Este documento descreve a vida e obra do antropólogo Clifford Geertz. Ele realizou pesquisas na Indonésia e Marrocos e desenvolveu uma abordagem interpretativa da antropologia, enfatizando o estudo da cultura como um sistema de significados simbólicos. Geertz viu a etnografia como uma forma de interpretação que busca compreender o ponto de vista dos atores sociais através da descrição densa de formas culturais. Sua obra teve grande influência no desenvolvimento da antropologia interpretativa.
2. Clifford Geertz (São Francisco, 1926-
2006)
1943-1945 - Participa da Segunda Guerra Mundial - Marinha dos Estados
Unidos.
1950 - Completa os estudos no Antiech College em Ohio.
1951 - Pesquisa multidisciplinar na Indonésia. Geertz estuda religião. Hildred,
sua esposa, estuda parentesco.
1956 - Ph.D. na Universidade de Harvard em Antropologia Social no
Departamento de Relações Sociais.
1930-1980 - Regressa aos Estados Unidos. Mantém contato com Parsons na
Universidade de Chicago.
1957-1958 - Realiza novas pesquisas na Indonésia.
1960-1970 - Professor na Universidade de Chicago.
1963-1971 - Pesquisas no Marrocos. Publica " Islam Observed" em 1968.
1970-2000 - Transfere-se para a Universidade de Princeton, Nova Jersey.
3. Livros
1956 The development of the Javanese economy: a socio-cultural approach.
Cambridge : Center for International Studies, Massachusetts Institute of Technology.
1960 Religion of Java. Glencoe: Free Press.
1963 Agricultural Involution: The Process of Agricultural Change in Indonesia.
Berkeley: University of California Press.
1963 Peddlers and Princes: Social Change and Economic Modernization in Two
Indonesian Towns. Chicago: University of Chicago Press.
1963 Old Societies and New States: the quest for modernity in Asia and Africa. New
York: Free Press. Edited by Clifford Geertz.
1963 Peddlers and Princes: Social Development and Economic Change in Two
Indonesian Towns (Comparative Studies of New Nations). University Of Chicago Press.
1964 The Religion of Java. New York : The Free Press of Glencoe.
1965 The Social History of an Indonesian Town. Cambridge: MIT Press.
1968 Islam Observed: Religious Development in Morocco and Indonesia. Chicago:
University of Chicago Press.
4. 1973 The Interpretation of Cultures: Selected Essays. New York: Basic.
1974 Myth, Symbol, and Culture. W. W. Norton & Company.
1975 Social history of an Indonesian town. Westport, Conn. : Greenwood Press, Publishers.
1978 Kinship in Bali com Hildred Geertz. Chicago: University of Chicago Press.
1979 Meaning and Order in Moroccan Society: Three Essays in Cultural Analysis. Com
Hildred Geertz e Lawrence Rosen. Cambridge: Cambridge University Press.
1980 Negara: The Theatre State in Nineteenth-Century Bali. Princeton: Princeton
University Press.
1983 Local Knowledge: Further Essays in Interpretive Anthropology. New York: Basic
Books.
1988 Works and Lives: The Anthropologist as Author. Stanford: Stanford University
Press.
1995 After the Fact: Two Countries, Four Decades, One Anthropologist. [The
Jerusalem-Harvard Lectures]. Cambridge and London: Harvard University Press.
1999 A life of learning : Charles Homer Haskins lecture for 1999. New York: American
Council of Learned Societies.
2000 Available Light: Anthropological Reflections on Philosophical Topics. Princeton:
Princeton University Press.
2010 Life Among the Anthros and Other Essays Org. Fred Inglis, Princeton University
Press.
5. Antropologia Simbólica (anos 1960-70, EUA):
Geertz: drama, jogo, texto
Envolve o estudo da cultura como uma entidade
relativamente autônoma, um sistema de
significados que o antropólogo deve estudar
através da interpretação de símbolos e rituais =
(como analogias e não como metáforas)
DRAMAS SOCIAIS
6. Antropologia Simbólica
Victor Turner (estrutural-
funcionalismo – teria ritual
do drama)
Rituais como Dramas Sociais
Ênfase Integrativa dos
símbolos - ritual e religião -
o drama como a comunhão, o
templo como palco” (SL:45)
Ex: ritos de passagem (preocupação
com o mov. geral das coisas, torna
homogêneos processos muito
diferentes)
Clifford Geertz (antrop.
