1. AUTO-ESTIMA NA ESCOLA: vivências e reflexões com
educadores
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Maria da Apresentação Barreto
Resumo
Este artigo relata uma experiência realizada com educadores,
a qual objetivou oportunizar a vivência e reflexão da auto-
estima como confiança em si mesmo, facilitando aos educado-
res o processo de auto conhecimento, auto-aceitação e melhoria
na qualidade de vida e no trabalho. O trabalho foi realizado
numa escola pública da região metropolitana de Natal e foi
utilizada uma metodologia dialógica baseada na participação
individual e grupai. Os resultados sinalizaram a abertura dos
educadores às vivências, necessidade de um acompanhamento
mais sistemático quanto ao desenvolvimento humano, limita-
ções referentes ao autocuidado e uma prevalência de preocu-
pação em relação ao cuidado com o outro/aluno. Concluiu-se
que a auto-estima do educador necessita de cuidado constan-
te, uma vez que suas ações têm interferência direta no desen-
volvimento e manutenção da auto-estima dos alunos.
Palavras-chave: auto-estima; educadores; alunos; melhoria
na qualidade de vida.
1 INTRODUÇÃO
1.1 DESENVOLVIMENTO DA AUTO-ESTIMA
N a r r a u m a lenda africana q u e a idade de u m a p e s s o a não é c o n t a d a a partir
d o dia e m q u e nasceu, m a s d o dia e m q u e passou a existir no p e n s a m e n t o e nos
s o n h o s de sua m ã e . A l g u n s p o d e r ã o considerar e x c e s s o d e r o m a n t i s m o , outros
dirão q u e por ser lenda, é b o m q u e fique por aí m e s m o .
P a r t i c u l a r m e n t e , a c r e d i t a m o s e d e f e n d e m o s a idéia d e q u e a experiência
de ser desejado, antes de c o n c e b i d o , c o n d u z forte energia d e acolhimento, atração
e desejo, c a p a z de nutrir p o s i t i v a m e n t e os q u e vão nascer. T a m b é m acreditamos
q u e nessas vivências de a c o l h i m e n t o e/ou rejeição, ainda no período gestacional,
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Mestra em Educação em Saúde pela Universidade de Fortaleza, graduada em psicologia pela UFRN professora da
:
FARN e Universidade Potiguar - UNP (apresentacao@bol.com.br).
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2. c o m e ç a m a se configurar os s e n t i m e n t o s q u e alicerçarão o d e s e n v o l v i m e n t o da
a u t o - e s t i m a e tornarão as p e s s o a s capazes de e x p e r i e n c i a r vinculação e prazer
nas relações q u e e s t a b e l e c e m .
A psicologia do d e s e n v o l v i m e n t o , especialmente no século X X , pesquisou
e b u s c o u explicar os efeitos n o c i v o s , d o p o n t o de vista e m o c i o n a l , de u m a gravi-
d e z rejeitada ou indesejada. A rejeição, no início da vida, p o d e r á d e s e n c a d e a r
sentimentos de insegurança, m e d o , dificuldades na v i n c u l a ç ã o e aceitação pesso-
al. P r o v a v e l m e n t e virá d a í a dificuldade futura referente à b a i x a auto-estima.
A psicanálise, c o m o saber psicológico q u e e s t u d a aspectos d o d e s e n v o l v i -
m e n t o h u m a n o , b u s c a investigar a formação do sujeito, sem contentar-se apenas
c o m as experiências imediatas. B u s c a explicações m a i s remotas, tenta chegar aos
conteúdos d o inconsciente para m e l h o r compreender e ajudar as pessoas no alívio
dos seus sofrimentos psíquicos. T a m b é m contribui para desobstruir os canais de
passagem das potencialidades criativas, construtivas e realizadoras de cada ser.
N a s idéias de indivíduo saudável defendidas pelo psicanalista Winnicott
(1986, p. 22), consideramos significativa a expressão segurar (holding) usada pelo
autor. Este faz referência à experiência do bebê na vida intra-uterina, e posterior-
mente q u a n d o depende dos cuidados de alguém que se identifica e percebe c o m o
ele eslá se sentindo. Sinaliza a importância do cuidado q u e propicia satisfação e
segurança.
