SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 16
Downloaden Sie, um offline zu lesen
1
2
2ª edição 
COORDENAÇÃO 
ORGANIZAÇÃO 
AUTORA 
SÃO PAULO/SP - 2011 
Ana Beatriz Barbosa Silva 
Sidmar Dias Martins 
Daniel Issler 
Reinaldo Cintra Torres de Carvalho 
CARTILHA 2010 - PROJETO JUSTIÇA NAS ESCOLAS
Silva, Ana Beatriz Barbosa. 
Bullying: cartilha 2010 – Projeto Justiça nas Escolas / 2 .ed. - Ana Beatriz Barbosa Silva ; coordenação: Sidmar Dias Martins ; organização: Daniel Issler e Reinaldo Cintra Torres de Carvalho ; [apresentação: Prof. Edevaldo Alves da Silva]. 
Brasília, DF: CNJ ; São Paulo : FMU, 2011. 
1. Violência na escola 2. Assédio na escola I. Martins, Sidmar Dias II. Issler, Daniel III. Carvalho, Reinaldo Cintra Torres de IV. Silva, Edevaldo Alves da V. Conselho Nacional de Justiça VI. Faculdades Metropolitanas Unidas. 
2010 Conselho Nacional de Justiça 
Ministro Cezar Peluso, Presidente 
Ministra Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça 
Conselheiros Felipe Locke Cavalcanti 
I 
ves Gandra 
Jeff 
erson Kravchychyn 
Jor 
ge Hélio 
José A 
donis Callou de Araújo Sá 
L 
eomar Barros 
M 
arcelo Neves 
M 
arcelo Nobre 
M 
ilton Nobre 
M 
organa Richa 
Nelson T 
omaz Braga 
P 
aulo Tamburini 
W 
alter Nunes 
Secretário-geral Fernando Marcondes 
EXPEDIENTE 
Complexo Educacional FMU 
Rua Taguá, 150 - Bairro da Liberdade - São Paulo - SP - Brasil - CEP: 01508-010 
e-mail: presidencia@fmu.br - Tel.: 11 3207-0733 
Porta-voz do CNJ Pedro Del Picchia 
Assessor-chefe da Marcone Gonçalves 
Comunicação Social do CNJ 
Produção de texto Ana Beatriz Barbosa Silva 
Médica psiquiatra, diretora técnica da Medicina do Comportamento SP e RJ, Professora Honoris Causa da FMU, escritora e autora do livro “BULLYING: Mentes Perigosas nas Escolas” 
Revisão Geysa Bigonha 
M 
aria Deusirene 
Fotos Gláucio Dettmar 
L 
uiz Silveira 
Projeto Gráfico Leandro Luna 
Arte, Designer Divanir Junior 
e Editoração Marcelo Gomes 
Catalogação na Publicação 
2ª edição - 2011 
Tiragem: 65.000 exemplares 
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)
5 
BULLYING 
Apresentação 
Agressões físicas e psicológicas sofridas por crianças e jovens no convívio escolar têm 
merecido destaque na mídia nacional e na internacional. As causas e as danosas consequências 
desse desvio de comportamento devem ser analisadas com bastante atenção por professores, 
diretores de escola, orientadores educacionais, psicólogos, pais e demais educadores. 
A tragédia do Rio de Janeiro, ocorrida no dia 07/04/2011, na Escola Municipal Tasso da 
Silveira, é exemplo da importância da questão. Jornais de grande circulação, como O Estado de S. 
Paulo e a Folha de S. Paulo, de 09 do corrente mês, estamparam a origem, em parte, do lamentável 
e estarrecedor episódio, o qual envolveu, de forma fatal, mais de uma dezena de adolescentes, de 
estudantes na faixa etária de doze a quinze anos. 
Eis as manchetes: “Assassino não atirou a esmo, dizem ex-colegas – para eles, atirador 
procurou em vítimas características específicas” (Folha). “Wellington sofria bullying, diz irmão” 
(O Estado). As reportagens revelam que o assassino cursou a mesma escola e fora alvo de uma 
série de humilhações. Evidentemente, nada justifica o desatino verificado, mas o acontecimento 
demonstra a necessidade de conscientização maior, coibindo-se abusos traumáticos. 
Em momento tão oportuno, a FMU toma a iniciativa de dar conhecimento do assunto ao 
público, mediante a Cartilha Bullying, elaborada pela Doutora Ana Beatriz Barbosa Silva, especialista 
no tema, médica graduada pela UERJ, pós-graduada em Psiquiatria pela UFRJ e Professora Honoris 
Causa da FMU – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – SP. 
No texto, a Doutora Ana Beatriz resume em 15 itens o extenso campo deste problema 
que assume contornos educativos, sociais e jurídicos. Começa com definição do que é bullying e 
conclui com sugestões a pais e professores sobre as maneiras de ajudar as vítimas a superarem o 
sofrimento por ele provocado. 
O debate é o ponto de partida para alcançar alternativas que resultem na mitigação do 
problema, em soluções. Quanto mais conhecida e discutida for a matéria, mais chances teremos 
de propiciar, com rapidez, feliz desfecho aos conflitos oriundos das dificuldades encontradas por 
estudantes, pais e professores no ambiente escolar. 
Congratulo-me com a autora pela profundidade do trabalho produzido em conjunto 
com o Conselho Nacional de Justiça, o qual autorizou a reprodução da Cartilha. Tem-se, já agora, 
a visão jurídica do Presidente do IMAE - Instituto Metropolitano de Altos Estudos da FMU, o 
professor Marco Aurélio Mello, experiente magistrado integrante do Supremo Tribunal Federal, 
cuja formação técnica e, acima de tudo, humanística, é do reconhecimento geral. Estudo similar, do 
ponto de vista educacional, foi elaborado pelo Prof. Dr. Gabriel Chalita, cuja publicação foi realizada 
também pelo IMAE/FMU. Exorto os leitores a apresentar sugestões que levem ao aprofundamento 
da discussão sobre tema que tanto interessa às escolas, famílias e sociedade como um todo. 
São Paulo, abril de 2011. 
Prof. Edevaldo Alves da Silva 
Presidente do Complexo Educacional FMU
6
7 
CARTILHA BULLYING PROFESSORES E PROFISSIONAIS DA ESCOLA 
1. O QUE É BULLYING? 
O bullying é um termo ainda pouco conhecido do grande público. De origem inglesa e 
sem tradução ainda no Brasil, é utilizado para qualificar comportamentos agressivos no 
âmbito escolar, praticados tanto por meninos quanto por meninas. Os atos de violência 
(física ou não) ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos que se 
encontram impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Tais comportamentos não 
apresentam motivações específicas ou justificáveis. Em última instância, significa dizer que, 
de forma “natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, 
prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. 
2. QUAIS SÃO AS FORMAS DE BULLYING? NORMALMENTE, EXISTEM MAIS 
MENINOS OU MENINAS QUE COMETEM BULLYING? 
As formas de bullying são: 
• Verbal (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, “zoar”) 
• Física e material (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima) 
• Psicológica e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar) 
• Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar) 
