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Sala do departamento de Ciências Políticas da Universidade Católica, 2008   Foto: Joana Barros
Fátima
Monteiro
/ UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA, PORTUGAL




TEXTO ANA SOUSA DIAS



O percurso de Fátima Monteiro é feito de        tema e continuará por aí fora num processo
obstinação a partir de uma pergunta pes-        científico. A vida deu-lhe vários lugares
soal. Mas não fica centrada nela própria,       que se entrelaçam numa raiz múltipla. Mo-
descobre noutros a cumplicidade de per-         ra em Lisboa, é investigadora em estudos
guntas idênticas e, no processo de inves-       políticos e relações internacionais e tem
tigar as respostas para eles, descobre-se       um projecto filantrópico em Cabo Verde.
a si mesma. Se escolhe um tema, há-de           As palavras-chave de hoje são segurança,
persistir em aprofundá-lo, da ramificação       conflito e peacemaking em África.
das respostas há-de escolher um novo



Maria de Fátima de Brito Monteiro é natu-       Lourenço Marques), Nampula, Lisboa,
ral de Cabo Verde, cresceu em Moçam-            Boston, cidade em torno da qual tem espa-
bique, formou-se na Faculdade de Letras         lhados os familiares mais próximos.
de Lisboa, doutorou-se na Universidade             Esta diversidade levou-a a escolher co-
de Harvard e fez um pós-doutoramento            mo tema de doutoramento o poeta Rui
em Yale, também nos Estados Unidos.             Knopfli, nascido em Inhambane. Qual é
Foi diplomata, bibliotecária, tradutora,        o meu lugar de pertença? Eis a pergunta a
professora universitária, e é investigadora     que quis responder ao estudar um homem
nas áreas da história cultural e política dos   dividido entre as origens em Moçambique
PALOP e das relações entre os mesmos e a        e em Portugal. Com ele conversou longa-
Europa. Onde está o «quarto que seja seu»?      mente, mas lá iremos mais adiante. Agora é
Talvez na dupla nacionalidade — é portu-        altura de falar sobre o que Fátima Monteiro
guesa e cabo-verdiana.                          faz em Lisboa, desde Março de 2008, como
   Nos limites do arquipélago africano,         research fellow do Instituto de Estudos
também a família trazia várias pertenças:       Políticos (IEP) da Universidade Católica.
São Nicolau, São Vicente, Santiago, Santo       Já agora, uma explicação que Fátima quis
Antão. Foi nesta última ilha, em Ponta do       dar: «Mantivemos a designação research
Sol, o lugar mais a norte do arquipélago,       fellow em inglês porque em português é
que Fátima nasceu em 1958. Os pais, hoje        difícil encontrar o equivalente, é um con-
aposentados da função pública portuguesa,       ceito de associado, não usamos esse termo
viviam em São Vicente mas quiseram que          porque já existe outro nos Estatutos da
ela nascesse na casa dos avós. Quando           Carreira Docente e de investigação.»
tinha três anos, foram para Inhambane,             Prepara-se para coordenar um projecto
em Moçambique, com o oceano Índico              de investigação sobre ameaças à segurança
a mudar toda a perspectiva. O percurso          na região da África Ocidental, centrado na
escolar e académico teve alternâncias en-       análise comparativa dos papéis que Cabo
tre os dois oceanos, o Índico e o Atlântico:    Verde e a Guiné-Bissau desempenham nes-
Inhambane, São Vicente, Maputo (então           se contexto. O financiamento, através de
FÁTIMA MONTEIRO, CIÊNCIAS POLÍTICAS, p145




