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Cláudia Sousa (excerto do livro "Vidas a Descobrir")
Cólobo vermelho («Procolobus badius temmincki») a alimentar-se, Guiné-Bissau, 2007                                             Foto: Cláudia Sousa




            Portugal
                                                                                     TEXTO SÍLVIO MENDES
                                                                                                                     Cláudia

                                                                                     DATA DA REPORTAGEM 09/2008




                   Primatologia
                                                                                                                  Sousa
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Cláudia Sousa (excerto do livro "Vidas a Descobrir")
Cláudia Sousa na travessia do rio Cacine durante a prospecção de chimpanzés com Catarina Casanova, Guiné-Bissau, 2007   Foto: Catarina Casanova
Cláudia Sousa (excerto do livro "Vidas a Descobrir")
Cláudia Sousa e Zeca Dju, o seu intérprete e guia, a realizar um questionário a uma menina Nalu na escola de Caiquene, Parque Nacional de Cantanhez, Guiné-Bissau, 2007   Foto: Rui Sá
Cláudia
Sousa
/ UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, PORTUGAL




TEXTO SÍLVIO MENDES



No Jardim Zoológico de Lisboa, deu os          e um projecto de conservação de espécies
primeiros passos na área da Primatologia,      primatas na Guiné-Bissau, que ajuda a
estudando o comportamento social dos           coordenar.
chimpanzés. No Japão investigou a capaci-        Cláudia partilha todas as suas histórias
dade cognitiva dos chimpanzés. Em África       no refúgio do seu gabinete recheado de re-
viveu os momentos mais felizes e alguns        cordações de África. E conta como, apesar
dos mais difíceis da sua carreira a observar   de feliz com a sua actividade de docente em
chimpanzés selvagens. De volta a Portugal,     Portugal, tem muita vontade de integrar
Cláudia Sousa divide o seu tempo entre o       durante mais tempo projectos de investi-
ensino, na Faculdade de Ciências Sociais e     gação em território africano.
Humanas da Universidade Nova de Lisboa,



Quando Cláudia Sousa iniciou a Licencia-       de contribuir de alguma forma para a ciên-
tura em Biologia, na Universidade de Coim-     cia». Só não sabia ainda como. Recorda-se
bra, estava ainda longe de imaginar que        perfeitamente do momento em que surgiu
alguns anos mais tarde estaria a trabalhar     a vontade de seguir uma carreira em Pri-
com chimpanzés num laboratório japonês.        matologia. Aconteceu durante uma aula de
Muito menos lhe passava pela cabeça que        Antropologia Geral, já (ou apenas) no ter-
um chimpanzé, em plena floresta da Gui-        ceiro ano da licenciatura, em que se falava
né-Conacri, viesse um dia a sentar-se a seu    sobre os contributos da Antropologia para
lado enquanto partia nozes. E que o mesmo      o conhecimento de outras áreas. «Quando
primata, um ano depois, a perseguiria com      se começou a falar de chimpanzés, senti que
pedras e paus para mostrar a sua virilidade    era aquilo que eu gostava mesmo de fazer.»
ao resto da comunidade de chimpanzés.          Mais do que sentir, Cláudia Sousa fez-se ao
  A primatóloga portuguesa de 33 anos          caminho. Conversou com docentes para
nasceu em Coimbra, mas viveu na Figueira       averiguar a possibilidade de fazer um está-
da Foz até aos 18 anos, altura em que se       gio com chimpanzés e foi reencaminhada
mudou para a «cidade do conhecimento»          para Lisboa para falar com Catarina Casa-
para iniciar o seu percurso universitário.     nova, hoje sua colega de investigação, que
Para trás ficou uma infância feliz, durante    tinha feito um mestrado com chimpanzés
a qual já revelava um fascínio pela nature-    do Jardim Zoológico de Lisboa. Foi aí que
za. O primeiro livro a cativá-la não tinha     tudo começou. Uma estrada que a levou ao
nada a ver com primatas e chamava-se           Japão, às florestas africanas e à docência na
A Prodigiosa Aventura das Plantas, de          Universidade Nova de Lisboa (UNL).
Jean-Marie Pelt e Jean-Pierre Cuny.               Sentada na secretária do seu gabinete,
  Indecisa entre Medicina, Medicina Ve-        na UNL, Cláudia Sousa fala-nos da sua vida
terinária ou Biologia, acabou por optar        com os chimpanzés. O seu gabinete é mais
pela última porque sempre teve «vontade        africano do que japonês. Pósteres, foto-
CLÁUDIA SOUSA, PRIMATOLOGIA, p179




