1. O documento analisa a poesia do autor Fernando Pessoa sob a perspectiva do seu heterónimo ortónimo. A poesia deste heterónimo é marcada por inquietações existenciais e uma negação da realidade sensível em favor do mundo inteligível.
2. Na poesia do ortónimo coexistem influências tradicionais e modernistas. Há poemas mais convencionais e outros com experimentações estilísticas modernistas como a intelectualização das emoções.
3. As principais temáticas incluem a perda de identidade,
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1. Fernando Pessoa – Ortónimo
A poesia do ortónimo é uma tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o
poeta. A realidade por si percecionada custa-lhe uma atitude de estranheza e,
consequentemente condu-lo a uma situação de negação face ao que as suas perceções lhe
transmitem. Assim, Fernando Pessoa recusa o mundo sensível, privilegiando o mundo
inteligível (platónico), aquele a que ele não tem acesso.
Em Fernando Pessoa ortónimo, sem incluir a Mensagem, coexistem duas vertentes: a
tradicional e a modernista. Há poemas mais tradicionais com influência da lírica de
Garrett ou do sebastianismo e do saudosismo, apresentando suavidade rítmica e musical,
em versos geralmente curtos; mas a maior parte abre caminho a experimentações
modernistas com a procura da intelectualização das sensações e dos sentimentos.
Características Temáticas:
Identidade perdida;
Consciência do absurdo da existência;
Dualidade sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade;
Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão;
Anti sentimentalismo: intelectualização da emoção;
Estados negativos: solidão, ceticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero,
frustração;
Inquietação metafísica, dor de viver;
Autoanálise.
Características Estilísticas:
Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o
prolongamento da dor e do sofrimento);
Verso geralmente curto (2 a 7 sílabas métricas);
Predomínio da quadra e da quintilha (utilização de elementos formais
tradicionais);
Adjetivação expressiva;
Linguagem simples mas muito expressiva (cheia de significados escondidos);
Pontuação emotiva;
Comparações, metáforas originais, oxímoros (vários paradoxos – pôr lado a lado
duas realidades completamente opostas);
Uso de símbolos (por vezes tradicionais, como o rio, a água, o mar, a brisa, a
fonte, as rosas, o azul; ou modernos, como o andaime ou o cais);
É fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular;
Utilização de vários tempos verbais, cada um com o seu significado expressivo
consoante a situação.
2. Binómios de Fernando pessoa ortónimo:
Consciência/ Inconsciência
Sentir/pensar
Realidade/sonho
Características Temáticas:
1. O fingimento artístico – Representação de uma dor imaginada; Intelectualização
das emoções; Dialética sonho/ realidade
O poema não traduz aquilo que o poeta sente, mas sim aquilo que imagina a partir do que
anteriormente sentiu. O poeta é pois um fingidor, que escreve uma emoção fingida,
pensada, por isso fruto da razão e da imaginação, e não a emoção sentida pelo coração,
que apenas chega ao poema transfigurada, na tal emoção trabalhada poeticamente,
imaginada.
É a teoria que diz que aquilo que se escreve não é o que se sente mas o que se
pensa que se sente, logo, não se sente, só se pensa.
Na perspetiva de Fernando Pessoa, a arte poética resulta da intelectualização das
sensações, o que remete para a temática do fingimento poético. Isto significa que, para
este poeta, um poema é um produto intelectual e, por isso, não acontece no momento
da emoção, mas no momento da sua racionalização. Assim, ao não ser um resultado
direto da emoção, mas uma construção mental da mesma, a elaboração de um poema
define-se como um “fingimento”. Tal significa que o ato poético apenas pode comunicar
uma dor fingida, inventada, pois a dor real (sentida) continua apenas com o sujeito, que,
através da sua racionalização, a exprime através de palavras, construindo o poema.
3 tipos de dor:
1. Dor sentida;
2. Dor fingida;
3. Dor pensada.
Citações: “Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação/ Não uso o coração.”;
“O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor
que deveras sente.”
Dialéticas: sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sentir/pensar
2. A dor de pensar - Intelectualização das emoções; Dialética consciência/
inconsciência; inveja e desejo de inconsciência
Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar, isto é, considera que o
pensamento provoca a dor, teoria que baseia a temática da “dor de pensar”. Na sequência
da mesma, o poeta inveja aqueles que são inconscientes e que não se despertam para a
atividade de pensar.
