências da dor patológica ou no pós-operatório, porém sem interferir com o seu ciclo (Tacke & Henke, 2004). Segundo Joshi & Ogunnaike (2005) citado por Sellon (2009) após uma análise das consequências do inadequado controlo da dor persistente no pós-operatório em pacientes humanos, é agora bem aceite que a dor inadequadamente controlada e o stress gerado pela resposta do animal têm consequências fisiológicas e psicológicas, que podem levar à disfunção de órgãos e aumentar a taxa de morbilidade e mortalidade no pós-operatório. Gravidade da dor Escala (mm) Ausência de dor 0-25 Dor ligeira 26-50 Dor moderada 51-75 Dor insuportável 76-100 Quadro 2. Avaliação da escala visual analógica (Adaptado de Tacke & Honke, 2004). Figura 18. Escalas numéricas e visuais analógicas (Adaptado de Anónimo, Carvalho & Kowacs, 2008).
  • 32. 32 Os analgésicos estão recomendados nas fases iniciais do tratamento (para evitar o desenvolvimento da “memória da dor”), independente do tipo de dor e os métodos de fisioterapia disponíveis (termoterapia, TENS, massagem, acupunctura, etc.), porém apresentam alguns cuidados a ter. Podem ser administrados analgésicos de classes diferentes concomitantemente, caso não haja qualquer contra-indicação no seu uso, devem ser usadas doses muito baixas e de acordo com as necessidades de cada paciente (Tacke & Henke, 2004). A dor foi dividida em três níveis com consequentes protocolos analgésicos, consoante a respectiva potência e relação benefício/risco pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como podemos verificar pelo Quadro 3. Segundo Mills et al. (2007) os analgésicos diminuem a sensação da dor mas não a eliminam. As principais classes farmacológicas utilizadas nos protocolos apresentados no Quadro 3 são os AINES, os analgésicos opiáceos, os anestésicos dissociativos e os agonistas alfa2. O maneio farmacológico é apenas uma parte no controlo da dor, muitos pormenores relacionados com cuidados de enfermagem e integração no contexto Fase I (Dor Ligeira) Esperada ou observada AINES ou fármacos similares utilizados individualmente, ou com dose reduzida de morfina Fase II (Dor Moderada) Esperada ou observada, ou insucesso dos analgésicos da fase I AINES + opióides fracos ou AINES + dose reduzida de morfina ou anestesia local Fase III (Dor Aguda) Esperada ou observada ou insucesso dos analgésicos da fase II Dose elevada de morfina e/ou sistema transdérmico de fentanil e/ou anestesia locoregional + potenciação (AINES, quetamina, agonista alfa2 Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006). Quadro 3. Os três níveis de dor e correspondentes protocolos analgésicos, segundo a classificação da OMS (Adaptado de Gogny, 2006). Legenda: AINES – fármacos anti-inflamatórios não esteróides.
  • 33. 33 social desempenham um papel fundamental (Tacke & Henke, 2004). Métodos de fisioterapia como a termoterapia, massagem, TENS, tratamentos alternativos como a acupunctura, o uso mínimo de cateteres, um ambiente calmo, maneio suave e cuidadoso do animal são alguns exemplos de como se pode minimizar a dor do animal. O maneio da dor desempenha um papel importantíssimo em todas as etapas da reabilitação física e o animal jamais deve sentir algum tipo de desconforto (Clark & McLaughlin, 2001). Cada animal necessita de um maneio específico e de uma selecção de métodos adequados ao seu grau de dor, e para uma gestão a longo prazo os protocolos para casa são os mais ideais (Holler, 2009).
  • 34. 34 4. PROTOCOLO TERAPÊUTICO O objectivo principal da realização de um protocolo terapêutico é assegurar e preservar uma recuperação funcional total e o mais rapidamente possível. 4.1. A ESCOLHA DO PROTOCOLO TERAPÊUTICO Segundo a Associação Americana de Fisioterapia o protocolo terapêutico é elaborado segundo cinco parâmetros, uma avaliação inicial, um exame fisioterapêutico, um diagnóstico fisioterapêutico, um prognóstico e o tratamento (Bockstahler et al., 2004). A avaliação inicial inclui o conhecimento minucioso da história e exame clínico. Após a avaliação inicial o clínico deve reunir toda a informação já recolhida e ainda o resultado do exame físico (referido no ponto 3.1.2.) elaborando o exame fisioterapêutico. Quanto ao diagnóstico fisioterapêutico, constitui uma avaliação mais sintomática, através da análise da tensão muscular, da atrofia e da dor. A escolha do plano terapêutico é ainda influenciada pela experiência do clínico e pelo conhecimento dos benefícios já provados na Medicina Humana (Clark & McLaughlin, 2001), modalidades disponíveis, disponibilidade social e financeira do proprietário, procurando sempre o melhor e mais rápido meio de recuperação. Segundo Bockstahler et al. (2004) é impossível estabelecer um plano fisioterapêutico padrão para cada animal. Um plano de tratamento instituído para um animal no pós-operatório não será o mesmo para um animal geriátrico. A fase em que o animal inicia a fisioterapia também é importante, as necessidades de um animal que inicia o tratamento no dia da cirurgia são diferentes das necessidades de iniciar a fisioterapia após a cicatrização da sutura. Ao implementar um protocolo de reabilitação física, deve ser usada uma abordagem centrada no animal ao decidir quando iniciar cada passo, em vez de uma abordagem estritamente centrada no calendário (Clark & McLaughlin, 2001). No entanto estes protocolos podem ser tomados como gerais, e posteriormente adapta-los às necessidades individuais de cada animal.
