Atentados nos Estados Unidos e tragédias naturais do Japão: a análise do discurso do Jornal Nacional em eventos separados pelas causas, pelo tempo e pelo espaço
Trabalho realizado na disciplina de Teoria da ComunicaçãoLíngua Portuguesa - Redação e Expressão Oral I, orientado pela Profa. Dra. Roseli Fígaro, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Obs: a diagramação está com problemas. Estão faltando alguns questionários socioeconômicos.
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Atentados nos Estados Unidos e tragédias naturais do Japão: a análise do discurso do Jornal Nacional em eventos separados pelas causas, pelo tempo e pelo espaço
1. Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Relações Públicas, Turismo e Propaganda
ATENTADOS NOS ESTADOS UNIDOS E TRAGÉDIAS NATURAIS NO
JAPÃO: A ANÁLISE DO DISCURSO DO JORNAL NACIONAL EM EVENTOS
SEPARADOS PELAS CAUSAS, PELO TEMPO E PELO ESPAÇO.
Aída Fernanda Stockler
Caio Collaro Manoel
Gabriele Rodrigues Perobelli
Janaina de Azevedo Adao
Guilherme Iegawa Sugio
Isabela Pagliari Brun
Julia Isabel Miranda Travaglini
Heitor Begliomini Tolisano
Trabalho de Língua Portuguesa, Expressão Oral e Redação I
Professora Doutora Roseli Aparecida Figaro Paulino
São Paulo, 2011
AÍDA FERNANDA STOCKLER
1
2. CAIO COLLARO MANOEL
GABRIELE RODRIGUES PEROBELLI
JANAINA DE AZEVEDO ADAO
GUILHERME IEGAWA SUGIO
ISABELA PAGLIARI BRUN
JULIA ISABEL MIRANDA TRAVAGLINI
HEITOR BEGLIOMINI TOLISANO
ATENTADOS NOS ESTADOS UNIDOS E TRAGÉDIAS NATURAIS NO
JAPÃO: A ANÁLISE DO DISCURSO DO JORNAL NACIONAL EM EVENTOS
SEPARADOS PELAS CAUSAS, PELO TEMPO E PELO ESPAÇO.
Trabalho apresentado à disciplina de Língua Portuguesa, Expressão Oral e
Redação I, ministrada pela Professora Doutora Roseli Aparecida Figaro
Paulino, como parte do requisito para composição da nota final referente ao
primeiro semestre do ano de 2011.
São Paulo,
2011
SUMÁRIO
2
3. 1. Introdução
2. O telejornalismo
2.1. O início da televisão brasileira
2. 2. Tv no Brasil: as fases do desenvolvimento
2. 3. A Rede Globo
2. 4. O telejornalismo no Brasil
2. 4. 1. Primeiros passos
2. 4. 2. “O seu repórter Esso”
2. 4. 3. O telejornalismo e a ditadura militar
2. 4. 4. A era digital
3. O Jornal Nacional
3.1. História e evolução do Jornal Nacional.
3.2. Estilo, estrutura e narrativa do Jornal Nacional.
3.3. A linguagem do Jornal Nacional
3.4. Análise Sociolinguística do Jornal Nacional
4. As tragédias analisadas
4. 1. Histórico do ataque terrorista ao World Trade Center
4. 2. Histórico do Terremoto do Japão de 2011
4. 2. 1. Definições
4. 2. 1. 1. Terremoto
4. 2. 1. 2. Tsunami
4. 2. 1. 3. Radioatividade
4. 2. 2. O Terremoto e Tsunami do Japão de 2011
5. Pesquisa e análise sobre a teoria dos valores notícia
análise da edição do jornal nacional de 11 de março de 2011 dentro dos
parâmetros da Teoria dos Valores Notícia
5. 2. De acordo com o impacto
5. 2. De acordo com a empatia com a audiência
6. Análise do discurso
6.1. Terremoto e Tsunami no Japão, ordem das reportagens
6. 2. Ataques ao World Trade Center e ao pentágono: ordem das reportagens
6. 3. Comparações:
3
4. 6. 3. 1. A linguagem e as coincidências
6. 3. 2. A linguagem e as diferenças
6. 4. A análise do discurso: as teorias da construção de significados
6. 5. Tabela: número de vezes em que algumas palavras aparecem nas
edições do jn
7. Decupagem das edições analisadas
7.1. Decupagem da edição do jornal nacional de 11 de setembro de 2001
7.2. Decupagem da edição do jornal nacional de 11 de março de 2011
8. 1. Entrevistas
8. 1. 1. Classe a
8. 1. 2. Classe b
8. 1. 3. Classe c
8. 1. 4. Classe d
8. 1. 5. Classe e
8. 2. Entrevistas analisadas
8. 3. Análise sociolinguística das entrevistas realizadas
9. Conclusão
10. Referências Bibliográficas
11. Anexos
1. INTRODUÇÃO
4
5. Este trabalho tem como principal objetivo apresentar uma análise sobre
a cobertura telejornalística do programa Jornal Nacional em duas grandes
tragédias que marcaram nossas vidas: o atentado terrorista aos Estados
Unidos, ocorrido em 11 de Setembro de 2001, e os tsunamis que devastaram o
território japonês em 11 de Março de 2011.
A partir desse tema pretendemos analisar através da sociolinguística o
falar da sociedade brasileira realizando para isso entrevistas em pesquisa de
campo. Junto a essas analises avaliaremos a percepção das tragédias nesse
trabalho abordadas pela população de acordo com o veículo jornalístico mais
popular, o telejornal. Para representar o telejornalismo utilizaremos em nossas
análises o programa Jornal Nacional, líder de audiência e referência na
imprensa nacional.
2. O TELEJORNALISMO
5
6. 2.1. O INÍCIO DA TELEVISÃO BRASILEIRA
Sua estréia no Brasil foi em São Paulo, 18 de Setembro, de 1950.
Naquela época, o meio de comunicação mais popular no país era o rádio, e por
isso, a televisão brasileira teve de submeter-se a influência do mesmo,
utilizando seu formato, estrutura, seus artistas e técnicos.
Sua implantação ocorreu quando Assis Chateaubriand, em fevereiro de
1949, conseguiu junto à empresa americana RCA Victor, uma média de 30
toneladas de equipamentos considerados necessários para a montagem da
emissora, e também designou quatro diretores responsáveis pela implantação
da mesma: Dermival Costa Lima coordenador do projeto, Mário Alderighi,
Cassiano Gabus Mendes e George Henry, maestro francês.
A TV-Tupi foi a pioneira e cerca de dois anos antes de sua instalação em
São Paulo, os Diários Associados, almejando melhores resultados com a
inauguração da televisão no Brasil, começaram a difundir uma espécie de
campanha na qual passaram a divulgar que estava para chegar a televisão, ou
o “cinema a domicilio”, como explicavam aos leitores o que seria aquele novo
símbolo de modernidade.
Desde seu inicio, a televisão brasileira tem algumas características: com
exceção das emissoras estatais, o controle acionário das emissoras, voltado
para o lucro, concentra-se nas mãos de uns poucos grupos familiares; todas as
403 geradoras (emissoras comerciais), as 23 emissoras da rede educativa e
mais de 12 mil retransmissoras em funcionamento, sediam-se em áreas
urbanas.
Todavia, também podemos dizer que o tradicional modelo privado de
radiodifusão brasileiro, evoluiu para o que se pode chamar de um sistema
misto, onde os espaços vazios deixados pela livre iniciativa são ocupados pelo
Estado, o qual opera canais destinados a programas educativos.
A concessão de licenças para a exploração de canais sem um plano pré
estabelecido deve ser uma das causas atribuídas ao crescimento inicial da
televisão, a partir de 1950.
6
7. Porém, somente após o golpe militar de 1964, ainda durante a
administração de Juscelino Kubitschek, ocorreu a proliferação de estações de
televisão. Depois do estabelecimento do Ministério das Comunicações, em
1967, o processo de concessão de licenças passou a levar em conta não
apenas as necessidades nacionais, mas também os objetivos do Conselho
Segurança Nacional, de promover o desenvolvimento e integração nacional.
Entretanto, o favoritismo político nas concessões de canais de TV prolongou-se
até o governo da Nova Republica, de José Sarney.
Uma curiosidade que podemos destacar, é que durante as duas
primeiras décadas de nossa televisão, os programas e telejornais eram
identificados pelo nome do patrocinador, como por exemplo, os programas:
“Sabatina Maizena”, “Teatrinho Trol” e “Gincana Kibon”; e os jornais:
“Reportagem Ducal”, “Telenotícias Panair”, “Telejornal Pirelli”, “Telejornal
Bendix” e “Repórter Esso”.
Vale ressaltar que o governo brasileiro sempre esteve entre os maiores
anunciantes do pais, em consequência, aumentando sua influência sobre os
veículos.
2. 2. TV NO BRASIL: AS FASES DO DESENVOLVIMENTO
Para melhor caracterizar e compreender a trajetória e o
desenvolvimento da televisão brasileira, podemos didaticamente dividi-la em
sete fases, na qual cada uma corresponde a um período definido a partir de
acontecimentos que servem de referencia.
Deste modo, verificamos as seguintes fases:
I. A fase elitista (1950 – 1964), quando o acesso do aparelho de
televisão pertencia somente a elite, por este ser considerado um luxo;
II. A fase populista (1964-1975), quando grande parte da programação
era baseada em programas de baixo nível e programas de auditório, e
a televisão era considerada grande símbolo de modernidade;
III. A fase do desenvolvimento tecnológico (1975-1985), quando, visando
a exportação, as redes de TV se aperfeiçoaram e com
7
8. profissionalismo, começaram a produzir seu próprios programas com
estimulo de órgãos oficiais.
IV. A fase da transição e da expansão internacional (1985-1990), quando
se intensificam as exportações de programas, durante a Nova
República;
V. A fase da globalização e da TV paga (1990-2000), quando a televisão
se adapta aos novos rumos da redemocratização e o país busca a
modernidade a qualquer custo;
VI. A fase convergência e da qualidade digital (2000-2010), quando a
tecnologia apontou para uma interatividade cada vez maior dos meios
de comunicação, principalmente a televisão, com a internet e outras
tecnologias de informação. Também é adotado o sistema de televisão
digital, onde a qualidade da imagem televisiva é superior a do sistema
analógico;
VII. A fase da portabilidade, mobilidade, interatividade digital (2010-),
quando o mercado de comunicação e o modelo de negocio vão se
reestruturar, devido ao espaço ocupado pelas novas mídias.
2. 3. A REDE GLOBO
A Rede Globo nasce em 26 de abril de 1965 com concessão outorgada
de Juscelino Kubitschek. O dono era Roberto Marinho (dono também do jornal
O Globo) que faz, então, um acordo com a Time-Life, que investia em
emissoras de televisão na América Latina. Porém a parceria é logo desfeita
devido a ilegalidade pela Constituição. Porém, isso não só rendeu audiência
para a Rede Globo devido a briga com a TV Tupi para que a parceira fosse
desfeita como uma vantagem de seis milhões de dólares enquanto a Tupi tinha
sido montada em trezentos mil dólares.
Após adquirir a emissora no Rio de Janeiro, Roberto Marinho adquiriu a
TV Paulista e as Organizações Victor Costa lembrando que a rede nacional
ainda era inexistente.