Assim, o poeta inveja a felicidade alheia, porque esta é inatingível para ele, uma vez que
é baseada em princípios que sente nunca poder alcançar – a inconsciência, a
irracionalidade –, uma vez que o pensamento é uma atividade que se apodera de maneira
3. persistente e implacável de Pessoa, provocando o sofrimento e condicionando a sua
felicidade. Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de
ter uma consciência inconsciente. O poeta deseja ser inconsciente mas ter a consciência
de que o é.
Em suma, a “dor de pensar” que o autor diz sentir, provém de uma intelectualização das
sensações, a qual é inevitável para o poeta.
Citações: “Escuto, e passou…”; “Ah, poder ser tu, sendo eu!/ Ter a tua alegre
inconsciência/ E a consciência disso! (…)”
3. A fragmentação do “eu” - Introspeção e autoanálise – Estranheza e desconhecimento
do “eu”; Fragmentação Interior – Drama da identidade perdida
O sujeito poético assume-se como uma espécie de palco por onde desfilam diversas
personagens, distintas e contraditórias. Incapaz de se manter dentro dos limites de si
próprio, o sujeito poético procura observar o seu “eu”, ou seja, conhecer-se a si próprio, o
que leva à fragmentação e à consciência de que é capaz de viver apenas o presente.
Questiona a sinceridade das emoções escritas nos seus textos, porque não sente hoje da
mesma forma que sentiu no passado, pois as emoções, ao serem escritas e lidas, são
intelectualizadas (“não sei quantas almas tenho”).
4. Sonho/ Realidade
Refúgio e evasão
Tédio existencial (desalento e angústia)
Pessoa faz contrastar o sonho e a realidade. O eu lírico não encontra a
felicidade na realidade do quotidiano, porque é dominado pela frustração,
pelo vazio ou pelo tédio existencial. Então, idealiza o sonho, onde acredita
conseguir realizar-se e atingir a plenitude, a felicidade ou o equilíbrio.
Na sua poesia, o mundo do sonho (o espaço onírico) funciona como forma
de evasão ou escape.
o sonho não resolve as insatisfações e as ansiedades do eu lírico. Isso
sucede porque o sonho é uma ilusão ou porque não é resposta para os
problemas que se geraram: o tédio, o vazio existencial.
Em “Não sei se é sonho, se realidade”, o poeta manifesta a esperança de
alcançar a felicidade através do sonho, no entanto acaba por duvidar da
possibilidade de viver tal forma de felicidade. E conclui mesmo que é
impossível vivenciar a felicidade no sonho, pelo caráter efémero do bem e
permanente do mal, o que gera um grande desânimo e desilusão.
No final, o eu poético conclui que não é no sonho, de facto, que podemos
encontrar a felicidade, mas no íntimo, no interior de cada ser humano.
4. 5. A nostalgia da infância –Tempo de pureza, felicidade, unidade; Saudade intelectual
e literariamente trabalhada
A nostalgia constitui um conceito diferente da saudade (por exemplo, a saudade de
alguém ausente). O sentimento da nostalgia é a lembrança de uma felicidade longínqua e
aparentemente perdida, como se o passado fosse, por natureza, melhor do que o
presente.
O tempo da infância, porém, é idealizado, sendo apresentado como um símbolo da
inconsciência, ingenuidade, inocência e felicidade (ou seja, uma época dourada que se
associa à ausência da dor de pensar) e do sonho (isto é, do refúgio num mundo de
fantasia que permite ao eu libertar-se das amarras da realidade). Insatisfeito com o
presente e incapaz de o viver em plenitude, o eu poético refugia-se numa infância
idealizada, regra geral, desprovida de experiência biográfica e submetida a um
processo de intelectualização.
O próprio eu tem consciência de que a infância é uma época idealizada, visto que, na
realidade, nem enquanto era criança ele parece ter sido feliz: “E toda aquela infância /
Que não tive me vem, / Numa onda de alegria / Que não foi de ninguém” (poema “Quando
as crianças brincam”).
Deste modo, a evocação da infância não passa de uma tentativa infrutífera de evasão da
melancolia do presente através de um passado que, porque concebido apenas
ilusoriamente como um paraíso perdido, acaba por não permitir ao eu libertar-se da
tristeza, do tédio e da angústia que o atormentam.
