Monografia apresentada à Banca Examinadora do Curso de Jornalismo da Faculdade Araguaia, como requisito parcial para a obtenção do título de Jornalista, sob a orientação do Professor Ms. Welliton Carlos da Silva.
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
A INFLUÊNCIA DA TELENOVELA BRASILEIRA: UM ESTUDO DE RECEPÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE EM INSENSATO CORAÇÃO
1. VANESSA MAIA DE CASTRO
A INFLUÊNCIA DA TELENOVELA BRASILEIRA: UM ESTUDO DE RECEPÇÃO
DA HOMOSSEXUALIDADE EM INSENSATO CORAÇÃO
FACULDADE ARAGUAIA
GOIÂNIA / 2011
2. VANESSA MAIA DE CASTRO
A INFLUÊNCIA DA TELENOVELA BRASILEIRA: UM ESTUDO DE RECEPÇÃO
DA HOMOSSEXUALIDADE EM INSENSATO CORAÇÃO
Monografia apresentada à Banca Examinadora
do Curso de Jornalismo da Faculdade
Araguaia, como requisito parcial para a
obtenção do título de Jornalista, sob a
orientação do Professor Ms. Welliton Carlos da
Silva.
FACULDADE ARAGUAIA
GOIÂNIA / 2011
4. DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu querido avô Genelci Maia (In
memória), que há dois anos nos deixou com muita
saudade. Um grande homem, pai, avô e bisavô.
5. AGRADECIMENTOS
A Deus, que abençoou meu caminho durante esses quatro
anos de trabalho e estudo.
A minha mãe Elvira Maia, minha avó Sebastiana Maia e
minha irmã Carina Mundim, grandes mulheres em que
sempre me espelhei.
Ao meu pai Rubens Castro, que apesar da distância,
sempre esteve e está ao meu lado.
Ao meu professor e orientador Welliton Carlos, que
acompanhou a elaboração deste trabalho.
Aos meus grandes amigos Rebeca Morais e Rafael Vaz,
que sempre estiveram presentes durante essa caminhada e
tenho a certeza de que sempre estarão em todos os
momentos da minha vida.
A todos meus professores, colegas de sala, e funcionários
da faculdade, em especial a colega Rachel Araújo,
representante da turma, sempre dedicada.
8. 7
RESUMO
Este trabalho acadêmico apresenta um estudo da influência da telenovela na realidade
brasileira. Como objeto de pesquisa, foi utilizada a telenovela Insensato Coração (2011), que
abordou o tema homossexualidade e homofobia. Os principais objetivos eram entender o
processo de aceitação das relações homoafetivas através da abordagem da telenovela e
discutir a importância da mesma, como elemento cultural na sociedade. Foi realizada uma
revisão bibliográfica sobre telenovela, homossexualidade, homofobia e as teorias Indústria
Cultural e Estudos Culturais, fundamentais para perceber a função da telenovela na realidade
dos telespectadores. Foi utilizada a pesquisa de opinião como metodologia, onde se produziu
um estudo quantitativo com base nas respostas dos questionários respondidos.
Palavras-chave: Comunicação, telenovela, influência, homossexualidade, homofobia.
9. 8
INTRODUÇÃO
Desde sua invenção no fim da década de 1940 e início da década de 1950, a televisão
mudou os hábitos e costumes das pessoas. Trabalha com o espetáculo e desempenha três
funções: informar, educar e entreter. Porém, com sua popularização, as duas funções
primordiais da TV foram superadas pela função de entreter. Na busca de ampliar o mercado e
atingir o maior público possível, o seu principal caminho tem sido o da ficção, com a
teledramaturgia e seus formatos telenovela, minissérie e seriado. Neste trabalho será discutido
particularmente o formato telenovela.
