Este artigo descreve um projeto desenvolvido com alunos de um curso de educação musical onde eles pesquisaram e registraram cantigas folclóricas de suas famílias. Os alunos entrevistaram parentes, gravaram as canções e realizaram análises musicais das mesmas. O projeto teve como objetivo resgatar as raízes musicais locais e ensinar conceitos musicais de forma prazerosa.
A busca pela escolarização, através da ampliação da leitur…
Resgate cultural na sala de aula
1. revista da numero 5
setembro de 2000
abem
,
resen a alzes
•
u turais na uca uSlca
Cristina Rolim Wolffenbuttel
Resumo: Este artigo descreve um projeto de resgate das rafzes musicais, desenvolvido
junto aos alunos da disciplina de Elementos da Linguagem Musical (E.L.M.), do Curso Basico
em Educagao Musical da FUNDARTE (Fundagao Municipal de Artes de Montenegro). A proposta
do projeto fundamentou-se nos objetivos especfficos do setor da Musica, os quais fundamentam
a educagao musical na FUNDARTE, a saber, "sensibilizar 0 aluno para, atraves do
desenvolvimento progressivo da percepgao e expressao sonora, chegar ao conhecimento da
linguagem musical e apreciagao da obra de arte, dotado de senso crftico e autonomia". Alem
disso, "desenvolver no aluno as habilidades de EXECUTAR, CRIAR e APRECIAR esteticamente
a Musica, tendo por base 0 conhecimento progressivo da Iinguagem musical".Os alunos fizeram
entrevistas em seus lares, registrando cantigas que os familiares conheciam de sua infancia.Tudo
foi registrado, analisaqo e utilizado para um momento de criagao musical. Houve tambem a
divulgagao na FUNOA,RiE, durante as comemoragoes do mes do Folclore, em agosto.
- '" ' .
Para algumas pessoas, No entanto, em muitas da identidade culturaP , desmis-
bern como professores, a sala de ocasioes, a sala de aula de uma tifica a pesquisa, atraves do co-
aula parece, em princfpio, urn escola regular, ou mesmo de urn nhecimento dos principais pas-
lugar onde dificilmente se pode curso de musica, e urn local ex- sos que dela fazem parte, e isto
desenvolver urn projeto de res- tremamente interessante e pro- tudo de urn modo prazeroso e
gate cultural, de busca das tra- dutivo para esta atividade, pois muito interessante.
digoes e das manifestagoes fol- e urn espago de grande valor,
Este artigo propoe-se a
cl6ricas de uma determinada que contem uma grande rique-
discorrer sobre a presenga do
comunidade ou regiao. Alem dis- za de experiencias advindas da
folclore na sala de aula, em urn
so, tampouco e urn lugar onde "bagagem cultural" dos varios
curso de Musica. Procurar-se-a
possa ocorrer a busca das rai- alunos ali presentes. Somando-
descrever 0 projeto de resgate
zes culturais da comunidade, se a isso, oportuniza a realiza-
das raizes musicais, desenvol-
a
devido grande dificuldade de gao de pesquisas, de investiga- vido junto aos alunos da disci-
se trabalhar estes aspectos com goes, nas quais 0 proprio aluno plina de Elementos da Lingua-
urn grupo de alunos. Talvez, em faz seus registros, analisa e con- gem Musical, do Curso Sasico
urn curso universitario, sim, isso clui a respeito. Enfim, alem de de Educagao Musical da FUN-
seja possive!! viabilizar 0 resgate das origens, DARTE (Fundagao Municipal de
, "A questao da identidade cUltural, de que fazem parte a dimensao individual e a da classe dos educandos cUjo respe~o e absolutamente fundamental na pratica educativa
e
progressista, problema que nao pode ser desprezado." (Freire, 1999, p. 46)
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Artes de Montenegro). Para au- cerca de 30 anos, e oferece a 10caP. Com esta inclusao, pro-
xiliar na contextualiza<;ao do tra- comunidade varios cursos nas curou-se observar as etapas de
balho, e importante mencionar a areas das artes, incluindo as uma pesquisa, percorrendo al-
faixa etMa dos alunos partici- Artes Visuais, a Dan<;a, a Musi- gumas bem especfficas. Assim,
pantes, tendo predominado a ca e 0 Teatro. A Musica, inseri- Coleta de Dados, Analise e Sfn-
media dos 14 anos de idade, da no Setor de Educa<;ao Musi- tese foram momentos de gran-
aproximadamente. cal, conta com um ample currf- de importancia para 0 alcance
culo, incluindo disciplinas de dos objetivos, sendo que se con-
A proposta do projeto fun- carater mais te6rico (apesar da seguiu uma boa qualidade,
damentou-se nos objetivos es- praticidade necessaria a qual- quando da finaliza<;ao.