Num ambiente que propicia um segurar satisfatório, o bebê é capaz de
realizar o desenvolvimento pessoal de acordo com suas tendências her-
dadas. O resultado é uma continuidade da existência que se transforma
num senso de self, e finalmente resulta em autonomia.
A u t o n o m i a e auto-estima parecem identificar-se c o m o atributos do sujeito
que acredita na própria vida, na capacidade de se conduzir, fazer opções e buscar a
realização dos seus desejos. Fica implícita a importância da mãe, ou de u m a figura
substituta, que proporcione segurança, confiança e acolhimento. A presença desses
c o m p o n e n t e s é que dará consistência na posterior trajetória individual e grupai do
sujeito. N a ausência das situações facilitadoras, ou seja, n u m ambiente emocional
averso e rejeitador, p r o v a v e l m e n t e haverá u m a trajetória sinalizada pela fragilida-
de pessoal, dependência, desconfiança e m e d o .
A i n d a na tentativa de melhor compreender esse processo, consideramos
pertinentes as idéias trazidas por M r u c k (1998, apud A M O R I M , 2001), ao consi-
derar que existem pelo m e n o s quatro tipos de auto-estima: a elevada, no âmbito da
qual a pessoa consegue ser crítica consigo m e s m a , e assim mais bem prepara-
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3. da p a r a enfrentar os desafios d a vida, pois v i v e n c i o u e x p e r i ê n c i a s associadas a
êxitos e u m g r a n d e sentido d e m e r e c i m e n t o ; a auto-estima baixa, e m q u e a pessoa
se a p r e s e n t a p r e d i s p o s t a ao fracasso, ficando susceptível a graus variáveis de
d e p r e s s ã o , níveis b a i x o s d e e n e r g i a e a n s i e d a d e crônica; a a u t o - e s t i m a narcisista,
no c o n t e x t o d a qual a p e s s o a vê a si m e s m a c o m o c o m p e t e n t e , m e s m o q u e isso
n ã o seja v e r d a d e i r o ; e, finalmente, a p s e u d o a u t o - e s t i m a q u e implica u m a defici-
ência no m e r e c i m e n t o , d i s t o r c e n d o assim a p e r c e p ç ã o . Nesta, a pessoa é incapaz
de e x p e r i m e n t a r satisfação c o m seus sucessos e luta c o n s t a n t e m e n t e por d e m o n s -
trar sua valia.
D i f e r e n c i a n d o a u t ó - e s t i m a de autoconceito, j u l g a m o s pertinentes as expli-
c a ç õ e s de W O O O L F O L K ( 2 0 0 0 , apud A M O R I M , 2 0 0 1 , p . 127), ao considerar
q u e : (...) a u t o c o n c e i t o é u m a estrutura cognitiva, u m a c r e n ç a e m relação a q u e m
v o c ê é. A a u t o - e s t i m a é u m a r e a ç ã o afetiva, u m a avaliação de q u e m você é.
E m b o r a esses c o n c e i t o s estejam interligados e se manifestem de certa for-
m a indiferenciados, no c a s o d a a u t o - e s t i m a fica e v i d e n t e o c o m p o n e n t e afetivo
c o m o deflagrador d o r e c o n h e c i m e n t o pessoal. E ainda é necessário ressaltar que
este c o m p o n e n t e se forma a partir d o r e c o n h e c i m e n t o e avaliação afetiva dispen-
sados pelas figuras significativas na vida de c a d a sujeito.
D a d a a i m p o r t â n c i a q u e a a u t o - e t i m a e x e r c e na vida da pessoa, torna-se
imprescindível a a m p l i a ç ã o d o s e s t u d o s e projetos q u e b u s q u e m desenvolvê-la.
