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Ensaio Iconográfico                                                             Turtelli CM




                             AVALIAÇÃO DO OMBRO DOLOROSO PELA RADIOLOGIA
                             CONVENCIONAL*
                             Celso Montenegro Turtelli 1




INTRODUÇÃO                                                       Anatomia do acrômio: tipo 1 – super-                  Os tipos de acrômio podem ser diag-
                                                             fície inferior reta e lisa (menos associada           nosticados pelo RX, incidência em Y, pe-
    A dor no ombro é a segunda causa de                      à SI) (Figura 1); tipo 2 – superfície infe-           los radiologistas, com acertos semelhan-
queixa de dor no aparelho locomotor,                         rior curva e lisa, a mais comum, pode ser             tes aos da ressonância magnética (RM)(6).
precedida apenas pela dor referida na                        associada à SI (Figura 2); tipo 3 – gan-                  Alteração congênita: “os” acromial –
coluna vertebral. As causas de dor no om-                    choso: é raro e mais associado à SI(4),               centro secundário de ossificação que não
bro são várias, mas a maioria delas está                     pode ser congênito ou adquirido (Figu-                se funde após idade de 25 anos. São raros
relacionada às estruturas situadas entre a                   ras 3 e 4); tipo 4 – superfície inferior              (têm incidência de 7%) e devem ser reti-
articulação glenoumeral e o arco coraco-                     convexa(4), que necessita mais estudos                rados cirurgicamente quando pequenos.
acromial (ACA).                                              para determinar sua importância.                      Quando grandes, devem ser fixados(7).
    A compressão do manguito rotador
(MR) e das bursas adjacentes pelos ele-                      Tabela 1     Síndrome do impacto.
mentos contidos nesse estreito espaço é
                                                                 Causas extrínsecas primárias (diagnóstico radiológico)
a causa mais comum de dor no ombro, a
                                                                 – “Os” acromial
chamada síndrome do impacto (SI).
                                                                 – Osteófito no acrômio anterior
    A radiografia simples (RX) é o primei-
ro e principal exame para detectar as                            – Acrômio tipo 3 (ganchoso)
causas da compressão extrínseca do MR                            – Acrômio com inclinação anterior
e orientar o ortopedista, conjuntamente                          – Osteoartrose hipertrófica acromioclavicular
com outros dados, na conduta, que pode                           – Calcificações bursais ou tendíneas (entesófitos)
ser cirúrgica ou conservadora(1).                                – Hipertrofia óssea pós-fratura ou pós-cirurgia
    As causas extrínsecas da SI são devi-                        Nos casos acima o tratamento é cirúrgico (acromioplastia)
das às alterações ósseas e/ou ligamenta-                         Causas extrínsecas secundárias (diagnóstico por ressonância magnética)
res que causam repetitivos atritos do MR                         – Decorrente de instabilidade glenoumeral, com lesões da cápsula e ligamentos.
adjacente(2). Elas podem ser divididas
                                                                 Nestes casos o tratamento é conservador
em primárias e secundárias (Tabela 1).
    As causas primárias são decorrentes
de anomalias anatômicas congênitas ou
adquiridas do ACA, que levam a esforços
repetitivos e injúrias, com fadiga do ten-
dão. Essas causas são as mais importan-
tes da dor, degeneração e ruptura do MR.
Outros autores(3) acham que fatores in-
trínsecos também são importantes, prin-
cipalmente em pacientes não-atletas.

Fatores principais
    Alterações do acrômio: topografia an-
terior e lateral (esta é menos importante).


  * Trabalho realizado no Departamento de Radiologia do
Hospital São Domingos, Uberaba, MG.
  1. Professor Adjunto da Faculdade de Medicina do Triân-
gulo Mineiro, Chefe do Serviço de Radiologia do Hospital
São Domingos.
  Endereço para correspondência: Prof. Dr. Celso Monte-
negro Turtelli. Rua Constituição, 751. Uberaba, MG, 38025-
110. E-mail: celso@mednet.com.br                             Figura 1. Acrômio tipo 1 – superfície inferior lisa   Figura 2. Acrômio tipo 2 – superfície inferior
  Aceito para publicação em 25/4/2001.                       e reta. Calcificação perituberal.                     curva (côncava).