Para Pessoa, a infância é o passado irremediavelmente perdido, o tempo longínquo em
que era feliz sem saber que o era, o tempo em que apenas sentia, inconsciente daquilo
que sentia, sem pensar. Era o tempo em que ainda não procurava conhecer-se e, por isso,
era um ser uno, não fragmentado em diversos «eus».
Poemas Analisados em Aula:
“Autopsicografia”
Título – Conhece-te a ti próprio com a escrita
Este poema insere-se no Binómio Sentir/Pensar.
Na perspetiva de Fernando Pessoa, o artista, e especialmente o poeta, é um fingidor, no
sentido em que o ato de escrever não é um ato direto e imediato.
A dor, as emoções que são descritas no poema não foram as sentidas pelo poeta no
momento em questão, foram conceções intelectuais feitas através da análise da situação
vivida. Ou seja, a poesia resulta da memória, da recordação e da sua reprodução racional,
coerente e inteligente. Por isso, F. Pessoa afirma que o poeta finge todos os sentimentos
5. que transpõe para o papel porque, no momento em que escreve, ele já não está a sentir o
que sentiu no instante a que se refere na poesia.
Podemos, então distinguir 3 dores: a dor sentida pelo poeta no momento em que acontece
algo, a dor fingida pelo poeta quando se recorda do momento em que sofreu a dor sentida e
a reproduz como texto, e a dor lida pelo leitor quando analisa o poema e interioriza as
palavras do poeta.
É importante frisar que «fingimento» utiliza-se num sentido de representar, é uma
tentativa de transfigurar o que se sente naquilo que se escreve, utilizando
paralelamente a imaginação e a intelectualidade. Fingir é inventar, criando conceitos
que exprimam as emoções o melhor possível.
Ao poeta cabe-lhe «sentir com a imaginação», ou seja, transformar a vivência real numa
obra de arte, usufruindo da imaginação e o pensamento. As emoções são
despersonalizadas e a sinceridade espontânea dá lugar à sinceridade intelectual.
“Isto”
Fernando Pessoa vive em constante conflito interior. Tendo consciência de que é um
homem racional de mais, ele deseja arduamente pensar menos, ser mais inconsciente,
aproveitar a vida sem questionar. Mas, como na realidade tem uma necessidade
permanente de se questionar, de pensar, de intelectualizar toda e qualquer situação, ele
sente-se frustrado.
Podemos, então, falar de uma dualidade inconsciência/consciência e sentir/pensar.
Pessoa inveja o gato porque o gato é feliz na sua ingenuidade, respondendo simplesmente
a instintos.
Pessoa inveja uma ceifeira simples porque ela canta só porque lhe apetece, alegremente.
Ele nunca conseguirá ter estas reações de abstração para com o pensamento porque
insatisfação e a dúvida acerca da importância da racionalidade são constantes. O que ele
deseja é ser inconsciente, tendo consciência disso. Como isso é muito inconcebível, cada
vez a dor de pensar é maior.
Este texto surge na sequência de Autopsicografia e confirma a ideia de que tudo o que o
poeta escreve se baseia na racionalização das emoções. Tudo é fruto do pensamento, da
imaginação. Este pensamento é metamorficamente encarado pelo sujeito como um
“terraço” que se sobrepõe e tapa o que é verdadeiramente lindo – o sentimento. Conclui
dizendo que a sua escrita fica incompleta por ser desprovida do sentimento do qual ele está
livre. A realidade que o poeta expressa é apenas a aparência da essência.
Nota:
O discurso é feito na 1ª pessoa (defesa de uma tese), o que pode indicar que este poema é
uma reação a criticas que possam ter sido feitas ao poema “Autopsicografia”.
6. “Ela canta, pobre ceifeira”
Diferenças Poeta/Ceifeira
Ceifeira Poeta
Sente Pensa
Inconsciente Consciente
Feliz Infeliz
O que ele quer ser mas não é O que ele é mas não quer ser
O sujeito poético deseja ser como a ceifeira, ser inconsciente e ter consciência disso (o que
é impossível).
O apelo final do poeta é querer morrer.
Céu – simboliza a paz/infinito
Campo – é vasto, calmo, tranquilo
Canção - feliz
O poeta pede a morte ao céu, campo e canção porque só isso lhe dará o fim da
consciência.
Divisão do Poema:
1ª parte – três estrofes iniciais em que, de um modo geral, se descreve o canto da
ceifeira; primordialmente interessado em descrever a exterioridade;
O poeta apela (num apelo impossível) para que a ceifeira continue a cantar, mesmo
sem razão, para que o canto derramando entre no seu coração.