pecfficos do setor da Musica, os quer trabalho educacional),
quais fundamentam a educa<;ao como Aprecia<;M Musical, Har- A Coleta de Dados, etapa
musical na FUNDARTE. Neste monia, Elementos da Linguagem inicial, foi realizada do seguinte
sentido, vale especificar que Musical, entre outras. Alem des- modo. Os alunos de E.L.M. de-
pretende-se "sensibilizar 0 alu- tas, 0 aspecto mais pratico esta veriam fazer uma pesquisa jun-
no para, atraves do desenvolvi- vinculado ao estudo de um ins- to a sua famflia. Esta pesquisa
mento progressivo da percep<;ao trumento musical, cujas modali- constaria de questionamentos
e expressao sonora,· chegar ao dades abrangem cordas, sopros aos familiares sobre as can<;oes
conhecimento da Iinguagem e percussao. A natureza deste que eles recordavam, alem da
musical e aprecia<;ao da obra de artigo Iiga-se mais diretamente, inclusao de alguns dados pes-
arte, dotado de senso crftico e como foi previamente menciona- soais, como 0 local e a idade de
autonomia". Alem disso, tem-se do, a disciplina de Elementos da nascimento, a residemcia, etc.
como meta geral: Linguagem Musical (E.L.M.). Alem disto, os alunos solicitari-
Nela, 0 objetivo vincula-se a al- am informa<;oes pertinentes as
... "desenvolver no aluno as ha- fabetiza<;ao musical e ao seu can<;oes entoadas pela familia,
bilidades de EXECUTAR, CRIAR e aprimoramento, apresentando tais como: "Com quem aprendeu
APRECIAR esteticamente a Musica, ten-
diversos nfveis, os quais sao a can<;ao?", "Em quais momen-
do por base 0 conhecimento progressivo
da linguagem musical. Desta forma, 0 denominados de m6dulos (es- tos eram cantadas?". Enfim, per-
educando estara alimentando sua inteli- tendendo-se do M6dulo Inicial guntas que complementassem a
gencia, memoria e atenyao, ampliando ate 0 M6dulo Avan<;ado), desde futura analise do material e ser-
seu potencial e, consequentemente, sua . a etapa anterior ao f:.~>nhecimen vissem de subsfdio para a pos-
visao de mundo, tomando-se uma pes-
soa no sentido completo. Considera-se to da Teoria MUSfGa.L- aspecto
- ",.,',
terior elabora<;ao da sfntese da
muito importante 0 aluno, sendo ele um mais sensorial da musicaliza<;ao pesquisa. Juntamente com tudo
sujeito ativo e capaz de transformayao -, ate a pratica de composi<;oes isso, deveriam registrar sonora-
• na sociedade e devendo desempenhar e analises musicais. mente as informa<;oes, gravan-
papeis tais como '0 ouvinte', '0 interpre-
te', '0 compositor' e '0 crftico'. Alem dis- do-as em fitas cassete.
