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Será mesmo indispensável a guerra? 
Bem, já que o mundo (mais uma vez) não acabou, retornemos então à liça. O filosofista 
Friedrich Nietzsche, no aforismo 477 de Humano, demasiado humano, na tradução de 
Paulo César de Souza publicada pela editora Companhia de Bolso, escreveu o seguinte: 
477. É indispensável a guerra. - É um sonho vão de belas almas ainda esperar muito 
(ou só então realmente muito) da humanidade, uma vez que ela tenha desaprendido 
de fazer guerra. Por enquanto não conhecemos outro meio que pudesse transmitir 
a povos extenuados a rude energia do acampamento militar, o ódio profundo e 
impessoal, o sangue-frio de quem mata com boa consciência, o ardor comum em 
organizar a destruição do inimigo, a orgulhosa indiferença ante as grandes perdas, 
ante a própria existência e a dos amigos, o surdo abalo sísmico das almas, de 
maneira tão forte e segura como faz toda grande guerra: os regatos e torrentes que 
nela irrompem, embora arrastem pedras e imundícies de toda espécie e arrasem campos 
de tenras culturas, em circunstâncias favoráveis farão depois girar, com nova energia, as 
engrenagens das oficinas do espírito. A cultura não pode absolutamente dispensar as 
paixões, os vícios e as maldades. - Quando os romanos imperiais se cansaram um tanto 
de guerra, procuraram obter nova energia da caça aos animais, dos combates de 
gladiadores e da perseguição aos cristãos. Os ingleses de hoje, que no conjunto também 
parece ter renunciado à guerra, adotam um outro meio para regenerar essas forças que 
desaparecem: as perigosas viagens de descobrimentos, circunavegações e escaladas de 
montanhas, realizadas com objetivos científicos, segundo dizem, mas na verdade a fim 
de levar para casa energias extras, oriundas de perigos e aventuras de toda espécie. 
Ainda se descobrirão muitos desses substitutos da guerra, mas talvez se compreenda 
cada vez mais, graças a eles, que uma humanidade altamente cultivada e por isso 
necessariamente exausta, como a dos europeus atuais, não apenas precisa de 
guerras, mas das maiores e terríveis guerras - ou seja, de temporárias recaídas na 
barbárie -, para não perder, devido aos meios da cultura, sua própria cultura e 
existência. (grifos em negrito e sublinhado meus) 
O sofista Hegel também escreveu algo similar em sua Fenomenologia do Espírito, §455 
(grifos em negrito e sublinhado e inserções entre colchetes meus): 
Para não deixar que se enraízem e endureçam nesse isolar-se, e que por isso o todo se 
desagregue e o espírito se evapore, o Governo deve, de tempos em tempos, sacudi-los 
[a comunidade] em seu íntimo pelas guerras, e com isso lhes ferir e perturbar a 
ordem rotineira e o direito à independência. Quanto aos indivíduos, que afundados 
nessa rotina e direito se desprendem do todo e aspiram ao ser-para-si inviolável, e à 
segurança da pessoa, o Governo, no trabalho que lhes impõe, deve dar-lhes a sentir 
seu senhor: a morte. Por essa dissolução da forma da subsistência, o espírito impede o 
soçobrar do ser-aí ético no natural; preserva o Si de sua consciência e o eleva à 
liberdade e à sua força. 
De fato não se pode negar os diversos benefícios que traz a guerra para as gerações que 
as sucedem (porque as que lhe são contemporâneas só colhem desgraças e sofrimentos 
sem fim). Quantos avanços tecnológicos e reformas institucionais úteis e progressistas 
são obtidos após uma longa e sangrenta guerra. E realmente parece que quanto mais 
terríveis são as guerras, maiores são os avanços que dela decorrem. Se um alienígena 
visitasse a Terra e lhe contássemos que o mundo sofreu uma grande e devastadora 
guerra mundial há não mais que 70 anos, e não lhe contássemos quem ganhou e quem 
perdeu, é bem possível que ele situasse a Alemanha, a Itália e o Japão entre as nações 
vencedoras, dada a transformação que ocorreu em suas culturas, em suas tecnologias,
em suas instituições e nas formas de organização do Estado depois da hecatombe que 
provocaram e que recaiu sobre eles mesmos. 
Mas será verdade que não podemos prescindir da guerra, e que a única forma de a 
humanidade avançar é com essas "temporárias recaídas na barbárie"? Para quem 
prescindiu da ideia de liberdade inteligível e, consequentemente, adquiriu mentalidade 
meramente utilitária, em contraposição a uma mentalidade ética, como é o caso de 
Nietzsche, não há mesmo outra forma de ver o mundo (sem contradizer-se a si mesmo) 
que não sob essa perspectiva pessimista, baseada na análise empírica do passado da 
humanidade. Como para Nietzsche nós não somos melhores do que os animais (visto 
que estes não são dotados de liberdade inteligível), que estamos sujeitos à simples "lei 
de evolução", onde o forte deve sobreviver e o fraco perecer, pelo bem da espécie em 
desprezo pelo indivíduo, a necessidade da guerra, da luta constante, das "recaídas na 
barbárie", seria inerente à nossa natureza, sob pena de a humanidade "amolecer", 
degenerar e vir a desaparecer no futuro. Em O Anticristo, item II, na tradução de Pietro 
Nassetti publicada pela editora Martin Claret, Nietzsche escreveu: 
"Quanto aos fracos, aos incapazes, esses que pereçam: primeiro princípio de nossa 
caridade. E há mesmo que os ajudar a desaparecer! O que é mais nocivo do que todos os 
vícios? - A compaixão que suporta a ação em benefício de todos os fracos, de todos os 
incapazes: o cristianismo..." 
Tudo isso é muito lógico e coerente sob a perspectiva utilitarista, que suprime a ideia de 
liberdade inteligível, pois como é que vamos mudar a nossa natureza se não somos 
donos do nosso destino, se o que fazemos já está predeterminado pela natureza da nossa 
constituição, se os que são "fracos" nada poderão fazer para mudar essa sua situação e 
estão irremediavelmente perdidos? Nietzsche escreveu, no aforismo 39 de Humano, 
demasiado humano supracitado: 
"39. A fábula da liberdade inteligível - A história dos sentimentos em virtude dos quais 
tornamos alguém responsável por seus atos.... (...) De maneira que sucessivamente 
tornamos o homem responsável por seus efeitos, depois por suas ações, depois por seus 
motivos e finalmente por seu próprio ser. E afinal descobrimos que tampouco este pode 
ser responsável, na medida em que é inteiramente uma consequência necessária e se 
forma a partir dos elementos e influxos de coisas passadas e presentes: portanto, que 
não se pode tornar o homem responsável por nada, seja por seu ser, por seus motivos, 
por suas ações ou por seus efeitos. Com isso chegamos ao conhecimento de que a 
história dos sentimentos morais é a história de um erro, o erro da responsabilidade, que 
se baseia no erro do livre-arbítrio." (grifos em negrito e sublinhado meus) 
E conclui (dogmaticamente): 
"Ninguém é responsável por suas ações, ninguém é responsável por seu ser; julgar 
significa ser injusto. Isso também vale para quando o indivíduo julga a si mesmo. Essa 
tese é clara como a luz do sol: no entanto, todos preferem retornar à sombra e à 
inverdade: por medo das consequências." (grifos em negrito e sublinhado meus) 
É de se questionar como é que ele transformou essa especulação ou convicção subjetiva 
(opinião ou crença) em certeza objetiva (conhecimento ou saber) (para a diferenciação 
entre opinião, crença e saber, favor referir-se a outro artigo publicado neste blog sob o 
título Sobre a crença e a fé...) 
Foi a partir de alguma experiência que Nietzsche provou a fábula da liberdade 
inteligível? Mas a liberdade inteligível é uma faculdade suprassensível, ou seja, 
inacessível a qualquer experiência, dado que não podemos representá-la no tempo ou no 
espaço. Foi então a priori (pela razão pura, sem qualquer recurso empírico) que
Nietzsche demonstrou que a liberdade inteligível é uma fábula? Mas a Crítica da Razão 
Pura já nos ensinou que nenhum contingente pode ser conhecido a priori, e a existência 
de objetos dotados de liberdade inteligível é contingente (ou seja, se existe, poderia não 
existir sem que a ordem natural do universo fosse perturbada). 