• Virtual ou Cyberbullying (bullying realizado por meio de ferramentas tecnológicas: 
celulares, filmadoras, internet etc.) 
Estudos revelam um pequeno predomínio dos meninos sobre as meninas. No entanto, por 
serem mais agressivos e utilizarem a força física, as atitudes dos meninos são mais visíveis. 
Já as meninas costumam praticar bullying mais na base de intrigas, fofocas e isolamento 
das colegas. Podem, com isso, passar despercebidas, tanto na escola quanto no ambiente 
doméstico.
8 
3. EXISTE ALGUMA FORMA DE BULLYING QUE SEJA MAIS MALÉFICA? O 
CYBERBULLYING É PIOR DO QUE O BULLYING TRADICIONAL? 
Uma das formas mais agressivas de bullying, que ganha cada vez mais espaços sem 
fronteiras é o cyberbullying ou bullying virtual. Os ataques ocorrem por meio de ferramentas 
tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas, internet e seus recursos 
(e-mails, sites de relacionamentos, vídeos). Além de a propagação das difamações ser pra-ticamente 
instantânea o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas é imensurável. O 
cyberbullying extrapola, em muito, os muros das escolas e expõe a vítima ao escárnio 
público. Os praticantes desse modo de perversidade também se valem do anonimato e, 
sem nenhum constrangimento, atingem a vítima da forma mais vil possível. Traumas e 
consequências advindos do bullying virtual são dramáticos. 
4. QUAL O CRITÉRIO ADOTADO PELOS AGRESSORES PARA A ESCOLHA DA VÍTIMA? 
Os bullies (agressores) escolhem os alunos que estão em franca desigualdade de poder, 
seja por situação socioeconômica, situação de idade, de porte físico ou até porque nu-mericamente 
estão desfavoráveis. Além disso, as vítimas, de forma geral, já apresentam 
algo que destoa do grupo (são tímidas, introspectivas, nerds, muito magras; são de credo, 
raça ou orientação sexual diferente etc.). Este fato por si só já as torna pessoas com baixa 
autoestima e, portanto, são mais vulneráveis aos ofensores. Não há justificativas plausíveis 
para a escolha, mas certamente os alvos são aqueles que não conseguem fazer frente às 
agressões sofridas. 
5. QUAIS AS PRINCIPAIS RAZÕES QUE LEVAM OS JOVENS A SEREM OS 
AGRESSORES? 
É muito importante que os responsáveis pelos processos educacionais identifiquem com 
qual tipo de agressor estão lidando, uma vez que existem motivações diferenciadas: 
1. Muitos se comportam assim por uma nítida falta de limites em seus processos educa-cionais 
no contexto familiar.
9 
2. Outros carecem de um modelo de educação que seja capaz de associar a autorrea-lização 
com atitudes socialmente produtivas e solidárias. Tais agressores procuram 
nas ações egoístas e maldosas um meio de adquirir poder e status, e reproduzem os 
modelos domésticos na sociedade. 
3. Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação 
traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família etc. A vio-lência 
praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir e, portanto, 
circunstancial. 
4. E, por fim, nos deparamos com a minoria dos opressores, porém a mais perversa. 
Trata-se de crianças ou adolescentes que apresentam a transgressão como base es-trutural 
de suas personalidades. Falta-lhes o sentimento essencial para o exercício do 
altruísmo: a empatia. 
6. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE UMA VÍTIMA DE BULLYING PODE 
ENFRENTAR NA ESCOLA E AO LONGO DA VIDA? 
As consequências são as mais variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo, 
da sua estrutura, de vivências, de predisposição genética, da forma e da intensidade das 
agressões. No entanto, todas as vítimas, sem exceção, sofrem com os ataques de bullying 
(em maior ou menor proporção). Muitas levarão marcas profundas provenientes das agres-sões 
para a vida adulta, e necessitarão de apoio psiquiátrico e/ou psicológico para a supe-ração 
do problema. 
Os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; 
problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia e 
bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. O bullying também 
pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo prolongado de estresse a que a 
vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, 
homicídio e suicídio.
10 
7. COMO PERCEBER QUANDO UMA CRIANÇA OU ADOLESCENTE ESTÁ SOFRENDO 
BULLYING? QUAL O COMPORTAMENTO TÍPICO DESSES JOVENS? 
As informações sobre o comportamento das vítimas devem incluir os diversos ambientes 
que elas frequentam. Nos casos de bullying é fundamental que os pais e os profissionais da 
escola atentem especialmente para os seguintes sinais: 
Na Escola: 
No recreio encontram-se isoladas do grupo, ou perto de alguns adultos que possam 
protegê-las; na sala de aula apresentam postura retraída, faltas frequentes às aulas, mos-tram- 
se comumente tristes, deprimidas ou aflitas; nos jogos ou atividades em grupo sempre 
são as últimas a serem escolhidas ou são excluídas; aos poucos vão se desinteressando 
das atividades e tarefas escolares; e em casos mais dramáticos apresentam hematomas, 
arranhões, cortes, roupas danificadas ou rasgadas. 
Em Casa: 
Frequentemente se queixam de dores de cabeça, enjoo, dor de estômago, tonturas, vômi-tos, 
perda de apetite, insônia. Todos esses sintomas tendem a ser mais intensos no período 
que antecede o horário de as vítimas entrarem na escola. Mudanças frequentes e intensas 
de estado de humor, com explosões repentinas de irritação ou raiva. Geralmente elas não 
têm amigos ou, quando têm são bem poucos; existe uma escassez de telefonemas, e-mails, 
torpedos, convites para festas, passeios ou viagens com o grupo escolar. Passam a gastar 
mais dinheiro do que o habitual na cantina ou com a compra de objetos diversos com o 
intuito de presentear os outros. Apresentam diversas desculpas (inclusive doenças físicas) 
para faltar às aulas.
11 
8. E O CONTRÁRIO? O QUE SE PODE NOTAR NO COMPORTAMENTO DE UM 
PRATICANTE DE BULLYING? 
Na escola os bullies (agressores) fazem brincadeiras de mau gosto, gozações, colocam 
apelidos pejorativos, difamam, ameaçam, constrangem e menosprezam alguns alunos. Fur-tam 
ou roubam dinheiro, lanches e pertences de outros estudantes. Costumam ser popula-res 
na escola e estão sempre enturmados. Divertem-se à custa do sofrimento alheio. 
No ambiente doméstico, mantêm atitudes desafiadoras e agressivas em relação aos fami-liares. 