so, a valorizayao do estudo, bem como 0 No infcio de 1999, na dis-
estfmulo iI 'performance', sao preocupa- ciplina de E.L.M., cujos alunos Para a realiza<;ao desta
yoes constantes do setor, na medida em ja se encontravam num nfvel um coleta de informa<;oes, ofereceu-
que se procura, cada vez mais, a quali-
dade do ensino."2
pouco mais aprimorado, os mes- se aos alunos um tempo de tres
mos realizaram um vasto estu- meses, aproximadamente. Tal-
,
do sobre analise musical, envol- vez possa parecer estranho tan-
E importante, antes de
venda a fraseologia e a morfo- to tempo assim. Porem, e opor-
discorrer especificamente sobre
logia. Paralelamente, foram fei- tuna esclarecer que os alunos
este projeto, comentar um pou-
tos exercfcios de percep<;ao, que participam dos cursos na
co a respeito da FUNDARTE,
quando da escuta de trechos FUNDARTE - que sao opcionais
situando-a melhor no trabalho e,
musicais ou de musicas comple- e fora da realidade de uma es-
principalmente, esclarecendo 0
tas, propondo-se a transcri<;ao cola regula~ - tem diversos ou-
porque do modo de realiza<;ao
para a partitura musical. Com 0 tros compromissos escolares ou
do mesmo.
transcorrer do trabalho, devido mesmo obriga<;oes diversas na
A FUNDARTE, localizada ao interesse e ao bom aprovei- rotina de trabalho, alem dos ori:
em Montenegro, a aproximada- tamento alcan<;ado pelos alunos, ginarios deste curso. 0 tempo,
mente 80 quil6metros da capital a proposta foi ampliada, incluin- para eles, tambem e bastante
gaucha (Porto Alegre), existe ha do 0 resgate da cultura musical exfguo. Foi necessaria, portan-
2Objetivo extraido da proposta do Setor de Educa9ao Musical.
'A Carta do Folclore Brasileiro, revisada em dezembro de 1995, no Capitulo III • Ensino e Educa9ao·, recomenda que se deve "considerar a cultura trazida do meio familiar e
comunitario palo aluno no planejamento curricular, com vistas a aproximar 0 aprendizado formal e naD formal, da importancia de seus valores na forma<;:8o do indivfduo".
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to, a previsao de um prazo mai- Iheram cangoes dentre as cole- dos diante da necessidade de
or, para que a tarefa fosse reali- tadas, para a realizagao do re- tomar grafico 0 registro sonoro
zada a contento. Alem disso, gistro coletivo da partitura, em das cangoes. Nesta perspectiva,
vale esclarecer, tambem, que linguagem musical. Este mo- indagagoes importantes para a
sempre ha alguns problemas de mento foi extremamente impor- continuidade do processo foram
disponibilidade de tempo por tante e, acima de tudo, prazero- realizadas, como: "Qual a tona-
parte do informante, mesmo que so. Na verdade, foi a realizagao lidade da cangao?", "Quantos
este seja um familiar ou uma de um trabalho de grande valor tempos existem em cada com-
pessoa pr6xima ao aluno. Assim, educacional, fazendo com que passo?", "A cangao inicia na to-
a fim de se conseguir uma boa as aulas se constitufssem mo- nica, ou em outro grau da esca-
qualidade e, principal mente, a mentos que englobassem os co- la?", "Existem ritmos que estao
satisfagao de ter um projeto bem nhecimentos acerca de, pratica- se repetindo ao longo da can-
feito, foi prudente considerar mente, todos os conteudos da gao?". Enfim, muitas foram as
este aspecto, destinando um Musica. Este processo envolveu questoes que auxiliaram 0 pre-
tempo mais ampliado para a sua algumas etapas, ocorrendo do paro anterior da partitura musi-
realizagao. seguinte modo: cal, objetivando-se 0 registro
mais fiel possfvel.