2ª parte – as restantes estrofes, em que se apresentam os efeitos da audição desse
canto na subjetividade do poeta. Procura traduzir as suas próprias emoções
desencadeadas na sua interioridade pelo canto da ceifeira, apesar da sua
inconsciência.
Verificada a impossibilidade de ser inconscientemente alegre, como a ceifeira, sem
perder a lucidez, porque “a ciência pesa”, pede ao céu, ao campo e á canção que
entrem por ele dentro, disponham da sua alma como sombra e o levem.
7. “Gato que brincas na rua”
O sujeito poético aborda a temática da Dor de Pensar e o binómio
consciência/inconsciência, invejando o gato pela inconsciência e por ser feliz devido a essa
mesma falta de consciência. Ele inveja o destino do gato porque apesar de o ter não tem
consciência de que o tem. Sente-se infeliz e tem uma angústia existencial por estar preso
ao pensamento.
O gato representa algo do nosso quotidiano, algo popular.
É um animal feliz porque está a brincar.
A sua "sorte" é invejada, pois o facto de ser inconsciente faz com que viva intensamente
cada momento, podendo assim brincar na rua como se na cama estivesse.
Ao ser inconsciente, como animal irracional aceita acriticamente todas as situações e
segue apenas os seus instintos naturais.
É autêntico pois "sente só o que sente" e não racionaliza nenhuma das suas atitudes,
podendo assim ser feliz.
Por ser inconsciente e viver segundo os seus instintos, o gato é feliz.
Apesar de ser "o nada", o gato é-o plenamente e isso causa inveja no poeta que ambiciona
a simples felicidade que existe quando se vive plenamente as coisas sem pensar. O poeta
tem a plena consciência de que é infeliz por não poder deixar de pensar e por isso não
consegue atingir a felicidade tão desejada.
Podemos, em suma, afirmar que o sujeito poético inveja o gato por três razões:
1.ª) Tem "instintos gerais" e sente só o que sente, ou seja, não pensa sobre o que está a
sentir, limita-se a sentir;
2.ª) É "um bom servo das leis fatais", isto é, não tenta contrariar as etapas inevitáveis da
existência: nascimento, crescimento e morte;
3.ª) "Todo o nada que és é teu", ou seja, ao contrário do sujeito poético, o gato não pensa,
não se questiona.
Assim, esta dor de pensar que o tortura leva-o a desejar ser inconsciente como a ceifeira
e como o gato, que não pensam.
“Não sei se é sonho, se realidade”
O poeta começa por reforçar o seu sentimento nas duas primeiras linhas, expressando nas
duas o mesmo: a dúvida quanto à possibilidade de atingir a felicidade terrena. A Ilha
sonhada por Pessoa será aquela ilha dos sonhos, já descrita por Camões – a Ilha dos
Amores, onde reside escondido o Paraíso terrestre. A vida jovem e o amor são o que
Pessoa considera os melhores objetivos: a juventude eterna (a imortalidade ou negação da
morte) e o amor (a negação da solidão humana).
A dúvida subsiste, no entanto Pessoa sabe-a de um só desejo íntimo. Essas paisagens
distantes são provavelmente só “palmares inexistentes, / Áleas longínquas sem poder ser”,
ou seja, campos de palmeiras (Oásis), ilusões, avenidas grandiosas mas enganadoras.
8. A felicidade é ainda um talvez. Mas um talvez soturno, porque se adivinha que seja um
talvez que degenere em impossibilidade.
Isto porque o sonho degenera quando se sonha. A terra da felicidade é apenas terra da
felicidade enquanto imaginada, e “já sonhada se desvirtua”, ou seja, mesmo o sonho perde
a sua essência quando passa a ser sonhado – torna-se quase real, e a realidade mata os
sonhos mais altos. A terra imaginada, ao luar, sofre afinal dos mesmos males da realidade
vivida no presente – “sente-se o frio de haver luar (...) / O mal não cessa, não dura o bem”.
Pessoa finalmente aceita que o talvez é um não. E é com um não que concluí o seu
pensamento: “Não é com ilhas do fim do mundo, / Nem com palmares de sonho ou não, /
Que cura a alma do seu mal profundo, / Que o bem nos entra no coração”. Espantosamente
aqui parece que Pessoa assume a futilidade de sonhar, de idealizar a vida, o mesmo é dizer
que Pessoa aceita a futilidade de não aceitar a vida como ela é.