São arrogantes no agir,no falar e no vestir, demonstrando superioridade. Manipulam 
pessoas para se safar das confusões em que se envolveram. Costumam voltar da escola 
com objetos ou dinheiro que não possuíam. Muitos agressores mentem, de forma convin-cente, 
e negam as reclamações da escola, dos irmãos ou dos empregados domésticos. 
9. O FENÔMENO BULLYING COMEÇA EM CASA? 
Muitas vezes o fenômeno começa em casa. Entretanto, para que os filhos possam ser 
mais empáticos e possam agir com respeito ao próximo, é necessário primeiro a revisão do 
que ocorre dentro de casa. Os pais, muitas vezes, não questionam suas próprias condutas 
e valores, eximindo-se da responsabilidade de educadores. O exemplo dentro de casa é 
fundamental. O ensinamento de ética, solidariedade e altruísmo inicia ainda no berço e se 
estende para o âmbito escolar, onde as crianças e adolescentes passarão grande parte do 
seu tempo. 
10. O BULLYING EXISTE MAIS NAS ESCOLAS PÚBLICAS OU NAS PARTICULARES? 
O bullying existe em todas as escolas, o grande diferencial entre elas é a postura que 
cada uma tomará frente aos casos de bullying. Por incrível que pareça os estudos apontam 
para uma postura mais efetiva contra o bullying entre as escolas públicas, que já contam 
com uma orientação mais padronizada perante os casos (acionamento dos Conselhos Tute-lares, 
Delegacias da Criança e do Adolescente etc.).
12 
11. O ALUNO VÍTIMA DE BULLYING NORMALMENTE CONTA AOS PAIS E 
PROFESSORES O QUE ESTÁ ACONTECENDO? 
As vítimas de bullying se tornam reféns do jogo do poder instituído pelos agressores. Ra-ramente 
elas pedem ajuda às autoridades escolares ou aos pais. Agem assim, dominadas 
pela falsa crença de que essa postura é capaz de evitar possíveis retaliações dos agressores 
e por acreditarem que, ao sofrerem sozinhos e calados, pouparão seus pais da decepção de 
ter um filho frágil, covarde e não popular na escola. 
12. QUAL É O PAPEL DA ESCOLA PARA EVITAR O BULLYING ESCOLAR? 
A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá onde os comportamentos 
agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. A direção 
da escola (como autoridade máxima da instituição) deve acionar os pais, os Conselhos 
Tutelares, os órgãos de proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça poderá 
ser responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais (ou ilícitos) 
a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial. Dessa forma, os fatos podem 
ser devidamente apurados pelas autoridades competentes e os culpados responsabilizados. 
Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o crescimento da violência e da crimina-lidade 
infantojuvenil. 
13. COMO É O BULLYING NAS ESCOLAS BRASILEIRAS, EM COMPARAÇÃO A 
OUTRAS, DOS ESTADOS UNIDOS OU DA EUROPA? ALGUMA CARACTERÍSTICA 
ESPECÍFICA? 
Em linhas gerais o bullying é um fenômeno universal e democrático, pois acontece em 
todas as partes do mundo onde existem relações humanas e onde a vida escolar faz parte 
do cotidiano dos jovens. Alguns países, no entanto, apresentam características peculiares 
na manifestação desse fenômeno: nos EUA, o bullying tende a apresentar-se de forma 
mais grave com casos de homicídios coletivos, e isso se deve à infeliz facilidade que os 
jovens americanos possuem de terem acesso as armas de fogo. Nos países da Europa, o
13 
bullying tende a se manifestar na forma de segregação social a até da xenofobia. No Brasil, 
observam-se manifestações semelhantes às dos demais países, mas com peculiaridades 
locais: o uso de violência com armas brancas ainda é maior que a exercida com armas 
de fogo, uma vez que o acesso a elas ainda é restrito a ambientes sociais dominados 
pelo narcotráfico. A violência na forma de descriminação e segregação aparece mais em 
escolas particulares de alto poder aquisitivo, onde os descendentes nordestinos, ainda que 
economicamente favorecidos, costumam sofrer discriminação em função de seus hábitos, 
sotaques ou expressões idiomáticas típicas. Por esses aspectos é necessário sempre anali-sar, 
de maneira individualizada, todos os comportamentos de bullying, pois as suas formas 
diversas podem sinalizar com mais precisão as possíveis ações para a redução dessas 
variadas expressões da violência entre estudantes. 
14. QUAL A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE ATUAL NESTE TIPO DE 
COMPORTAMENTO? 
O individualismo, cultura dos tempos modernos, propiciou essa prática, em que o ter é 
muito mais valorizado que o ser, com distorções absurdas de valores éticos. Vive-se em 
tempos velozes, com grandes mudanças em todas as esferas sociais. Nesse contexto, a 
educação tanto no lar quanto na escola se tornou rapidamente ultrapassada, confusa, sem 
parâmetros ou limites. Os pais passaram a ser permissivos em excesso e os filhos cada vez 
mais exigentes, egocêntricos. As crianças tendem a se comportar em sociedade de acordo 
com os modelos domésticos. Muitos deles não se preocupam com as regras sociais, não 
refletem sobre a necessidade delas no convívio coletivo e, nem sequer se preocupam com 
as consequências dos seus atos transgressores. Cabe à sociedade como um todo transmitir 
às novas gerações valores educacionais mais éticos e responsáveis. Afinal, são estes jovens 
que estão delineando o que a sociedade será daqui em diante. Auxiliá-los e conduzi-los na 
construção de uma sociedade mais justa e menos violenta, é obrigação de todos.
14 
15. COMO OS PAIS E PROFESSORES PODEM AJUDAR AS VÍTIMAS DE BULLYING A 
SUPERAR O SOFRIMENTO? 
A identificação precoce do bullying pelos responsáveis (pais e professores) é de suma 
importância. As crianças normalmente não relatam o sofrimento vivenciado na escola, por 
medo de represálias e por vergonha. A observação dos pais sobre o comportamento dos 
filhos é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles. Os pais não devem hesitar em 
buscar ajuda de profissionais da área de saúde mental, para que seus filhos possam supe-rar 
traumas e transtornos psíquicos. 
Outro aspecto de valor inestimável é a percepção do talento inato desses jovens. Os adul-tos 
devem sempre estimulá-los e procurar métodos eficazes para que essas habilidades 
possam resgatar sua autoestima, bem como construir sua identidade social na forma de 
uma cidadania plena.
www.cnj.jus.br 
www.fmu.br