No dia 26 de abril de 1965 vai ao ar a primeira telenovela, o primeiro
infantil e o primeiro telejornal chamado Tele Globo. Em busca de audiência
8
9. das classes mais populares, lançou-se novas programas como “Dercy
Espetacular” e “Buzina do Chacrinha” e contava com o Sílvio Santos, que era
líder absoluto de audiência. Junto com a audiência adquirida, a emissora
começou a atrair grande elenco de artistas como Francisco Cuoco, Regina
Duarte e Jô Soares.
Em 1969 a emissora se torna pioneira lançando, através do novo
sistema de ondas microondas Embratel, o Jornal Nacional com o papel de
integração do Brasil pela notícia que no ínicio, era apresentado por Cid Moreira
e Hilton Gomes.
Em 70, é pioneira na transmissão da Copa do México e lança uma
novela que vira mega-sucesso, Os Irmãos Coragem.
Em 1972, a Rede Globo foi pioneira na implantação da TV em cores no
Brasil e fortalecida, começa a mudar seu perfil e extinguir os programas
populares. Silvio Santos sobreviveria por mais 4 anos porém como seu
programa era independente, a emissora não podia lucrar com o seu público,
uma das razões das quais ele sai da Globo. Em 73, surge o Globo Esporte,
Globo Repórter e Fantástico é nessa época que José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho (o Boni) cria o “Padrão Globo de Qualidade”. Nos anos 70, a Globo
reina sem concorrência com a Excelsior falida e a Tupi em decadência. O
Jornal Nacional e o Fantástico eram sucessos absolutos.
Em 80, com a Manchete e o SBT/TVS, a Globo perde sua hegemonia
mas não sua soberania pois continua líder. Em 1995, a Globo inaugura, em
Jacarepaguá, o Projac que se torna o maior centro de produção de televisão da
América Latina.
Hoje, em 2011, a Globo é a principal emissora do país cobrindo 99,84%
dos municípios brasileiro através de 113 emissoras (incluindo afiliadas). Foi
pioneira nas transmissões a cores e internacionais e na integração nacional
através da notícia (com o Jornal Nacional). Continuou produzindo não só
novelas de sucesso, como também minisséries e especiais totalizando 4420
horas de produção própria por ano, o que a faz a maior produtora de
programas próprios de televisão do mundo, além de ficar com jornalismo 24
horas no ar. Com slogans como “A Globo 90 é nota 100” e “Quem tem Globo,
9
10. tem tudo”, a Rede Globo passou a cada vez mais se manter no topo e
permanecer na vida do brasileiro.
2. 4. O TELEJORNALISMO NO BRASIL
2. 4. 1. Primeiros passos
Criado em meados dos anos 40 nos Estados Unidos como uma forma
de veicular fatos e notícias através do promissor meio televisivo, e, inspirado no
já consagrado rádio, o telejornalismo inovou ao agrupar imagens e sons às
informações e passou a ser um dos principais meios de transmissão de
notícias por todo o mundo.
A história do telejornalismo brasileiro se confunde com a chegada da
televisão no Brasil. No dia 19 de setembro de 1950, apenas um dia após a
inauguração da primeira emissora de TV Tupi, foi ao ar, às 21h30, aquele que
seria considerado o primeiro telejornal da história do país, o “Imagens do Dia”.
Com apresentação do jornalista Maurício Loureiro Gama (1912-2004), o
programa exibia imagens sem edição sobre acontecimentos do dia e durava o
tempo necessário para a exibição de todas as imagens. Os intervalos eram
enormes, o que cansava os telespectadores, muitos chegaram a afirmar que a
televisão tinha data marcada para sair do país. A linguagem ainda era a
mesma praticada nos programas de rádio, frases longas, com muitos adjetivos
que detalhavam o assunto tratado, o locutor narrava os acontecimentos
exatamente como eles haviam ocorrido.
Há época, segundo Piccinin, havia duas correntes telejornalísticas que
norteariam o estilo internacionalmente, o modelo europeu e o modelo norte
americano. O primeiro deles praticava o telejornalismo engajado e partidário,
apoiando correntes políticas abertamente, mas com espaço para
manifestações de diversos pontos de vista. Já nos Estados Unidos, o
telejornalismo seguia a linha “clean”, supostamente imparcial e objetiva, mas
que escondia em sua edição o monopólio do mercado e a manipulação da
10
11. informação. O telejornalismo brasileiro se aproximou do estilo consagrado
pelos norte-americanos.
Apesar das previsões negativas e mesmo sendo inacessível para a
maioria da população, o valor de um aparelho de televisão chegava a ser três
vezes maior do que o mais moderno rádio disponível no mercado, o
eletrodoméstico conquistou o público. O contexto político-econômico da década
de 50 foi fundamental para que isso acontecesse. O país passava por um
importante processo de desenvolvimento, a indústria crescia intensamente, os
centros urbanos começavam a tomar forma através das atividades comerciais,
financeiras, do terceiro setor e educacionais. Tudo era favorável a adesão do
novo meio de comunicação.
2. 4. 2. “O Seu Repórter Esso”
Como dito anteriormente, os primeiros telejornais traziam consigo o
nome de seu patrocinador. Em 01 de abril de 1952, patrocinado pela gigante
petrolífera norte americana Standart Oil Company of Brazil, a Esso, o telejornal
mais icônico da história do Brasil, o “Repórter Esso”, foi ao ar pela primeira vez.
Vindo de uma bem sucedida trajetória no rádio, onde fora criado pelo
Departamento de Imprensa e Propaganda, durante o governo Getúlio Vargas,
com o objetivo de fazer propaganda cultural e ideológica dos Estados Unidos
para o povo brasileiro, o telejornal trazia a pontualidade aliada à credibilidade, e
que até hoje são dois pontos essenciais ao telejornalismo. Com a frase de
abertura “Aqui fala o seu repórter Esso, testemunha ocular da história”, o
noticiário televisivo era o que hoje é chamado de praça TV, ou seja, um
telejornal regional, porém todos com o mesmo padrão. Em São Paulo, o mítico
anúncio era feito pelo apresentador Khalil Filho (1930-1970). Já no Rio de
Janeiro, a imagem de Gontijo Teodoro (1924-2003) ficou marcada como o mais
popular dos repórteres Esso. O “Repórter Esso” estabeleceu um paradigma de
sucesso de audiência e aprovação do público na história do jornalismo,
permanecendo no ar por 18 anos.
Apesar do regionalismo, os telejornais ainda mantinham o sotaque de
“lugar nenhum”. O primeiro informativo televisivo a quebrar esse padrão vocal
11
12. foi o Jornal Excelsior, exibido pela TV Excelsior e que depois viria a se chamar
Jornal de Vanguarda.
2. 4. 3. O Telejornalismo e a Ditadura Militar
Em março de 1964 foi instaurada no Brasil a ditadura militar. O novo
regime, através da censura, mudou drasticamente o curso da história da
televisão e do telejornalismo brasileiros. As emissoras, que operavam canais
concedidos pela administração federal, a partir de 1964, ficaram diretamente
submetidas aos interesses do governo controlador. Foi uma época em que o
cuidado com o que era noticiado era imprescindível, uma vez que, a exibição
de questões políticas poderia ser considerada “desfavorável” ao governo militar
e acabar prejudicando a emissora.
Ainda em 1964, o Ato Institucional N°5, mais conhecido por AI-5, põe fim
a fase expansionista do telejornalismo brasileiro. Sem alternativa, os telejornais
adotaram de vez o modelo norte-americano que dispensava a participação de
jornalistas na apresentação, que, por sua vez, mais parecia com o estilo
consagrado pelo rádio, a locução, e reforçando a figura do âncora. Mesmo com
os avanços técnicos, o telejornalismo e a produção das notícias permaneceram
engessados devido às interferências políticas e à falta de estilo próprio. A
censura aos meios de comunicação promovida pela ditadura militar colocou o
telejornalismo na arbitrária posição de crescer ou morrer.
De acordo com Rezende, “sobre política, a televisão foi omissa ou, como
querem os produtores de seus noticiários, obrigada a ficar omissa, reservando
os seus horários mais nobres para a lacrimonisidade das telenovelas(...)”
(Rezende, 2000:115).
Ao mesmo tempo, as telecomunicações configuravam um importante
influenciador da opinião pública. Naquele ano já se contabilizava no Brasil
mais de 1.600.000 aparelhos televisores e o alcance cada vez maior da
televisão era estratégico para a promoção do novo governo. Assim surge a
Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), que interligou o Brasil
12
13. através de um sistema de rotas de microondas e estabeleceu a estrutura
necessária para a criação de emissoras de abrangência nacional.
A década de 70 trouxe novo fôlego ao ramo. Em 1 de setembro de 1969,
entrava no ar pela Rede Globo de Televisão o “Jornal Nacional”. Com estúdio
no Rio de Janeiro, mas transmitido ao vivo para outras cinco capitais, São
Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília, o novo programa
carregava consigo um ineditismo em se tratando de técnicas de filmagem,
produção e exibição. O nobre objetivo de integração do território nacional
também escondia uma suspeita afinidade com o governo militar. O sucesso do
“Jornal Nacional” contrastava diretamente com a decadência do ex-líder de
audiência “Repórter Esso”, que acabou por encerrar suas exibições em 31 de
dezembro de 1970.
O surgimento do “Jornal Nacional” representou um divisor de águas na
história do telejornalismo brasileiro. Apesar das arbitrariedades políticas
presentes na redação, o telejornal aperfeiçoou o gênero ao eliminar o improviso
e criou um novo padrão de qualidade que serviria como parâmetro para todas
as outras emissoras dali em diante, o chamado “padrão Globo de qualidade”.
“Claro que não foi a Globo que criou o telejornalismo, mas foi ela que eliminou o
improviso, impôs uma duração rígida no noticiário, copidescou não só o texto
como a entonação e o visual dos locutores, montou um cenário adequado, deu
ritmo à notícia, articulando com excelente “timing” texto e imagem(...)”
(REZENDE, 2000:113)
No início dos anos 80, com a decadência da ditadura militar, os
telejornais voltaram a ganhar espaço e, por fim, consolidaram-se como veículos
de comunicação legítimos. A abertura política e o afrouxamento da censura
incentivaram o surgimento de novos programas de conteúdo jornalístico.
Surgiram o “Vox Populi” na TV Cultura, o “Diário Nacional” na Record, o “Jornal
da Manchete” e o “Telejornal Brasil”, nas recém criadas Rede Manchete e SBT
(Sistema Brasileiro de Televisão), respectivamente. A década de 80 também foi
marcada pelo encerramento das atividades da TV Tupi, que devido a
problemas administrativos e financeiros teve sua concessão cassada pelo
governo federal.
13
14. Grandes transformações políticas ocorriam paralelamente às mudanças
no telejornalismo brasileiro. A campanha das “Diretas Já”, defendendo a volta
do governo civil e do voto direto, foi o grande marco midiático dos anos 80.
Porém, acostumadas ao “silêncio conveniente” do auge da ditadura, muitas
redações de telejornais ainda se autocensuravam e não deram a devida
cobertura aos movimentos revolucionários.
Por fim em 1985, a ditadura militar chegou ao fim.
2. 4. 4. A Era Digital
Os telejornais dos anos 90 foram marcados pelo dinamismo e adaptação
impostos pelo advento da internet e a popularização da TV a cabo. Devido à
maior oferta de conteúdo, os telejornais consagrados não alcançavam mais
recordes de audiência, como era comum. Essa queda de pontos, ao contrário
do que pode parecer, não representava a decadência do telejornalismo, mas
sim, uma mudança no perfil do telespectador, que passou a procurar modelos
cada vez mais específicos e próximos ao seu estilo de vida. Também, o
telejornal volta a ter tom de denúncia, rompendo definitivamente com as
amarras da censura.
