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O termo Pré-Modernismo foi criado por Trístão de
Ataíde (') para designar o período cultural brasileiro que vai
do princípio deste século à Semana de Arte Moderna.
Em que sentido devemos entendê-lo?
Cremos que em dois, nem sempre coincidentes:
1.°) dando ao prefixo "pré" uma conotação meramente
temporal de anterioridade;
2.°) dando ao mesmo elemento um sentido forfe de .pre-
cedência temática e formal em relação à literatura modernista.
No primeiro caso, é lícito dizer que poetas neoparnasia-
nos como Amadeu Amaral e Martins Fontes, ou prosadores
tradicionalistas como Rui Barbosa e Coelho Neto se inscrevem
no Pré-Modernismo, embora pelo segundo critério, mais rigo-
rosamente estético, seriam verdadeiros antimodernistas.
Assim, a inclusão nesta obra de muitos remanescentes da
cultura realista-parnasiana justifica-se pelo primeiro critério,
que aliás seria néscio desprezar, dada a imbricação das gera-
ções e a permanência, nas mais jovens, de certos valores tra-
dicionais operantes de modo especial nos chamados momentos
de transição, como o foi o Pré-Modernismo.
Fixada a cronologia, impõe-se a caracterização histórico-
-literária do período.
(1) Cf. Contribuição à História do Modernismo. O Pré-Moder-
nismo. Rio, José Olímpio, 1939.
U
Estamos na I República, fundada por uma mentalidade
positivista, agnóstica e liberal: persiste, em última análise, o
complexo cultural do último quartel do século XIX. A corrente
simbolista, expressa por poetas da altura de Cruz e Souza
e Alphonsus de Guimaraens, não penetrou no espírito das clas-
ses cultas senão muito superficialmente, deixando intacta a
formação parnasiana dominante. Por outro lado, o único pen-
sador que poderia, talvez, ter estruturado uma corrente espi-
ritualista em termos críticos — Farias Brito — não encontrou
eco na vida mental que o rodeava. Por isso, só por volta de
1922, quando as várias tendências do pensamento e da arte
europeia afetaram a consciência brasileira, é que será com-
preendida e assimilada a verdadeira revolução espiritual è
estética que trazia em seu bojo o Simbolismo. Assim, do ponto
de vista histórico, o Simbolismo dos fins do século, com seus
epígonos de pouco posteriores, não foi mais do que um epi-
sódio.
De modo geral, os géneros literários (lírica, ficção, crí-
tica etc.) no Pré-Modernismo indicam o prosseguimento e a
estilização dos já cultivados pelos escritores realistas, natura-
listas e parnasianos.
Entretanto, ao elemento conservador importa acrescentar
o renovador, aquele que justifica o segundo critério com que
definimos o termo Pré-Modernismo. Um Euclides, um Graça
Aranha, um Monteiro Lobato, um Lima Barreto injetam algo
de novo na literatura nacional, na medida em que se interes-
sam pelo que já se convencionouchamar "realidade brasileira".
Após um período de observação indireta, estritamente li-
terária, da sociedade burguesa do II Império, em que apare-
cem ficcionistas notáveis como Raul Pompéia, Machado de
Assis e Aluísio Azevedo; após um período no qual a poesia
se alienara em certo exotismo europeizante, quer em suas
formas parnasianas, quer nas simbolistas: eis que chega a
vez de um renovado debruçar-se sobre os problemas sociais
e morais do país.
O termo regionalismo, invocado para definir grande parte
da prosa narrativa pré-modernista, é, embora imperfeito, sinto-
mático: vale para narradores como Xavier Marques, Alcides
Maia, Simões Lopes Neto, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira
e outros menores. Não exaure, porém, o romance da época,
12
IIpois atém-se apenas ao fator ambiental, geográfico, das obras.
Melhor seria falar em nacionalismo em sentido lato, que inclui
atitudes polémicas, sentimentais ou irónicas, e que vai de
iMiclides a Lobato, passando por Graça Aranha e Lima Barreto.
O fato é que essa nova consciência das fontes nacionais,
já deslumbrada e lírica nos escritores românticos, passa agora
por uma fase de expansão mas também de revisão crítica, cuja
nota dominante parece às vezes um amoroso ressentimento,
mascarado de pessimismo. De qualquer forma, trata-se de um
prelúdio inequívoco do Modernismo.
