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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO 
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
Machado de Assis, um diálogo entre histórias. 
Vitor Bernardo Lopes 
SÃO PAULO 2014
Vitor Bernardo Lopes 
Machado de Assis, um diálogo entre histórias. 
Artigo apresentado como exigência da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, no curso de Licenciatura de História, da Universidade Nove de Julho, no ano de 2014, sob orientação do professor Geraldo Alves.
Agradecimentos: 
A meus pais Marinalva e Aparecido e a minha irmã Mariana agradeço a paciência pelas atitudes nem sempre corteses, geradas por vontade de desistir ocorridas. Aos meus amigos Enio Everton, Hedvar Neves, Paulo Pereira, Rafaela Gomes, Renata Polim, Wellington Santos e Thamiris pelas oportunidades de debates e companheirismo neste período. A Diego Castor e Rosangela Dias pela amizade. Finalmente, a minha Tia Iracema e o amor de sua família pela nossa. 
Dedico esta representação de fim de um ciclo a Alderice Laranjeira, avó falecida e aos meus tios, também falecidos, Edileuza e Damilton.
Machado de Assis, um diálogo entre histórias. 
Resumo 
Este artigo tem a proposta de analisar, através de uma revisão bibliográfica, a obra de Machado de Assis como fonte de obras historiográficas, comparar perspectivas e assuntos levantados de diferentes autores, tais como John Gledson, Roberto Schwarz e Sidney Chalhoub. 
Os tópicos abordados foram definidos, principalmente, como elo entre os críticos da obra de Machado que se complementam. Delineamos como primordiais as questões sociais do Brasil do século XIX observados na obra deste escritor, contrariando uma antiga visão da crítica literária de que o mesmo não as tinha em conta na elaboração de seus textos. Assim, o principal intuito é relacionar aspectos das obras e características sociais do segundo reinado, desconstruindo a imagem atribuída ao escritor, além da importância de suas análises para compreensão do patriarcalismo e escravidão, por exemplo. 
Palavras chave: Brasil, escravidão, Machado de Assis, obras historiográficas, patriarcalismo, século XIX.
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Introdução: 
Ah! indiscreta! ah ! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar na instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. 
Memórias Póstumas de Brás Cubas 
As fontes primárias são tanto sua produção ficcional, quanto suas intervenções em órgãos da imprensa ( crônicas, artigos, reportagens, etc), além dos pareceres de Machado dentro do Ministério da Agricultura. 
As fontes secundárias levantadas se configuram nas interpretações de John Gledson (ex: Machado de Assis, Impostura e Realismo), Roberto Schwarz ( Ao vencedor as batatas) e Sidney Chalhoub. O trabalho é norteado pela visão dialética do professor Antonio Candido, em Literatura e Sociedade, cujo o corpo teórico atribui às questões sociais que são incorporadas pelos escritores em suas obras e como são internalizadas dentro das mesmas. Ou seja, como o social repercute dentro de sua obra e de como é vista em um dado contexto social. 
A obra de Machado de Assis de sua fase madura é a partir da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de 1881 e considerada partida de seu período efetivamente realista. Porém, não nos limitaremos a esta periodização, pois o escritor contribuiu desde antes em jornais e impressos, e muitas de suas obras do chamado período romântico são utilizadas pelos autores, como Sidney Chalhoub na releitura de Helena. A ordem se dá pela cronologia do lançamento das obras da crítica, pois não se furtam em dizer a contribuição das pesquisas anteriores em seus textos. A análise não se propõe a um recorte geográfico específico diretamente, mas induz-se se tratar do Rio de Janeiro, porém, a obra de Machado de Assis incluiu diversos posicionamentos de repercussão nacional, tais como escravidão, ciência, patriarcado, questões políticas no segundo reinado, etc. 
I. Desdobramentos do patriarcalismo
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O propósito de abarcar uma nova interpretação der Dom Casmurro é apresentado pelo autor pela extrapolação de manifestações socais da época de sua produção, dialogando com suas características e proporcionando uma leitura de que o próprio Machado de Assis possuía acerca do contexto social ao qual pertenceu. Advém esta ideia já estampada na introdução, em que Gledson diz “(...) Dom Casmurro como romance realista na concepção e no detalhe, cujo objetivo é nos proporcionar um panorama da sociedade brasileira no século XIX”, logo em seguida, conclui 
“(...) e em quantos pormenores o romance revela verdades de todos os tipos acerca de dinheiro, religião, sexo, família, classe, política, sobre o uso da linguagem, da imagem, da metáfora, e assim por diante, Dom Casmurro, exemplifica muito mais do que pensa, o princípio realista de que só podemos alcançar verdades gerias se estivermos dispostos a nos empenhar por inteiro no particular.”(GLEDSON, 7). 
Afora as grandes qualidades do escritor e figura pública, Gledson distribui suas concepções literárias acerca da linguagem, do narrador: “(...)Contudo, o narrador é sempre (e, até certo ponto, precisa ser) também uma personagem, criação do autor.”(Idem, pp. 8). É importante destacar este ponto, pois a imbricada obra de Machado de Assis faz nos perder em pistas, ao qual, sem atenção, temos dificuldades em interpretar uma obra que parece não se limitar em possibilidades. Gledson destaca que esta releitura foi iniciada a partir do acesso as obras de Raymundo Faoro, em Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio, e Ao vencedor as batatas, de Roberto Schwarz, embora não desconsidera de que estas dialoguem com obras de cunho historiográfico de Emília Viotti da Costa e Maria Sylvia de Carvalho Franco. 
As obras de Gledson e Schwarz são explicitamente comparadas por aquele, posto que registra como um dos fatores elementares de sua proposta de releitura, em que é constante a citação a interpretação consta em Ao vencedor as batatas do papel dos dependentes na sociedade patriarcal brasileira, como José Dias em Dom Casmurro, Iaiá Gárcia e Helena. A relação de patronagem é analisada na obra de Emilia Viotti da Costa e repercute também em Schwarz, principalmente no ensaio Ideias fora do lugar. Este paralelismo é encontrado também em Dom Casmurro, pois a
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família de Pádua, pai de Capitu, faz parte dos elos patriarcais ligada aos Santiagos, fora, claro, o papel de José Dias. 
Ao destacar o papel do narrador como criação literária, não podemos desconsiderar como esta particularidade social está presente também na vida do autor, portanto, leva-nos literária como diálogo entre autor-obra-público, ao qual se refere Antonio Candido, em Literatura e Sociedade e presente também em John Gledson: 
Não só mostra uma ordem social conservadora empenhada em uma tentativa dolorosa e, sob muitas formas, fracassada e autodestruidora de conservar seu poder e autoconfiança: o microcosmo familiar, visto como uma metáfora de toda a classe dominante, também desvenda verdades sobre a composição política, ideológica e religiosa do segundo reinado.(Ibidem, pp.13) 
O enredo é analisado primeiro na construção do “Eu” dos personagens, conceito freudiano ao qual o autor recorrerá seguidas vezes. Aqui, com maior destaque na observação da teia que está a família de Bento, enumerando todos os dependentes que residem juntos, classifica José Dias, Prima Justina, Tio Cosme e a matrona Dona Glória, esta se dispondo a verificar a rede de interesses dos agregados, pois Gledson cita de que há quem diga que Dom Casmurro é o livro de Capitu, ou de que José Dias é o melhor observador do romance, o que não será despercebido de que observa com bastante interesse. 
Na trama, mais uma vez dentro das obras machadianas, é percebido de que a morte do pai não diminui o peso de sua autoridade, lembrando de que Dona Glória mima o filho e promete-lhe ao convento por ter sobrevivido, entretanto, a ausência do pai em sua viuvez realça os valores com uma certa teatralidade no papel da religião e das aparências:”(...)embora permanecemos no mundo dos subordinados ( viúva, filhos, criados, , etc) esse mesmo fato não elimina o poder patriarcal, mas o distribui e mostra como ele funciona.”(Ibidem, pp.58). Assim, ao analisar a carolice de Dona Glória, os interesses de José Dias e dos outros agregados, Tio Cosme e Prima Justina, este dois mais diluídos no romance, o que segundo John Gledson, mais confirma do que nega o enredo.
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Gledson prepara campo para constatar de que Bento é a figura mais complexa criada por Machado, atentando porém, de que não se deve tentar “reatar as duas pontas”, em menção ao trabalho de Helen Caldwell e ao início do romance, referindo- se ao conto Ressurreição, para não se tomar o exemplo de Lívia e tentar justificar Capitu e Dom Casmurro em si. Sobre Bento, diz: 
No centro de tudo está sua inexperiência, fruto da posição social privilegiada e da recusa da mãe a deixa-lo crescer normalmente. Porque não consegue compreender o mundo ou outras pessoas como realmente são, cria, defensivamente, suas próprias versões deles, e por fim, sua própria trama metafórica ( o adultério ), que une em pecado e danação as duas personagens que mais ameaçam seu mundo. ( Ibidem, pp.83-84 ). 
A partir do capítulo 3, desenvolve assuntos mais especificamente, aqui tratando de política. Situando o romance entre 1855-1871, estas questões são atribuídas a melindres das personagens com alguns eventos históricos, tais como a Guerra da Crimeia e a anexação das Filipinas pelos Estados Unidos., porém afirma que o romance é mais históricos do que político. As leituras anteriores de Machado implicam em afirmações de que questões políticas são tratadas em forma de sátira, mais como inoportunas. Entretanto, em Impostura e Realismo, Gledson diz que “a ficção de Machado contém uma visão bastante coerente da história brasileira do século XIX”( Ibidem, pp. 86). A possível causa de que Machado afirmava sobre um desinteresse da sociedade quanto a política, é atribuída ao período chamado de Conciliação. Aqui, é apontado pelo autor o cuidado necessário na leitura da narrativa que é desenvolvida por Bento, sobre a sociedade brasileira não possuir história, portanto, estática. Esse argumento é analisado pelo fato do protagonista erguer uma casa igual a qual morara quando jovem, ou seja, revivendo-o, pois assim o quis. O autor também afirma, através de uma afirmativa de Bento Santiago, a respeito de Napoleão: “Depois de Napoleão, tenente e imperador, todos os destinos estão neste século”( Apud. ASSIS, Machado. In: GLEDSON, John. Machado de Assis: Impostura e Realismo ). Presume ser a figura de Napoleão central na interpretação política de Machado, pois é evocado diversas vezes, como em Quincas Borba ( Rubião se satisfaz em ser a cópia da cópia ao se comparar a Napoleão III ).
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Outra figura que permeia estas obras é o Imperador Dom Pedro II, mas nega- se que o escritor não o respeitasse, apenas o utiliza para ironizar o ar de prepotência que Quincas Borba se dá: “Era um gosto ver Quincas Borba fazer de Imperador nas festas de Espirito Santo. De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministros, general, uma supremacia, qualquer que fosse.” ( Idem, pp. 103) Porém, uma cena em particular lembrada neste capítulo 3, arrola dois temas centrais em análise, política e religião, em que Pádua e José Dias disputam quem será responsável pela tocha da procissão, em uma demonstração de rivalidade na influência sobre Bentinho. Após o embate, abre-se um véu, sinalizando de que a procissão fora realizada em um local paupérrimo, como vista a classe leitora de Machado para a existência de outras classes, em que tal artificio também é utilizado em Quincas Borba. 