  • 35. 35 4.2. A IMPORTÂNCIA DO PROPRIETÁRIO O proprietário desempenha um papel importantíssimo no que diz respeito à reabilitação do seu animal. O sucesso da terapia não depende apenas de uma boa intervenção terapêutica e de uma óptima escolha em relação ao protocolo, depende fundamentalmente do acompanhamento do dono e do seu apoio. A participação activa do proprietário é muitas vezes uma mais valia para uma recuperação mais rápida (Bockstahler et al., 2004). A fisioterapia não é um tratamento fácil e rápido, leva algum tempo, embora em alguns casos se observe resultados positivos pouco tempo após o seu início, noutros, como numa situação crónica, a paciência é muitas vezes necessária até que resultados sejam visíveis. É importante que haja uma boa relação clínico/proprietário para que aumente a motivação do proprietário, e para que possam debater as melhores soluções, os objectivos e meios necessários para a realização de cada um dos tratamentos. Outro papel muito importante é o seu envolvimento directo na reabilitação do animal, através da aplicação de métodos de fisioterapia. Aplicações de calor e frio, massagem, exercícios terapêuticos, como os movimentos de bicicleta tanto em decúbito lateral com em estação, o exercício de levantar e sentar, passeios com trela, e em alguns casos usando a estimulação eléctrica (Figura 19). Métodos minuciosamente explicados e seguindo algumas recomendações, e comunicar com o clínico acerca dos resultados e dificuldades presentes nas sessões, de modo a haver a actualização de frequências e métodos a usar. No tratamento de gatos é especialmente importante a participação activa do proprietário, permitindo uma rápida reabilitação e melhoria dos sinais clínicos. Figura 19. Instrução de um proprietário no uso de TENS em casa (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).
  • 36. 36 4.3. MANEIO DO PESO O maneio do peso é um importante aspecto na fisioterapia de cães e gatos com problemas ortopédicos e neurológicos, em que o excesso de peso contribui para o desenvolvimento de problemas músculo-esqueléticos e exerce uma pressão excessiva sobre articulações, ligamentos e tendões (Bockstahler et al., 2004). É preciso prevenir a obesidade em cães especialmente quando se considera que carregam 60% do seu peso nos membros anteriores (Innes, 2006). Um animal obeso com problemas ortopédicos exige um protocolo terapêutico especial. Segundo a experiência de alguns clínicos a combinação da perda de peso e a realização de exercícios especiais traz melhores resultados. O ideal é que o início dos exercícios terapêuticos coincida com o início do programa de perda de peso. O sucesso vai depender muito do protocolo escolhido para o paciente, e é importante que o proprietário tenha um papel activo durante todo o processo, cumprindo ele próprio o protocolo estabelecido para casa.
  • 37. 37 5. MÉTODOS DE FISIOTERAPIA 5.1. TERMOTERAPIA A termoterapia consiste no uso terapêutico de agentes físicos ou meios de aquecimento e arrefecimento do corpo do animal. 5.1.1. APLICAÇÃO DE FRIO - CRIOTERAPIA A aplicação de frio tem efeitos fisiológicos contrários à aplicação de calor contudo ambos são ideais no combate à dor e à diminuição do grau de espasmo muscular. Em geral induz vasoconstrição, limitando o fluxo sanguíneo à área afectada levando a uma redução do edema; diminuição do metabolismo celular; alívio da dor por diminuição da condução nervosa e redução do espasmo muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Sawaya, 2007). A sua aplicação está indicada em situações agudas (após uma lesão e no período pós-operatório até 72h), trauma, artrites, tendinites, miosites e na prevenção de inflamação após exercício (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). A crioterapia consiste na aplicação de cubos de gelo (Figura 20), cobertos com uma toalha (de modo a não estarem em contacto directo com a pele) e colocar sobre a área a tratar. Existem também acumuladores de frio, compressas ou panos molhados e sistemas de imersão de água fria (usado muito em cavalos, Figura 21) como alternativas aos cubos de gelo. O tempo de aplicação deve ser entre 15 a 25 minutos mas vai depender da estrutura e do animal em tratamento. Nos cavalos são relatados períodos de exposição até 45 minutos, revelando um estudo que um cavalo com lesão do tendão flexor digital superficial foi submetido a tratamento com frio durante uma hora com resultados positivos e sem sinais de qualquer tipo de dano celular (Leiria, 2008). De acordo com Clark & McLaughlin (2001) a crioterapia superficial pode penetrar nos tecidos a uma profundidade de 1 a 4 cm, com a maior alteração de temperatura a ocorrer a 1 cm de profundidade. Para atingir temperaturas mais baixas em tecidos mais profundos pode-se usar um penso compressivo, como uma ligadura elástica. Deve-se sempre não prolongar o tempo de exposição e evitar o
  • 38. 38 contacto directo com a área afectada de modo a não causar o efeito contrário, vasodilatação e formação de edema local por diminuição da temperatura local. A crioterapia não está indicada em animais com alterações de sensibilidade, problemas circulatórios (como vasculite, doença vascular periférica, lesão isquémica e formigamento), diabetes mellitus ou feridas abertas (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). 5.1.2. APLICAÇÃO DE CALOR Após a inflamação aguda estar resolvida é benéfica a aplicação de calor na área afectada (hipertermia superficial) de modo a estimular a vasodilatação, melhorar o fluxo sanguíneo nos tecidos superficiais, aliviar a dor, provocar o relaxamento muscular, aumentar a velocidade de condução do impulso, alterar o limiar de excitabilidade nociceptiva e aumentar a oxigenação, e facilitar a cicatrização (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Sawaya, 2007;). É aplicada normalmente em situações de artrites crónicas, rigidez e tensão muscular, espondiloartrose, espondilose. Para promover maior elasticidade e flexibilidade criando boas condições para a aplicação de métodos passivos de fisioterapia, como massagens e a estimulação eléctrica (Clark & McLaughlin, 2001;Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). Figura 20. Aplicação de frio através de um saco de gelo revestido por uma toalha. Figura 21. Imersão dos membros de um cavalo em água fria como técnica escolhida (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 39. 39 Este método consiste na aplicação de uma fonte de calor na área afectada, atingindo cerca de 1 a 11 mm de profundidade do tecido (terapia superficial) através de compressas, toalhas, botijas de água quente, parafina, hidroterapia, e infravermelhos (Figura 22), durante 15 a 20 minutos. Se pelo contrário a temperatura atingir 1 a 3 cm de profundidades já se realiza uma terapia profunda, alcançada através de ultra-sons. A frequência do tratamento vai depender do tipo, do grau de problema e do efeito desejado. É muito importante uma vigilância constante da pele para prevenir danos como queimaduras. A aplicação de calor deve ser evitada em situações de inflamação local aguda, tumores, feridas abertas, hematomas, problemas graves de circulação e na ausência de sensibilidade (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). 5.1.3. ULTRA-SOM TERAPÊUTICO O ultra-som terapêutico é a técnica mais usada em animais domésticos para aquecer os tecidos mais profundos. O ultra-som é produzido incidindo uma corrente eléctrica de alta frequência num cristal, como o quartzo (piezoeléctrico). Graças ao efeito piezoeléctrico o cristal altera a corrente que recebe produzindo ondas ultrasónicas (Bockstahler et al., 2004). As ondas à medida que vão sendo absorvidas no músculo vão transformando a energia mecânica em calor. A Figura 22. Aplicação de calor através de infravermelhos.