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Violência na Escola Elci_Elciene
Violência na Escola   Elci_ElcieneViolência na Escola   Elci_Elciene
Violência na Escola Elci_ElcieneElciene Oliveira
 
Violência Escolar
Violência EscolarViolência Escolar
Violência Escolarannokax
 
FMU: CARTILHA SOBRE BULLYING
FMU: CARTILHA SOBRE BULLYINGFMU: CARTILHA SOBRE BULLYING
FMU: CARTILHA SOBRE BULLYINGFMU - Oficial
 
Violência nas escolas portuguesas
Violência nas escolas portuguesasViolência nas escolas portuguesas
Violência nas escolas portuguesasJoão Pereira
 
Artigo: A violência praticada por adolescentes na escola
Artigo: A violência praticada por adolescentes na escolaArtigo: A violência praticada por adolescentes na escola
Artigo: A violência praticada por adolescentes na escolafalecomabreu
 
Violência escolar
Violência escolarViolência escolar
Violência escolarguestca03d9
 
Violência na escola
Violência na escolaViolência na escola
Violência na escolaFábio Yamano
 
Violência nas escolas
Violência nas escolasViolência nas escolas
Violência nas escolasveritah
 
Violencia Na Escola. Carol E Patti
Violencia Na Escola. Carol E PattiViolencia Na Escola. Carol E Patti
Violencia Na Escola. Carol E Pattigatocachorro
 

Was ist angesagt? (13)

Violência e Escola
Violência e EscolaViolência e Escola
Violência e Escola
 
Violência na Escola Elci_Elciene
Violência na Escola   Elci_ElcieneViolência na Escola   Elci_Elciene
Violência na Escola Elci_Elciene
 
Violência Escolar
Violência EscolarViolência Escolar
Violência Escolar
 
FMU: CARTILHA SOBRE BULLYING
FMU: CARTILHA SOBRE BULLYINGFMU: CARTILHA SOBRE BULLYING
FMU: CARTILHA SOBRE BULLYING
 
Bullying
BullyingBullying
Bullying
 
Violência nas escolas portuguesas
Violência nas escolas portuguesasViolência nas escolas portuguesas
Violência nas escolas portuguesas
 
Violência na escola
Violência na escolaViolência na escola
Violência na escola
 
Artigo: A violência praticada por adolescentes na escola
Artigo: A violência praticada por adolescentes na escolaArtigo: A violência praticada por adolescentes na escola
Artigo: A violência praticada por adolescentes na escola
 
Violência escolar
Violência escolarViolência escolar
Violência escolar
 
Violência na escola
Violência na escolaViolência na escola
Violência na escola
 
Projeto Bullying
Projeto BullyingProjeto Bullying
Projeto Bullying
 
Violência nas escolas
Violência nas escolasViolência nas escolas
Violência nas escolas
 