Tal d e s e n v o l v i m e n t o estará h a b i l i t a n d o as p e s s o a s p a r a o g e r e n c i a m e n t o da pró-
pria v i d a , p r o p i c i a n d o a s s i m u m a a t u a ç ã o i n d i v i d u a l e g r u p a i c r i a d o r a ou
viabilizadora d e m e l h o r e s c o n d i ç õ e s d e vida.
2 A U T O - E S T I M A NA E S C O L A
A u t o - e s t i m a r e l a c i o n a d a c o m o fazer p e d a g ó g i c o e c o m o a m b i e n t e e s c o -
lar é u m t e m a q u e v e m s e n d o b a s t a n t e i n v e s t i g a d o e d i v u l g a d o pelos estudiosos
d o c o m p o r t a m e n t o h u m a n o e pela literatura m a i s p o p u l a r ou informal, tipo revis-
tas e j o r n a i s . A l é m d o material escrito q u e v e m s e n d o p u b l i c a d o , o t e m a e m foco
t a m b é m o c u p a as r o d a s e d i s c u s s õ e s dos gestores escolares, pais, psicólogos e
p o p u l a ç ã o e m geral. N o E s t a d o d o R i o G r a n d e do N o r t e , c o n h e c e m o s escolas
d a s redes particular, m u n i c i p a l e estadual de e n s i n o d e s e n v o l v e n d o projetos para
trabalhar a a u t o - e s t i m a de e d u c a d o r e s , alunos e d e m a i s e n v o l v i d o s no processo
pedagógico.
E s t u d o s e p e s q u i s a s v ê m s e n d o feitas nessa área. C o n s i d e r a m o s relevante
a p e s q u i s a d e s e n v o l v i d a por B u r n s ( 1 9 9 0 , apud A M O R I M , 2 0 0 1 ) , que após rea-
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4. lizar estudos sistemáticos, a c o m p a n h a d o s de c u i d a d o s a investigação, concluiu
que os alunos c o m baixo r e n d i m e n t o escolar tinham c o n c e i t o s n e g a t i v o s de si
m e s m o s . E n q u a n t o isso, os q u e tinham b o m r e n d i m e n t o d e m o n s t r a v a m um con-
ceito m a i s positivo.
N o início deste m i l ê n i o , G o m i d e ( 2 0 0 1 , apud A M O R I M , 2 0 0 1 ) , pu-
blicou estudos c o r r e l a c i o n a n d o baixa auto-estima, fracasso a c a d ê m i c o e c o m p o r -
t a m e n t o s anti-sociais. C h e g o u à c o n c l u s ã o q u e o fracasso a c a d ê m i c o contribui
para baixar a auto-estima, g e r a n d o assim c o m p o r t a m e n t o s anti-sociais. E m b o r a
p a r c i a l m e n t e , d i s c o r d a m o s desse autor, pois t a m b é m t e m o s o b s e r v a d o q u e , na
escola, n e m s e m p r e u m a b a i x a auto-estima, n e c e s s a r i a m e n t e , estará a s s o c i a d a a
c o m p o r t a m e n t o s anti-sociais.
C o n t r á r i o a esses resultados, B r a n d e n ( 1 9 9 8 ) afirma q u e m u i t a s ra-
zões p o d e m contribuir para q u e um aluno não apresente um bom d e s e m p e n h o
escolar, m o t i v o s que p o d e m oscilar d e s d e um p r o b l e m a de dislexia até a falta de
estímulos e desafios a d e q u a d o s para q u e a a p r e n d i z a g e m aconteça. S e g u n d o esse
autor, m e s m o c o m o d e s e m p e n h o escolar afetado, o a l u n o continuaria com u m a
boa auto-estima.
Situando a importância da escola e do professor no d e s e n v o l v i m e n t o
da auto-estima dos alunos, B r a n d e n (1998) adverte para o fato de que o a m b i e n t e
escolar representa u m a s e g u n d a c h a n c e para se adquirir u m a visão de vida m e -
lhor da q u e m u i t o s alunos c o n s e g u i r a m construir no a m b i e n t e escolar.