Toda afirmação objetiva sobre objetos contingentes suprassensíveis é dogmática, de 
modo que Nietzsche, quando "descobriu" a "fábula da liberdade inteligível", só o pode 
ter feito dogmaticamente. Vê-se, por aí, que Nietzsche tornou-se culpado do mesmo 
vício que acusou as igrejas cristãs: o dogmatismo. A existência de seres dotados de 
liberdade inteligível só pode ser objeto de crença (certeza subjetiva), mas nunca de um 
saber (certeza objetiva), e Nietzsche elevou o que era apenas sua crença legítima 
(mesmo que falsa) ao status de um saber ilegítimo, ou seja, ao status de um dogma. 
Seja como for, ao partir dessa conclusão dogmática, tudo para Nietzsche se torna 
permitido, tudo é inocência, tudo é arte e poesia. Na primeira dissertação de Genealogia 
da Moral, intitulada "Bom e mau", "bom e ruim", item 11, na tradução de Paulo César 
de Souza publicada pela editora Companhia de Bolso, Nietzsche escreveu: 
"...Ali desfrutam a liberdade de toda coerção social, na selva se recobram da tensão 
trazida por um longo cerceamento e confinamento na paz da comunidade, retornam à 
inocente consciência dos animais de rapina, como jubilosos monstros que deixam atrás 
de si, com ânimo elevado e equilíbrio interior, uma sucessão horrenda de assassínios, 
incêndios, violações e torturas, como se tudo não passasse de brincadeira de 
estudantes, convencidos de que mais uma vez os poetas muito terão para cantar e 
louvar. Na raiz de todas as raças nobres é difícil não reconhecer o animal de rapina, a 
magnífica besta loura que vagueia ávida de espólios e vitórias; de quando em quando 
este cerne oculto necessita desafogo, o animal tem que sair fora, tem que voltar à selva - 
nobreza romana, árabe, germânica, japonesa, heróis homéricos, vikings escandinavos: 
nesta necessidade todos se assemelham." (grifos em negrito e sublinhado meus) 
E em Além do bem e do mal, no capítulo 2 intitulado O espírito livre, item 44, na 
tradução de Paulo César de Souza publicada pela editora Companhia de Bolso, 
Nietzsche escreveu: 
"...Mas ao dizer isto sinto - para com eles, não menos do que para conosco, seus arautos 
e precursores, nós, espíritos livres! - a obrigação de varrer para longe de nós, 
conjuntamente, um velho, tolo equívoco e preconceito, que por muito tempo 
obscureceu, como uma névoa, o conceito de "espírito livre"... Em suma, e 
lamentavelmente, eles são niveladores, esses falsamente chamados "espíritos livres" - 
escravos eloquentes e folhetinescos do gosto democrático e suas "ideias modernas"; 
todos eles sem solidão, sem solidão própria, rapazes bonzinhos e desajeitados... O que 
eles gostariam de perseguir com todas as forças é a universal felicidade do rebanho em 
pasto verde, com segurança, ausência de perigo, bem-estar e facilidade para todos; suas 
duas doutrinas e cantigas mais lembradas são "igualdade de direitos" e "compaixão 
pelos que sofrem" - e o sofrimento mesmo é visto por eles como algo que se deve 
abolir... Nós, os avessos, que abrimos os olhos e a consciência de onde e de que modo, 
até hoje, a planta "homem" cresceu mais vigorosamente às alturas, acreditamos que isso 
sempre ocorreu em condições opostas... - acreditamos que dureza, violência, 
escravidão, perigo nas ruas e no coração, ocultamento, estoicismo, arte da tentação 
e do diabolismo de toda espécie, tudo o que há de mau, terrível, tirânico, tudo o 
que há de animal de rapina e de serpente no homem serve tão bem à elevação da 
espécie "homem" quanto o seu contrário." (grifos em negrito e sublinhado meus)
De fato, são todas essas consequências muito lógicas para aquele que aboliu o conceito 
de liberdade inteligível, ou seja, para aquele que aderiu explicitamente o materialismo 
(pois é o materialismo que nega a liberdade inteligível). Quando esse conceito 
desaparece, desaparece também o valor do indivíduo. No gênero de materialismo 
adotado por Nietzsche, que as guerras tragam sofrimento e destruição, pouco importa, 
porque são apenas indivíduos (agora considerados simples coisas) que perecem, 
enquanto que a espécie humana se erguerá das cinzas mais "forte" do que antes. O bem 
físico da espécie é também a razão pelo qual a guerra e tudo o que há de "mau, terrível e 
tirânico" na espécie humana não deve ser erradicado, mas pelo contrário, estimulado. 
Não se pode, portanto, condenar a apropriação que os nazistas fizeram da filosofia 
nietzscheniana. Compare-se com o que disse Adolf Hitler, em Mein Kampf (Minha 
luta), citado por William Shirer em Ascenção e Queda do Terceiro Reich, Parte I (A 
ascensão de Adolf Hitler), capítulo 4 (As teorias de Hitler e as raízes do Terceiro 
Reich): 
"Em oposição à burguesia e aos mundos marxista e judaico, a filosofia "tribal" vê a 
importância da espécie humana nos seus elementos raciais básicos. Vê, no Estado, 
apenas um meio para a consecução de um fim, e considera este fim a preservação da 
raça, não acreditando, portanto, de modo algum, numa igualdade racial; e reconhece, 
concomitantemente, suas diferenças e seu maior ou menor valor, sentindo-se obrigado a 
promover a vitória do melhor e do mais forte e exigir a submissão do inferior e do 
mais fraco, de acordo com o eterno propósito do universo. É útil, assim, em 
princípio, a concepção aristocrática básica da natureza e acredita na validade dessa lei 
até o último dos mortais. Vê não apenas os diferentes valores das raças, mas 
também os diferentes valores das pessoas. Extrai das massas a importância da 
personalidade individual e assim (...) tem um sentido organizador. (...)" 
"Assim, a filosofia de vida "tribal" corresponde aos mais profundos anseios da 
natureza, já que restaura aquela ação livre das forças que necessariamente levará a 
gerações cada vez melhores, até que afinal o melhor da humanidade, tendo 
alcançado a posse deste mundo, disporá de caminho livre para agir em superiores 
domínios." 
"O Estado tribal (...) deve fazer com que tudo gire em torno da raça. Deve cuidar de sua 
pureza (...), deve providenciar para que apenas às pessoas sadias seja conferido o direito 
de procriar; pois seria uma desgraça alguém, apesar da própria doença e deficiência, 
trazer crianças ao mundo, do mesmo modo que renunciar a isto constituiria elevada 
honra. Inversamente, deve considerar condenável a recusa de crianças sadias à nação. 
Aqui o Estado (tribal) age como guardião de um futuro milenário, em face do qual os 
desejos e o egoísmo do indivíduo nada devem significar. (...) Um Estado tribal deve, 
portanto, começar por arrancar o casamento da situação de contínuo poluidor da raça, 
guindando-o a outra de mais alto nível, cujo objetivo será produzir criaturas à imagem 
de Deus e não monstruosidades a meio caminho entre o homem e o macaco." (grifos em 
negrito e sublinhado meus) 
Vê-se bem aqui um profundo amor pela humanidade enquanto espécie (que se quer ver 
aprimorada e purificada) e o mais profundo desprezo pelo indivíduo, que então passa a 
ser visto como simples coisa desprovida de direitos, que se não for útil para a espécie 
humana em seu conjunto pode ser descartado como um artefato que não possui mais 
valor em si mesmo. Daí a fundamentação dos genocídios. E tudo isso é logicamente 
possível desde que se tenha abolido a crença na existência de seres dotados de liberdade 
inteligível, pois seres sem essa liberdade se assemelham a simples máquinas mais ou
menos perfeitas que só são úteis quando atendem a determinados fins colocados acima 
delas em grau de importância. Um ser dotado de liberdade inteligível, pelo contrário, 
jamais poderia ser disposto como simples objeto, ainda que fosse em benefício da 
humanidade inteira, porque é um fim em si mesmo, um fim terminal da Criação dotado 
de dignidade intrínseca. O bem-estar de todos não vale a supressão do direito de uma 
pessoa apenas, considerando-a dotada de liberdade inteligível. 