A questão do paternalismo é desenvolvida por Roberto Schwarz, em Ao vencedor, as batatas, porém com uma estrutura argumentativa diferente, pois analisa as questões de classe muito mais evidente e manifestadamente do que Gledson, posto a divisão do trabalho escravista e o papel do Brasil na divisão internacional, é mais uma questão de mando, do que de eficácia, dialogando com uma historiografia que frequentemente remete a Emilia Viotti da Costa e Maria Sylvia de Carvalho, para ambos, mas tendendo ao economicismo para Schwarz: 
Como é sábido, éramos um país agrário e independente, dividido em latifúndios, cuja produção dependia do trabalho escravo por um lado, e por outro do mercado externo. Mais ou menos diretamente, vêm daí as singularidades que expusemos. Era inevitável, por exemplo, a presença entre nós do raciocínio econômico burguês – a prioridade do lucro, com seus corolários sociais- uma vez que dominava no comércio internacional, para onde nossa economia era voltada.(SCHWARZ, 2000:12) 
Assim, a incompatibilidade entre as ideias das elites desejosas em se atrelarem ao pensamento liberal cosmopolita, entravam em choque de forma evidente com uma sociedade altamente desigual, escravista e hierarquizada, voltada para uma economia dependente de poucos produtos de exportação e pouco propensa a empreendimentos individuais, como o caso das grandes nações capitalistas de então, assim como dissera Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, também citado em Ao
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vencedor, as batatas: “Trazendo de países distantes nossas formas de vida, nossas instituições e nossa visão de mundo e timbrando em manter tudo isso em ambiente desfavorável e hostil, somos desterrados em nossa terra.” ( HOLANDA, Sérgio Buarque de. IN: SCHWARZ, Roberto, pp. 13 ). Portanto, refere-se à pesquisa de Maria Sylvia de Carvalho sobre o nascente capitalismo brasileiro de outrora não se constrói apenas na divisão senhor-escravo, mas também ao homem livre, a quem se insere mais nos meandros das relações de patronagem e presente tanto na ficção de Machado, quanto em suas contribuições em periódicos. 
Os pontos levantados como análise da bibliografia buscam se nortear por acepções levantadas por Antonio Candido, em Literatura e Sociedade, pois, destaca e concordamos: 
“Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma das visões dissociadas, e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, que tanto o velho ponto de vista que explicava fatores externos, quanto ao outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo ( no caso, o social ) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno.” ( CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. SP: Editora 34, 2000 ). 
Portanto, consideramos não somente os aspectos estéticos de uma obra, mas a forma em que esta dialoga com seu meio social, influenciando e sendo influenciada por este. 
As elites tradicionais brasileiras se imbricaram durante o século XIX em diversas disputas, incorporando discursos modernizantes estrangeiros. Todavia, torcia o nariz para revoltas populares, como a Revolução Francesa e a rebelião de escravos no Haiti, se queixava dos mandos e desmandos monárquicos, vendo como uma solução crível, uma monarquia constitucional em 1822. Malograda suas expectativas e a permanência de sua postura frente a escravidão, como dito, importa o liberalismo como ideologia, o que para Emília Viotti da Costa, é ligada aos mercadores voltados para exportação e importação: “Liberdade, igualdade, soberania do povo, autonomia,
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livre-comércio, todas essas palavras grandiloquentes, tão caras aos liberais europeus, possuíam conotações especificas no Brasil” ( COSTA, 1999:135 ) . 
Devemos considerar que a disputa europeia era contra o absolutismo, e aqui, contra o estatuto colonial e suas relações de dependência, como o direcionamento dos investimentos e negócios voltados para os interesses metropolitanos, restringindo a formação de uma indústria interna e mantendo as grandes lavouras. Muito embora esse viés modernizante fosse proferido, o interesse da seguridade referente à posse da mão-de-obra escrava era disputado a ferro e fogo, contrariando a visão liberal de venda de mão-de-obra. Uma entre várias anomalias do regime. 
A estrutura da dependência e a necessidade da prestação de favores era o cerne da sociedade imperial, como visto, em que não escapavam os auto declarados liberais. Na interpretação feita por Sidney Chalhoub no tocante ao esquema teórico de Roberto Schwarz, havia uma ligação nervosa entre as práticas de patriarcado e a escravidão, orbitando juntamente com dependentes e trabalhadores livres em redes de autoproteção e submetendo todos aqueles que não eram senhores aos seus desvarios, porém, podemos constatar espaços de distensão da hegemonia senhorial. 
II. Uma leitura contra a corrente 
Alguns críticos afirmam que a obra relevante de Machado inicia-se com Memórias Póstumas, tal é o caso de Schwarz, mas outros consideram como fundamental o conhecimento das obras anteriores, como Jean Michel-Massa. Helena é de 1876, portanto, quinze anos antes de Memórias Póstumas, de 1891, e foi usada por Sidney Choulhoub para sua análise da sociedade patriarcal descrita por Machado de Assis. Tem como enredo a jovem que passa a convivência dos familiares do finado Conselheiro Vale, constando como uma das beneficiadas de seu testamento por ser filha bastarda do mesmo. Descrita como uma moça altiva, conhecedora da etiqueta das classes mais abastadas, tendo passado por uma educação rigorosa concedida as jovens da época, o testamento orientava sua ida para com os familiares do Andaraí. A trama se passa em 1850, portanto, Machado situa esta obra dentro do período saquarema, de predomínio conservador, ou seja, dos principais latifundiários do país. 
A leitura de Choulhoub procura delinear diversas situações evidenciando os registros do desejo patriarcal. Para o historiador, Estácio (filho legítimo e principal
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herdeiro ) dá diversos indícios de não captar sua condição de classe, sub julgando qualquer outra vontade que não seja a sua, em uma leitura de mundo sob sua vontade. Entre as diversas tensões sobre a acolhida imposta, identificamos os ranços de classe, como a necessidade de se reconhecer pelo cheiro a origem da nova moradora. Apesar do desapreço de d. Úrsula, agregada da família, cabe mesmo a Estácio se posicionar quanto a situação e que interverá para a atitude dos dependentes: 
“Na realidade, toda a arenga de d. Úrsula sobre a severidade dos costumes e a pureza de sentimentos acaba se amoldando à forma de um preconceito de classe: nada se sabia sobre a origem da menina, nada constava sobre a mãe, além do nome. Como fazer assim acender uma ”mulher de ordem inferior?””( CHALHOUB, 2003: 21 ) As aspas são do autor. 
A descrição do jovem e especialista na abstração matemática, ou seja, buscando enquadra-lo na auto-titulação de possuir a razão lógica, nos faz avaliar desde ai uma forma de traçar as linhas que separam estas personagens. Estácio é ciente das atribuições que a sociedade confere a ele, estendendo o mundo ao desenrolar de suas vontades. O aceite da situação se dá pela tentativa de não dividir ainda mais a riqueza deixada pelo pai, pois constando em testamento, sua vontade deve ser prontamente estabelecida, evitando litígios que a herdeira poderia tomar. Cabia a Estácio manter as redes estabelecidas pelo pai. 
Caminhamos para uma interessante abordagem de Chaulhoub. Identificadas algumas das premissas resguardadas aos senhores no período Imperial, verificamos uma anuência daqueles que orbitam nesse cenário de dependentes, mas não se tratam de seres autômatos, conseguindo obter a concessão de algumas de suas vontades. Sidney Chaulhoub diz ser esta uma abordagem contra a corrente, conferindo certo grau de autonomia a algumas personagens. 
Utilizando uma artimanha, Helena consegue convencer Estácio a leva-la para uma aula de equitação. Durante uma conversa com os súbitos familiares, a personagem principal diz ter despertado a vontade andar a cavalo após folhear um livro de geometria, explicando em seguida que tal aparente absurdo de comparação ocorreu por ouvir passo de cavalo enquanto estava com o livro. O filho do conselheiro
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se prontifica a dar lições de equitação. No dia seguinte, ao iniciar a aula, Estácio percebe que sua meio irmã sabe muito bem andar a cavalo, ficando evidente a indução que sofrera. Eis o trecho de diálogo destacado por Chaulhoub, na página 25: 
- Não me dirá você, perguntou ele, por que motivo, sabendo montar, pedia- me ontem lições? 
- A razão é clara, disse ela; foi uma simples travessura, um capricho... ou antes um cálculo. 
- Um cálculo? 
- Profundo, hediondo, diabólico, continuou a moça sorrindo. Eu queria passear algumas vezes a cavalo; não era possível sair só, e nesse caso... 
- Bastava pedir-me que a acompanhasse. 
- Não bastava. Havia um meio de lhe dar mais gosto em sair comigo; era fingir que não sabia montar. A ideia momentânea de sua superioridade neste assunto era bastante para lhe inspirar uma dedicação decidida. ( MACHADO, Apud CHAULHOUB, 2003:25). 
A inteligência em manobrar Estácio fica evidente na transcrição do diálogo, após um início tortuoso. Essa necessidade de concessões e favores é habilmente apreendida por Helena, arrancando do herdeiro certo sentido de superioridade, e também, graças a visão crítica da moça. 
As conversas entre os irmãos são os principais pontos elencados nesta análise. O livro trás alguns aspectos sui generis: na condição de mulher, filha bastarda e dependente, tentando equilibrar-se dentro do pequeno novo universo que a rodeia. Entretanto, não nos pareceria correta se não levasse em conta a escravidão, ou como diz Gledson, o abrir da cortina momentaneamente. 
Sem conseguir fazer o irmão perceber a própria visão de mundo, certo de que este está a seu serviço, ela não se resigna: 
Valem muito os bens da fortuna (...); eles dão a maior felicidade da Terra, que é a independência absoluta. Nunca experimentei a necessidade; mas
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imagino o que deve ser a privação de alguns apetites ou desejos, de sua natureza transitórios, mas sim essa escravidão moral que submete o homem aos outros homens. A riqueza compra até o tempo, que é o mais precioso e fugitivo bem que nos coube. Vê aquele preto que ali está? Para fazer o mesmo trajeto que nós, terá de gastar, a pé, mais uma hora ou quase. ( Idem, CHALHOUB, 2003:27 ) 
O termo escravidão moral não é utilizado à toa. A escravidão é a maior dependência possível dentro do regime, não se concebe a possibilidade de divergir, desejar em contrário, escolher. O tempo para o escravo, segundo a ideologia tão bem introjetada em Estácio, flui de acordo com a permissão do senhor. Suas posses conferem um grau de autonomia bem quista socialmente; comprou-lhe o tempo e tem a condição de contemplar as descobertas científicas. Longe de querer encerrar o assunto, Helena retorque: “ (...) Para aquele preto o mais aprazível é talvez, esse caminhar a pé, que lhe alongará a jornada, e lhe fará esquecer o cativeiro, se cativo. É uma hora de pura liberdade.” ( Ibidem, p. 29 ). Por mais que estigmatizado o dependente, diz Helena, possui espaços que o senhor não poderá alcançar e deseja mostrar ao irmão que o estado de submissão não impede de ver o mundo a partir de outra ótica. Apesar do esforço, Estácio não cede, a quem tudo se traduz de sua vontade, não percebe a contradição de prezar “independência absoluta” com a condição de cativo como opressora. 
Há outra personagem diretamente ligada a questão dos cativos: Vicente, pajé, de Helena e companheiro das visitas que a moça faz ao pai em segredo. Perdigão Malheiro, outro dos dependentes ligado à família do Conselheiro vale, traz uma observação sobre os escravos urbanos: 
Nas cidades já se encontram escravos tão bem vestidos e calçados, que, ao vê-los, ninguém dirá que o são. Até o uso do fumo, o charuto sobretudo, sendo aliás um vício, confundindo no público todas as classes, nivelando-as para bem dizer, há concorrido a seu modo para essa confraternidade, que tem aproveitado ao escravo; o empréstimo do fogo ou do charuto aceso para um outro acenda o seu e fume, tem chegado a todos sem distinção de cor nem classe. E assim outros atos semelhantes. (Ibidem, p. 53).
