Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Palavras do mundo 10 ct8 prof.ª fátima carvalho
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LER+MAR=SER
“PALAVRAS DO MUNDO”
A tua voz Angola
Nos tribos
e assobios
dos pássaros bravios
ouço a tua voz Angola.
dos fios
esguios
em arrepios
de mulembas sólidas
escorre a tua voz Angola.
nas ondas calmas
barcos e velas
dongos traineiras
âncoras e cordas
freme a tua voz Angola.
em rios torrentes
regatos marulhentos
lagoas dormentes
onde morrem poentes
brilha a tua voz Angola.
no andar da palanca
no chifre do olongo
no mosqueado da onça
no enrolar da serpente
inscreve-se a tua voz Angola.
no acordar dos quimbos
nos cúmulos e nimbos
nos vapores tímidos
em manhãs de cacimbo
flutua a tua voz Angola.
na pedra da encosta
no cristal de rocha
na montanha inóspita
no miolo e na crosta
talha-se a tua voz Angola.
do chiar dos guindastes
do estalar dos braços
do esforço e do cansaço
emerge a tua voz Angola.
no ronco da barragem
no camião da estrada
no comboio malandro
nos gados transumantes
ecoa a tua voz Angola.
dos bongos e cuicas
concertinas apitos
que animam rebitas
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farras das antigas
salta a tua voz Angola.
a flor da buganvília
a rosa e o lírio
cachos de gladíolos
o gengibre e a cola
perfumam a tua voz Angola.
ouve-se e sente-se e brilha
a tua voz Angola
inscreve-se nos seres talha-se nas rochas
a tua voz Angola.
vai com o vento goteja com o suor
a tua voz Angola.
por toda a parte por toda a parte
a tua voz angola
que voz é essa tão forte e omnipresente
Angola?
que voz é essa
omnipresente e permanente
Angola?
é a voz dos vivos e dos mortos
de Angola
é a voz das esperanças e malogros
de Angola
é a voz das derrotas e vitórias
de Angola
é a voz do passado do presente e do porvir
de Angola
é a voz do resistir
de Angola
é a voz dum guerrilheiro
de Angola
é a voz dum pioneiro
de Angola.
Antero Abreu
(22 de fevereiro de 1927, Luanda, Angola)
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Voz do sangue
Palpita-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue.
ó negro esfarrapado
do harlem
ó dançarino de chicago
ó negro servidor do south
ó negro de áfrica
negros de todo o mundo
eu junto
ao vosso magnífico canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.
eu vos acompanho
pelas emaranhadas áfricas
do nosso rumo.
eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a nossa história
meus irmãos.
Agostinho Neto
(17 de setembro de 1922 - 10 de setembro de 1979, Ícolo e Bengo, Angola)
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A flor da chuva
... e a flor da chuva no capim
tem mais perfume
abertas bem abertas estão as mãos
para abraçar esta manhã sem nuvens
ontem (não importa já o pôr do sol nas buganvílias)
ontem (murchas estão agora as flores das coisas que eram coisas nada mais)
ontem havia medo até no caminhar das rolas sobre a areia.
a poesia de hoje é a voz do povo
todo o mundo o mundo até de
algum silêncio persistente quer
romper a mancha que da noite inda
nos fala.
oh admirável sangue a pulsar em cada estrela
o sol é negro e ilumina
a imensidão deste perfume
que nos traz a flor da chuva
o sol é negro e brilha dos vulcões
de cada peito independente.
madrugada de fevereiro.
sou angolano!
Costa Andrade
(1936, Lépi, Huambo, Angola)
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“Quando o tio Victor chegava de Benguela, as crianças até ficavam com vontade de fugar à escola
só para ir lhe buscar no aeroporto dos voos das províncias. A maka é que ele chegava sempre a
horas difíceis e a minha mãe não deixava ninguém faltar às aulas.
Então era em casa, à hora do almoço, que encontrávamos o tio Victor. E o sorriso dele,
gargalhada tipo cascata e trovão também, nem dá para explicar aqui em palavras escritas. Só
visto mesmo, só uma gargalhada dele já dava para nós começarmos a rir à toa, alegres, enquanto
ele iniciava umas magias benguelenses.
