O documentário discute a população de rua no Brasil e as condições sub-humanas nas quais vivem, dependendo de restos de comida e água contaminada. Ele dá voz diretamente aos moradores de rua e critica fotógrafos que tiram fotos de pessoas miseráveis sem remuneração. O filme também examina problemas como desigualdade social, déficit habitacional e concentração econômica nas regiões Sul e Sudeste do país.
2. O filme “À margem da imagem”, dirigido por Evaldo Mocarzel, discorre sobre a
população de rua brasileira. Neste grupo, incluímos viciados em drogas,
desempregados e até trabalhadores que vivem, principalmente, de bicos. Em vez de
ouvir sociólogos, políticos e outros especialistas, o documentário de Mocarzel opta
por dar voz aos moradores de rua.
Durante o longa-metragem, percebemos as condições sub-humanas nas quais as
pessoas vivem. Esses brasileiros têm de se alimentar com restos de comida que estão
na lixeira, tomando banho em águas contaminadas e dormindo em lugares perigosos,
na rua. É gente como o líder indígena Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo por
cinco jovens de classe média-alta de Brasília, enquanto dormia em um abrigo de um
ponto de ônibus em 20 de abril de 1997.
Há, ainda, a crítica àqueles que ganham dinheiro com a imagem de pessoas
miseráveis, sem o pagamento de dinheiro algum, ou mesmo satisfação do trabalho
feito. O fotógrafo Sebastião Salgado é citado no documentário. Uma mulher conta
que, certa vez, o profissional teria chegado próximo a ela e, sem cumprimentar, pedir
ou conversar, começou a fotografar. Incomodada com a atitude, ela teria ouvido como
resposta que ele tinha autorização para fotografar no local.
A equipe de Mocarzel adota, portanto, outro comportamento. Eles dão uns trocados
aos moradores de rua que aceitam dar depoimento para o longa-metragem. Quando o
filme estava praticamente pronto, a equipe convidou os personagens para assistir à
edição do filme num sala de cinema. Depois, algumas mudanças foram feitas para
agradar àquelas pessoas, como a inserção da música no começo do filme.
No documentário, percebe-se alguns problemas que atrapalham a melhoria na
qualidade de vida no Brasil. Entre eles, estão a educação, o déficit habitacional e a
concentração econômica. A educação é um dos principais motivos para o país
continuar sendo sinônimo de desigualdade social. Não, de fato, o Brasil não é um país
de todos. Milhões de brasileirinhos nascem sem moradia, sem saneamento básico,
sem saúde, sem acesso a transporte público de qualidade, sem conhecer direitos e
deveres e, é claro, sem educação.
3. Outro problema é o déficit habitacional no país, fortemente relacionado à
concentração econômica. Os estados São Paulo e Rio de Janeiro e, principalmente, as
capitais de ambos atraem brasileiros, principalmente, do Norte e do Nordeste, a fim
de se mudar em busca de emprego. Segundo o Censo de 2010, mais de 11 milhões de
pessoas vivem no município São Paulo, enquanto por volta de seis milhões moram no
município do Rio de Janeiro. Se há demanda no local, mais mão de obra vai para lá.
Se há demanda no local é porque estão investimento lá. E cadê o investimento nas
cidades do interior e nas regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste? Por lá faltam
investimentos públicos em itens básicos – transporte, saneamento, saúde, educação
etc – tanto para atender à população local quanto para atrair empresas que possam se
instalar no município e oferecer empregos.
O investimento acaba focando, principalmente, nas capitais do Brasil e nas regiões
Sul e Sudeste. Isso faz com que brasileiros deixem as cidades natais, muitas vezes
menos desenvolvidas, para morar num município com mais desenvolvido socialmente
e economicamente.
Uma das consequências disso é o déficit habitacional. Se mais de seis milhões de
pessoas querem morar no Rio, logicamente não há e nunca haverá espaço para todos.
Daí muitos acabam se instalando em lugares ilegais e perigosos, como as favelas. O
transporte público passa a não fluir. Outros problemas aparecem. Enquanto isso, os
municípios abandonados tanto pelos brasileiros quanto pelo poder público e pelas
empresas têm espaços aos montes e carecem de atenção.
Vamos remover as favelas, como fez o ex-governador do Rio Carlos Lacerda? Não. A
solução é criar regiões mais atraentes para provocar, espontaneamente, a saída dessa
população. E, antes de fazer qualquer movimento, o governo precisa planejar, ou seja,
pensar onde essas pessoas vão morar e montar a infraestrutura. Afinal, moradia, saúde
e educação são direitos básicos, assegurados pela Constituição Cidadã (1988).
Se compararmos o Brasil com a Alemanha, vemos uma grande diferença quanto à
dispersão populacional. Sã as mais ricas por aqui: São Paulo (Sudeste), Rio de Janeiro
(Sudeste), Brasília (Centro-Oeste). Em ordem, o PIB nominal dos três é R$
477.005.597.000, R$ 209.366.429.000 e R$ 164.482.129.000. O quarto lugar seria
4. ocupado por Curitiba, cujo PIB nominal menos de três vezes menor que o de Brasília,
uma diferença bem grande.
Já na Alemanha, a capital, Berlim, é distante do município com o maior aeroporto do
país e conhecida pela economia, Frankfurt. Ambos ficam, levando em conta o
tamanho do território alemão, longe da turística Munique. Os três também não são
próximos ao município portuário, Hamburgo.
As universidades mais reconhecidas estão muitas vezes em cidades pequenas, como
Tuebingen (mas não tão longe de Stuttgart), Darmstadt (mas não tão longe de
Frankfurt) e Aachen (na fronteira com a Bélgica e os Países Baixos). No Brasil, todos
os universitários querem estudar na USP, na UnB ou na UFRJ, já que só por lá
encontram algum infraestrutura, emprego e ensino de qualidade. É mais uma etapa
para chegarmos ao ciclo vicioso da concentração econômica!