SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 36
Downloaden Sie, um offline zu lesen
FIAM-FAAM - CENTRO UNIVERSITÁRIO
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
Aline Santos de Campos
TODOS OS OLHOS EM MIM: a presença do
racismo nos relacionamentos inter-raciais
São Paulo
2018
Aline Santos de Campos
Todos os olhos em mim
A presença do racismo nos relacionamentos inter-raciais
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao FIAM-FAAM – Centro
Universitário como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social, habilitação em
Jornalismo sob a orientação da
Professora Doutora Maria Lúcia da
Silva.
São Paulo
2018
RESUMO
Nos últimos anos, o racismo tem sido cada vez mais debatido. A mídia, impressa e
digital, por sua vez, tem aberto espaço para que o assunto seja disseminado. A falsa
democracia racial, mais que nunca, está deflagrada, e mesmo com este cenário,
pessoas negras continuam sendo vistas apenas por sua cor. Diante disso, este projeto
apresenta histórias reais de pessoas que vivenciam o preconceito, literalmente na pele.
Como é para um corpo negro estar em um relacionamento com um parceiro branco?
Com o objetivo de apontar os principais fatores que perpetuam as marcas do racismo
no dia a dia dessas pessoas, considerando a influência da mídia, espera-se, como
resultado, propor uma reflexão acerca do assunto e discutir sobre os efeitos na vida
amorosa de pessoas negras e na sociedade.
Palavras-chave​: jornalismo, livro-reportagem, racismo, mídia, estereótipo, casais
inter-raciais, corpo negro.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO​.............................................................................................................5
2. PROBLEMA​.................................................................................................................8
3. OBJETIVOS​.................................................................................................................9
3.1. Geral...............................................................................................................9
3.2. Específicos......................................................................................................9
4.
JUSTIFICATIVA​..........................................................................................................10
5. REFERENCIAL TEÓRICO​.........................................................................................13
5.1 A manutenção do preconceito racial e o racismo contemporâneo..…………14
5.2 Fatores que evidenciam as marcas do racismo nos relacionamentos
inter-raciais…………………………………….……………………………………….16
5.3 A mídia como disseminadora do estereótipo negro e a influências nas
relações afetivas entre negros e brancos…………………………………………..…..…..19
6. DESCRIÇÃO DO PRODUTO​.....................................................................................23
6.1 Definição do projeto gráfico...........................................................................25
6.2 Desenvolvimento das partes do produto.......................................................26
6.3 Público-alvo...................................................................................................27
7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS​...................................................................28
7.1 Entrevista semi-estruturada e de profundidade.............................................28
7.2 Perfil e jornalismo literário..............................................................................29
7.3 Pesquisa Bibliográfica....................................................................................30
7.4 Pesquisa em Banco de Dados.......................................................................32
8.​ ​CONSIDERAÇÕES FINAIS​.......................................................................................33
09.​ ​REFERÊNCIAS​........................................................................................................35
​1. INTRODUÇÃO
Como mulher, afrodescendente, diagnosticada parda pelo IBGE e pela
sociedade, com uma família altamente miscigenada, mãe de uma criança negra, há
tempos tenho estudado e me aprofundado nos debates étnico-raciais. É preciso refletir
e rever esses conceitos ​diariamente para que o processo de autoconhecimento como
pessoa negra seja reafirmado diariamente.
Em um país que pratica o racismo velado, a aceitação da origem negra ainda é
um tabu, e se torna um fator que afeta as relações inter-raciais entre indivíduos
brancos e negros. Racismo velado este que é definido por Marcos Eugênio e Jorge
Vala como racismo cordial que se apresenta discretamente nas relações1
interpessoais.
A inter-racialidade se faz presente em todos os âmbitos das relações
étnico-raciais - assim como a desigualdade racial -, mas não está presente em
propagandas, por exemplo. Ou a família representada é em sua totalidade branca ou
toda formada por negros.
Há inúmeras estatísticas que comprovam que os cidadãos à margem da
sociedade tem uma característica em comum. Sabemos que a cor da margem é preta.
Mas e nos relacionamentos amorosos inter-raciais entre negros e branco​s? Como é ser
um corpo negro, que representa mais da metade da população brasileira , mas que ao2
mesmo tempo está só em todos os lugares? Como é lidar com situações de racismo
quando um casal é destacado pelas diferenças em sua cor da pele? ​Quais são os
fatores que influenciam na manutenção do racismo? Quais as maiores dificuldades na
vida amorosa? São estas respostas que serão buscadas nas entrevistas realizadas
com pessoas negras de realidades e experiências diferentes.
1
As novas formas de expressão do preconceito e do racismo, 2004.
2
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2016, o Brasil tem
54,9% da população autodeclarada negra. Dado disponível em:
<​https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18282-pnad-c-
moradores.html​> Acesso em: mar. 2018.
Essa pesquisa, que será conteúdo de um livro-reportagem, tem por objetivo
apresentar personagens reais de uma vivência ainda abordada superficialmente em
nosso cotidiano e responder a seguinte pergunta: quais são as dificuldades de ser um
corpo negro em um relacionamento inter-racial?
No que diz respeito aos fatores que colaboram para que o racismo seja
perpetuado, afetando a maneira como negros e brancos se relacionam, a mídia, por
exemplo, tem grande parcela de influência com os estereótipos apresentados em
novelas, séries e filmes.
Esta afirmação se justifica com a apresentação de personagens negros. Um
exemplo simples disto, é que ainda temos a maioria - senão quase todas - as
empregadas negras nas telenovelas (detalhe para os mordomos sempre brancos que
têm um papel similar ao do capitão-do-mato na época da escravatura, com uma
posição superior aos empregados).
Levando em consideração as dificuldades e o atraso social devido ao racismo
ainda presente em nossa sociedade, percebemos que são muitos os fatores que
influenciam na disseminação do preconceito racial, e a mídia é apenas um deles.
Chegamos a vivenciar literalmente na pele as marcas do racismo nas relações.
Ao mesmo tempo que temos casais negros em evidência como Lázaro Ramos e Taís
Araújo, Barack e Michelle Obama, ainda temos como referência à seguir Fernanda
Lima e Rodrigo Hilbert, David e Victoria Beckham. Algum casal inter-racial está em
evidência?
Para além disso, há uma falta de representação de casais inter-raciais. As
novelas, em sua maioria, apresentam de modo superficial casais que enfrentam o
preconceito pela diferença de cor que vem sempre acompanhada de diferença de
classe social. Nos últimos anos, algumas séries tiveram destaques por aprofundarem a
discussão sobre o tema, inclusive evidenciando o quão nocivo pode ser o racismo em
um relacionamento inter-racial. É o caso das criações “Dear White People” (2017,3
Justin Simien) e “Atlanta” (2016, Donald Glover).4
Na primeira, as tensões que envolvem raça são representadas de maneira nua e
crua retratando a vida de estudantes universitários negros que estudam em uma
universidade com predominância de pessoas brancas. No recorte das relações, aborda
desde a não aceitação de um parceiro branco no ciclo de amizade negro à ascensão
de pessoas negras que frequentam grupos elitizados.
Já a segunda, é uma série que acompanha a vida de dois primos que buscam
melhorar suas vidas e de suas famílias por meio do RAP. Tem um foco voltado para
desigualdades, dificuldades familiares e aos perigos que a população negra está
exposta em um bairro tradicionalmente perigoso. Ao tratar das desigualdades, a série
discorre sobre os privilégios da branquitude e a marginalização do negro. Um dos
episódios, traz um casal inter-racial, onde a mulher negra ascendeu ao se casar com
um empresário branco. Amigos do casal adotaram crianças negras e são viciados em
tudo que envolve a cultura africana - e claro, com todos têm empregados negros. Eles
e o próprio marido tratam o corpo negro e sua história como atração turística levando o
personagem principal a concluir que “todo branco quer ter seu negro de estimação”.
De acordo com Zenilda Barros, podemos avaliar a representação de casais
inter-raciais como uma denúncia de uma idealização existente na sociedade. Ou seja,
estes relacionamentos são representados de acordo com um padrão estereotipado das
relações raciais, que segundo a autora, é formado levando em consideração os fatores
de classe e gênero.
Ao identificar as representações de casais inter-raciais (branco/negro)
percebemos como estes operam com o conceito de “raça”, ao mesmo tempo em
que podemos notar a influência de classe e gênero nestas representações.
3
Série criada e dirigida por Justin Simien (baseada no filme de mesmo nome lançado em 2014). Com
estreia no ano de 2017, está em sua segunda temporada.
4
Lançada em 2016, a série é de autoria e direção de Donald Glover e produzida pelo canal FX. Está em
sua segunda temporada, já renovada para a terceira temporada.
Logo, podemos entender que as tensões que permeiam as relações raciais
estão intrinsecamente ligadas às diferenças de classe e posição na pirâmide social.
Enquanto vermos casais brancos como padrão a seguir, o negro vai continuar à
margem da sociedade e, consequentemente, as relações inter-raciais continuarão
sofrendo como uma minoria discriminada remando contra a maré.
2. PROBLEMA
Quais são as dificuldades de ser um corpo negro em um relacionamento
inter-racial?
3. OBJETIVO
3.1 Geral
Expor experiências de pessoas negras que têm ou já estiveram em um
relacionamento amoroso inter-racial.
3.2 Específicos
● Discutir como estes casais são apresentados nos meios de comunicação;
● Identificar como o estereótipo do negro influência nesses relacionamentos;
● Evidenciar as dificuldades que uma pessoa negra sofre ao viver um
relacionamento inter-racial.
4. JUSTIFICATIVA
A temporada 2017 do folhetim adolescente da Rede Globo Malhação trouxe5
debates sociais polêmicos, como racismo e homossexualidade. Intitulada "Viva as
Diferenças!", um dos casais da trama era formado por um garoto negro e uma garota
de descendência japonesa, que enfrentavam o preconceito por seu relacionamento
amoroso inter-racial.
No mesmo ano, o filme vencedor do Oscar de melhor Roteiro Adaptado, ​“Get
Out” (2017, Jordan Peele), retrata as dificuldades de um relacionamento entre uma6
mulher branca e um homem negro. O longa apresenta o estereótipo negro, de uma
maneira aterrorizante, como o principal fator do preconceito racial.
De acordo com os dados de moradores da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNAD) , realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
7
Estatística (IBGE), no ano de 2016, a população autodeclarada parda representava
46,7% dos brasileiros contra apenas 8,2% de pretos. Número este que evidencia que o
Brasil tem 54,9% de habitantes autodeclarados afrodescendentes.
Sobre os dados apresentados, é importante pontuar que o percentual de
afrodescentes no país tende a ser muito maior, visto que a pesquisa leva em
consideração a autodeclaração, ou seja, como o indivíduo se identifica com relação a
sua cor de pele.
Em seu documentário ​Nega que é nega não nega ser nega não (2015), Fábio
Nunez , nos apresenta as barreiras enfrentadas por mulheres negras, nos traz relatos8
de vida, situações de racismo e dá luz ao dilema do pardo versus negro. Propõe ainda
5
Novela de protagonismo jovem que em 2017 foi reformulada e abordou temas atuais.
6
Filme lançado no Brasil sob o título de “Corra!”, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado.
7
Disponível em:
<​https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18282-pnad-c-
moradores.html​> Acesso em: mar. 2018.
8
Produção independente do músico Fábio Nunez que viajou o Brasil em busca de histórias de mulheres
negras.
uma reflexão sobre as dificuldades em se reconhecer como uma pessoa negra,
comportamento resultante do racismo presente nas relações cotidianas.
Entre os trabalhos que propõem discussões sobre as dificuldades das relações
inter-raciais entre negros e brancos, está Abdias Nascimento (1976), que nos
apresenta fatos durante a colonização do Brasil que explicam o porquê de as relações
inter-raciais serem vistas com maus olhos.
A palavra "intercasar" é menos que apropriada para designar esse tipo de
interação sexual. Um velho ditado, tão popular hoje como há um século, revela
quão ilusórias e falsas são essas designações promovidas a serviço das classes
dirigentes. O conceito popular difere por inteiro e restabelece a situação real:
Branca para casar
Negra para trabalhar
Mulata para fornicar
O mito da "democracia racial" enfatiza a popularidade da mulata como "prova"
de abertura e saúde das relações raciais no Brasil. No entanto, sua posição na
sociedade mostra que o fato social exprime-se corretamente de acordo com o
ditado popular (NASCIMENTO, 1976, p. 62).
Destaque para o fato de o livro de Nascimento ter sido publicado no ano de9
1976 propondo, a partir de dados, uma análise desde a colonização do Brasil em 1500
até então, mas estamos em 2018 e pouco mudou - o que é possível constatar em
trabalhos mais recentes sobre o tema.
Claudete Alves é uma dessas autoras contemporâneas, que apresenta uma
profunda reflexão sobre os relacionamentos inter-raciais e aborda a "preferência" dos
homens negros por mulheres brancas. Em sua pesquisa A solidão da mulher negra -
sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro na cidade de São Paulo
(2008), a autora constatou que o racismo que permeia as relações, inclusive, levam a
mulher negra a sofrer ainda mais, pois também não é a preferida de homens negros: “A
associação inter-racial foi vista como vantajosa para o homem negro, no sentido da sua
ascensão social, e muito desvantajosa para a mulher negra pela tendência observada
9
“O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado”, publicado em 1976 pelo
poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico e professor Abdias Nascimento (1914-2011).
da predominância de pares inter-raciais, quais sejam homem negro-mulher branca”
(ALVES, 2008, p. 6).
Atualmente, no âmbito digital, há plataformas e canais no YouTube que
evidenciam as dificuldades amorosas sofridas por ser uma pessoa negra, como o Afros
e Afins , da influencer digital e estudante de Ciências Sociais Nátaly Neri. Para
10
exemplificar a realidade de estar em um relacionamento inter-racial, a youtuber chegou
a gravar um vídeo falando sobre sua experiência pessoal em um relacionamento com
uma pessoa branca, onde expôs as dificuldades e situações de preconceito pelas quais
passou.
Diante da forte discussão sobre o preconceito étnico-racial, o meios de
comunicação têm o dever social de estudar, pautar e propor reportagens ou
campanhas sobre o tema.
Para Laura Moutinho (2004), grande parte das obras literárias e clássicos da
sociologia, por exemplo, apresentam o preconceito com as relações inter-raciais de
modo ligado à discriminação de classe social, evidenciando o protagonismo branco nas
relações de poder como conhecemos hoje.
Da forma como percebo, os autores que interpretam o contato sexual inter-racial
e, consequentemente, a mestiçagem como um campo que mobiliza
diferenciados elementos de prestígio que os negros podem manipular para se
inserir no chamado mundo branco, estão mais próximos da noção de classe, tal
como definiu Max Weber (MOUTINHO, 2004, p. 179).
Ou seja, a posição social de negros e brancos nos relacionamentos contribui
para as dificuldades sociais e amorosas destes relacionamentos, além de fortalecer a
falsa democracia racial.
Sendo assim, para o entendimento dos desafios vivenciados nos
relacionamentos inter-raciais entre pessoas de peles preta e branca, antes, é
necessário entender a construção histórica que levou a tais desafios e a atual
conjuntura social que os mantém.
10
Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCjivwB8MrrGCMlIuoSdkrQg> Acesso em: abr.
2018
5. REFERENCIAL TEÓRICO
Como citado anteriormente, só é possível compreender as dificuldades dos
relacionamentos inter-raciais a partir de uma reflexão sobre a construção do racismo no
Brasil.
Durante o período colonial, os relacionamentos entre brancos e negros se deu
por meio de uma miscigenação forçada, na qual a mulher negra teve sua sexualidade
submetida ao interesse de seus senhores brancos, que buscavam prazeres
extraconjugais e também desejavam branquear a população, dando origem aos
“mulatos”.
A população mulata e mestiça, no século XVII, passou por uma tentativa de
genocídio, devido a ideologias como a de degeneração de raça, difundida por Arthur de
Gobineau. Segundo Thomas E. Skidmore (1976), o teórico acreditava que a mistura de
raças resultava em indivíduos degenerados biologicamente e intelectualmente e ao
chegar no Brasil, Gobineau se deparou com uma população “totalmente mulata, viciada
no sangue e assustadoramente feia” (SKIDMORE, 1976 apud FERREIRA, 2018, p. 79).
Nem um só brasileiro tem sangue puro porque os exemplos de casamentos
entre brancos, índios e negros são tão disseminados que as nuances de cor são
infinitas, causando uma degeneração do tipo mais deprimente tanto nas classes
baixas quanto nas superiores (SKIDMORE, 1976 apud FERREIRA, 2018, p. 79).
Já no final do século XIX, médicos influentes no território brasileiro queriam ter o
poder de criar leis exclusivas para cada raça, dando início ao racismo científico.
Raimundo Nina Rodrigues foi um destes médicos pensadores que defendiam tal
pensamento que com o passar dos anos deu início a um projeto de esterilização da
população mestiça.
Ideologias como estas, bem como os resquícios da escravidão, foram
perpetuadas ao longo dos anos, mantendo a desigualdade racial mesmo que com
novas formas de manifestação do racismo.
5.1 A manutenção do preconceito racial e o racismo contemporâneo
No artigo de Marcus Eugênio de Lima e Jorge Vala (2004), os autores abordam
as diferentes formas da prática do racismo existentes e suas diferenças, e nos mostram
que toda esta conjuntura da “política” racial no Brasil, suas raízes históricas e seus
frutos deu surgimento a diferentes expressões do preconceito racial. Um deles, o que
mais se assemelha à sociedade brasileira, é o racismo cordial definido como
uma forma de discriminação contra os cidadãos não brancos (negros e mulatos),
que se caracteriza por uma polidez superficial que reveste atitudes e
comportamentos discriminatórios, que se expressam ao nível das relações
interpessoais através de piadas, ditos populares e brincadeiras de cunho “racial”