O interesse em insular e aprofundar determinado período
da história literária deve, porém, ser moderado pela consciên-
cia do relativismo que todas as classificações implicam. No
caso do passado brasileiro, o fenómeno artístico não conta, em
geral, com aquelas condições de independência ideológica e
formal que consentem ao historiador ralar em "movimentos"
ou em "escolas", no sentido europeu dos termos. Parece, por-
tanto, mais válido sentir na continuidade dos temas e das sín-
teses expressivas tradicionais uma ou outra tendência corres-
pondente às necessidades e às aspirações da cultura nacional,
sem que por isso se deva pensar em unidades histórico-lite-
rárías vigorosamente diferenciadas.
Sob o ponto de vista do conteúdo e da problemática ex-
terna, a literatura pré-modernista reflete situações históricas
novas ou só então consideradas: a imigração alemã no Espí-
rito Santo (Canoa, de Graça Aranha), as alterações na paisa-
gem e na vida social da Capital (os romances de Coelho Neto
e de Lima Barreto), a miséria do caboclo nas zonas de deca-
dência económica (os contos de Lobato), sem falar na apai-
xonada análise —paradoxo que a seu tempo explicaremos—
do sertanejo nordestino fixada na obra-prima de Euclides.
Quanto à expressão estilística desses autores, é o estudo
individualizante que poderá determiná-la com precisão.
Em alguns prosadores, impõe-se um interesse regionalista
mais específico, que vai nos casos extremos, à incorporação
do semidialeto local à língua literária. Daí nasce uma síntese
não raro feliz de observação natural e sede romântica de sen-
timento, como nos contos paulistas de Valdomiro Silveira ou
gaúchos de Simões Lopes Neto.
13
No plano da consciência social e política, a mesma preo-
cupação absorvente pelo nacional, entroncando-se na tradição
realista de Tavares Bastos e Capistrano de Abreu, assume pou-
co a pouco matizes doutrinários: sirvam de exemplo as obras
de Euclides, de Alberto Torres e, sobretudo, as de Jackson de
Figueiredo e de Oliveira Viana, cuja influência se faria sentir
durante toda a primeira metade do século.
Se a prosa narrativa encontrava seu húmus na variada
estilização da vida brasileira, qual seria a situação na poesia?
Nesta, o problema do conteúdo histórico, pré-literário, vai-se
tornando menos relevante à medida que o poeta o assume e
se afirma como criador. De um ponto de vista rigorosamente
estético, não se pode asseverar a existência de grandes perso-
nalidades poéticas nesse vintênio. Se isolarmos Augusto dos
Anjos e Raul de Leoni, figuras sob mais de um aspecto excep-
cionais, encontraremos uma literatura em versos, epigônica,
que o prefixo "neo" procura batizar: neoparnasianos, neo-sim-
bolistas e até neoclássicos e neo-românticos, evidenciando um
sincretismo de inspiração e de gosto verbal de que se acham
quase sempre ausentes a originalidade e a profundidade.
Nem se pode esquecer que estavam ainda vivos e fecundos
os principais vultos que definiram o Parnasianismo e o Simbo-
lismo: Raimundo Correia (t 1911), Olavo Bilac (t 1918),
Francisca Júlia (t 1920), Alphonsus de Guimaraens (t 1921),
Vicente de Carvalho (t 1924), Luís Murat (t 1929), Augusto
de Lima (T 1934) e Alberto de Oliveira (t 1937), de sorte
que os próprios termos Neoparnasianismo e Neo-Simbolismo
revelam-se, em parte, inadequados. Temos poetas ainda par-
nasianos e ainda simbolistas, que se limitam a infundir o acen-
to particular de sua sensibilidade nos esquemas já consagrados.
Só depois da guerra, essa literatura, que recebia estímulo
de um recente passado, iria ceder aos golpes de uma radical
revisão de valores. Antes do grande conflito, é sabido que
vivíamos (e não só nós) ainda no século XIX, moralmente
tranquilos e assentados em convicções sociais e morais, cuja
fragilidade e progressiva deterioração já na velha Europa
haviam demonstrado algumas inteligências mais lúcidas ou
mais agônicas.
14
Quando chegaram até o Brasil os primeiros ecos do fas-
cismo e do comunismo, abalando os fundamentos de nosso
provinciano liberalismo; quando os vários mitos filosóficos e
artísticos que liquidaram a belle époque passaram a sacudir
os nossos intelectuais, aí então convém falar em fim do
Pré-Modernismo.
Estudados em outro volume desta série os epígonos sim-
bolistas (2), pareceu-nos supérfluo incluí-los em nosso pano-
rama, que fica assim estruturado:
a) a poesia neoparnasiana;
b) Augusto dos Anjos;
c) o conto regionalista e a prosa de arte;
d) o romance entre o documento e o ornamento;
e) Lima Barreto e Gra£a Aranha;
f) Rui, Euclides e outras vozes da cultura.