Hoje, com o avanço das mídias digitais, os telejornais tentam se adaptar
à emergência da sociedade em rede. A globalização provocou o aumento da
velocidade do fluxo de informações a um nível nunca antes imaginado. A
internet e as novas tecnologias permitiram ao telespectador desenvolver seu
próprio conteúdo jornalístico. O contexto da era digital sentenciou o modelo
tradicional de telejornal, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Foi
necessário rever velhos métodos que já não satisfaziam às exigências da nova
sociedade brasileira. Os noticiários se tornaram mais ágeis e atrativos, uma vez
que o telespectador poderia já ter visto a notícia nos sites de internet.
A relação entre o telejornal e seu público, que antes de dava somente no
horário de exibição, foi ampliada com a possibilidade de contato através do
ciberespaço. A internet se tornou, ao mesmo tempo aliada e concorrente do
telejornalismo.
14
15. As novas tecnologias transformaram o telejornal no modelo que vemos
hoje, mais interativo, mais pessoal, mas ainda ligado a certos valores
tradicionais e submetido aos interesses políticos e organizacionais das
emissoras.
A trajetória do telejornalismo no Brasil pode ser resumida em cinco
períodos distintos, desde o improviso típico da década de 50, passando pelo
retrocesso causado pela censura durante a ditadura militar nas décadas de 60
e 70, a padronização e consagração da identidade telejornalística brasileira na
década de 80, a década de 90 e o surgimento de novas possibilidades de
transmissão de notícia e, finalmente, chegando aos anos 2000 que são
marcados pelo dinamismo e interatividade dos telenoticiários.
15
16. 3. O JORNAL NACIONAL
O Jornal Nacional é um telejornal transmitido pela Rede Globo de
Televisão. Atualmente o JN vai ao ar de segunda a sábado, entre 20 e 21
horas. Está entre os programas mais vistos na televisão brasileira e é
referência de telejornalismo no país, por sua história, credibilidade e audiência.
O programa também é reconhecido por seu pioneirismo. Foi o primeiro
telejornal a ser transmitido em todo Brasil, o primeiro a apresentar reportagens
em cores e utilizar o som direto. Fo também o primeiro a fazer transmissões
externas ao vivo, o primeiro a fazer transmissões internacionais ao vivo, em
1994.
Apresentando características emblemáticas, como seu cenário, seus
apresentadores, sua estrutura e sua linguagem, o Jornal Nacional passou a
fazer parte da sociedade brasileira. É reconhecido internacionalmente por suas
capacidades jornalísticas, porém é reconhecido principalmente no território
nacional como o melhor telejornal brasileiro.
3.1. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO JORNAL NACIONAL.
Em 1º de setembro de 1969 foi ao ar o primeiro telejornal transmitido em
rede nacional no Brasil, líder de audiência e referência na imprensa nacional, o
Jornal Nacional. Era gerado na sede da TV Globo, no Rio de Janeiro, e
retransmitido para todas as emissoras da rede, que se localizavam em vários
pontos do país.
Essa primeira edição foi apresentada pelos jornalistas Cid Moreira e
Hilton Gomes que anunciavam “o Jornal Nacional, da Rede Globo, um serviço
de notícias integrando o Brasil Novo”.
O JN foi o primeiro a apresentar reportagens em cores e a usar som
direto, o que o diferenciava dos outros telejornais já existentes. Isso fez Cid
16
17. Moreira encerrar a primeira edição com uma frase de efeito: “É o Brasil ao vivo
aí na sua casa. Boa Noite.” O estilo da linguagem utilizada, a narrativa, a
estrutura e a figura de repórter de vídeo eram de inspirações de telejornais
norte-americanos.
O primeiro slogan utilizado pelo Jornal Nacional, “a notícia unindo seis
milhões de brasileiros”, demonstra uma função que vai além de noticiar fatos, o
objetivo de realmente unir toda a nação brasileira. Assim, as notícias e matéria
deveriam ser de interesse geral e não regional.
Em 1964 se instaura a ditadura militar no Brasil, que só teria fim em
1985. Nove meses antes da estréia do programa, em dezembro de 1968 foi
decretado o AI-5, enrijecendo a censura. Portanto o Jornal Nacional surge em
um momento crítico do jornalismo. Porém, o conceito de um jornal que
englobasse toda a nação era agradável ao governo militar, o qual queria
construir a imagem de país forte, grande e unificado.
Ao longo do tempo, o Jornal Nacional adquire mais adeptos e
telespectadores, aumentando a audiência. De acordo com Chystus, “a Globo
atingiu seu objetivo de tornar-se um modelo para o telejornalismo brasileiro –
mais que isso, tornou-se o modelo único no país de linguagem completamente
diversa” (Chystus apud Mendes, 2006:15).
Em 1977 o Jornal Nacional consegue as primeiras imagens ao vivo do
lado de fora do estúdio, utilizando pela primeira vez equipamentos portáteis.
Uma transmissão ao vivo internacional só aconteceu em 1991, no conflito do
Golfo. E em 1994 a Copa do Mundo é ancorada ao vivo do país-sede, os
Estado Unidos. Um grande passo na história do telejornalismo brasileiro dado
em 17 anos.
No ano de 2000 a transmissão do Jornal Nacional passa a ser feita
diretamente da redação, que é usada como cenário o que pode ser
emblemático.
Em 2001, ano do ataque ao World Trade Center, o JN foi indicado para o
Prêmio Emmy por sua cobertura dos atentados do 11 de setembro. Naquele
dia, sete em cada dez famílias brasileiras estavam sintonizadas no telejornal. É
ainda neste ano que acontece a estréia da página online do programa,
marcando o encontro do telejornalismo com a era digital.
17
18. Cinco anos depois, mais um marco na história do telejornalismo
envolvendo o JN: o primeiro brasileiro, Marcos Pontes, viaja até o espaço e o
programa o entrevista em um link direto com a Estação Espacial Internacional.
Hoje o Jornal Nacional além de um telejornal poderia também ser
classificado com um webjornal ou mobilejornal, devido ao alcance do
programa. A televisão chega à internet e o celular carregando consigo o
telejornalismo e o JN.
Com 42 anos de existência, o Jornal Nacional manteve alta sua
audiência, sendo referência na imprensa nacional, transmitindo valores e
unindo a nação brasileira em torno da televisão, diariamente às 20 horas e 30
minutos. Com um histórico de pioneirismo e exclusividade, o programa segue
como destaque na televisão brasileira e da vida da população.
3.2. ESTILO, ESTRUTURA E NARRATIVA DO JORNAL NACIONAL.
O Jornal Nacional, como um telejornal de destaque, assim se caracteriza
devido à sua constante e elevada audiência que, por sua vez, é alcançada
através da identificação que existe entre a população e o programa. Segundo
Gomes, “o programa se relaciona com a sua audiência a partir da construção
de um estilo, que o identifica e que o diferencia dos demais” (Gomes apud
Mendes, 2006:16).
O estilo, que causa a identificação, é composto por características como
a temática, o formato, a estrutura, o cenário, os apresentadores, a linguagem,
entre outros.
A temática e a estrutura do jornal nacional, como já dito, receberam
influências dos telejornais norte-americanos, e apesar de pequenos ajustes no
formato o JN desde seu surgimento segue a mesma linha. O jornal sempre
abordou os assuntos obedecendo a uma escala, como se estivessem em
tópicos: notícias pontuais, política, economia, esportes, sociedade, ciência,
serviços (previsão do tempo, cotação da bolsa de valores...), etc., não
necessariamente em ordem, nem abordando sempre todos esses temas.
Atualmente, o programa ainda apresenta notícias por tema, mas não obedece
18
19. escala, os assuntos são aleatórios. As notícias mais importantes ainda são
apresentadas primeiro. Para Camacho,
“A TV Globo faz um telejornal programado para ser o líder do gênero no país
com base em pesquisas rigorosas. De acordo com essas pesquisas, o
telespectador brasileiro, que é diferente do americano, gosta de noticiários em
linguagem simples, com apresentadores fixos e baseados principalmente em
reportagens de serviço, comportamento, saúde, meio ambiente, além de
ciência e tecnologia. Isso chama mais a atenção do que assuntos tidos como
sérios por telespectadores educados.”
O formato do Jornal Nacional se manteve praticamente o mesmo: dois
apresentadores, atrás de uma bancada lêem e comentam notícias, apresentam
reportagens externas realizadas pelos jornalistas, ao vivo ou não. O programa
é composto de notícias curtas, e tempo de duração do telejornal é de no
máximo meia hora e a divisão é baseada em blocos, começando com notícias
de impacto e terminando com assuntos leves.
Existe a constante presença de comentários e depoimentos de
especialistas e a sustentação por números, dados estatísticos e gráficos, o que
acrescenta ao formato do telejornal uma característica didática.
O programa se diferencia de outros telejornais, segundo Gomes (2005)
porque repórteres frequentemente gravam as notícias e as reportagens dos
locais de acontecimento. Esses repórteres são chamados de “enviados
especiais”. Isso só possível devido à capacidade econômica e tecnológica da
TV Globo. A idéia de onipresença do JN acrescenta efeito de credibilidade ao
jornal.
O Jornal Nacional, que atualmente tem trinta minutos de duração, é
estruturado em três ou mais blocos, de aproximadamente dez minutos. Esses
valores podem variar para mais de acordo com a relevância das notícias do
dia. Por exemplo, no dia 11 de março de 2011, data em que aconteceu o
Terremoto No primeiro bloco, os apresentadores começam com a data do dia e
então anunciam as manchetes das notícias das quais tratarão ao longo do
programa, com a música tema do programa tocando ao fundo. Ao fim da
apresentação das manchetes, os apresentadores miram a tela de forma fixa e
19
20. convocam o público: veja agora, no Jornal Nacional. Esse pequeno texto
evidencia a estratégia de aproximação com o público.
Após a vinheta, um dos apresentadores inicia a apresentação das
notícias com o famoso e emblemático “boa noite”, que é repetido com maior
ênfase ao fim da edição. Emblemático, pois acentua mais uma vez a
aproximação entre o jornal e os telespectadores. Apresentam-se, portanto,
importantes componentes da identificação entre público e programa.
O cenário, a partir de 2000, é composto por uma bancada em uma
espécie de mezanino dentro da redação do programa. Segundo o site do
programa, que descreve a trajetória do Jornal Nacional, em 2000
“O jornal sai do estúdio e passa a ser apresentado de dentro da redação. O
telespectador pode ver a equipe envolvida na realização do telejornal, tanto na
abertura quanto no início e fim de cada bloco. Um conceito que leva para
dentro da casa do público a própria redação do Jornal Nacional”.
Sendo o cenário a própria redação do jornal, é gerada a sensação de
aproximação do telespectador com o programa e causa efeito de credibilidade
ao jornal, já que a redação é o local onde está sendo recebida, escrita e gerada
a notícia. O telespectador, assistindo a isso tem a percepção de que a notícia é
verdadeira.
Além disso, os apresentadores ficam acima da redação, causando efeito
de que eles estão acima da produção da notícia. Ao fundo, um mapa-múndi em
três dimensões – que a partir de 2010, passa a se movimentar com o uso de
tecnologia digital. Porém, a tecnologia digital aparece desde o início da década:
imagens aparecem ao lado dos apresentadores, representando o tema do qual
trata a notícia. Para isso, faz-se utilização do efeito Chroma-key, uma espécie
de projeção. Os papéis que serviam de roteiro e guia para os apresentadores,
são substituídos por computadores. Ao final da edição em que esse cenário é
utilizado pela primeira vez, William Bonner, atual apresentador comenta sobre
o novo cenário que
“Esse 26 de abril foi um dia especial no jornal nacional, o dia em que nós
passamos a apresentar as principais noticias do Brasil e do mundo aqui, o
ambiente da nossa redação de jornalismo. E este novo cenário chegou como um
20
21. presente, porque nesse 26 de abril de 2000 nós estamos comemorando o
aniversário de um parceria, os 35 anos da TV globo, os 35 anos da Globo com
você.”