Com a finalizagao do re- a) Selegao das cangoes para a
gistro das informagoes, quando transcrigao: como se mencionou Vale salientar que as per-
os alunos ja dispunham da pes- anteriormente, foi a etapa de guntas mencionadas anterior-
quisa de campo (coleta de da- escolha de uma cangao para mente foram langadas para toda
dos), 0 que ocorreu por volta do cada colega, por ele mesmo ou a turma e, por este coletivo, res-
final do mes de maio de 1999, pelo pr6prio grupo de alunos, pondidas, sendo que, em pou-
solicitou-se que os mesmos trou- para fazer 0 registro musical. Em cos momentos, foi necessario 0
xessem para a aula tudo 0 que alguns casos, os alunos quise- auxflio da professora para se
tinham conseguido gravar em ram realizar a transcrigao de a
chegar sua resolug8.o, pois os
suas entrevistas. Foram destina- mais de uma cangao, 0 que 10- pr6prios alunos conseguiram
das algumas aulas para este tra- gicamente foi atendido e, sem chegar a uma conclusao, fruto
balho de Analise dos Dados, duvida, elogiado, na medida em do debate e do pensar em con-
cercade dois perfodos (cada que veio a enriquecer 0 traba- junto. Ao final desta etapa, foi
aula com uma duragao de 50 Iho, bem como auxiliar ainda
...
.'
~" .<,',
possfvel vislumbrar os primeiros
minutos), a fim de fazerem a es- mais 0 aprer:ldizado individual e registros musicais, oriundos de
cuta do material coletado e ini- coletivo. um resgate da cultura local. Por
ciarem uma especie de analise isto mesmo, foi bastante emo-
musical basica. Este momenta b) Transcrig8.o musical da can- cionante!
foi interessante, pois, ja af, pu- gao: antes de registrar na parti- ,
deram ser verificadas algumas tura, foram feitas inumeras au- E oportuno explicar, tam-
caracterfsticas presentes nas digoes, auxiliando a memoriza- Mm, que cada aluno coletou jun-
cangoes, que tem semelhangas gao e estruturando melhor 0 tra- to aos seus familiares, em me-
com as caracterfsticas gerais da balho escrito. Depois, algumas dia, duas ou tres cangoes. En-
musica folcl6rica brasileira. Den- intervengoes por parte da pro- tao, eles ainda tinham, no mfni-
tre estas particularidades, vale fessora fizeram-se necessarias, mo, uma cangao para efetuar a
citar a predominancia dos com- com vistas ao infcio da transcri- transcrigao musical. Propos-se,
passos binarios simples, dos inf- gao coletiva, dando um exemplo assim, um desafio individual.
cios anacrusticos, das termina- do trabalho a ser realizado pos- Cada um deveria procurar fa-
goes masculinas, das escalas teriormente. Este momenta ilus- zer, sozinho, 0 registro da can-
tonais maiores4 , enfim, de parti- tra a constante busca, que exis- gao que havia recolhido na pes-
cularidades presentes na cultu- tiu neste projeto (e continua quisa junto aos familiares, ate
ra musical do Brasil, e que fo- ocorrendo em todas as agoes na como um modo de verificagao
ram constatadas na pratica des- sala de aula), de levar em con- pessoal do aprendizado. Finali-
ta investigagao pelos pr6prios sideragao a metodologia numa zada a elaboragao da percepgao
alunos. perspectiva dialetica5 , na qual a individual dos alunos, fez-se a
produgao do conhecimento ocor- verificagao coletiva de todas,
Ap6s a escuta de todo 0 reu na ag8.o dos alunos, quando procurando realizar uma avalia-
material sonoro, os alunos esco- estes se sentiram problematiza- gao em grupo, sendo que os alu-
4 Segundo Lamas (1992, p. 141-144).
'A esse respeito, ver Vasconcellos (1994. p. 84).
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nos podiam observar 0 trabalho o exemplo apresentado a se- transcritas coletivamente, em
dos dernais colegas e opinar a guir, a can<;8.o "Olha 0 Circo", sala de aula, a fim de exemplifi-
respeito, procurando contribuir recolhida pela aluna Eliana C. do car 0 trabalho individual que
para a melhoria do registro es- Prado, foi uma das melodias aconteceria posteriormente.
crito.