(LIMA; VALA, 2004, p. 7).
Lima e Vala afirmam que o preconceito racial está enraizado na sociedade e que
tem predominância predominante nas relações interpessoais. Sendo assim, é possível
afirmar que o racismo continua, se alimenta dos resquícios do passado, colhe o que foi
plantado, mas agora em novos formatos. Esta ideia é reforçada no trecho a seguir:
Todavia, novas e mais sofisticadas formas de expressão do preconceito e do
racismo têm surgido, corporificando muitos comportamentos cotidianos de
discriminação, quer ao nível institucional, quer ao nível interpessoal (LIMA;
VALA, 2004, p. 1).
Podemos notar que tanto as obras mais antigas quanto as contemporâneas
remontam ao preconceito racial como centro do problema entre os relacionamentos,
deflagrando que o racismo continua mesmo que se apresente de maneira diferente.
Zenilda Barros (2003), com base em pesquisas por amostra, também expõe
como a autoidentificação do indivíduo negro é conflituosa e fator importante nos
relacionamentos nos quais há diferença nos tons de pele.
A situacionalidade da identidade é percebida pelos entrevistados, pois
descreveram diversas ocasiões em que puderam vivenciar situações em que
foram diferentemente identificados. Um exemplo disso são as entrevistadas
negras, que entre amigos são identificadas como “morenas”, como “negras” pela
família do marido ou como “neguinhas” quando são ofendidas (BARROS, 2003,
p. 99).
Ao introduzir fatores decorrentes da intolerância racial que afetam a vida a dois,
a autora aponta a existência de estereótipos negativos contra os negros. Os quais se
fazem notar nos dias de hoje com “uma modificação na etiqueta de relações raciais: ou
se é rico(a), bonito(a), inteligente e, consequentemente branco(a), ou negro(a), mas
rico(a), negro(a), mas boa pessoa, negro(a), mas educado(a) ou negro, mas bonito”
(BARROS, 2003, p. 25).
Aqui, temos uma clara representação do racismo contemporâneo. Umas das
maneiras como se apresenta na sociedade é destacando a cor da pele ao usar um
adjetivo. Expressões, como: “Fulano é negro, mas é inteligente” ou “Que negra linda!”,
quem nunca ouviu?
5.2 Fatores que evidenciam as marcas do racismo nos relacionamentos
inter-raciais
Abdias Nascimento (1976) aponta como iniciou-se o processo de miscigenação
no Brasil e como as relações afetivo-sexuais entre negros e brancos foi utilizada como
estratégia de extermínio da população negra no país.
O processo de miscigenação, fundamentado na exploração sexual da mulher
negra, foi erguido como um fenômeno de puro e simples genocídio. O
“problema” seria resolvido pela eliminação da população afrodescendente. Com
o crescimento da população mulata, a raça negra iria desaparecendo sob a
coação do progressivo clareamento da população do país (NASCIMENTO,
1976, p. 69).
Assim, deu-se início o processo de branqueamento da população brasileira. O
nascimento dos filhos bastardos “mulatos”, tempos depois, se tornaria o símbolo da
“democracia racial”, mas como destacado por Nascimento, a democracia racial era
uma falácia que não refletia a real situação social de um escravo ou descendente
africano no Brasil.
Porém, a despeito de qualquer vantagem de status social como ponte étnica
destinada à salvação da raça ariana, a posição do mulato essencialmente
equivale àquela do negro: ambos vítimas de igual desprezo, idêntico preconceito
e discriminação, cercados pelo mesmo desdém da sociedade brasileira
institucionalmente branca (NASCIMENTO, 1976, p. 83).
A tese de doutorado de Lia Vainer Schucman (2012), se comparada à obra de
Nascimento, é um trabalho contemporâneo que evidencia como as históricas práticas
racistas se perpetuaram na sociedade brasileira.
Valendo-se da psicologia social e do entendimento do racismo contemporâneo,
a pesquisa de Schucman busca compreender a hierarquização social com base na cor
da pele. Foi identificado que homens negros comumente se relacionam com mulheres
brancas por uma questão de ascensão social, mesmo que de maneira inconsciente,
evidenciando que as ​“mulheres negras que, muitas vezes, pelos estereótipos a que
estão submetidas, podem encontrar mais dificuldades na seleção de parceiros
amorosos” (TELLES, 2008 apud SCHUCMAN, 2012).
Quando analisamos os efeitos do racismo nas relações étnico-raciais,
consequentemente, nos deparamos com debates como os conceitos de colorismo,
gênero e classe social. Isso porque só é possível falar de como o preconceito racial se
manifesta nos relacionamentos levando em consideração toda a problemática social
que o rodeia.
Acerca do gênero, Moutinho (2004) e Alves (2008) tratam da vulnerabilidade da
mulher negra, mostrando que gênero também é um fator que apresenta forte influência
nos relacionamentos entre pessoas brancas e negras.
Quanto ao colorismo, este está intrinsecamente ligado à miscigenação. Segundo
Tássio da Silva Santos (2016), o colorismo ou pigmentocracia é uma das formas
“danosas” de praticar o preconceito racial, enquanto no racismo a cor da pele é o
quesito orientador, no colorismo o fator principal é o fenótipo. De acordo com ele, o
colorismo é o conceito que organiza pessoas negras em tons de pele mais claro à mais
escuro definindo o nível de tolerância da sociedade com a cor do indivíduo. “Mesmo
sendo lida como negras, ter a pele mais clara significa ser mais tolerada aos olhos da
branquitude, apesar de não ocupar o lugar e nem usufruir dos privilégios de uma
pessoa caucasiana” (SANTOS, 2016, p. 4). Logo, é possível perceber que o grau de
melanina na pele pode amenizar ou potencializar as dificuldades nestes
relacionamentos inter-raciais.
Já Zenilda Barros (2003) nos fala de como o racismo age de forma distinta de
acordo com a condição social do indivíduo:
O homem negro é melhor aceito como par quando tem status superior ao da
esposa branca, o que serve para “compensar” a diferença entre os dois. - Os
casamentos mais aprovados são aqueles que ocorrem entre brancos e mulatos,
que são “indivíduos de características antropofísicas não muito distantes”
(AZEVEDO,1976, p. 63 apud BARROS, 2003).
Assim como na pesquisa de Schucman, Claudete Alves (2008) evidencia que o
11
estereótipo da mulher negra, também citado por Nascimento (1976), continua como um
cancro nas relações étnico-raciais, nos dias atuais. Além de colocar a mulher negra em
um posto de inferioridade frente à mulher branca.
Alves investiga possibilidades que expliquem o porquê da inferiorização da
mulher negra em um relacionamento amoroso. Um dos fatores identificados foi a
preocupação dos homens com sua própria ascensão social.
Outra possibilidade que explica essa escolha seria o desejo de ascensão social,
projetado nessa relação, que faria o homem negro decidir-se pela mulher
branca. Isso nos permite pressupor que seus atributos identitários como gênero,
raça/raça/sexualidade, uma vez reificados constituiriam-se em um dote de pouca
monta que não habilitaria a mulher negra como competidora atrativa nesse leilão
afetivo onde o homem negro é o bem mais disputado (ALVES, 2008, p. 69).
11
A Solidão da Mulher Negra: Sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro na cidade de São
Paulo, tese que originou o livro ​Virou Regra?
Em sua dissertação de mestrado, a autora deflagra a existência de uma
problemática ainda maior nos relacionamentos inter-raciais, e identifica isso com base
em uma aprofundada pesquisa e numa série de entrevistas realizadas com casais:
As mulheres entrevistadas e as participantes do grupo focal concordam que os
homens negros jovens, em idade de escolher a parceira conjugal, tendem a
preferir a mulher branca em detrimento da mulher negra. Segundo estas
mulheres, esta escolha é mais comum entre os homens negros que buscam
uma ascensão social ou aqueles que já ocupam uma posição socioeconômica
considerada vantajosa (ALVES, 2008, p. 75).
A partir dos dados apresentados por Alves, é possível perceber que as relações
amorosas entre negros e brancos passa pelo racismo antes mesmo de serem
iniciadas, devido a predileção à cor branca.
Com base nos autores estudados, entendemos que os conflitos nos
relacionamentos amorosos inter-raciais tiveram início ainda no Brasil Colônia com a
exploração sexual da mulher negra e, mesmo após a miscigenação, se mantiveram.
Denotando também maior intolerância a casais formados por homem branco/mulher
negra, como ressaltado em (MONTEIRO, 2009, p. 51), onde o autor reforça que
“apesar da maior propensão nacional à miscigenação, o encontro entre parceiros
amorosos de grupos raciais distintos (em particular, em casais formados por homens
claros/mulheres escuras) tende a maiores turbulências e a níveis de conflito”.
Os autores citados apresentam em suas obras a herança das relações
inter-raciais que temos amargado com o passar dos anos, principalmente da
sexualização da mulher negra, como Moutinho destaca no trecho a seguir:
No Brasil, o desejo inter-racial, e não a mulata, é o elo que funda a nação. [..]
trata-se do desejo viabilizado a partir de uma específica hierarquia de gênero e
“raça” expresso, particularmente, no casal homem branco e mulher mestiça
(MOUTINHO, 2004, p. 424).
5.3 A mídia como disseminadora do estereótipo negro e a influências nas
relações afetivas entre negros e brancos
Somos influenciados pelo ambiente ao qual estamos inseridos e pelas
informações que recebemos. Segundo Alves (2008), de acordo com as pesquisas
qualitativas realizadas com casais inter-raciais para sua dissertação, “as pessoas se
motivam através da comunicação e a motivação é uma condição especial no processo
de informação” (ALVES, 2008, p. 27).
Para explicar sua afirmação, a autora cita o exemplo de uma de suas entrevistas
que se mostrou insatisfeita com determinada rede de televisão “que segundo sua visão
está contribuindo para fixar uma imagem desfavorável dos homens e mulheres negras,
por meio de suas produções que apresentam os personagens negros em situações
mais desvantajosas do que outros grupos étnicos” (ALVES, 2008, p. 98).
A partir disso, podemos considerar que a mídia, em seus diferentes canais de
comunicação, tem o poder de influenciar na maneira com a qual nos relacionamos,
como lidamos com as diferenças e, neste caso, também na forma como a sociedade vê
o corpo negro.
Com o objetivo de contextualizar a influência da mídia nos relacionamentos
inter-raciais, por meio de uma construção social estereotipada, a autora cita a
construção do estereótipo negro décadas atrás, usando como exemplo a atuação de
Nelson Rodrigues e de Abdias Nascimento, na apresentação de personagens negros
de uma peça teatral:
Ismael, o homem negro protagonista da peça de Nelson Rodrigues, fora criado
para o próprio Abdias [Nascimento]. Nelson Rodrigues o concebeu como um
“doutor de anel no dedo e orgulhoso de sua raça mas com todos os defeitos de
um homem branco , amarelo ou furta-cor”. Contra o “negro moleque-gaiato”
recorrente no teatro brasileiro (MOUTINHO, 2004, p. 149).
Observando as caracterizações descritas, é possível identificar que tais rótulos
continuam presentes na sociedade atual. Tendo a pesquisa de Alves como referência,
concluímos que o estereótipo negro representado midiaticamente só tem fortalecido o
racismo, influenciado negativamente na aceitação de um relacionamento inter-racial na
sociedade e na aceitação do próprio indivíduo como cidadão negro.
Acerca de como a inferioridade do negro, a partir da construção de um
estereótipo sociocultural, influencia na escolha dos parceiros afetivo-sexuais, Edilene
Machado Pereira e Vera Rodrigues (2010), analisam Gomes (2003) sobre a predileção
de parceiros por cor:
O entrelaçamento das razões citadas − beleza, cultura, ascensão social − que
conferem importância ao quesito raça/cor nas escolhas afetivas remetem aos
significados do corpo negro abordados por Gomes (2003). A autora ressalva a
construção da representação social e da beleza do negro/a na sociedade
brasileira, a partir da cor da pele e do cabelo, como marcas identitárias que
convivem num jogo de tensão entre o atributo e o estigma. Esse tensionamento
vem do padrão de beleza vigente que codifica o belo, em termos de pele
branca/clara e cabelo longo/liso. Assim, essas percepções de beleza são
valoradas, conforme se aproximam ou se afastam do padrão normativo
(PEREIRA;RODRIGUES, 2010, p. 174).
O trecho acima deixa claro como os padrões de beleza afetam na escolha de um
parceiro amoroso e, à esse respeito, Alves elucidou muito bem ao citar os processos
de comunicação como meios de disseminação e manutenção desses padrões.
Negros e mídia: invisibilidades (2017), um dos artigos da série do jornal Le
Monde Diplomatique Brasil sobre o racismo no meio midiático, aborda como o negro
continua sendo estereotipado e colocado em situações de subalternidade.
Os velhos papéis se repetem. Do lado negativo, o escravo, a “mulata” lasciva, a
empregada doméstica, o preto bobo ou ignorante que faz a gente rir e o
bandido. Do lado positivo, o jogador de futebol, o sambista ou aquele
personagem que interpreta a exceção: o moço de família humilde que lutou
muito e “venceu na vida”. Figuras que não são exclusividade dos produtos de
ficção, visto que são assim também apresentados em programas de auditório e
em quadros do jornalismo (DIPLOMATIQUE, 2017, online).
O artigo, escrito por Ana Claudia Mielke, destaca a importância da
representatividade negra e também trata da invisibilização de pessoas negras na mídia,
principalmente televisiva. Além de chamar atenção para os estereótipos construídos
pelos veículos de comunicação, algo reforçado com a imagem de quem dissemina a
notícia com a de quem é noticiado como o criminoso da vez.
Ao adentrar no jornalismo, o artigo do Diplomatique aponta que o negro só
aparece nas notícias relacionadas à práticas de crime e raramente com destaque como
profissional do meio jornalístico: “são raros os casos de especialistas negros
entrevistados em matérias de economia e política”.
Quantos negros estão nas bancadas de telejornais? Não é difícil identificar no
cotidiano, nos diferentes âmbitos do jornalismo, qual é o lugar destinado ao negro. Um
exemplo disso foi a repercussão da jornalista Maria Júlia Coutinho ao ter mais espaço
nos telejornais. A jornalista negra começou como a “garota do tempo” e logo passou a
ocupar posição de destaque, algo percebido pela mídia - devido à cor de sua pele - e
muito discutido.
“O frisson causado pela presença da jornalista Maria Júlia Coutinho no quadro
fixo do Jornal Nacional é um bom exemplo da negação da diferença e da
produção do racismo. Parte da sociedade não assume enxergar a diferença
dela, a sua negritude. Mas bastou ela ocupar um lugar ao qual não era
historicamente “destinada” para enxergarem a sua pretidão” (DIPLOMATIQUE,
2017, on-line).
A empresa de perfumaria e cosméticos O Boticário protagonizou um intenso
debate com uma campanha de Dia dos Pais. A marca optou por fazer um comercial
com uma família negra, pai, mãe e filhos negros. É possível interpretar a iniciativa
como uma tentativa de propor a representatividade negra, mas profissionais da
publicidade, comunicadores e ativistas do movimento negro não receberam bem a
proposta da marca, vendo como uma tentativa separatista de ilustrar uma família.
De modo geral, as propagandas apresentam famílias brancas ou (raramente)
famílias negras, nunca famílias inter-raciais. O que valoriza o imaginário racista de que
negro só se relaciona com negro e branco só se relaciona com branco, evidenciando a
separação étnico-racial.
A partir da conversa com meus entrevistados que citaram a campanha do O
Boticário como um exemplo de representação negra negativa, uma jornalista que atua
com comunicação publicitária e um professor de jornalismo, pude compreender o
motivo da aversão à propaganda. Não que esteja errado ter uma família totalmente
negra em um comercial, é importante que tenha espaço para negros e famílias negras,
mas a abordagem requer cuidados. Falta representatividade negra na mídia, logo a
representatividade proposta deve ser real e buscar quebrar estereótipos que colaboram
com o racismo na sociedade.
Estes argumentos justificam-se devido à influência que os meios de
comunicação têm ao formar padrões sociais desde a infância. Neusa Santos (1983)
nos diz que imagens, palavras e opiniões podem manifestar o ideal de brancura desde
muito cedo. Citando Jurandir Ribeiro Costa, a autora fala que desde crianças somos
expostos à ilustrações e situações que nos fazem acreditar o quão bom é ser branco e
logo, a sociedade nos mostra que a cultura é branca, que a civilização na qual vivemos
é branca, “em uma palavra, a Humanidade é branca” (p. 11).
A brancura detém o olhar do negro antes que ele penetre a falha do branco. A
brancura abstraída, retificada, alçada à condição de realidade autônoma,
independente de quem a porta enquanto atributo étnico, ou, mais precisamente
racial. [...] Hipnotizado pelo fetiche do branco, ele está condenado a negar tudo
aquilo que contradiga o mito da brancura (COSTA, 1982 apud SANTOS, 1983,
p.4).
Diante do reforço diário da inferioridade do negro nos meios de comunicação,
nos questionamos como as marcas do racismo afetaram toda a estrutura social e
consequentemente podem interferir nos relacionamentos afetivo-sexuais entre negros e
brancos.
6. DESCRIÇÃO DO PRODUTO
Todos os olhos em mim: a presença do racismo nos relacionamentos
inter-raciais é o título deste projeto que tem como produto um livro-reportagem. Com o
foco de aprofundar-se nas experiências vivenciadas por pessoas negras e em como
elas se sentem ao enfrentar as dificuldades de se relacionar com uma pessoa branca,
o formato escolhido se justifica como o mais adequado, segundo Edvaldo Pereira Lima,
que afirma que o “livro-reportagem preenche lacunas deixadas por outros canais e
veículos de comunicação avançando para um aprofundamento” (LIMA, 2008, p. 4).
Sob a ótica de Lima, podemos afirmar que abordamos um assunto atual que
propõe diferentes análises e enfoques possíveis, sendo o livro-reportagem um meio
eficiente para o objetivo proposto no projeto. Além disso, com a apresentação de perfis,
temos a humanização da fonte.
Toda boa narrativa do real só se justifica se nela encontramos protagonistas e
personagens humanos tratados com o devido cuidado, com a extensão
necessária e com a lucidez onde nem os endeusamos nem os vilipendiamos.
Queremos antes de tudo descobrir o nosso semelhante em sua dimensão
humana real, com suas virtudes e fraquezas, grandezas e limitações (LIMA,
2008, p. 359).
À este aspecto, encontrei no livro-reportagem o produto mais adequado para a
finalidade pretendida com este projeto, que sobretudo, traz histórias aprofundadas nas
percepções, sentimentos e situações marcantes de cada personagem.
Paula Rocha e Cintia Xavier definem o livro-reportagem como uma “extensão da
reportagem” que dialoga com diferentes gêneros jornalísticos e citam os conceitos da
autora portuguesa Mar de Fontcuberta (1999) para relacionar a prática jornalística ao12
livro-reportagem, apontando três características mais visíveis do jornalismo no
desenvolvimento de um livro. São elas: acontecimento, atualidade e período.
12
Livro “A Notícia: pistas para compreender o mundo” publicado em 1999 em Lisboa, Portugal.
Considera-se um livro-reportagem quando uma obra trata de acontecimentos ou
de fenômenos reais e utiliza, para sua produção, procedimentos metodológicos
inerentes ao campo do jornalismo, sem, contudo, descartar certa nuances
literárias (ROCHA; XAVIER, 2013, p. 144).
Segundo Rocha e Xavier, o livro-reportagem é uma das formas de