– Isto vocês de Luanda nunca viram – abria a mala onde tinha rebuçados, chocolates ou outras
prendas de encantar crianças, mais o baralho de cartas para magias de aparecer e desaparecer o
ás de ouros, também umas camisas posteradas que nós, «os de Luanda», não aguentávamos.
À noite deixávamos ele jantar e beber o chá que ele gostava sempre depois das refeições.
Devagarinho, eu e os primos, e até alguns amigos da rua, sentávamos na varanda à espera do tio
Victor. É que o tio Victor tinha umas estórias de Benguela que, é verdade, nós os de Luanda até
não lhe aguentávamos naquela imaginação de teatro falado, com escuridão e alguns mosquitos
tipo convidados extra.
Eu já tinha dito ao Bruno, ao Tibas e ao Jika, cambas da minha rua, que aquele meu tio então era
muito forte nas estórias. Mas o principal, embora ninguém tivesse nunca visto só uma foto de
admirar, era a piscina que ele disse que havia em Benguela, na casa dele:
– Vocês de Luanda não aguentam, andam aqui a beber sumo Tang!
Ele ria a gargalhada dele, nós ríamos com ele, como se estivessem mil cócegas espalhadas no ar
quente da noite.
– Nós lá temos uma piscina enorme – fazia uma pausa dos filmes, nós de boca aberta a imaginar
a tal piscina. – Ainda por cima, não é água que pomos lá – eu a olhar para o Tibas, depois para o
Jika:
– Não vos disse?
O tio Victor continuou assim numa fala fantasmagórica:
– Vocês aqui da equipa do Tang não aguentam…, a nossa piscina lá é toda cheia de Coca-Cola!
Aí foi o nosso espanto geral: dos olhos dos outros, eu vi, saía um brilho tipo fósforo quase a
acender a escuridão da varanda e assustar os mosquitos, nós, as crianças, de boca aberta numa
viagem de língua salivada, outros a começarem a rir de espanto, de repente todos gargalhámos, o
A piscina do tio Victor para o tio Victor que nos
dava prendas-do-dia. Para a «Buraquinhos».
Angola 1977
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tio Victor também, e rebentámos numa salva de palmas que até a minha mãe veio ver o que se
estava a passar.
Agora já ninguém me perguntava nada, falavam directamente com o tio Victor, queriam mais
pormenores da piscina e ainda saber se podiam ir lhe visitar um dia destes.
– Vai todo mundo – o tio Victor riu, olhou para mim, piscou-me o olho. – Vem um avião buscar a
malta de Luanda! Preparem a roupa, vão todos mergulhar na piscina de Coca-Cola, nós lá não
bebemos desse vosso sumo Tang…
– Ó Victor, pára lá de contar essas coisas às crianças – a minha mãe chegou à varanda.
Ele piscou-lhe o olho e continuou ainda mais entusiasmado.
– Não tem maka nenhuma, pode ir toda malta da rua, temos lá em Benguela a piscina de Coca-
Cola… Os cantos da piscina são feitos de chuinga e chocolate!
Nós batemos palmas de novo, depois estreámos um silêncio de espanto naquelas quantidades de
doce.
– A prancha de saltar é de chupa-chupa de morango, no chuveiro sai fanta de laranja, carrega-se
num botão ainda sai sprite… – ele olhava a minha mãe, olhos doces apertados pelas bochechas
de tanto riso, batemos palmas e fomos saindo.
Quando entrei de novo em casa, fui lá para cima dizer boa noite a todos. Passei no quarto do tio
Victor, ele tinha só uma luz do candeeiro acesa.
– Tio, um dia podemos mesmo ir na tua piscina de Coca-Cola?
Ele fez assim com o dedo na boca, para eu fazer um pouco-barulho.
– Nem sabes do máximo… No avião que vos vem buscar, as refeições são todas de chocolate
com umas palhinhas que dão voltas tipo montanha-russa, lá em Benguela há rebuçados nas ruas,
é só apanhar – e ficou a rir mesmo depois de apagar a luz, até hoje fico a perguntar onde é que o
tio Victor de Benguela ia buscar tantas gargalhadas para rir assim sem medo de gastar o
reservatório do riso dele.