                                                                                                   Foto: arquivo pessoal de Cláudia Sousa
Cláudia Sousa com 6 anos de idade, 1981



grafias e lenços africanos decoram a sala,       fui lá falar com ele.» O investigador japonês
onde também marca presença um pequeno            estava a dar um conjunto de palestras e, nos
primata de pelúcia (um gibão da Indonésia)       intervalos, fazia-lhe perguntas e trocavam
pendurado num vaso. A sala rectangular           impressões. Passados três dias, perguntou-
termina com duas grandes janelas viradas         -lhe quanto tempo precisava para organizar
para a cidade. Lá fora, duas palmeiras im-       as coisas e juntar-se ao projecto de inves-
ponentes e uma correria de gente anónima.        tigação. Um mês depois, a 30 de Janeiro
   No final da licenciatura, Cláudia Sousa,      de 1999, Cláudia Sousa apanhava um avião
determinada a trabalhar com chimpan-             para o Japão.
zés, escreveu dezenas de cartas e e-mails           Se é verdade que a família sempre a dei-
«a todos os directores de laboratório e          xou à vontade para decidir o que achasse
projectos possíveis e imaginários». Teve         melhor para a sua vida, não menos certa
uma percentagem de respostas baixíssima, e       foi a preocupação quando perceberam que
apenas duas ou três «semipositivas». «Para       Cláudia optava por seguir uma área que não
quem está em Portugal, onde não existe           lhes parecia oferecer muitas saídas profis-
tradição nesta área, encontrar alguém no es-     sionais. «E que vais tu fazer com isso?», era
trangeiro que nos aceite para recolher dados     a pergunta comum. «Mas eu sempre lhes
com chimpanzés leva algum tempo», ex-            disse que tinha de trabalhar numa coisa de
plica. Uma das respostas veio do director do     que gostasse, independentemente de isso
Primate Research Institute da Universidade       vir ou não a trazer-me um emprego a curto
de Quioto, que lhe dizia qualquer coisa como     prazo», esclarece a cientista.
isto: «Durante o mês de Dezembro (de 1998)          Contudo, será que hoje, volvidos dez
vou estar em Paris, se quiser pode ir lá falar   anos, é fácil explicar o que faz a familiares
comigo». «Nem pensei duas vezes e, numa          e amigos? «A maior parte das pessoas do
altura em que não tinha muito dinheiro,          meu ciclo de amizades sabe o que eu faço,
porque ainda era estudante e vivia à custa       a esses nunca tive dificuldade em explicar.
dos pais, comprei um bilhete de autocarro,       Mas se conheço uma pessoa nova que me
daqueles que demoram 23 horas a chegar, e        pergunta o que faço profissionalmente,