desenvolvimento dos jornalistas já que propicia a criação de textos diferenciados.
As autoras também apontam um crescimento deste modelo de fazer jornalismo no
circuito editorial e justificam o aumento dessas publicações com “a queda do custo da
impressão, a possibilidade de publicar em novas plataformas, o interesse do
público” (p. 141).
Outro ponto importante que contribuiu para a escolha do produto desta pesquisa
é o fato de que o livro-reportagem nos permitiu ultrapassar os limites da cobertura de
acontecimentos cotidianos mostrando outros ângulos, com uma obra perene - que
nunca será esquecida. O que Felipe Pena (2006) denomina como forma de
potencializar os recursos jornalísticos, proporcionando uma visão ampla da realidade.
O jornalista literário não ignora o que aprendeu no jornalismo diário. Nem joga
suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é desenvolvê-las de tal maneira
que acaba constituindo novas estratégias profissionais. Mas os velhos e bons
princípios da redação continuam extremamente importantes, como, por exemplo,
a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a capacidade de
se expressar claramente, entre outras coisas (PENA, 2006, p. 6).
6.1 Definição do projeto gráfico
O racismo é estruturado nas diferentes relações sociais e por isso tornou-se
habitual ao cotidiano, fazendo com que as pessoas sequer o percebesse mais,
acostumando-se a conviver com ele com a desculpa que faz parte da nossa cultura. E,
por esse motivo, a composição gráfica do livro-reportagem foi pensada a fim de
aproximar o leitor das realidades apresentadas, visto que o tema requer sensibilidade e
também há a necessidade de contextualização.
Dois ilustradores realizaram a criação dos desenhos presentes no livro. Um
criará ilustrações para o interior e outro a arte da capa. Na capa foi trabalhada uma
ilustração de um personagem negro que está no olho do furacão, a fim de representar
o título do projeto e o que a situação enfrentada representa sentimentalmente para ele.
Já o interior do livro conta com ilustrações que retratam o tema abordado.
O design do produto e diagramação foi realizado por um designer gráfico
contratado para que as ideias pudessem ser elaboradas de maneira profissional,
seguindo de maneira fiel o que foi elaborado, visto que não havia habilidade técnica
para a execução desta parte do projeto.
O tamanho do livro foi escolhido nas medidas 14x21. Escolhemos um tamanho
que permitisse ser carregado facilmente, que não apresentasse alto custo por ser
grande demais, mas que também não fosse muito pequeno podendo evidenciar as
ilustrações e fotos. A escolha das folhas para impressão foi o papel offset para que o
objetivo de manter o custo baixo numa possível veiculação fosse mantido.
6.2 Desenvolvimento das partes do produto
Cada capítulo foi composto por um perfil que tem por objetivo relatar e descrever
a vivência e sentimentos dos entrevistados enquanto um indivíduo negro que passou
ou passa pelo desafio de se relacionar afetivo-sexualmente com um parceiro branco,
relatando uma experiência marcante.
O título de cada perfil foi escolhido de acordo com a coleta de informações com
o entrevistado. Buscamos intitular as histórias de modo a evidenciar qual a maior
dificuldade de cada um ao se relacionar com pessoas brancas, ao mesmo tempo que o
título também coincide ​com problemas enfrentados por pessoas negras em uma
relação inter-racial ​em diferentes fases da vida.
A intenção aqui foi dar destaque para a singularidade de cada história sem
deixar de lado a similaridade dos problemas enfrentados pela população negra.
6.3 Público-alvo
Ao idealizar este projeto, enxergamos como público-alvo tanto as pessoas
negras que estão ou já estiveram em relações inter-raciais quanto pessoas brancas ou
que se identificam com o tema. Afinal, como falarmos do racismo, a fim de propor um
convívio menos desigual entre as etnias, sem a presença da comunidade branca no
debate reconhecendo sua branquitude?
7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Vieira (2010), discorre sobre o roteiro essencial para a realização de uma
pesquisa e nos alerta da importância dos procedimentos metodológicos para
desenvolvimento de um projeto que envolve pesquisas científicas.
[...] a forma e o tipo de investigação a ser empreendida diferem em algum grau,
de acordo com a necessidade de cada pesquisador. Assim sendo, tanto o
método a ser empregado para a execução da pesquisa científica quanto os
procedimentos gerais de organização e apresentação terão de ser adequados
para cada caso (VIEIRA, 2010, p. 45).
Para apuração deste projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), os
métodos utilizados serão: entrevista, pesquisa bibliográfica e pesquisa de dados. Os
autores estudados, além de fornecer base (seja documental ou bibliográfica), por meio
de suas pesquisas, nos oferece referências ricas para uma boa coleta de informações.
7.1 Entrevista semi-estruturada e de profundidade
Sobre o método a ser utilizado para a realização de entrevista, a ideia de diálogo
ideal exposta por Cremilda de Araújo Medina (1986), se adequa perfeitamente ao papel
da entrevista como método jornalístico neste projeto.
A entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social
[...] Para além da troca de experiências, informações, juízos de valor, há uma
ambição ousada que filósofos como Martin Buber já dimensionaram: o diálogo
que atinge a interação humana criadora, ou seja, ambos os partícipes do jogo da
entrevista interagem, se modificam, se revelam, crescem no conhecimento do
mundo e deles próprios. Esta situação, que pode ser rotulada de ideal, se realiza
no cotidiano, até mesmo em uma entrevista jornalística levada às últimas
consequências (MEDINA, 1986, p. 8).
As entrevistas foram desenvolvidas tomando como ponto de partida a ideia de
Medina. Houve interação com os entrevistados. A partir de questões pré-definidas, o
diálogo discorreu à vontade, deixando o entrevistado se aprofundar e revelar a si
mesmo, de forma que o conteúdo captado trouxesse reflexão ao leitor.
Buscando dividir a entrevista em temas e tópicos e extrair as informações que
contribuíram para o desenvolvimento do projeto, utilizamos a metodologia de entrevista
semi-estruturada, que possibilita incluir perguntas, além das já roteirizadas, de uma
maneira mais livre e semi-aberta.
“Um roteiro bem elaborado não significa que o entrevistador deva tornar-se
refém das perguntas elaboradas antecipadamente à coleta, principalmente
porque uma das características da entrevista semi-estruturada é a possibilidade
de fazer outras perguntas na tentativa de compreender a informação que está
sendo dada ou mesmo a possibilidade de indagar sobre questões momentâneas
à entrevista, que parecem ter relevância para aquilo que está sendo estudado”
(MANZINI, 2004, p. 6).
7.2 Perfil e jornalismo literário
A fim de nos aprofundarmos nas experiências dos casais inter-raciais, será
desenvolvido um perfil do entrevistado através de uma entrevista de profundidade “na
qual o pesquisador constantemente interage com o informante. Sua principal função é
retratar as experiências vivenciadas por pessoas, grupos ou organizações” (BONI;
QUARESMA, 2005, p.73).
Segundo Lima (2010), o jornalismo literário tem uma natureza visual e propõe
uma linguagem detalhada dos acontecimentos, suprindo muito bem a necessidade de
informar, aproximar o leitor dos fatos oferecendo uma experiência sensorial, como se o
próprio leitor estivesse vivenciando ou presenciando as cenas descritas.
Por isso, para um perfil, o gênero cai como uma luva. Com profundidade e forte
caracterização, é possível contar histórias de maneira criativa, além de observar e
poder oferecer outros ângulos para a narrativa.
Em ​Jornalismo Literário Para Iniciantes (2010)​, Edvaldo Pereira Lima, nos
apresenta, de maneira simples, as principais características desta linguagem e também
sua relação com o chamado ​jornalismo convencional​:
[...] um modo bom para transmitir informação de um modo ligeiro, rápido, sem
necessariamente aprofundar-se. Este é o modo dominante no jornalismo. A
outra forma de se contar [uma história] é a cena. Os propósitos, os elementos
que o compõem, os objetivos que se quer alcançar são bem diferentes (LIMA,
2010, p. 15).
O perfil é uma narrativa que apresenta trechos marcantes da vida da pessoa
entrevistada. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, no livro Técnica de
reportagem – notas sobre a narrativa jornalística (1986), perfil “significa dar enfoque na
pessoa – seja uma celebridade, seja um tipo popular, mas sempre o focalizado é
protagonista da história: sua própria vida” (SODRÉ;FERRARI, 1986, p. 126).
Sendo assim, utilizar perfis na constituição do livro-reportagem desenvolvido a
partir deste projeto permitiu que a apuração jornalística fosse aprofundada com
destaque na vida do entrevistado e suas percepções acerca dos relacionamentos
experienciados.
7.3 Pesquisa Bibliográfica
Iniciamos a pesquisa bibliográfica pelo artigo do sociólogo Henrique Restier da
Costa Souza, no portal Justificando. ​O mal-estar da masculinidade negra
contemporânea (2017) fala da sexualização e estereótipo “animalesco” que permeia o
13
homem de pele preta, e que por decorrência disso, tem seus relacionamentos afetados
negativamente:
13
Disponível em:
<​http://justificando.cartacapital.com.br/2017/08/16/o-mal-estar-da-masculinidade-negra-contemporanea/​>
Acesso em mar. 2018
[...] grande parte da virilidade do homem negro se resume às suas capacidades
físicas e talentos sexuais, em um flagrante processo de animalização, em que é
reduzida sua “capacidade de controle sobre si e sobre o social”. Em ambos os
casos nos tornarmos um “homem” construído a partir do olhar e ações da
branquitude (SOUZA, 2017).
E, a fim de mergulhar nas relações inter-raciais, buscamos informações em
materiais que tratassem as dificuldades sofridas por um indivíduo negro tanto no
âmbito social quanto político. A fim de obter tais informações sob uma perspectiva de
gênero - visto que é um fator influente nas relações de casais inter-raciais, procurei
trabalhos como ​Mulheres, Raça e Classe (DAVIS, 1981) que aborda os desafios da
mulher negra e toda a sexualização que a envolve nas relações de trabalho (quando
encrava) e perante a sociedade (enquanto mulher livre).
A partir da reflexão proposta no texto de Souza, e da leitura de Davis, procurei
por outros materiais relacionados, e mais profundos, e cheguei a teses acadêmicas que
seriam as grandes fontes referenciais para este projeto.
O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um Racismo Mascarado
(NASCIMENTO, 1976), se destaca por analisar dados de pesquisas estatísticas
realizadas durante o período colonial no Brasil. Por vezes, relata situações nas quais
as relações inter-raciais são problemáticas devido ao racismo e comprova os fatos com
dados como os do censo da década de 1950, além de utilizar como base de análise
algumas pesquisas quantitativas sobre “raça”, realizadas por sociólogos brasileiros e
também estrangeiros.
As pesquisas foram realizadas no Google Academy utilizando palavras-chave
como: relacionamentos inter-raciais, racismo, estereótipo negro. Em sites de livrarias
pesquisei por temas relacionados ao tema chegando aos livros citados. Uma das
plataformas consultadas que teve grande contribuição foi o site da ABPN (Associação
Brasileira de Pesquisadores Negros), onde tivemos acesso à publicações acadêmicas
relacionadas ao tema abordado.
7.3 Pesquisa em Banco de Dados
Com o objetivo de confrontar estatísticas antigas com pesquisas atuais, foi
consultada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) ,
14
realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), buscando por
dados sobre a disparidade social entre negros e brancos nos âmbitos, profissionais,
educacionais e nas relações de classe social. O Mapa da Violência (2016) também foi
15
consultado como base de dados para insumo dessas relações sociais.
Entende-se por banco de dados uma coletânea de informações organizadas que
podem ser consultadas, sendo útil para a finalidade de pesquisa qualitativa e
quantitativa. Para Henry Korth (1994), um banco de dados “é uma coleção de dados
inter-relacionados, representando informações sobre um domínio específico”, como
podemos ver, por exemplo, nas pesquisas realizadas pelo IBGE.
14
Disponível em:
<​https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18282-pnad-c-
moradores.html​> Acesso em: mar. 2018.
15
Disponível em: <​https://www.mapadaviolencia.org.br/​> Acesso em mar. 2018.
8.​ ​CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa diferentes perfis de pessoas
negras e de casais inter-raciais foram entrevistados. Ao final, a escolha dos perfis
redigidos se deu pela pluralidade das histórias, em busca do objetivo de refletir acerca
de realidades e experiências distintas. Além de tornar visível quais são os obstáculos
enfrentados pelo corpo negro no relacionamento com uma pessoa branca.
Considero importante destacar, que mesmo que manifestado de modo diverso,
foi possível perceber que o racismo que afeta os relacionamentos inter-raciais atinge o
corpo negro de modo à desmerecê-lo enquanto parceiro. O negro, ao se relacionar
com uma pessoa branca, tem suas qualidades postas em xeque a todo momento. Tem
sua presença questionada a todo momento. E tem sua cor notada a todo momento em
todos os lugares.
Por vezes, os entrevistados citaram frases que ouviram e que acompanharam
suas vidas como um eco: "Namorar uma negra é passageiro"; "Você só está com
branco por ascensão social"; "Ele é bandido, fique longe" ou "Europeu gosta de negra".
Afirmações que refletem os papéis ao qual o negro foi condicionado pela branquitude.
Papéis estes que estão fincados em seu aspecto físico: cor, força, ginga, sexo. Fatores
apontados por Laura Moutinho (2004) como frutos originados da escravatura. Com
relação à visão estereotipada da mulher negra, Moutinho nos diz que o “sistema social
relegava a negra aos caprichos e prazeres dos senhores” e com o passar das décadas
a imagem da negra sensual e “pronta à prostituir-se” não foi destruída. Quanto ao
homem negro, a autora aponta a ideologia de sua masculinidade que resulta, no que
ela chama, uma batalha das cores. Moutinho diz que esta batalha tornou-se uma
“vigorosa competição envolvendo tamanhos, tempo de coito e outros critérios de
desempenho sexual”. A partir disso, é possível afirmar que os conflitos amorosos de
hoje não ficaram isentos destas construções do que é o negro e a negra.
Todos os entrevistados atribuíram aos meios de comunicação a
responsabilidade de disseminar e alimentar o estereótipo negro, seja em novelas,
filmes ou propagandas publicitárias. Quanto à isso, Neusa Santos (1983) nos diz que
imagens, palavras e opiniões podem manifestar o ideal de brancura desde muito cedo.
Citando Jurandir Ribeiro Costa, a autora fala que desde crianças somos expostos à
ilustrações e situações que nos fazem acreditar o quão bom é ser branco:
A brancura detém o olhar do negro antes que ele penetre a falha
do branco. A brancura abstraída, retificada, alçada à condição de
realidade autônoma, independente de quem a porta enquanto atributo
étnico, ou, mais precisamente racial. (COSTA, 1982 apud SANTOS,
1983, p.4).
O fator mídia na representação de pessoas negras e de relações amorosas com
indivíduos de pele branca nos permitiu identificar que antes mesmo de se envolver
afetivo-sexualmente o negro passa por um processo árduo de aceitação da própria
imagem. A imagem que é negativamente estereotipada, julgada, desmerecida e
invisibilizada na sociedade e que resulta em relacionamentos inter-raciais deficientes
ou repleto de marcas.
10. REFERÊNCIAS
ALVES, Claudete. ​A solidão da mulher negra​: sua subjetividade e seu preterimento
pelo homem negro na cidade de São Paulo. 2008. 174 f. Mestrado em Ciências Sociais
- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.
BARROS, Zelinda dos Santos. ​Casais inter-raciais e suas representações acerca
de raça​. 2003. 199 f. Pós-Graduação em Ciências Sociais - Universidade Federal da
Bahia: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Salvador, 2003.
BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer
entrevistas em Ciências Sociais. ​Em Tese - Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos
em Sociologia Política da UFSC​, Florianópolis, n. 1, p. 68-80, janeiro-julho 2005.
DAVIS, Angela. ​Mulheres, Raça e Classe.​ São Paulo: Boitempo, 2016.
FONTCUBERTA, M. ​A notícia​: pistas para compreender o mundo. Lisboa: Notícias,
1999.
KORTH, H.F.; SILBERSCHATZ, A.; ​Sistemas de Bancos de Dados​. 2. ed. São Paulo:
Makron Books, 1994.
LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; VALA, Jorge. As novas formas de expressão do
preconceito e do racismo. ​Estudos de Psicologia​, n. 3, p. 401-411. 2004.
LIMA, Edvaldo Pereira. ​Páginas ampliadas​: o livro-reportagem como extensão do
jornalismo e da literatura. 4. ed. São Paulo: Manole, 2008.
LIMA, Edvaldo Pereira. ​Jornalismo Literário Para Iniciantes​. São Paulo: EDUSP,
2014.
MACHADO, Edilene Pereira; RODRIGUES, Vera. Amor não tem cor?! Gênero e
raça/cor na seletividade afetiva de homens e mulheres negros(as) na Bahia e no Rio
Grande do Sul. ​Revista da ABPN​,​ ​Goiânia, n. 2, p. 157-181, julho-outubro 2010.
MANZINI, Eduardo José. ​Entrevista semi-estruturada​: análise de objetivos e de
roteiros. 2004. 10 f. Departamento de Educação Especial do Programa de Pós
Graduação em Educação - Universidade Estadual São Paulo (UNESP), Marília, SP.
2004.
MEDINA, Cremilda de Araújo. ​Entrevista​: O diálogo possível. São Paulo: Ática, 2008.
MIELKE, Ana Claúdia. Negros e mídia: invisibilidades. ​Le Monde Diplomatique Brasil​,
São Paulo, 27 mar. 2017. Disponível em:
<https://diplomatique.org.br/negros-e-midia-invisibilidades/>. Acesso em: ago. 2018.
MONTEIRO, Fabiano Dias. Até que as cores os separem: discriminação racial e
conflito em relações afetivo-sexuais no Rio de Janeiro. ​Enfoques ​- Revista eletrônica
dos alunos do PPGSA/IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, n. 08, p. 47-66, 2009.
MOUTINHO, Laura. ​Razão, "cor" e desejo​: uma análise comparativa sobre
relacionamentos afetivo-sexuais "inter-raciais" no Brasil e na África do Sul. São Paulo:
UNESP, 2004.
NASCIMENTO, Abdias. ​Genocídio do Negro do Brasil​: processo de um racismo
mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016.
ROCHA, Paula Melani; XAVIER, Cintia. O livro-reportagem e suas especificidades no
campo jornalístico. ​Rumores - Revista Online de Comunicação, Linguagem e
Mídias​, Paraná , n. 14, volume 7, julho-dezembro 2013.
SANTOS, Tássio da Silva. “Tem minha cor?”: Breve estudo sobre raça e o mercado
brasileiro de maquiagem. In: VI SEMINÁRIO DO PROGRAMA DA PÓS GRADUAÇÃO
EM CIÊNCIAS SOCIAIS: CULTURA, DESIGUALDADE E DESENVOLVIMENTO -
UFRB. ​GT 04 – Gênero, Raça e Subalternidades​. Bahia: Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, 2016.
SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. ​Técnica de reportagem​ – notas sobre a
narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986.
SOUZA, Henrique Restier da Costa. O mal-estar da masculinidade negra
contemporânea. ​Justificando​, São Paulo, 16 ago. 2017. Disponível em:
<http://justificando.cartacapital.com.br/2017/08/16/o-mal-estar-da-masculinidade-negra-
contemporanea/> . Acesso em: mar. 2018.
SOUZA, Neusa Santos. ​Tornar-se negro​: as vicissitudes da identidade do negro
brasileiro em ascensão social. São Paulo: Graal, 1990.