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As tentativas de justificar as distinções sociais é recorrente, cremos, não somente na sociedade imperial. A cada questionamento, seus defensores são capazes de apresentar situações que queiram nos provar do contrário. A igualdade através do charuto é uma amenidade, pois são seria o regime tão ruim por haver alguns negros com boas roupas e dividindo charutos com outros transeuntes. As instituições são dotadas de objetividade, são compartilhadas, em certa maneira, por um coletivo e estão “presentes fora dos indivíduos”, são capazes de coerção, mas também dinâmicas, são dotadas de capacidade de comunicação, expressando intenções de forma subjetiva, também tem atributos de historicidade e uma autoridade moral.( BERGER; BERGER. In FORACCHI; MARTINS (org.) 1980:197 ). Portanto, é muito difícil para indivíduo tentar muda-las por conta própria, tendo a vista seu caráter coletivo, mesmo que excludente. O ato de apartar o negro e o subterfugio da construção de uma doutrina que o desqualifique pode ser analisada por diferentes vieses. É interessante pensar como esse processo é dinâmico e cheio de contradições, remetendo a própria condição de Machado, de como se posicionou perante os imbróglios de seu tempo e de como foi incorporado no regime; se a obra é melindrosa, a vida do escritor também não deixou de ser. 
Chalhoub parte para verificar a relação entre homem e obra, o ponto de virada entre os diferentes períodos que a crítica aponta na obra de Machado. Umas das razões, argumenta, é a lei de 1871, batizada de Lei do Ventre Livre e as divisões internas ocasionadas durante as deliberações apresentadas na Câmara dos Deputados, juntamente com as atribuições de Machado no Ministério da Agricultura. 
III. “ E só resta o Brasil” 
Sabe-se dos poderes conferidos a D. Pedro II durante seu reinado, ao abrir de crises entre as oligarquias, destituía um gabinete e convocava outro lado para compor um novo governo. Todavia, era incomodo ao país ser um dos últimos rincões escravocratas do Ocidente, o que o fez solicitar a José Antônio Pimenta, futuro marquês de São Vicente, a realização de estudos que viabilizassem a abolição da escravidão. Obviamente, estamos nos valendo dos ocorridos dentro das esferas públicas de decisão, deixando um pouco de lado as lutas abolicionistas e esforços dos próprios cativos pelo fim da escravidão. Portanto, não nos furtamos em dizer não ser
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uma explicação monocausal, mas possuir como finalidade a análise da máquina a qual se encaixava Machado dentro do funcionalismo. 
A Guerra do Paraguai ainda em curso e a resistência do gabinete chefiado por Marquês de São Vicente ofuscaram a apresentação dos estudos apresentados em 1866. O próprio monarca se apresenta como dispostos em levar a diante a questão frente ao parlamento, como se fosse questão apenas de conveniência, já era dada como certa. Ainda mais após a correspondência de um grupo francês abolicionista, chamado Comité pour l’Abolition de l’Esclavage ( Comitê para Abolição da Escravidão ) e a resposta de se tratar também de uma prioridade de Estado, os ânimos vão se aumentando. O estudo apresentava a escravidão como inapropriada as mudanças que ocorreram durante o século, reduzindo parte da humanidade a uma situação degradante e bárbara. Entretanto, a formulação do documento não era a representação de unanimidade face ao problema. Era preciso colocar o Brasil na direção do futuro, contanto que se assegurassem os direitos de proprietários. 
O isolamento do país é um dos fatores fundamentais para o encerramento do trabalho escravista. O trabalho de Pimenta Bueno era emancipar o ventre das cativas, garantindo o nascimento livre, com a ressalva de prestação de serviços para os filhos até os dezesseis anos para as meninas e vinte para os meninos. Não se aceitou a proposta de ressarcimento dos proprietários até 31 de dezembro de 1899, por se considerar o prazo extenso. Claramente, não se esperava uma passividade daqueles que até então se debatiam e usavam sua influência para atravancar o debate. 
O Marquês de Olinda usava sua retórica para dizer ser necessária a manutenção de certa ordem nas fazendas, em que a melhor alternativa seria a gradual dificuldade de manutenção de escravos, com a imposição de taxas e, por fim, no momento oportuno, ou quando fossem exíguos os escravos, ocorresse a liberação imediata. Assim, como por passe de mágica, o Brasil despertaria de seu pesadelo secular, o Marquês se dirigiu na reunião do conselho de 2 de Abril de 1867: 
(...) Por emancipações parciais e sucessivas, de qualquer modo que sejam concebidas e executadas, não se fará senão dar esperanças, e excitar desejos de liberdade nos escravos; e então não cause admiração que eles queiram adiantar a época da emancipação, e com este propósito se lancem em insurreições; e tanto mais facilmente serão levados a isso, quando, olhando em roda de si,
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concebam sendo instigados, a possibilidade de elas vingarem. ( CHALHOUB, 2003:145 ). 
Segundo a posição do Marquês, os escravos em paz e os ritos de promessas de liberdade despertariam anseios, podendo causar graves transtornos a ordem na ocorrência de uma quebra abrupta. Coube, como ministro, a José Maria da Silva Paranhos, o futuro Barão do Rio Branco apresentar o tal parecer em 1867; estranhamente, quatro anos depois e sob seu gabinete, seria promulgada a lei. Em sua apresentação, dizia que as principais nações do mundo não realizaram a libertação dos cativos rapidamente, mas respondendo a debates internos por várias décadas, como a França, que se estendeu de 1790 até 1848. Notavelmente erudito, o futuro Barão rodeava, ou para usar o termo da época, “bordejava”, por querer evitar orientar a não aprovação, dando lances para os dois lados: as necessidades da guerra e a resposta conferida aos abolicionistas franceses pressionaram a formação da comissão ( a questão da guerra está ligada a alforria aos escravos que foram lutar ), e contraditoriamente, lamentava o debate imposto, pois a lei 1850 já teria sido um ponto final a escravatura no país. 
A comissão liderada por Paranhos assinala três perspectivas para condenar a escravidão: a religiosa, a filosófica e o direito natural. Sob o prisma da religião, condena-se a negativa de humanidade ao escravo, pregada pela Igreja a redenção do cativo e a “perdição” gerada pelo cativeiro. A questão filosófica é a valorização da palavra “liberdade” para o século XIX e a dignidade como atributo de todos os homens; ao direito natural, conferia o questionamento de legitimidade de posse do escravo, pois, é “mentira” e baseada na “força”. O debate de limites da posse dos senhores exasperava os seus maiores beneficiários, alegando uma intromissão inadmissível no âmbito civil. Por outro lado, os defensores da libertação dos cativos acusavam seus detratores de sofistas, fazendo coro com os pontos de vista apresentados; outro dilema é na tipificação dos nascituros de “ingênuos” ou “libertos”, em que o primeiro seria um artifício para relegar a condição de “livre” os ventres das escravas, excluindo qualquer indenização aos senhores. Redijo o trecho do discurso de Paulino José Soares de Souza, ex-ministro do Gabinete de Itaboraí, filho de um notório político na época de consolidação do período saquarema, proferido quando já certo da derrota:
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A escravidão, senhores, é uma instituição, que se radicou em nossa sociedade, prendeu-se ao modo de ser da nossa vida social, e com ela formou um todo compacto, do qual não é possível arrancá-la violentamente sem que esse mesmo todo se ressinta e se manifestem perturbações na ordem das cousas que sob diferentes aspectos com ela veio fazer corpo. É assim que a questão sob o aspecto jurídico entende com a propriedade, pondo em sobressalto as fortunas que nessa espécie de haveres se constituíram; na ordem econômica respeita a produção, ameaçando desorganizar o trabalho; na ordem social vem romper muitas relações firmadas em hábitos que se consolidavam no nosso modo de viver.(...)( CHALHOUB, 2003:191 ) 
Nos parece latente a decepção de Paulino ao observar o solapamento das estruturas das quais foi colaborador, entretanto, não significava a libertação total dos cativos, mas sentia um golpe nas condições do senhoril, considerando uma ameaça as fortunas geradas com o trabalho forçado. 
Machado lança em janeiro de 1871 o conto Mariana, dramalhão ainda influenciado por sua estética romântica e muito parecido com Helena, Pois bem, o narrador é Macedo, filho de uma família abastada e em retorno de um passeio a Europa. Regressando a corte, depara-se com Coutinho, a quem se torna bom amigo. Em certa ocasião, estando em uma roda de amigo e bebendo, passam a contar coisas das quais evitariam em certas circunstâncias, Coutinho diz certa vez ter se apaixonado por uma mulata chamada Mariana, a quem a família acolhe e torna-se dependente. Alegando ser “quase uma parente”, pois apenas não jantaria a mesa ou estaria com visitas na sala, eram praticamente irmãos. O rapaz torna-se noivo, o que acarreta a fuga da menina, aumentando as suspeitas que tivera sobre os sentimentos da moça, mas a família considera uma afronta agir desta forma. Coutinho a traz de volta, temendo que a moça cometa suicídio. Entretanto, Mariana não aguenta vê-lo casado e se mata. 
Os méritos literários são questionáveis, mas cabe a reflexão sobre reproduzir as relações de dependência, cujo afeto do senhor cause devoção e humilhação. O conto remete um período de força da sociedade patriarcal, mas é lançado durante os entraves políticos das deliberações sobre a Lei do Ventre Livre, tendo como mensagem a necessidade de intervenção da lei para a quebra da tão solidificada escravatura. Nas correspondências trocadas com Joaquim Nabuco, este lhe confessa
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ter incertezas sobre a aplicação e cumprimento da lei: “A verdade sobre a lei de 28 de setembro é que as reformas dessa natureza não operam matematicamente, conforme as potências,(...)são sempre decretação do desconhecido(...) ( NABUCO, Apud CHALHOUB, 2003:138) ( As abreviações são nossas ). 
O ingresso no funcionalismo do Ministério da Agricultura se dá em 1876, tendo ocorrido mudanças mais destacadas entre as obras Iaiá Garcia e Memórias Póstumas de Brás Cubas, ou entre 1878 e 1880. As principais atribuições de Machado estavam em volta de requisições de senhores e escravos nas disputas judiciais a partir da promulgação da lei, tendo se estabelecido um consenso interno de que as deliberações deveriam prevalecer a liberdade aos cativos. Especula-se sobre seu cotidiano no ministério como uma das causas da guinada em sua obra. O que se alega é sobre a importância de conhecer seus escritos anteriores a fase mais destacadas para compreensão desta, mas não que haja equivalência em profundidade entre ambas. 