Por outro lado, o m e s m o autor a i n d a sinaliza o perigo que representa
um grupo de alunos sob os c u i d a d o s d e professores c a r e n t e s de auto-estima.
N e s s a m e s m a linha de a b o r d a g e m d o tema, e refletindo a i m p o r t â n c i a d o profes-
sor na relação q u e estabelece c o m o a l u n o , os e s t u d o s realizados por Voli (1998)
c h a m a m a a t e n ç ã o d o leitor p a r a o s i g n i f i c a d o e i n t e r f e r ê n c i a d o s m o d e l o s
referenciais m o t i v a d o r e s , c o m visão positiva da vida c das relações h u m a n a s .
C o n s i d e r a m o s e x c e s s o de e x i g ê n c i a estabelecer s o m e n t e o professor c o m o m o -
delo referencial no a m b i e n t e escolar, pois além deste, outras p e s s o a s interagem c
p o d e m servir de m o d e l o para o a l u n o : c o o r d e n a d o r e s p e d a g ó g i c o s , funcionários,
diretores e os próprios colegas de sala.
A c r e d i t a m o s na escola c o m o e s p a ç o p r i v i l e g i a d o para o d e s e n v o l v i m e n t o
saudável dos alunos. E nessa crença não p o d e m o s fechar os olhos para a necessi-
d a d e de um constante a c o m p a n h a m e n t o h u m a n o dos e d u c a d o r e s . É nossa meta
ultrapassar a formação tradicional, instrumental, p r e o c u p a d a c o m a t r a n s m i s s ã o
de c o n h e c i m e n t o s . B u s c a m o s ações e relações mais interativas. Q u e r e m o s ir mais
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5. longe, c h e g a r m a i s perto d o ser h u m a n o , educador, gente q u e se relaciona, a m a e
sofre, se e n c a n t a , d e s e n c a n t a e r e e n c a n t a a vida e os trabalhos q u e d e s e n v o l v e .
Professor: u m profissional, s e m dúvida, m a r c a d o pelos interesses de políticas e
políticos q u e o o b r i g a m a exercer u m a tripla j o r n a d a de t r a b a l h o . O c a n s a ç o é
i n v e r s a m e n t e proporcional às o p o r t u n i d a d e s de capacitação, r e c i c l a g e m , r e m u -
n e r a ç ã o e d i á l o g o c o m outros e novos saberes.
Enfim, essa experiência vivencial se constituiu n u m a oportunidade de apro-
x i m a ç ã o , reflexão grupai e tentativa de r e c o n s t r u ç ã o coletiva da a u t o - e s t i m a dos
q u e fazem d a e d u c a ç ã o u m ofício, u m a b u s c a constante de interação e c o n s t r u ç ã o
d e vida e d e c o n h e c i m e n t o s favoráveis à m e s m a .
2 OBJETIVO
O p o r t u n i z a r a vivência e reflexão da auto-estima c o m o confiança e m si
m e s m o , facilitando aos e d u c a d o r e s o a u t o c o n h e c i m e n t o , a auto-aceitação e con-
tribuindo p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o da a u t o - e s t i m a dos alunos.
3 METODOLOGIA
F a z e r o p ç ã o m e t o d o l ó g i c a é dizer o c a m i n h o q u e d e s e j a m o s trilhar para
a l c a n ç a r m o s o objetivo proposto. E t a m b é m explicitar u m a c o n c e p ç ã o de reali-
d a d e q u e p a r a ser investigada necessitará de u m m é t o d o a d e q u a d o e c o m p a t í v e l
c o m a visão de c o n s t r u ç ã o d o c o n h e c i m e n t o , m u n d o , s o c i e d a d e e p e s s o a h u m a -
na, ou seja, é tentar situar a investigação dentro do universo e d o s referenciais
teóricos d o s p e s q u i s a d o r e s . Por tratar-se de u m a experiência vivencial d e s e n v o l -
vida c o m e d u c a d o r e s , o p t a m o s por u m a m e t o d o l o g i a dialógica b a s e a d a na e x p e -
riência p e d a g ó g i c a de Freire (1996).