  • 40. 40 quantidade de calor produzida vai depender da área a tratar (tipo de tecido e gravidade), frequência, intensidade, modo de aplicação e resposta individual do animal. Na fisioterapia e reabilitação são usadas ondas de frequência que variam entre 0.5 a 5 MHz, mas o mais frequente é verificar-se equipamentos com frequências de 1 MHz (baixa frequência) e 3.3 MHz (alta frequência) (Bockstahler et al., 2004). A frequência é escolhida consoante a profundidade do tecido desejado para incidir o ultra-som, se a profundidade de penetração desejada for entre 0 a 3 cm (zonas ósseas) usa-se a frequência 3 MHz, se for entre 2 e 5 cm (tecidos mais profundos) já se utiliza a frequência mais baixa, 1MHz (Bockstahler et al., 2004). A intensidade corresponde à taxa de energia distribuída por unidade de área (W/cm2 ). Podem ser usados dois modos de transmissão de ultra-sons, modo contínuo, em que a energia é constantemente produzida e modo pulsátil. No modo pulsátil é possível escolher a duração do período de transmissão e do período de pausa, permitindo o uso de intensidades mais elevadas alcançando os níveis de temperatura desejados sem provocar qualquer tipo de dano tecidular e alterar a permeabilidade das células e melhorar o seu metabolismo (Bockstahler et al., 2004). A sonda pode ser colocada directamente na pele sobre um gel hidrossolúvel (sobre uma pele tosquiada, aumenta a transmissão de ultra-sons) (Figura 23) ou quando se trata de uma área pequena ou irregular pode-se imergir a área submersa em água e colocar a sonda a 1 a 2 cm de distância (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007). Os movimentos devem ser suaves, lentos e em círculos (Bockstahler et al., 2004). Figura 23. Aplicação de calor através de ultra-sons (Adaptado de Anónimo 7, s/d).
  • 41. 41 5.1.3.1. INDICAÇÕES E EFEITOS Existe uma grande variedade de indicações para o uso do ultra-som como meio terapêutico, patologias articulares ou componentes ligados, como artrites, sinovites, tendinites, bursites, patologias musculares, aderências. Pode também potenciar a aplicação transdérmica de fármacos (Clark & McLaughlin, 2001). A terapia por ultra-sons apresenta efeitos térmicos e efeitos não térmicos. Os efeitos térmicos permitem um alívio da dor, diminuindo a tensão muscular levando a um aumento do fluxo sanguíneo para os músculos, melhoria da elasticidade das estruturas fibrosas, melhoria da nutrição dos tecidos, aumentando a suplementação de oxigénio e aumentando a eliminação de produtos metabólicos. Os efeitos não térmicos incluem o aumento da permeabilidade celular, do transporte de cálcio, remoção de células sanguíneas do espaço intersticial e aumento da actividade fagocítica dos macrófagos (Clark & McLaughlin, 2001). 5.1.3.2. CONTRA – INDICAÇÕES O seu uso está contra-indicado em áreas infectadas, áreas com problemas de circulação, na presença de trombos ou na presença de tumores malignos. Não se deve aplicar directamente sobre os olhos, coração, útero grávido, gónadas e cartilagem em animais jovens (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007; Leiria, 2008). A maior parte das preocupações surge do perigo de queimaduras dos tecidos, devido a intensidades muito elevadas e movimentos muito lentos ou então períodos de paragem da sonda no mesmo ponto, podendo provocar cavitação instável, um fenómeno no qual se formam e crescem umas bolhas de gás que expandem e explodem afectando os tecidos (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Sawaya, 2007).
  • 42. 42 5.2. MASSAGEM A massagem tem sido parte integrante e natural da fisioterapia, medicina do desporto e da reabilitação humana. É já um facto conhecido há muito tempo que a massagem se confirmou eficaz em animais, que eles a aceitam bem e até reagem favoravelmente; daí ter sido tida como modalidade no tratamento veterinário (Bockstahler et al., 2004). Apesar de poder haver alguma passagem directa de princípios e práticas de humanos para os animais, é claro que existem ideias unicamente para os animais, até porque existem diferenças anatómicas, funcionais e cinesiológicas. Os animais não podem ser instruídos para relaxarem ao contrário dos humanos (Monk, 2007). A sessão deve ser realizada num ambiente calmo, numa superfície confortável que permita ao animal relaxar mais facilmente. O próprio clínico devera apresentar-se relaxado, confiável de modo a transmitir alguma tranquilidade ao animal e tentar estabelecer algum contacto inicial com ele de modo a criar algum relaxamento entre ambos. Sempre que possível deve ser aplicado calor na área a massajar, antes e após a massagem. 5.2.1. RESULTADOS Esta modalidade tem diferentes efeitos e objectivos, consoante as técnicas escolhidas, a sua duração, frequência, intensidade, velocidade e direcção. Os seus efeitos passam por permitir o relaxamento mental e físico do animal; quebrar aderências, o ciclo vicioso da dor e a tensão muscular; libertar endorfinas endógenas; melhorar a circulação venosa, linfática e arterial; facilitar a eliminação de resíduos e a suplementação de oxigénio; estimula o sistema nervoso e acelera a recuperação muscular (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Tacke & Henke, 2004; Rivière, 2007). A massagem não afecta a massa muscular, o grau de atrofia ou a força segundo Geiringer (1988) citado por Clark & McLaughlin (2001).