Para comemorar os 40 anos do programa no ar, o cenário ganha
inovações, acompanhando as evoluções tecnológicas. No fundo da redação,
uma série de televisões de tela plana apresenta imagens relacionadas às
reportagens. O mapa-múndi ganha movimento e os computadores são
trocados por edições mais recentes.
O JN sempre foi apresentado por uma dupla de âncoras. Cid Moreira e
Hilton Gomes foram os primeiros. Cid Moreira e Sérgio Chapelin formaram a
dupla que por mais tempo apresentou o programa. Posteriormente, assumiram
William Bonner e Lillian Witte Fibe, que por sua vez passou a bancada para
Fátima Bernardes, formou-se então o casal mais conhecido do telejornalismo,
Willian Bonner e Fátima Bernardes, que estão até hoje no comando da
apresentação. A escolha de Fátima no lugar de Lilian configuraria uma
reedição do "casal telejornal" Eliakim Araújo e Leila Cordeiro, que por muito
tempo foi marca registrada da TV Manchete.
Willian e Fátima já eram casados quando assumiram juntos a
apresentação do programa. Isso gera efeito de um jornal feito por uma família
para outra família, a brasileira, contribuindo para a identificação entre público e
programa. Gomes conclui que
“O exemplo de casal feliz, bonito e bem sucedido é uma peça fundamental na
composição do território limpo, discreto, quase asséptico do programa.
Durante todo jornal, Fátima e Bonner permanecem sentados em suas
bancadas, quase não gesticulam e nem falam entre si. O casal ‘não chama
atenção’, porque ali o espaço de protagonista parece ser reservado apenas
para a ‘notícia’.” (Gomes apud Mendes, 2006:19).
Por muito tempo não houve comunicação entre os apresentadores em
frente às câmeras. Porém, com o passar do tempo e com a grande aprovação
do público – por ser um jornal de família – agora são feitos comentários, há
trocas olhares, há mais naturalidade na apresentação das notícias. Isso
21
22. poderia afetar a imparcialidade imposta ao jornal e até mesmo a credibilidade
do programa.
O JN encerrou o ano de 2010 com a pior audiência de sua história. Isso
poderia ser atribuído às mudanças que vêem ocorrendo atualmente no
programa, como a naturalidade mais presente na apresentação. Porém a
principal causa é dada às novelas que antecede e procede ao telejornal na
programação da TV Globo. Essa acusação é possível já que o índice de
audiência do programa varia de acordo com o índice das novelas. É comum
aumentar o número de telespectadores do jornal quando o fim de uma novela
está próximo. O que aconteceu em 2010 e em muitos outros anos foi uma
oscilação no número de público das novelas que desestabilizou a índice do
programa.
3.3. A LINGUAGEM DO JORNAL NACIONAL
Outro fator do programa que vem se alterando ao longo de sua jornada,
é a linguagem utilizada. Por ser um jornal, a linguagem se mantém formal,
porém o Jornal Nacional sempre buscou um tom coloquial e de fácil
entendimento, se afastando dos clássicos telejornalísticos.
De acordo com Mendes (2006), a linguagem do telejornalismo é híbrida,
pois pretende ser coloquial como a fala, mas precisa e clara como a escrita.
Dado que o formato do JN sempre foi constituído de apresentadores que liam
as notícias em frente à câmera, trata-se de um texto escrito para ser falado.
Além da linguagem oral – simples e clara – que abrange de certa forma
a linguagem escrita – formal – existe a linguagem visual, composta pelas
imagens utilizadas para apresentar a notícia e das expressões faciais dos
apresentadores. Todas essas informações se misturam na apresentação das
notícias e formam a linguagem telejornalística da qual se utiliza o programa.
A linguagem verbal utilizada pelos apresentadores é livre de sotaques,
porém existem expressões coloquiais que podem ser identificadas como
características da região Sudeste. Algumas pesquisas afirmam que moradores
da região nordeste do Brasil preferem assistir ao Jornal Nacional ao jornal
regional, no qual os apresentadores possuem sotaque característico dessa
22
23. região. Isso demonstra que a credibilidade do programa acaba por englobar
suas características, inclusive o sotaque, o modo de falar e os termos
utilizados.
Realizando uma comparação entre as edições do JN de 2001 com
edições de 2011 é possível perceber que houve um movimento na linguagem
utilizada. Em 2001, a presença de expressões ou palavras coloquiais era rara,
principalmente na fala dos apresentadores dentro de estúdio. Com pouco mais
de freqüência aparecia coloquialismos na linguagem de repórteres que
apresentavam notícias externas ao vivo. Um exemplo é a fala de uma repórter
no dia 11 de setembro de 2001 sobre a queda de um terceiro prédio em Nova
Iorque. Ela apresentava a notícia ao vivo de Nova Iorque e ao dizer o horário
da queda do terceiro prédio informa que “foi no finalzinho da tarde”. Porém em
toda a edição essa é uma das poucas expressões coloquiais. Toda a
linguagem utilizada na edição é de caráter formal.
Nas edições atuais a informalidade tem maior presença. Entre as
notícias existem comentários dos apresentadores de caráter extremamente
coloquial. E mesmo na narração das notícias a freqüência de expressões
coloquiais é maior. Um exemplo é a conversa que se desenvolve entre William
Bonner e o repórter Roberto Kovalick na edição do dia 11 de março de 2011,
dia em que aconteceu o Terremoto do Japão. Ao final do primeiro bloco,
Bonner introduz seu pensamento da seguinte maneira: “Kovalick, a gente tava
acompanhando aqui atentamente as suas duas reportagens...”. A substituição
do pronome nós pela expressão a gente indica claramente a informalidade do
texto falado. Outro exemplo demonstrando ainda mais nitidamente o
coloquialismo na linguagem dos apresentadores é uso do termo bolada na fala
de Fátima Bernardes sobre impostos, na edição de cinco de maio de 2011 . “O
Jornal Nacional mostrou ontem que a soma dos impostos pagos por todos os
brasileiros este ano já passou de meio trilhão”, anuncia William Bonner. E
Fátima complementa: “Nessa bolada, entra o Imposto de Renda na fonte”.
23
24. 3.4. ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DO JORNAL NACIONAL
A língua em toda grande civilização é suporte da dinâmica social, se faz
presente nas relações diárias, com os meios de comunicação, com os livros,
com a cultura e com a ciência. O estudo da língua se liga à sociologia quando
vista como uma manifestação da vida em sociedade abrindo um novo campo
de estudo, a sociolinguista. Como afirma Pretti,
“Entre sociedade e língua, de fato, não há uma relação de mera casualidade.
Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca, e suas
inúmeras possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir o
momento em que, pela imitação e associação, começamos a formular nossas
mensagens” (Pretti, 2005:11)
Dentro da sociolingüística teremos o dialeto social que trata da fala de
uma dada comunidade, restrita por operações de forças sociais aos
representantes de um grupo específico, seja étnico, religioso, econômico ou
educacional.
Não devemos cometer o erro de condicionar diretamente a língua aos
fatores culturais ou étnicos, embora se reconheça que pode haver uma ligação
entre eles. A verdade é que a pesquisa nas línguas das comunidades mais
civilizadas levaria a conclusões contraditórias: de um lado a existência evidente
de certas influências, em particular do fator cultural, mas de outro a
impossibilidade.
Porem os métodos de estudos são complexos, várias são as tentativas
de classificação dos fatores extralingüísticos, que influenciam na maneira de
falar. Charles Bally (apud Preti, 2005) ressalta a atuação do meio como fator
extralingüístico na criação de um tipo especial de expressão. Assim o meio
compreenderia os estados, isto é, as condições de vida do indivíduo, ou seja,
sua classe social, sua cultura, educação que recebeu, tradições, religião,
princípios morais, ocupações cientificas e artísticas. Desse modo a influência
geográfica é deixada de segundo plano tornando a influência da sociedade que
o cerca muito mais relevante na sua fala.
24
25. Mas tudo isso se complica ainda mais quando percebemos que dentro
de uma sociedade aparentemente homogênea, seres da mesma classe social
e da mesma idade, se diferenciam linguisticamente.
Um fator que tem alterado a percepção linguística das pessoas é a
propaganda, que inteligentemente tem se aproveitado dessas variações para
atingirem seus objetivos, colaborando para que o “erro” na língua seja aceito
pelas comunidades como uma variante válida, desmistificando a linguagem-
padrão.
Um dos fatores que influenciam nessa diversificação da linguística é a
variedade geográfica que conduz a uma oposição fundamental: linguagem
urbana/linguagem rural. A primeira cada vez mais próxima da linguagem
comum, pela ação decisiva que recebe dos fatores culturais (escola, meios de
comunicação de massa, literatura). A segunda mais conservadora e isolada,
extinguindo-se gradualmente com a chegada da civilização.
Outro fator são as variedades socioculturais podem ser influenciadas por
motivos ligados diretamente ao falante (ou ao grupo a que pertence), ou a
situação ou a ambos.
Em um jornal de forma generalizada a linguagem empregada é a culta,
mas no Jornal Nacional teremos algo que transcende um pouco isso, sendo
utilizada não apenas a linguagem culta, mas também livre de qualquer
variedade linguística.
O Brasil por ser um país extremamente heterogêneo trará ao telejornal a
necessidade de uma linguagem que não se aproxime das variedades
geográficas regionais, de faixas etárias, de classe social e étnicas. Portanto o
Jornal Nacional visará atingir todos os públicos de maneira igual, e passando a
mesma informação para todos por meio desta linguagem que se preocupa em
ser neutra a qualquer variedade. Assim, o JN se torna uma autoridade na
transmissão de notícias, ganhando credibilidade que, por sua vez, torna as
notícias e as ideias, transmitidas pelo programa, uma regra e uma verdade.
Com certeza esta é uma das grandes chaves do sucesso do Jornal
Nacional: conseguir ser unanimidade em meio a um público extremamente
heterogêneo e com contradições tão evidentes. Mesmo que a interpretação de
25
26. um indivíduo seja alterada por sua falta de práxis e aprendizado, esta noticia irá
concluir sua busca por um receptor de qualquer maneira.
26
27. 4. AS TRAGÉDIAS ANALISADAS
4. 1. HISTÓRICO DO ATAQUE TERRORISTA AO WORLD TRADE
CENTER
Eventos que mudaram completamente o rumo da história mundial, com
consequências sociais, políticas e econômicas, os ataques terroristas de 11 de
setembro de 2001 chocaram o planeta devido a sua brutalidade e enorme
número de vítimas. Foram 2996 mortos, a primeira vez na história em que
terroristas seqüestram aviões para usá-los como mísseis. Símbolos da
hegemonia econômica e militar dos Estados Unidos foram destruídos e a
relativa paz reinante desde o final da Guerra Fria posta a prova.
Às 8h45min, em Nova Iorque, um avião que fora seqüestrado se chocou
contra uma das torres do World Trade Center. Dezoito minutos depois, para
tornar pior o que já parecia inacreditável, outro avião se chocou contra a outra
torre. Aproximadamente duas horas depois, elas desabaram. As imagens,
transmitidas ao vivo para o mundo todo, mostraram o pânico e o horror da
população local. Além desses, mais dois Boeings haviam sido sequestrados,
um deles atingiu o Pentágono, base da inteligência militar norte-americana; o
outro caiu na Pensilvânia, numa área inabitada.