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  • 4. Cláudia Sousa na travessia do rio Cacine durante a prospecção de chimpanzés com Catarina Casanova, Guiné-Bissau, 2007 Foto: Catarina Casanova
  • 6. Cláudia Sousa e Zeca Dju, o seu intérprete e guia, a realizar um questionário a uma menina Nalu na escola de Caiquene, Parque Nacional de Cantanhez, Guiné-Bissau, 2007 Foto: Rui Sá
  • 7. Cláudia Sousa / UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, PORTUGAL TEXTO SÍLVIO MENDES No Jardim Zoológico de Lisboa, deu os e um projecto de conservação de espécies primeiros passos na área da Primatologia, primatas na Guiné-Bissau, que ajuda a estudando o comportamento social dos coordenar. chimpanzés. No Japão investigou a capaci- Cláudia partilha todas as suas histórias dade cognitiva dos chimpanzés. Em África no refúgio do seu gabinete recheado de re- viveu os momentos mais felizes e alguns cordações de África. E conta como, apesar dos mais difíceis da sua carreira a observar de feliz com a sua actividade de docente em chimpanzés selvagens. De volta a Portugal, Portugal, tem muita vontade de integrar Cláudia Sousa divide o seu tempo entre o durante mais tempo projectos de investi- ensino, na Faculdade de Ciências Sociais e gação em território africano. Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Quando Cláudia Sousa iniciou a Licencia- de contribuir de alguma forma para a ciên- tura em Biologia, na Universidade de Coim- cia». Só não sabia ainda como. Recorda-se bra, estava ainda longe de imaginar que perfeitamente do momento em que surgiu alguns anos mais tarde estaria a trabalhar a vontade de seguir uma carreira em Pri- com chimpanzés num laboratório japonês. matologia. Aconteceu durante uma aula de Muito menos lhe passava pela cabeça que Antropologia Geral, já (ou apenas) no ter- um chimpanzé, em plena floresta da Gui- ceiro ano da licenciatura, em que se falava né-Conacri, viesse um dia a sentar-se a seu sobre os contributos da Antropologia para lado enquanto partia nozes. E que o mesmo o conhecimento de outras áreas. «Quando primata, um ano depois, a perseguiria com se começou a falar de chimpanzés, senti que pedras e paus para mostrar a sua virilidade era aquilo que eu gostava mesmo de fazer.» ao resto da comunidade de chimpanzés. Mais do que sentir, Cláudia Sousa fez-se ao A primatóloga portuguesa de 33 anos caminho. Conversou com docentes para nasceu em Coimbra, mas viveu na Figueira averiguar a possibilidade de fazer um está- da Foz até aos 18 anos, altura em que se gio com chimpanzés e foi reencaminhada mudou para a «cidade do conhecimento» para Lisboa para falar com Catarina Casa- para iniciar o seu percurso universitário. nova, hoje sua colega de investigação, que Para trás ficou uma infância feliz, durante tinha feito um mestrado com chimpanzés a qual já revelava um fascínio pela nature- do Jardim Zoológico de Lisboa. Foi aí que za. O primeiro livro a cativá-la não tinha tudo começou. Uma estrada que a levou ao nada a ver com primatas e chamava-se Japão, às florestas africanas e à docência na A Prodigiosa Aventura das Plantas, de Universidade Nova de Lisboa (UNL). Jean-Marie Pelt e Jean-Pierre Cuny. Sentada na secretária do seu gabinete, Indecisa entre Medicina, Medicina Ve- na UNL, Cláudia Sousa fala-nos da sua vida terinária ou Biologia, acabou por optar com os chimpanzés. O seu gabinete é mais pela última porque sempre teve «vontade africano do que japonês. Pósteres, foto-
  • 8. CLÁUDIA SOUSA, PRIMATOLOGIA, p179 Foto: arquivo pessoal de Cláudia Sousa Cláudia Sousa com 6 anos de idade, 1981 grafias e lenços africanos decoram a sala, fui lá falar com ele.» O investigador japonês onde também marca presença um pequeno estava a dar um conjunto de palestras e, nos primata de pelúcia (um gibão da Indonésia) intervalos, fazia-lhe perguntas e trocavam pendurado num vaso. A sala rectangular impressões. Passados três dias, perguntou- termina com duas grandes janelas viradas -lhe quanto tempo precisava para organizar para a cidade. Lá fora, duas palmeiras im- as coisas e juntar-se ao projecto de inves- ponentes e uma correria de gente anónima. tigação. Um mês depois, a 30 de Janeiro No final da licenciatura, Cláudia Sousa, de 1999, Cláudia Sousa apanhava um avião determinada a trabalhar com chimpan- para o Japão. zés, escreveu dezenas de cartas e e-mails Se é verdade que a família sempre a dei- «a todos os directores de laboratório e xou à vontade para decidir o que achasse projectos possíveis e imaginários». Teve melhor para a sua vida, não menos certa uma percentagem de respostas baixíssima, e foi a preocupação quando perceberam que apenas duas ou três «semipositivas». «Para Cláudia optava por seguir uma área que não quem está em Portugal, onde não existe lhes parecia oferecer muitas saídas profis- tradição nesta área, encontrar alguém no es- sionais. «E que vais tu fazer com isso?», era trangeiro que nos aceite para recolher dados a pergunta comum. «Mas eu sempre lhes com chimpanzés leva algum tempo», ex- disse que tinha de trabalhar numa coisa de plica. Uma das respostas veio do director do que gostasse, independentemente de isso Primate Research Institute da Universidade vir ou não a trazer-me um emprego a curto de Quioto, que lhe dizia qualquer coisa como prazo», esclarece a cientista. isto: «Durante o mês de Dezembro (de 1998) Contudo, será que hoje, volvidos dez vou estar em Paris, se quiser pode ir lá falar anos, é fácil explicar o que faz a familiares comigo». «Nem pensei duas vezes e, numa e amigos? «A maior parte das pessoas do altura em que não tinha muito dinheiro, meu ciclo de amizades sabe o que eu faço, porque ainda era estudante e vivia à custa a esses nunca tive dificuldade em explicar. dos pais, comprei um bilhete de autocarro, Mas se conheço uma pessoa nova que me daqueles que demoram 23 horas a chegar, e pergunta o que faço profissionalmente,