O documento discute a interpretação de obras de arte. Afirma que a intenção do autor não é a única base para interpretação e que as obras podem significar coisas diferentes para diferentes pessoas. Também diz que interpretações inovadoras podem revelar significados nas obras além da intenção do criador original.
1. Hermenêutica Jurídica
Seminário:
“Between Authority and
Interpretation: On the Teory of
Law and Practical Reason”
Joseph Raz
Ana Júlia Saraiva e Gabriela Cafrune
2. Interpretar Momento em que explicamos, mostramos ou exibimos o
significado do objeto da nossa interpretação.
Autor chama de “o original”
Interpretação pode ser utilizada para recuperar o sentido que “o original” tem,
com a finalidade de que este torne-se claro para os que possam não o
compreender.
Autor menciona que se interpretação conduz à uma recuperação de sentido,
frequentemente somos tentados a pensar que a única função é recuperar a
intenção do autor (criador).
Desta forma, a idéia do autor é mostrar como as idéias associadas com a figura
de “recuperação” são errôneas e enganosas.
3. Joseph Raz escolhe focar seu estudo na interpretação das obras de arte,
música e literatura por dois motivos:
Tais trabalhos estão entre os objetos mais paradigmáticos da
interpretação;
E também porque todos nós estamos familiarizados com boas
interpretações destas obras, as quais são inovadoras e, portanto,
encontram-se em conflito com a visão de interpretação como recuperação
do sentido original da obra.
Se interpretação explica ou exibe o significado de obras da obra que está
sendo interpretada, então que outro sentido poderia ter esta obra de arte
senão o dado por seu criador?
Equívoco: O intérprete ou espectador, ao interpretar a obra, está
exibindo o que ele vê.
Embora o que o intérprete interpreta pode vir a estar correto, é falso
concluir que o intérprete pode encontrar qualquer significado na obra.
4. Interpretar é diferente de “ser tocado” pela obra e expressar pensamentos
ou emoções sentidas.
• O que é intenção de interpretar se não a intenção de mostrar ou explicar
o sentido da obra, que é o significado que de certa maneira já se tem?
• Se interpretação requer uma intenção de trazer a tona o significado que
a obra tem, isso não é um processo de recuperação?
• O que pode estar ali para se retirar que seja diferente do que foi posto
pelo próprio autor da obra?
O primeiro passo em direção à liberação do poder paradigmático da
intenção é notar que mesmo que interpretações levem às atitudes do
criador como chave do sucesso, não significa que estas estão fadadas a ser
somente uma retomada da intenção do autor.
Temos que distinguir o sentido da obra para o seu autor das emoções que
ele expressa nela.
5. O que a obra significa para o autor, bem como o que significa para
qualquer outra pessoa, difere-se do sentido que a obra realmente tem.
Exemplo, tendo como base Hamlet de Shakespeare:
Quando perguntamos “o que isso significa para você?” a resposta não pode
ser “significa para mim que Hamlet sentiu-se frustrado ao perder a mãe
pela segunda vez”
Isso pode ser o que Hamlet significa e o interlocutor pode estar de acordo
com isso, mas não pode ser o que significa para ele, nem o que significa
para Shakespeare. E sim o significado que o leitor vê na obra.
• Logo, o sentido da obra é diferente do que ela significa para seu criador.
6. Obras de arte e literatura são veículos para as pessoas expressarem seus
pontos de vista, atitudes, emoções e sentimentos = auto-expressão
Os artistas podem surpreender-se, e aprender sobre si mesmos, lendo, vendo
ou ouvindo o que eles criaram
A intenção do autor é importante, no entanto não quer dizer que seja a
interpretação dominante.
Algumas interpretações podem ser feitas sem referência ao que o autor
expressou, mesmo porque podemos interpretar costumes, rituais, cerimônias e
afins, os quais não possuem autoria. Alguns desses podem ser
convenientemente chamados de objetos culturais pelo fato de possuírem seu
significado dentro da cultura.