"Olha 0 Circa"
Reeolhido pela aluna Ellana C. do Prado e
o - Iha eir co, bumI VI - va co,
O~
0 0
----- '--"'
bum! A fun - yAo vai co • me • yar 0-- .:. -----
Tres pa - Iha - ~os, bum! En - gra - ya
e
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bum! Bern de • pres sa vAo ene gar
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•
la-Ia-Ia-Ia·la la - Iii •
o conjunto de can<;oes acervo do Nucleo de Pesquisa Barata" recolhida e transcrita
coletadas e transcritas resultou em Musica da FUNDARTE, com pelo aluno Andre Machado,
no registro de diversas cantigas, vistas a uma futura publica<;8.o. ilustra urn pouco da atividade
as quais passaram a integrar 0 o exemplo a seguir, a can<;8.o "A desenvolvida individualmente
pelos alunos.
34
"
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"A Barata"
Cantiga de Roda
Coletada pelo aluno Andre Machado
•
Eu VI u - ma a - ra - ta na ca - re - ca do vo -
• •
YO, as - . sim que e-Ia me VIU ba - teu a-sas e vo-
--....-
•
•
ou. Seu Jo - a - quim - qui - rim quim - - da per - na tor - ta - ra - ta -
/-
•
•
- dan - yan - do val - sa - ra - sa - - com a ma - n - co - ta - ra - la -
"--"
-"
Eu vi uma barata Seu Joaquim-qui-rim-quim
- na careca do vovo, da perna torta-ra-ta
assim que ela me viu danyando valsa-ra-sa
bateu asas e voou. com a Maricota-ra-ta.
c) Analise das canc6es: de pos- sultado fosse uma conclusao (0 bom material, para que fosse
se das partituras musicais, pas- momenta da Sfntese, menciona- possfvel, durante 0 mes de agos-
a
sou-se analise, ja menciona- da como uma das etapas da pes- to - epoca em que se comemo-
da anteriormente. A canc;ao es- quisa) quanta a
maior inciden- ra em todo 0 mundo 0 mes do
colhida pelo grupo para ser ana- cia de alguns, e a menor fre- Folclore -, realizar a parte de cri-
lisada foi "A Barata", mostrada qOencia no aparecimento de ac;ao, com os registros dos fa-
anteriormente. outros. tos coletados pelos alunos,
como sera abordado no pr6ximo
Procurou-se analisa-Ia de Melodicamente, verificou- item, 0 da criac;ao musical.
diversos modos, bem como se, tambem, os intervalos mais
numa perspectiva morfol6gica, presentes. Ainda, se havia ou d) Criacao musical: a partir do
selecionando as frases e as nao a ocorrencia de grandes registro e da analise dos dados
semi-frases musicais. saltos de altura, entre outros as- obtidos, propos-se turma que, a
pectos. Apontou-se uma serie de em duplas, grupos, ou mesmo
Nesta analise, pode-se possibilidades harmonicas, com individual mente, escolhessem
vistas ao posterior trabalho de algo, dentre 0 seu material pes-
constatar que as caracterfsticas
quisado neste projeto, e elabo-
inerentes a canc;ao folcl6rica criac;ao musical, intenc;ao de
rassem uma criac;ao musical.
brasileira se apresentam, tam- continuidade deste projeto.
Isto poderia ser feito usando,
bem, na regiao de Montenegro - apenas, algum dos componen- .