Radiol Bras 2001;34(4):241–245                                                                                                                              241
Avaliação do ombro doloroso pela radiologia convencional



                                                                                                    genciando a articulação em AP. É útil no
                                                                                                    diagnóstico da artrose glenoumeral (Fi-
                                                                                                    gura 5), luxação superior da cabeça do
                                                                                                    úmero, alterações ósseas no tubérculo
                                                                                                    maior, entre as quais, formações de pe-
                                                                                                    quenos cistos, erosões ou remodelagem
                                                                                                    óssea (Figura 6), esclerose ou calcifica-
                                                                                                    ções irregulares do tubérculo (Figura 7),
                                                                                                    ou, inclusive, ossificação da inserção
                                                                                                    tendínea (Figura 8). Outra alteração mais
                                                                                                    sutil é a osteopenia regional (Figura 6).
                                                                                                    Essas alterações ósseas indicam lesões
                                                                                                    crônicas do tendão do MR e quando atri-
                                                                                                    tam o osso adjacente apresentam sinais
                                                                                                    indiretos de tendinose. Outras alterações
                                                                                                    que podem ser vistas na incidência 1 são
                                                                                                    corpos livres e calcificações tendíneas
Figura 3. Acrômio tipo 3 – parte anterior do      Figura 4. Acrômio tipo 3 – gancho anterior exu-   ou bursais.
acrômio em gancho.                                berante estreitando o arco coracoacromial.            A incidência 2 é realizada com o pa-
                                                                                                    ciente em AP, com o membro superior
                                                                                                    neutro (sem rotação), com inclinação
MATERIAIS E MÉTODOS                                   A incidência 1 é feita em ântero-pos-         caudal de 30° do raio central. É feita com
                                                  terior (AP), com rotação de 30° do pa-            baixa quilovoltagem (Figura 9). É útil
   As incidências que foram utilizadas            ciente para o lado do ombro examinado.            para a visibilização de esporão ou osteó-
de rotina no ombro doloroso estão apre-           Isto é feito para corrigir a anteversão da        fito na superfície inferior do acrômio
sentadas na Tabela 2.                             glenóide e a retroversão do úmero tan-            (Figuras 10 e 11).
                                                                                                        A incidência 3 é feita na mesma posi-
                                                                                                    ção e técnica da anterior, com exceção da
Tabela 2    Incidências para ombro doloroso.
                                                                                                    inclinação cranial do raio central, de 20°.
    1 – Ântero-posterior real da cintura escapular (corrigido)                                      É utilizada para estudo da articulação
    2 – Ântero-posterior normal com inclinação caudal de 30°
    3 – Ântero-posterior normal com inclinação cranial de 20°
    4 – Perfil de escápula com inclinação caudal de 20° (incidência em Y ou “outlet” ou túnel)
    5 – Incidência transaxilar




Figura 5. Artrose glenoumeral, com desvio superior do úmero (síndrome do impacto do tipo extrín-    Figura 6. Erosão e depressão do tubérculo
seco secundário).                                                                                   maior do úmero. Osteopenia regional.


242                                                                                                           Radiol Bras 2001;34(4):241–245
Turtelli CM




Figura 7. Depressão do tubérculo maior do            Figura 8. Neoformação na inserção do tendão (entesopatia). Calcificação bursal.
úmero. Calcificação da bursa.