  • 43. 43 5.2.2. INDICAÇÕES As suas principais indicações são consequências dos efeitos descritos anteriormente, estando como objectivo primário a eliminação da dor e consequente contracção muscular, que exacerba ainda mais a dor pré-existente (Bockstahler et al., 2004). Podemos recorrer á massagem em situações de tensão muscular secundária a um problema medular ou articular, mobilização de aderências, regulação da tonicidade muscular, prevenção e/ou recuperação de lesões antes e após os exercícios ou redução ou prevenção de estase e linfostase (Bockstahler, 2004). 5.2.3. CONTRA-INDICAÇÕES Esta modalidade está contra-indicada em situações em que a área a massajar se encontre com uma inflamação e/ou infecção, doenças dermatológicas, como presença de dermatófitos, tumores, febre, insuficiências cardíacas descompensadas ou distúrbios circulatórios (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler, 2004). 5.2.4. TÉCNICAS DE MASSAGEM Existe uma grande diversidade de técnicas possíveis de aplicar em Medicina Veterinária, porém apenas serão apresentadas as que são consideradas como as mais eficazes. 5.2.4.1. “EFFLEURAGE” OU DESLIZAMENTO SUPERFICIAL Esta técnica permite a manipulação de músculos superficiais, aumentando o fluxo sanguíneo e linfático, neutralizando a estase (Bockstahler et al., 2004). Pode ainda ser usada entre massagens mais profundas ou no fim de cada sessão de massagens com a intenção de relaxar o animal. É frequentemente realizada com o animal em estação, colocando-se o clínico de lado ou mesmo atrás do animal. A
  • 44. 44 técnica consiste em deslocar as mãos suavemente sobre a superfície da pele do animal, com movimentos no sentido do crescimento do pêlo, começando pelo pescoço partindo para as costas, garupa (Figura 24) e terminando nos membros (Figura 25). Depois de massajar os membros partir novamente para o pescoço, e assim repetidamente. As mãos devem permanecer abertas, realizando movimentos lentos e que estejam sempre em contacto, nunca passar com as duas mãos de uma vez directamente duma área para a outra, por exemplo deixar uma mão no membro posterior e colocar a outra no pescoço e só então largar a mão do membro e passa- la para o pescoço (Bockstahler et al., 2004). Permitir que a pele deslize suavemente sobre a fáscia subjacente vai reduzir as aderências segundo Blaser (1988) citado por Clark & McLaughlin (2001). 5.2.4.2. “PÉTRISSAGE” OU MASSAGEM MAIS PROFUNDA Pode ser aplicado superficialmente ou mais profundamente (Bockstahler et al., 2004). Uma vez superficial obtém-se uma diminuição do tónus muscular, através da realização de uma prega de pele e massajando os tecidos (Figura 26). A direcção deve ser no sentido das fibras musculares, podendo em todo o caso ser diagonal ou perpendicular a elas, iniciando sempre na cauda e ir evoluindo para o pescoço, se a lesão for nos membros deve evoluir da região distal-proximal (Bockstahler et al., Figura 24. “Effleurage” ao longo da coluna (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 25. “Effleurage” no membro posterior (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 45. 45 2004; Rivière, 2007). O “Pétrissage” em profundidade consiste em manobrar um grupo de músculos entre o polegar e os restantes dedos (abrindo e fechando as mãos). Nas costas colocamos uma mão de cada lado da coluna vertebral ou ambas as mãos do mesmo lado. Devemos aumentar o grau de pressão muito lentamente, uma vez com este exercício verificar-se um aumento da tonicidade muscular, podendo gerar dor. 5.2.4.3. FRICÇÃO Esta técnica pode ser realizada de forma superficial ou profunda, numa área localizada ou disseminada do corpo do animal (Figura 27) (Bockstahler et al., 2004). Permite o aumento do fluxo sanguíneo, promove a eliminação de toxinas e ainda pode quebrar aderências (Bockstahler et al., 2004). Para exercer esta técnica numa área maior são utilizadas as pontas dos dedos ou o punho, deslizando cuidadosamente para a frente e para trás ou em direcção contrária às fibras musculares, aumentando a pressão conforme a necessidade. Numa área mais localizada desliza-se de forma circular as pontas dos dedos (idealmente uma mão em cima da outra para ajudar na massagem), deslocando assim a pele e numa pressão baixa inicialmente, aumentando até atingir as camadas mais profundas de músculos. É uma excelente técnica para aliviar áreas com demasiada tensão. Encontra-se contra-indicada em situações agudas, inflamatórias e/ou infecciosas ou Figura 26. “Pétrissage” no membro posterior (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 46. 46 em regiões com deposições de cálcio segundo Pinheiro (1998) citado por Leiria (2008). 5.2.4.4. AGITAR Consiste numa técnica superficial usada para o relaxamento de músculos, durante a manipulação de tecidos profundos e no final de sessões de massagens. Através desta técnica pode-se trabalhar um conjunto de músculos (agarrando um grupo de músculos e gentilmente agitar para a frente e para trás) ou o membro inteiro (agarrando a parte distal do membro e agitando gentilmente). 5.2.4.5. PERCUSSÃO Técnica muito usada para relaxar os músculos e melhorar a circulação (Bockstahler et al., 2004). Através de batimentos suaves realizados na pele com a palma da mão em forma de concha (Figura 28) ou com a zona lateral (Figura 29) (Rivière, 2007; Bockstahler et al., 2004). Permite trabalhar grandes áreas musculares (Rivière, 2007). Figura 27. Técnica de fricção (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 47. 47 5.3. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS- CINESIOTERAPIA Segundo Mikail & Pedro (2006) citado por Leiria (2008) a cinesioterapia é um método não invasivo e utiliza o movimento como meio de terapia. Os principais objectivos passam por aumentar o ROM, a flexibilidade, o uso do membro afectado, reduzindo o grau de claudicação, fortalecer e aumentar a massa muscular e a agilidade sem presença de dor (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al., 2004; Rivière, 2007). Os exercícios terapêuticos são uma parte fundamental na reabilitação física de um paciente em condições crónicas e no pós- operatório, fazem também parte de um plano de tratamento para casa, onde os proprietários são os principais responsáveis pela evolução do seu animal. Esta fase é muito importante pois cria-se uma ligação cada vez mais forte entre proprietário e animal, e os proprietários começam a ter noção das alterações da condição física dos seus animais e quando tal acontece procuram ajuda médica de imediato. Graças à grande variedade de exercícios é possível escolher os que melhor se adequam a cada paciente, desde movimentos passivos, assistidos a activos, e é importante que não se torne numa rotina, numa sessão de exercícios repetidos que aborreçam tanto o clínico como o paciente (Bockstahler et al., 2004). Deve-se tentar nunca provocar dor no paciente podendo prejudicar toda a recuperação conseguida até ao momento, através do reflexo inibidor, e encadear um menor uso do membro. Figura 28. Percussão com a zona lateral da mão (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 29. Percussão com a palma da mão em forma de concha (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 48. 48 A aplicação de frio (crioterapia) posteriormente a uma sessão de exercícios intensos é o ideal para permitir o alívio da dor e minimizar a inflamação. 5.3.1. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO PASSIVO É um exercício que ajuda a manter ou melhorar a flexibilidade dos músculos, tendões e ligamentos, a flexão e extensão das articulações, e melhorar a estrutura e a função neuromuscular. É muito usado na recuperação de cães em condições neurológicas, como ruptura do disco intervertebral, ou complicações do sistema músculo-esquelético (Bockstahler et al., 2004). O tempo e a frequência do exercício vão depender de cada animal. É fundamental proporcionar conforto ao animal, colocando-o sob uma superfície protegida por algo acolchoado e não proporcionar uma sessão muito exigente, correndo o risco de provocar dor e atrasar a recuperação. Tal como o nome indica o animal não participa activamente no processo, o que também exige do clínico um maior conhecimento da anatomia e fisiologia do corpo. a) Exercício de amplitude de movimento (ROM) Segundo Bockstahler et al. (2004) este exercício é importante em cães jovens e cães submetidos a cirurgias da articulação, principalmente fracturas de cotovelo e fémur e estabilização de uma ruptura do ligamento cruzado cranial. O objectivo principal é flectir e estender as articulações individualmente dependendo do seu grau de amplitude confortável (Bockstahler et al., 2004). Isto é, uma articulação é lentamente flectida ou estendida (dependendo do movimento desejado) até se obter qualquer sinal de desconforto por parte do animal, como uma vocalização, um aumento de tensão no membro ou um revirar da cabeça no sentido do estímulo. Geralmente a flexão da articulação é mais tolerada que a extensão. Existem outros movimentos considerados como apropriados, como é o caso do movimento de rotação, principalmente no ombro e quadril, e os movimentos de adução e abdução.