Em suma, este poema reflete o binómio sonho/realidade; a evasão; a angústia existencial.
O sujeito poético numa ilha a sua felicidade e no final conclui que é dentro de cada um que
está a felicidade.
Estudo Teste:
Pag.51-
1. A interrogação contribui para o processo de autoanálise do sujeito poético, estabelecendo
uma aproximação entre o que ele reconhece ser (alguém que não consegue assumir “a
valer”, , “deveras”, nenhuma posição sentimental) e as “almas sinceras” de quem se sente
diferente.
2. O sujeito poético admira o ato de florir da flor, já que lhe é algo natural e inconsciente. Ao
contrário do que se passa consigo, que vive subjugado pelo binómio sentir/pensar, a flor
cumpre a sua existência de forma natural. Segundo o sujeito poético, não há diferença entre
a flor e o sujeito poético já que ambos cumprem a sua existência- “florescer” e “pensar sem-
querer".
3. No último dístico do poema o sujeito poético aceita que como ser racional, tem de pensar (
aceita o seu destino), assim como a flor tem que florir, sendo essa a sua essência.
Pag. 27- Autopsicografia
1. Ao longo do poema é usada a terceira pessoa verbal e isso considera às afirmações feitas
pelo poeta uma universalidade e um distanciamento, algo que seria impossível com a
primeira pessoa.
2.2. O fingimento artístico pessoano consiste na intelectualização das emoções sentidas pelo poeta,
já que ele afirma transformar as emoções que sente, para assim as escrever (dor fingida). Outra dor
que surge é a dor lida, ou seja, após a transformação das emoções, os leitores vão ler a mesma e
interpretá-la da sua maneira, porém, eles nunca vão sentir essa dor, apenas interpretá-la e lê-la.
3.
3.1- A metáfora é o recurso usado na terceira estrofe (“comboio de roda”) e representa a relação
entre razão/coração. Assim como o comboio é guiado pelas “calhas de roda”, também o coração
9. deve ser pela razão/pensamento, que condiciona a sua expressão verbal. Cabe ao coração sentir, e
ao pensamento transformar essas emoções.
Gramática
1.
A) F
B) F
C) F
D) V
Pag. 29- “Isto”
1. “Eu simplesmente sinto/Com a imaginação./Não uso o coração.”
2.1. B)
2.2. C)
2.3. D)
2.4. C)
2.5. A)
2.6. C)
3. O título remete às críticas possivelmente sofridas em “autopsicografia”, onde questionaram a
verdade nos versos do poeta. Este usa deste poema para responder às mesmas de forma simples,
apresentando a sua teoria criativa como apenas “isto”.
Pag. 32- A Ceifeira
1. O texto divide-se em duas partes, sendo que a 1º delimita as estrofes 1-3, onde o poeta vai
caracterizando o canto da ceifeira através da audição. Além disso apresenta os efeitos que o
canto causa nele mesmo (“ Ouvi-la alegra e entristece”). Já a segunda parte incluí as últimas
três estrofes (4-6). Nesta segunda parte, o poeta explicita o desejo de ser como a ceifeira,
um ser inconsciente, mas ter consciência disso (v. 18-19), algo impossível. Como a vida de
um ser consciente é sofredora (“Pesa tanto e a vida é tão breve”), o sujeito poético pede
que o campo, a canção, e a ciência entrem por ele dentro e o tornarem num ser mais
natural, semelhante à ceifeira. Se assim for, ele pode ser levado.
2. A ceifeira é um ser aparentemente “feliz”, “alegre” e víuva (“anónima viuvez”). Tem um
canto natural e melódico (“Ondula como um canto de uma ave”). É uma pessoa do “campo”
e atrai a atenção do sujeito poético por ser um ser inconsciente, que a permite ser alegre e
alcançar a felicidade.
3. O verso 14 explica o porquê do sujeito poético não poder ser como a ceifeira, já que ele não
consegue viver “sem razão”/ inconsciente, e está constantemente a pensar.
10. Pag. 34- Gato que brincas na rua
2. O sujeito poético utiliza a comparação nos dois primeiros versos, para demonstrar como o
gato se sente confortável na rua, um lugar onde se está em constante contacto com os
outros, como se estivesse na cama, um lugar ligado ao conforto, paz e descanso. Serve para
mostrar a naturalidade do gato, que segue apenas os seus instintos naturais, sem
convenções.