Figura 9. Ântero-posterior com inclinação cau-   Figura 10. Osteoartrose acromioclavicular com   Figura 11. Presença de esporão subacromial
dal. Espaço subacromial normal.                  osteófitos inferiores.                          diminuindo o arco coracoacromial.


acromioclavicular, dissociando-a da par-         acrômio, sua inclinação, calcificações ou       na pesquisa de “os” acromial, fraturas e
te posterior do acrômio (Figura 12). É           osteófitos no túnel do supra-espinhoso          seqüelas como fragmentos (Figura 13).
útil na osteoartrose hipertrófica que es-        (Figuras 1 a 4). É indispensável para o             Todas essas incidências devem ser
treita o ACA.                                    planejamento cirúrgico, pois dependen-          feitas com baixa quilovoltagem, alta mi-
    A incidência 4 é também chamada de           do da morfologia e topografia do acrô-          liamperagem no “Bucky” e com respira-
perfil da escápula, incidência em Y, inci-       mio, determina-se o quanto ele deve ser         ção suspensa.
dência do túnel ou desfiladeiro do supra-        ressecado na acromioplastia, a qual pode
espinhoso (“outlet”). É feita com o pa-          ser por artroscopia ou aberta.                  RESULTADOS
ciente no “Bucky” mural (ereto), com o               A incidência 5 (transaxilar) é feita
ombro a examinar rodado posteriormen-            com o paciente em decúbito dorsal, com             Considera-se o RX simples o primei-
te em 10°, o suficiente para dissociar o         o filme sobre o ombro e o raio central in-      ro e principal exame para a avaliação do
ombro contralateral. O raio central deve         cidindo na axila. É indicada para casos         ombro doloroso. É muito útil na SI por
incidir no acrômio inclinado caudalmen-          pós-operatórios de acromioplastia, pois         compressão extrínseca primária, a causa
te 20°. É útil para se classificar os tipos de   mostra o quanto de acrômio foi retirado,        mais comum de dor no ombro.


Radiol Bras 2001;34(4):241–245                                                                                                         243
Avaliação do ombro doloroso pela radiologia convencional




   Figura 12. Ântero-posterior com inclinação cranial. Pequeno osteófito acromial.                Figura 13. Incidência transaxilar normal.


    Nos casos de pacientes com compres-
sões extrínsecas secundárias por instabi-
lidade glenoumeral e na degeneração pri-
mária do tendão, a RM é superior ao RX
simples.
    As incidências recomendadas são mui-
to úteis, particularmente a incidência 4
(túnel do supra-espinhoso), mas devem
ser realizadas com perícia para o diag-
nóstico(8) (Figura 14). As outras incidên-
cias são fáceis de serem padronizadas.
    As medidas do grau de inclinação an-
terior do acrômio são várias(9,10), mas se
ele está mais próximo, anteriormente, da
cabeça umeral e afastado dela, posterior-
mente, é considerado como acrômio com
inclinação positiva e pode levar à SI.
    Outra alteração importante é a osteo-
                                                Figura 14. Incidência em Y incorreta. Não se observa a parte anterior (clavicular) do acrômio.
artrose hipertrófica acromioclavicular.
De menos importância é o espaço subco-
racóide(11).                                       A artrografia mostra-se útil nos casos         REFERÊNCIAS
                                                de pacientes operados do MR em que                 1. Doneux PS, Checchia SL, Miyazaki AN. Padroni-
                                                fragmentos metálicos prejudicam o estu-               zação do estudo radiográfico da cintura escapular.
CONCLUSÃO                                                                                             Rev Bras Ortop 1998;33:883–8.
                                                do por RM e tomografia computadoriza-              2. Uri DS. MR imaging of shoulder impingement and
    As radiografias convencionais são, e        da (TC). Nos casos de capsulite adesiva               rotator cuff disease. Radiol Clin North Am 1997;
                                                                                                      35:77–96.
bastante, úteis no diagnóstico da dor no        ela pode ser utilizada, mas tende a ser            3. Fu FH, Harner CD, Klein AH. Shoulder impin-
ombro, em casos de SI do tipo extrínse-         substituída pela RM e artro-RM(13).                   gement syndrome: a critical review. Clin Orthop
                                                                                                      1991;(269):162–73.
co primário.                                       A TC tem pouca utilidade, a não ser na          4. Epstein RE, Schweitzer ME, Frieman BG, Fenlin
    O ultra-som é muito dependente do           pesquisa de fraturas ocultas quando a                 JM Jr, Mitchell DG. Hooked acromion: preva-
aparelho e do examinador. Tem pouca             RM não puder ser realizada.                           lence on MR images of painful shoulders. Radi-
                                                                                                      ology 1993;187:479–81.
sensibilidade para alterações ósseas. É            A RM é importante nas causas intrín-            5. Stoller WD, Wolf MD. The shoulder. In: Stoller
útil nas lesões tendíneas agudas, em ido-       secas de alterações do MR e a artro-RM                WD, ed. Magnetic resonance imaging in ortho-
                                                                                                      paedics and sports medicine. Philadelphia: Lip-
sos e em pacientes sem condições para           é útil nos casos de instabilidade glenou-             pincott-Raven, 1997;665.
realização da RM.                               meral (SI tipo extrínseco secundário).             6. Haygood TM, Langlotz CP, Kneeland JB, Iannotti