(2) Massaud Moisés,
bolismo, S. Paulo, 1967.
A Literatura Brasileira. Vol. IV.

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Pre modernismo --introducao_alfredo bosi

  • 1. O termo Pré-Modernismo foi criado por Trístão de Ataíde (') para designar o período cultural brasileiro que vai do princípio deste século à Semana de Arte Moderna. Em que sentido devemos entendê-lo? Cremos que em dois, nem sempre coincidentes: 1.°) dando ao prefixo "pré" uma conotação meramente temporal de anterioridade; 2.°) dando ao mesmo elemento um sentido forfe de .pre- cedência temática e formal em relação à literatura modernista. No primeiro caso, é lícito dizer que poetas neoparnasia- nos como Amadeu Amaral e Martins Fontes, ou prosadores tradicionalistas como Rui Barbosa e Coelho Neto se inscrevem no Pré-Modernismo, embora pelo segundo critério, mais rigo- rosamente estético, seriam verdadeiros antimodernistas. Assim, a inclusão nesta obra de muitos remanescentes da cultura realista-parnasiana justifica-se pelo primeiro critério, que aliás seria néscio desprezar, dada a imbricação das gera- ções e a permanência, nas mais jovens, de certos valores tra- dicionais operantes de modo especial nos chamados momentos de transição, como o foi o Pré-Modernismo. Fixada a cronologia, impõe-se a caracterização histórico- -literária do período. (1) Cf. Contribuição à História do Modernismo. O Pré-Moder- nismo. Rio, José Olímpio, 1939. U
  • 2. Estamos na I República, fundada por uma mentalidade positivista, agnóstica e liberal: persiste, em última análise, o complexo cultural do último quartel do século XIX. A corrente simbolista, expressa por poetas da altura de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens, não penetrou no espírito das clas- ses cultas senão muito superficialmente, deixando intacta a formação parnasiana dominante. Por outro lado, o único pen- sador que poderia, talvez, ter estruturado uma corrente espi- ritualista em termos críticos — Farias Brito — não encontrou eco na vida mental que o rodeava. Por isso, só por volta de 1922, quando as várias tendências do pensamento e da arte europeia afetaram a consciência brasileira, é que será com- preendida e assimilada a verdadeira revolução espiritual è estética que trazia em seu bojo o Simbolismo. Assim, do ponto de vista histórico, o Simbolismo dos fins do século, com seus epígonos de pouco posteriores, não foi mais do que um epi- sódio. De modo geral, os géneros literários (lírica, ficção, crí- tica etc.) no Pré-Modernismo indicam o prosseguimento e a estilização dos já cultivados pelos escritores realistas, natura- listas e parnasianos. Entretanto, ao elemento conservador importa acrescentar o renovador, aquele que justifica o segundo critério com que definimos o termo Pré-Modernismo. Um Euclides, um Graça Aranha, um Monteiro Lobato, um Lima Barreto injetam algo de novo na literatura nacional, na medida em que se interes- sam pelo que já se convencionouchamar "realidade brasileira". Após um período de observação indireta, estritamente li- terária, da sociedade burguesa do II Império, em que apare- cem ficcionistas notáveis como Raul Pompéia, Machado de Assis e Aluísio Azevedo; após um período no qual a poesia se alienara em certo exotismo europeizante, quer em suas formas parnasianas, quer nas simbolistas: eis que chega a vez de um renovado debruçar-se sobre os problemas sociais e morais do país. O termo regionalismo, invocado para definir grande parte da prosa narrativa pré-modernista, é, embora imperfeito, sinto- mático: vale para narradores como Xavier Marques, Alcides Maia, Simões Lopes Neto, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira e outros menores. Não exaure, porém, o romance da época, 12
  • 3. IIpois atém-se apenas ao fator ambiental, geográfico, das obras. Melhor seria falar em nacionalismo em sentido lato, que inclui atitudes polémicas, sentimentais ou irónicas, e que vai de iMiclides a Lobato, passando por Graça Aranha e Lima Barreto. O fato é que essa nova consciência das fontes nacionais, já deslumbrada e lírica nos escritores românticos, passa agora por uma fase de expansão mas também de revisão crítica, cuja nota dominante parece às vezes um amoroso ressentimento, mascarado de pessimismo. De qualquer forma, trata-se de um prelúdio inequívoco do Modernismo. O interesse em insular e aprofundar determinado período da história literária deve, porém, ser moderado pela consciên- cia do relativismo que todas as classificações