Imediatamente após os atentados, foi dada a ordem de cancelar todos
os vôos em território estadunidense e todos os aviões em percurso na hora do
ataque foram obrigados a pousar. Os vôos internacionais foram redirecionados
para outros países, a maioria para o Canadá.
Os ataques foram atribuídos ao grupo Al Qaeda, que em árabe significa
“A base” ou “A fundação”, um dos grupos terroristas mais perigosos do mundo
que acredita que todos os países mulçumanos deveriam obedecer a um único
líder e a lei deveria ser unificada seguindo os princípios ensinados pelo Corão
(Marguilies, 2003).
A expansão imperialista dos Estados Unidos e sua conseqüente grande
influência no Oriente Médio, tanto política, econômica e culturalmente, fez com
que nascesse um sentimento de revolta entre os fundamentalistas islâmicos. A
influência cultural estadunidense e o seu modo de vida secular foram vistos
27
28. como contrários aos princípios ensinados no Corão e por isso afastam os
seguidores do Islã. (Marguilies, 2003) Esses fundamentalistas fazem uso da
interpretação do Jihad como Guerra Santa para justificar atos extremos na
defesa do islamismo.
Ainda, o apoio norte-americano a Israel, no constante conflito entre
israelitas e palestinos, intensificou o ódio do povo palestino, tendo em vista que
um aliado de seu inimigo, também é seu inimigo. Assim sendo, os Estados
Unidos por muitos eram considerados o grande vilão, que corrompia a cultura
mulçumana e contestava os ensinamentos de seu livro sagrado. Portanto, não
é de se surpreender a grande comemoração ocorrida nas ruas da Palestina
imediatamente após o atentado de 11 de setembro. Foi um grande golpe contra
os defensores de Israel.
O principal mentor dos atentados foi Osama Bin Laden. Osama lutou
com as tropas afegãs contra a invasão soviética na década de 80, e, na época,
os mulçumanos tiveram apoio dos norte-americanos, que interessados em
conter o avanço comunista, financiaram e forneceram armamentos às tropas
afegãs. Mulçumanos de todo o oriente médio se juntaram para lutar no
Afeganistão, essa união fez com que os fundamentalistas islâmicos se
sentissem confiantes para lutar contra o secularismo ocidental. “Agora que os
mulçumanos tinham uma guerrilha armada, dinheiro e treinamento para apoiá-
la, a mensagem do fundamentalismo Islâmico poderia ser passada para outras
partes do mundo.” (Langley, 2006:35)
Osama, nos anos seguintes a guerra contra os soviéticos, se propôs a
reunir homens engajados nessa defesa do Islã. Até 1996, permaneceu no
Sudão, onde conseguiu acumular dinheiro trabalhando legalmente no ramo da
construção enquanto trabalhava paralelamente em estabelecer seu grupo de
Islâmicos militantes, que futuramente seriam reconhecidos mundialmente como
“Al Qaeda”. (Burke, 2003)
Em 1996, Osama se mudou para o Afeganistão, onde começou a se
focar principalmente em seus planos contra o ocidente que culminariam nos
atentados de 11 de setembro.
Os atentados desencadearam a “Guerra ao Terror”, política adotada
pelo então presidente americano George W. Bush para combater o terrorismo,
28
29. capturar Osama Bin Laden e depor o governo Taliban, que para os norte-
americanos, apoiava as ações da Al Qaeda. No dia 1 de maio de 2011, uma
operação especial do exército norte-americano encontrou o esconderijo de Bin
Laden no Paquistão e o executou e jogou seu corpo ao mar.
4. 2. HISTÓRICO DO TERREMOTO DO JAPÃO DE 2011
4. 2. 1. Definições
4. 2. 1. 1. Terremoto
Terremoto ou abalo sísmico é um deslocamento repentino da superfície
da Terra, resultante da ruptura de uma porção rochosa. A ruptura causa uma
liberação de uma enorma quantidade de energia sob a forma de ondas
sísmicas e a principal causa dessa brusca ruptura deriva da movimentação das
placas tectônicas, que leva a um aumento constante da pressão até tal pressão
ser liberada em forma de ondas sísmicas. Os terremotos geralmente são
medidos na Escala Richter, que atribui um número para designar a quantidade
de energia liberada pelo terremoto, e foi criada em 1935 pelos sismólogos
Charles Francis Richter e Beno Gutenberg. Inicialmente a escala foi graduada
apenas de 0 a 9, mas hoje em dia sabe-se que não existe um limite superior.
Terremotos denominados “micro”, ou seja, com uma medição menor que 2
graus na escala Richter, ocorrem em uma frequência de mais de 8000 por dia,
enquanto terremotos de grau 9 a 9,9 ocorrem em uma média de 1 a cada 20
anos. Ainda não foram registrados terremotos na faixa maior que 10 graus na
escala Richter. O terremoto mais forte resgistrado até hoje foi de 22 de maio de
1960 no Chile, o qual a medições chegaram a 9,5 graus na escala Richter.
Os locais de onde se originam os terremotos são chamados de
epicentros, que variam em distância e profundidade. As consequências dos
terremotos podem ser tanto de ordem geofísica, como falhas na superfície
terrestre, tsunamis e alterações na rotação terrestre, como de ordem social e
econômica, como um grande número de vítimas fatais e prejuízos ecônomicos.
29
30. 4. 2. 1. 2. Tsunami
Tsunami, palavra de origem japonesa que significa “onda do porto”, ou
maremoto é um conjunto de ondas que deslocam uma enorme quantidade de
água, ocorrendo principalmente em oceanos. A principal causa dos tsunamis
são eventos geológicos, principalmente o terremoto. Porém há outras maneiras
de se produzir um tsunami, como erupções vulcânicas, explosão subamarinas,
deslizamentos de terre, entre outros. Seu grau de devastação é altíssimo
devido as enormes quantidades de água e energia envolvidos.
A maior concentração de tsunamis fica nas costas banhadas pelo
Oceano Pacífico, onde se registram 80% dos tsunamis em todo mundo. As
ondas do tsunami podem percorrer milhares de quilômetros, atingindo
velocidades de até 700 km/h e mais de 10 m de altura. A principal
característica física que difere as ondas normais das tsunamis é o seu
comprimento de onda, que chega até 100 km, enquanto em ondas normais o
comprimento de onda fica por volta de 150 m.
4. 2. 1. 3. Radioatividade
A radioatividade é um fenômeno de ordem tanto natural quanto artificial,
no qual o núcleo de certos elementos químicos emitem radiação, que é um tipo
de propagação de energia, de forma espontânea. Essa propriedade destes
elementos podem ser tanto benéfica, como nos casos de tramentos de
doenças com radioatividade e aparelhos de raio-x, quanto maléfica, como no
caso de vazamento de material radioativo de usinas nucleares. Há vários tipos
de radiação, como as partículas alfa, beta e gama, e as características mais
importantes dela são: a capacidade de ser absorvida e capacidade de
atravessar objetos.
Os efeitos da radioatividade no ser humano podem ser observados tanto
a curto quanto a longo prazo. A curto prazo, o homem em contato com a
radioatividade pode sofrer de distúrbios gastrointestinais, catarata e perde de
cabelo e células sanguíneas. A longo prazo são observados problemas como
diversos tipos de câncer, deficiências congênitas, leucemia e infertilidade
30
31. 4. 2. 2. O terremoto e tsunami do Japão de 2011
Em 11 de março de 2011, as 05:46 UTC (14:46 no horário local), um
terremoto de magnitude 8,9 atingiu o Japão, cujo epicentro foi a 160 km da
costa leste da província de Miyagi e a 373 km da capital Tóquio e com uma
profundidade de de 24 km. Este terremoto foi considerado o mais forte a atingir
o Japão e o sétimo mais forte da história mundial.
O terremoto com epicentro em alto mar, gerou alerta de tsunamis em
várias outras partes do mundo, como o Chile e a costa oeste dos EUA. As
ondas de tsunami que atingiram o Japão alcançaram mais de 10 metros de
altura e percorreu mais de 10 km. As filmagens feitas do tsunami mostram seu
grande poder de devastação, no qual carros e casas eram levados pela água.
Várias instalações fabris tiveram focos de incêndio após o terremoto
Uma das mais graves consequências do terremoto foi o acidente
nuclear ocorrido na Central Nuclear de Fukushima I. A tsunami derivada do
sismo danificou o sistema de refrigeração dos reatores nucleares
superaquecendo-os e culminando em uma explosão gerada pelo aumento
excessivo da pressão interna. Com o perigo de vazamento de material
radioativo, houve um alerta de evacuação em um raio de aproximadamente 10
km da usina. Dentro da Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES), o
acidente foi classificado como de nível 7, o nível mais alto dentro dessa escala,
equivalente ao Acidente Nuclear de Chernobyl. Em um raio de 50 km foram
medidos níveis especvialmente perigosos de radioatividade e toda a produção
local de alimentos foi banida do mercado. A quantidade de isótopos radioativos
do iodo e do césio lançados pela explosão é de magnitude próxima a do
Acidente Nuclear de Chernobyl e também houve a detecção de plutônio no solo
próximo a usina. O nível de radiação dentro da usina chegou a ser 1000 vezes
maior do que o permitido e também houve vazamento de material radiotivo
para o mar, com níveis de radioativade até 100 vezes maiores que o permitido.
A primeira divulgação da Polícia Nacional do Japão contabilizou
apenas 60 mortos e 56 desaparecidos, mas os números após um mês da
31
32. tragédia chegam a 13.116 mortos e 14.377 desaparecidos, segundo a Polícia
Nacional do Japão. O número de desabrigados chega a 140 mil pessoas.
O plano de reconstrução do Japão, proposto pelo governo japonês e
empresas, foi estimado em 455,12 bilhões de reais. A primeira etapa do plano
consiste no trabalho de remoção dos escombros, auxílio aos desabrigados,
construção de 70 mil casas e reconstrução da economia local, e o custo total
avaliado desta primeira etapa é de mais de 75 bilhões de reais, mas alguns
políticos japoneses falam em 186 bilhões de reais.
O jornal Asahi Shimbun analisou dados divulgados pela polícia e
apontou que mais da metade das pessoas que morreram no tsunami tinha mais
de 65 anos. Este dado mostra a velocidade e surpresa com que o tsunami
atingiu o país, não havendo tempo para os idosos se locomoverem.
Dados geofísicos de empresas como a Geonet apontam que este
terremoto descolocou o Japão em 4 metros para o leste, além de ter deslocado
o eixo terrestre em 16,9 centímetros e acelerado em 1,8 milhonésimo de
segundo o movimento de rotação terrestre.
32
33. 5. PESQUISA E ANÁLISE SOBRE A TEORIA DOS VALORES NOTÍCIA:
ANÁLISE DAS EDIÇÕES DO JORNAL NACIONAL
Existem no jornalismo diversas teorias que classificam os fatos a serem
noticiados com o intuito de determinar se aquele acontecimento irá despertar
ou não o interesse da audiência. Tais teorias são chamadas de Valor Notícia
ou Critério de Noticialbilidade e coincidem com a maioria das redações de
comunicação social.
O valor notícia é um conceito subjetivo que tenta se aproximar dos
valores institucionalizados anteriormente pelo inconsciente coletivo da
audiência. Dessa forma, o fato noticiado surge como um legitimador de tal
inconsciente, contribuindo positivamente para a veiculação do objeto
jornalístico.