Buscamos identificar alguns pontos chave para elucidar o entrelaçamento entre a ficção e a realidade do escritor, assim, através das ementas do Ministério no qual trabalhava, também constituí uma das principais inovações da obra de Chalhoub. Se anteriormente, nos prendemos a análise da crise instituída durante os debates da Lei de 28 de Setembro de 1871, seus desdobramentos alcançam diversas mudanças sociais. Araújo Lima, deputado de situação na época da assinatura da lei, dizia ser ilegal a obtenção da maioria das posses sobre os escravos, dada a existência da lei de 1831, portanto, se levada a cabo, reduziria o número dos cativos. ( CHALHOUB, 2003:212 ) 
A aplicação da lei e sua viabilidade se mostrou complexa devida necessidade de matricular os escravos e, por fim, realizar um senso que possibilitasse ao governo conhecer o alcance da nova lei, estipulando o prazo de primeiro de abril até 30 de setembro de 1872, mas com um atenuante de matrícula até 30 de setembro de 1873. Diversos casos de fraudes e omissão pública acarretaram em ações na justiça, ou para retomada da escravatura ou mesmo a solicitação dos escravos para sua liberdade, pois o entendimento era de libertar aqueles que não fossem registrados pelos senhores. 
Em uma dessas ocasiões de solicitação de arbitragem perante a negligência sobre as matrículas, registramos um dos pareceres de Machado:
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O promotor público de Vila Velha participa, no incluso ofício, estarem ali agitados os ânimos, por motivos de escravos que deixaram de ser matriculados no devido tempo. Diz ser iminente o perigo de grande desordem, motivada pelo desespero de senhores escravos. 
A raiz do mal é esta: 
Houve matrícula em Vila Bela, mas só nos últimos três meses do prazo, porque até então não tinha o município nem coletor nem livros. 
Os senhores, que deixaram de dar escravos à matrícula, estão agora animados com ver aberto novo prazo no munícipio de Ingazeira. Os escravos, pela sua parte, procuram o promotor, a quem declaram não querer continuar na escravidão, e os senhores o procuram para se queixarem do Governo. 
O Promotor pensa que S. Ex. pode pôr termo ao conflito, ou considerando libertos os escravos não matriculados, ou concedendo novo prazo para que os senhores os matriculem. 
A concessão de novo prazo não me parece admissível desde que Vila Bela não se encontre no mesmo caso de Ingazeira, onde absolutamente não houve matrícula dentro do prazo. Por outro lado, se o lastimoso que só três meses antes de findar o prazo do Reg. de 1871 fosse aberta a matrícula em Vila Bela, quando o regulamento afiançou a todos os municípios do Império cerca de dous anos, é também certo que as administrações provinciais lutam com dificuldades para o provimento das coletorias. 
O caso de Vila Bela afigura-se grave, mas por isso mesmo convém, antes de qualquer solução, ouvir a Presidência da província, a quem o Promotor parece que nada comunicou, devendo aliás fazê-lo e só a ela, que remeteria então o papel S. Ex. com as informações necessárias. 
(...) 
(datado) 3-7-77 (assinado) Machado de Assis. (CHALHOUB, 2003, 214 ). 
A transcrição é longa, mas exemplifica diversos casos de interpelação entre escravos e senhores e problemas da administração das províncias. As consultas eram
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encaminhadas para o Ministério, tendo uma participação também de Gusmão Lobo, diretor do departamento responsável pelo censo. Outro problema era referente a aplicação da multa, aplicada na inobservância da lei referida, exigindo a partir de 30 de setembro de 1872 as relações de matrícula, sem a qual não se poderia contestar a posse, necessitando também a comunicação de mudança de município, transferência de domínio. venda falecimento, obtenção de alforria: “ A multa que trata o artigo 35 do Regulamento n° 4835 de 1° de dezembro de 1871 deve ser aplicada, quer aos oficiais públicos, quer aos proprietários de escravos, por uma só vez ou tantas vezes, quantos forem os indivíduos sobre que versar a omissão”, segundo o parecer de Gusmão Lobo, contrariando a jurisprudência corrente de “não caber mais de uma pena ao agente cujo delito produz diferentes resultados materiais.” Embora tenha prevalecido o parecer contrário a aplicação de multas por cada escravo, a orientação era aplicar a lei de forma rigorosa. 
A previsão de Nabuco foi correta quanto a formação de novos conflitos, pois se estava frente ao desconhecido, conferindo aos escravos maior chance de mobilidade social e a reestruturação do papel dos libertos nesse contexto. Registramos que a o escravo alforriado não podia exercer cargos eletivos e mandatos públicos, ceifando boa parte da cidadania possível, tornando manco o esforço abolicionista, todavia, não se furtavam em recorrer à justiça para alcançar a liberdade; e se o governo não batia de frente com sua base de sustentação, abria frestas dentro do sistema, intervindo ao seu favor nos arbítrios. A frase “E só falta o Brasil” era em decorrência do vergonhoso posicionamento de último baluarte da escravidão nas Américas durante os embates sobre a promulgação da Lei de 28 de Setembro de 1871, pois a Espanha já estava adiantada e próxima da chamada Lei Muret que extinguiu a escravidão em suas colônias, como o caso de Cuba. No Brasil, ainda era debatido o lento, gradual e seguro afrouxamento da instituição secular. 
Conclusão: 
Os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba aglutinam sátiras sobre sistemas filosóficos, tais como o positivismo, entretanto, na visão de Gledson, é possível ampliar que esta crítica fosse para qualquer sistema que privilegiasse o egoísmo. Bento, em Dom Casmurro, não é um formulador de esquemas ideológicos, porém, não podemos dizer que se trata de alguém plenamente
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passivo. Justifica suas posições e omite o conveniente, e suas colocações nos emitem uma mistura de cristianismo, mas com um apelo egocêntrico. 
O humanitismo é apresentado pela primeira vez em Memórias Póstumas, e em primeira análise, é uma crítica ao positivismo, em que elabora diversas categorias e subdivisões do homem: ”(...)a “estática”, a “expansiva”, a ‘dispersiva” e a “contrativa” ( GLEDSON, 1991:143 ), centrada no homem e em sua “adoração a vida”, em que a desgraça é não nascer, o homem deve adorar a si mesmo. Visto como um ser propenso à disputa, a inveja não é considerada um problema, delineando aspectos de darwinismo social desta doutrina. Há no humanitismo uma correlação de uma força absoluta que ordena e justifica o universo, direcionando as ações humanas para um fim ( um paralelo com a ideia de Absoluto de Hegel ). 
O problema para Machado eram as reduções do universo a uma única substância, uma metafísica alheia ao homem e de suas vivências pessoais: 
Se entendeste bem, facilmente compreenderás que a inveja não é senão uma admiração da luta, e sendo a luta a grande função do gênero humano, todos os sentimentos belicosos são os mais adequados à sua felicidade. Dai vem que a inveja é uma virtude. ( MACHADO apud GLEDSON, 1991:144 ). 
A ampliação das críticas aos monismos é estendida também para o cristianismo, essa, uma evidente doutrina com muito mais adeptos do que o positivismo e suas correlações, como o darwinismo social. Ainda tomando como base a argumentação de Gledson, um dos trechos em que podemos avaliar é a citação feita a Santo Agostinho em uma crônica opondo-se a doutrina de Schopenhauer: 
Enfim, ele pensava que tudo que existe é bom, e assim o demonstra no capítulo XVI, livro II das Confissões, com a diferença que, para ele, o mal é um desvio da vontade, ilusão própria de um século atrasado, concessão ao erro, pois o que é mal nem mesmo existe, e só a primeira afirmação é verdadeira; nem todas são boas, omnia bona, e adeus. ( MACHADO In GLEDSON, 1991:147 )
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Vemos um ataque desferido contra o pessimismo de Schopenhauer, todavia, é notória a identificação de Machado pelos pressupostos do filósofo. A dor seria uma evidência da realidade e a existência, uma força sem objetivos. Portanto, sob esta perspectiva, a vida, os seres históricos e as experiências sociais são tentativas de suplantar as dores e frustrações no decorrer da mesma. Os personagens de Machado, principalmente, Brás Cubas e Bento são exemplos de egoístas, mas convivem de diferentes formas: relutante, para o primeiro, e muito bem aceito para o segundo. 
O referido autor é reconhecidamente cético, a quem se atribuí frases como “ As pessoas trocam de regime, como quem troca de roupa”. Certamente, foi muito hábil para galgar postos na administração pública, sendo mulato em uma sociedade em que a cor estabelecia e tolhia possibilidades. Entretanto, se Machado é reconhecido ainda em vida e suplanta as dificuldades impostas pela cor e classe social, é devido a existência de outros que consomem suas produções, de certa forma, posta sua produção ser acerca de seu tempo, mesmo com a estilística de vanguarda: 
“ Com efeito, entendemos por literatura, neste contexto, fatos eminentemente associativos; obras e atitudes que exprimem certas relações dos homens entre si, e que, tomadas em conjunto, representam uma socialização dos seus impulsos íntimos. Toda obra é pessoal, única e insubstituível, na medida em que brota de uma confidência, um esforço de pensamento, um assomo de intuição, tornando-se uma “expressão”(aspas do autor). A literatura, porém, é coletiva, na medida em que requer uma certa comunhão de meios expressivos ( a palavra, a imagem ), e mobiliza afinidades profundas que congregam os homens de um lugar e de um momento, - para chegar a uma “comunicação”.” ( aspas e itálico são do autor ) ( CANDIDO, 2000; 139 ). 
Podemos concluir que Machado foi habilidoso em se inserir em seu tempo e perceber suas ambiguidades, transportando para suas obras a dificuldade de estabelecer certezas e a perplexidade de como podemos ser paradoxais. Se a escrita foi fugidia, mandando para as calendas gregas todas as certezas, como diz Gledson, a realidade do Brasil do século XIX contribui muito para essa celeuma. 
Bibliografia:
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O site mantido pela ABL ( Academia Brasileira de Letras ) possui um link com o levantamento de teses por Universidades do Brasil e do Mundo ( disponibilizamos o link na bibliografia, pois a partir dali temos o download disponível das obras ). 
BERGER, Peter L. & BERGER, Brigitte. Socialização: como ser membro de uma sociedade. In: FORACHI, Marialice Mencarini & MARTINS, José de Souza ( orgs. ). Sociologia e Sociedade. Leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1980. 
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: Estudos de Teoria e História Literária. São Paulo: Editora 34, 2000. 
CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis: Historiador. Companhia das Letras, 2003. 
COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia a República: momentos decisivos. UNESP, 1999. 
GLEDSON, John. Machado de Assis: Impostura e Realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. 
SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor, as batatas. São Paulo: Editora 34, 2000. 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 1998. 
Teses e obras de referência: 
FAORO, Raimundo. Os donos do poder, vol. 1. Editora Globo, 2000. 
HOLANDA, Sérgio Buarque (org.). História geral da civilização brasileira: O Brasil Monárquico, declínio e queda do Império. Bertrand Brasil, 2003. 
MACHADO, Maria Helena. “Teremos grandes desastres, se não houver providencias enérgicas e imediatas”: a rebeldia dos escravos e a abolição da escravidão. In: GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo ( orgs ). O Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 367-400. 
VITAL, Selma. Quase brancos, quase pretos: representação étnico-racial no conto machadiano. São Paulo. Intermeios, 2012. 131-133. 
Livros de Machado de Assis citados: 
Helena.
21 
Memórias Póstumas de Brás Cubas. 
Quincas Borba. 
Dom Casmurro. 
Esaú e Jacó. 
Disponíveis em http://www.machadodeassis.org.br/abl_minisites/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=20&UserActiveTemplate=machadodeassis. Último acesso em Abril de 2014. 
A Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros – USP – possui acervo com documentos sobre as Assembleias do Senado sobre a lei 1871: 
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01119100#page/1/mode/1up A escravidão no brasil e a medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a nação. Dr. Adolpho Bezerra de Menezes. 
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01274100#page/1/mode/1up discurso proferido na câmara temporária de 12 de julho sobre a proposta do governo para reforma do estado servil pelo Dr. A. M. Perdigão Malheiro.