O c e n á r i o d o trabalho foi u m a E s c o l a pública da r e d e M u n i c i p a l de ensi-
no, situada n a região m e t r o p o l i t a n a de Natal, m u n i c í p i o de P a r n a m i r i m . O grupo
q u e vivenciou a experiência foi c o m p o s t o de 20 professores que trabalham c o m o
ensino fundamental.
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6. 3.1 LEVANTAMENTO DE DADOS E RESULTADOS
Inicialmente o grupo foi c o n v i d a d o a fazer u m a c o n s t r u ç ã o coletiva do
q u e seria o c o n c e i t o d e a u t o - e s t i m a :
• é sentir-se b e m c o n s i g o m e s m o ;
• é r e c o n h e c e r suas q u a l i d a d e s ;
• é sentir-se de b e m c o m o m u n d o ;
• auto-reconhecimento;
• saber t o m a r d e c i s õ e s ;
• ter valor.
C o m base nesses conceitos o g r u p o foi c o n v i d a d o a aprofundar e siste-
matizar o c o n h e c i m e n t o q u e j á d i s p u n h a , fazendo para isso a leitura do texto de
B r a n d e n ( 1 9 9 8 , p . 2 4 9 - 2 5 4 ) a respeito da a u t o - e s t i m a nas escolas e destacou al-
guns pontos principais: a i m p o r t â n c i a da escola n o d e s e n v o l v i m e n t o da auto-
estima da criança, a n e c e s s i d a d e de tratar o a l u n o c o m o respeito q u e ele m e r e c e
e p r i n c i p a l m e n t e a i m p o r t â n c i a d o professor se m a n t e r c o m u m nível e l e v a d o de
auto-estima.
Os e d u c a d o r e s ainda l e v a n t a r a m as p o s s i b i l i d a d e s de contribuir c o m o
d e s e n v o l v i m e n t o da auto-estima n o a m b i e n t e escolar: n o e n s i n o fundamental é
i m p o r t a n t e valorizar o aluno, incentivar o p e n s a m e n t o a u t ô n o m o e criativo, agir
de m a n e i r a saudável e s e m repressão, a u t o - a c e i t a ç ã o d o professor e aceitação do
outro do j e i t o que é, acreditar nas possibilidades e c a p a c i d a d e s d o aluno e orien-
tar as famílias a respeito d o d e s e n v o l v i m e n t o d a a u t o - e s t i m a dos alunos.
E m níveis individual e grupai d u a s q u e s t õ e s f o r a m refletidas: a primeira
dizia respeito aos fatores que c o n t r i b u í a m para elevar a a u t o - e s t i m a dos e d u c a d o -
res e a s e g u n d a olhava o inverso d e s s a m o e d a , ou seja, os fatores que contribuíam
para baixar a auto-estima. R e s u l t a d o s coletados pelo g r u p o :
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7. CONTRIBUI PARA ELEVAR A AUTO-ESTIMA:
• A m o r d o s pais;
• H a r m o n i a da família;
• C o m p r e e n s ã o e a p o i o d o s familiares;
• Vitória e m c o n c u r s o s ;
• Ser a m a d o ;
• Saber tomar decisões;
• Elogios;
• Carinho;
• Receber palavras amigáveis;
• B o a a p a r ê n c i a (estética).
CONTRIBUI PARA BAIXAR A AUTO-ESTIMA:
• Falta d e respeito de a l g u m a s p e s s o a s ;
• N ã o r e c o n h e c i m e n t o das c a p a c i d a d e s ;
• D e s c o m p r o m i s s o de alguns a l u n o s ;
• F i n a n ç a s - b a i x o salário;
• Traição de pessoas amigas;
• T i m i d e z - d e s c o n f i a n ç a grupai;
• D i f i c u l d a d e s cotidianas.