                                                                                                           Foto: arquivo pessoal de Fátima Monteiro
Fátima Monteiro (à direita), Nacala, Moçambique, 1975



uma bolsa da Fundação para a Ciência e a                Cabo Verde, mas comecei por Portugal,
Tecnologia (FCT), garantiria à partida a                passei para Angola e aqui no Instituto vou
viabilidade do projecto, tal como foi origi-            explorar mais Cabo Verde a partir de uma
nalmente concebido. «Com ou sem esse                    perspectiva mais comparativa.»
financiamento, é um projecto para avan-                    Um dado a reter: ela deseja fazer uma
çar, mesmo que tenha de ser redimensio-                 investigação que possa ter consequên-
nado», sublinha a investigadora. Fátima                 cias práticas. E explica: «O conceito de
integra também a equipa de um projecto                  investigação fundamental é percebido de
do Instituto de Defesa Nacional, a ser                  forma errónea. É fundamental mas, a longo
desenvolvido em parceria com o Centro de                prazo, terá de ter uma aplicabilidade. A
Estudos Africanos do ISCTE e o IEP, «sobre              não ser que se chegue a um beco sem saída
o papel que Portugal poderá desempenhar                 e se constate que aquele projecto não tem
na mediação de conflitos violentos e no                 qualquer tipo de possibilidade de ser apli-
peacemaking em África».                                 cado, o que pode ser muito frustrante para
   Desde o final de 2008, Fátima Monteiro               o investigador.»
pôs em prática um ciclo de conferências                    Fátima Monteiro diz que é um pouco
sobre os países da CPLP. As conferências                em função desse critério que escolhe os
são proferidas pelos embaixadores desses                projectos. «O contrário seria uma perda
países e têm o propósito de dar a conhecer              das minhas energias mentais, mas a
as realidades políticas, económicas, sociais            questão é mais funda: tem que ver com
e culturais de cada um deles. «Tem havido               o princípio do retorno social, resulta da
muito boa adesão, seja de estudantes e                  minha experiência em Harvard. Apesar
investigadores da área, seja de um público              de ser uma universidade que dá muita
diversificado.»                                         importância à investigação fundamental
                                                        e não poupa quando vê que uma ideia
Lusofonia e retorno social                              embrionária tem pernas para andar e que
«O meu espaço de reflexão é o espaço                    há uma equipa para conduzir esse projecto
lusófono. De vez em quando, vou para                    de uma forma séria e com qualidade, a

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Fátima Monteiro (excerto do livro "Vidas a Descobrir")