implicam. No caso do passado brasileiro, o fenómeno artístico não conta, em geral, com aquelas condições de independência ideológica e formal que consentem ao historiador ralar em "movimentos" ou em "escolas", no sentido europeu dos termos. Parece, por- tanto, mais válido sentir na continuidade dos temas e das sín- teses expressivas tradicionais uma ou outra tendência corres- pondente às necessidades e às aspirações da cultura nacional, sem que por isso se deva pensar em unidades histórico-lite- rárías vigorosamente diferenciadas. Sob o ponto de vista do conteúdo e da problemática ex- terna, a literatura pré-modernista reflete situações históricas novas ou só então consideradas: a imigração alemã no Espí- rito Santo (Canoa, de Graça Aranha), as alterações na paisa- gem e na vida social da Capital (os romances de Coelho Neto e de Lima Barreto), a miséria do caboclo nas zonas de deca- dência económica (os contos de Lobato), sem falar na apai- xonada análise —paradoxo que a seu tempo explicaremos— do sertanejo nordestino fixada na obra-prima de Euclides. Quanto à expressão estilística desses autores, é o estudo individualizante que poderá determiná-la com precisão. Em alguns prosadores, impõe-se um interesse regionalista mais específico, que vai nos casos extremos, à incorporação do semidialeto local à língua literária. Daí nasce uma síntese não raro feliz de observação natural e sede romântica de sen- timento, como nos contos paulistas de Valdomiro Silveira ou gaúchos de Simões Lopes Neto. 13
  • 4. No plano da consciência social e política, a mesma preo- cupação absorvente pelo nacional, entroncando-se na tradição realista de Tavares Bastos e Capistrano de Abreu, assume pou- co a pouco matizes doutrinários: sirvam de exemplo as obras de Euclides, de Alberto Torres e, sobretudo, as de Jackson de Figueiredo e de Oliveira Viana, cuja influência se faria sentir durante toda a primeira metade do século. Se a prosa narrativa encontrava seu húmus na variada estilização da vida brasileira, qual seria a situação na poesia? Nesta, o problema do conteúdo histórico, pré-literário, vai-se tornando menos relevante à medida que o poeta o assume e se afirma como criador. De um ponto de vista rigorosamente estético, não se pode asseverar a existência de grandes perso- nalidades poéticas nesse vintênio. Se isolarmos Augusto dos Anjos e Raul de Leoni, figuras sob mais de um aspecto excep- cionais, encontraremos uma literatura em versos, epigônica, que o prefixo "neo" procura batizar: neoparnasianos, neo-sim- bolistas e até neoclássicos e neo-românticos, evidenciando um sincretismo de inspiração e de gosto verbal de que se acham quase sempre ausentes a originalidade e a profundidade. Nem se pode esquecer que estavam ainda vivos e fecundos os principais vultos que definiram o Parnasianismo e o Simbo- lismo: Raimundo Correia (t 1911), Olavo Bilac (t 1918), Francisca Júlia (t 1920), Alphonsus de Guimaraens (t 1921), Vicente de Carvalho (t 1924), Luís Murat (t 1929), Augusto de Lima (T 1934) e Alberto de Oliveira (t 1937), de sorte que os próprios termos Neoparnasianismo e Neo-Simbolismo revelam-se, em parte, inadequados. Temos poetas ainda par- nasianos e ainda simbolistas, que se limitam a infundir o acen- to particular de sua sensibilidade nos esquemas já consagrados. Só depois da guerra, essa literatura, que recebia estímulo de um recente passado, iria ceder aos golpes de uma radical revisão de valores. Antes do grande conflito, é sabido que vivíamos (e não só nós) ainda no século XIX, moralmente tranquilos e assentados em convicções sociais e morais, cuja fragilidade e progressiva deterioração já na velha Europa haviam demonstrado algumas inteligências mais lúcidas ou mais agônicas. 14
  • 5. Quando chegaram até o Brasil os primeiros ecos do fas- cismo e do comunismo, abalando os fundamentos de nosso provinciano liberalismo; quando os vários mitos filosóficos e artísticos que liquidaram a belle époque passaram a sacudir os nossos intelectuais, aí então convém falar em fim do Pré-Modernismo. Estudados em outro volume desta série os epígonos sim- bolistas (2), pareceu-nos supérfluo incluí-los em nosso pano- rama, que fica assim estruturado: a) a poesia neoparnasiana; b) Augusto dos Anjos; c) o conto regionalista e a prosa de arte; d) o romance entre o documento e o ornamento; e) Lima Barreto e Gra£a Aranha; f) Rui, Euclides e outras vozes da cultura. (2) Massaud Moisés, bolismo, S. Paulo, 1967. A Literatura Brasileira. Vol. IV.