Nesta monografia, faremos uso da tipologia do valor notícia
desenvolvida em 1965, pelos sociólogos Johan Goltung e Mari Holboe Huge.
Inicialmente, a teoria de divide em três critérios, a saber, Impacto, Empatia da
Audiência e Pragmatismo da Cobertura. Cada um deles se subdivide em outros
tópicos mais específicos, totalizando 12 critérios.
Existem no jornalismo diversas teorias que classificam os fatos a serem
noticiados com o intuito de determinar se aquele acontecimento irá despertar
ou não o interesse da audiência. Tais teorias são chamadas de Valor Notícia
ou Critério de Noticialbilidade e coincidem com a maioria das redações de
comunicação social.
• DE ACORDO COM O IMPACTO
Amplitude - Quanto maior o número de pessoas envolvidas maior a
probabilidade de o evento ser noticiado.
Frequência - Quanto menor for a duração do evento menor a
probabilidade de ser relatado em notícia. Acontecimentos rotineiros podem ser
noticiados se tiverem interesse para um grande número de pessoas.
Negatividade - Notícias negativas são mais atraentes que as positivas.
Entre as más notícias há uma certa hierarquia de preferência do público.
Eventos envolvendo morte tem grande impacto junto à audiência. As mortes
33
34. por assassinato são as que mais atraem interesse. A morte pessoas influentes
também têm grande poder de atração da audiência.
Caráter inesperado - Eventos inesperados têm mais impacto do que
eventos agendados ou previstos.
Clareza - Eventos cujas implicações sejam claras atraem mais a
audiência do que eventos com mais de uma interpretação, ou cuja compreesão
exija conhecimentos acerca dos antecedentes ou contexto desse mesmo
evento.
• DE ACORDO COM A EMPATIA COM A AUDIÊNCIA
Personalização - Eventos que possam ser retratados como ações de
indivíduos atraem um maior interesse midiático pela notícia em questão.
Significado - O critério está relacionado com a proximidade geográfica e
cultural que a ocorrência possa ou não ter para o leitor. Notícias sobre
acontecimentos, pessoas e interesses mais próximos da audiência terão um
maior significado para a mesma.
Referência a países de elite - Eventos relacionadas a países mais
poderosos têm maior destaque do que eventos relativos a países de menor
expressão política e econômica.
Referência a pessoas que integram a elite - Eventos que envolvam
pessoas de grande poder aquisitivo, influentes ou famosas recebem uma maior
cobertura noticiosa
• DE ACORDO COM O PRAGMATISMO DA COBERTURA
Consonância - Segundo o critério da consonância, os jornalistas têm
esquemas mentais em que prevêem que determinado acontecimento pode vir a
ocorrer. Esta previsão tem a ver com a experiência e rotina do jornalista que
escolhe o que é noticiável em consonância com aquilo que tenha antevisto.
Assim se uma ocorrência corresponder às expectativas do jornalista terá
maiores probabilidades de ser publicada.
Continuidade - Depois de ser publicada, o evento adquire uma certa
inércia. Como a história já foi tornada pública existe uma maior clareza acerca
da mesma e, consequentemente, menor interesse.
34
35. Composição - A estruturação dos fatos noticiosos por seções, cadernos
ou blocos deve ser equilibrada. Assim a importância de um evento não
depende apenas do seu valor-notícia, mas também do seu valor face a outros
eventos.
5. 1. ANÁLISE DA EDIÇÃO DO JORNAL NACIONAL DE 11 DE
SETEMBRO DE 2001 DENTRO DOS PARÂMETROS DA TEORIA DOS
VALORES NOTÍCIA
5. 1. 1. De Acordo com o Impacto
5. 1. 1. 1. Amplitude
A cobertura dos Ataques Terroristas de 11 de setembro cabem
perfeitamente no critério da amplitude. Confirmou-se o número de 2.751
mortes, sendo uma causada por doença pulmonar, anos depois da tragédia,
devido à inalação da poeira que tomou conta do local.
O princípio morto-quilômero, no qual divide-se o número de vítimas
fatais por quilômetro de extensão atingido totaliza 3,43 vítimas por quilômetro².
5. 1. 1. 2. Frequência
O tempo estimado entre a colisão do primeiro avião Boeing com a Torre
Sul e a queda da Torre Norte, período que compreende ainda a queda da
Torre Sul e a colisão de um segundo Boeing com a Torre Norte, é de 86
minutos ou 1 hora e 26 minutos aproximadamente. O fato em si, ao contrário
dos desdobramentos posteriores e de suas implicações políticas, teve uma
duração relativamente curta, o que o tornou fácil de ser noticiado e transmitido
aos telespectadores, não exigindo grandes reflexões para ser assimilado pela
audiência. O Jornal Nacional, com intuito de “ilustrar” o ocorrido, exibiu uma
compilação dos momentos mais impactantes, as colisões e as quedas das
torres, o que tornou a veiculação da notícia ainda mais simples e objetiva.
35
36. 5. 1. 1. 3. Negatividade
Por falta de informações confiáveis, o número exato de vítimas fatais
não foi citado na edição analisada. Foi informado o número de possíveis
atingidos, entre pessoas dentro dos edifícios e transeuntes dos arredores,
totalizando 20 mil pessoas envolvidas, feridas ou não. Posteriormente, órgãos
oficiais divulgaram o número de 2.750 vítimas fatais imediatas e uma vítima
fatal posterior.
5. 1. 1. 4. Caráter Inesperado
Não há dúvida de que um ataque terrorista é algo inesperado. Na edição
do JN anlisada, é exibido um trecho que mostra a reação do então presidente
dos Estados Unidos, George W. Bush, ao receber a informação de que “o país
estava sob ataque”. Apesar de, naquele momento, não haverem, ainda, provas
da autoria dos ataques, Osama Bin Laden, autor de outro ataque terrorista as
torres do World Trade Center em 1993, foi anunciado como suspeito em
potencial. Posteriormente a autoria foi confirmada pelo próprio terrorista
saudita, em vídeo divulgado numa rede de TV afegã. A legitimidade do vídeo
de confissão é, até hoje, questionada.
5. 1. 1. 5. Clareza
Para a população não norte americana, devido a descontextualização
política, imediatamente após a divulgação da ocorrência do atentado, houve
uma lacuna de incoompreensão e surpresa. É notável a preocupação da
redação do Jornal Nacional em contextualizar a audiência brasileira. O critério
da clareza é mais um argumento que fundamenta a necessidade do governo
norte americano em apontar um culpado o mais rápido fosse possível. Os
cidadãos daquele país estavam sedentos por esclarecimentos.
5. 1. 2. De acordo com a empatia com a audiência
36
37. 5. 1. 2. 1. Personalização
Durante a análise da edição foi possível notar, não apenas por parte dos
meios de comunicação, mas também do governo americano, a necessdiade de
encontrar o autor dos atentados. Osama Bin Laden foi considerado suspeito
em potencial e todas as informações veiculadas posteriormente contribuiram
para legitimar tal versão. No quarto bloco da edição do Jornal Nacional, ao
instante 5’25, a correspondente Zuleide Silva chega a noticiar que um grupo
chamado Exército Vermelho Japonês assumira a responsabilidade pelos
ataques a um jornal da Jordânia, porém o envolvimento de Osama Bin Laden já
havia sido encorporado pela opinião pública fazendo com que a suposta
confissão do grupo japonês fosse tratada com ínfima importância. No instante
4’55 do mesmo bloco, a correspondente chega a dizer que tanto a CIA
(Agência Central e Inteligência) quanto o FBI (Departamento Federal de
Investigação) não tinham nenhuma pista concreta sobre quem seria o
responsável pelos ataques, que a atribuição deste a Osama Bin Laden ocorrera
através de meios não oficiais e justifica: “Apenas o bilionário saudita (Osama
Bin Laden) teria ousadia e recursos suficientes para organizar uma série de
atentados como este”. A personalização é tamanha que o nome de Osama Bin
Laden chega a ser mencionado sete vezes durante a edição, mas o grupo
liderado pelo terrorista e real autor dos ataques, a Al Quaeda, não é citado uma
vez sequer. Tudo isso indica a parcialidade da cobertura jornalística, sempre
favorável a posição norte americana.
5. 1. 2. 2. Significado
Fica bastante claro que a edição do JN foi inteira estruturada de forma a
criar uma identificação do telespectador brasileiro com as pessoas presentes
no momento da colisão das torrres. No primeiro bloco são entrevistados quatro
brasileiros, seus respectivos nomes e profissões são exibidos na tela e uma
narração em off faz uma breve contextualização de quem são, totalizando 60
segundos da edição. No mesmo bloco, são mostradas cinco pessoas falando
37
38. em inglês e aparentemente norte americanas, seus nomes não são
mencionados e suas aparições, juntas, totalizam apenas 20 segundos da
edição.
5. 1. 2. 3. Referência a países de elite
O consolidado poder político e econômico dos Estados Unidos
não é novidade para os meios de comunicação, tampouco para a audiêmcia. A
edição do Jornal Nacional é recheada de expressões que reafirmam essa
posição.
“A maior potência do planeta é alvejada pelo terror.”
“No mais importante centro financeiro do mundo, uma torre
queima depois de ser atingida por um avião.”
“Um acidente tão inimaginável, que imediatamente chamou a
atenção de todo o planeta.”
“O maior ataque terrorista da história da humanidade”
Todos os anúncios acima foram feitos pelos apresentadores
William Bonner e Fátima Bernardes antes que o telejornal completasse um
minuto de exibição.
5. 1. 3. De acordo com o pragmatismo da cobertura midiática
5. 1. 3. 1. Consonância
Em qualquer telejornal os editores chefes estão
instrinsecamente subordinados aos interesses das emissoras, as quais detêm
o poder de escolher o que irá ser noticiado ou não, e, quais fatos terão
destaque na programação.
Na cobertura jornalística não é raro se notar parcialidade
durante a exibição dos fatos. Na edição analisada, a linha editorial se mostra
claramente favorável a causa norte americana, sempre insistindo em mantê-
los na posição de vítimas do atentado, e apesar de nem sempre terem seus
38
39. nomes citados na na barra de informação, os norte americanos tem rosto, voz
e opinião.
Já a cultura árabe é irresponsavelmente generalizada e restrita
ao estereótipo de vilã da situação. São mostratos como uma massa de opinião
homogênea e sequer são inseridos num contexto político econômico.
Aos 15’05 do primeiro bloco, quando o apresentador William
Bonner informa a ocorrência de bombardeios em Cabul, capital do Afeganistão
as imagens são estratégicamente mostradas a partir de um ponto distante
dando a impressão de que o bomabardeio aconteceu num deserto e não teve
vítimas, o que não corresponde a realidade.
Logo depois, nesse mesmo bloco é possível notar uma
mudandaça na tonalidade da fala da repórter Zileide Silva ao afirmar que os
Estados Unidos não tiveram qualquer participação nos bombardeios.
5. 1. 3. 2. Continuidade
A cobertura jornalistica dos atentado de 11 de setembro,
mesmo com abrangência e e implicações políticas extraordinárias,
gradativamente obteve menos interesse do público, e, apesar do elevado rítimo
de divulgação de informações imediatamente após sua ocorrência, nas
semanas seguintes passou a ocupar cada vez menos espaço na programação
do Jornal Nacional.
Recentemente, os ataques voltaram à tona na mídia, devido a
captura e assassinato do terrorista Osama Bin Laden em 1 de maio de 2011,
pelas forças armadas norte americanas.