Weitere ähnliche Inhalte

Ähnlich wie Todos os olhos em mim

#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...
#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...
#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...Rafael Krambeck
 
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio SantoroOnde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoroguesta7e113
 
A mulher negra no cinema
A mulher negra no cinemaA mulher negra no cinema
A mulher negra no cinemaAndréa Matias
 
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomentoA mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomentoRamiro Ribeiro
 
Catalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rj
Catalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rjCatalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rj
Catalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rjIara Viana
 
Racismo no brasil
Racismo no brasilRacismo no brasil
Racismo no brasilFabio Cruz
 
O Racismo Estrutural no Mercado de Trabalho
O Racismo Estrutural no Mercado de TrabalhoO Racismo Estrutural no Mercado de Trabalho
O Racismo Estrutural no Mercado de TrabalhoRoosevelt F. Abrantes
 
Avaliação sociologia 3 c
Avaliação sociologia 3 cAvaliação sociologia 3 c
Avaliação sociologia 3 cMarcia Oliveira
 
Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...
Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...
Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...Aparecida De Jesus Ferreira
 
Representação do negro na tv resumo das disciplinas - uol vestibular
Representação do negro na tv  resumo das disciplinas - uol vestibularRepresentação do negro na tv  resumo das disciplinas - uol vestibular
Representação do negro na tv resumo das disciplinas - uol vestibularelenir duarte dias
 
Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]dgmansur
 
Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]dgmansur
 
Sobre racismo estrutural no Brasil.pdf
Sobre racismo estrutural no Brasil.pdfSobre racismo estrutural no Brasil.pdf
Sobre racismo estrutural no Brasil.pdfssuser0320e8
 
Mídia e identidade feminina mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...
Mídia e identidade feminina   mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...Mídia e identidade feminina   mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...
Mídia e identidade feminina mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...Civone Medeiros
 

Ähnlich wie Todos os olhos em mim (20)

#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...
#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...
#SEMCENSURA: o duplo vínculo entre a comunicação midiática e as redes digitai...
 