3 . 2 D I S C U S S Ã O DOS RESULTADOS
R e f l e t i n d o os c o n c e i t o s f o r m u l a d o s , os p o n t o s d e s t a c a d o s no texto e as
respostas às d u a s q u e s t õ e s citadas, a l g u m a s idéias ficam e v i d e n c i a d a s : os educa-
d o r e s p o s s u e m u m a c o m p r e e n s ã o c o n c e i t u a i d o q u e v e m a ser auto-estima e re-
c o n h e c e m a i m p o r t â n c i a d o s u p o r t e familiar p a r a o saudável d e s e n v o l v i m e n t o da
p e s s o a . F a z e n d o referência ao a p o i o d i s p e n s a d o p e l a família, o psicanalista
W i n n i c o t t ( 1 9 8 6 ) fala d o q u a n t o é i m p o r t a n t e p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o da auto-
e s t i m a a p e s s o a sentir-se olhada, tocada, r e c o n h e c i d a e a m a d a pela m ã e e pessoas
m a i s p r ó x i m a s . C h e g a a sugerir q u e a l e g i t i m a ç ã o da existência é construída a
partir dessas atitudes. E s s e m e s m o c o n t e ú d o p o d e ser e n c o n t r a d o no q u a d r o o n d e
os e d u c a d o r e s listaram os e l e m e n t o s q u e c o n t r i b u e m para elevar a auto-estima.
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8. D u r a n t e a realização do trabalho ficou ressaltada a p r e o c u p a ç ã o dos
e d u c a d o r e s c o m o b e m - e s t a r dos alunos, e p o u c o foi enfatizada a n e c e s s i d a d e
que sentem de estar b e m c o n s i g o m e s m o s para assim realizar um trabalho saudá-
vel. S a b e m o s q u e esses professores, l e v a d o s , na m a i o r i a das vezes, pela simples
e c o m p l e x a n e c e s s i d a d e de s o b r e v i v ê n c i a , t o r n a m - s e " d a d o r e s " de aulas e per-
d e m a o p o r t u n i d a d e de c o n q u i s t a r o e s p a ç o de c r e s c i m e n t o h u m a n o q u e tal
atividade enseja. A s ações e d u c a t i v a s além de interferir no d e s e n v o l v i m e n t o da
auto-estima de professores e alunos, t a m b é m p o d e r ã o abrir e s p a ç o s para a m a n i -
festação da a u t o n o m i a , q u e é u m c o m p o n e n t e de g r a n d e r e l e v â n c i a no p r o c e s s o
de a m a d u r e c i m e n t o h u m a n o . A a u t o n o m i a foi sinalizada q u a n d o falaram da im-
portância de saber t o m a r d e c i s õ e s . N o entanto, q u a n d o v i v e n c i a d a de m a n e i r a
i n a d e q u a d a p o d e r á fazer c o m q u e a p e s s o a m a n t e n h a relações de s i m b i o s e , de-
p e n d ê n c i a e total s u b m i s s ã o .
A c r e d i t a m o s q u e ser Professor é m u i t o m a i s q u e r e p a s s a r informações,
professar ou e'nsinar algo. É p r o m o v e r ou incentivar u m a leitura de m u n d o e da
realidade q u e se nos apresenta. C o n c e b i d o dessa forma, o Professor precisa ter
um senso de a u t o n o m i a c a p a z de d e v o l v e r ao ser h u m a n o , e d u c a n d o ou c o m p a -
nheiro de profissão, a verdadeira c o n d i ç ã o de h u m a n o , c a p a z de limpar a sujeira
dos sentimentos destruidores da vida, c a p a z de i r m a n a r a todos c o m o m e m b r o s
da grande família h u m a n a e assim c o m p r o m e t i d o s c o m a transformação de tudo o
que não favorece a vida e o b e m - e s t a r das p e s s o a s .