Interpretativa - )
Dramas Sociais como ações
simbólicas – “dramatismo” -
Ênfase expressiva dos símbolos
- teatro e retórica: o drama
como forma de persuasão, a
plataforma do discursante como
palco – Susane Langer: dramas
são poemas nos modos de ação
Ex: briga de galos (descoberta do sentido
na representação)
7. CLIFFORD GEERTZ
“Os instrumentos de raciocínio estão se modificando. Representa-se a sociedade cada vez
menos como uma máquina complicada ou como um quase organismo e, cada vez mais,
como um jogo sério, um drama de rua, ou um texto sobre comportamento” (SL:38) - Re-
significação do conceito de cultura como teias de significado (IC) – Ortner: teoria
social orientada pela subjetividade
“A chave para a transição de texto para texto análogo, de um texto escrito como discurso
para a ação como discurso é, como Paul Ricoeur assinalou, o conceito de “inscrição”: a
fixação do significado” (SL: 50)... “O significado é fixado em um metanível; basicamente
o que faz o filólogo, uma espécie de autor secundário, é reinscrever, ou seja, interpretar um
texto através de um outro texto” (SL:51)
Antropologia menos como “física/mecânica social” e mais como “análise literária” –
cultura como “texto” que pode ser lido, uma obra imaginativa construída a partir de
materiais sociais (IC); Tendência contextualista, anti-formalista, relativista: maneira
de examinar o mundo através do que dele falam – como ele é demarcado,
representado – e não do que ele é instrinsecamente – a antropologia é uma disciplina
artesanal (O Saber Local)
8. Ênfase na “tradução”: não é realista, é versão,
interpretação de outras interpretações – “ficção”:
algo construído, mas orientada pelo significado dos
atores sociais, expressos publicamente;
Hermenêutica: “o entendimento do entendimento”
(SL)
Função da Etnografia: não “descobertas”, mas
“interpretações”; menos “realista” e mais “inscrição de
significados”: o antropólogo enfrenta variedade de
“estruturas significantes” (descrição densa: separar
“piscadelas”);
9. A Etnografia
Gênero literário antropológico por excelência; Há, entretanto, uma
diversidade de contextos e condições em que a etnografia é realizada.
Diferentes tradições do pensamento antropológico têm noções diferentes
para a etnografia (seu estatuto e significado para as pesquisas);
A partir de Geertz, a importância da etnografia está associada a um
ângulo singular de formulação das pesquisas que visam alargar a
imaginação social;
Está relacionada também com o redimensionamento da noção de cultura,
realizada por este autor na obra “A Interpretação das Culturas”
10. As Tradições do Pensamento Antropológico
Escola Evolucionista (séc. XIX; interesse: escalas de
desenvolvimento; foco: traços culturais);
Escola Britânica de Antropologia (início séc. XX; interesse:
organização e processos sociais; foco: relações sociais);
Escola Histórico-Cultural (início séc. XX, interesse: padrões
culturais; foco: linguagem, comportamento, socialização);
Escola Sociológica Francesa (final séc. XIX/XX, interesse:
categorias de pensamento, simbolização, sistemas simbólicos;
foco: religião, mitologia, parentesco)
Antropologia Interpretativa (metade do séc. XX; interesse:
cultura como redes de significado; foco: ponto de vista do ator,
formas simbólicas e contexto)
11. O INVESTIMENTO ETNOGRÁFICO: Malinowski (1884/1942)
Os Argonautas do Pacífico Ocidental (1922):
Sobre o livro: relata uma “faceta” da vida selvagem. Para um
trabalho ser válido, é imprescindível que cubra a totalidade de
aspectos (social, cultural e psicológico) da comunidade.
Sobre o método: “tinha constantemente ante meus olhos a vida
cotidiana dos nativos, com isso, não me podiam passar despercebidas
quaisquer ocorrências, mesmo as acidentais”.
Questão: Qual é a magia do etnógrafo e como consegue evocar o
verdadeiro espírito dos nativos, sua visão autêntica da vida tribal?
12. Método:
1) Possuir objetivos genuinamente científicos e conhecer os valores e
critérios da etnografia moderna = cuidado com idéias pré-
concebidas;
2) Assegurar boas condições de trabalho, viver entre os nativos, sem
depender de outros brancos = observação participante, diário de
campo;
3) Deve aplicar certos métodos especiais de coleta, manipulação e
registro de dados
Delineamento da organização da tribo e a anatomia de sua cultura = método de
documentação concreta e estatística;
Captar os imponderáveis da vida tribal = ter um contato prolongado com os
nativos;
Recolher o corpus inscriptionum (narrativas típicas, palavras características,
elementos folclóricos e fórmulas mágicas) = documentos da mentalidade nativa
13. Importância
Não apresentar caricaturas; Não apresentar aspectos que causam
admiração e estranheza em detrimento dos fatos comuns;
Virada para a diversidade: entender a cultura nos seus próprios
termos;
Investigação da cultura nativa na totalidade de seus aspectos. Deve-se
contar dados referentes a um grande número de fatos para estabelecer
contorno firme e claro da constituição tribal e delinear leis e padrões de
todos os fenômenos culturais, isolando-os dos fatos irrelevantes
ETNOGRAFIA: Método para consecução dos objetivos de
pesquisa;
CENTRAL: observação participante, práticas em contexto,
permanência em campo para maior credibilidade dos dados.