No comunismo marxista, que também aboliu a liberdade inteligível em favor de um 
determinismo histórico que submeteria inapelavelmente a todos, as coisas não se 
passam de maneira diversa, embora seja diferente quanto à forma. O direito do 
indivíduo foi também desprezado em favor da felicidade das massas. As pessoas objetos 
que não tinham mais utilidade para a humanidade e para a sociedade, os "parasitas" (que 
no comunismo eram denominados de burgueses), foram sistematicamente expurgados 
como coisas em gigantescos genocídios em qualquer país onde a ideologia marxista 
tenha prosperado e adquirido o controle da nação. O nazismo morreu em 1945, mas é 
preciso ficar atento porque o "espectro do comunismo" ainda ronda, mesmo nos dias de 
hoje, neste início do século 21. É uma das últimas pragas que não foram ainda 
totalmente erradicadas do planeta. 
Mas temos o direito de suprimir a ideia da liberdade inteligível? Não sendo possível 
prová-la real ou ilusória, como é que devemos nos orientar no julgamento? Em havendo 
dúvida objetiva a respeito da existência de seres dotados de liberdade inteligível, tenho 
eu, subjetivamente, o direito de agir no mundo como se eu fosse um "inocente animal de 
rapina", cometendo toda espécie de violações e torturas, como se eu não fosse 
responsável por nada? Em havendo dúvida objetiva a respeito da existência de seres 
dotados de liberdade inteligível, tenho eu, subjetivamente, o direito de tratar o outro 
como simples coisa, que pode ser usada conforme for para mim mais útil e disposta 
quando não tiver mais valor? Por isso é que Kant disse, e com muita razão (e desafio 
alguém a tentar refutar), que a liberdade inteligível não pode ser objetivamente provada 
(como um saber), mas ela deve ser subjetivamente postulada (como uma crença 
necessária), a menos que queiramos ver os povos agindo reciprocamente como se 
fossem simples artefatos. Na Crítica da Razão Pura, parte II (Doutrina Transcendental 
do Método), capítulo II (O cânone da razão pura), primeira seção (Do fim último do uso 
puro da nossa razão), na tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique 
Morujão, e publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, Kant escreveu: 
"Prático é tudo aquilo que é possível pela liberdade [inteligível, a fim de manter a 
terminologia utilizada por Nietzsche]. Mas, se as condições de exercício do nosso livre 
arbítrio são empíricas, a razão só pode ter, nesse caso, um uso regulador e apenas pode 
servir para efetuar a unidade de leis empíricas; assim, na doutrina da prudência [ou 
doutrina de felicidade], a unificação de todos os fins, dados pelas nossas inclinações 
num fim único, a felicidade, e a concordância dos meios para a alcançar constituem toda 
a obra da razão que, para esse efeito, não pode fornecer outra coisa senão leis 
pragmáticas [ou seja, baseadas no sucesso ou insucesso de experiências passadas] da 
nossa livre conduta, próprias para nos alcançarem os fins recomendados pelos sentidos, 
mas de modo nenhum leis puras completamente determinadas a priori. Em 
contrapartida, as leis práticas puras, cujo fim é dado completamente a priori pela razão 
e que comandam, não de modo empiricamente condicionado, mas absoluto, seriam 
produtos da razão pura. Ora tais são as leis morais; por conseguinte, pertencem somente 
ao uso prático da razão pura e admitem um cânone."
"Por conseguinte, o equipamento da razão, no trabalho que se pode chamar filosofia 
pura, está de fato orientado apenas para os três problemas enunciados. Mas estes 
mesmos têm, por sua vez, um fim mais remoto, a saber, o que se deve fazer se a 
vontade é livre, se há um Deus e uma vida futura. Ora, como isto diz respeito à nossa 
conduta relativamente ao fim supremo, o fim último da natureza sábia e providente na 
constituição da nossa razão, consiste somente no que é moral." (grifos em negrito e 
sublinhado meus; inserções em colchetes minhas) 
Mesmo que, por um meio miraculoso qualquer fosse possível a prova de que a liberdade 
inteligível fosse uma ilusão, ainda assim deveríamos continuar a postular a sua 
existência, por causa das consequências (expostas acima) de sua inexistência. 
Infelizmente os sofistas pós-modernos que foram intitulados (por eles mesmos ou por 
outros) filósofos não viram as coisas desse modo, por razões tais que talvez em outra 
ocasião eu venha a tratar neste Blog. 
Mas restabelecendo-se então a filosofia para a sua verdadeira finalidade e admitindo 
como existente a liberdade inteligível (mesmo sem a menor possibilidade ou pretensão 
de conseguir provar isso), como fica então a questão da guerra, tratada no início deste 
texto. A guerra é também necessária? Se for, é sempre necessária? Poderá um dia a 
humanidade prescindir da guerra? Tem a humanidade a obrigação de erradicá-la? Em 
Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita, na sétima 
proposição, na tradução de Rodrigo Naves e Ricardo R. Terra, e publicado pela editora 
Martins Fontes, Kant escreveu: 
"A natureza se serviu novamente da incompatibilidade entre os homens, mesmo entre 
as grandes sociedades e corpos políticos desta espécie de criatura, como um meio para 
encontrar, no seu inevitável antagonismo, um estado de tranquilidade e segurança; ou 
seja, por meio de guerras, por meio de seus excessivos e incessantes preparativos, por 
meio da miséria, advinda deles, que todo Estado finalmente deve padecer em seu 
interior, mesmo em tempo de paz, a natureza impele a tentativas inicialmente 
imperfeitas, mas finalmente, após tanta devastação e transtornos, e mesmo depois do 
esgotamento total de suas forças internas, conduz os Estados àquilo que a razão 
poderia ter-lhes dito sem tão tristes experiências, a saber: sair do Estado sem leis dos 
selvagens para entrar numa federação de nações em que todo Estado, mesmo o 
menor deles, pudesse esperar sua segurança e direito não da própria força ou juízo 
legal, mas somente desta grande confederação de nações de um poder unificado e 
da decisão segundo leis de uma vontade unificada. Tão fantástica quanto esta ideia 
possa parecer, e embora, enquanto tal, se preste ao riso no Abbé de Saint-Pierre ou em 
Rosseau (talvez porque eles acreditassem na realização demasiado próxima dela), é a 
saída inevitável da miséria em que os homens se colocam mutuamente e que deve 
obrigar os Estados à mesma decisão (ainda que só a admitam com dificuldade) que 
coagiu tão a contra-gosto o homem selvagem, a saber: abdicar de sua liberdade brutal e 
buscar tranquilidade e segurança numa constituição conforme leis. Todas as guerras 
são, assim, tentativas (não segundo os propósitos dos homens, mas segundo os da 
natureza) de estabelecer novas relações entre os Estados e, por meio da destruição 
ou ao menos pelo desmembramento dos velhos, formar novos corpos que, porém, 
novamente, ou em si mesmos ou na relação com os outros, não podem manter-se, e por 
isso precisam enfrentar novas revoluções semelhantes; até que finalmente, em parte por 
meio da melhor ordenação possível da constituição civil, internamente, em parte por 
meio de um acordo e uma legislação comuns, exteriormente, seja alcançado um Estado 
que, semelhante a uma República civil, possa manter-se a si mesmo como um 
autômato." (grifos em negrito e sublinhado meus)
Com Kant, a guerra adquire um novo contexto. Ela é necessária não como um fim em si 
mesma, como queria Nietzsche (quando disse que devíamos amar a paz como um meio 
para novas guerras, que a boa guerra é a que santifica todas as coisas, que a guerra e 
o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo - em Assim falava 
Zaratustra, Da guerra e dos guerreiros), mas como um meio de a humanidade adquirir 
experiência que lhe possibilitará, no futuro, sair com sagacidade desse estado miserável 
de natureza (selvagem), elaborar uma constituição civil que administre universalmente o 
direito e aí sim estabelecer a paz entre as nações. Sob o conceito de liberdade 
inteligível, é o próprio homem, por meio do uso do seu livre-arbítrio, que joga o jogo da 
vida, de acordo com suas disposições originárias susceptíveis de serem aprimoradas; 
porém é a natureza quem posiciona os jogadores, não da forma que quer o homem, mas 
no propósito da natureza que tem em vista a melhor utilização da incompatibilidade 
natural entre os homens para que ele, por si só, por meio da experiência, descubra, 
elabore e estabeleça a melhor forma de constituição civil no futuro. A guerra é, 
portanto, necessária apenas enquanto o homem, tanto individualmente como 
coletivamente (em forma de nações), não se dispôs a renunciar à sua liberdade empírica 
selvagem, sem leis, pela liberdade inteligível dos seres racionais, sob leis, em uma 
constituição civil que torne possível a liberdade de um coexistir com a liberdade de 
todos. Mas a guerra não é necessária sempre, visto que uma vez estabelecida a 
constituição civil perfeita (a República, internamente; e as federações dos Estados 
livres, externamente), a guerra deixa de ser necessária. 