3.
a) O sujeito poético afirma ter inveja do gato, pois ele é inconsciente e por isso tem “sorte”, porém
como é um ser sem consciência, o gato só segue os seus instintos, vivendo naturalmente. Por isso
não é sorte, pois para termos sorte temos de ter consciência disso.
b) O gato é feliz porque não pensa no que é, não sofre com a dor de pensar. O gato é um “nada”, já
que é um ser inconsciente, mas esse nada pertence-lhe já que ele depende apenas dos seus
instintos.
4. Os dois últimos versos do poema remetem, conforme a primeira pessoa gramatical
evidencia, para a situação particular do sujeito poético. Neles, o “eu” que refletiu sobre a
natureza do gato constata que dele se diferencia por não se dominar completamente, uma
vez que, como explicou em “Autopsicografia”, transforma permanentemente as suas
emoções em pensamentos. Por isso, sente-se estranho face a si mesmo.
5. O poema é constituído por três quadras de versos heptassilábicos (redondilha maior) e com
rima cruzada.
Pag. 39- Não sei se é sonho, se realidade
1. A ilha dos sonhos, é uma terra com uma atmosfera suave (v.3), onde “a vida jovem e o amor
sorri”, possui palmares inexistentes e aléas longínquas. Esta ilha caracteriza-se como uma
forma de evasão do sujeito poético que não aguenta mais a sua realidade, por isso procura a
felicidade nesta ilha. Porém reconhece que este lugar é ilusório, e que a felicidade só pode
ser encontrada dentro de nós (“´É em nós que é tudo”).
2. O sujeito poético anseia um lugar onde possa concretizar a felicidade e é nesta “Ilha extrema
do sul” que a acredita encontrar “Felizes, nós? Ah, talvez, talvez”, apesar de reconhecer que
é uma ilha e felicidade ilusória.
3. A oração marca o momento em que a ilusão desta ilha se desfaz, e o sujeito poético entende
que não é ali que pode de facto ser feliz sem pensar (“Só de pensa-la, cansou pensar”),
apagando o seu caractér idílico.
4. Com a antítese entre o bem e o mal do verso 18, o poeta explicita que o pensar (mal) não
acaba, e o bem, ou seja, a felicidade temporária dada pelo caractér idílico ilusório da ilha,
acaba rapidamente. Na próxima sextilha o poeta finalmente entende onde a felicidade
realmente está (Que cura a alma seu mal profundo,/Que o bem nos entra no coração”), e
esta encontra-se dentro de nós, e não naquelha ilha, e, entende que o próprio sonho
desvirtua a capacidade de ser feliz pela inconsciência.
5. O uso do advérbio “Ali, Ali” ao longo do poema, serve para dar um sentido de proximidade
primeiramente entre o sujeito poético e a ilha (v.5), e segundamente novamente entre o
sujeito poético e o lugar onde se encontra a felicidade (v.23). Em suma, o advérbio é usado
para determinar o lugar onde se é possível ser feliz.
11. 6. A ilha simboliza a vontade do sujeito poético de ser feliz e de viver os seus sentimentos,
livre da consciência e de todos os males que essa lhe trás.
Pag. 49- Não sei quantas almas tenho
1.
a) O poeta usa frases do tipo declarativas, para declarar o seu estado psicológico e a sua
personalidade.
b) O uso dos verbos “estranho” e “mudei” relacionam-se com o sentimento de estranheza do
seu face a si mesmo e à sua mudança. Os verbos mudei e achei estão no pretérito perfeito,
ou seja, partem de uma reflexão sentida no passado.
1.1. Indefinição em torno da identidade do sujeito poético
1.2. O sujeito poético atribui a culpa de ter perdido a sua identidade ao “tanto ser” e “torno-me
eles”, ou seja por sentir e pensar de formas diferentes.
2.
2.1. “Diverso, móbil e só”, esta gradação acentua o isolamento do eu, sendo que se caracteriza como
uma pessoa múltipla/fragmentada, por isso não sabe ao certo quem é, causa e agente inconstante
de outras existências (móbil) e, por isso, solitário (só).
3. O conector “por isso” serve para mostrar vem apresentar as consequências da forma que o
sujeito se comporta, destacando a ideia de que vai continuar o seu processo de auto-análise,
sugerida pelo complexo verbal (vou lendo)
Atos de fala
Assertivos-