Sendo assim, obras de arte são objetos culturais, e como tal, podem ser
interpretadas independentemente da intenção do criador.
É errado sugerir que, necessariamente, autores fazem suas obras para
expressarem a si mesmos.
Um artista pode criar uma poesia expressando qualquer sentimento sem que
ele realmente o sinta, nesse sentido devemos compreender o que a obra
expressa independente do que o autor expressou.
7. Um aspecto interessante do conceito de arte é que as obras de arte são feitas
para gerarem interesse das pessoas pelo que são e não pela fama de quem as
criou.
Desta forma, seu significado geral, o que as torna objetos culturais, está no que
expressam ou representam, sendo seu contexto histórico, e não o privado,
altamente relevante para sua apreciação.
Artistas, assim como os legisladores, sabem que o significado do seu trabalho é
aquele que pode ser dado sem levar em consideração o contexto privado.
A intenção do criador é muito mais importante no mundo jurídico do que no
contexto artístico, visto que podemos interpretar uma obra de arte de forma
mais “livre”.
O legislador tem papel de autoridade frente ao que produz.
8. Os aspectos contextuais que determinam o sentido das obras de arte
podem ser divididos em dois:
A técnica utilizada (utilização de pigmentos, instrumentos musicais,
métodos de projeção e de perspectiva, entre outros);
Outras reflexões ou representações do sentido da vida humana (o lugar
do homem no mundo e aspectos de sua experiência humana)
A conexão entre arte e sua interpretação não nem trivial (insignificante),
nem acidental ( por acaso). Não é por acaso que não se pode interpretar
uma pia de cozinha na cozinha, mas uma pia de cozinha em uma galeria
de arte requer interpretação.
“Há muito mais na arte do que interpretação, mas não há arte
sem interpretação, e não há arte sem a prática de interpretações
de obras de arte”
9. Na pintura renascentista “Madona” o azul de seu vestido simboliza sua
virgindade. Nós temos conhecimento disso porque sabemos o significado
público da iconografia (estudo das obras de arte).
Desta forma, não precisamos saber nada a respeito da intenção do autor,
embora o pressuposto seja de que o pintor soubesse desse significado e
tenha usado esta cor para fazer referência à virgindade. Em contrapartida,
ele também podia saber seu significado e não ter utilizado a cor azul com
esta intenção.
Assim, nota-se uma expressiva diferença entre arte e Direito.
No Direito o fato do texto ser interpretado contra a intenção do legislador
nega a sua legitimidade, a qual deriva da autoridade do legislador,
conforme já mencionado.
10. O argumento utilizado até o presente momento tem rejeitado a intenção
do autor como base para a interpretação.
Para realizar a ampla interpretação como recuperação e explicar a
natureza da interpretação, devemos nos concentrar na interpretação
inovadora Revelar um significado escondido, o qual já está ali.
A avaliação das obras de arte é medida em graus.
Se a obra é uma mera exibição de aspectos insignificantes das relações
humanas, então é menos valiosa do que uma que trate de um grande
dilema.
As discussões acerca da importância das obras geram constante
desentendimento.
11. Interpretação explicação da obra interpretada que destaca alguns dos
seus elementos e pontos de conexões e inter-relações entre suas partes, e
entre estes e outros aspectos do mundo, de modo que cobre
adequadamente os aspectos significativos das obras interpretadas (isto é,
ela não se refere apenas a uma parte de um livro, ou apenas a um dos seus
temas, e assim por diante), e não é inconsistente com qualquer aspecto da
obra; elucida o que é importante na obra - na medida em que isso seja
possível.
A interpretação mais bem sucedida é a qual cumpre esses critérios e
consegue atribuir importância a razão da obra.
Assim a interpretação é uma explicação dos aspectos da obra, a qual conta
com razões válidas para que se dê atenção às obras de arte.
12. Algumas pessoas negam a validade das interpretações que não lhes
interessa, ao contrário daquelas que sabem que não há necessidade - que
de fato seria tolice - para negar o valor de uma interpretação só porque a
obra não possui interesse para elas.