15. O INVESTIMENTO ETNOGRÁFICO: Clifford Geertz (1926/2006)
A Interpretação das Culturas (1973); Nova Luz sobre
a Antropologia (2000)
Sobre a antropologia: Não é uma ciência experimental à procura
de leis, mas interpretativa à procura do significado; não decifrar
códigos, mas interpretar sentidos; Foco: atores, contexto e formas
simbólicas;
Etnografia: não é uma questão de método, mas um esforço
intelectual: um risco elaborado para uma “descrição densa”;
Objeto da etnografia: hierarquia estratificada de estruturas
significantes nas quais as práticas tornam-se inteligíveis;
Características da descrição etnográfica: 1) Ela é interpretativa;
o que ela interpreta é o fluxo do discurso social; 2) Ela não é
profética; 3) Ela é incompleta; 4) Ela é microscópica.
16. Textos Antropológicos: são ficções (construções), uma leitura do
que acontece (não pode ser divorciada do que acontece); Visam
reduzir a perplexidade: que tipo de homens são esses?
O comportamento humano é visto como ação simbólica, uma ação
que significa o que devemos indagar não é
qual o seu status ontológico (estado da mente ou conduta
padronizada), mas o que está sendo transmitido com a sua
ocorrência e através da sua agência.
O que produz a incompreensão das ações é a falta de familiaridade
com o universo imaginativo dentro do qual certos atos são marcos
determinados.
OBJETIVO DA ANTROPOLOGIA:
Alargamento do discurso humano;
Conversar COM, não falar por, nem a alguém
17. Importância:
“Compreender a cultura de um povo expõe a
sua normalidade sem reduzir sua
particularidade. (Quanto mais eu tento seguir o
que fazem os marroquinos, mais lógicos e
singulares eles me parecem.) Isso os torna
acessíveis: colocá-los no quadro de suas
próprias banalidades dissolve sua opacidade”
(Geertz, 1989:24)
18. Noção de Cultura - Geertz
Alguns precedentes...
1) “Todo complexo”/”traços” – E. Tylor (evolucionismo)
2) Relativismo cultural – F. Boas (particularismo histórico): contexto,
história, “caráter/espírito de um povo”.
3) Funcionalismo – Malinowski, “integração
cultural”/organismo/resposta às necessidades básicas;
4) Estruturalismo – Lévi-Strauss – conjunto de sistemas simbólicos
X
Interpretativismo – Geertz, semiótica, ação social: desvendar as
conexões de sentido, a cultura é pública porque o significado o é.
19. ♣ Conceitos de cultura:
a – teias de significado;
b – documento de atuação, como uma piscadela burlesca, é pública (20)
c – sistema entrelaçado de signos interpretáveis... um contexto, algo ao qual podem ser
atribuídos casualmente os acontecimentos sociais (24)
♣ Objetivos da etnografia:
a – produzir descrição densa;
b – informar o que está sendo transmitido através de um dado comportamento
c – produzir interpretação: traçar acurva de um discurso social, fixá-lo numa forma
inspecionável... transformar o discurso social num relato... fixar a ação (seguindo uma
orientação weberiana)
d – descobrir as estruturas conceituais que informam os atos dos nossos sujeitos, o “dito”
no discurso social, e construir um sistema de análise em cujos termos o que é genérico a
essas estruturas... (38)
20. Malinowski Geertz ...
Alargamento do foco: da diversidade para “além mar” para a diversidade à flor da pele
Novos temas: circulação internacional de idéias, bens, valores, etc
Redução do tempo de realização das pesquisas
Novas antropologias: nações periféricas
21. Etnografia como âmago da antropologia, um ângulo
de visão em direção às formas de expansão da
imaginação social, não apenas um método.
“A vocação essencial da antropologia interpretativa
não é responder às nossas questões mais profundas,
mas colocar à nossa disposição as respostas que
outros deram” (Clifford Geertz).