Fui me deitar, antes que a minha mãe me apanhasse a conversar àquela hora. No meu quarto
escuro quis ver, no tecto, uma água que brilhava escura e tinha bolinhas de gás que faziam
cócegas no corpo todo. Nessa noite eu pensei que o tio Víctor só podia ser uma pessoa tão alegre
e cheia de tantas magias porque ele vivia em Benguela, e lá eles tinham uma piscina de Coca-
Cola com bué de chuínga e chocolate também. Vi, também no tecto, o jeito dele estremecer o
corpo e esticar os olhos em lágrimas de tanto rir.
Foi bonito: adormeci, em Luanda, a sonhar a noite toda com a província de Benguela.”
Turma: 10º CT8
Alunas: Ana Cláudia Mendes; Helena Lima; Maria Inês Freitas
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António Agostinho Neto
SINFONIAS
A melodia crepitante das palmeiras
lambidas pelo furor duma queimada
Cor
estertor
angústia
E a música dos homens
lambidos pelo fogo das batalhas inglórias
Sorrisos
dor
angústia
E a luta gloriosa do povo
A música
que a minha alma sente.
Turma: 10º CT8
Aluna: Ana Clara Peixoto Ferreira
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Antigamente era
Antigamente era o eu- proscrito
Antigamente era a pele escura- noite do mundo
Antigamente era o canto rindo lamentos
Antigamente era o espírito simples e bom
Outrora tudo era tristeza
Antigamente era tudo sonho de criança.
A pele o espírito o canto o choro
eram como a papaia refrescante
para aquele viajante
cujo nome vem nos livros para meninos
Mas dei um passo
ergui os olhos e soltei um grito
que foi ecoar nas mais distantes terras do mundo
Harlem
Pekim
Barcelona
Paris
Nas florestas escondidas do Novo Mundo
E a pele
o espírito
o canto
o choro
brilham como gumes prateados
Crescem.
belos e irresistíveis
como o mais belo sol do mais belo dia da Vida
Agostinho Neto
Turma: 10º CT8
Aluno: Pedro Gabriel
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António Agostinho Neto1
AMANHECER
Há um sussuro morno
sobre a terra;
degladiam-se
luz e trevas
pela posse do Universo;
sente-se a existência
a penetrar-nos nas veias
vinda lá de fora
através da janela;
Cresce a alegria na alma
a Vida murmura-nos doces fantasias.
Tangem sinos na madrugada
vai nascer o sol.
Turma: 10º CT8
Aluna: Ana Sofia Fernandes Moreira
1
1922-1979
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Tomaz Kim
Antes da metralha…
Antes da metralha e do dedo da morte…
Antes de um corpo jovem, anônimo,
apodrecer, esquecido, à chuva…
Ou singra, boiando nas águas mansas…
Ou se despedaçar contra o céu indiferente…
Antes do pavor e do pranto e da prece…
Um adeus longo e triste
E às noites calmas e ao sonho inacabado…
Antes da morte sem mistério…
Um adeus longo triste
À luta de que não se partilhou!
Turma: 10º CT8
Aluno: Diogo Fernandes
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AS BELAS MENINAS PARDAS
As belas meninas pardas
são belas como as demais.
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.
Olham com olhos no chão.
Falam com falas macias.
Não são alegres nem tristes.
São apenas como são
todos dos dias.
E as belas meninas pardas,
estudam muito, muitos anos.
Só estudam muito. Mais nada.
Que o resto, trás desenganos>>>
Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.
Nos passeios de domingo,
andam sempre bem trabajadas.
Direitinhas. Aprumdas.
Não conhecem o sabor que tem uma gargalhada
(Parece mal rir na rua!...)
E nunca viram a lua,
debruçada sobre o rio,
às duas da madrugada.
Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.
E desejam, sobretudo, um casamento decente...
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O mais, são histórias perdidas...
Pois que importam outras vidas?...
outras raças?... , outros mundo?...
que importam outras meninas,
felizes, ou desgraçadas?!...
As belas meninas pardas,
dão boas mães de família,
e merecem ser estimadas...
Alda Lara (1930-1962)
Turma: 10º CT8
Aluno: João Ferreira da Cunha Ribeiro
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PRELÚDIO
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
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que costumavas contar...
Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada…
Alda Lara
Turma: 10º CT8
Aluno: Bruno António Batista Cardoso
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Monangamba
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações.
Naquela roca grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipoia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
— Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
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Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande – ter dinheiro?
— Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
— "Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
— "Monangambééé..."