como ja se comentou anterior- Desde 0 infcio da Coleta
tes musicais coletados, como um
mente. Via de regra, a estrutura de Dados, ate 0 final dos Regis-
ritmo especffico, uma linha me-
binaria das frases e das semi- tros, da Analise e da Sfntese, 16dica, ou mesmo uma canc;ao
frases foi uma constante, for- passaram-se cerca de cinco na sua totalidade, harmonizan-
mando canc;6es igualmente bi- meses, ou seja, isto estava pron- do-a com outros instrumentos
a
narias, quanta forma musical. to no infcio de agosto de 1999. musicais. Enfim, algo do folclo-
Em se tratando da analise rftmi- re, e 0 restante elaborado ao
ca, foram selecionados os ritmos Certamente que esta data "sabor" de sua criatividade. Far-
que mais se apresentavam nas nao foi uma mera coincidencia. se-ia um aproveitamento artfsti-
canc;6es, fazendo com que 0 re- Na verdade, objetivava-se ter um co do folclore. Ao se propor esta
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tarefa, procurou-serealizar algu- Aqui, cabe uma parada para ou- participar, e tudo com entrada
mas abordagens sobre criagoes tra explicagao. franca. Foi muito interessante e
de compositores que tambem ti- uma importante experiencia edu-
nham utilizado elementos da sua Todos os anos, no final do cativa para os alunos, que, acos-
cultura como fonte de inspira- mes de agosto, a FUNDARTE tumados a executarem obras de
gao. Assim, Villa-Lobos foi bas- realiza a "Semana do Folclore"6. outros compositores, agora "de-
tante escutado e estudado, a fim Este evento caracteriza-se por fendiam" a sua pr6pria elabora-
de elucidar a tarefa e, de certa ser a culminancia do projeto gao. Ficou, assim, bastante evi-
maneira, comprovar a importan- "Resgatando 0 Folclore", inicia- dente que a "aprendizagem
cia da utilizagao do folclore como do todos os anos por volta do acontece quando 0 aluno esta
um componente de estfmulo cri- mes de margo. No ultimo dia da envolvido ativamente de uma
ativo. Alem de Villa-Lobos, ou- Semana do Folclore, sempre na maneira pessoal" (Oliveira,
tros compositores foram lembra- sexta-feira, acontece uma festa, 1993, p. 43).
dos pelos pr6prios alunos, bem de carater comemorativo, em
como artistas de outras areas alusao ao dia do Folclore (fes- Com relagao aos projetos,
das artes, como a pintura e a tejado no dia 22 de agosto, em tanto da turma de Elementos da,
escultura, entre outras. todo 0 mundo), e que engaja os ' Linguagem Musical, quanta do
profissionais de todas as areas resgate do Folclore, pode~se fi-
o
resultado das produ- da instituigao (Musica, Teatro, nalizar a analise dizendo que as
goes foi muito interessante, con- Artes Visuais e Danga). Na fes- atividades foram muito produti-
siderando-se que 0 nfvel dos ta, alem das diversas atragoes vas e empolgantes. 0 que ocor-
alunos do curso nao era tao ja presentes ao longo da sema- reu esteve, sempre, contextua-
avangado para as produgoes na - como exposigoes de foto- lizado, nao sendo uma mera jun-
que surgiram. Vale salientar que grafias, contendo registros do gao de atividades, tampouco
nao se desenvolveu esta pro- folclore local, regional e nacio- amostragens para 0 publico.
posta em uma universidade, mas nal, reprodugoes de obras de Foram atividades musicais que
no ensino medio. arte com aproveitamento folcl6- colaboraram para a manutengao
rico, decoragao baseada no ar- da cultura (Maffioletti, 1993, p.
o resultado foi marcante, tesanato folcl6rico -, sao orga- 26). Foi algo que partiu da reali-
pois os alunos estavam traba- nizadas oficinas diversas e apre- dade do grupo, fruto de um an-
Ihando com a sua propria reali- sentagoes musicais de professo- seio de conhecimento, resgate
dade, intensificando significati- res e alunos, cujo m'aterial inclua
"
e valorizagao cultural. Por isso
vamente 0 nfvel de "interagao os aspectos do folclbre e/ou 0 tudo, foi muito significativo.
entre educador-educando-obje- aproveitamento de fatos folcl6-
•
to de conhecimento-realidade". ncos. No infcio deste artigo, par"
A proposta de trabalho apresen- tiu-se da afirmagao acerca da
tou-se significativa, com uma Em fungao de toda a pro- grande importancia da realiza~
"vinculagao ativa do sujeito aos posta da Semana do Folclore, gao de projetos de resgate cul-
objetos de conhecimento (...) e verificou-se a pertinencia de tural em sala de aula, ao mes-
a consequente construgao dos apresentar as criagoes desta tur- mo tempo em que se admitiu que
mesmos no sujeito". Buscou-se ma em um dos momentos musi- h8. dificuldades no desenvolvi-
um "conhecimento vinculado as cais. Propos-se aos alunos que mento dos mesmos.