244                                                                                                            Radiol Bras 2001;34(4):241–245
Turtelli CM



   JP, Williams GR Jr, Dalinka MK. Categorization       9. Edelson JG, Taitz C. Anatomy of the coraco-              (215):132–8.
   of acromial shape: interobserver variability with       acromial arch: relation to degeneration of the       12. Tirman PFJ, Bost FW, Garvin GJ, et al. Postero-
   MR imaging and conventional radiography. AJR            acromion. J Bone Joint Surg (Br) 1992;74:589–            superior glenoid impingement of the shoulder:
   1994;162:1377–82.                                       94.                                                      findings at MR imaging and MR arthrography with
7. Neer CS II. Impingement lesions. Clin Orthop        10. Mallon WJ, Brown HR, Vogler JB III, Martinez S.          arthroscopic correlation. Radiology 1994;193:431–
   1983;(173):70–7.                                        Radiographic and geometric anatomy of the sca-           6.
8. Peh WCG, Farmer THR, Totty WG. Acromial                 pula. Clin Orthop 1992;(277):142–54.                 13. Emig EW, Schweitzer ME, Karasick D, Lubowitz
    arch shape: assessment with MR imaging. Radi-      11. Gerber C, Terrier F, Zehnder R, Ganz R. The subco-       J. Adhesive capsulitis of the shoulder: MR diag-
   ology 1995;195:501–5.                                   racoid space: an anatomic study. Clin Orthop 1987;       nosis. AJR 1995;164:1457–9.




Radiol Bras 2001;34(4):241–245                                                                                                                                 245

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Raios x de ombro out let ou y escapular