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio SantoroOnde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoro
 
A mulher negra no cinema
A mulher negra no cinemaA mulher negra no cinema
A mulher negra no cinema
 
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomentoA mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
A mulher-na-producao-cultural-brasileira-invisibilidade-e-fomento
 
Catalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rj
Catalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rjCatalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rj
Catalogo cinema diretoras_negrasnocinemabrasileiro_rj
 
Racismo no brasil
Racismo no brasilRacismo no brasil
Racismo no brasil
 
O Racismo Estrutural no Mercado de Trabalho
O Racismo Estrutural no Mercado de TrabalhoO Racismo Estrutural no Mercado de Trabalho
O Racismo Estrutural no Mercado de Trabalho
 
Avaliação sociologia 3 c
Avaliação sociologia 3 cAvaliação sociologia 3 c
Avaliação sociologia 3 c
 
Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...
Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...
Ferreira, Aparecida de Jesus. Identidades sociais, letramento visual e letram...
 
Representação do negro na tv resumo das disciplinas - uol vestibular
Representação do negro na tv  resumo das disciplinas - uol vestibularRepresentação do negro na tv  resumo das disciplinas - uol vestibular
Representação do negro na tv resumo das disciplinas - uol vestibular
 
Perspectiva de genero e raça
Perspectiva de genero e raçaPerspectiva de genero e raça
Perspectiva de genero e raça
 
Catalogo NEX - 2ªedição
Catalogo NEX -  2ªediçãoCatalogo NEX -  2ªedição
Catalogo NEX - 2ªedição
 
Revista AÚ
Revista AÚ Revista AÚ
Revista AÚ
 
Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]
 
Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]Artigo%20 blog%201[1]
Artigo%20 blog%201[1]
 
Estereótipos sobre o racista
Estereótipos sobre o racistaEstereótipos sobre o racista
Estereótipos sobre o racista
 
Sobre racismo estrutural no Brasil.pdf
Sobre racismo estrutural no Brasil.pdfSobre racismo estrutural no Brasil.pdf
Sobre racismo estrutural no Brasil.pdf
 
Mídia e identidade feminina mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...
Mídia e identidade feminina   mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...Mídia e identidade feminina   mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...
Mídia e identidade feminina mudanças na imagem da mulher no audiovisual bra...
 
Educação Antirracista-1.pptx
Educação Antirracista-1.pptxEducação Antirracista-1.pptx
Educação Antirracista-1.pptx
 
Racismo "virtual"?
Racismo "virtual"?Racismo "virtual"?
Racismo "virtual"?
 

Kürzlich hochgeladen

PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...HELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfHELENO FAVACHO
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médiorosenilrucks
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptssuser2b53fe
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxLusGlissonGud
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 

Kürzlich hochgeladen (20)

PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 

Todos os olhos em mim

  • 1. FIAM-FAAM - CENTRO UNIVERSITÁRIO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO Aline Santos de Campos TODOS OS OLHOS EM MIM: a presença do racismo nos relacionamentos inter-raciais São Paulo 2018
  • 2. Aline Santos de Campos Todos os olhos em mim A presença do racismo nos relacionamentos inter-raciais Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao FIAM-FAAM – Centro Universitário como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo sob a orientação da Professora Doutora Maria Lúcia da Silva. São Paulo 2018
  • 3. RESUMO Nos últimos anos, o racismo tem sido cada vez mais debatido. A mídia, impressa e digital, por sua vez, tem aberto espaço para que o assunto seja disseminado. A falsa democracia racial, mais que nunca, está deflagrada, e mesmo com este cenário, pessoas negras continuam sendo vistas apenas por sua cor. Diante disso, este projeto apresenta histórias reais de pessoas que vivenciam o preconceito, literalmente na pele. Como é para um corpo negro estar em um relacionamento com um parceiro branco? Com o objetivo de apontar os principais fatores que perpetuam as marcas do racismo no dia a dia dessas pessoas, considerando a influência da mídia, espera-se, como resultado, propor uma reflexão acerca do assunto e discutir sobre os efeitos na vida amorosa de pessoas negras e na sociedade. Palavras-chave​: jornalismo, livro-reportagem, racismo, mídia, estereótipo, casais inter-raciais, corpo negro.
  • 4. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO​.............................................................................................................5 2. PROBLEMA​.................................................................................................................8 3. OBJETIVOS​.................................................................................................................9 3.1. Geral...............................................................................................................9 3.2. Específicos......................................................................................................9 4. JUSTIFICATIVA​..........................................................................................................10 5. REFERENCIAL TEÓRICO​.........................................................................................13 5.1 A manutenção do preconceito racial e o racismo contemporâneo..…………14 5.2 Fatores que evidenciam as marcas do racismo nos relacionamentos inter-raciais…………………………………….……………………………………….16 5.3 A mídia como disseminadora do estereótipo negro e a influências nas relações afetivas entre negros e brancos…………………………………………..…..…..19 6. DESCRIÇÃO DO PRODUTO​.....................................................................................23 6.1 Definição do projeto gráfico...........................................................................25 6.2 Desenvolvimento das partes do produto.......................................................26 6.3 Público-alvo...................................................................................................27 7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS​...................................................................28 7.1 Entrevista semi-estruturada e de profundidade.............................................28 7.2 Perfil e jornalismo literário..............................................................................29 7.3 Pesquisa Bibliográfica....................................................................................30 7.4 Pesquisa em Banco de Dados.......................................................................32 8.​ ​CONSIDERAÇÕES FINAIS​.......................................................................................33 09.​ ​REFERÊNCIAS​........................................................................................................35
  • 5. ​1. INTRODUÇÃO Como mulher, afrodescendente, diagnosticada parda pelo IBGE e pela sociedade, com uma família altamente miscigenada, mãe de uma criança negra, há tempos tenho estudado e me aprofundado nos debates étnico-raciais. É preciso refletir e rever esses conceitos ​diariamente para que o processo de autoconhecimento como pessoa negra seja reafirmado diariamente. Em um país que pratica o racismo velado, a aceitação da origem negra ainda é um tabu, e se torna um fator que afeta as relações inter-raciais entre indivíduos brancos e negros. Racismo velado este que é definido por Marcos Eugênio e Jorge Vala como racismo cordial que se apresenta discretamente nas relações1 interpessoais. A inter-racialidade se faz presente em todos os âmbitos das relações étnico-raciais - assim como a desigualdade racial -, mas não está presente em propagandas, por exemplo. Ou a família representada é em sua totalidade branca ou toda formada por negros. Há inúmeras estatísticas que comprovam que os cidadãos à margem da sociedade tem uma característica em comum. Sabemos que a cor da margem é preta. Mas e nos relacionamentos amorosos inter-raciais entre negros e branco​s? Como é ser um corpo negro, que representa mais da metade da população brasileira , mas que ao2 mesmo tempo está só em todos os lugares? Como é lidar com situações de racismo quando um casal é destacado pelas diferenças em sua cor da pele? ​Quais são os fatores que influenciam na manutenção do racismo? Quais as maiores dificuldades na vida amorosa? São estas respostas que serão buscadas nas entrevistas realizadas com pessoas negras de realidades e experiências diferentes. 1 As novas formas de expressão do preconceito e do racismo, 2004. 2 De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2016, o Brasil tem 54,9% da população autodeclarada negra. Dado disponível em: <​https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18282-pnad-c- moradores.html​> Acesso em: mar. 2018.
  • 6. Essa pesquisa, que será conteúdo de um livro-reportagem, tem por objetivo apresentar personagens reais de uma vivência ainda abordada superficialmente em nosso cotidiano e responder a seguinte pergunta: quais são as dificuldades de ser um corpo negro em um relacionamento inter-racial? No que diz respeito aos fatores que colaboram para que o racismo seja perpetuado, afetando a maneira como negros e brancos se relacionam, a mídia, por exemplo, tem grande parcela de influência com os estereótipos apresentados em novelas, séries e filmes. Esta afirmação se justifica com a apresentação de personagens negros. Um exemplo simples disto, é que ainda temos a maioria - senão quase todas - as empregadas negras nas telenovelas (detalhe para os mordomos sempre brancos que têm um papel similar ao do capitão-do-mato na época da escravatura, com uma posição superior aos empregados). Levando em consideração as dificuldades e o atraso social devido ao racismo ainda presente em nossa sociedade, percebemos que são muitos os fatores que influenciam na disseminação do preconceito racial, e a mídia é apenas um deles. Chegamos a vivenciar literalmente na pele as marcas do racismo nas relações. Ao mesmo tempo que temos casais negros em evidência como Lázaro Ramos e Taís Araújo, Barack e Michelle Obama, ainda temos como referência à seguir Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert, David e Victoria Beckham. Algum casal inter-racial está em evidência? Para além disso, há uma falta de representação de casais inter-raciais. As novelas, em sua maioria, apresentam de modo superficial casais que enfrentam o preconceito pela diferença de cor que vem sempre acompanhada de diferença de classe social. Nos últimos anos, algumas séries tiveram destaques por aprofundarem a discussão sobre o tema, inclusive evidenciando o quão nocivo pode ser o racismo em
  • 7. um relacionamento inter-racial. É o caso das criações “Dear White People” (2017,3 Justin Simien) e “Atlanta” (2016, Donald Glover).4 Na primeira, as tensões que envolvem raça são representadas de maneira nua e crua retratando a vida de estudantes universitários negros que estudam em uma universidade com predominância de pessoas brancas. No recorte das relações, aborda desde a não aceitação de um parceiro branco no ciclo de amizade negro à ascensão de pessoas negras que frequentam grupos elitizados. Já a segunda, é uma série que acompanha a vida de dois primos que buscam melhorar suas vidas e de suas famílias por meio do RAP. Tem um foco voltado para desigualdades, dificuldades familiares e aos perigos que a população negra está exposta em um bairro tradicionalmente perigoso. Ao tratar das desigualdades, a série discorre sobre os privilégios da branquitude e a marginalização do negro. Um dos episódios, traz um casal inter-racial, onde a mulher negra ascendeu ao se casar com um empresário branco. Amigos do casal adotaram crianças negras e são viciados em tudo que envolve a cultura africana - e claro, com todos têm empregados negros. Eles e o próprio marido tratam o corpo negro e sua história como atração turística levando o personagem principal a concluir que “todo branco quer ter seu negro de estimação”. De acordo com Zenilda Barros, podemos avaliar a representação de casais inter-raciais como uma denúncia de uma idealização existente na sociedade. Ou seja, estes relacionamentos são representados de acordo com um padrão estereotipado das relações raciais, que segundo a autora, é formado levando em consideração os fatores de classe e gênero. Ao identificar as representações de casais inter-raciais (branco/negro) percebemos como estes operam com o conceito de “raça”, ao mesmo tempo em que podemos notar a influência de classe e gênero nestas representações. 3 Série criada e dirigida por Justin Simien (baseada no filme de mesmo nome lançado em 2014). Com estreia no ano de 2017, está em sua segunda temporada. 4 Lançada em 2016, a série é de autoria e direção de Donald Glover e produzida pelo canal FX. Está em sua segunda temporada, já renovada para a terceira temporada.
  • 8. Logo, podemos entender que as tensões que permeiam as relações raciais estão intrinsecamente ligadas às diferenças de classe e posição na pirâmide social. Enquanto vermos casais brancos como padrão a seguir, o negro vai continuar à margem da sociedade e, consequentemente, as relações inter-raciais continuarão sofrendo como uma minoria discriminada remando contra a maré.
  • 9. 2. PROBLEMA Quais são as dificuldades de ser um corpo negro em um relacionamento inter-racial?
  • 10. 3. OBJETIVO 3.1 Geral Expor experiências de pessoas negras que têm ou já estiveram em um relacionamento amoroso inter-racial. 3.2 Específicos ● Discutir como estes casais são apresentados nos meios de comunicação; ● Identificar como o estereótipo do negro influência nesses relacionamentos; ● Evidenciar as dificuldades que uma pessoa negra sofre ao viver um relacionamento inter-racial.
  • 11. 4. JUSTIFICATIVA A temporada 2017 do folhetim adolescente da Rede Globo Malhação trouxe5 debates sociais polêmicos, como racismo e homossexualidade. Intitulada "Viva as Diferenças!", um dos casais da trama era formado por um garoto negro e uma garota de descendência japonesa, que enfrentavam o preconceito por seu relacionamento amoroso inter-racial. No mesmo ano, o filme vencedor do Oscar de melhor Roteiro Adaptado, ​“Get Out” (2017, Jordan Peele), retrata as dificuldades de um relacionamento entre uma6 mulher branca e um homem negro. O longa apresenta o estereótipo negro, de uma maneira aterrorizante, como o principal fator do preconceito racial. De acordo com os dados de moradores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) , realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 7 Estatística (IBGE), no ano de 2016, a população autodeclarada parda representava 46,7% dos brasileiros contra apenas 8,2% de pretos. Número este que evidencia que o Brasil tem 54,9% de habitantes autodeclarados afrodescendentes. Sobre os dados apresentados, é importante pontuar que o percentual de afrodescentes no país tende a ser muito maior, visto que a pesquisa leva em consideração a autodeclaração, ou seja, como o indivíduo se identifica com relação a sua cor de pele. Em seu documentário ​Nega que é nega não nega ser nega não (2015), Fábio Nunez , nos apresenta as barreiras enfrentadas por mulheres negras, nos traz relatos8 de vida, situações de racismo e dá luz ao dilema do pardo versus negro. Propõe ainda 5 Novela de protagonismo jovem que em 2017 foi reformulada e abordou temas atuais. 6 Filme lançado no Brasil sob o título de “Corra!”, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado. 7 Disponível em: <​https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18282-pnad-c- moradores.html​> Acesso em: mar. 2018. 8 Produção independente do músico Fábio Nunez que viajou o Brasil em busca de histórias de mulheres negras.
  • 12. uma reflexão sobre as dificuldades em se reconhecer como uma pessoa negra, comportamento resultante do racismo presente nas relações cotidianas. Entre os trabalhos que propõem discussões sobre as dificuldades das relações inter-raciais entre negros e brancos, está Abdias Nascimento (1976), que nos apresenta fatos durante a colonização do Brasil que explicam o porquê de as relações inter-raciais serem vistas com maus olhos. A palavra "intercasar" é menos que apropriada para designar esse tipo de interação sexual. Um velho ditado, tão popular hoje como há um século, revela quão ilusórias e falsas são essas designações promovidas a serviço das classes dirigentes. O conceito popular difere por inteiro e restabelece a situação real: Branca para casar Negra para trabalhar Mulata para fornicar O mito da "democracia racial" enfatiza a popularidade da mulata como "prova" de abertura e saúde das relações raciais no Brasil. No entanto, sua posição na sociedade mostra que o fato social exprime-se corretamente de acordo com o ditado popular (NASCIMENTO, 1976, p. 62). Destaque para o fato de o livro de Nascimento ter sido publicado no ano de9 1976 propondo, a partir de dados, uma análise desde a colonização do Brasil em 1500 até então, mas estamos em 2018 e pouco mudou - o que é possível constatar em trabalhos mais recentes sobre o tema. Claudete Alves é uma dessas autoras contemporâneas, que apresenta uma profunda reflexão sobre os relacionamentos inter-raciais e aborda a "preferência" dos homens negros por mulheres brancas. Em sua pesquisa A solidão da mulher negra - sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro na cidade de São Paulo (2008), a autora constatou que o racismo que permeia as relações, inclusive, levam a mulher negra a sofrer ainda mais, pois também não é a preferida de homens negros: “A associação inter-racial foi vista como vantajosa para o homem negro, no sentido da sua ascensão social, e muito desvantajosa para a mulher negra pela tendência observada 9 “O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado”, publicado em 1976 pelo poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico e professor Abdias Nascimento (1914-2011).
  • 13. da predominância de pares inter-raciais, quais sejam homem negro-mulher branca” (ALVES, 2008, p. 6). Atualmente, no âmbito digital, há plataformas e canais no YouTube que evidenciam as dificuldades amorosas sofridas por ser uma pessoa negra, como o Afros e Afins , da influencer digital e estudante de Ciências Sociais Nátaly Neri. Para 10 exemplificar a realidade de estar em um relacionamento inter-racial, a youtuber chegou a gravar um vídeo falando sobre sua experiência pessoal em um relacionamento com uma pessoa branca, onde expôs as dificuldades e situações de preconceito pelas quais passou. Diante da forte discussão sobre o preconceito étnico-racial, o meios de comunicação têm o dever social de estudar, pautar e propor reportagens ou campanhas sobre o tema. Para Laura Moutinho (2004), grande parte das obras literárias e clássicos da sociologia, por exemplo, apresentam o preconceito com as relações inter-raciais de modo ligado à discriminação de classe social, evidenciando o protagonismo branco nas relações de poder como conhecemos hoje. Da forma como percebo, os autores que interpretam o contato sexual inter-racial e, consequentemente, a mestiçagem como um campo que mobiliza diferenciados elementos de prestígio que os negros podem manipular para se inserir no chamado mundo branco, estão mais próximos da noção de classe, tal como definiu Max Weber (MOUTINHO, 2004, p. 179). Ou seja, a posição social de negros e brancos nos relacionamentos contribui para as dificuldades sociais e amorosas destes relacionamentos, além de fortalecer a falsa democracia racial. Sendo assim, para o entendimento dos desafios vivenciados nos relacionamentos inter-raciais entre pessoas de peles preta e branca, antes, é necessário entender a construção histórica que levou a tais desafios e a atual conjuntura social que os mantém. 10 Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCjivwB8MrrGCMlIuoSdkrQg> Acesso em: abr. 2018
  • 14. 5. REFERENCIAL TEÓRICO Como citado anteriormente, só é possível compreender as dificuldades dos relacionamentos inter-raciais a partir de uma reflexão sobre a construção do racismo no Brasil. Durante o período colonial, os relacionamentos entre brancos e negros se deu por meio de uma miscigenação forçada, na qual a mulher negra teve sua sexualidade submetida ao interesse de seus senhores brancos, que buscavam prazeres extraconjugais e também desejavam branquear a população, dando origem aos “mulatos”. A população mulata e mestiça, no século XVII, passou por uma tentativa de genocídio, devido a ideologias como a de degeneração de raça, difundida por Arthur de Gobineau. Segundo Thomas E. Skidmore (1976), o teórico acreditava que a mistura de raças resultava em indivíduos degenerados biologicamente e intelectualmente e ao chegar no Brasil, Gobineau se deparou com uma população “totalmente mulata, viciada no sangue e assustadoramente feia” (SKIDMORE, 1976 apud FERREIRA, 2018, p. 79). Nem um só brasileiro tem sangue puro porque os exemplos de casamentos entre brancos, índios e negros são tão disseminados que as nuances de cor são infinitas, causando uma degeneração do tipo mais deprimente tanto nas classes baixas quanto nas superiores (SKIDMORE, 1976 apud FERREIRA, 2018, p. 79). Já no final do século XIX, médicos influentes no território brasileiro queriam ter o poder de criar leis exclusivas para cada raça, dando início ao racismo científico. Raimundo Nina Rodrigues foi um destes médicos pensadores que defendiam tal pensamento que com o passar dos anos deu início a um projeto de esterilização da população mestiça. Ideologias como estas, bem como os resquícios da escravidão, foram perpetuadas ao longo dos anos, mantendo a desigualdade racial mesmo que com novas formas de manifestação do racismo.