necessidades, interesses e pro- organizassem esta mostra, se-
blemas oriundos da realidade do lecionando as criagoes que, se- Contudo, espera-seque,
educando e da realidade social riam utilizadas, bem como fazen- com esta breve exposigao do tra-
mais am pia" (Vasconcellos, do ensaios coletivos. balho realizado, seja possfvel
1994, p. 22, 51, 52). vislumbrar possibilidades de
Na mostra musical orga- efetivar algumas praticas de
Por volta da metade de nizada, foram apresentados os pesquisa que, constantes e en-'
agosto, estava finalizada esta resultados das criagoes para gajadas, sejam elementos pro-
ultima etapa. Partiu-se, por con- professores, alunos, pais, funci- pulsores do aprendizado, e nao
seguinte, para a realizagao dos onarios e demais membros da somente atividades organizadas
•
ensalos. comunidade que desejassem em fungao da proximidade de co-
6 A Carta do Folclore Braslleiro recomenda, ainda no mesma capitulo (III), que deve se "orientar a rede escolarpara que as datas relativas ao Folclore e Cultura sejam comemoradas
como urn conjunto de tematicas que devem constar de conteudos de varias disciplinas, pois figuram expressoes em diferentes linguagens - a da palavra, ada musica, a do corpo
- bern como tscnicas, cuja pratica implica acumulagao e transmissao de saberes e conhecimentos hoje sistematizados pelas Ciencias. Instruir professores para que motivem seus'
alunos, em tais datas, a estudar manifestagoes do seu proprio universo cultural".
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memoragoes de datas festivas, "Nao ha ensino sem pesquisa e bem, de se perder a objetivida-
relacionadas ao folclore e cul- a pesquisa sem ensino. Esses de e a clareza do projeto.
tura em geral. A constancia e que-fazeres se encontram um no
algo fundamental no ensino, pois corpo do outro. Enquanto ensi- Que 0 Folclore, em todo
se isto nao ocorrer, sem duvida no continuo buscando, reprocu- o seu sentir, pensar, agir e rea-
os alunos perceberao que se rando. Ensino porque busco, gir, esteJa constantemente per-
esta forgando, e os objetivos, de porque indaguei, porque indago meando os planejamentos dos
extrema relevancia, estarao per- e me indago. Pesquiso para professores em sala de aula,
didos. Nao se alcangara 0 co- constatar, constatando, interve- para que se possa, realmente,
nhecimento e, muito menos, a nho, intervindo educo e me edu- alcangar um aprendizado base-
ado na construgao do conheci-
valorizagao das tradigoes, do co. Pesquiso para conhecer 0
mento, fundamentado pela rea-
folclore e da cultura. que ainda nao conhego e comu-
lidade e identidade social do
nicar ou anunciar a novidade"
educando. Assim, 0 ensino nao
Como consideragoes fi- (Freire, 1999, p. 32). Desta ma- sera uma mera transferencia de
nais, ainda e pertinente dizer neira, 0 estudo inicial do docen- conhecimentos, mas uma cons-
que, para um projeto desta na- a
te, .que antecede propria pro- tante criagao de possibilidades
tureza ser bem desenvolvido, 0 posta de resgate com os alunos, para a sua pr6pria produgao ou
professor deve estar preparado. e imprescindfvel, sob pena , tam- construgao (Freire, 1999, p. 52).
Referencias Bibliograficas
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, OLIVEIRA, Aida. Fundamentos da educac;:ao musical. Fundamentos da Educar;fio Musical, vol. 1, p. 26-46, maio/1993.
VASCONCELLOS, Celso dos S, Construr;fio do conhecimento em sala de aula. Sao Paulo, Libertad, 1994.
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