O r e c o n h e c i m e n t o c o n c r e t i z a d o nas m a n i f e s t a ç õ e s de carinho, elogios e
palavras amigáveis t a m b é m foram citados c o m o e l e m e n t o s q u e além de favorecer
a m a n u t e n ç ã o da auto-estima, ainda possibilitam o d e s a b r o c h a r das forças criati-
vas e transformadoras da realidade. O ser h u m a n o d e v e buscar, c o n s t a n t e m e n t e ,
o afastamento das situações adversas à vida pessoal e c o m u n i t á r i a , e a a p r o x i m a -
ção daquilo q u e se constitui o ideal de vida: prazer, satisfação, vida digna, realiza-
ção pessoal/coletiva e saúde. B u s c a r a p r o x i m a r o real d o ideal é u m a luta q u e só
p o d e ser travada p o r pessoas q u e t e n h a m um m í n i m o de confiança e m si m e s m a s ,
acreditam na c a u s a pela qual estão lutando e nas p o s s i b i l i d a d e s de m u d a n ç a s .
A p e d a g o g i a freiriana d e s e n v o l v i d a e p r a t i c a d a no s é c u l o X X , d é c a d a
de 1960, priorizou o ser a u t ô n o m o e c o n s c i e n t e da r e a l i d a d e e m q u e vive. Foi por
isso tachada, durante m u i t o t e m p o , de " p e d a g o g i a e s q u e r d i s t a " , m a s continua
sendo legitimada e aprofundada pelo seu caráter r e v o l u c i o n á r i o e libertador. R e -
cebeu respaldo internacional n o final d o século X X , q u a n d o a U N E S C O , através
d o relatório e l a b o r a d o por D e l o r s (1999), exaltou a f o r m a ç ã o integral d o cidadão
e o a p r e n d i z a d o da c o n v i v ê n c i a e d o ser p e s s o a c o m o pilares a alicerçar a educa-
ção d o século X X I .
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9. A s relações interpessoais e os conflitos q u e d a í d e c o r r e m constituem, na
visão d o s professores, os principais ingredientes destruidores da auto-estima: des-
respeito, traição, d e s c o m p r o m i s s o e falta de r e c o n h e c i m e n t o . E s t a c o n s t a t a ç ã o
sinaliza para a n e c e s s i d a d e d a escola priorizar m o m e n t o s e m q u e sejam trabalha-
das as r e l a ç õ e s h u m a n a s entre os educadores e a c o m u n i d a d e educativa. S o m e n t e
e s t a n d o b e m c o n s i g o m e s m o s é que os e d u c a d o r e s p o d e r ã o estabelecer relações
s a u d á v e i s c o m os a l u n o s .
Os professores t a m b é m fizeram referência às políticas a d o t a d a s n o q u e
diz respeito à r e m u n e r a ç ã o da categoria. Esse item j á o c u p a lugar de d e s t a q u e nas
lutas desses profissionais por m e l h o r e s c o n d i ç õ e s de vida. E r e c o n h e c e m o s q u e o
b a i x o salário traduz o p o u c o r e c o n h e c i m e n t o e a p o u c a valorização d o trabalho,
t o r n a n d o - s e p o r isso u m fator que muito contribui para baixar a auto-estima. É
i m p r e s c i n d í v e l u m a u n i ã o crescente desses profissionais para q u e a luta não seja
apenas de u m p e q u e n o g r u p o , m a s de todos os interessados e m m e l h o r a r sua
c o n d i ç ã o de vida. E i m p o s s í v e l s e p a r a r m o s os fatores e c o n ô m i c o s d o s sociais, e
assim, q u a l i d a d e de v i d a tem íntima ligação c o m o salário q u e se r e c e b e pelo
trabalho d e s e n v o l v i d o .
CONSIDERAÇÕES F I N A I S
O m o m e n t o atual nos leva a defender que a instabilidade dos referenciais
de valores e confiabilidade presentes na s o c i e d a d e d e v e r á ser c o m b a t i d a pelo
d e s e n v o l v i m e n t o de referenciais internos e estáveis. E s t a m o s c o n v e n c i d o s de
q u e as p e s s o a s , q u a n d o têm u m a a u t o - e s t i m a b e m f o r m a d a , c o n s e g u e m se
p o s i c i o n a r na vida c o m m a i s assertividade, r e s p o n s a b i l i d a d e e autoconfiança.