É à natureza (entenda-se aqui como sinônimo de Providência) que cabe então produzir a 
guerra, por meio da disposição dos homens na Terra, o que se dá por meio dos 
nascimentos (nunca sob o controle dos homens, mas apenas da natureza), de modo a 
tirar proveito, em favor dos próprios homens (embora eles não se deem conta disso), da 
incompatibilidade natural que existe entre eles. Mas ao homem cabe, por sua vez, como 
dever, a obrigação de buscar a constituição jurídica perfeita, mesmo que ela não possa 
ser alcançada. Kant, em Em Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista 
Cosmopolita, na quarta proposição, mesma tradução e edição supracitada, escreveu: 
"Agradeçamos, pois, à natureza a intratabilidade, a vaidade que produz a inveja 
competitiva, pelo sempre insatisfeito desejo de ter e também de dominar! Sem eles 
todas as excelentes disposições naturais da humanidade permaneceriam sem 
desenvolvimento num sono eterno. O homem quer a concórdia, mas a natureza sabe 
mais o que é melhor para a espécie: ela quer a discórdia. Ele quer viver cômoda e 
prazerosamente, mas a natureza quer que ele abandone a indolência e o contentamento 
ocioso e lance-se ao trabalho e à fadiga, de modo a conseguir os meios que ao fim o 
livrem inteligentemente dos últimos. Os impulsos naturais que conduzem a isto, as 
fontes da insociabilidade e da oposição geral, de que advêm tantos males, mas que 
também impelem a uma tensão renovada das forças e a um maior desenvolvimento das 
disposições naturais, revelam também a disposição de um criador sábio, e não a mão de 
um espírito maligno que tenha se intrometido na magnífica obra do Criador ou a 
estragado por inveja." (grifos em negrito e sublinhado meus) 
Na terceira proposição Kant ainda diz: 
"A natureza parece ter-se satisfeito aqui com o máximo de economia e ter medido os 
dotes animais dos homens de maneira estrita e exata em função das maiores 
necessidades da existência em seus primórdios, como se ela quisesse dizer que o 
homem devia, se ele se elevasse um dia por meio de seu trabalho da máxima rudeza à 
máxima destreza e à perfeição interna do modo de pensar e (tanto quanto é possível na 
Terra), mediante isso, à felicidade, ter o mérito exclusivo disso e fosse grato somente
a si mesmo - como se ela apontasse mais para a auto-estima racional do que para o 
bem-estar." (grifos em negrito e sublinhado meus) 
Em Antropologia de um ponto de vista pragmático, Livro Terceiro (Da faculdade de 
desejar), Divisão das Paixões, item C (Da inclinação à ilusão como paixão), na 
tradução de Clélia Aparecida Martins e publicado pela editora Iluminuras, Kant também 
escreveu: 
"Os jogos de bola dos meninos, as lutas, as corridas, as brincadeiras de soldado, além 
disso, os dos homens no jogo de xadrez e de cartas (onde, nos primeiros, o propósito é a 
mera superioridade no entendimento e, nos segundos, o puro ganho); finalmente, os 
jogos do cidadão que tenta sua sorte nas sociedades públicas com o faro (jogos de azar) 
ou com dados -, todos eles são inconscientemente estimulados pela sábia natureza à 
empreitada de testar suas forças em disputa com outros, a fim propriamente de que a 
força vital em geral se preserve da extenuação e se mantenha ativa. Dois desses 
antagonistas creem jogar um contra o outro, porém de fato a natureza joga com 
ambos, do que a razão pode claramente convencê-los se refletem como os meios 
escolhidos por eles se ajustam mal a seus fins." (grifos em negrito e sublinhado meus) 
Dessa forma, a guerra e a barbárie não são, de forma alguma, os únicos meios de manter 
a nossa força vital ativa e livre da extenuação pela paz prolongada. Há as competições 
no esporte, as competições da inteligência, os nossos próprios problemas e desafios 
diários contra a natureza inóspita, no trabalho, na escola, nas nossas relações sociais, no 
lar com nossos cônjuges, filhos, pais, parentes, amigos, inimigos e até contra nós 
mesmos, no sentido de nos coagirmos a utilizar todas essas paixões e inclinações em 
concordância simultânea com a ética, para os quais se requer conhecimentos, força de 
vontade e sagacidade para nos sairmos bem. Tudo isso é capaz desenvolver as nossas 
faculdades uma vez que tenhamos desaprendido de fazer guerra. Por outro lado, é 
também perfeitamente possível reconhecer os benefícios decorrentes das guerras sem 
por isso fazer apologia a elas, mas muito pelo contrário, trabalhar para erradicá-la 
definitivamente do planeta, visto que isso é apresentado para nós, pela nossa própria 
razão, como uma obrigação. É sofístico, portanto, o argumento de que é o próprio 
homem quem deve procurar manter a discórdia e a guerra; é à natureza que cabe isso, 
onde os homens maus são seus simples instrumentos (para sua própria humilhação e 
desgraça). Ao homem resta a obrigação de buscar a concórdia e à paz, mesmo que ela 
por vezes pareça impossível. 
Dizer, portanto, que não há liberdade inteligível e que, por isso, não somos responsáveis 
por nossas ações, não é um produto da filosofia, mas do filosofisma. Digo isso não 
porque eu possa provar que há liberdade inteligível, mas porque a crítica da razão já me 
ensinou que é impossível provar que ela não existe e que, por outro lado, de um ponto 
de vista prático, devo considerar a mim mesmo e aos outros como sendo portadores 
dessa liberdade inteligível, como fins em si mesmos e portadores da dignidade 
intrínseca decorrente, mesmo sem a menor possibilidade ou pretensão de provar isso. 
De igual modo, dizer que a guerra e a barbárie são as únicas formas de manter em 
movimento as forças vitais de uma humanidade extenuada pela paz prolongada, que não 
pode haver substituto para a guerra, é um sofisma tão grosseiro que chega a ser um 
absurdo que o filosofista que escreveu isso ainda seja, nos dias de hoje, estudado nas 
faculdades de filosofia, quando deveria antes ser estudado nos cursos de patologia. Ao 
que parece, a loucura de Nietzsche se manifestara bem antes da doença se explicitar, e a 
tendência dele aos sofismas simplóreos, ao exagero e ao ridículo pode ser constatado em 
vários de seus textos. Mas infelizmente o homem ainda tem uma inclinação muito forte 
para considerar como genialidade o que não é nada mais do que eloquência e
extravagância, enquanto que tudo quanto disso se afasta é tomado por algo sem 
importância e indigno de exame. 