  • 49. 49 b) Exercício de alongamento Muitas vezes é usado em associação com o exercício ROM, e em situações de rigidez muscular e diminuição da amplitude do movimento (ROM). O seu principal objectivo é alongar e realinhar os tecidos moles e o colageneo para não rasgar nem dilacerar os tecidos, de acordo com (Bockstahler et al., 2004). Este exercício consiste em flectir (Figura 30) ou estender lentamente (Figuras 31 e 32) uma articulação dependendo do movimento desejado, até se obter qualquer sinal de desconforto por parte do animal, como uma vocalização, um aumento de tensão no membro ou um revirar da cabeça no sentido do estímulo. Em geral o movimento de extensão é menos confortável que o de flexão. Podem ser também realizados movimentos de adução, abdução e rotação. Figura 30. Flexão do membro posterior. Figura 31. Alongamento do membro posterior (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 32. Alongamento do membro posterior num gato (Adaptado de Anónimo 8, s/d).
  • 50. 50 c) Exercício do reflexo flexor Este exercício é principalmente usado em pacientes com défices neurológicos bem como no exame neurológico. Consiste em beliscar a pele existente entre os dedos, em resposta o paciente deve flectir o membro estimulado (Figura 33). O estímulo tem como objectivo a contracção muscular, de modo a prevenir atrofia por desuso e aumento do tónus muscular. d) Movimento de bicicleta O movimento de bicicleta pode ser realizado posicionando o animal em decúbito lateral ou em estação. Este exercício é muito utilizado em animais com défices neurológicos, em associação com o ROM e em animais que tenham dificuldade em suportar o seu peso nos membros (usando neste caso apenas a posição de estação). Neste movimento o exercício passa por ir lentamente formando círculos, no sentido caudal-dorsal-cranial (Figura 34), caso necessário em posição de estação pode-se colocar uma mão de lado para auxiliar o animal. Sendo preciso flectir e estender todas as articulações durante a execução de um círculo. O objectivo principal passa por influenciar o sentido pela marcha e prevenir ou melhorar o ROM. Figura 33. Aplicação do reflexo flexor num paciente durante a fisioterapia.
  • 51. 51 5.3.2. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ASSISTIDO É um exercício adequado para pacientes que já conseguem suportar algum do seu peso, principalmente pacientes com défices neurológicos e/ou lesões pélvicas bilaterais. Tem como principais objectivos aumentar a força, resistência, propriocepção e sensibilidade neuromuscular (Bockstahler et al., 2004). Os exercícios assistidos consistem em exercícios em que o animal participa activamente porém com auxílio do clínico. a) Manter-se em estação assistido por uma toalha O exercício assistido consiste em providenciar um suporte para o cão ou gato (um arnês, uma toalha, etc.) para o conduzir e apoiar durante a execução de movimentos simples, como o caminhar (Figura 35) (Rivière, 2007). O exercício permite assistir um animal que não tenha força necessária para suportar a totalidade do peso do seu corpo. O cão é colocado na posição de estação e com o auxílio de uma toalha ou funda auxiliar o animal na sustentação do seu peso, permitindo que este carregue apenas o peso que é capaz (Bockstahler et al., 2004). Porém com o seguimento do tratamento a força realizada pelo clínico deve diminuir à medida que o animal vai aumentando a quantidade de peso capaz de suportar. Figura 34. Movimento bicicleta (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 52. 52 b) Prancha de equilíbrio É uma actividade que permite fortalecer o equilíbrio do animal. Consiste em colocar o animal sobre uma prancha de equilíbrio ou uma simples tábua instável, auxiliando-o para evitar possíveis quedas, realizando-se movimentos oscilatórios em todas as direcções (Figura 36). c) Bola terapêutica A bola terapêutica é uma boa ajuda para o animal com problemas proprioceptivos que o apoia durante a marcha. De acordo com Saunders (2007) citado por Leiria (2008) é muito importante em pacientes neurológicos, pós- cirúrgicos, com displasia da anca ou cotovelo, com artrites, patologia lombosagrada Figura 35. Caminhar com auxílio de uma toalha. Figura 36. Exercício numa tábua instável (Adaptado de Anónimo 7, s/d).