Violencia Na Escola. Carol E Patti
Violencia Na Escola. Carol E PattiViolencia Na Escola. Carol E Patti
Violencia Na Escola. Carol E Patti
 

Andere mochten auch

Andere mochten auch (6)

Tecnologia final
Tecnologia finalTecnologia final
Tecnologia final
 
L’évaluation psychoéducationnelle
L’évaluation psychoéducationnelleL’évaluation psychoéducationnelle
L’évaluation psychoéducationnelle
 
Saberes conceptuales
Saberes conceptualesSaberes conceptuales
Saberes conceptuales
 
Los gatos
Los gatosLos gatos
Los gatos
 
تعرف إلى-كلية العلوم قسم الكيمياء
تعرف إلى-كلية العلوم قسم الكيمياءتعرف إلى-كلية العلوم قسم الكيمياء
تعرف إلى-كلية العلوم قسم الكيمياء
 
Simulazioni numeriche di urti su barriere di sicurezza new jersey poste a bo...
Simulazioni numeriche di urti  su barriere di sicurezza new jersey poste a bo...Simulazioni numeriche di urti  su barriere di sicurezza new jersey poste a bo...
Simulazioni numeriche di urti su barriere di sicurezza new jersey poste a bo...
 

Ähnlich wie Combatendo o bullying na escola

Ähnlich wie Combatendo o bullying na escola (20)

Cartilha bullying
Cartilha bullyingCartilha bullying
Cartilha bullying
 
Cartilha do cnj sobre bullying
Cartilha do cnj sobre bullyingCartilha do cnj sobre bullying
Cartilha do cnj sobre bullying
 
Cartilha bullying
Cartilha bullyingCartilha bullying
Cartilha bullying
 
Cartilha
CartilhaCartilha
Cartilha
 
Bullying liliana (1)
Bullying liliana (1)Bullying liliana (1)
Bullying liliana (1)
 
Cartilhabullying
CartilhabullyingCartilhabullying
Cartilhabullying
 
Cartilha bullying
Cartilha bullyingCartilha bullying
Cartilha bullying
 
Cartilha bullying
Cartilha bullyingCartilha bullying
Cartilha bullying
 
Bullying
BullyingBullying
Bullying
 
Cópia de projeto bullying na escola em rede
Cópia de projeto bullying na escola em redeCópia de projeto bullying na escola em rede
Cópia de projeto bullying na escola em rede
 
Projetodecombateaobulliyng
ProjetodecombateaobulliyngProjetodecombateaobulliyng
Projetodecombateaobulliyng
 
TCC 2011-PEDAGOGIA Sobre VIOLÊNCIA NA ESCOLA
TCC 2011-PEDAGOGIA Sobre VIOLÊNCIA NA ESCOLATCC 2011-PEDAGOGIA Sobre VIOLÊNCIA NA ESCOLA
TCC 2011-PEDAGOGIA Sobre VIOLÊNCIA NA ESCOLA
 
Palestra bullying
Palestra bullyingPalestra bullying
Palestra bullying
 
Metodologia do grupo de aprendizagem cooperativa no projeto chega de bullying
Metodologia do grupo de aprendizagem cooperativa no projeto chega de bullyingMetodologia do grupo de aprendizagem cooperativa no projeto chega de bullying
Metodologia do grupo de aprendizagem cooperativa no projeto chega de bullying
 
Palestra bullying
Palestra bullyingPalestra bullying
Palestra bullying
 
Bullying na Escola
Bullying na EscolaBullying na Escola
Bullying na Escola
 
Tcc sobre o Bullygns nas escolas Art 2018 Adelvânia Souza de Oliveira
Tcc sobre o Bullygns nas escolas Art 2018 Adelvânia Souza de OliveiraTcc sobre o Bullygns nas escolas Art 2018 Adelvânia Souza de Oliveira
Tcc sobre o Bullygns nas escolas Art 2018 Adelvânia Souza de Oliveira
 
Por que as pessoas fazem bullying?
Por que as pessoas fazem bullying? Por que as pessoas fazem bullying?
Por que as pessoas fazem bullying?
 
