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Crianças da roça Sundy na sessão de esclarecimento sobre a malária, Príncipe, 2008   Foto: Ligia Deus
Maria de Jesus
Trovoada
/ INSTITUTO GULBENKIAN DE CIÊNCIA, PORTUGAL




TEXTO ANA SOUSA DIAS



Malária, uma palavra que muitas vezes          respostas trazem mais perguntas: a menina
atravessou a vida de Maria de Jesus Tro-       que subia às árvores e corria de bicicleta
voada dos Santos, embora ela não se lembre     tornou-se cientista. O acaso levou-a para
de ter tido a doença. Durante a infância,      a Biologia Celular e a Antropologia, temas
em São Tomé, a mãe assegurava que os           que se cruzam na investigação da malária
quatro filhos tomavam a dose semanal de        que hoje desenvolve com os olhos postos na
resoquina, mais tarde fornecida pela es-       ilha onde nasceu e para onde quer voltar.
cola. Prolongou a idade das perguntas cujas



É no Instituto Gulbenkian de Ciência que       se deliciar com as carambolas maduras.
a conversa se desenrola, com explicações       «Andava sempre de calçõezinhos, minha
minuciosas de Maria de Jesus quando quer       mãe tinha sempre o cuidado de os fazer.»
esclarecer um pormenor científico. Uma         Tinha 8 ou 9 anos quando um acidente a fez
visita guiada aos laboratórios dá para per-    escolher um rumo para a vida: o cão que
ceber como os dias se passam entre o com-      adorava morreu atropelado, e ela decidiu
putador e a bancada, na equipa coordenada      ser veterinária. Ainda hoje não sabe se
por Carlos Penha-Gonçalves. Inicialmente,      teria sido melhor seguir este sonho que
não está muito à vontade a conversar, talvez   a vida não deixou concretizar, mas tem a
preferisse mostrar o trabalho a alguém que     certeza de que não gostaria de ter seguido
percebesse um mínimo de biologia celular       Medicina como as duas irmãs mais velhas.
para avançar com maior rapidez. No en-         «Sensibiliza-me imenso o sofrimento, só
tanto, nunca foge às perguntas e volta atrás   de pensar que podia alguém morrer, a pre-
para explicar melhor quando lhe parece         cisar da minha ajuda e eu sem poder fazer
necessário. Disfarça a preocupação com as      nada… Não conseguiria suportar.»
horas que vão passando, porque precisa de         Maria de Jesus não tem uma memória
ir buscar o filho mais novo à reunião dos      clara do nascimento da República de São
escuteiros, mas vai ganhando confiança         Tomé e Príncipe, a 12 de Julho de 1975, na
ao longo da conversa. Está habituada a         altura estava em Portugal. «Lembro-me
perder-se nas horas, entregue ao trabalho      dos preparativos, na altura da revolução,
de laboratório, numa sequência rigorosa e      nos meses que antecederam a independên-
paciente de operações. Percebe-se que esta     cia. A minha irmã fazia parte da associação
mulher, nascida em São Tomé no dia de          cívica, que mobilizava as pessoas para
Natal de 1961, gosta muito do que faz.         sessões de esclarecimento. Falou-se muito
   E nada faria prever esta vida num espaço    nessa altura sobre a história da população
fechado porque, nos tempos de menina,          santomense, houve uma grande procura
ela era uma «maria-rapaz» que jogava           das verdadeiras raízes. Todos tinham o
badmínton na rua, andava de bicicleta e        cuidado de se expressar sempre na língua
trepava à caramboleira do quintal para         de São Tomé.» O apelido da cientista revela
MARIA DE JESUS TROVOADA, ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA, p101