  • 53. 53 a) b) e em animais de desporto, O exercício consiste em colocar o animal em estação sobre a bola (Figura 37) ou apoiando apenas os membros posteriores ou anteriores (Figura 38), movimentando-se lateralmente, para a frente e para trás (Bockstahler et al., 2004). d) Flexão e extensão cervical e flexão lateral Flexão e extensão cervical e flexão lateral permitem que o animal melhore a mobilidade de modo a se manter em estação, equilibrado. Realiza-se este exercício estimulando o animal a movimentar a cabeça no sentido lateral e/ou dorsal – ventral, caso necessário pode-se usar objectos (como uma bola) ou mesmo uma recompensa como estímulos. Figura 37. Animal em estação sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010). Figura 38. Animal apoiando os membros posteriores sobre uma bola terapêutica (Adaptado de HVM, 2010).
  • 54. 54 5.3.3. EXERCÍCIO TERAPÊUTICO ACTIVO De acordo com Riviére (2007) os exercícios terapêuticos activos deverão ser iniciados o mais cedo possível, tendo em conta as fases de cicatrização do tecido lesado. Isto é, a iniciação deste tipo de exercícios vai depender da resposta do paciente á reabilitação. É necessário que o animal responda aos exercícios passivos sem desconforto aparente e que já seja capaz de suportar o seu peso sobre o membro afectado. Os exercícios activos têm como principal objectivo a recuperação da força e locomoção. Permitindo também uma recuperação e melhoramento da capacidade cardiorespiratória bem como do nível de actividade e um alívio da dor. Existe uma grande variabilidade de exercícios activos e o importante é saber escolher os que melhor se adequam a cada animal. a) Caminhar lentamente Este exercício talvez seja dos mais importantes na reabilitação do pós- operatório e em animais com afecções crónicas. As caminhadas são frequentemente realizadas incorrectamente, têm de ser realizadas á velocidade do cão, não de quem o leva a caminhar (Bockstahler et al., 2004). Estas caminhadas têm que ser feitas muito lentamente para o animal conseguir equilibrar o seu peso e não ter receio de ir colocando o membro afectado no solo, podemos também contribuir para que isso aconteça elogiando-o sempre que o apoiar no solo. Inicialmente as caminhadas devem ser realizadas 2 a 3 vezes por dia durante uns 2 a 5 minutos cada. Após os primeiros dias de caminhadas se a claudicação não tiver piorado pode-se ir aumentando o tempo em 1 a 3 minutos por dia (Bockstahler et al., 2004). b) Subir / Descer escadas Subir e descer escadas é o exercício ideal para trabalhar a extensão das articulações (Figura 39). Este exercício deve ser iniciado quando o animal já se encontra com melhorias visíveis e já ser capaz de caminhar sobre o membro afectado apesar da existência de alguma claudicação. Deverá começar por
  • 55. 55 caminhar lentamente em degraus de altura baixa de modo a ir adquirindo o uso normal dos membros e adaptando os membros a alguma extensão, não permitindo que este avance degraus ou mesmo que salte sobre eles. Assim verificado evolução no quadro do animal poder-se-á introduzir desafios e caminhar por degraus de altura mais elevada. É vantajoso para criar força muscular principalmente nos membros posteriores (Bockstahler et al., 2004). c) Dançar Este exercício consiste em levantar os membros anteriores do solo e movimentar o animal para a frente e para trás, parecendo que este está a dançar (Figura 40). Este método permite um fortalecimento dos músculos dos membros posteriores. Alguns animais tentam se esticar de tal modo que quase conseguem chegar ao solo, nestas situações o ideal é que o clínico se coloque na parte de trás do animal e que lhe levante os membros anteriores, segurando pelas axilas (Bockstahler et al., 2004). Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004). Figura 39. Subir e descer escadas (Adaptado de Rivière, 2007).
  • 56. 56 d) Carrinho de mão O exercício “carrinho de mão” permite que o animal fortaleça os músculos dos membros anteriores. Este método exige que se levante ambos os membros posteriores do solo e se mova o animal para a frente (Figura 41). Um animal com propriocepção normal vai mover-se para a frente para não cair, animais com alguma fraqueza dos membros anteriores podem necessitar de um apoio. Deve-se adequar o ângulo de elevação dos membros de acordo com o efeito que se pretenda. Uma vez ser muito difícil fazer com que alguns cães se movam sobre o membro afectado recomenda-se o uso de açaime (Bockstahler et al., 2004). Figura 40. Exercício de dança (Adaptado de Leiria, 2008). Figura 41. Aplicação do exercício de carrinho de mão em um gato (Adaptado de Rivière, 2007).
  • 57. 57 e) Levantar / Sentar Os exercícios de levantar/sentar são ideais para aumentar a capacidade de ROM e força nos posteriores, fortalecendo os glúteos, os extensores do joelho e do pescoço. Segundo Bockstahler et al. (2004) são movimentos usados principalmente em situações de displasia da anca e afecções dos membros posteriores. É preciso ter atenção e verificar se o animal se senta e levanta correctamente, flectindo ao mesmo tempo ambos os membros posteriores quando se senta e se os estende ao mesmo tempo quando se coloca em estação. f) Estímulo nociceptivo Este exercício consiste em colocar por exemplo uma carica ou mesmo uma tampa de plástico na extremidade do membro saudável, de modo a criar um desconforto e encorajar o uso do membro afectado. Contudo é preciso ter cuidado com este exercício pois pode provocar desconforto tal que o animal recuse mesmo a movimentar-se. g) Passadeira rolante A passadeira rolante é dos métodos mais utilizados em reabilitação animal (Figura 42). A sensação do solo movimentar-se debaixo do animal vai incentiva-lo a usar o membro afectado para tentar equilibrar o seu peso de modo a não cair, realizando deste modo uma marcha mais equilibrada e correcta. Durante esta actividade o ideal é que esteja presente mais que uma pessoa a acompanhar o animal no exercício. Uma pessoa pode colocar-se em frente ao animal a incentiva-lo a andar, se necessário recorrer a recompensas, e outra de lado do animal de modo a que possa visualizar adequadamente a sua marcha e efectuar qualquer correcção se necessário. Inicialmente ou em animais mais fracos pode ser usado uma faixa a suportar o peso. Este exercício permite um alívio da dor e do stress do movimento em certas circunstâncias, tais como, dor em casos de distensão da anca num cão com
  • 58. 58 displasia da anca e num pós-operatório de ligamento cruzado (Bockstahler et al., 2004). h) Obstáculos horizontais Este é um método usado com a finalidade de incentivar o uso do membro afectado e aumentar o ROM, através do uso de cavaletes (Figuras 43 e 44). Em alguns casos uma simples escada pode servir para a realização do exercício (Bockstahler et al., 2004). Os trilhos estão espaçados igualmente ou com larguras diferentes, um boa ideia é inicialmente os espaços terem a mesma largura mas um pouco menor que o comprimento das passadas do paciente (Bockstahler et al., 2004). O objectivo é fazer com que o animal caminhe por entre os espaços, permitindo a extensão e flexão das articulações dos membros. Figura 42. Exercício na passadeira (Adaptado de Anónimo 9, s/d). Figura 43. Exercício com cavaletes (Adaptado de Anónimo 7, s/d). Figura 44. Exercício com cavaletes realizado por um gato (Adaptado de Anónimo 9, s/d).