Muitas pessoas têm me acusado de ser excessivamente crítico com relação a alguns 
filósofos (que tenho chamado aqui de filosofistas), notadamente os filósofos pós-modernos 
em quase sua totalidade. Mas é impossível a quem lê e que possua uma gota 
de discernimento são não se escandalizar com as aberrações que foram por eles 
externadas, o que só se pode explicar pela loucura propriamente dita, ou por vícios 
morais íntimos que se queria ocultar ou justificar por meio de sofismas engenhosamente 
inventados a fim de encobri-los com a máscara da virtude. As biografias de vários 
desses filosofistas são capazes de dizer muito sobre suas obras. Mas isso é assunto para 
outro ensaio, em outra ocasião. 
Rafael Gasparini Moreira [rafael.gasparini@gmail.com] 
Petrópolis/RJ 
Revisado em 13/5/2013.

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COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 

Nietzsche e a necessidade da guerra

  • 1. Será mesmo indispensável a guerra? Bem, já que o mundo (mais uma vez) não acabou, retornemos então à liça. O filosofista Friedrich Nietzsche, no aforismo 477 de Humano, demasiado humano, na tradução de Paulo César de Souza publicada pela editora Companhia de Bolso, escreveu o seguinte: 477. É indispensável a guerra. - É um sonho vão de belas almas ainda esperar muito (ou só então realmente muito) da humanidade, uma vez que ela tenha desaprendido de fazer guerra. Por enquanto não conhecemos outro meio que pudesse transmitir a povos extenuados a rude energia do acampamento militar, o ódio profundo e impessoal, o sangue-frio de quem mata com boa consciência, o ardor comum em organizar a destruição do inimigo, a orgulhosa indiferença ante as grandes perdas, ante a própria existência e a dos amigos, o surdo abalo sísmico das almas, de maneira tão forte e segura como faz toda grande guerra: os regatos e torrentes que nela irrompem, embora arrastem pedras e imundícies de toda espécie e arrasem campos de tenras culturas, em circunstâncias favoráveis farão depois girar, com nova energia, as engrenagens das oficinas do espírito. A cultura não pode absolutamente dispensar as paixões, os vícios e as maldades. - Quando os romanos imperiais se cansaram um tanto de guerra, procuraram obter nova energia da caça aos animais, dos combates de gladiadores e da perseguição aos cristãos. Os ingleses de hoje, que no conjunto também parece ter renunciado à guerra, adotam um outro meio para regenerar essas forças que desaparecem: as perigosas viagens de descobrimentos, circunavegações e escaladas de montanhas, realizadas com objetivos científicos, segundo dizem, mas na verdade a fim de levar para casa energias extras, oriundas de perigos e aventuras de toda espécie. Ainda se descobrirão muitos desses substitutos da guerra, mas talvez se compreenda cada vez mais, graças a eles, que uma humanidade altamente cultivada e por isso necessariamente exausta, como a dos europeus atuais, não apenas precisa de guerras, mas das maiores e terríveis guerras - ou seja, de temporárias recaídas na barbárie -, para não perder, devido aos meios da cultura, sua própria cultura e existência. (grifos em negrito e sublinhado meus) O sofista Hegel também escreveu algo similar em sua Fenomenologia do Espírito, §455 (grifos em negrito e sublinhado e inserções entre colchetes meus): Para não deixar que se enraízem e endureçam nesse isolar-se, e que por isso o todo se desagregue e o espírito se evapore, o Governo deve, de tempos em tempos, sacudi-los [a comunidade] em seu íntimo pelas guerras, e com isso lhes ferir e perturbar a ordem rotineira e o direito à independência. Quanto aos indivíduos, que afundados nessa rotina e direito se desprendem do todo e aspiram ao ser-para-si inviolável, e à segurança da pessoa, o Governo, no trabalho que lhes impõe, deve dar-lhes a sentir seu senhor: a morte. Por essa dissolução da forma da subsistência, o espírito impede o soçobrar do ser-aí ético no natural; preserva o Si de sua consciência e o eleva à liberdade e à sua força. De fato não se pode negar os diversos benefícios que traz a guerra para as gerações que as sucedem (porque as que lhe são contemporâneas só colhem desgraças e sofrimentos sem fim). Quantos avanços tecnológicos e reformas institucionais úteis e progressistas são obtidos após uma longa e sangrenta guerra. E realmente parece que quanto mais terríveis são as guerras, maiores são os avanços que dela decorrem. Se um alienígena visitasse a Terra e lhe contássemos que o mundo sofreu uma grande e devastadora guerra mundial há não mais que 70 anos, e não lhe contássemos quem ganhou e quem perdeu, é bem possível que ele situasse a Alemanha, a Itália e o Japão entre as nações vencedoras, dada a transformação que ocorreu em suas culturas, em suas tecnologias,
  • 2. em suas instituições e nas formas de organização do Estado depois da hecatombe que provocaram e que recaiu sobre eles mesmos. Mas será verdade que não podemos prescindir da guerra, e que a única forma de a humanidade avançar é com essas "temporárias recaídas na barbárie"? Para quem prescindiu da ideia de liberdade inteligível e, consequentemente, adquiriu mentalidade meramente utilitária, em contraposição a uma mentalidade ética, como é o caso de Nietzsche, não há mesmo outra forma de ver o mundo (sem contradizer-se a si mesmo) que não sob essa perspectiva pessimista, baseada na análise empírica do passado da humanidade. Como para Nietzsche nós não somos melhores do que os animais (visto que estes não são dotados de liberdade inteligível), que estamos sujeitos à simples "lei de evolução", onde o forte deve sobreviver e o fraco perecer, pelo bem da espécie em desprezo pelo indivíduo, a necessidade da guerra, da luta constante, das "recaídas na barbárie", seria inerente à nossa natureza, sob pena de a humanidade "amolecer", degenerar e vir a desaparecer no futuro. Em O Anticristo, item II, na tradução de Pietro Nassetti publicada pela editora Martin Claret, Nietzsche escreveu: "Quanto aos fracos, aos incapazes, esses que pereçam: primeiro princípio de nossa caridade. E há mesmo que os ajudar a desaparecer! O que é mais nocivo do que todos os vícios? - A compaixão que suporta a ação em benefício de todos os fracos, de todos os incapazes: o cristianismo..." Tudo isso é muito lógico e coerente sob a perspectiva utilitarista, que suprime a ideia de liberdade inteligível, pois como é que vamos mudar a nossa natureza se não somos donos do nosso destino, se o que fazemos já está predeterminado pela natureza da nossa constituição, se os que são "fracos" nada poderão fazer para mudar essa sua situação e estão irremediavelmente perdidos? Nietzsche escreveu, no aforismo 39 de Humano, demasiado humano supracitado: "39. A fábula da liberdade inteligível - A história dos sentimentos em virtude dos quais tornamos alguém responsável por seus atos.... (...) De maneira que sucessivamente tornamos o homem responsável por seus efeitos, depois por suas ações, depois por seus motivos e finalmente por seu próprio ser. E afinal descobrimos que tampouco este pode ser responsável, na medida em que é inteiramente uma consequência necessária e se forma a partir dos elementos e influxos de coisas passadas e presentes: portanto, que não se pode tornar o homem responsável por nada, seja por seu ser, por seus motivos, por suas ações ou por seus efeitos. Com isso chegamos ao conhecimento de que a história dos sentimentos morais é a história de um erro, o erro da responsabilidade, que se baseia no erro do livre-arbítrio." (grifos em negrito e sublinhado meus) E conclui (dogmaticamente): "Ninguém é responsável por suas ações, ninguém é responsável por seu ser; julgar significa ser injusto. Isso também vale para quando o indivíduo julga a si mesmo. Essa tese é clara como a luz do sol: no entanto, todos preferem retornar à sombra e à inverdade: por medo das consequências." (grifos em negrito e sublinhado meus) É de se questionar como é que ele transformou essa especulação ou convicção subjetiva (opinião ou crença) em certeza objetiva (conhecimento ou saber) (para a diferenciação entre opinião, crença e saber, favor referir-se a outro artigo publicado neste blog sob o título Sobre a crença e a fé...) Foi a partir de alguma experiência que Nietzsche provou a fábula da liberdade inteligível? Mas a liberdade inteligível é uma faculdade suprassensível, ou seja, inacessível a qualquer experiência, dado que não podemos representá-la no tempo ou no espaço. Foi então a priori (pela razão pura, sem qualquer recurso empírico) que