  • 15. 5.1 A manutenção do preconceito racial e o racismo contemporâneo No artigo de Marcus Eugênio de Lima e Jorge Vala (2004), os autores abordam as diferentes formas da prática do racismo existentes e suas diferenças, e nos mostram que toda esta conjuntura da “política” racial no Brasil, suas raízes históricas e seus frutos deu surgimento a diferentes expressões do preconceito racial. Um deles, o que mais se assemelha à sociedade brasileira, é o racismo cordial definido como uma forma de discriminação contra os cidadãos não brancos (negros e mulatos), que se caracteriza por uma polidez superficial que reveste atitudes e comportamentos discriminatórios, que se expressam ao nível das relações interpessoais através de piadas, ditos populares e brincadeiras de cunho “racial” (LIMA; VALA, 2004, p. 7). Lima e Vala afirmam que o preconceito racial está enraizado na sociedade e que tem predominância predominante nas relações interpessoais. Sendo assim, é possível afirmar que o racismo continua, se alimenta dos resquícios do passado, colhe o que foi plantado, mas agora em novos formatos. Esta ideia é reforçada no trecho a seguir: Todavia, novas e mais sofisticadas formas de expressão do preconceito e do racismo têm surgido, corporificando muitos comportamentos cotidianos de discriminação, quer ao nível institucional, quer ao nível interpessoal (LIMA; VALA, 2004, p. 1). Podemos notar que tanto as obras mais antigas quanto as contemporâneas remontam ao preconceito racial como centro do problema entre os relacionamentos, deflagrando que o racismo continua mesmo que se apresente de maneira diferente. Zenilda Barros (2003), com base em pesquisas por amostra, também expõe como a autoidentificação do indivíduo negro é conflituosa e fator importante nos relacionamentos nos quais há diferença nos tons de pele. A situacionalidade da identidade é percebida pelos entrevistados, pois descreveram diversas ocasiões em que puderam vivenciar situações em que
  • 16. foram diferentemente identificados. Um exemplo disso são as entrevistadas negras, que entre amigos são identificadas como “morenas”, como “negras” pela família do marido ou como “neguinhas” quando são ofendidas (BARROS, 2003, p. 99). Ao introduzir fatores decorrentes da intolerância racial que afetam a vida a dois, a autora aponta a existência de estereótipos negativos contra os negros. Os quais se fazem notar nos dias de hoje com “uma modificação na etiqueta de relações raciais: ou se é rico(a), bonito(a), inteligente e, consequentemente branco(a), ou negro(a), mas rico(a), negro(a), mas boa pessoa, negro(a), mas educado(a) ou negro, mas bonito” (BARROS, 2003, p. 25). Aqui, temos uma clara representação do racismo contemporâneo. Umas das maneiras como se apresenta na sociedade é destacando a cor da pele ao usar um adjetivo. Expressões, como: “Fulano é negro, mas é inteligente” ou “Que negra linda!”, quem nunca ouviu? 5.2 Fatores que evidenciam as marcas do racismo nos relacionamentos inter-raciais Abdias Nascimento (1976) aponta como iniciou-se o processo de miscigenação no Brasil e como as relações afetivo-sexuais entre negros e brancos foi utilizada como estratégia de extermínio da população negra no país. O processo de miscigenação, fundamentado na exploração sexual da mulher negra, foi erguido como um fenômeno de puro e simples genocídio. O “problema” seria resolvido pela eliminação da população afrodescendente. Com o crescimento da população mulata, a raça negra iria desaparecendo sob a coação do progressivo clareamento da população do país (NASCIMENTO, 1976, p. 69). Assim, deu-se início o processo de branqueamento da população brasileira. O nascimento dos filhos bastardos “mulatos”, tempos depois, se tornaria o símbolo da
  • 17. “democracia racial”, mas como destacado por Nascimento, a democracia racial era uma falácia que não refletia a real situação social de um escravo ou descendente africano no Brasil. Porém, a despeito de qualquer vantagem de status social como ponte étnica destinada à salvação da raça ariana, a posição do mulato essencialmente equivale àquela do negro: ambos vítimas de igual desprezo, idêntico preconceito e discriminação, cercados pelo mesmo desdém da sociedade brasileira institucionalmente branca (NASCIMENTO, 1976, p. 83). A tese de doutorado de Lia Vainer Schucman (2012), se comparada à obra de Nascimento, é um trabalho contemporâneo que evidencia como as históricas práticas racistas se perpetuaram na sociedade brasileira. Valendo-se da psicologia social e do entendimento do racismo contemporâneo, a pesquisa de Schucman busca compreender a hierarquização social com base na cor da pele. Foi identificado que homens negros comumente se relacionam com mulheres brancas por uma questão de ascensão social, mesmo que de maneira inconsciente, evidenciando que as ​“mulheres negras que, muitas vezes, pelos estereótipos a que estão submetidas, podem encontrar mais dificuldades na seleção de parceiros amorosos” (TELLES, 2008 apud SCHUCMAN, 2012). Quando analisamos os efeitos do racismo nas relações étnico-raciais, consequentemente, nos deparamos com debates como os conceitos de colorismo, gênero e classe social. Isso porque só é possível falar de como o preconceito racial se manifesta nos relacionamentos levando em consideração toda a problemática social que o rodeia. Acerca do gênero, Moutinho (2004) e Alves (2008) tratam da vulnerabilidade da mulher negra, mostrando que gênero também é um fator que apresenta forte influência nos relacionamentos entre pessoas brancas e negras. Quanto ao colorismo, este está intrinsecamente ligado à miscigenação. Segundo Tássio da Silva Santos (2016), o colorismo ou pigmentocracia é uma das formas
  • 18. “danosas” de praticar o preconceito racial, enquanto no racismo a cor da pele é o quesito orientador, no colorismo o fator principal é o fenótipo. De acordo com ele, o colorismo é o conceito que organiza pessoas negras em tons de pele mais claro à mais escuro definindo o nível de tolerância da sociedade com a cor do indivíduo. “Mesmo sendo lida como negras, ter a pele mais clara significa ser mais tolerada aos olhos da branquitude, apesar de não ocupar o lugar e nem usufruir dos privilégios de uma pessoa caucasiana” (SANTOS, 2016, p. 4). Logo, é possível perceber que o grau de melanina na pele pode amenizar ou potencializar as dificuldades nestes relacionamentos inter-raciais. Já Zenilda Barros (2003) nos fala de como o racismo age de forma distinta de acordo com a condição social do indivíduo: O homem negro é melhor aceito como par quando tem status superior ao da esposa branca, o que serve para “compensar” a diferença entre os dois. - Os casamentos mais aprovados são aqueles que ocorrem entre brancos e mulatos, que são “indivíduos de características antropofísicas não muito distantes” (AZEVEDO,1976, p. 63 apud BARROS, 2003). Assim como na pesquisa de Schucman, Claudete Alves (2008) evidencia que o 11 estereótipo da mulher negra, também citado por Nascimento (1976), continua como um cancro nas relações étnico-raciais, nos dias atuais. Além de colocar a mulher negra em um posto de inferioridade frente à mulher branca. Alves investiga possibilidades que expliquem o porquê da inferiorização da mulher negra em um relacionamento amoroso. Um dos fatores identificados foi a preocupação dos homens com sua própria ascensão social. Outra possibilidade que explica essa escolha seria o desejo de ascensão social, projetado nessa relação, que faria o homem negro decidir-se pela mulher branca. Isso nos permite pressupor que seus atributos identitários como gênero, raça/raça/sexualidade, uma vez reificados constituiriam-se em um dote de pouca monta que não habilitaria a mulher negra como competidora atrativa nesse leilão afetivo onde o homem negro é o bem mais disputado (ALVES, 2008, p. 69). 11 A Solidão da Mulher Negra: Sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro na cidade de São Paulo, tese que originou o livro ​Virou Regra?
  • 19. Em sua dissertação de mestrado, a autora deflagra a existência de uma problemática ainda maior nos relacionamentos inter-raciais, e identifica isso com base em uma aprofundada pesquisa e numa série de entrevistas realizadas com casais: As mulheres entrevistadas e as participantes do grupo focal concordam que os homens negros jovens, em idade de escolher a parceira conjugal, tendem a preferir a mulher branca em detrimento da mulher negra. Segundo estas mulheres, esta escolha é mais comum entre os homens negros que buscam uma ascensão social ou aqueles que já ocupam uma posição socioeconômica considerada vantajosa (ALVES, 2008, p. 75). A partir dos dados apresentados por Alves, é possível perceber que as relações amorosas entre negros e brancos passa pelo racismo antes mesmo de serem iniciadas, devido a predileção à cor branca. Com base nos autores estudados, entendemos que os conflitos nos relacionamentos amorosos inter-raciais tiveram início ainda no Brasil Colônia com a exploração sexual da mulher negra e, mesmo após a miscigenação, se mantiveram. Denotando também maior intolerância a casais formados por homem branco/mulher negra, como ressaltado em (MONTEIRO, 2009, p. 51), onde o autor reforça que “apesar da maior propensão nacional à miscigenação, o encontro entre parceiros amorosos de grupos raciais distintos (em particular, em casais formados por homens claros/mulheres escuras) tende a maiores turbulências e a níveis de conflito”. Os autores citados apresentam em suas obras a herança das relações inter-raciais que temos amargado com o passar dos anos, principalmente da sexualização da mulher negra, como Moutinho destaca no trecho a seguir: No Brasil, o desejo inter-racial, e não a mulata, é o elo que funda a nação. [..] trata-se do desejo viabilizado a partir de uma específica hierarquia de gênero e “raça” expresso, particularmente, no casal homem branco e mulher mestiça (MOUTINHO, 2004, p. 424).
  • 20. 5.3 A mídia como disseminadora do estereótipo negro e a influências nas relações afetivas entre negros e brancos Somos influenciados pelo ambiente ao qual estamos inseridos e pelas informações que recebemos. Segundo Alves (2008), de acordo com as pesquisas qualitativas realizadas com casais inter-raciais para sua dissertação, “as pessoas se motivam através da comunicação e a motivação é uma condição especial no processo de informação” (ALVES, 2008, p. 27). Para explicar sua afirmação, a autora cita o exemplo de uma de suas entrevistas que se mostrou insatisfeita com determinada rede de televisão “que segundo sua visão está contribuindo para fixar uma imagem desfavorável dos homens e mulheres negras, por meio de suas produções que apresentam os personagens negros em situações mais desvantajosas do que outros grupos étnicos” (ALVES, 2008, p. 98). A partir disso, podemos considerar que a mídia, em seus diferentes canais de comunicação, tem o poder de influenciar na maneira com a qual nos relacionamos, como lidamos com as diferenças e, neste caso, também na forma como a sociedade vê o corpo negro. Com o objetivo de contextualizar a influência da mídia nos relacionamentos inter-raciais, por meio de uma construção social estereotipada, a autora cita a construção do estereótipo negro décadas atrás, usando como exemplo a atuação de Nelson Rodrigues e de Abdias Nascimento, na apresentação de personagens negros de uma peça teatral: Ismael, o homem negro protagonista da peça de Nelson Rodrigues, fora criado para o próprio Abdias [Nascimento]. Nelson Rodrigues o concebeu como um “doutor de anel no dedo e orgulhoso de sua raça mas com todos os defeitos de um homem branco , amarelo ou furta-cor”. Contra o “negro moleque-gaiato” recorrente no teatro brasileiro (MOUTINHO, 2004, p. 149).
  • 21. Observando as caracterizações descritas, é possível identificar que tais rótulos continuam presentes na sociedade atual. Tendo a pesquisa de Alves como referência, concluímos que o estereótipo negro representado midiaticamente só tem fortalecido o racismo, influenciado negativamente na aceitação de um relacionamento inter-racial na sociedade e na aceitação do próprio indivíduo como cidadão negro. Acerca de como a inferioridade do negro, a partir da construção de um estereótipo sociocultural, influencia na escolha dos parceiros afetivo-sexuais, Edilene Machado Pereira e Vera Rodrigues (2010), analisam Gomes (2003) sobre a predileção de parceiros por cor: O entrelaçamento das razões citadas − beleza, cultura, ascensão social − que conferem importância ao quesito raça/cor nas escolhas afetivas remetem aos significados do corpo negro abordados por Gomes (2003). A autora ressalva a construção da representação social e da beleza do negro/a na sociedade brasileira, a partir da cor da pele e do cabelo, como marcas identitárias que convivem num jogo de tensão entre o atributo e o estigma. Esse tensionamento vem do padrão de beleza vigente que codifica o belo, em termos de pele branca/clara e cabelo longo/liso. Assim, essas percepções de beleza são valoradas, conforme se aproximam ou se afastam do padrão normativo (PEREIRA;RODRIGUES, 2010, p. 174). O trecho acima deixa claro como os padrões de beleza afetam na escolha de um parceiro amoroso e, à esse respeito, Alves elucidou muito bem ao citar os processos de comunicação como meios de disseminação e manutenção desses padrões. Negros e mídia: invisibilidades (2017), um dos artigos da série do jornal Le Monde Diplomatique Brasil sobre o racismo no meio midiático, aborda como o negro continua sendo estereotipado e colocado em situações de subalternidade. Os velhos papéis se repetem. Do lado negativo, o escravo, a “mulata” lasciva, a empregada doméstica, o preto bobo ou ignorante que faz a gente rir e o bandido. Do lado positivo, o jogador de futebol, o sambista ou aquele personagem que interpreta a exceção: o moço de família humilde que lutou muito e “venceu na vida”. Figuras que não são exclusividade dos produtos de ficção, visto que são assim também apresentados em programas de auditório e em quadros do jornalismo (DIPLOMATIQUE, 2017, online).
  • 22. O artigo, escrito por Ana Claudia Mielke, destaca a importância da representatividade negra e também trata da invisibilização de pessoas negras na mídia, principalmente televisiva. Além de chamar atenção para os estereótipos construídos pelos veículos de comunicação, algo reforçado com a imagem de quem dissemina a notícia com a de quem é noticiado como o criminoso da vez. Ao adentrar no jornalismo, o artigo do Diplomatique aponta que o negro só aparece nas notícias relacionadas à práticas de crime e raramente com destaque como profissional do meio jornalístico: “são raros os casos de especialistas negros entrevistados em matérias de economia e política”. Quantos negros estão nas bancadas de telejornais? Não é difícil identificar no cotidiano, nos diferentes âmbitos do jornalismo, qual é o lugar destinado ao negro. Um exemplo disso foi a repercussão da jornalista Maria Júlia Coutinho ao ter mais espaço nos telejornais. A jornalista negra começou como a “garota do tempo” e logo passou a ocupar posição de destaque, algo percebido pela mídia - devido à cor de sua pele - e muito discutido. “O frisson causado pela presença da jornalista Maria Júlia Coutinho no quadro fixo do Jornal Nacional é um bom exemplo da negação da diferença e da produção do racismo. Parte da sociedade não assume enxergar a diferença dela, a sua negritude. Mas bastou ela ocupar um lugar ao qual não era historicamente “destinada” para enxergarem a sua pretidão” (DIPLOMATIQUE, 2017, on-line). A empresa de perfumaria e cosméticos O Boticário protagonizou um intenso debate com uma campanha de Dia dos Pais. A marca optou por fazer um comercial com uma família negra, pai, mãe e filhos negros. É possível interpretar a iniciativa como uma tentativa de propor a representatividade negra, mas profissionais da publicidade, comunicadores e ativistas do movimento negro não receberam bem a proposta da marca, vendo como uma tentativa separatista de ilustrar uma família. De modo geral, as propagandas apresentam famílias brancas ou (raramente) famílias negras, nunca famílias inter-raciais. O que valoriza o imaginário racista de que
  • 23. negro só se relaciona com negro e branco só se relaciona com branco, evidenciando a separação étnico-racial. A partir da conversa com meus entrevistados que citaram a campanha do O Boticário como um exemplo de representação negra negativa, uma jornalista que atua com comunicação publicitária e um professor de jornalismo, pude compreender o motivo da aversão à propaganda. Não que esteja errado ter uma família totalmente negra em um comercial, é importante que tenha espaço para negros e famílias negras, mas a abordagem requer cuidados. Falta representatividade negra na mídia, logo a representatividade proposta deve ser real e buscar quebrar estereótipos que colaboram com o racismo na sociedade. Estes argumentos justificam-se devido à influência que os meios de comunicação têm ao formar padrões sociais desde a infância. Neusa Santos (1983) nos diz que imagens, palavras e opiniões podem manifestar o ideal de brancura desde muito cedo. Citando Jurandir Ribeiro Costa, a autora fala que desde crianças somos expostos à ilustrações e situações que nos fazem acreditar o quão bom é ser branco e logo, a sociedade nos mostra que a cultura é branca, que a civilização na qual vivemos é branca, “em uma palavra, a Humanidade é branca” (p. 11). A brancura detém o olhar do negro antes que ele penetre a falha do branco. A brancura abstraída, retificada, alçada à condição de realidade autônoma, independente de quem a porta enquanto atributo étnico, ou, mais precisamente racial. [...] Hipnotizado pelo fetiche do branco, ele está condenado a negar tudo aquilo que contradiga o mito da brancura (COSTA, 1982 apud SANTOS, 1983, p.4). Diante do reforço diário da inferioridade do negro nos meios de comunicação, nos questionamos como as marcas do racismo afetaram toda a estrutura social e consequentemente podem interferir nos relacionamentos afetivo-sexuais entre negros e brancos.
  • 24. 6. DESCRIÇÃO DO PRODUTO Todos os olhos em mim: a presença do racismo nos relacionamentos inter-raciais é o título deste projeto que tem como produto um livro-reportagem. Com o foco de aprofundar-se nas experiências vivenciadas por pessoas negras e em como elas se sentem ao enfrentar as dificuldades de se relacionar com uma pessoa branca, o formato escolhido se justifica como o mais adequado, segundo Edvaldo Pereira Lima, que afirma que o “livro-reportagem preenche lacunas deixadas por outros canais e veículos de comunicação avançando para um aprofundamento” (LIMA, 2008, p. 4). Sob a ótica de Lima, podemos afirmar que abordamos um assunto atual que propõe diferentes análises e enfoques possíveis, sendo o livro-reportagem um meio eficiente para o objetivo proposto no projeto. Além disso, com a apresentação de perfis, temos a humanização da fonte. Toda boa narrativa do real só se justifica se nela encontramos protagonistas e personagens humanos tratados com o devido cuidado, com a extensão necessária e com a lucidez onde nem os endeusamos nem os vilipendiamos. Queremos antes de tudo descobrir o nosso semelhante em sua dimensão humana real, com suas virtudes e fraquezas, grandezas e limitações (LIMA, 2008, p. 359). À este aspecto, encontrei no livro-reportagem o produto mais adequado para a finalidade pretendida com este projeto, que sobretudo, traz histórias aprofundadas nas percepções, sentimentos e situações marcantes de cada personagem. Paula Rocha e Cintia Xavier definem o livro-reportagem como uma “extensão da reportagem” que dialoga com diferentes gêneros jornalísticos e citam os conceitos da autora portuguesa Mar de Fontcuberta (1999) para relacionar a prática jornalística ao12 livro-reportagem, apontando três características mais visíveis do jornalismo no desenvolvimento de um livro. São elas: acontecimento, atualidade e período. 12 Livro “A Notícia: pistas para compreender o mundo” publicado em 1999 em Lisboa, Portugal.