5. 1. 3. 3. Composição
Praticamente toda a edição do dia 11 de setembro de 2001 do
Jornal Nacional foi dedicada a noticiar os atentados terroristas ao World Trade
Center. As demais notícias foram compiladas e exibidas no quarto bloco em
menos de cinco minutos (quatro minutos e 35 segundos precisamente).
39
40. 5. 2. ANÁLISE DA EDIÇÃO DO JORNAL NACIONAL DE 11 DE
MARÇO DE 2011 DENTRO DOS PARÂMETROS DA TEORIA DOS VALORES
NOTÍCIA
5. 2. 1. De Acordo com o Impacto
5. 2. 1. 1. Amplitude
No caso da tragédia japonesa, os números são impressionantes: o abalo
marcado em 8,9 graus na escala Richter (o sétimo maior da história), seguido
por ondas de altura superior a 10 metros, provocaram mais de 11 mil mortos
(6.692 em Miyagi, 3.264 em Iwate e 990 em Fukushima), quase 18 mil
desaparecidos e 200 mil refugiados, o que configura a pior crise do Japão após
a Segunda Guerra Mundial. Houveram também pelo menos 18 mil casas
destruídas e mais de 130 mil edifícios danificados. Esses dados confirmam a
certeza de noticiação do fato, prireiramente, pelo número altíssimo de mortos,
além da proximidade da destruição à capital do país, Tóquio, onde houveram
pequenos abalos posteriores ao principal terremoto. Os primeiros números são
divulgados logo na primeira matéria da série de reportagens a respeito do
terremoto exibidas pelo Jornal Nacional, e gradativamente atualizados e
reportados pelos jornalistas, para reforçar a amplitude da notícia e prender a
atenção do leitor.
5. 2. 1. 2. Frequência
No quesito frequência, ocorre um paradoxo. O tempo de duração do
terremoto foi relativamente curto, geralmente de 1 a 2 minutos. Além dos
sismógrafos terem apontado o terremoto um minuto antes dele acontecer, um
alerta de tsunami foi enviado a toda a costa do nordeste japonês, com intervalo
de mais de uma hora, incluindo 50 países e territórios banhados pelo oceano
pacífico, dentre eles, o Havaí e a costa oeste das Américas. Visto isso, tem-se
uma sequência: um evento que ocorreu em minutos (terremoto) deu uma brexa
de uma hora para outro evento instantâneo (tsunami).
40
41. Na edição do JN, assim como no 11 de semtembro, ocorreu uma
compilação com as imagens mais marcantes da tragédia, que podem ser
facilmente compreendias pelo telespectador, porém, a parte da frequência do
fato, incluindo seus desdobramentos, o que se sobressaiu nessa cobertura, foi
a amplitude.
5. 2. 1. 3. Negatividade
Este critério de valor notícia se encaixa perfeitamente à notícia japonesa.
Foi uma notícia catastrófica, que envolveu muitas mortes e destruição. Nesse
caso, pelo fato do ocorrido ter uma amplitude enorme, como citado acima, a
sensibilidade do espectador ficou ainda mais apurada, do que uma possível
morte por assassinato, ou até mesmo a morte de uma personalidade, como
vale salientar a atenção dada à morte de Michael Jackson em 2009. Durante o
primeiro dia de noticiação do fato pelo Jornal Nacional, os apresentadores já
enfatizavam a negatividade do fato, como forma de impactar, e atrair ainda o
telespectador a exibição da notícia. Logo na introdução ao assunto, Willian
Bonner diz que vilarejos inteiros foram devastados pelo tsunami, seguido por
Fátima Bernardes que reitera dizendo: ‘não é possível saber quantos NÃO
conseguiram escapar’. E durante a reportagem seguinte a essas falas o autor
dela, Roberto Kovalic, inicia sua narração dizendo: ‘Uma imagem
impressionante’, e ao longo das imagens ele narra: ‘bairros inteiros nessa
região foram varridos em minutos’, além de durante toda a exibição há a
repetição do termo ‘mais devastação’.
5. 2. 1. 4. Caráter Inesperado
Apesar de os japoneses terem previsto que após o terremoto, haveria
risco de tsunami, e por isso, mandaram alertas de evacuação das áreas de
risco, o estrago causado pelas ondas, jamais seria esperado com a proporção
que teve. Além do próprio terremoto, que mesmo em meio a tanta tecnologia
não pode ser detectado com antecedência necessária, a força do maremoto, e
em consequência a destruição e o vazamento nuclear, trazendo dúvidas e
41
42. receios quanto a proporção da radiação, foram fatos totalmente inesperados,
que só culminaram no aumento da noticiabilidade.
5. 2. 1. 5. Clareza
O terremoto é um fator claro a todos, independente da cultura, pois a
noticiabilidade não mudou nada acerca dos terremotos anteriores de mais
impacto no Chile e Haiti. Desde o primeiro dia de exibição da noticia, havia uma
matéria exclusiva, para explicar os componentes de um terremoto e de um
tsunami, no caso japonês, chegando até, a explicitarem a origem do termo
‘tsunami’. Fica claro, que apesar dos diferentes caminhos após o ocorrido, seja
político, economico ou humano, o obejtivo é voltar a estabilidade anterior, logo,
aos olhos da maioria do publico que absorve apenas o fato em ambito geral,
pouco procura mais de uma interpretação para o que a noticia traz pronto. E,
como dito acima, que as causas naturais independem de antecedentes (por
possuirem carater inesperado), e o contexto do país é apresentado o
necessário pelo Jornal Nacional, durante o processo de noticiação, o que
define a clareza da noticia.
5. 2. 2. De acordo com a empatia com a audiência
5. 2. 2. 1. Personalização
No caso da tragédia japonesa a personalização é uma questão
polêmica. Apesar da tragédia ter tido uma causa natural, e poder ser explicada
pela ciência, durante as entrevistas que envolviam a construção do trabalho,
inumeros relatos apontaram culpados para o ocorrido. Dentre os mais citados
está o homem, com suas impiedosas ações à natureza, seguido por Deus
como autor da tragédia, forma de castigar e homem, e, por fim, a própria
natureza, que personificada, teria manifestado sua insatisfação perante à
exploração humana. Porém durante a cobertura jornalística do telejornal, as
informações são dadas de forma extremamente impessoal, e assim, não
42
43. pendem para um culpado, apenas descrevem os fatos, como ocorreram,
através de resgates históricos e explicações científicas.
5. 2. 2. 2. Significado
Mais de 20.000 km separam Brasil e Japão, porém além de todos os
veículos que noticiaram a tragédia, o Jornal Nacional, foi até o bairro da
Liberdade, em São Paulo, para aproximar ao máximo o sofrimento da nação, à
ótica brasileira. Por concentrar mais da metade dos descentes diretos de
japoneses no Brasil (no total são 1,5 mi) em São Paulo, a equipe no Jornal, foi
até lá, para procurar casos específicos de famílias aflitas que possuem
parentes no Japão, atrás de informações e situação do ente. Além de São
Paulo, a equipe mostra famílias do Paraná, Belo Horizonte e Belém que estão
na mesma situação de desespero atrás de noticias de seus familiares. O
interessante é que durante essa especificação de pessoas, acontece a análise
de casos bem pessoais ocorridos com esses parentes, que reduzem o todo do
fato, e mostram as consequencias da tragédia para as pessoas narradas,
deixando de lado os prejuízos da nação, ou seja, o apelo emotivo é extremo
nessa abordagem da notícia, e garante a audiência e empatia do publico
expectador.
Ainda na busca da comoção de quem assiste, na edição de 11 de
março, a equipe se desloca à Londrina, no Paraná, com o objetivo de mostrar
uma festa de comemoração da colonia japonesa, que acontecia
simultaneamente aos efeitos colaterais do maremoto. O correspondente Wilson
Kirsche narra mais uma vez os casos das famílias em busca de notícias de
seus parentes brasileiros. Essa busca por empatia se extende pelas próximas
edições.
5. 2. 2. 3. Referência
A psicologia de noticiabilidade chega e ser irônica. Dez anos depois do
atentado terrorista nos Estados Unidos, em que foi usado essa referência a
países de elite, novamente, o critério não muda nada. O Japão ocupa no
43
44. cenário mundial o posto de um país exemplo. Referência em tecnologia,
expectativa de vida, organização, determinação, grande poder político e
destaque econômico apesar de sua situação geográfica. Na edição não há
grande sensacionalismo para exaltar a potência do país, como foi no caso dos
norte-americanos, mas o que a edição não deixa de citar é a ajuda que os
japoneses receberão dos países de elite, como do próprio Estados Unidos,
para se reconstruir. Propositalmente isso é exposto para mostrar ao expectador
os jogos políticos e econômicos por trás das boas ações e dimensionar a
importância do fato, pelo envonvimento de países importantes no caso. Sobre o
Japão apenas é dito: ‘Mesmo num dos países mais desenvolvidos do mundo,
ainda há muitas informações desencontradas ou não confirmadas’.
5. 2. 2. 4. Referência a pessoas que integram a elite
Não houve uma história específica, mas durante a reportagem é citado o
parlamento japonês que estava em reunião no momento do terremoto, e a
reação do primeiro ministro, Naoto Kan, perante ao tremor, que foi deixar o
local. Reapareceu tempo depois em declaração para tranquilizar a população.
5. 2. 3. De acordo com o pragmatismo da cobertura midiática
5. 2. 3. 1. Consonância
Podem-se citar dois exemplos a respeito dessa previsibilade jornalística.
O primeiro, mais óbvio, que são os desdobramentos políticos, econômicos e
humanos da tragédia num olhar mais apurado, informado e experiente, que
pode vir a revelar ao jornalista fatos na iminência de explodir, assim,
aumentando sua noticiabilidade. O segundo exemplo, mais aplicável, é o do
reator nuclear de Fukushima, que no primeiro dia de exibição da tragédia pelo
JN, no dia 11 de março, teve pouco destaque, e a possível previsibilidade do
jornalista em relação a esse assunto, rendeu que o fato tivesse ganhado um
destaque proporcionalmente maior nos dias seguintes da cobertura.
44
45. 5. 2. 3. 2. Continuidade
O fato era autossuficiente. Devido as suas vertentes inevitáveis, não foi
necessário que surgissem novidades, era preciso apenas acompanhar o
processo de reconstrução das províncias japonesas, dia após dia. O
interessante é que as reportagens sobre o assunto vão diminuindo dia após
dia, sendo substituida por outras, como aponta a definição de continuidade. No
dia da tragédia dez repostagens foram exibidas, no segundo dia caem para
nove, no terceiro para sete. Atrelado ao conceito de consonância no quarto dia
de exibição voltam a ser dez reportagens, quase que exclusivamente tratando
do reator e da usina nuclear. No quinto dia são cinco reportagens, no sexto,
seis; uma semana depois da tragédia, apenas três notícias e a patir do dia 19
de março, com a visita de Michele e Barack Obama ao Brasil, as reportagens
se diluem por completo. A partir do dia 21 de março aparecem uma ou duas
reportagens sobre o assunto, dividindo espaço com os conflitos no Oriente
Médio, e as enchentes espalhadas pelo Brasil, devido as fortes chuvas de
verão, e no dia 31 de março o jornal passa sem exibir absolutamente sobre o
assunto. O ponto é que o país continua a passar por dificuldades de
recuperação, mas o caso ja caiu no esquecido, ofuscado por acontecimentos
mais noticiáveis.