  • 3. Nietzsche demonstrou que a liberdade inteligível é uma fábula? Mas a Crítica da Razão Pura já nos ensinou que nenhum contingente pode ser conhecido a priori, e a existência de objetos dotados de liberdade inteligível é contingente (ou seja, se existe, poderia não existir sem que a ordem natural do universo fosse perturbada). Toda afirmação objetiva sobre objetos contingentes suprassensíveis é dogmática, de modo que Nietzsche, quando "descobriu" a "fábula da liberdade inteligível", só o pode ter feito dogmaticamente. Vê-se, por aí, que Nietzsche tornou-se culpado do mesmo vício que acusou as igrejas cristãs: o dogmatismo. A existência de seres dotados de liberdade inteligível só pode ser objeto de crença (certeza subjetiva), mas nunca de um saber (certeza objetiva), e Nietzsche elevou o que era apenas sua crença legítima (mesmo que falsa) ao status de um saber ilegítimo, ou seja, ao status de um dogma. Seja como for, ao partir dessa conclusão dogmática, tudo para Nietzsche se torna permitido, tudo é inocência, tudo é arte e poesia. Na primeira dissertação de Genealogia da Moral, intitulada "Bom e mau", "bom e ruim", item 11, na tradução de Paulo César de Souza publicada pela editora Companhia de Bolso, Nietzsche escreveu: "...Ali desfrutam a liberdade de toda coerção social, na selva se recobram da tensão trazida por um longo cerceamento e confinamento na paz da comunidade, retornam à inocente consciência dos animais de rapina, como jubilosos monstros que deixam atrás de si, com ânimo elevado e equilíbrio interior, uma sucessão horrenda de assassínios, incêndios, violações e torturas, como se tudo não passasse de brincadeira de estudantes, convencidos de que mais uma vez os poetas muito terão para cantar e louvar. Na raiz de todas as raças nobres é difícil não reconhecer o animal de rapina, a magnífica besta loura que vagueia ávida de espólios e vitórias; de quando em quando este cerne oculto necessita desafogo, o animal tem que sair fora, tem que voltar à selva - nobreza romana, árabe, germânica, japonesa, heróis homéricos, vikings escandinavos: nesta necessidade todos se assemelham." (grifos em negrito e sublinhado meus) E em Além do bem e do mal, no capítulo 2 intitulado O espírito livre, item 44, na tradução de Paulo César de Souza publicada pela editora Companhia de Bolso, Nietzsche escreveu: "...Mas ao dizer isto sinto - para com eles, não menos do que para conosco, seus arautos e precursores, nós, espíritos livres! - a obrigação de varrer para longe de nós, conjuntamente, um velho, tolo equívoco e preconceito, que por muito tempo obscureceu, como uma névoa, o conceito de "espírito livre"... Em suma, e lamentavelmente, eles são niveladores, esses falsamente chamados "espíritos livres" - escravos eloquentes e folhetinescos do gosto democrático e suas "ideias modernas"; todos eles sem solidão, sem solidão própria, rapazes bonzinhos e desajeitados... O que eles gostariam de perseguir com todas as forças é a universal felicidade do rebanho em pasto verde, com segurança, ausência de perigo, bem-estar e facilidade para todos; suas duas doutrinas e cantigas mais lembradas são "igualdade de direitos" e "compaixão pelos que sofrem" - e o sofrimento mesmo é visto por eles como algo que se deve abolir... Nós, os avessos, que abrimos os olhos e a consciência de onde e de que modo, até hoje, a planta "homem" cresceu mais vigorosamente às alturas, acreditamos que isso sempre ocorreu em condições opostas... - acreditamos que dureza, violência, escravidão, perigo nas ruas e no coração, ocultamento, estoicismo, arte da tentação e do diabolismo de toda espécie, tudo o que há de mau, terrível, tirânico, tudo o que há de animal de rapina e de serpente no homem serve tão bem à elevação da espécie "homem" quanto o seu contrário." (grifos em negrito e sublinhado meus)
  • 4. De fato, são todas essas consequências muito lógicas para aquele que aboliu o conceito de liberdade inteligível, ou seja, para aquele que aderiu explicitamente o materialismo (pois é o materialismo que nega a liberdade inteligível). Quando esse conceito desaparece, desaparece também o valor do indivíduo. No gênero de materialismo adotado por Nietzsche, que as guerras tragam sofrimento e destruição, pouco importa, porque são apenas indivíduos (agora considerados simples coisas) que perecem, enquanto que a espécie humana se erguerá das cinzas mais "forte" do que antes. O bem físico da espécie é também a razão pelo qual a guerra e tudo o que há de "mau, terrível e tirânico" na espécie humana não deve ser erradicado, mas pelo contrário, estimulado. Não se pode, portanto, condenar a apropriação que os nazistas fizeram da filosofia nietzscheniana. Compare-se com o que disse Adolf Hitler, em Mein Kampf (Minha luta), citado por William Shirer em Ascenção e Queda do Terceiro Reich, Parte I (A ascensão de Adolf Hitler), capítulo 4 (As teorias de Hitler e as raízes do Terceiro Reich): "Em oposição à burguesia e aos mundos marxista e judaico, a filosofia "tribal" vê a importância da espécie humana nos seus elementos raciais básicos. Vê, no Estado, apenas um meio para a consecução de um fim, e considera este fim a preservação da raça, não acreditando, portanto, de modo algum, numa igualdade racial; e reconhece, concomitantemente, suas diferenças e seu maior ou menor valor, sentindo-se obrigado a promover a vitória do melhor e do mais forte e exigir a submissão do inferior e do mais fraco, de acordo com o eterno propósito do universo. É útil, assim, em princípio, a concepção aristocrática básica da natureza e acredita na validade dessa lei até o último dos mortais. Vê não apenas os diferentes valores das raças, mas também os diferentes valores das pessoas. Extrai das massas a importância da personalidade individual e assim (...) tem um sentido organizador. (...)" "Assim, a filosofia de vida "tribal" corresponde aos mais profundos anseios da natureza, já que restaura aquela ação livre das forças que necessariamente levará a gerações cada vez melhores, até que afinal o melhor da humanidade, tendo alcançado a posse deste mundo, disporá de caminho livre para agir em superiores domínios." "O Estado tribal (...) deve fazer com que tudo gire em torno da raça. Deve cuidar de sua pureza (...), deve providenciar para que apenas às pessoas sadias seja conferido o direito de procriar; pois seria uma desgraça alguém, apesar da própria doença e deficiência, trazer crianças ao mundo, do mesmo modo que renunciar a isto constituiria elevada honra. Inversamente, deve considerar condenável a recusa de crianças sadias à nação. Aqui o Estado (tribal) age como guardião de um futuro milenário, em face do qual os desejos e o egoísmo do indivíduo nada devem significar. (...) Um Estado tribal deve, portanto, começar por arrancar o casamento da situação de contínuo poluidor da raça, guindando-o a outra de mais alto nível, cujo objetivo será produzir criaturas à imagem de Deus e não monstruosidades a meio caminho entre o homem e o macaco." (grifos em negrito e sublinhado meus) Vê-se bem aqui um profundo amor pela humanidade enquanto espécie (que se quer ver aprimorada e purificada) e o mais profundo desprezo pelo indivíduo, que então passa a ser visto como simples coisa desprovida de direitos, que se não for útil para a espécie humana em seu conjunto pode ser descartado como um artefato que não possui mais valor em si mesmo. Daí a fundamentação dos genocídios. E tudo isso é logicamente possível desde que se tenha abolido a crença na existência de seres dotados de liberdade inteligível, pois seres sem essa liberdade se assemelham a simples máquinas mais ou