  • 25. Considera-se um livro-reportagem quando uma obra trata de acontecimentos ou de fenômenos reais e utiliza, para sua produção, procedimentos metodológicos inerentes ao campo do jornalismo, sem, contudo, descartar certa nuances literárias (ROCHA; XAVIER, 2013, p. 144). Segundo Rocha e Xavier, o livro-reportagem é uma das formas de desenvolvimento dos jornalistas já que propicia a criação de textos diferenciados. As autoras também apontam um crescimento deste modelo de fazer jornalismo no circuito editorial e justificam o aumento dessas publicações com “a queda do custo da impressão, a possibilidade de publicar em novas plataformas, o interesse do público” (p. 141). Outro ponto importante que contribuiu para a escolha do produto desta pesquisa é o fato de que o livro-reportagem nos permitiu ultrapassar os limites da cobertura de acontecimentos cotidianos mostrando outros ângulos, com uma obra perene - que nunca será esquecida. O que Felipe Pena (2006) denomina como forma de potencializar os recursos jornalísticos, proporcionando uma visão ampla da realidade. O jornalista literário não ignora o que aprendeu no jornalismo diário. Nem joga suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é desenvolvê-las de tal maneira que acaba constituindo novas estratégias profissionais. Mas os velhos e bons princípios da redação continuam extremamente importantes, como, por exemplo, a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a capacidade de se expressar claramente, entre outras coisas (PENA, 2006, p. 6). 6.1 Definição do projeto gráfico O racismo é estruturado nas diferentes relações sociais e por isso tornou-se habitual ao cotidiano, fazendo com que as pessoas sequer o percebesse mais, acostumando-se a conviver com ele com a desculpa que faz parte da nossa cultura. E, por esse motivo, a composição gráfica do livro-reportagem foi pensada a fim de aproximar o leitor das realidades apresentadas, visto que o tema requer sensibilidade e também há a necessidade de contextualização.
  • 26. Dois ilustradores realizaram a criação dos desenhos presentes no livro. Um criará ilustrações para o interior e outro a arte da capa. Na capa foi trabalhada uma ilustração de um personagem negro que está no olho do furacão, a fim de representar o título do projeto e o que a situação enfrentada representa sentimentalmente para ele. Já o interior do livro conta com ilustrações que retratam o tema abordado. O design do produto e diagramação foi realizado por um designer gráfico contratado para que as ideias pudessem ser elaboradas de maneira profissional, seguindo de maneira fiel o que foi elaborado, visto que não havia habilidade técnica para a execução desta parte do projeto. O tamanho do livro foi escolhido nas medidas 14x21. Escolhemos um tamanho que permitisse ser carregado facilmente, que não apresentasse alto custo por ser grande demais, mas que também não fosse muito pequeno podendo evidenciar as ilustrações e fotos. A escolha das folhas para impressão foi o papel offset para que o objetivo de manter o custo baixo numa possível veiculação fosse mantido. 6.2 Desenvolvimento das partes do produto Cada capítulo foi composto por um perfil que tem por objetivo relatar e descrever a vivência e sentimentos dos entrevistados enquanto um indivíduo negro que passou ou passa pelo desafio de se relacionar afetivo-sexualmente com um parceiro branco, relatando uma experiência marcante. O título de cada perfil foi escolhido de acordo com a coleta de informações com o entrevistado. Buscamos intitular as histórias de modo a evidenciar qual a maior dificuldade de cada um ao se relacionar com pessoas brancas, ao mesmo tempo que o título também coincide ​com problemas enfrentados por pessoas negras em uma relação inter-racial ​em diferentes fases da vida. A intenção aqui foi dar destaque para a singularidade de cada história sem deixar de lado a similaridade dos problemas enfrentados pela população negra.
  • 27. 6.3 Público-alvo Ao idealizar este projeto, enxergamos como público-alvo tanto as pessoas negras que estão ou já estiveram em relações inter-raciais quanto pessoas brancas ou que se identificam com o tema. Afinal, como falarmos do racismo, a fim de propor um convívio menos desigual entre as etnias, sem a presença da comunidade branca no debate reconhecendo sua branquitude?
  • 28. 7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Vieira (2010), discorre sobre o roteiro essencial para a realização de uma pesquisa e nos alerta da importância dos procedimentos metodológicos para desenvolvimento de um projeto que envolve pesquisas científicas. [...] a forma e o tipo de investigação a ser empreendida diferem em algum grau, de acordo com a necessidade de cada pesquisador. Assim sendo, tanto o método a ser empregado para a execução da pesquisa científica quanto os procedimentos gerais de organização e apresentação terão de ser adequados para cada caso (VIEIRA, 2010, p. 45). Para apuração deste projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), os métodos utilizados serão: entrevista, pesquisa bibliográfica e pesquisa de dados. Os autores estudados, além de fornecer base (seja documental ou bibliográfica), por meio de suas pesquisas, nos oferece referências ricas para uma boa coleta de informações. 7.1 Entrevista semi-estruturada e de profundidade Sobre o método a ser utilizado para a realização de entrevista, a ideia de diálogo ideal exposta por Cremilda de Araújo Medina (1986), se adequa perfeitamente ao papel da entrevista como método jornalístico neste projeto. A entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social [...] Para além da troca de experiências, informações, juízos de valor, há uma ambição ousada que filósofos como Martin Buber já dimensionaram: o diálogo que atinge a interação humana criadora, ou seja, ambos os partícipes do jogo da entrevista interagem, se modificam, se revelam, crescem no conhecimento do mundo e deles próprios. Esta situação, que pode ser rotulada de ideal, se realiza no cotidiano, até mesmo em uma entrevista jornalística levada às últimas consequências (MEDINA, 1986, p. 8). As entrevistas foram desenvolvidas tomando como ponto de partida a ideia de Medina. Houve interação com os entrevistados. A partir de questões pré-definidas, o
  • 29. diálogo discorreu à vontade, deixando o entrevistado se aprofundar e revelar a si mesmo, de forma que o conteúdo captado trouxesse reflexão ao leitor. Buscando dividir a entrevista em temas e tópicos e extrair as informações que contribuíram para o desenvolvimento do projeto, utilizamos a metodologia de entrevista semi-estruturada, que possibilita incluir perguntas, além das já roteirizadas, de uma maneira mais livre e semi-aberta. “Um roteiro bem elaborado não significa que o entrevistador deva tornar-se refém das perguntas elaboradas antecipadamente à coleta, principalmente porque uma das características da entrevista semi-estruturada é a possibilidade de fazer outras perguntas na tentativa de compreender a informação que está sendo dada ou mesmo a possibilidade de indagar sobre questões momentâneas à entrevista, que parecem ter relevância para aquilo que está sendo estudado” (MANZINI, 2004, p. 6). 7.2 Perfil e jornalismo literário A fim de nos aprofundarmos nas experiências dos casais inter-raciais, será desenvolvido um perfil do entrevistado através de uma entrevista de profundidade “na qual o pesquisador constantemente interage com o informante. Sua principal função é retratar as experiências vivenciadas por pessoas, grupos ou organizações” (BONI; QUARESMA, 2005, p.73). Segundo Lima (2010), o jornalismo literário tem uma natureza visual e propõe uma linguagem detalhada dos acontecimentos, suprindo muito bem a necessidade de informar, aproximar o leitor dos fatos oferecendo uma experiência sensorial, como se o próprio leitor estivesse vivenciando ou presenciando as cenas descritas. Por isso, para um perfil, o gênero cai como uma luva. Com profundidade e forte caracterização, é possível contar histórias de maneira criativa, além de observar e poder oferecer outros ângulos para a narrativa.
  • 30. Em ​Jornalismo Literário Para Iniciantes (2010)​, Edvaldo Pereira Lima, nos apresenta, de maneira simples, as principais características desta linguagem e também sua relação com o chamado ​jornalismo convencional​: [...] um modo bom para transmitir informação de um modo ligeiro, rápido, sem necessariamente aprofundar-se. Este é o modo dominante no jornalismo. A outra forma de se contar [uma história] é a cena. Os propósitos, os elementos que o compõem, os objetivos que se quer alcançar são bem diferentes (LIMA, 2010, p. 15). O perfil é uma narrativa que apresenta trechos marcantes da vida da pessoa entrevistada. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, no livro Técnica de reportagem – notas sobre a narrativa jornalística (1986), perfil “significa dar enfoque na pessoa – seja uma celebridade, seja um tipo popular, mas sempre o focalizado é protagonista da história: sua própria vida” (SODRÉ;FERRARI, 1986, p. 126). Sendo assim, utilizar perfis na constituição do livro-reportagem desenvolvido a partir deste projeto permitiu que a apuração jornalística fosse aprofundada com destaque na vida do entrevistado e suas percepções acerca dos relacionamentos experienciados. 7.3 Pesquisa Bibliográfica Iniciamos a pesquisa bibliográfica pelo artigo do sociólogo Henrique Restier da Costa Souza, no portal Justificando. ​O mal-estar da masculinidade negra contemporânea (2017) fala da sexualização e estereótipo “animalesco” que permeia o 13 homem de pele preta, e que por decorrência disso, tem seus relacionamentos afetados negativamente: 13 Disponível em: <​http://justificando.cartacapital.com.br/2017/08/16/o-mal-estar-da-masculinidade-negra-contemporanea/​> Acesso em mar. 2018
  • 31. [...] grande parte da virilidade do homem negro se resume às suas capacidades físicas e talentos sexuais, em um flagrante processo de animalização, em que é reduzida sua “capacidade de controle sobre si e sobre o social”. Em ambos os casos nos tornarmos um “homem” construído a partir do olhar e ações da branquitude (SOUZA, 2017). E, a fim de mergulhar nas relações inter-raciais, buscamos informações em materiais que tratassem as dificuldades sofridas por um indivíduo negro tanto no âmbito social quanto político. A fim de obter tais informações sob uma perspectiva de gênero - visto que é um fator influente nas relações de casais inter-raciais, procurei trabalhos como ​Mulheres, Raça e Classe (DAVIS, 1981) que aborda os desafios da mulher negra e toda a sexualização que a envolve nas relações de trabalho (quando encrava) e perante a sociedade (enquanto mulher livre). A partir da reflexão proposta no texto de Souza, e da leitura de Davis, procurei por outros materiais relacionados, e mais profundos, e cheguei a teses acadêmicas que seriam as grandes fontes referenciais para este projeto. O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um Racismo Mascarado (NASCIMENTO, 1976), se destaca por analisar dados de pesquisas estatísticas realizadas durante o período colonial no Brasil. Por vezes, relata situações nas quais as relações inter-raciais são problemáticas devido ao racismo e comprova os fatos com dados como os do censo da década de 1950, além de utilizar como base de análise algumas pesquisas quantitativas sobre “raça”, realizadas por sociólogos brasileiros e também estrangeiros. As pesquisas foram realizadas no Google Academy utilizando palavras-chave como: relacionamentos inter-raciais, racismo, estereótipo negro. Em sites de livrarias pesquisei por temas relacionados ao tema chegando aos livros citados. Uma das plataformas consultadas que teve grande contribuição foi o site da ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores Negros), onde tivemos acesso à publicações acadêmicas relacionadas ao tema abordado.
  • 32. 7.3 Pesquisa em Banco de Dados Com o objetivo de confrontar estatísticas antigas com pesquisas atuais, foi consultada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) , 14 realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), buscando por dados sobre a disparidade social entre negros e brancos nos âmbitos, profissionais, educacionais e nas relações de classe social. O Mapa da Violência (2016) também foi 15 consultado como base de dados para insumo dessas relações sociais. Entende-se por banco de dados uma coletânea de informações organizadas que podem ser consultadas, sendo útil para a finalidade de pesquisa qualitativa e quantitativa. Para Henry Korth (1994), um banco de dados “é uma coleção de dados inter-relacionados, representando informações sobre um domínio específico”, como podemos ver, por exemplo, nas pesquisas realizadas pelo IBGE. 14 Disponível em: <​https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18282-pnad-c- moradores.html​> Acesso em: mar. 2018. 15 Disponível em: <​https://www.mapadaviolencia.org.br/​> Acesso em mar. 2018.
  • 33. 8.​ ​CONSIDERAÇÕES FINAIS Para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa diferentes perfis de pessoas negras e de casais inter-raciais foram entrevistados. Ao final, a escolha dos perfis redigidos se deu pela pluralidade das histórias, em busca do objetivo de refletir acerca de realidades e experiências distintas. Além de tornar visível quais são os obstáculos enfrentados pelo corpo negro no relacionamento com uma pessoa branca. Considero importante destacar, que mesmo que manifestado de modo diverso, foi possível perceber que o racismo que afeta os relacionamentos inter-raciais atinge o corpo negro de modo à desmerecê-lo enquanto parceiro. O negro, ao se relacionar com uma pessoa branca, tem suas qualidades postas em xeque a todo momento. Tem sua presença questionada a todo momento. E tem sua cor notada a todo momento em todos os lugares. Por vezes, os entrevistados citaram frases que ouviram e que acompanharam suas vidas como um eco: "Namorar uma negra é passageiro"; "Você só está com branco por ascensão social"; "Ele é bandido, fique longe" ou "Europeu gosta de negra". Afirmações que refletem os papéis ao qual o negro foi condicionado pela branquitude. Papéis estes que estão fincados em seu aspecto físico: cor, força, ginga, sexo. Fatores apontados por Laura Moutinho (2004) como frutos originados da escravatura. Com relação à visão estereotipada da mulher negra, Moutinho nos diz que o “sistema social relegava a negra aos caprichos e prazeres dos senhores” e com o passar das décadas a imagem da negra sensual e “pronta à prostituir-se” não foi destruída. Quanto ao homem negro, a autora aponta a ideologia de sua masculinidade que resulta, no que ela chama, uma batalha das cores. Moutinho diz que esta batalha tornou-se uma “vigorosa competição envolvendo tamanhos, tempo de coito e outros critérios de desempenho sexual”. A partir disso, é possível afirmar que os conflitos amorosos de hoje não ficaram isentos destas construções do que é o negro e a negra.
  • 34. Todos os entrevistados atribuíram aos meios de comunicação a responsabilidade de disseminar e alimentar o estereótipo negro, seja em novelas, filmes ou propagandas publicitárias. Quanto à isso, Neusa Santos (1983) nos diz que imagens, palavras e opiniões podem manifestar o ideal de brancura desde muito cedo. Citando Jurandir Ribeiro Costa, a autora fala que desde crianças somos expostos à ilustrações e situações que nos fazem acreditar o quão bom é ser branco: A brancura detém o olhar do negro antes que ele penetre a falha do branco. A brancura abstraída, retificada, alçada à condição de realidade autônoma, independente de quem a porta enquanto atributo étnico, ou, mais precisamente racial. (COSTA, 1982 apud SANTOS, 1983, p.4). O fator mídia na representação de pessoas negras e de relações amorosas com indivíduos de pele branca nos permitiu identificar que antes mesmo de se envolver afetivo-sexualmente o negro passa por um processo árduo de aceitação da própria imagem. A imagem que é negativamente estereotipada, julgada, desmerecida e invisibilizada na sociedade e que resulta em relacionamentos inter-raciais deficientes ou repleto de marcas.
  • 35. 10. REFERÊNCIAS ALVES, Claudete. ​A solidão da mulher negra​: sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro na cidade de São Paulo. 2008. 174 f. Mestrado em Ciências Sociais - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. BARROS, Zelinda dos Santos. ​Casais inter-raciais e suas representações acerca de raça​. 2003. 199 f. Pós-Graduação em Ciências Sociais - Universidade Federal da Bahia: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Salvador, 2003. BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. ​Em Tese - Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC​, Florianópolis, n. 1, p. 68-80, janeiro-julho 2005. DAVIS, Angela. ​Mulheres, Raça e Classe.​ São Paulo: Boitempo, 2016. FONTCUBERTA, M. ​A notícia​: pistas para compreender o mundo. Lisboa: Notícias, 1999. KORTH, H.F.; SILBERSCHATZ, A.; ​Sistemas de Bancos de Dados​. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994. LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; VALA, Jorge. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. ​Estudos de Psicologia​, n. 3, p. 401-411. 2004. LIMA, Edvaldo Pereira. ​Páginas ampliadas​: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 4. ed. São Paulo: Manole, 2008. LIMA, Edvaldo Pereira. ​Jornalismo Literário Para Iniciantes​. São Paulo: EDUSP, 2014. MACHADO, Edilene Pereira; RODRIGUES, Vera. Amor não tem cor?! Gênero e raça/cor na seletividade afetiva de homens e mulheres negros(as) na Bahia e no Rio Grande do Sul. ​Revista da ABPN​,​ ​Goiânia, n. 2, p. 157-181, julho-outubro 2010. MANZINI, Eduardo José. ​Entrevista semi-estruturada​: análise de objetivos e de roteiros. 2004. 10 f. Departamento de Educação Especial do Programa de Pós Graduação em Educação - Universidade Estadual São Paulo (UNESP), Marília, SP. 2004. MEDINA, Cremilda de Araújo. ​Entrevista​: O diálogo possível. São Paulo: Ática, 2008.
  • 36. MIELKE, Ana Claúdia. Negros e mídia: invisibilidades. ​Le Monde Diplomatique Brasil​, São Paulo, 27 mar. 2017. Disponível em: <https://diplomatique.org.br/negros-e-midia-invisibilidades/>. Acesso em: ago. 2018. MONTEIRO, Fabiano Dias. Até que as cores os separem: discriminação racial e conflito em relações afetivo-sexuais no Rio de Janeiro. ​Enfoques ​- Revista eletrônica dos alunos do PPGSA/IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, n. 08, p. 47-66, 2009. MOUTINHO, Laura. ​Razão, "cor" e desejo​: uma análise comparativa sobre relacionamentos afetivo-sexuais "inter-raciais" no Brasil e na África do Sul. São Paulo: UNESP, 2004. NASCIMENTO, Abdias. ​Genocídio do Negro do Brasil​: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016. ROCHA, Paula Melani; XAVIER, Cintia. O livro-reportagem e suas especificidades no campo jornalístico. ​Rumores - Revista Online de Comunicação, Linguagem e Mídias​, Paraná , n. 14, volume 7, julho-dezembro 2013. SANTOS, Tássio da Silva. “Tem minha cor?”: Breve estudo sobre raça e o mercado brasileiro de maquiagem. In: VI SEMINÁRIO DO PROGRAMA DA PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS: CULTURA, DESIGUALDADE E DESENVOLVIMENTO - UFRB. ​GT 04 – Gênero, Raça e Subalternidades​. Bahia: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2016. SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. ​Técnica de reportagem​ – notas sobre a narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986. SOUZA, Henrique Restier da Costa. O mal-estar da masculinidade negra contemporânea. ​Justificando​, São Paulo, 16 ago. 2017. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/08/16/o-mal-estar-da-masculinidade-negra- contemporanea/> . Acesso em: mar. 2018. SOUZA, Neusa Santos. ​Tornar-se negro​: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. São Paulo: Graal, 1990.