5. 2. 3. 3. Composição
Este é um tópico que democratiza a noticiabilidade. Pois é justo que
apesar do terremoto e do tsunami terem sido acontecimentos extremamente
marcantes, existem outras coisas acontecendo ao redor do mundo, que
também possuem valor notícia para serem publicadas ou expostas. Trazendo
esse contexto para o Jornal Nacional, o conceito fica ainda mais aplicável, se
tratando do telejornal de maior audiência no país, exibido em horário nobre.
Não é coerente que o Jornal fique num mesmo acontecimento por muitos dias,
deixando de lado outros acontecimentos. Isso abrange a questão da audiência,
desencadeada pelo desinteresse do espectador, que deve, e quer se manter
informado sobre todos os assuntos.
45
46. 6. ANÁLISE DO DISCURSO
6. 1. ATAQUES AO WORLD TRADE CENTER E AO PENTÁGONO:
ORDEM DAS REPORTAGENS
Imagens que aparecem ao lado nos apresentadores na bancada:
mapa dos Estados Unidos com a demarcação de uma mira de uma arma
(simulação da nação americana sob ataque), torres do World Trade Center
atingidas e labaredas de fogo, foto de Jader Barbalho, senador brasileiro à
época da edição e de Gustavo Kuerten, tenista brasileiro.
1) Correspondente Edney Silvestre: explicação cronológica da sucessão
dos choques dos aviões, os depoimentos de pessoas desesperadas e
esbaforidas, o desespero demonstrado com imagens de pessoas se
jogando dos prédios em chamas, as indagações a respeito do primeiro
choque e a confirmação com o segundo, a confirmação daquilo de que
mais tinha medo: aquilo era sim proposital, mas ainda não se tinha
certeza da autoria, não se dava um tom de atentado terrorista, a
sucessão das quedas das torres, as dificuldades da polícia e dos
bombeiros. Em entrevista de especialista brasileiro fazendo turismo em
Nova York, aparece a especulação, não oficial, de que o choque dos
aviões não teria sido capaz de derrubar as torres, chegando a suspeitar
da existência de bombas de implosão. Mas é quando a reportagem
toma outra guinada e demonstra como o choque e o fogo teriam sido
capazes de enfraquecer as estruturas dos prédios. E no final, o histórico
de atentados em território americano;
2) Apresentador William Bonner: da bancada, Bonner relata os dados
principais sobre o WTC, os dados sobre sua construção, localização e
dependências, o número de pessoas que ali trabalhavam. Mostra-se um
infográfico sobre as localizações geográficas na região sul da ilha de
Manhattan, onde estavam as torres. Na conclusão, retoma-se o ataque
ao seu estacionamento em fevereiro de 1993. Nessa oportunidade é
feita, pela primeira vez, menção ao “terrorista mais procurado do
mundo, Osama Bin Laden”, de acordo com as palavras de Bonner;
46
47. 3) Correspondente Fernando Silva Pinto: agora começa-se a tratar do
choque do avião no Pentágono, em Washington D.C. Para entender as
dimensões do fato, começa-se pela explicação da engenharia do
prédio, sua função e seu funcionamento, ou seja, como seus
funcionários trabalham, a estratégia de evacuação e o início da
compreensão do significado dos atentados, como notamos pela frase
do correspondente: ”Não só a violência do ataque e a tragédia que ele
provoca assustam os americanos. A simbologia é muito forte também.
O coração das forças armadas foi atingido. A capital desse país é muito
mais vulnerável do que os cidadãos podiam imaginar.” Diante desse
clima de imprevisto, aparece o discurso do “de medo e incerteza” e,
ainda mais, um discurso que perduraria ainda por muito mais tempo: o
discurso de que, a partir de então, era necessário que se fizesse justiça.
Que se fizesse justiça americana. Só não se sabia ainda justiça contra
quem.
4) Correspondente Zileide Silva: de Nova York, a repórter traz o
sentimento da população novaiorquina, que, pela reportagem, era de
incredulidade em relação à vulnerabilidade da qual os norte-americanos
não esperavam jamais sofrer. Fala-se sobre os detalhes sobre os
aviões seqüestrados, que vetores dos atentados. Eram dois da
American Airlines: o que ia de Boston a Los Angeles e se chocou com a
primeira torre e o que ia de Washington D.C. a Los Angeles e atingiu o
Pentágono, e dois da United Airlines: um que partiu de Boston em
direção a Los Angeles e atingiu a segunda torre e outro, que caiu na
Pensilvânia. Aparece o relato gravado, via celular, de uma das
passageiras de um dos voos: “Estamos sendo sequestrados e os
sequestradores estão com facas ou punhais”. E a reportagem acaba
com a situação dos aeroportos nos Estados Unidos, as tentativas de
proteção do território norteamericano e o fechamento do prédio da
ONU, da NASA e dos parques da Disney na Flórida;
5) Correspondente Heloísa Villela: de Nova York, a repórter traça o perfil
do saudita Osama Bin Laden e fala de seu envolvimento com os
atentados a embaixadas norte-americanas na África, na Arábia Saudita
47
48. e a um Destroyer americano. Na reportagem, aparecem imagens do
terrorista nos arquivos da emissora, além de imagens do atentado ao
edifício do governo de Oklahoma, cujo principal suspeito era Bin Laden,
até se comprovar que o autor do atentado era, na realidade, um norte-
americano. Com imagens feitas no Peru, onde encontrava-se Collin
Powell, secretário de Estado norte -americano, é mostrada sua
declaração, em que diz: “Eles podem destruir edifício e matar pessoas,
mas nunca matarão a democracia”. E sobre esse discurso que a ideia
de justiça feita pelos norte-americanos começa a ser construída e
defendida;
6) Apresentador William Bonner: da bancada, Bonner comenta o
bombardeio noturno a Cabul, capital do Afeganistão, e esclarece que tal
bombardeio não fazia parte da resposta militar norte-americana,
havendo suspeitas de que a autoria pertencesse à oposição ao Talebã
em território afegão. Enquanto Bonner narra, aparecem imagens
noturnas fornecidas pela CNN. Como toda imagem de guerra ou ataque
aéreo durante a noite, a imagem servia sequer para ilustrar;
7) Correspondente Zileide Silva: ao vivo, dos escritórios da Rede Globo
em Nova York, Zileide confirma o não envolvimento dos Estados Unidos
nos ataques a Cabul, a que Bonner se referira. Zileide anuncia a queda
de um prédio, vizinho ao World Trade Center, que, de acordo com o que
ela diz, com “as torres e outros cinco edifícios formavam o principal
complexo econômico aqui de Nova York”. Fala-se sobre os escombros
e as buscas por vítimas e por sobreviventes, além da indefinição do
número de vítimas e da suspeita de que o número de mortos possa
chegar a dezena de milhares;
8) Correspondente Arnaldo Duran: de Nova York, o correspondente fala
de como foi o dia do presidente George W. Bush. O presidente recebera
a notícia enquanto participava de atividade em sala escolar, fizera um
pronunciamento e uma oração à população, diz voltar à capital, mas,
depois de ficar desaparecido durante boa parte do dia, reaparece em
uma base militar no estado de Luisiana, fizera um discurso em que
enfatizava a ideia de liberdade atacada, de caça aos responsáveis e de
48
49. aplicação se esforços sem medidas e, finalmente, reaparece em
Washington no fim do dia. Duran também fala do dia da primeira-dama
Laura Bush, que, após um pronunciamento em defesa da garantia de
segurança às crianças de seu país, também teve seu paradeiro e o de
suas filhas não revelado pela Inteligência Americana;
9) Apresentadora Fátima Bernardes: da bancada, Fátima discursa sobre
a derrubada do que o Jornal Nacional decidiu chamar de uma “verdade
incontestável. Até hoje o mundo considerava o sistema de segurança
americano, praticamente, inviolável.” e narra o plano de defesa e de
segurança que os Estados Unidos haviam traçado em maio daquele
ano. Em tal plano, ficava estabelecido que Irã, Iraque e Coreia do Norte
seriam os novos inimigos. Além disso, Fátima relata a palavra de
especialistas sobre a conjuntura política e estratégica norte-americana a
partir de então, além de ressaltar como ficava a situação aérea norte-
americana, uma vez que, esperando ser atacados por mísseis, o ataque
de aviões comerciais não estava previsto pela segurança da potência;
10) Correspondente Jorge Pontual: de Nova York, Pontual trata da
situação da cidade e define “o clima em toda a cidade era de guerra”.
Desde o trânsito até a circulação de pessoas que tentavam se refugiar.
As imagens demonstram as tentativas da Polícia em organizar a
situação; os bancos e as Bolsas de Valores fechadas; as escolas, que
retiveram as crianças; as comparações que as pessoas nas ruas faziam
com o ataque japonês à base norte-americana a Pearl Harbor. Pelas
falas das pessoas, transmitia-se o sentimento das pessoas de ver Nova
York como sua casa. Pela reportagem também cruzam relatos do
espírito de cooperação dos policiais e das filas nos bancos de sangue.
Pontual também mostra o caso das pessoas que não conseguiam
chegar a suas casas por falta de transporte; o caso dos sobreviventes
que conseguiram abandonar as torres a tempo de se salvarem;o caso
dos que acharam que o tremor dos choques dos aviões eram um
terremoto. Nos depoimentos, aparece a compaixão dos sobreviventes
pelos amigos que morreram, além da entrevista com um norte-
americano que fala português e conta o que viu. Aparecem imagens de
49
50. Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, que escapou da tragédia e
ainda fez discurso “Nova York e a América são mais fortes que esses
bárbaros terroristas. A democracia vai prevalecer”. Novamente, o
discurso da democracia, previamente mencionado por Collin Powell;
11) Repórter Flávio Fachel: do Rio de Janeiro, Fachel mostra a situação
dos aviões e dos aeroportos brasileiros como reflexo dos atentados em
que estiveram envolvidos aviões, além de anunciar o cancelamento de
voos aos Estados Unidos, partindo do Brasil. Na reportagem, aparecem
os depoimentos da tripulação e de alguns passageiros, sejam os que
iam fazer turismo ou visitar parentes. Nesse cenário, prevalecia a
indefinição das decisões tomadas pelas companhias. Já em relatos de
outros passageiros, faz-se menção à 3ª Guerra Mundial, a indefinição
da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) e de
companhias aéreas em relação à retomada dos horários de voos, a
situação pelos aeroportos do país, além dos depoimentos de pessoas
que desistiram de viajar, inclusive para lugares como a Europa;
12) Correspondente Zileide Silva: ao vivo, Zileide fala da tentativa de uma
retomada à normalidade e dos problemas que os novaiorquinos
apresentavam com a telefonia e com o funcionamento do metrô. Para o
dia seguinte, Zileide fala do apelo do prefeito Giuliani para que as
pessoas não viessem a Nova York e da situação das escolas católicas
e públicas, que permaneceriam fechadas;
13) Repórter Ernesto Paglia: a reportagem começa pela contextualização
da saída dos Estados Unidos da Conferência sobre Racismo e
Xenofobia, da ONU, como protesto contra definição da Conferência em
considerar Israel um Estado racista. Depois, aparecem as
comemorações de civis em ruas da Palestina, citando referências a Alá
e a imagens de mulheres vestindo burca. Seguem declarações do
embaixador talebã no Afeganistão em condenação aos ataques, os
pêsames de Yasser Arafat, então líder da Autoridade Palestina, ao
presidente Bush e ao povo norte-americano. Então, aparecem os
comentários de Mounir Safatli, jornalista que mora no Oriente Médio,
região onde os países apresentavam medidas que revelavam medo em
50