                                                                                                              Foto: Joana Barros
Maria de Jesus Trovoada no Laboratório de Genética de Doenças, Instituto Gulbenkian de Ciência, 2008



que pertence à família de Miguel Trovoada                   que lhe custou particularmente porque,
que assumiu a presidência do primeiro                       por causa dos desacertos dos currículos,
governo de São Tomé independente (1975-                     chumbou no 5.º ano na Escola Rainha Dona
1979), e que depois foi eleito duas vezes                   Leonor, em Alvalade.
Presidente da República (1991-2001).                           Ao contrário do que hoje acontece, não
  A questão das origens da população do                     existia ainda ensino superior em São Tomé,
país fez parte das perguntas a que ela pro-                 era por isso necessário sair do país.
curou responder através da investigação                        Os três irmãos já tinham vindo para
científica, mas esse é um tema que virá mais                Portugal — as duas raparigas mais velhas
tarde na conversa. Por agora, ela está a falar              para estudar Medicina e o irmão Filosofia.
de «coisinhas que ficaram» desses tempos                    Maria de Jesus casou-se entretanto e foi
de adolescência: «Em nossa casa não falá-                   viver com o marido para Luanda, onde
vamos a língua de São Tomé, falávamos só                    nasceu a primeira filha. Estava em plena
português.»                                                 gravidez quando recomeçou os estudos
  Recorda um bom mestre de Língua Por-                      mas, ao contrário do que desejaria, não
tuguesa: «Eu tinha uma imaginação muito                     havia curso de Veterinária em Luanda, ape-
fértil e o professor, que era português, in-                nas no Huambo. Angola estava em guerra
centivava imenso a parte criativa. Adorava                  civil e a jovem mãe não quis sair da capital
as suas aulas, inventava histórias, escrevia                — inscreveu-se em Biologia, o curso mais
contos.» Mas gostava mais de Ciências e de                  próximo do que pretendia, e começou
Geografia e, sobretudo, estava decidida a                   a dar aulas de Ciências da Natureza no
ser veterinária e portanto escolheu a área                  Liceu Augusto N’Gangula. «Havia imensas
das Ciências.                                               dificuldades, era terrível, as lojas não
  Viveu até ao fim do ensino secundário                     estavam abastecidas. Para se conseguir
na capital santomense, na casa familiar da                  qualquer coisa era preciso ficarmos em
Rua Padre Martim Pinto da Rocha, com ex-                    filas enormes, eu ou o meu marido. Foram
cepção de uma temporada que passou em                       tempos muito difíceis... e muito bons, ao
Lisboa, com a mãe e uma irmã — um ano                       mesmo tempo.»

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Maria Jesus Trovoada (excerto do livro "Vidas a Descobrir")