O e d u c a d o r está s e n d o instigado a ultrapassar da prática e d u c a c i o n a l
tradicional, instrumental, p r e o c u p a d a s o m e n t e c o m a aquisição de c o n c e i t o s e
o b t e n ç ã o de resultados quantitativos para u m a ação q u e leve e m conta a forma-
ção do ser h u m a n o m a i s consciente, crítico, reflexivo e feliz. E s s a n o v a c o n c e p -
ção d o q u e v e m a ser o papel do Professor j á foi c o m p r e e n d i d a por C e l a n o (1999),
q u a n d o q u e s t i o n o u a afirmação dos físicos de q u e , se tudo no universo está inter-
ligado, quais seriam as i m p l i c a ç õ e s disto nas ações e relações q u e o professor
e s t a b e l e c e no a m b i e n t e escolar? A m e s m a autora sinaliza o q u a n t o é necessário
aos gestores escolares u m a visão de ser h u m a n o q u e p r o p o r c i o n e a e d u c a d o r e s e
alunos e s p a ç o s de vivência do prazer e da s a ú d e e m o c i o n a l a partir d o d e s e n v o l -
v i m e n t o da sensibilidade e do a b a n d o n o das m á s c a r a s usadas no d e s e m p e n h o de
papéis.
O trabalho realizado sinalizou alguns aspectos q u e exigem m a i o r cuida
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10. d o e a t e n ç ã o por parte dos que fazem da e d u c a ç ã o u m e s p a ç o de f o r m a ç ã o h u m a -
na: o g r u p o de professores se revelou bastante aberto às vivências p r o p o s t a s ,
p a r t i c i p a n d o e refletindo a t i v a m e n t e . É explícita a n e c e s s i d a d e de u m a c o m p a -
n h a m e n t o m a i s sistemático q u a n t o ao d e s e n v o l v i m e n t o h u m a n o d o s m e s m o s ,
p o i s a p r e s e n t a r a m limitações referentes ao a u t o c u i d a d o . D u r a n t e o trabalho, nos
d e p o i m e n t o s d a d o s e nas confidencias feitas, p a r e c e r a m mais p r e o c u p a d o s e vol-
tados ao c u i d a d o d o outro/aluno. A auto-estima d o professor precisa ser estimu-
lada p a r a q u e c o n s i g a m e l h o r a c o m p a n h a r os alunos. T a m b é m fica claro que
trabalhar c o m auto-estima na escola é fazer e d u c a ç ã o e m s a ú d e e m o c i o n a l , u m a
v e z q u e o professor, e s t a n d o b e m c o n s i g o , c o n s e g u e contribuir para o d e s e n v o l -
v i m e n t o da auto-estima dos alunos e assim estabelece relações e d e s e n v o l v e ações
s a u d á v e i s d o p o n t o de vista e m o c i o n a l . Enfim, a escola continua s e n d o e s p a ç o
p r o p í c i o e a m p l o p a r a se construir ações c o m p r o m e t i d a s c o m a q u a l i d a d e de vida
dos e d u c a d o r e s e e d u c a n d o s . R e s t a - n o s acreditar nessa possibilidade e viabilizar
a ç õ e s q u e façam do q u e ainda é s o n h o u m a realidade e m c o n s t r u ç ã o .
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11. Abstract
This paper reports a human internetion experience carriedout
with educators from a public school in the city of Natal. The
idea was to provide them with an opportunity to experience
and exercise some reflection on issues involving self-esteem,
self-confidence and self-acceptance, promoting and enhancing
self- knowledge as well as furthering better quality of living
and working standards. A dialogic approach allowed individual
and group participation. Though results were demonstrative of
the great openness of educators to this type of experience, they
were also revealing of a general lack ofcare about their own
interests and a prevailing concern for the students' needs,
calling for a more consistent treatment of the educator's
personal development. The study concludes that educators' self-
esteem issues should be given further attention as it interferes
directly with the development and maintenance ofthe students'
own self-esteem.
Key words: self-esteem; educators; students; improvement in
quality of life.
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