  • 59. 59 i) Obstáculos verticais Estes obstáculos verticais são postes colocados em linha recta, de modo a que o animal passe entre eles, de um lado para o outro (Figura 45). É útil para permitir a flexão lateral da medula espinal, aumentar a propriocepção e fortalecer os músculos. A distância entre os postes deverá ser menor que o comprimento do próprio animal, de modo que o obrigue a flectir a medula espinal. j) Exercícios de fortalecimento muscular Os exercícios de fortalecimento muscular são usados para melhorar a força e a velocidade do animal. Incluem actividades como levantar e carregar pesos (Quadro 4), e correr a grandes velocidades em pequenas distâncias. Levantar e carregar pesos em fisioterapia animal é semelhante ao levantar pesos de uma pessoa (Bockstahler et al., 2004). Existem umas mochilas com vários pesos (Figura 46) que podem ser colocadas sobre o dorso do animal fortalecendo vários músculos e uns pesos para se colocarem directamente nos membros com objectivo de ajudar a fortalecer os músculos durante a flexão na marcha. Peso (Kg) 0.25 0.5 1 2 Tamanho do cão Pequeno Médio Grande Muito grande Quadro 4. Pesos (Kg) mais usados em animais (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). Figura 45. Obstáculos verticais (Adaptado de Anónimo 7, s/d).
  • 60. 60 k) Levantar a pata Este exercício consiste em estimular o cão a levantar um dos membros anteriores usando um biscoito como recompensa. Tem como finalidade flectir a articulação do cotovelo e fortalecer os músculos dos membros anteriores. Pode também ser utilizado para combater uma atrofia muscular. 5.4. HIDROTERAPIA Existem provas suficientes na actualidade do sucesso da hidroterapia em seres humanos, contudo existe uma grande falta de informação na literatura veterinária e de fisioterapia no que diz respeito a protocolos, directrizes e na implementação desses programas em animais (Monk, 2007). Muitos dos princípios e técnicas de hidroterapia usadas em humanos podem ser usados em pacientes animais, tendo em consideração as diferenças de tamanho, tipo de corpo, lesões e diferenças na comunicação (Monk, 2007). A água tem uma variedade de propriedades que são importantes avaliar de modo a ser possível desenvolver programas de hidroterapia ideias para animais, de modo a haver um correcto uso e máximo aproveitamento da técnica. A densidade da Figura 46. Mochila com vários pesos (Adaptado de CiaPet, 2008).
  • 61. 61 água é de 1.0, a densidade de outros corpos depende da sua composição e é comparada á da água. A gordura possui 0,8 de densidade, que uma vez menor que a da água, irá flutuar, já o tecido ósseo tem densidade de 2.0, afundando na água (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). A capacidade de flutuar de um corpo vai ser igual ao peso do liquido movimentado por esse mesmo corpo quando imerso, segundo o principio de Arquimedes. A terapia aquática é uma forma especial de exercício que ajuda a reduzir a quantidade de peso que o paciente suporta até 91% (Figura 47). Esta situação permite que o animal suporte menor peso que em terra, permitindo exercer movimentos mais confortavelmente. A pressão hidrostática também é um parâmetro importante de avaliar, corresponde á pressão exercida pela água sobre o corpo imerso. Esta pressão confere algum grau de apoio e sustentação ao animal auxiliando no movimento e pode ainda reduzir edemas por melhorar a circulação sanguínea e linfática, contudo cria alguma resistência ao movimento do tórax sendo um pouco perigoso para animais com problemas cardíacos e/ou respiratórios. É importante também perceber que existe à superfície uma maior e mais forte ligação entre moléculas em relação á profundidade, o que torna a terapia dentro de água mais fácil ao animal (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). Figura 47. Distribuição do peso do animal mediante a quantidade de água em que é imerso (Adaptado de Leiria, 2008).
  • 62. 62 5.4.1. INDICAÇÕES A hidroterapia ou terapia aquática tem se tornado muito importante na reabilitação de pequenos e grandes animais. É considerada por muitos como o melhor método de fortalecimento muscular; aumento da mobilidade; melhoria da condição corporal, da circulação sanguínea e da capacidade cardiorespiratória; reduzir e/ou prevenir a atrofia, espasmos musculares, hipertonicidade e o edema (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007). Está indicada principalmente em situações de patologia neurológica como no pós-cirúrgico do disco intervertebral, mielopatia degenerativa e mielopatia fibrocartilaginosa embólica; no pós-cirúrgico de ortopedia com fracturas, ruptura do ligamento cruzado cranial e displasia da anca. É favorável também em casos de artrite, espondilose e fraqueza muscular (Bockstahler et al., 2004; Monk, 2007; Rivière, 2007). 5.4.2. CONTRA-INDICAÇÕES A hidroterapia não é uma terapia que possa ser aplicada a todos os animais, apesar de ser excelente em certas situações existem outras em que o seu uso é contra indicado ou é preciso ter um cuidado acrescido. Como na presença de uma situação de ferida aberta, drenante e/ou infectante, a incisão ainda por cicatrizar, problemas gastrointestinais, respiratórios, cardíacos ou sistémicos, medo da água, hipertermia, falta de condição física, epilepsia, animal com tosse do canil ou na presença de problemas de incontinência urinária ou fecal (Clark & McLaughlin, 2001; Bockstahler et al, 2004; Monk, 2007). 5.4.3. MODALIDADES DE HIDROTERAPIA Após a avaliação do estado de reabilitação em que se encontra o animal é preciso escolher o método de hidroterapia mais adequado aos objectivos do seu tratamento, ao seu tamanho e ao equipamento disponível. Existe uma enorme variedade de opções para animais de pequeno porte como uma simples banheira, tanque, piscinas para crianças e piscinas para adultos (usada para natação e a
  • 63. 63 realização de exercícios), praias, barragens, lagos, rios, passadeiras aquáticas, piscinas próprias para animais de pequeno porte (usada para natação e a realização de exercícios, Figura 48). Para animais de grande porte pode-se recorrer a piscinas construídas para o efeito (Figura 49), praias, barragens, rios e a passadeiras aquáticas. É importante nesta terapia pensarmos como entra e sai o animal da água. Se for numa piscina de reabilitação permite que o animal entre de um modo gradual através de uma rampa, se estiver a usar um tanque ou uma banheira baixa-se lentamente e com cuidado o animal ou coloca-se o animal dentro e vai-se enchendo o tanque ou banheira calmamente com água. O importante é não encorajar o animal a saltar para dentro e/ou para fora e nunca deixá-lo sozinho durante a terapia. 5.4.3.1. PASSADEIRA SUB - AQUÁTICA Para a realização de exercícios dentro de água, a passadeira sub-aquática (Figura 50) constitui o equipamento mais valioso, permitindo adaptar a cada animal as condições mais favoráveis, desenvolvendo a sua força muscular e aumentando o ROM. Mas é preciso ter alguns cuidados, colocá-la num local amplo e ter umas Figura 49. Piscina para animais de grande porte (Adaptado de Monk, 2007). Figura 48. Piscina para cães (Adaptado de Monk, 2007).
