Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
Pressão e Pressing
1. Leandro Zago
Básica 5 – Pressão e Pressing
1. Para que pressionar o adversário ?
“A pressão deve exercer-se sobre a bola, não sobre o jogador”
(Cruyff, 2002)
Recuperar a bola. Essa é uma tarefa que pode se tornar mais ou menos complicada
dependendo do nível de elaboração que se encontra a equipe sem bola em seus
princípios de jogo, em nível organizacional, operacional e estrutural. E também está
ligada, é claro, ao jogo posicional do adversário, sua capacidade de circular a bola e
de progredir em direção ao campo adversário ou ao gol, além de outras inúmeras
variáveis. Contudo, ter a bola e, obviamente estar preparado para utilizá-la de
forma efetiva em busca do cumprimento da lógica do jogo (Leitão, 2004), passou a
ser essencial principalmente para equipes de Rendimento Superior que, além de
necessitarem de um controle muito bom do jogo sem a bola, também precisam
controlá-lo e/ou dominá-lo com bola devido às exigências que são submetidas nas
várias competições que disputam, tanto em nível nacional como continental.
Em situações de jogo em que a bola tem que ser recuperada rapidamente após um
ataque para que uma situação adversa no placar seja revertida ou contra uma
equipe que circule a bola próxima a sua área de defesa como estratégia para a
manutenção de uma vantagem por exemplo, faz–se necessário adotar alguns
comportamentos. Nesses casos citados, por se tratar de recuperar a bola longe do
gol que se defende é preciso adiantar a equipe. O campo a defender torna-se maior
e a complexidade do movimento coletivo aumenta. A gestão dos espaços deve
estar regida por regras de ação que todos compreendam e entendam seus
momentos de aplicação e essa coordenação coletiva que proporcionará a
manutenção de um equilíbrio nos níveis estruturais, operacionais e organizacionais.
2. Leandro Zago
2. O que é Pressing ? É para defender-se ou para jogar ?
O “futebol de pressing”, assim chamado pelo seu criador, Rinus Michels, consistia
de um dispositivo tático cujo objetivo era acuar intensamente o adversário para
recuperar a posse de bola e não ceder em nenhum momento a iniciativa de jogo ao
mesmo, contando com dois requisitos básicos: espírito de luta inquebrantável e
excelentes níveis de preparação física. Segundo a definição do próprio Michels, o
futebol de pressing era “um sistema de jogo em que todos os jogadores no campo
atacam todo o tempo... ainda que não tenham a posse de bola!”
Esse conceito foi criado e popularizado pelo treinador holandês e ficou em evidência
principalmente após a Copa do Mundo de 1974 devido à excelente campanha que a
seleção da Holanda realizou durante aquele mundial. Apresentando um futebol
fantástico, inclusive com a denominação de “Carrossel Holandês” pela alta
rotatividade de movimentações que a equipe demonstrava em campo, o “pressing”
se tornou desde então uma característica de equipes de alto nível, que vêem nessa
forma de jogar um meio para controlar e / ou dominar as partidas.
Ao utilizar-se do pressing busca-se tornar o campo pequeno para o adversário,
pressionando-o tanto em espaço como em tempo. Prioritariamente, todos os
espaços próximos à bola devem ser racionalmente ocupados e as linhas de passe
do adversário são suprimidas e este se vê com um reduzido número de
possibilidades, tudo isso é claro se o “pressing” for bem realizado e muito bem
sistematizado durante o processo de treino.
O “pressing” segundo Amieiro (2005) é uma ação coletiva defensiva de opressão
sobre o portador da bola, sendo que esta ação busca diminuir o tempo e espaço de
ação do mesmo. A questão coletiva passa a ser primordial nessa ação, pois o
estado de pressão imposto ao adversário depende de uma ocupação inteligente e
direcionada de todos os espaços necessários para que isso ocorra. Outro ponto
importante citado pelo autor é de que o “pressing” não deve ser feito apenas para
impedir que o adversário jogue, mas para que sua equipe jogue, por isso esta
3. Leandro Zago
dever ter estratégias para pressionar e dar seqüência na jogada e não apenas
pressionar, roubar a bola e logo em seguida perdê-la, e isso obviamente também
deve ser definido durante o processo de treino. A transição ofensiva e defensiva
tem plena relação com essa forma do time atuar.