  • 1.
  • 2. Foto: Lígia Deus p95 Maria de Jesus Trovoada TEXTO ANA SOUSA DIAS DATA DA REPORTAGEM 11/2007 Maria de Jesus na entrada principal da Casa Grande da Roça Sundy, Príncipe, 2005 Antropologia Biológica São Tomé e Príncipe
  • 3.
  • 4. Carlos Penha-Gonçalves, Lígia Deus e Maria de Jesus Trovoada, Príncipe, 2005 Foto: Roni Moya
  • 5.
  • 6. Crianças da roça Sundy na sessão de esclarecimento sobre a malária, Príncipe, 2008 Foto: Ligia Deus
  • 7. Maria de Jesus Trovoada / INSTITUTO GULBENKIAN DE CIÊNCIA, PORTUGAL TEXTO ANA SOUSA DIAS Malária, uma palavra que muitas vezes respostas trazem mais perguntas: a menina atravessou a vida de Maria de Jesus Tro- que subia às árvores e corria de bicicleta voada dos Santos, embora ela não se lembre tornou-se cientista. O acaso levou-a para de ter tido a doença. Durante a infância, a Biologia Celular e a Antropologia, temas em São Tomé, a mãe assegurava que os que se cruzam na investigação da malária quatro filhos tomavam a dose semanal de que hoje desenvolve com os olhos postos na resoquina, mais tarde fornecida pela es- ilha onde nasceu e para onde quer voltar. cola. Prolongou a idade das perguntas cujas É no Instituto Gulbenkian de Ciência que se deliciar com as carambolas maduras. a conversa se desenrola, com explicações «Andava sempre de calçõezinhos, minha minuciosas de Maria de Jesus quando quer mãe tinha sempre o cuidado de os fazer.» esclarecer um pormenor científico. Uma Tinha 8 ou 9 anos quando um acidente a fez visita guiada aos laboratórios dá para per- escolher um rumo para a vida: o cão que ceber como os dias se passam entre o com- adorava morreu atropelado, e ela decidiu putador e a bancada, na equipa coordenada ser veterinária. Ainda hoje não sabe se por Carlos Penha-Gonçalves. Inicialmente, teria sido melhor seguir este sonho que não está muito à vontade a conversar, talvez a vida não deixou concretizar, mas tem a preferisse mostrar o trabalho a alguém que certeza de que não gostaria de ter seguido percebesse um mínimo de biologia celular Medicina como as duas irmãs mais velhas. para avançar com maior rapidez. No en- «Sensibiliza-me imenso o sofrimento, só tanto, nunca foge às perguntas e volta atrás de pensar que podia alguém morrer, a pre- para explicar melhor quando lhe parece cisar da minha ajuda e eu sem poder fazer necessário. Disfarça a preocupação com as nada… Não conseguiria suportar.» horas que vão passando, porque precisa de Maria de Jesus não tem uma memória ir buscar o filho mais novo à reunião dos clara do nascimento da República de São escuteiros, mas vai ganhando confiança Tomé e Príncipe, a 12 de Julho de 1975, na ao longo da conversa. Está habituada a altura estava em Portugal. «Lembro-me perder-se nas horas, entregue ao trabalho dos preparativos, na altura da revolução, de laboratório, numa sequência rigorosa e nos meses que antecederam a independên- paciente de operações. Percebe-se que esta cia. A minha irmã fazia parte da associação mulher, nascida em São Tomé no dia de cívica, que mobilizava as pessoas para Natal de 1961, gosta muito do que faz. sessões de esclarecimento. Falou-se muito E nada faria prever esta vida num espaço nessa altura sobre a história da população fechado porque, nos tempos de menina, santomense, houve uma grande procura ela era uma «maria-rapaz» que jogava das verdadeiras raízes. Todos tinham o badmínton na rua, andava de bicicleta e cuidado de se expressar sempre na língua trepava à caramboleira do quintal para de São Tomé.» O apelido da cientista revela
  • 8. MARIA DE JESUS TROVOADA, ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA, p101 Foto: Joana Barros Maria de Jesus Trovoada no Laboratório de Genética de Doenças, Instituto Gulbenkian de Ciência, 2008 que pertence à família de Miguel Trovoada que lhe custou particularmente porque, que assumiu a presidência do primeiro por causa dos desacertos dos currículos, governo de São Tomé independente (1975- chumbou no 5.º ano na Escola Rainha Dona 1979), e que depois foi eleito duas vezes Leonor, em Alvalade. Presidente da República (1991-2001). Ao contrário do que hoje acontece, não A questão das origens da população do existia ainda ensino superior em São Tomé, país fez parte das perguntas a que ela pro- era por isso necessário sair do país. curou responder através da investigação Os três irmãos já tinham vindo para científica, mas esse é um tema que virá mais Portugal — as duas raparigas mais velhas tarde na conversa. Por agora, ela está a falar para estudar Medicina e o irmão Filosofia. de «coisinhas que ficaram» desses tempos Maria de Jesus casou-se entretanto e foi de adolescência: «Em nossa casa não falá- viver com o marido para Luanda, onde vamos a língua de São Tomé, falávamos só nasceu a primeira filha. Estava em plena português.» gravidez quando recomeçou os estudos Recorda um bom mestre de Língua Por- mas, ao contrário do que desejaria, não tuguesa: «Eu tinha uma imaginação muito havia curso de Veterinária em Luanda, ape- fértil e o professor, que era português, in- nas no Huambo. Angola estava em guerra centivava imenso a parte criativa. Adorava civil e a jovem mãe não quis sair da capital as suas aulas, inventava histórias, escrevia — inscreveu-se em Biologia, o curso mais contos.» Mas gostava mais de Ciências e de próximo do que pretendia, e começou Geografia e, sobretudo, estava decidida a a dar aulas de Ciências da Natureza no ser veterinária e portanto escolheu a área Liceu Augusto N’Gangula. «Havia imensas das Ciências. dificuldades, era terrível, as lojas não Viveu até ao fim do ensino secundário estavam abastecidas. Para se conseguir na capital santomense, na casa familiar da qualquer coisa era preciso ficarmos em Rua Padre Martim Pinto da Rocha, com ex- filas enormes, eu ou o meu marido. Foram cepção de uma temporada que passou em tempos muito difíceis... e muito bons, ao Lisboa, com a mãe e uma irmã — um ano mesmo tempo.»