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Machado de Assis, um diálogo entre histórias

  • 1. UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA Machado de Assis, um diálogo entre histórias. Vitor Bernardo Lopes SÃO PAULO 2014
  • 2. Vitor Bernardo Lopes Machado de Assis, um diálogo entre histórias. Artigo apresentado como exigência da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, no curso de Licenciatura de História, da Universidade Nove de Julho, no ano de 2014, sob orientação do professor Geraldo Alves.
  • 3. Agradecimentos: A meus pais Marinalva e Aparecido e a minha irmã Mariana agradeço a paciência pelas atitudes nem sempre corteses, geradas por vontade de desistir ocorridas. Aos meus amigos Enio Everton, Hedvar Neves, Paulo Pereira, Rafaela Gomes, Renata Polim, Wellington Santos e Thamiris pelas oportunidades de debates e companheirismo neste período. A Diego Castor e Rosangela Dias pela amizade. Finalmente, a minha Tia Iracema e o amor de sua família pela nossa. Dedico esta representação de fim de um ciclo a Alderice Laranjeira, avó falecida e aos meus tios, também falecidos, Edileuza e Damilton.
  • 4. Machado de Assis, um diálogo entre histórias. Resumo Este artigo tem a proposta de analisar, através de uma revisão bibliográfica, a obra de Machado de Assis como fonte de obras historiográficas, comparar perspectivas e assuntos levantados de diferentes autores, tais como John Gledson, Roberto Schwarz e Sidney Chalhoub. Os tópicos abordados foram definidos, principalmente, como elo entre os críticos da obra de Machado que se complementam. Delineamos como primordiais as questões sociais do Brasil do século XIX observados na obra deste escritor, contrariando uma antiga visão da crítica literária de que o mesmo não as tinha em conta na elaboração de seus textos. Assim, o principal intuito é relacionar aspectos das obras e características sociais do segundo reinado, desconstruindo a imagem atribuída ao escritor, além da importância de suas análises para compreensão do patriarcalismo e escravidão, por exemplo. Palavras chave: Brasil, escravidão, Machado de Assis, obras historiográficas, patriarcalismo, século XIX.
  • 5. 1 Introdução: Ah! indiscreta! ah ! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar na instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. Memórias Póstumas de Brás Cubas As fontes primárias são tanto sua produção ficcional, quanto suas intervenções em órgãos da imprensa ( crônicas, artigos, reportagens, etc), além dos pareceres de Machado dentro do Ministério da Agricultura. As fontes secundárias levantadas se configuram nas interpretações de John Gledson (ex: Machado de Assis, Impostura e Realismo), Roberto Schwarz ( Ao vencedor as batatas) e Sidney Chalhoub. O trabalho é norteado pela visão dialética do professor Antonio Candido, em Literatura e Sociedade, cujo o corpo teórico atribui às questões sociais que são incorporadas pelos escritores em suas obras e como são internalizadas dentro das mesmas. Ou seja, como o social repercute dentro de sua obra e de como é vista em um dado contexto social. A obra de Machado de Assis de sua fase madura é a partir da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de 1881 e considerada partida de seu período efetivamente realista. Porém, não nos limitaremos a esta periodização, pois o escritor contribuiu desde antes em jornais e impressos, e muitas de suas obras do chamado período romântico são utilizadas pelos autores, como Sidney Chalhoub na releitura de Helena. A ordem se dá pela cronologia do lançamento das obras da crítica, pois não se furtam em dizer a contribuição das pesquisas anteriores em seus textos. A análise não se propõe a um recorte geográfico específico diretamente, mas induz-se se tratar do Rio de Janeiro, porém, a obra de Machado de Assis incluiu diversos posicionamentos de repercussão nacional, tais como escravidão, ciência, patriarcado, questões políticas no segundo reinado, etc. I. Desdobramentos do patriarcalismo
  • 6. 2 O propósito de abarcar uma nova interpretação der Dom Casmurro é apresentado pelo autor pela extrapolação de manifestações socais da época de sua produção, dialogando com suas características e proporcionando uma leitura de que o próprio Machado de Assis possuía acerca do contexto social ao qual pertenceu. Advém esta ideia já estampada na introdução, em que Gledson diz “(...) Dom Casmurro como romance realista na concepção e no detalhe, cujo objetivo é nos proporcionar um panorama da sociedade brasileira no século XIX”, logo em seguida, conclui “(...) e em quantos pormenores o romance revela verdades de todos os tipos acerca de dinheiro, religião, sexo, família, classe, política, sobre o uso da linguagem, da imagem, da metáfora, e assim por diante, Dom Casmurro, exemplifica muito mais do que pensa, o princípio realista de que só podemos alcançar verdades gerias se estivermos dispostos a nos empenhar por inteiro no particular.”(GLEDSON, 7). Afora as grandes qualidades do escritor e figura pública, Gledson distribui suas concepções literárias acerca da linguagem, do narrador: “(...)Contudo, o narrador é sempre (e, até certo ponto, precisa ser) também uma personagem, criação do autor.”(Idem, pp. 8). É importante destacar este ponto, pois a imbricada obra de Machado de Assis faz nos perder em pistas, ao qual, sem atenção, temos dificuldades em interpretar uma obra que parece não se limitar em possibilidades. Gledson destaca que esta releitura foi iniciada a partir do acesso as obras de Raymundo Faoro, em Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio, e Ao vencedor as batatas, de Roberto Schwarz, embora não desconsidera de que estas dialoguem com obras de cunho historiográfico de Emília Viotti da Costa e Maria Sylvia de Carvalho Franco. As obras de Gledson e Schwarz são explicitamente comparadas por aquele, posto que registra como um dos fatores elementares de sua proposta de releitura, em que é constante a citação a interpretação consta em Ao vencedor as batatas do papel dos dependentes na sociedade patriarcal brasileira, como José Dias em Dom Casmurro, Iaiá Gárcia e Helena. A relação de patronagem é analisada na obra de Emilia Viotti da Costa e repercute também em Schwarz, principalmente no ensaio Ideias fora do lugar. Este paralelismo é encontrado também em Dom Casmurro, pois a
  • 7. 3 família de Pádua, pai de Capitu, faz parte dos elos patriarcais ligada aos Santiagos, fora, claro, o papel de José Dias. Ao destacar o papel do narrador como criação literária, não podemos desconsiderar como esta particularidade social está presente também na vida do autor, portanto, leva-nos literária como diálogo entre autor-obra-público, ao qual se refere Antonio Candido, em Literatura e Sociedade e presente também em John Gledson: Não só mostra uma ordem social conservadora empenhada em uma tentativa dolorosa e, sob muitas formas, fracassada e autodestruidora de conservar seu poder e autoconfiança: o microcosmo familiar, visto como uma metáfora de toda a classe dominante, também desvenda verdades sobre a composição política, ideológica e religiosa do segundo reinado.(Ibidem, pp.13) O enredo é analisado primeiro na construção do “Eu” dos personagens, conceito freudiano ao qual o autor recorrerá seguidas vezes. Aqui, com maior destaque na observação da teia que está a família de Bento, enumerando todos os dependentes que residem juntos, classifica José Dias, Prima Justina, Tio Cosme e a matrona Dona Glória, esta se dispondo a verificar a rede de interesses dos agregados, pois Gledson cita de que há quem diga que Dom Casmurro é o livro de Capitu, ou de que José Dias é o melhor observador do romance, o que não será despercebido de que observa com bastante interesse. Na trama, mais uma vez dentro das obras machadianas, é percebido de que a morte do pai não diminui o peso de sua autoridade, lembrando de que Dona Glória mima o filho e promete-lhe ao convento por ter sobrevivido, entretanto, a ausência do pai em sua viuvez realça os valores com uma certa teatralidade no papel da religião e das aparências:”(...)embora permanecemos no mundo dos subordinados ( viúva, filhos, criados, , etc) esse mesmo fato não elimina o poder patriarcal, mas o distribui e mostra como ele funciona.”(Ibidem, pp.58). Assim, ao analisar a carolice de Dona Glória, os interesses de José Dias e dos outros agregados, Tio Cosme e Prima Justina, este dois mais diluídos no romance, o que segundo John Gledson, mais confirma do que nega o enredo.
  • 8. 4 Gledson prepara campo para constatar de que Bento é a figura mais complexa criada por Machado, atentando porém, de que não se deve tentar “reatar as duas pontas”, em menção ao trabalho de Helen Caldwell e ao início do romance, referindo- se ao conto Ressurreição, para não se tomar o exemplo de Lívia e tentar justificar Capitu e Dom Casmurro em si. Sobre Bento, diz: No centro de tudo está sua inexperiência, fruto da posição social privilegiada e da recusa da mãe a deixa-lo crescer normalmente. Porque não consegue compreender o mundo ou outras pessoas como realmente são, cria, defensivamente, suas próprias versões deles, e por fim, sua própria trama metafórica ( o adultério ), que une em pecado e danação as duas personagens que mais ameaçam seu mundo. ( Ibidem, pp.83-84 ). A partir do capítulo 3, desenvolve assuntos mais especificamente, aqui tratando de política. Situando o romance entre 1855-1871, estas questões são atribuídas a melindres das personagens com alguns eventos históricos, tais como a Guerra da Crimeia e a anexação das Filipinas pelos Estados Unidos., porém afirma que o romance é mais históricos do que político. As leituras anteriores de Machado implicam em afirmações de que questões políticas são tratadas em forma de sátira, mais como inoportunas. Entretanto, em Impostura e Realismo, Gledson diz que “a ficção de Machado contém uma visão bastante coerente da história brasileira do século XIX”( Ibidem, pp. 86). A possível causa de que Machado afirmava sobre um desinteresse da sociedade quanto a política, é atribuída ao período chamado de Conciliação. Aqui, é apontado pelo autor o cuidado necessário na leitura da narrativa que é desenvolvida por Bento, sobre a sociedade brasileira não possuir história, portanto, estática. Esse argumento é analisado pelo fato do protagonista erguer uma casa igual a qual morara quando jovem, ou seja, revivendo-o, pois assim o quis. O autor também afirma, através de uma afirmativa de Bento Santiago, a respeito de Napoleão: “Depois de Napoleão, tenente e imperador, todos os destinos estão neste século”( Apud. ASSIS, Machado. In: GLEDSON, John. Machado de Assis: Impostura e Realismo ). Presume ser a figura de Napoleão central na interpretação política de Machado, pois é evocado diversas vezes, como em Quincas Borba ( Rubião se satisfaz em ser a cópia da cópia ao se comparar a Napoleão III ).