António Jacinto
in Na Noite Grávida de Punhais – Antologia Temática de Poesia Africana, Mário de Andrade
(org.), Sá da Costa Ed., 1975
Turma: 10º CT8
Aluna: Inês Pastor Oliveira
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O meu tempo é outro
Envio-te flores:
Rosas, tulipas, margaridas e narcisos,
Neste tempo de neve e luz.
É que a minha festa
É outra - a festa do corpo
Ausente e vivo como o fogo
Das lareiras deste tempo.
E, afinal, o meu tempo
Também é outro:
É o tempo do sol,
O tempo das acácias,
É o tempo do barro
Trabalhado pelas mãos
Do oleiro.
É o tempo da fruta madura
O tempo da fecundação,
O tempo do amor.
E. Bonavona
Turma: 10º CT8
Aluno: Tiago Gonçalves
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BETO VAN-DÚNEM2
Aquela Negra
Que me surgiu nas trevas da fantasia
Com olhar excelso d' escrava adormecida
Causou em mim clara e pura alegria
Seus olhos radiando turbação
Vincavam no rosto tristeza e dor
Pela constante sofreguidão
Causada por olhares cortantes de rancor
E com encanto e estranha melancolia
Deixando-me no olhar doce candura
Como a noite, nas trevas se sumia
Levando nos pomos a ventura
Quem és, donzela que encantas?
Quem és, jovem negra que matas?
Quem em minha alma deixaste noite escura
Provocando-me a insânia e a tortura.
Turma: 10º CT8
Aluno: Carlos Guimarães
2
Nasceu em Luanda ao 28 de julho de 1935.
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DAVID MESTRE3
PORTUGAL COLONIAL
Nada te devo
nem o sítio
onde nasci
nem a morte
que depois comi
nem a vida
repartida
p'los cães
nem a notícia
curta
a dizer-te
que morri
nada te devo
Portugal
colonial
cicatriz
doutra pele
apertada
Turma: 10º CT8
Aluno: António Vila-Chã
3
Poeta e contista. Cidadão angolano, mas nasceu em Loures, Portugal, em 1948 e faleceu em Lisboa,
1998.
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ANA BRANCO4
Chovia simplesmente
Saí...
E meu corpo sacudiu estonteante
Ao embate do vento
E da chuva na pele
Sangrava violentamente o espírito desesperado
Que lutava pelo escasso espaço a circular pelas artérias,
Lutava para me manter à tona.
Os pulmões vomitavam os sons lindos da morte.
Estava a morrer
Enquanto o mundo fugia devagar
Por toda aquela maré.
Já todos tinham ido embora,
Tinham todos fugido da chuva
E do vento
Gritando os nomes sonantes dos parentes
Já falecidos lá longe pelas velhas matas do Maiombe.
Estava a morrer,
Mas ecoei os ecos dos mortos
Enquanto lutava para chegar ao único sítio
Onde seria feliz
à sombra da minha árvore.
Despertei,
Não choveu
Eram as lágrimas de uma criança que me molhavam.
Turma: 10º CT8
Aluno: João Lopes
4
Ana Maria José Dias Branco nasceu na Lunda Norte a 24 de maio de 1967.
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Ruy Duarte de Carvalho5
Abertura
Silêncio mas por que e não apenas vento
até que a pedra se arredonde enfim
e a água se expanda
raiada no verde?
Um sono que se estenda obliquamente
entre a murada construção da idade
e as veredas ordenadas pelo passado.
Uma memória a ter-se
mas não aquela que o futuro impeça.
O sal, por toda a parte.
Então pequenos lagos se acrescentam
a partir de alguma fenda original. E são taças de mar
que dão contorno ao continente agreste.
Turma: 10º CT8
Aluna: Catarina Machado
5
Ruy Duarte de Carvalho foi um escritor, cineasta e antropólogo angolano.
Nasceu a 1941 e faleceu a 2010.
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LUÍS KANDJIMBO
6
O SENTIDO DA PENÚRIA
Um pássaro desolador habita esta cidade
Como uma vaga de poeira imobiliza
Corpos vivos
Nesta cidade o deserto enxerta
Sua semente e o sentido espiritual da penúria
Agreste parece
Quase uma mulher infecunda
Aceita a fatalidade e rejeitada
para sempre.
Turma: 10º CT8
Aluno: Henrique Oliveira
6
1960 Benguela, Angola