  • 1. Ensaio Iconográfico Turtelli CM AVALIAÇÃO DO OMBRO DOLOROSO PELA RADIOLOGIA CONVENCIONAL* Celso Montenegro Turtelli 1 INTRODUÇÃO Anatomia do acrômio: tipo 1 – super- Os tipos de acrômio podem ser diag- fície inferior reta e lisa (menos associada nosticados pelo RX, incidência em Y, pe- A dor no ombro é a segunda causa de à SI) (Figura 1); tipo 2 – superfície infe- los radiologistas, com acertos semelhan- queixa de dor no aparelho locomotor, rior curva e lisa, a mais comum, pode ser tes aos da ressonância magnética (RM)(6). precedida apenas pela dor referida na associada à SI (Figura 2); tipo 3 – gan- Alteração congênita: “os” acromial – coluna vertebral. As causas de dor no om- choso: é raro e mais associado à SI(4), centro secundário de ossificação que não bro são várias, mas a maioria delas está pode ser congênito ou adquirido (Figu- se funde após idade de 25 anos. São raros relacionada às estruturas situadas entre a ras 3 e 4); tipo 4 – superfície inferior (têm incidência de 7%) e devem ser reti- articulação glenoumeral e o arco coraco- convexa(4), que necessita mais estudos rados cirurgicamente quando pequenos. acromial (ACA). para determinar sua importância. Quando grandes, devem ser fixados(7). A compressão do manguito rotador (MR) e das bursas adjacentes pelos ele- Tabela 1 Síndrome do impacto. mentos contidos nesse estreito espaço é Causas extrínsecas primárias (diagnóstico radiológico) a causa mais comum de dor no ombro, a – “Os” acromial chamada síndrome do impacto (SI). – Osteófito no acrômio anterior A radiografia simples (RX) é o primei- ro e principal exame para detectar as – Acrômio tipo 3 (ganchoso) causas da compressão extrínseca do MR – Acrômio com inclinação anterior e orientar o ortopedista, conjuntamente – Osteoartrose hipertrófica acromioclavicular com outros dados, na conduta, que pode – Calcificações bursais ou tendíneas (entesófitos) ser cirúrgica ou conservadora(1). – Hipertrofia óssea pós-fratura ou pós-cirurgia As causas extrínsecas da SI são devi- Nos casos acima o tratamento é cirúrgico (acromioplastia) das às alterações ósseas e/ou ligamenta- Causas extrínsecas secundárias (diagnóstico por ressonância magnética) res que causam repetitivos atritos do MR – Decorrente de instabilidade glenoumeral, com lesões da cápsula e ligamentos. adjacente(2). Elas podem ser divididas Nestes casos o tratamento é conservador em primárias e secundárias (Tabela 1). As causas primárias são decorrentes de anomalias anatômicas congênitas ou adquiridas do ACA, que levam a esforços repetitivos e injúrias, com fadiga do ten- dão. Essas causas são as mais importan- tes da dor, degeneração e ruptura do MR. Outros autores(3) acham que fatores in- trínsecos também são importantes, prin- cipalmente em pacientes não-atletas. Fatores principais Alterações do acrômio: topografia an- terior e lateral (esta é menos importante). * Trabalho realizado no Departamento de Radiologia do Hospital São Domingos, Uberaba, MG. 1. Professor Adjunto da Faculdade de Medicina do Triân- gulo Mineiro, Chefe do Serviço de Radiologia do Hospital São Domingos. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Celso Monte- negro Turtelli. Rua Constituição, 751. Uberaba, MG, 38025- 110. E-mail: celso@mednet.com.br Figura 1. Acrômio tipo 1 – superfície inferior lisa Figura 2. Acrômio tipo 2 – superfície inferior Aceito para publicação em 25/4/2001. e reta. Calcificação perituberal. curva (côncava). Radiol Bras 2001;34(4):241–245 241