  • 9. 5 Outra figura que permeia estas obras é o Imperador Dom Pedro II, mas nega- se que o escritor não o respeitasse, apenas o utiliza para ironizar o ar de prepotência que Quincas Borba se dá: “Era um gosto ver Quincas Borba fazer de Imperador nas festas de Espirito Santo. De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministros, general, uma supremacia, qualquer que fosse.” ( Idem, pp. 103) Porém, uma cena em particular lembrada neste capítulo 3, arrola dois temas centrais em análise, política e religião, em que Pádua e José Dias disputam quem será responsável pela tocha da procissão, em uma demonstração de rivalidade na influência sobre Bentinho. Após o embate, abre-se um véu, sinalizando de que a procissão fora realizada em um local paupérrimo, como vista a classe leitora de Machado para a existência de outras classes, em que tal artificio também é utilizado em Quincas Borba. A questão do paternalismo é desenvolvida por Roberto Schwarz, em Ao vencedor, as batatas, porém com uma estrutura argumentativa diferente, pois analisa as questões de classe muito mais evidente e manifestadamente do que Gledson, posto a divisão do trabalho escravista e o papel do Brasil na divisão internacional, é mais uma questão de mando, do que de eficácia, dialogando com uma historiografia que frequentemente remete a Emilia Viotti da Costa e Maria Sylvia de Carvalho, para ambos, mas tendendo ao economicismo para Schwarz: Como é sábido, éramos um país agrário e independente, dividido em latifúndios, cuja produção dependia do trabalho escravo por um lado, e por outro do mercado externo. Mais ou menos diretamente, vêm daí as singularidades que expusemos. Era inevitável, por exemplo, a presença entre nós do raciocínio econômico burguês – a prioridade do lucro, com seus corolários sociais- uma vez que dominava no comércio internacional, para onde nossa economia era voltada.(SCHWARZ, 2000:12) Assim, a incompatibilidade entre as ideias das elites desejosas em se atrelarem ao pensamento liberal cosmopolita, entravam em choque de forma evidente com uma sociedade altamente desigual, escravista e hierarquizada, voltada para uma economia dependente de poucos produtos de exportação e pouco propensa a empreendimentos individuais, como o caso das grandes nações capitalistas de então, assim como dissera Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, também citado em Ao
  • 10. 6 vencedor, as batatas: “Trazendo de países distantes nossas formas de vida, nossas instituições e nossa visão de mundo e timbrando em manter tudo isso em ambiente desfavorável e hostil, somos desterrados em nossa terra.” ( HOLANDA, Sérgio Buarque de. IN: SCHWARZ, Roberto, pp. 13 ). Portanto, refere-se à pesquisa de Maria Sylvia de Carvalho sobre o nascente capitalismo brasileiro de outrora não se constrói apenas na divisão senhor-escravo, mas também ao homem livre, a quem se insere mais nos meandros das relações de patronagem e presente tanto na ficção de Machado, quanto em suas contribuições em periódicos. Os pontos levantados como análise da bibliografia buscam se nortear por acepções levantadas por Antonio Candido, em Literatura e Sociedade, pois, destaca e concordamos: “Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma das visões dissociadas, e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, que tanto o velho ponto de vista que explicava fatores externos, quanto ao outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo ( no caso, o social ) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno.” ( CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. SP: Editora 34, 2000 ). Portanto, consideramos não somente os aspectos estéticos de uma obra, mas a forma em que esta dialoga com seu meio social, influenciando e sendo influenciada por este. As elites tradicionais brasileiras se imbricaram durante o século XIX em diversas disputas, incorporando discursos modernizantes estrangeiros. Todavia, torcia o nariz para revoltas populares, como a Revolução Francesa e a rebelião de escravos no Haiti, se queixava dos mandos e desmandos monárquicos, vendo como uma solução crível, uma monarquia constitucional em 1822. Malograda suas expectativas e a permanência de sua postura frente a escravidão, como dito, importa o liberalismo como ideologia, o que para Emília Viotti da Costa, é ligada aos mercadores voltados para exportação e importação: “Liberdade, igualdade, soberania do povo, autonomia,
  • 11. 7 livre-comércio, todas essas palavras grandiloquentes, tão caras aos liberais europeus, possuíam conotações especificas no Brasil” ( COSTA, 1999:135 ) . Devemos considerar que a disputa europeia era contra o absolutismo, e aqui, contra o estatuto colonial e suas relações de dependência, como o direcionamento dos investimentos e negócios voltados para os interesses metropolitanos, restringindo a formação de uma indústria interna e mantendo as grandes lavouras. Muito embora esse viés modernizante fosse proferido, o interesse da seguridade referente à posse da mão-de-obra escrava era disputado a ferro e fogo, contrariando a visão liberal de venda de mão-de-obra. Uma entre várias anomalias do regime. A estrutura da dependência e a necessidade da prestação de favores era o cerne da sociedade imperial, como visto, em que não escapavam os auto declarados liberais. Na interpretação feita por Sidney Chalhoub no tocante ao esquema teórico de Roberto Schwarz, havia uma ligação nervosa entre as práticas de patriarcado e a escravidão, orbitando juntamente com dependentes e trabalhadores livres em redes de autoproteção e submetendo todos aqueles que não eram senhores aos seus desvarios, porém, podemos constatar espaços de distensão da hegemonia senhorial. II. Uma leitura contra a corrente Alguns críticos afirmam que a obra relevante de Machado inicia-se com Memórias Póstumas, tal é o caso de Schwarz, mas outros consideram como fundamental o conhecimento das obras anteriores, como Jean Michel-Massa. Helena é de 1876, portanto, quinze anos antes de Memórias Póstumas, de 1891, e foi usada por Sidney Choulhoub para sua análise da sociedade patriarcal descrita por Machado de Assis. Tem como enredo a jovem que passa a convivência dos familiares do finado Conselheiro Vale, constando como uma das beneficiadas de seu testamento por ser filha bastarda do mesmo. Descrita como uma moça altiva, conhecedora da etiqueta das classes mais abastadas, tendo passado por uma educação rigorosa concedida as jovens da época, o testamento orientava sua ida para com os familiares do Andaraí. A trama se passa em 1850, portanto, Machado situa esta obra dentro do período saquarema, de predomínio conservador, ou seja, dos principais latifundiários do país. A leitura de Choulhoub procura delinear diversas situações evidenciando os registros do desejo patriarcal. Para o historiador, Estácio (filho legítimo e principal
  • 12. 8 herdeiro ) dá diversos indícios de não captar sua condição de classe, sub julgando qualquer outra vontade que não seja a sua, em uma leitura de mundo sob sua vontade. Entre as diversas tensões sobre a acolhida imposta, identificamos os ranços de classe, como a necessidade de se reconhecer pelo cheiro a origem da nova moradora. Apesar do desapreço de d. Úrsula, agregada da família, cabe mesmo a Estácio se posicionar quanto a situação e que interverá para a atitude dos dependentes: “Na realidade, toda a arenga de d. Úrsula sobre a severidade dos costumes e a pureza de sentimentos acaba se amoldando à forma de um preconceito de classe: nada se sabia sobre a origem da menina, nada constava sobre a mãe, além do nome. Como fazer assim acender uma ”mulher de ordem inferior?””( CHALHOUB, 2003: 21 ) As aspas são do autor. A descrição do jovem e especialista na abstração matemática, ou seja, buscando enquadra-lo na auto-titulação de possuir a razão lógica, nos faz avaliar desde ai uma forma de traçar as linhas que separam estas personagens. Estácio é ciente das atribuições que a sociedade confere a ele, estendendo o mundo ao desenrolar de suas vontades. O aceite da situação se dá pela tentativa de não dividir ainda mais a riqueza deixada pelo pai, pois constando em testamento, sua vontade deve ser prontamente estabelecida, evitando litígios que a herdeira poderia tomar. Cabia a Estácio manter as redes estabelecidas pelo pai. Caminhamos para uma interessante abordagem de Chaulhoub. Identificadas algumas das premissas resguardadas aos senhores no período Imperial, verificamos uma anuência daqueles que orbitam nesse cenário de dependentes, mas não se tratam de seres autômatos, conseguindo obter a concessão de algumas de suas vontades. Sidney Chaulhoub diz ser esta uma abordagem contra a corrente, conferindo certo grau de autonomia a algumas personagens. Utilizando uma artimanha, Helena consegue convencer Estácio a leva-la para uma aula de equitação. Durante uma conversa com os súbitos familiares, a personagem principal diz ter despertado a vontade andar a cavalo após folhear um livro de geometria, explicando em seguida que tal aparente absurdo de comparação ocorreu por ouvir passo de cavalo enquanto estava com o livro. O filho do conselheiro
  • 13. 9 se prontifica a dar lições de equitação. No dia seguinte, ao iniciar a aula, Estácio percebe que sua meio irmã sabe muito bem andar a cavalo, ficando evidente a indução que sofrera. Eis o trecho de diálogo destacado por Chaulhoub, na página 25: - Não me dirá você, perguntou ele, por que motivo, sabendo montar, pedia- me ontem lições? - A razão é clara, disse ela; foi uma simples travessura, um capricho... ou antes um cálculo. - Um cálculo? - Profundo, hediondo, diabólico, continuou a moça sorrindo. Eu queria passear algumas vezes a cavalo; não era possível sair só, e nesse caso... - Bastava pedir-me que a acompanhasse. - Não bastava. Havia um meio de lhe dar mais gosto em sair comigo; era fingir que não sabia montar. A ideia momentânea de sua superioridade neste assunto era bastante para lhe inspirar uma dedicação decidida. ( MACHADO, Apud CHAULHOUB, 2003:25). A inteligência em manobrar Estácio fica evidente na transcrição do diálogo, após um início tortuoso. Essa necessidade de concessões e favores é habilmente apreendida por Helena, arrancando do herdeiro certo sentido de superioridade, e também, graças a visão crítica da moça. As conversas entre os irmãos são os principais pontos elencados nesta análise. O livro trás alguns aspectos sui generis: na condição de mulher, filha bastarda e dependente, tentando equilibrar-se dentro do pequeno novo universo que a rodeia. Entretanto, não nos pareceria correta se não levasse em conta a escravidão, ou como diz Gledson, o abrir da cortina momentaneamente. Sem conseguir fazer o irmão perceber a própria visão de mundo, certo de que este está a seu serviço, ela não se resigna: Valem muito os bens da fortuna (...); eles dão a maior felicidade da Terra, que é a independência absoluta. Nunca experimentei a necessidade; mas
  • 14. 10 imagino o que deve ser a privação de alguns apetites ou desejos, de sua natureza transitórios, mas sim essa escravidão moral que submete o homem aos outros homens. A riqueza compra até o tempo, que é o mais precioso e fugitivo bem que nos coube. Vê aquele preto que ali está? Para fazer o mesmo trajeto que nós, terá de gastar, a pé, mais uma hora ou quase. ( Idem, CHALHOUB, 2003:27 ) O termo escravidão moral não é utilizado à toa. A escravidão é a maior dependência possível dentro do regime, não se concebe a possibilidade de divergir, desejar em contrário, escolher. O tempo para o escravo, segundo a ideologia tão bem introjetada em Estácio, flui de acordo com a permissão do senhor. Suas posses conferem um grau de autonomia bem quista socialmente; comprou-lhe o tempo e tem a condição de contemplar as descobertas científicas. Longe de querer encerrar o assunto, Helena retorque: “ (...) Para aquele preto o mais aprazível é talvez, esse caminhar a pé, que lhe alongará a jornada, e lhe fará esquecer o cativeiro, se cativo. É uma hora de pura liberdade.” ( Ibidem, p. 29 ). Por mais que estigmatizado o dependente, diz Helena, possui espaços que o senhor não poderá alcançar e deseja mostrar ao irmão que o estado de submissão não impede de ver o mundo a partir de outra ótica. Apesar do esforço, Estácio não cede, a quem tudo se traduz de sua vontade, não percebe a contradição de prezar “independência absoluta” com a condição de cativo como opressora. Há outra personagem diretamente ligada a questão dos cativos: Vicente, pajé, de Helena e companheiro das visitas que a moça faz ao pai em segredo. Perdigão Malheiro, outro dos dependentes ligado à família do Conselheiro vale, traz uma observação sobre os escravos urbanos: Nas cidades já se encontram escravos tão bem vestidos e calçados, que, ao vê-los, ninguém dirá que o são. Até o uso do fumo, o charuto sobretudo, sendo aliás um vício, confundindo no público todas as classes, nivelando-as para bem dizer, há concorrido a seu modo para essa confraternidade, que tem aproveitado ao escravo; o empréstimo do fogo ou do charuto aceso para um outro acenda o seu e fume, tem chegado a todos sem distinção de cor nem classe. E assim outros atos semelhantes. (Ibidem, p. 53).