  • 1.
  • 2. Foto: Joana Barros p141 Fátima Monteiro TEXTO ANA SOUSA DIAS DATA DA REPORTAGEM 03/2008 Departamento de Ciências Políticas, Universidade Católica Portuguesa, 2008 Ciências Políticas Cabo Verde
  • 3.
  • 4. Sala do departamento de Ciências Políticas da Universidade Católica, 2008 Foto: Joana Barros
  • 5. Fátima Monteiro / UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA, PORTUGAL TEXTO ANA SOUSA DIAS O percurso de Fátima Monteiro é feito de tema e continuará por aí fora num processo obstinação a partir de uma pergunta pes- científico. A vida deu-lhe vários lugares soal. Mas não fica centrada nela própria, que se entrelaçam numa raiz múltipla. Mo- descobre noutros a cumplicidade de per- ra em Lisboa, é investigadora em estudos guntas idênticas e, no processo de inves- políticos e relações internacionais e tem tigar as respostas para eles, descobre-se um projecto filantrópico em Cabo Verde. a si mesma. Se escolhe um tema, há-de As palavras-chave de hoje são segurança, persistir em aprofundá-lo, da ramificação conflito e peacemaking em África. das respostas há-de escolher um novo Maria de Fátima de Brito Monteiro é natu- Lourenço Marques), Nampula, Lisboa, ral de Cabo Verde, cresceu em Moçam- Boston, cidade em torno da qual tem espa- bique, formou-se na Faculdade de Letras lhados os familiares mais próximos. de Lisboa, doutorou-se na Universidade Esta diversidade levou-a a escolher co- de Harvard e fez um pós-doutoramento mo tema de doutoramento o poeta Rui em Yale, também nos Estados Unidos. Knopfli, nascido em Inhambane. Qual é Foi diplomata, bibliotecária, tradutora, o meu lugar de pertença? Eis a pergunta a professora universitária, e é investigadora que quis responder ao estudar um homem nas áreas da história cultural e política dos dividido entre as origens em Moçambique PALOP e das relações entre os mesmos e a e em Portugal. Com ele conversou longa- Europa. Onde está o «quarto que seja seu»? mente, mas lá iremos mais adiante. Agora é Talvez na dupla nacionalidade — é portu- altura de falar sobre o que Fátima Monteiro guesa e cabo-verdiana. faz em Lisboa, desde Março de 2008, como Nos limites do arquipélago africano, research fellow do Instituto de Estudos também a família trazia várias pertenças: Políticos (IEP) da Universidade Católica. São Nicolau, São Vicente, Santiago, Santo Já agora, uma explicação que Fátima quis Antão. Foi nesta última ilha, em Ponta do dar: «Mantivemos a designação research Sol, o lugar mais a norte do arquipélago, fellow em inglês porque em português é que Fátima nasceu em 1958. Os pais, hoje difícil encontrar o equivalente, é um con- aposentados da função pública portuguesa, ceito de associado, não usamos esse termo viviam em São Vicente mas quiseram que porque já existe outro nos Estatutos da ela nascesse na casa dos avós. Quando Carreira Docente e de investigação.» tinha três anos, foram para Inhambane, Prepara-se para coordenar um projecto em Moçambique, com o oceano Índico de investigação sobre ameaças à segurança a mudar toda a perspectiva. O percurso na região da África Ocidental, centrado na escolar e académico teve alternâncias en- análise comparativa dos papéis que Cabo tre os dois oceanos, o Índico e o Atlântico: Verde e a Guiné-Bissau desempenham nes- Inhambane, São Vicente, Maputo (então se contexto. O financiamento, através de
  • 6. FÁTIMA MONTEIRO, CIÊNCIAS POLÍTICAS, p145 Foto: arquivo pessoal de Fátima Monteiro Fátima Monteiro (à direita), Nacala, Moçambique, 1975 uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Cabo Verde, mas comecei por Portugal, Tecnologia (FCT), garantiria à partida a passei para Angola e aqui no Instituto vou viabilidade do projecto, tal como foi origi- explorar mais Cabo Verde a partir de uma nalmente concebido. «Com ou sem esse perspectiva mais comparativa.» financiamento, é um projecto para avan- Um dado a reter: ela deseja fazer uma çar, mesmo que tenha de ser redimensio- investigação que possa ter consequên- nado», sublinha a investigadora. Fátima cias práticas. E explica: «O conceito de integra também a equipa de um projecto investigação fundamental é percebido de do Instituto de Defesa Nacional, a ser forma errónea. É fundamental mas, a longo desenvolvido em parceria com o Centro de prazo, terá de ter uma aplicabilidade. A Estudos Africanos do ISCTE e o IEP, «sobre não ser que se chegue a um beco sem saída o papel que Portugal poderá desempenhar e se constate que aquele projecto não tem na mediação de conflitos violentos e no qualquer tipo de possibilidade de ser apli- peacemaking em África». cado, o que pode ser muito frustrante para Desde o final de 2008, Fátima Monteiro o investigador.» pôs em prática um ciclo de conferências Fátima Monteiro diz que é um pouco sobre os países da CPLP. As conferências em função desse critério que escolhe os são proferidas pelos embaixadores desses projectos. «O contrário seria uma perda países e têm o propósito de dar a conhecer das minhas energias mentais, mas a as realidades políticas, económicas, sociais questão é mais funda: tem que ver com e culturais de cada um deles. «Tem havido o princípio do retorno social, resulta da muito boa adesão, seja de estudantes e minha experiência em Harvard. Apesar investigadores da área, seja de um público de ser uma universidade que dá muita diversificado.» importância à investigação fundamental e não poupa quando vê que uma ideia Lusofonia e retorno social embrionária tem pernas para andar e que «O meu espaço de reflexão é o espaço há uma equipa para conduzir esse projecto lusófono. De vez em quando, vou para de uma forma séria e com qualidade, a