  • 2. Avaliação do ombro doloroso pela radiologia convencional genciando a articulação em AP. É útil no diagnóstico da artrose glenoumeral (Fi- gura 5), luxação superior da cabeça do úmero, alterações ósseas no tubérculo maior, entre as quais, formações de pe- quenos cistos, erosões ou remodelagem óssea (Figura 6), esclerose ou calcifica- ções irregulares do tubérculo (Figura 7), ou, inclusive, ossificação da inserção tendínea (Figura 8). Outra alteração mais sutil é a osteopenia regional (Figura 6). Essas alterações ósseas indicam lesões crônicas do tendão do MR e quando atri- tam o osso adjacente apresentam sinais indiretos de tendinose. Outras alterações que podem ser vistas na incidência 1 são corpos livres e calcificações tendíneas Figura 3. Acrômio tipo 3 – parte anterior do Figura 4. Acrômio tipo 3 – gancho anterior exu- ou bursais. acrômio em gancho. berante estreitando o arco coracoacromial. A incidência 2 é realizada com o pa- ciente em AP, com o membro superior neutro (sem rotação), com inclinação MATERIAIS E MÉTODOS A incidência 1 é feita em ântero-pos- caudal de 30° do raio central. É feita com terior (AP), com rotação de 30° do pa- baixa quilovoltagem (Figura 9). É útil As incidências que foram utilizadas ciente para o lado do ombro examinado. para a visibilização de esporão ou osteó- de rotina no ombro doloroso estão apre- Isto é feito para corrigir a anteversão da fito na superfície inferior do acrômio sentadas na Tabela 2. glenóide e a retroversão do úmero tan- (Figuras 10 e 11). A incidência 3 é feita na mesma posi- ção e técnica da anterior, com exceção da Tabela 2 Incidências para ombro doloroso. inclinação cranial do raio central, de 20°. 1 – Ântero-posterior real da cintura escapular (corrigido) É utilizada para estudo da articulação 2 – Ântero-posterior normal com inclinação caudal de 30° 3 – Ântero-posterior normal com inclinação cranial de 20° 4 – Perfil de escápula com inclinação caudal de 20° (incidência em Y ou “outlet” ou túnel) 5 – Incidência transaxilar Figura 5. Artrose glenoumeral, com desvio superior do úmero (síndrome do impacto do tipo extrín- Figura 6. Erosão e depressão do tubérculo seco secundário). maior do úmero. Osteopenia regional. 242 Radiol Bras 2001;34(4):241–245
  • 3. Turtelli CM Figura 7. Depressão do tubérculo maior do Figura 8. Neoformação na inserção do tendão (entesopatia). Calcificação bursal. úmero. Calcificação da bursa. Figura 9. Ântero-posterior com inclinação cau- Figura 10. Osteoartrose acromioclavicular com Figura 11. Presença de esporão subacromial dal. Espaço subacromial normal. osteófitos inferiores. diminuindo o arco coracoacromial. acromioclavicular, dissociando-a da par- acrômio, sua inclinação, calcificações ou na pesquisa de “os” acromial, fraturas e te posterior do acrômio (Figura 12). É osteófitos no túnel do supra-espinhoso seqüelas como fragmentos (Figura 13). útil na osteoartrose hipertrófica que es- (Figuras 1 a 4). É indispensável para o Todas essas incidências devem ser treita o ACA. planejamento cirúrgico, pois dependen- feitas com baixa quilovoltagem, alta mi- A incidência 4 é também chamada de do da morfologia e topografia do acrô- liamperagem no “Bucky” e com respira- perfil da escápula, incidência em Y, inci- mio, determina-se o quanto ele deve ser ção suspensa. dência do túnel ou desfiladeiro do supra- ressecado na acromioplastia, a qual pode espinhoso (“outlet”). É feita com o pa- ser por artroscopia ou aberta. RESULTADOS ciente no “Bucky” mural (ereto), com o A incidência 5 (transaxilar) é feita ombro a examinar rodado posteriormen- com o paciente em decúbito dorsal, com Considera-se o RX simples o primei- te em 10°, o suficiente para dissociar o o filme sobre o ombro e o raio central in- ro e principal exame para a avaliação do ombro contralateral. O raio central deve cidindo na axila. É indicada para casos ombro doloroso. É muito útil na SI por incidir no acrômio inclinado caudalmen- pós-operatórios de acromioplastia, pois compressão extrínseca primária, a causa te 20°. É útil para se classificar os tipos de mostra o quanto de acrômio foi retirado, mais comum de dor no ombro. Radiol Bras 2001;34(4):241–245 243