  • 5. menos perfeitas que só são úteis quando atendem a determinados fins colocados acima delas em grau de importância. Um ser dotado de liberdade inteligível, pelo contrário, jamais poderia ser disposto como simples objeto, ainda que fosse em benefício da humanidade inteira, porque é um fim em si mesmo, um fim terminal da Criação dotado de dignidade intrínseca. O bem-estar de todos não vale a supressão do direito de uma pessoa apenas, considerando-a dotada de liberdade inteligível. No comunismo marxista, que também aboliu a liberdade inteligível em favor de um determinismo histórico que submeteria inapelavelmente a todos, as coisas não se passam de maneira diversa, embora seja diferente quanto à forma. O direito do indivíduo foi também desprezado em favor da felicidade das massas. As pessoas objetos que não tinham mais utilidade para a humanidade e para a sociedade, os "parasitas" (que no comunismo eram denominados de burgueses), foram sistematicamente expurgados como coisas em gigantescos genocídios em qualquer país onde a ideologia marxista tenha prosperado e adquirido o controle da nação. O nazismo morreu em 1945, mas é preciso ficar atento porque o "espectro do comunismo" ainda ronda, mesmo nos dias de hoje, neste início do século 21. É uma das últimas pragas que não foram ainda totalmente erradicadas do planeta. Mas temos o direito de suprimir a ideia da liberdade inteligível? Não sendo possível prová-la real ou ilusória, como é que devemos nos orientar no julgamento? Em havendo dúvida objetiva a respeito da existência de seres dotados de liberdade inteligível, tenho eu, subjetivamente, o direito de agir no mundo como se eu fosse um "inocente animal de rapina", cometendo toda espécie de violações e torturas, como se eu não fosse responsável por nada? Em havendo dúvida objetiva a respeito da existência de seres dotados de liberdade inteligível, tenho eu, subjetivamente, o direito de tratar o outro como simples coisa, que pode ser usada conforme for para mim mais útil e disposta quando não tiver mais valor? Por isso é que Kant disse, e com muita razão (e desafio alguém a tentar refutar), que a liberdade inteligível não pode ser objetivamente provada (como um saber), mas ela deve ser subjetivamente postulada (como uma crença necessária), a menos que queiramos ver os povos agindo reciprocamente como se fossem simples artefatos. Na Crítica da Razão Pura, parte II (Doutrina Transcendental do Método), capítulo II (O cânone da razão pura), primeira seção (Do fim último do uso puro da nossa razão), na tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão, e publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, Kant escreveu: "Prático é tudo aquilo que é possível pela liberdade [inteligível, a fim de manter a terminologia utilizada por Nietzsche]. Mas, se as condições de exercício do nosso livre arbítrio são empíricas, a razão só pode ter, nesse caso, um uso regulador e apenas pode servir para efetuar a unidade de leis empíricas; assim, na doutrina da prudência [ou doutrina de felicidade], a unificação de todos os fins, dados pelas nossas inclinações num fim único, a felicidade, e a concordância dos meios para a alcançar constituem toda a obra da razão que, para esse efeito, não pode fornecer outra coisa senão leis pragmáticas [ou seja, baseadas no sucesso ou insucesso de experiências passadas] da nossa livre conduta, próprias para nos alcançarem os fins recomendados pelos sentidos, mas de modo nenhum leis puras completamente determinadas a priori. Em contrapartida, as leis práticas puras, cujo fim é dado completamente a priori pela razão e que comandam, não de modo empiricamente condicionado, mas absoluto, seriam produtos da razão pura. Ora tais são as leis morais; por conseguinte, pertencem somente ao uso prático da razão pura e admitem um cânone."
  • 6. "Por conseguinte, o equipamento da razão, no trabalho que se pode chamar filosofia pura, está de fato orientado apenas para os três problemas enunciados. Mas estes mesmos têm, por sua vez, um fim mais remoto, a saber, o que se deve fazer se a vontade é livre, se há um Deus e uma vida futura. Ora, como isto diz respeito à nossa conduta relativamente ao fim supremo, o fim último da natureza sábia e providente na constituição da nossa razão, consiste somente no que é moral." (grifos em negrito e sublinhado meus; inserções em colchetes minhas) Mesmo que, por um meio miraculoso qualquer fosse possível a prova de que a liberdade inteligível fosse uma ilusão, ainda assim deveríamos continuar a postular a sua existência, por causa das consequências (expostas acima) de sua inexistência. Infelizmente os sofistas pós-modernos que foram intitulados (por eles mesmos ou por outros) filósofos não viram as coisas desse modo, por razões tais que talvez em outra ocasião eu venha a tratar neste Blog. Mas restabelecendo-se então a filosofia para a sua verdadeira finalidade e admitindo como existente a liberdade inteligível (mesmo sem a menor possibilidade ou pretensão de conseguir provar isso), como fica então a questão da guerra, tratada no início deste texto. A guerra é também necessária? Se for, é sempre necessária? Poderá um dia a humanidade prescindir da guerra? Tem a humanidade a obrigação de erradicá-la? Em Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita, na sétima proposição, na tradução de Rodrigo Naves e Ricardo R. Terra, e publicado pela editora Martins Fontes, Kant escreveu: "A natureza se serviu novamente da incompatibilidade entre os homens, mesmo entre as grandes sociedades e corpos políticos desta espécie de criatura, como um meio para encontrar, no seu inevitável antagonismo, um estado de tranquilidade e segurança; ou seja, por meio de guerras, por meio de seus excessivos e incessantes preparativos, por meio da miséria, advinda deles, que todo Estado finalmente deve padecer em seu interior, mesmo em tempo de paz, a natureza impele a tentativas inicialmente imperfeitas, mas finalmente, após tanta devastação e transtornos, e mesmo depois do esgotamento total de suas forças internas, conduz os Estados àquilo que a razão poderia ter-lhes dito sem tão tristes experiências, a saber: sair do Estado sem leis dos selvagens para entrar numa federação de nações em que todo Estado, mesmo o menor deles, pudesse esperar sua segurança e direito não da própria força ou juízo legal, mas somente desta grande confederação de nações de um poder unificado e da decisão segundo leis de uma vontade unificada. Tão fantástica quanto esta ideia possa parecer, e embora, enquanto tal, se preste ao riso no Abbé de Saint-Pierre ou em Rosseau (talvez porque eles acreditassem na realização demasiado próxima dela), é a saída inevitável da miséria em que os homens se colocam mutuamente e que deve obrigar os Estados à mesma decisão (ainda que só a admitam com dificuldade) que coagiu tão a contra-gosto o homem selvagem, a saber: abdicar de sua liberdade brutal e buscar tranquilidade e segurança numa constituição conforme leis. Todas as guerras são, assim, tentativas (não segundo os propósitos dos homens, mas segundo os da natureza) de estabelecer novas relações entre os Estados e, por meio da destruição ou ao menos pelo desmembramento dos velhos, formar novos corpos que, porém, novamente, ou em si mesmos ou na relação com os outros, não podem manter-se, e por isso precisam enfrentar novas revoluções semelhantes; até que finalmente, em parte por meio da melhor ordenação possível da constituição civil, internamente, em parte por meio de um acordo e uma legislação comuns, exteriormente, seja alcançado um Estado que, semelhante a uma República civil, possa manter-se a si mesmo como um autômato." (grifos em negrito e sublinhado meus)