Bullying
 Bullying Bullying
Bullying
 
Doc 154
Doc 154Doc 154
Doc 154
 

Combatendo o bullying na escola

  • 1. 1
  • 2. 2
  • 3. 2ª edição COORDENAÇÃO ORGANIZAÇÃO AUTORA SÃO PAULO/SP - 2011 Ana Beatriz Barbosa Silva Sidmar Dias Martins Daniel Issler Reinaldo Cintra Torres de Carvalho CARTILHA 2010 - PROJETO JUSTIÇA NAS ESCOLAS
  • 4. Silva, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: cartilha 2010 – Projeto Justiça nas Escolas / 2 .ed. - Ana Beatriz Barbosa Silva ; coordenação: Sidmar Dias Martins ; organização: Daniel Issler e Reinaldo Cintra Torres de Carvalho ; [apresentação: Prof. Edevaldo Alves da Silva]. Brasília, DF: CNJ ; São Paulo : FMU, 2011. 1. Violência na escola 2. Assédio na escola I. Martins, Sidmar Dias II. Issler, Daniel III. Carvalho, Reinaldo Cintra Torres de IV. Silva, Edevaldo Alves da V. Conselho Nacional de Justiça VI. Faculdades Metropolitanas Unidas. 2010 Conselho Nacional de Justiça Ministro Cezar Peluso, Presidente Ministra Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça Conselheiros Felipe Locke Cavalcanti I ves Gandra Jeff erson Kravchychyn Jor ge Hélio José A donis Callou de Araújo Sá L eomar Barros M arcelo Neves M arcelo Nobre M ilton Nobre M organa Richa Nelson T omaz Braga P aulo Tamburini W alter Nunes Secretário-geral Fernando Marcondes EXPEDIENTE Complexo Educacional FMU Rua Taguá, 150 - Bairro da Liberdade - São Paulo - SP - Brasil - CEP: 01508-010 e-mail: presidencia@fmu.br - Tel.: 11 3207-0733 Porta-voz do CNJ Pedro Del Picchia Assessor-chefe da Marcone Gonçalves Comunicação Social do CNJ Produção de texto Ana Beatriz Barbosa Silva Médica psiquiatra, diretora técnica da Medicina do Comportamento SP e RJ, Professora Honoris Causa da FMU, escritora e autora do livro “BULLYING: Mentes Perigosas nas Escolas” Revisão Geysa Bigonha M aria Deusirene Fotos Gláucio Dettmar L uiz Silveira Projeto Gráfico Leandro Luna Arte, Designer Divanir Junior e Editoração Marcelo Gomes Catalogação na Publicação 2ª edição - 2011 Tiragem: 65.000 exemplares Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)
  • 5. 5 BULLYING Apresentação Agressões físicas e psicológicas sofridas por crianças e jovens no convívio escolar têm merecido destaque na mídia nacional e na internacional. As causas e as danosas consequências desse desvio de comportamento devem ser analisadas com bastante atenção por professores, diretores de escola, orientadores educacionais, psicólogos, pais e demais educadores. A tragédia do Rio de Janeiro, ocorrida no dia 07/04/2011, na Escola Municipal Tasso da Silveira, é exemplo da importância da questão. Jornais de grande circulação, como O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo, de 09 do corrente mês, estamparam a origem, em parte, do lamentável e estarrecedor episódio, o qual envolveu, de forma fatal, mais de uma dezena de adolescentes, de estudantes na faixa etária de doze a quinze anos. Eis as manchetes: “Assassino não atirou a esmo, dizem ex-colegas – para eles, atirador procurou em vítimas características específicas” (Folha). “Wellington sofria bullying, diz irmão” (O Estado). As reportagens revelam que o assassino cursou a mesma escola e fora alvo de uma série de humilhações. Evidentemente, nada justifica o desatino verificado, mas o acontecimento demonstra a necessidade de conscientização maior, coibindo-se abusos traumáticos. Em momento tão oportuno, a FMU toma a iniciativa de dar conhecimento do assunto ao público, mediante a Cartilha Bullying, elaborada pela Doutora Ana Beatriz Barbosa Silva, especialista no tema, médica graduada pela UERJ, pós-graduada em Psiquiatria pela UFRJ e Professora Honoris Causa da FMU – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – SP. No texto, a Doutora Ana Beatriz resume em 15 itens o extenso campo deste problema que assume contornos educativos, sociais e jurídicos. Começa com definição do que é bullying e conclui com sugestões a pais e professores sobre as maneiras de ajudar as vítimas a superarem o sofrimento por ele provocado. O debate é o ponto de partida para alcançar alternativas que resultem na mitigação do problema, em soluções. Quanto mais conhecida e discutida for a matéria, mais chances teremos de propiciar, com rapidez, feliz desfecho aos conflitos oriundos das dificuldades encontradas por estudantes, pais e professores no ambiente escolar. Congratulo-me com a autora pela profundidade do trabalho produzido em conjunto com o Conselho Nacional de Justiça, o qual autorizou a reprodução da Cartilha. Tem-se, já agora, a visão jurídica do Presidente do IMAE - Instituto Metropolitano de Altos Estudos da FMU, o professor Marco Aurélio Mello, experiente magistrado integrante do Supremo Tribunal Federal, cuja formação técnica e, acima de tudo, humanística, é do reconhecimento geral. Estudo similar, do ponto de vista educacional, foi elaborado pelo Prof. Dr. Gabriel Chalita, cuja publicação foi realizada também pelo IMAE/FMU. Exorto os leitores a apresentar sugestões que levem ao aprofundamento da discussão sobre tema que tanto interessa às escolas, famílias e sociedade como um todo. São Paulo, abril de 2011. Prof. Edevaldo Alves da Silva Presidente do Complexo Educacional FMU
  • 6. 6
  • 7. 7 CARTILHA BULLYING PROFESSORES E PROFISSIONAIS DA ESCOLA 1. O QUE É BULLYING? O bullying é um termo ainda pouco conhecido do grande público. De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizado para qualificar comportamentos agressivos no âmbito escolar, praticados tanto por meninos quanto por meninas. Os atos de violência (física ou não) ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos que se encontram impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Tais comportamentos não apresentam motivações específicas ou justificáveis. Em última instância, significa dizer que, de forma “natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. 2. QUAIS SÃO AS FORMAS DE BULLYING? NORMALMENTE, EXISTEM MAIS MENINOS OU MENINAS QUE COMETEM BULLYING? As formas de bullying são: • Verbal (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, “zoar”) • Física e material (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima) • Psicológica e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar) • Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar) • Virtual ou Cyberbullying (bullying realizado por meio de ferramentas tecnológicas: celulares, filmadoras, internet etc.) Estudos revelam um pequeno predomínio dos meninos sobre as meninas. No entanto, por serem mais agressivos e utilizarem a força física, as atitudes dos meninos são mais visíveis. Já as meninas costumam praticar bullying mais na base de intrigas, fofocas e isolamento das colegas. Podem, com isso, passar despercebidas, tanto na escola quanto no ambiente doméstico.