  • 4. Avaliação do ombro doloroso pela radiologia convencional Figura 12. Ântero-posterior com inclinação cranial. Pequeno osteófito acromial. Figura 13. Incidência transaxilar normal. Nos casos de pacientes com compres- sões extrínsecas secundárias por instabi- lidade glenoumeral e na degeneração pri- mária do tendão, a RM é superior ao RX simples. As incidências recomendadas são mui- to úteis, particularmente a incidência 4 (túnel do supra-espinhoso), mas devem ser realizadas com perícia para o diag- nóstico(8) (Figura 14). As outras incidên- cias são fáceis de serem padronizadas. As medidas do grau de inclinação an- terior do acrômio são várias(9,10), mas se ele está mais próximo, anteriormente, da cabeça umeral e afastado dela, posterior- mente, é considerado como acrômio com inclinação positiva e pode levar à SI. Outra alteração importante é a osteo- Figura 14. Incidência em Y incorreta. Não se observa a parte anterior (clavicular) do acrômio. artrose hipertrófica acromioclavicular. De menos importância é o espaço subco- racóide(11). A artrografia mostra-se útil nos casos REFERÊNCIAS de pacientes operados do MR em que 1. Doneux PS, Checchia SL, Miyazaki AN. Padroni- fragmentos metálicos prejudicam o estu- zação do estudo radiográfico da cintura escapular. CONCLUSÃO Rev Bras Ortop 1998;33:883–8. do por RM e tomografia computadoriza- 2. Uri DS. MR imaging of shoulder impingement and As radiografias convencionais são, e da (TC). Nos casos de capsulite adesiva rotator cuff disease. Radiol Clin North Am 1997; 35:77–96. bastante, úteis no diagnóstico da dor no ela pode ser utilizada, mas tende a ser 3. Fu FH, Harner CD, Klein AH. Shoulder impin- ombro, em casos de SI do tipo extrínse- substituída pela RM e artro-RM(13). gement syndrome: a critical review. Clin Orthop 1991;(269):162–73. co primário. A TC tem pouca utilidade, a não ser na 4. Epstein RE, Schweitzer ME, Frieman BG, Fenlin O ultra-som é muito dependente do pesquisa de fraturas ocultas quando a JM Jr, Mitchell DG. Hooked acromion: preva- aparelho e do examinador. Tem pouca RM não puder ser realizada. lence on MR images of painful shoulders. Radi- ology 1993;187:479–81. sensibilidade para alterações ósseas. É A RM é importante nas causas intrín- 5. Stoller WD, Wolf MD. The shoulder. In: Stoller útil nas lesões tendíneas agudas, em ido- secas de alterações do MR e a artro-RM WD, ed. Magnetic resonance imaging in ortho- paedics and sports medicine. Philadelphia: Lip- sos e em pacientes sem condições para é útil nos casos de instabilidade glenou- pincott-Raven, 1997;665. realização da RM. meral (SI tipo extrínseco secundário). 6. Haygood TM, Langlotz CP, Kneeland JB, Iannotti 244 Radiol Bras 2001;34(4):241–245
  • 5. Turtelli CM JP, Williams GR Jr, Dalinka MK. Categorization 9. Edelson JG, Taitz C. Anatomy of the coraco- (215):132–8. of acromial shape: interobserver variability with acromial arch: relation to degeneration of the 12. Tirman PFJ, Bost FW, Garvin GJ, et al. Postero- MR imaging and conventional radiography. AJR acromion. J Bone Joint Surg (Br) 1992;74:589– superior glenoid impingement of the shoulder: 1994;162:1377–82. 94. findings at MR imaging and MR arthrography with 7. Neer CS II. Impingement lesions. Clin Orthop 10. Mallon WJ, Brown HR, Vogler JB III, Martinez S. arthroscopic correlation. Radiology 1994;193:431– 1983;(173):70–7. Radiographic and geometric anatomy of the sca- 6. 8. Peh WCG, Farmer THR, Totty WG. Acromial pula. Clin Orthop 1992;(277):142–54. 13. Emig EW, Schweitzer ME, Karasick D, Lubowitz arch shape: assessment with MR imaging. Radi- 11. Gerber C, Terrier F, Zehnder R, Ganz R. The subco- J. Adhesive capsulitis of the shoulder: MR diag- ology 1995;195:501–5. racoid space: an anatomic study. Clin Orthop 1987; nosis. AJR 1995;164:1457–9. Radiol Bras 2001;34(4):241–245 245