3. Quais as referências para pressionar ?
Em se tratando de futebol de alto nível, tem-se recriminado toda forma passiva de
jogar e o “pressing” tornou o ato de defender passivamente em um ato agressivo
de jogar defensivamente, os espaços então tornaram-se ainda mais escassos.
Essas formas de “pressing” têm aspectos físicos específicos e são determinantes
nos jogos, pois os jogadores devem resistir durante os noventa minutos aos
estímulos da partida e reagir da melhor maneira possível conforme o modelo de
jogo proposto pelo treinador.
Consideremos as seguintes variáveis:
- Espaço: refere-se à região ou setor do campo em que a pressão deve iniciar ou
ser realizada;
- Tempo: relaciona-se ao momento em que deve-se iniciar a pressão, se na
transição defensiva, nos passes para trás do adversário, etc e;
- Referência: diz respeito ao elemento do jogo que orientará a pressão, se a bola, o
adversário ou um setor do campo, por exemplo.
As três variáveis acima citadas são essenciais para se compreender o ato de
pressionar e o que o norteia. E, independentemente da opção por este ou aquele
referencial, a capacidade de exercer pressing, ou seja, de gerar uma situação para
o adversário que o obrigue a decidir sob condições com maior dificuldade que o
habitual, dependerá do nível de compreensão que o grupo de jogadores que o
aplica tem sobre o jogo. Esses conhecimentos sobre a lógica do jogo serão
construídos dentro de um processo pedagógico de treino, com complexidade
4. Leandro Zago
crescente e sempre atuando dentro da zona proximal de conhecimento do grupo de
atletas.
4. Pressionando alto no 1-4-3-3 (menos linhas horizontais)
Figura 1 – Pressão Zonal em Bloco Alto (largura)
Na figura acima podemos observar uma equipe jogando na plataforma 1-4-1-2-3,
indo em busca da bola na linha 5 e utilizando marcação por zona. Ao adiantar o
bloco em busca da bola, foram construídas 4 linhas de marcação (inclui-se aí o
goleiro como uma linha) e com isso um espaço considerável foi deixado nas costas
da penúltima linha (zagueiros 3 e 4 e o lateral 6) para que possa ser explorado pelo
adversário numa possível bola longa para a entrada em velocidade dos atacantes.
Obviamente, sustentar uma contínua pressão sobre a bola e evitar o recuo da
equipe (o que geraria maior deslocamento) torna-se essencial, por isso os
movimentos tem que estar coordenados. Porém, a equipe azul manteve-se
equilibrada do ponto de vista da ocupação do espaço no que tange à largura,
conseguindo realizar pressing continuamente caso a adversário busque a circulação
lateral da bola. Viradas de jogo longas também não desestruturarão tão facilmente
esse bloco.
5. Leandro Zago
5. Pressionando alto no 1-4-3-3 (mais linhas horizontais)
Figura 2 – Pressão Zonal em Bloco Alto (profundidade)
Utilizando a mesma plataforma da figura anterior, o 1-4-1-2-3, na figura 2, a
pressão sobre o adversário deu-se de forma diferente sob o aspecto estrutural.
Nessa figura vemos um maior número de linhas construídas e uma equipe mais
“estreita”. Mudam-se as prioridades, o objetivo é o mesmo, então qual o motivo?
Caso o confronto seja contra uma equipe que lance bolas longas nas costas dos
zagueiros, mas que não circule bem a bola, utilizando ataques rápidos sem
mudança de flanco, pressionar dessa forma torna-se mais vantajoso.
Para pressionar alto tem que haver estruturas construídas no campo de jogo
(podemos observar que os jogadores da equipe que pressiona formam, nas duas
figuras, estruturas geométricas entre todos eles, principalmente triângulos e
losangos), pois a estruturação do espaço e a relação que os jogadores mantém
entre eles (comunicação e meta-comunicação) são duas das três competências
essenciais que o autor Júlio Garganta (1997) considera importante para o jogador
de esportes coletivos, sendo nesse caso, o futebol. Para cumprir com efetividade a
recuperação da bola utilizam-se os princípios de defesa mais adequados
(compactação, flutuação, etc.) em conjunto com os operacionais sem perder o
todo, o jogo, com transições e fase de ataque, de vista.
6. Leandro Zago
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o
jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.
Cruyff, J. (2002) Me gusta El fútbol. RBA Libros. Barcelona.
Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização
da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado).
Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.
Leitão, R. A. A. (2004) Futebol: análises qualitativas e quantitativas para
verificação e modulação de padrões e sistemas complexos de jogo. UNICAMP,
Campinas.