  • 64. 64 dimensões consideráveis de modo a ser possível monitorizar o tratamento por todos os lados e ainda contribuir para a diminuição da ansiedade do animal. Deve ser inspeccionada regularmente, avaliar a funcionalidade do termóstato (que mantém automaticamente a temperatura da água) e efectuar a limpeza necessária. A passadeira sub-aquática permite ainda, andar a velocidades, inclinações e níveis de água diferentes, mediante a condição do animal e a sua progressão (Bockstahler et al., 2004). Exercícios como manter-se em estação são benéficos em situações de patologia neurológica como pós cirúrgico de hérnias discais, mielopatia degenerativa e mielopatia fibrocartilaginosa embólica. Este exercício permite-lhes ganhar alguma estabilidade, coordenação e força muscular. Inicialmente pode-se apoiar o animal com as mãos ou com alguma faixa para o ajudar a equilibrar-se e ir soltando as mãos, porém assim que se vir algum sinal de fraqueza voltar a apoiá-lo. É recomendável a utilização de colete salva-vidas (Figura 51), facilitando a manipulação e é um suporte extra para o animal. Uma vez já capaz de permanecer em estação pode-se avançar para exercícios como o de “bicicleta” com o objectivo de melhoramento da locomoção, da propriocepção e melhoramento da amplitude do movimento. Pode-se ainda tentar provocar desequilíbrios no animal através da colocação de pressão sobre o animal ou provocando alguma turbulência na água, permitindo alguma conquista da coordenação, propriocepção e fortalecimento muscular. Outro exercício também ele importante é o caminhar dentro de água, mas é preciso dar algum tempo ao animal para se habituar, o ideal é que a primeira sessão seja apenas de brincadeira, dando muitos elogios e prémios. Figura 50. Passadeira sub-aquática (Adaptado de Bockstahler et al., 2004). Figura 51. Colete salva-vidas para cães (Adaptado de Monk, 2007).
  • 65. 65 5.4.3.2. OUTROS EXERCÍCIOS No caso de não haver a possibilidade de uso de uma passadeira, os exercícios descritos anteriormente, o manter-se em estação na água, a colocação de obstáculos (como o exercício de bicicleta, sustentação de pesos) e o simples caminhar na água podem ser realizados num lago ou lagoa. Podemos acrescentar o exercício da natação como uma mais valia para o animal. A natação é um excelente exercício para o fortalecimento dos músculos e aumentar o ROM das articulações, uma vez que nadar requer uma maior flexão do joelho e um movimento maior dos membros. Para se poder executar este exercício é preciso haver condições favoráveis, a temperatura ser a mais adequada, e é importante secar bem o animal após este sair da água. 5.5. ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA De acordo com Bockstahler et al. (2004) a estimulação eléctrica corresponde a uma modalidade de fisioterapia e reabilitação muito vantajosa no tratamento de várias doenças ortopédicas e neurológicas, principalmente aquelas que causam dor aguda e crónica ou atrofia muscular. Existe uma diversidade de tipos de estimulação (Quadro 5) possíveis através da aplicação de uma corrente eléctrica, cuja resposta vai depender de parâmetros de estimulação como, intensidade, frequência e duração do pulso (Figura 52). NMES (Estimulação eléctrica neuromuscular) Estimulação eléctrica de um músculo ou tecido através de um nervo ileso. TENS (Estimulação eléctrica nervosa transcutânea) Uma forma de NMES, usada para o tratamento da dor. EMS (Estimulação eléctrica muscular) Estimulação directa sobre as fibras musculares de um músculo sem nervo. Quadro 5. Diferentes estímulos de acordo com a Terminologia electroterapêutica da APTA (Adaptado de Bockstahler et al., 2004).
  • 66. 66 Segundo Bockstahler et al. (2004) as correntes utilizadas para a emissão de estímulos são classificadas consoante as suas propriedades físicas, existindo assim, uma corrente contínua (DC) ou galvânica, corrente cujo fluxo é unidireccional e raramente é usado em terapia somente em iontoforese. Iontoforese é definida como a introdução de radicais químicos nos tecidos, técnica usada com vários objectivos fisioterapêuticos, tais como, promover a vasodilatação, analgesia e o relaxamento muscular. Uma corrente alternada (AC) é uma corrente eléctrica cujo fluxo inverte a direcção, sendo por isso bidireccional. Uma corrente pulsátil que tal como o nome indica, é transmitida por pulsos e é frequentemente usada em terapia. A intensidade da estimulação corresponde á amplitude do impulso, quando a intensidade do estímulo é aumentada pelo terapeuta, a amplitude é maior. A duração do impulso (microsegundos) é o parâmetro chave para determinar os efeitos da estimulação, estimulação muscular ou alívio da dor (Baxter & McDonough, 2007). A frequência corresponde ao número de impulsos por segundo, em hertz (Hz), ao qual vai depender a resposta do estímulo. Duração do impulso Amplitude do impulso Figura 52. Onda de estimulação típica (Adaptado de Baxter & McDonough, 2007).