  • 15. 11 As tentativas de justificar as distinções sociais é recorrente, cremos, não somente na sociedade imperial. A cada questionamento, seus defensores são capazes de apresentar situações que queiram nos provar do contrário. A igualdade através do charuto é uma amenidade, pois são seria o regime tão ruim por haver alguns negros com boas roupas e dividindo charutos com outros transeuntes. As instituições são dotadas de objetividade, são compartilhadas, em certa maneira, por um coletivo e estão “presentes fora dos indivíduos”, são capazes de coerção, mas também dinâmicas, são dotadas de capacidade de comunicação, expressando intenções de forma subjetiva, também tem atributos de historicidade e uma autoridade moral.( BERGER; BERGER. In FORACCHI; MARTINS (org.) 1980:197 ). Portanto, é muito difícil para indivíduo tentar muda-las por conta própria, tendo a vista seu caráter coletivo, mesmo que excludente. O ato de apartar o negro e o subterfugio da construção de uma doutrina que o desqualifique pode ser analisada por diferentes vieses. É interessante pensar como esse processo é dinâmico e cheio de contradições, remetendo a própria condição de Machado, de como se posicionou perante os imbróglios de seu tempo e de como foi incorporado no regime; se a obra é melindrosa, a vida do escritor também não deixou de ser. Chalhoub parte para verificar a relação entre homem e obra, o ponto de virada entre os diferentes períodos que a crítica aponta na obra de Machado. Umas das razões, argumenta, é a lei de 1871, batizada de Lei do Ventre Livre e as divisões internas ocasionadas durante as deliberações apresentadas na Câmara dos Deputados, juntamente com as atribuições de Machado no Ministério da Agricultura. III. “ E só resta o Brasil” Sabe-se dos poderes conferidos a D. Pedro II durante seu reinado, ao abrir de crises entre as oligarquias, destituía um gabinete e convocava outro lado para compor um novo governo. Todavia, era incomodo ao país ser um dos últimos rincões escravocratas do Ocidente, o que o fez solicitar a José Antônio Pimenta, futuro marquês de São Vicente, a realização de estudos que viabilizassem a abolição da escravidão. Obviamente, estamos nos valendo dos ocorridos dentro das esferas públicas de decisão, deixando um pouco de lado as lutas abolicionistas e esforços dos próprios cativos pelo fim da escravidão. Portanto, não nos furtamos em dizer não ser
  • 16. 12 uma explicação monocausal, mas possuir como finalidade a análise da máquina a qual se encaixava Machado dentro do funcionalismo. A Guerra do Paraguai ainda em curso e a resistência do gabinete chefiado por Marquês de São Vicente ofuscaram a apresentação dos estudos apresentados em 1866. O próprio monarca se apresenta como dispostos em levar a diante a questão frente ao parlamento, como se fosse questão apenas de conveniência, já era dada como certa. Ainda mais após a correspondência de um grupo francês abolicionista, chamado Comité pour l’Abolition de l’Esclavage ( Comitê para Abolição da Escravidão ) e a resposta de se tratar também de uma prioridade de Estado, os ânimos vão se aumentando. O estudo apresentava a escravidão como inapropriada as mudanças que ocorreram durante o século, reduzindo parte da humanidade a uma situação degradante e bárbara. Entretanto, a formulação do documento não era a representação de unanimidade face ao problema. Era preciso colocar o Brasil na direção do futuro, contanto que se assegurassem os direitos de proprietários. O isolamento do país é um dos fatores fundamentais para o encerramento do trabalho escravista. O trabalho de Pimenta Bueno era emancipar o ventre das cativas, garantindo o nascimento livre, com a ressalva de prestação de serviços para os filhos até os dezesseis anos para as meninas e vinte para os meninos. Não se aceitou a proposta de ressarcimento dos proprietários até 31 de dezembro de 1899, por se considerar o prazo extenso. Claramente, não se esperava uma passividade daqueles que até então se debatiam e usavam sua influência para atravancar o debate. O Marquês de Olinda usava sua retórica para dizer ser necessária a manutenção de certa ordem nas fazendas, em que a melhor alternativa seria a gradual dificuldade de manutenção de escravos, com a imposição de taxas e, por fim, no momento oportuno, ou quando fossem exíguos os escravos, ocorresse a liberação imediata. Assim, como por passe de mágica, o Brasil despertaria de seu pesadelo secular, o Marquês se dirigiu na reunião do conselho de 2 de Abril de 1867: (...) Por emancipações parciais e sucessivas, de qualquer modo que sejam concebidas e executadas, não se fará senão dar esperanças, e excitar desejos de liberdade nos escravos; e então não cause admiração que eles queiram adiantar a época da emancipação, e com este propósito se lancem em insurreições; e tanto mais facilmente serão levados a isso, quando, olhando em roda de si,
  • 17. 13 concebam sendo instigados, a possibilidade de elas vingarem. ( CHALHOUB, 2003:145 ). Segundo a posição do Marquês, os escravos em paz e os ritos de promessas de liberdade despertariam anseios, podendo causar graves transtornos a ordem na ocorrência de uma quebra abrupta. Coube, como ministro, a José Maria da Silva Paranhos, o futuro Barão do Rio Branco apresentar o tal parecer em 1867; estranhamente, quatro anos depois e sob seu gabinete, seria promulgada a lei. Em sua apresentação, dizia que as principais nações do mundo não realizaram a libertação dos cativos rapidamente, mas respondendo a debates internos por várias décadas, como a França, que se estendeu de 1790 até 1848. Notavelmente erudito, o futuro Barão rodeava, ou para usar o termo da época, “bordejava”, por querer evitar orientar a não aprovação, dando lances para os dois lados: as necessidades da guerra e a resposta conferida aos abolicionistas franceses pressionaram a formação da comissão ( a questão da guerra está ligada a alforria aos escravos que foram lutar ), e contraditoriamente, lamentava o debate imposto, pois a lei 1850 já teria sido um ponto final a escravatura no país. A comissão liderada por Paranhos assinala três perspectivas para condenar a escravidão: a religiosa, a filosófica e o direito natural. Sob o prisma da religião, condena-se a negativa de humanidade ao escravo, pregada pela Igreja a redenção do cativo e a “perdição” gerada pelo cativeiro. A questão filosófica é a valorização da palavra “liberdade” para o século XIX e a dignidade como atributo de todos os homens; ao direito natural, conferia o questionamento de legitimidade de posse do escravo, pois, é “mentira” e baseada na “força”. O debate de limites da posse dos senhores exasperava os seus maiores beneficiários, alegando uma intromissão inadmissível no âmbito civil. Por outro lado, os defensores da libertação dos cativos acusavam seus detratores de sofistas, fazendo coro com os pontos de vista apresentados; outro dilema é na tipificação dos nascituros de “ingênuos” ou “libertos”, em que o primeiro seria um artifício para relegar a condição de “livre” os ventres das escravas, excluindo qualquer indenização aos senhores. Redijo o trecho do discurso de Paulino José Soares de Souza, ex-ministro do Gabinete de Itaboraí, filho de um notório político na época de consolidação do período saquarema, proferido quando já certo da derrota:
  • 18. 14 A escravidão, senhores, é uma instituição, que se radicou em nossa sociedade, prendeu-se ao modo de ser da nossa vida social, e com ela formou um todo compacto, do qual não é possível arrancá-la violentamente sem que esse mesmo todo se ressinta e se manifestem perturbações na ordem das cousas que sob diferentes aspectos com ela veio fazer corpo. É assim que a questão sob o aspecto jurídico entende com a propriedade, pondo em sobressalto as fortunas que nessa espécie de haveres se constituíram; na ordem econômica respeita a produção, ameaçando desorganizar o trabalho; na ordem social vem romper muitas relações firmadas em hábitos que se consolidavam no nosso modo de viver.(...)( CHALHOUB, 2003:191 ) Nos parece latente a decepção de Paulino ao observar o solapamento das estruturas das quais foi colaborador, entretanto, não significava a libertação total dos cativos, mas sentia um golpe nas condições do senhoril, considerando uma ameaça as fortunas geradas com o trabalho forçado. Machado lança em janeiro de 1871 o conto Mariana, dramalhão ainda influenciado por sua estética romântica e muito parecido com Helena, Pois bem, o narrador é Macedo, filho de uma família abastada e em retorno de um passeio a Europa. Regressando a corte, depara-se com Coutinho, a quem se torna bom amigo. Em certa ocasião, estando em uma roda de amigo e bebendo, passam a contar coisas das quais evitariam em certas circunstâncias, Coutinho diz certa vez ter se apaixonado por uma mulata chamada Mariana, a quem a família acolhe e torna-se dependente. Alegando ser “quase uma parente”, pois apenas não jantaria a mesa ou estaria com visitas na sala, eram praticamente irmãos. O rapaz torna-se noivo, o que acarreta a fuga da menina, aumentando as suspeitas que tivera sobre os sentimentos da moça, mas a família considera uma afronta agir desta forma. Coutinho a traz de volta, temendo que a moça cometa suicídio. Entretanto, Mariana não aguenta vê-lo casado e se mata. Os méritos literários são questionáveis, mas cabe a reflexão sobre reproduzir as relações de dependência, cujo afeto do senhor cause devoção e humilhação. O conto remete um período de força da sociedade patriarcal, mas é lançado durante os entraves políticos das deliberações sobre a Lei do Ventre Livre, tendo como mensagem a necessidade de intervenção da lei para a quebra da tão solidificada escravatura. Nas correspondências trocadas com Joaquim Nabuco, este lhe confessa
  • 19. 15 ter incertezas sobre a aplicação e cumprimento da lei: “A verdade sobre a lei de 28 de setembro é que as reformas dessa natureza não operam matematicamente, conforme as potências,(...)são sempre decretação do desconhecido(...) ( NABUCO, Apud CHALHOUB, 2003:138) ( As abreviações são nossas ). O ingresso no funcionalismo do Ministério da Agricultura se dá em 1876, tendo ocorrido mudanças mais destacadas entre as obras Iaiá Garcia e Memórias Póstumas de Brás Cubas, ou entre 1878 e 1880. As principais atribuições de Machado estavam em volta de requisições de senhores e escravos nas disputas judiciais a partir da promulgação da lei, tendo se estabelecido um consenso interno de que as deliberações deveriam prevalecer a liberdade aos cativos. Especula-se sobre seu cotidiano no ministério como uma das causas da guinada em sua obra. O que se alega é sobre a importância de conhecer seus escritos anteriores a fase mais destacadas para compreensão desta, mas não que haja equivalência em profundidade entre ambas. Buscamos identificar alguns pontos chave para elucidar o entrelaçamento entre a ficção e a realidade do escritor, assim, através das ementas do Ministério no qual trabalhava, também constituí uma das principais inovações da obra de Chalhoub. Se anteriormente, nos prendemos a análise da crise instituída durante os debates da Lei de 28 de Setembro de 1871, seus desdobramentos alcançam diversas mudanças sociais. Araújo Lima, deputado de situação na época da assinatura da lei, dizia ser ilegal a obtenção da maioria das posses sobre os escravos, dada a existência da lei de 1831, portanto, se levada a cabo, reduziria o número dos cativos. ( CHALHOUB, 2003:212 ) A aplicação da lei e sua viabilidade se mostrou complexa devida necessidade de matricular os escravos e, por fim, realizar um senso que possibilitasse ao governo conhecer o alcance da nova lei, estipulando o prazo de primeiro de abril até 30 de setembro de 1872, mas com um atenuante de matrícula até 30 de setembro de 1873. Diversos casos de fraudes e omissão pública acarretaram em ações na justiça, ou para retomada da escravatura ou mesmo a solicitação dos escravos para sua liberdade, pois o entendimento era de libertar aqueles que não fossem registrados pelos senhores. Em uma dessas ocasiões de solicitação de arbitragem perante a negligência sobre as matrículas, registramos um dos pareceres de Machado:
  • 20. 16 O promotor público de Vila Velha participa, no incluso ofício, estarem ali agitados os ânimos, por motivos de escravos que deixaram de ser matriculados no devido tempo. Diz ser iminente o perigo de grande desordem, motivada pelo desespero de senhores escravos. A raiz do mal é esta: Houve matrícula em Vila Bela, mas só nos últimos três meses do prazo, porque até então não tinha o município nem coletor nem livros. Os senhores, que deixaram de dar escravos à matrícula, estão agora animados com ver aberto novo prazo no munícipio de Ingazeira. Os escravos, pela sua parte, procuram o promotor, a quem declaram não querer continuar na escravidão, e os senhores o procuram para se queixarem do Governo. O Promotor pensa que S. Ex. pode pôr termo ao conflito, ou considerando libertos os escravos não matriculados, ou concedendo novo prazo para que os senhores os matriculem. A concessão de novo prazo não me parece admissível desde que Vila Bela não se encontre no mesmo caso de Ingazeira, onde absolutamente não houve matrícula dentro do prazo. Por outro lado, se o lastimoso que só três meses antes de findar o prazo do Reg. de 1871 fosse aberta a matrícula em Vila Bela, quando o regulamento afiançou a todos os municípios do Império cerca de dous anos, é também certo que as administrações provinciais lutam com dificuldades para o provimento das coletorias. O caso de Vila Bela afigura-se grave, mas por isso mesmo convém, antes de qualquer solução, ouvir a Presidência da província, a quem o Promotor parece que nada comunicou, devendo aliás fazê-lo e só a ela, que remeteria então o papel S. Ex. com as informações necessárias. (...) (datado) 3-7-77 (assinado) Machado de Assis. (CHALHOUB, 2003, 214 ). A transcrição é longa, mas exemplifica diversos casos de interpelação entre escravos e senhores e problemas da administração das províncias. As consultas eram
  • 21. 17 encaminhadas para o Ministério, tendo uma participação também de Gusmão Lobo, diretor do departamento responsável pelo censo. Outro problema era referente a aplicação da multa, aplicada na inobservância da lei referida, exigindo a partir de 30 de setembro de 1872 as relações de matrícula, sem a qual não se poderia contestar a posse, necessitando também a comunicação de mudança de município, transferência de domínio. venda falecimento, obtenção de alforria: “ A multa que trata o artigo 35 do Regulamento n° 4835 de 1° de dezembro de 1871 deve ser aplicada, quer aos oficiais públicos, quer aos proprietários de escravos, por uma só vez ou tantas vezes, quantos forem os indivíduos sobre que versar a omissão”, segundo o parecer de Gusmão Lobo, contrariando a jurisprudência corrente de “não caber mais de uma pena ao agente cujo delito produz diferentes resultados materiais.” Embora tenha prevalecido o parecer contrário a aplicação de multas por cada escravo, a orientação era aplicar a lei de forma rigorosa. A previsão de Nabuco foi correta quanto a formação de novos conflitos, pois se estava frente ao desconhecido, conferindo aos escravos maior chance de mobilidade social e a reestruturação do papel dos libertos nesse contexto. Registramos que a o escravo alforriado não podia exercer cargos eletivos e mandatos públicos, ceifando boa parte da cidadania possível, tornando manco o esforço abolicionista, todavia, não se furtavam em recorrer à justiça para alcançar a liberdade; e se o governo não batia de frente com sua base de sustentação, abria frestas dentro do sistema, intervindo ao seu favor nos arbítrios. A frase “E só falta o Brasil” era em decorrência do vergonhoso posicionamento de último baluarte da escravidão nas Américas durante os embates sobre a promulgação da Lei de 28 de Setembro de 1871, pois a Espanha já estava adiantada e próxima da chamada Lei Muret que extinguiu a escravidão em suas colônias, como o caso de Cuba. No Brasil, ainda era debatido o lento, gradual e seguro afrouxamento da instituição secular. Conclusão: Os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba aglutinam sátiras sobre sistemas filosóficos, tais como o positivismo, entretanto, na visão de Gledson, é possível ampliar que esta crítica fosse para qualquer sistema que privilegiasse o egoísmo. Bento, em Dom Casmurro, não é um formulador de esquemas ideológicos, porém, não podemos dizer que se trata de alguém plenamente
  • 22. 18 passivo. Justifica suas posições e omite o conveniente, e suas colocações nos emitem uma mistura de cristianismo, mas com um apelo egocêntrico. O humanitismo é apresentado pela primeira vez em Memórias Póstumas, e em primeira análise, é uma crítica ao positivismo, em que elabora diversas categorias e subdivisões do homem: ”(...)a “estática”, a “expansiva”, a ‘dispersiva” e a “contrativa” ( GLEDSON, 1991:143 ), centrada no homem e em sua “adoração a vida”, em que a desgraça é não nascer, o homem deve adorar a si mesmo. Visto como um ser propenso à disputa, a inveja não é considerada um problema, delineando aspectos de darwinismo social desta doutrina. Há no humanitismo uma correlação de uma força absoluta que ordena e justifica o universo, direcionando as ações humanas para um fim ( um paralelo com a ideia de Absoluto de Hegel ). O problema para Machado eram as reduções do universo a uma única substância, uma metafísica alheia ao homem e de suas vivências pessoais: Se entendeste bem, facilmente compreenderás que a inveja não é senão uma admiração da luta, e sendo a luta a grande função do gênero humano, todos os sentimentos belicosos são os mais adequados à sua felicidade. Dai vem que a inveja é uma virtude. ( MACHADO apud GLEDSON, 1991:144 ). A ampliação das críticas aos monismos é estendida também para o cristianismo, essa, uma evidente doutrina com muito mais adeptos do que o positivismo e suas correlações, como o darwinismo social. Ainda tomando como base a argumentação de Gledson, um dos trechos em que podemos avaliar é a citação feita a Santo Agostinho em uma crônica opondo-se a doutrina de Schopenhauer: Enfim, ele pensava que tudo que existe é bom, e assim o demonstra no capítulo XVI, livro II das Confissões, com a diferença que, para ele, o mal é um desvio da vontade, ilusão própria de um século atrasado, concessão ao erro, pois o que é mal nem mesmo existe, e só a primeira afirmação é verdadeira; nem todas são boas, omnia bona, e adeus. ( MACHADO In GLEDSON, 1991:147 )
  • 23. 19 Vemos um ataque desferido contra o pessimismo de Schopenhauer, todavia, é notória a identificação de Machado pelos pressupostos do filósofo. A dor seria uma evidência da realidade e a existência, uma força sem objetivos. Portanto, sob esta perspectiva, a vida, os seres históricos e as experiências sociais são tentativas de suplantar as dores e frustrações no decorrer da mesma. Os personagens de Machado, principalmente, Brás Cubas e Bento são exemplos de egoístas, mas convivem de diferentes formas: relutante, para o primeiro, e muito bem aceito para o segundo. O referido autor é reconhecidamente cético, a quem se atribuí frases como “ As pessoas trocam de regime, como quem troca de roupa”. Certamente, foi muito hábil para galgar postos na administração pública, sendo mulato em uma sociedade em que a cor estabelecia e tolhia possibilidades. Entretanto, se Machado é reconhecido ainda em vida e suplanta as dificuldades impostas pela cor e classe social, é devido a existência de outros que consomem suas produções, de certa forma, posta sua produção ser acerca de seu tempo, mesmo com a estilística de vanguarda: “ Com efeito, entendemos por literatura, neste contexto, fatos eminentemente associativos; obras e atitudes que exprimem certas relações dos homens entre si, e que, tomadas em conjunto, representam uma socialização dos seus impulsos íntimos. Toda obra é pessoal, única e insubstituível, na medida em que brota de uma confidência, um esforço de pensamento, um assomo de intuição, tornando-se uma “expressão”(aspas do autor). A literatura, porém, é coletiva, na medida em que requer uma certa comunhão de meios expressivos ( a palavra, a imagem ), e mobiliza afinidades profundas que congregam os homens de um lugar e de um momento, - para chegar a uma “comunicação”.” ( aspas e itálico são do autor ) ( CANDIDO, 2000; 139 ). Podemos concluir que Machado foi habilidoso em se inserir em seu tempo e perceber suas ambiguidades, transportando para suas obras a dificuldade de estabelecer certezas e a perplexidade de como podemos ser paradoxais. Se a escrita foi fugidia, mandando para as calendas gregas todas as certezas, como diz Gledson, a realidade do Brasil do século XIX contribui muito para essa celeuma. Bibliografia:
  • 24. 20 O site mantido pela ABL ( Academia Brasileira de Letras ) possui um link com o levantamento de teses por Universidades do Brasil e do Mundo ( disponibilizamos o link na bibliografia, pois a partir dali temos o download disponível das obras ). BERGER, Peter L. & BERGER, Brigitte. Socialização: como ser membro de uma sociedade. In: FORACHI, Marialice Mencarini & MARTINS, José de Souza ( orgs. ). Sociologia e Sociedade. Leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1980. CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: Estudos de Teoria e História Literária. São Paulo: Editora 34, 2000. CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis: Historiador. Companhia das Letras, 2003. COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia a República: momentos decisivos. UNESP, 1999. GLEDSON, John. Machado de Assis: Impostura e Realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor, as batatas. São Paulo: Editora 34, 2000. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 1998. Teses e obras de referência: FAORO, Raimundo. Os donos do poder, vol. 1. Editora Globo, 2000. HOLANDA, Sérgio Buarque (org.). História geral da civilização brasileira: O Brasil Monárquico, declínio e queda do Império. Bertrand Brasil, 2003. MACHADO, Maria Helena. “Teremos grandes desastres, se não houver providencias enérgicas e imediatas”: a rebeldia dos escravos e a abolição da escravidão. In: GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo ( orgs ). O Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 367-400. VITAL, Selma. Quase brancos, quase pretos: representação étnico-racial no conto machadiano. São Paulo. Intermeios, 2012. 131-133. Livros de Machado de Assis citados: Helena.
  • 25. 21 Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quincas Borba. Dom Casmurro. Esaú e Jacó. Disponíveis em http://www.machadodeassis.org.br/abl_minisites/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=20&UserActiveTemplate=machadodeassis. Último acesso em Abril de 2014. A Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros – USP – possui acervo com documentos sobre as Assembleias do Senado sobre a lei 1871: http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01119100#page/1/mode/1up A escravidão no brasil e a medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a nação. Dr. Adolpho Bezerra de Menezes. http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01274100#page/1/mode/1up discurso proferido na câmara temporária de 12 de julho sobre a proposta do governo para reforma do estado servil pelo Dr. A. M. Perdigão Malheiro.