  • 8. 8 3. EXISTE ALGUMA FORMA DE BULLYING QUE SEJA MAIS MALÉFICA? O CYBERBULLYING É PIOR DO QUE O BULLYING TRADICIONAL? Uma das formas mais agressivas de bullying, que ganha cada vez mais espaços sem fronteiras é o cyberbullying ou bullying virtual. Os ataques ocorrem por meio de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas, internet e seus recursos (e-mails, sites de relacionamentos, vídeos). Além de a propagação das difamações ser pra-ticamente instantânea o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas é imensurável. O cyberbullying extrapola, em muito, os muros das escolas e expõe a vítima ao escárnio público. Os praticantes desse modo de perversidade também se valem do anonimato e, sem nenhum constrangimento, atingem a vítima da forma mais vil possível. Traumas e consequências advindos do bullying virtual são dramáticos. 4. QUAL O CRITÉRIO ADOTADO PELOS AGRESSORES PARA A ESCOLHA DA VÍTIMA? Os bullies (agressores) escolhem os alunos que estão em franca desigualdade de poder, seja por situação socioeconômica, situação de idade, de porte físico ou até porque nu-mericamente estão desfavoráveis. Além disso, as vítimas, de forma geral, já apresentam algo que destoa do grupo (são tímidas, introspectivas, nerds, muito magras; são de credo, raça ou orientação sexual diferente etc.). Este fato por si só já as torna pessoas com baixa autoestima e, portanto, são mais vulneráveis aos ofensores. Não há justificativas plausíveis para a escolha, mas certamente os alvos são aqueles que não conseguem fazer frente às agressões sofridas. 5. QUAIS AS PRINCIPAIS RAZÕES QUE LEVAM OS JOVENS A SEREM OS AGRESSORES? É muito importante que os responsáveis pelos processos educacionais identifiquem com qual tipo de agressor estão lidando, uma vez que existem motivações diferenciadas: 1. Muitos se comportam assim por uma nítida falta de limites em seus processos educa-cionais no contexto familiar.
  • 9. 9 2. Outros carecem de um modelo de educação que seja capaz de associar a autorrea-lização com atitudes socialmente produtivas e solidárias. Tais agressores procuram nas ações egoístas e maldosas um meio de adquirir poder e status, e reproduzem os modelos domésticos na sociedade. 3. Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família etc. A vio-lência praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir e, portanto, circunstancial. 4. E, por fim, nos deparamos com a minoria dos opressores, porém a mais perversa. Trata-se de crianças ou adolescentes que apresentam a transgressão como base es-trutural de suas personalidades. Falta-lhes o sentimento essencial para o exercício do altruísmo: a empatia. 6. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE UMA VÍTIMA DE BULLYING PODE ENFRENTAR NA ESCOLA E AO LONGO DA VIDA? As consequências são as mais variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo, da sua estrutura, de vivências, de predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões. No entanto, todas as vítimas, sem exceção, sofrem com os ataques de bullying (em maior ou menor proporção). Muitas levarão marcas profundas provenientes das agres-sões para a vida adulta, e necessitarão de apoio psiquiátrico e/ou psicológico para a supe-ração do problema. Os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. O bullying também pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.
  • 10. 10 7. COMO PERCEBER QUANDO UMA CRIANÇA OU ADOLESCENTE ESTÁ SOFRENDO BULLYING? QUAL O COMPORTAMENTO TÍPICO DESSES JOVENS? As informações sobre o comportamento das vítimas devem incluir os diversos ambientes que elas frequentam. Nos casos de bullying é fundamental que os pais e os profissionais da escola atentem especialmente para os seguintes sinais: Na Escola: No recreio encontram-se isoladas do grupo, ou perto de alguns adultos que possam protegê-las; na sala de aula apresentam postura retraída, faltas frequentes às aulas, mos-tram- se comumente tristes, deprimidas ou aflitas; nos jogos ou atividades em grupo sempre são as últimas a serem escolhidas ou são excluídas; aos poucos vão se desinteressando das atividades e tarefas escolares; e em casos mais dramáticos apresentam hematomas, arranhões, cortes, roupas danificadas ou rasgadas. Em Casa: Frequentemente se queixam de dores de cabeça, enjoo, dor de estômago, tonturas, vômi-tos, perda de apetite, insônia. Todos esses sintomas tendem a ser mais intensos no período que antecede o horário de as vítimas entrarem na escola. Mudanças frequentes e intensas de estado de humor, com explosões repentinas de irritação ou raiva. Geralmente elas não têm amigos ou, quando têm são bem poucos; existe uma escassez de telefonemas, e-mails, torpedos, convites para festas, passeios ou viagens com o grupo escolar. Passam a gastar mais dinheiro do que o habitual na cantina ou com a compra de objetos diversos com o intuito de presentear os outros. Apresentam diversas desculpas (inclusive doenças físicas) para faltar às aulas.
