Este documento discute a indústria brasileira de carne de cavalo. A carne de cavalo é consumida principalmente na Europa e Ásia, e as exportações brasileiras cresceram 13,8% ao ano nos últimos 15 anos. Apesar de o Brasil ser um importante exportador global, as vendas estão concentradas em poucos países importadores. Há potencial para aumentar a competitividade e explorar novos mercados.
1. AGRONEGÓCIO
As exportAções brAsileirAs
de cArne de cAvAlo
Este artigo apresenta um breve resumo dos resultados de uma ampla pesquisa realizada pelo
CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da ESALQ/USP), denominado
Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo.
R
ecentemente a Confederação da complementado por pesquisas de Orsolini e de
Agricultura e Pecuária do Brasil Lima & Tarasantchi.
(CNA) publicou os resultados de Inicialmente, convém destacar que a explora-
uma ampla pesquisa realizada pelo ção da carne de cavalo é um aproveitamento com-
CEPEA (Centro de Estudos Avan- plementar do cavalo. Isto é, não há, no Brasil, cri-
çados em Economia Aplicada, da ESALQ/USP), ação de cavalo exclusivamente para o abate. Os
denominado Estudo do Complexo do Agronegó- frigoríficos trabalham com animais de descarte,
cio do Cavalo. Dentre os temas discutidos, a car- já utilizados em outras atividades, como na lida do
ne de cavalo foi o que despertou maior interesse, gado bovino. Exceção aos animais utilizados em
principalmente devido ao desconhecimento do as- atividades esportivas, que não são utilizados na
sunto pelo público não especializado. Este artigo produção de carne, pois podem apresentar resí-
apresenta um breve resumo do que foi publicado, duos de medicamentos.
2. A carne de cavalo possui aparência similar à
carne bovina (Figura 1), com uma cor um pouco
mais avermelhada, e possui um sabor mais adoci-
cado e menor teor de gordura (Tabela 1).
Na Europa, a carne de cavalo era consumida
sem restrições até a Idade Média. Ela era, inclu-
sive, utilizada em cerimônias religiosas teutônicas
em adoração ao deus Odin (França, 2004). Para
combater os costumes pagãos, o papa Zacarias
(741-742) proibiu o consumo de carne cavalo.
Somente no início do século XIX, o preconceito
contra este tipo de carne começou a decrescer, Figura 2: Participação percentual dos maiores países importadores
sendo seu consumo expandido durante períodos no montante total, em US$, comercializado de carne de cavalo no
mundo, em 2004. (Fonte: FAO - 2006)
de guerra (Torres & Jardim, 1977). Atualmente,
a carne de cavalo é consumida principalmente na
Europa e na Ásia, inclusive na forma de embuti-
dos (muitas vezes misturada com carne de porco
ou outras carnes). O consumo no Brasil é inex-
pressivo.
As importações de carne de cavalo estão con-
centradas em poucos países. França, Bélgica e
Itália responderam, em 2004, por 64,6% do volu-
me importado no mercado mundial (Figura 2).
Figura 3: Participação dos maiores importadores líquidos de carne de
cavalo em nível mundial, no ano de 2004. (Fonte: FAO - 2006)
Muitos países importam carne de cavalo para
processá-la e, com maior valor agregado, expor-
tarem. Se for considerada apenas as importações
líquidas (isto é, o valor das importações deduzido
do valor das exportações), nota-se que o merca-
Figura 1: Carne de cavalo - exemplos de al- do é ainda mais concentrado. Quatro países (Fran-
guns cortes. ça, Itália, Suíça e Rússia) responderam, em 2004,
Tabela 1: Composição química (Koenig) da carne bovina e da carne eqüina.
Composição
Classe
Água Albuminóides Graxas Hid. Carb. Cinzas
Carne bovina gorda 56,2% 18,0% 25,0% — 0,8%
Carne bovina magra 75,5% 20,5% 2,8% — 1,2%
Carne eqüina 74,7% 21,5% 2,5% 0,3% 1,0%
Fonte: Torres & Jardim (1977)
3. AGRONEGÓCIO
15 anos, entre 1990 e 2005, as exportações setu-
plicaram, passando de menos de US$ 5 milhões
para valores próximos a US$ 34 milhões, com
crescimento médio anual de 13,8%. A Figura 4
apresenta a evolução das exportações anuais bra-
sileiras de carne eqüina, desde 1989.
A carne de cavalo produzida no Brasil é ex-
portada principalmente para a Europa, destacam-
se Bélgica e Holanda que, juntas, respondem por
50,5% das exportações (Figura 5).
O Brasil tem aparecido como um dos princi-
pais exportadores mundiais e tem apresentado
Figura 4: Brasil - evolução do valor das exportações anuais de carne melhoria em diversos indicadores de competitivi-
de cavalo, 1989 a 2005, em US$ (FOB). (Fonte: MDIC - 2006) dade, tais como: elevação da sua participação no
mercado mundial; e, vantagem comparativa com
relação aos países do Mercosul. Entretanto, as
vendas brasileiras estão concentradas em países
também exportadores, como Holanda, Bélgica e
Itália. Assim, percebe-se que há espaço para o
crescimento das exportações brasileiras de car-
ne de cavalo. Porém, para tanto, é necessário con-
tinuar elevando a competitividade, buscando maior
aproximação aos índices atingidos pelos demais
países do Mercosul, assim como explorar melhor
os principais mercados importadores, como, por
exemplo, a Rússia (através da adequação sanitá-
ria).
A indústria de carne de cavalo é responsável
Figura 5: Brasil - principais destinos das exportações de carne de
cavalo no ano de 2005, em percentagem do valor total das exporta- pela criação de milhares de empregos diretos e
ções. (Fonte: MDIC - 2006) indiretos no país. A demanda direta de trabalha-
dores nos frigoríficos é de um funcionário para
por 77,1% do volume de importações líquidas no cada animal abatido ao dia. Segundo informações
mercado mundial (Figura 3). do Sistema de Inspeção Federal (SIF), são abati-
No Brasil, apenas sete frigoríficos – distribuí- dos cerca de 200.000 eqüideos anualmente. Con-
dos nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e siderando que para atingir essa quantidade de
Minas Gerais – respondem pela totalidade do co- abate os frigoríficos estejam operando com aba-
mércio externo de carne de cavalo. Além destes te de 1.000 animais por dia, estima-se que este-
frigoríficos, apenas mais um apresentava autori- jam sendo empregadas 1.000 pessoas nesse seg-
zação do SIF (Serviço de Inspeção Federal) para mento.
o abate de eqüídeos, o Notaro Alimentos S.A., no Roberto A. de Souza Lima
município de Belo Jardim (PE), conforme infor- Professor doutor da Escola Superior de
mações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Agricultura “Luiz de Queiroz” da
Universidade de São Paulo (ESALQ/USP)
Abastecimento (MAPA, 2006). Deve-se desta- raslima@esalq.usp.br
car que a legislação brasileira não permite que Rudy Tarasantchi
um matadouro de bovinos ou outro animal tam- Graduando da ESALQ/USP
bém realize abate de eqüinos.
O estudo completo está disponível no site
O volume de exportações brasileiras de carne
http://www.cna.org.br.
de cavalo tem crescido anualmente. Nos últimos