  • 7. Com Kant, a guerra adquire um novo contexto. Ela é necessária não como um fim em si mesma, como queria Nietzsche (quando disse que devíamos amar a paz como um meio para novas guerras, que a boa guerra é a que santifica todas as coisas, que a guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo - em Assim falava Zaratustra, Da guerra e dos guerreiros), mas como um meio de a humanidade adquirir experiência que lhe possibilitará, no futuro, sair com sagacidade desse estado miserável de natureza (selvagem), elaborar uma constituição civil que administre universalmente o direito e aí sim estabelecer a paz entre as nações. Sob o conceito de liberdade inteligível, é o próprio homem, por meio do uso do seu livre-arbítrio, que joga o jogo da vida, de acordo com suas disposições originárias susceptíveis de serem aprimoradas; porém é a natureza quem posiciona os jogadores, não da forma que quer o homem, mas no propósito da natureza que tem em vista a melhor utilização da incompatibilidade natural entre os homens para que ele, por si só, por meio da experiência, descubra, elabore e estabeleça a melhor forma de constituição civil no futuro. A guerra é, portanto, necessária apenas enquanto o homem, tanto individualmente como coletivamente (em forma de nações), não se dispôs a renunciar à sua liberdade empírica selvagem, sem leis, pela liberdade inteligível dos seres racionais, sob leis, em uma constituição civil que torne possível a liberdade de um coexistir com a liberdade de todos. Mas a guerra não é necessária sempre, visto que uma vez estabelecida a constituição civil perfeita (a República, internamente; e as federações dos Estados livres, externamente), a guerra deixa de ser necessária. É à natureza (entenda-se aqui como sinônimo de Providência) que cabe então produzir a guerra, por meio da disposição dos homens na Terra, o que se dá por meio dos nascimentos (nunca sob o controle dos homens, mas apenas da natureza), de modo a tirar proveito, em favor dos próprios homens (embora eles não se deem conta disso), da incompatibilidade natural que existe entre eles. Mas ao homem cabe, por sua vez, como dever, a obrigação de buscar a constituição jurídica perfeita, mesmo que ela não possa ser alcançada. Kant, em Em Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita, na quarta proposição, mesma tradução e edição supracitada, escreveu: "Agradeçamos, pois, à natureza a intratabilidade, a vaidade que produz a inveja competitiva, pelo sempre insatisfeito desejo de ter e também de dominar! Sem eles todas as excelentes disposições naturais da humanidade permaneceriam sem desenvolvimento num sono eterno. O homem quer a concórdia, mas a natureza sabe mais o que é melhor para a espécie: ela quer a discórdia. Ele quer viver cômoda e prazerosamente, mas a natureza quer que ele abandone a indolência e o contentamento ocioso e lance-se ao trabalho e à fadiga, de modo a conseguir os meios que ao fim o livrem inteligentemente dos últimos. Os impulsos naturais que conduzem a isto, as fontes da insociabilidade e da oposição geral, de que advêm tantos males, mas que também impelem a uma tensão renovada das forças e a um maior desenvolvimento das disposições naturais, revelam também a disposição de um criador sábio, e não a mão de um espírito maligno que tenha se intrometido na magnífica obra do Criador ou a estragado por inveja." (grifos em negrito e sublinhado meus) Na terceira proposição Kant ainda diz: "A natureza parece ter-se satisfeito aqui com o máximo de economia e ter medido os dotes animais dos homens de maneira estrita e exata em função das maiores necessidades da existência em seus primórdios, como se ela quisesse dizer que o homem devia, se ele se elevasse um dia por meio de seu trabalho da máxima rudeza à máxima destreza e à perfeição interna do modo de pensar e (tanto quanto é possível na Terra), mediante isso, à felicidade, ter o mérito exclusivo disso e fosse grato somente
  • 8. a si mesmo - como se ela apontasse mais para a auto-estima racional do que para o bem-estar." (grifos em negrito e sublinhado meus) Em Antropologia de um ponto de vista pragmático, Livro Terceiro (Da faculdade de desejar), Divisão das Paixões, item C (Da inclinação à ilusão como paixão), na tradução de Clélia Aparecida Martins e publicado pela editora Iluminuras, Kant também escreveu: "Os jogos de bola dos meninos, as lutas, as corridas, as brincadeiras de soldado, além disso, os dos homens no jogo de xadrez e de cartas (onde, nos primeiros, o propósito é a mera superioridade no entendimento e, nos segundos, o puro ganho); finalmente, os jogos do cidadão que tenta sua sorte nas sociedades públicas com o faro (jogos de azar) ou com dados -, todos eles são inconscientemente estimulados pela sábia natureza à empreitada de testar suas forças em disputa com outros, a fim propriamente de que a força vital em geral se preserve da extenuação e se mantenha ativa. Dois desses antagonistas creem jogar um contra o outro, porém de fato a natureza joga com ambos, do que a razão pode claramente convencê-los se refletem como os meios escolhidos por eles se ajustam mal a seus fins." (grifos em negrito e sublinhado meus) Dessa forma, a guerra e a barbárie não são, de forma alguma, os únicos meios de manter a nossa força vital ativa e livre da extenuação pela paz prolongada. Há as competições no esporte, as competições da inteligência, os nossos próprios problemas e desafios diários contra a natureza inóspita, no trabalho, na escola, nas nossas relações sociais, no lar com nossos cônjuges, filhos, pais, parentes, amigos, inimigos e até contra nós mesmos, no sentido de nos coagirmos a utilizar todas essas paixões e inclinações em concordância simultânea com a ética, para os quais se requer conhecimentos, força de vontade e sagacidade para nos sairmos bem. Tudo isso é capaz desenvolver as nossas faculdades uma vez que tenhamos desaprendido de fazer guerra. Por outro lado, é também perfeitamente possível reconhecer os benefícios decorrentes das guerras sem por isso fazer apologia a elas, mas muito pelo contrário, trabalhar para erradicá-la definitivamente do planeta, visto que isso é apresentado para nós, pela nossa própria razão, como uma obrigação. É sofístico, portanto, o argumento de que é o próprio homem quem deve procurar manter a discórdia e a guerra; é à natureza que cabe isso, onde os homens maus são seus simples instrumentos (para sua própria humilhação e desgraça). Ao homem resta a obrigação de buscar a concórdia e à paz, mesmo que ela por vezes pareça impossível. Dizer, portanto, que não há liberdade inteligível e que, por isso, não somos responsáveis por nossas ações, não é um produto da filosofia, mas do filosofisma. Digo isso não porque eu possa provar que há liberdade inteligível, mas porque a crítica da razão já me ensinou que é impossível provar que ela não existe e que, por outro lado, de um ponto de vista prático, devo considerar a mim mesmo e aos outros como sendo portadores dessa liberdade inteligível, como fins em si mesmos e portadores da dignidade intrínseca decorrente, mesmo sem a menor possibilidade ou pretensão de provar isso. De igual modo, dizer que a guerra e a barbárie são as únicas formas de manter em movimento as forças vitais de uma humanidade extenuada pela paz prolongada, que não pode haver substituto para a guerra, é um sofisma tão grosseiro que chega a ser um absurdo que o filosofista que escreveu isso ainda seja, nos dias de hoje, estudado nas faculdades de filosofia, quando deveria antes ser estudado nos cursos de patologia. Ao que parece, a loucura de Nietzsche se manifestara bem antes da doença se explicitar, e a tendência dele aos sofismas simplóreos, ao exagero e ao ridículo pode ser constatado em vários de seus textos. Mas infelizmente o homem ainda tem uma inclinação muito forte para considerar como genialidade o que não é nada mais do que eloquência e
  • 9. extravagância, enquanto que tudo quanto disso se afasta é tomado por algo sem importância e indigno de exame. Muitas pessoas têm me acusado de ser excessivamente crítico com relação a alguns filósofos (que tenho chamado aqui de filosofistas), notadamente os filósofos pós-modernos em quase sua totalidade. Mas é impossível a quem lê e que possua uma gota de discernimento são não se escandalizar com as aberrações que foram por eles externadas, o que só se pode explicar pela loucura propriamente dita, ou por vícios morais íntimos que se queria ocultar ou justificar por meio de sofismas engenhosamente inventados a fim de encobri-los com a máscara da virtude. As biografias de vários desses filosofistas são capazes de dizer muito sobre suas obras. Mas isso é assunto para outro ensaio, em outra ocasião. Rafael Gasparini Moreira [rafael.gasparini@gmail.com] Petrópolis/RJ Revisado em 13/5/2013.