  • 11. 11 8. E O CONTRÁRIO? O QUE SE PODE NOTAR NO COMPORTAMENTO DE UM PRATICANTE DE BULLYING? Na escola os bullies (agressores) fazem brincadeiras de mau gosto, gozações, colocam apelidos pejorativos, difamam, ameaçam, constrangem e menosprezam alguns alunos. Fur-tam ou roubam dinheiro, lanches e pertences de outros estudantes. Costumam ser popula-res na escola e estão sempre enturmados. Divertem-se à custa do sofrimento alheio. No ambiente doméstico, mantêm atitudes desafiadoras e agressivas em relação aos fami-liares. São arrogantes no agir,no falar e no vestir, demonstrando superioridade. Manipulam pessoas para se safar das confusões em que se envolveram. Costumam voltar da escola com objetos ou dinheiro que não possuíam. Muitos agressores mentem, de forma convin-cente, e negam as reclamações da escola, dos irmãos ou dos empregados domésticos. 9. O FENÔMENO BULLYING COMEÇA EM CASA? Muitas vezes o fenômeno começa em casa. Entretanto, para que os filhos possam ser mais empáticos e possam agir com respeito ao próximo, é necessário primeiro a revisão do que ocorre dentro de casa. Os pais, muitas vezes, não questionam suas próprias condutas e valores, eximindo-se da responsabilidade de educadores. O exemplo dentro de casa é fundamental. O ensinamento de ética, solidariedade e altruísmo inicia ainda no berço e se estende para o âmbito escolar, onde as crianças e adolescentes passarão grande parte do seu tempo. 10. O BULLYING EXISTE MAIS NAS ESCOLAS PÚBLICAS OU NAS PARTICULARES? O bullying existe em todas as escolas, o grande diferencial entre elas é a postura que cada uma tomará frente aos casos de bullying. Por incrível que pareça os estudos apontam para uma postura mais efetiva contra o bullying entre as escolas públicas, que já contam com uma orientação mais padronizada perante os casos (acionamento dos Conselhos Tute-lares, Delegacias da Criança e do Adolescente etc.).
  • 12. 12 11. O ALUNO VÍTIMA DE BULLYING NORMALMENTE CONTA AOS PAIS E PROFESSORES O QUE ESTÁ ACONTECENDO? As vítimas de bullying se tornam reféns do jogo do poder instituído pelos agressores. Ra-ramente elas pedem ajuda às autoridades escolares ou aos pais. Agem assim, dominadas pela falsa crença de que essa postura é capaz de evitar possíveis retaliações dos agressores e por acreditarem que, ao sofrerem sozinhos e calados, pouparão seus pais da decepção de ter um filho frágil, covarde e não popular na escola. 12. QUAL É O PAPEL DA ESCOLA PARA EVITAR O BULLYING ESCOLAR? A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá onde os comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. A direção da escola (como autoridade máxima da instituição) deve acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os órgãos de proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça poderá ser responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais (ou ilícitos) a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial. Dessa forma, os fatos podem ser devidamente apurados pelas autoridades competentes e os culpados responsabilizados. Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o crescimento da violência e da crimina-lidade infantojuvenil. 13. COMO É O BULLYING NAS ESCOLAS BRASILEIRAS, EM COMPARAÇÃO A OUTRAS, DOS ESTADOS UNIDOS OU DA EUROPA? ALGUMA CARACTERÍSTICA ESPECÍFICA? Em linhas gerais o bullying é um fenômeno universal e democrático, pois acontece em todas as partes do mundo onde existem relações humanas e onde a vida escolar faz parte do cotidiano dos jovens. Alguns países, no entanto, apresentam características peculiares na manifestação desse fenômeno: nos EUA, o bullying tende a apresentar-se de forma mais grave com casos de homicídios coletivos, e isso se deve à infeliz facilidade que os jovens americanos possuem de terem acesso as armas de fogo. Nos países da Europa, o
  • 13. 13 bullying tende a se manifestar na forma de segregação social a até da xenofobia. No Brasil, observam-se manifestações semelhantes às dos demais países, mas com peculiaridades locais: o uso de violência com armas brancas ainda é maior que a exercida com armas de fogo, uma vez que o acesso a elas ainda é restrito a ambientes sociais dominados pelo narcotráfico. A violência na forma de descriminação e segregação aparece mais em escolas particulares de alto poder aquisitivo, onde os descendentes nordestinos, ainda que economicamente favorecidos, costumam sofrer discriminação em função de seus hábitos, sotaques ou expressões idiomáticas típicas. Por esses aspectos é necessário sempre anali-sar, de maneira individualizada, todos os comportamentos de bullying, pois as suas formas diversas podem sinalizar com mais precisão as possíveis ações para a redução dessas variadas expressões da violência entre estudantes. 14. QUAL A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE ATUAL NESTE TIPO DE COMPORTAMENTO? O individualismo, cultura dos tempos modernos, propiciou essa prática, em que o ter é muito mais valorizado que o ser, com distorções absurdas de valores éticos. Vive-se em tempos velozes, com grandes mudanças em todas as esferas sociais. Nesse contexto, a educação tanto no lar quanto na escola se tornou rapidamente ultrapassada, confusa, sem parâmetros ou limites. Os pais passaram a ser permissivos em excesso e os filhos cada vez mais exigentes, egocêntricos. As crianças tendem a se comportar em sociedade de acordo com os modelos domésticos. Muitos deles não se preocupam com as regras sociais, não refletem sobre a necessidade delas no convívio coletivo e, nem sequer se preocupam com as consequências dos seus atos transgressores. Cabe à sociedade como um todo transmitir às novas gerações valores educacionais mais éticos e responsáveis. Afinal, são estes jovens que estão delineando o que a sociedade será daqui em diante. Auxiliá-los e conduzi-los na construção de uma sociedade mais justa e menos violenta, é obrigação de todos.
  • 14. 14 15. COMO OS PAIS E PROFESSORES PODEM AJUDAR AS VÍTIMAS DE BULLYING A SUPERAR O SOFRIMENTO? A identificação precoce do bullying pelos responsáveis (pais e professores) é de suma importância. As crianças normalmente não relatam o sofrimento vivenciado na escola, por medo de represálias e por vergonha. A observação dos pais sobre o comportamento dos filhos é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles. Os pais não devem hesitar em buscar ajuda de profissionais da área de saúde mental, para que seus filhos possam supe-rar traumas e transtornos psíquicos. Outro aspecto de valor inestimável é a percepção do talento inato desses jovens. Os adul-tos devem sempre estimulá-los e procurar métodos eficazes para que essas habilidades possam resgatar sua autoestima, bem como construir sua identidade social na forma de uma cidadania plena.
  • 15.