Este estudo propõe discutir qual a influência da telenovela sob a realidade brasileira e
apresentar qual é a repercussão social dos temas abordados na ficção. Como objeto de estudo,
será utilizado o tema homofobia, tratado pelos autores Ricardo Linhares e Gilberto Braga na
telenovela Insensato Coração, transmitida no horário nobre1 da emissora de TV Rede Globo
em 2011. Pretende-se estudar qual a influência da telenovela no processo de aceitação das
relações homoafetivas e discutir a importância da mesma, como elemento cultural na
sociedade.
A telenovela é uma história de ficção, contada por meio de imagens televisivas com
diálogo e ação, elaborada e exibida diariamente nas diferentes emissoras de televisão. É
apresentada em capítulos, com grupos de personagens que se relacionam interna e
externamente em diferentes lugares. Atualmente tem duração média de 160 capítulos com
cerca de 45 minutos cada.
Para Roberta Andrade, a telenovela é uma dramatização e representação da vida
cotidiana, com todos seus problemas, conflitos, resoluções e comportamentos. A narrativa que
conta “como a vida é” atua como um fator que minimiza a distância entre personagem e
telespectador, criando a ilusão de uma história “real”. A realidade apresentada coincide com a
realidade social das pessoas (ANDRADE, 2003, p.58).
A telenovela evoluiu conforme a modernização e as transformações sociais. Tornou-
se um hábito na vida do brasileiro sentar-se em frente à televisão após o jantar para assistir à
telenovela e, no dia seguinte, debater no trabalho ou na escola sobre a atuação dos atores, o
1
Horário nobre pode ser definido como um bloco de programação exibido quando a audiência é maior. A maior
parte do faturamento das emissoras vem dessas faixas horárias, que representa em torno de 80% do lucro total
anual das redes de televisão. No Brasil, considera-se como o horário nobre toda a programação que está entre as
18 e 00 horas, podendo se estender até as 01 hora, tendo como "pico" o horário entre 20 e 23 horas, horário em
que são exibidos programas como telenovelas, telejornais e reality-shows.
10. 9
cenário, as roupas, o destino final das personagens, etc. Os telespectadores se identificam com
o enredo e os personagens, que encenam experiências da vida real.
As telenovelas contemporâneas abordam temas sociais polêmicos e mesclam ficção
com questões reais da sociedade brasileira. Assuntos como homossexualidade, corrupção,
drogas, violência contra mulher, contra o idoso, alcoolismo, dentre outros, são interpretados e
discutidos pelos personagens.
Alguns temas mobilizaram campanhas nacionais, como o das crianças desaparecidas -
trabalhado na novela Explode Coração (1995-1996), da autora Glória Perez. Na época, foi
divulgada e debatida a questão em programas de rádio e TV e em matérias de jornais e
revistas. Segundo o Dicionário da TV Globo (2003, p. 236), “graças à exibição de
depoimentos de mães e de fotos de filhos desaparecidos na novela, mais de 60 crianças foram
encontradas”.
Em 2000, supõe-se que aumentou-se o número de doações de sangue, de órgãos e
cadastramentos de doadores de medula óssea graças à repercussão da novela Laços de
Família, do autor Manuel Carlos, que retratou o tema através da personagem Camila
(Carolina Dieckmann), portadora de leucemia. A atriz rapou o cabelo para gravar uma das
cenas, o que causou grande impacto na sociedade e levou o Instituto Nacional de Câncer
(Inca), que registrava dez novos cadastramentos por mês, a receber 149 nas semanas seguintes
ao término do folhetim.
Outra telenovela, também do autor Manuel Carlos, que abordou temas polêmicos foi
Mulheres Apaixonadas (2003). As cenas mobilizaram a sociedade, sendo retratada a violência
doméstica contra a mulher, enfocada através da personagem Raquel (Helena Ranaldi),
frequentemente espancada pelo marido Marcos (Dan Stulbach). “Com a denúncia feita pela
personagem à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), a delegacia do centro do
Rio de Janeiro registrou um aumento de mais de 40% nos registros de casos de violência
2
doméstica sofrido por mulheres” . O autor trabalhou também o desarmamento. A
personagem Fernanda (Vanessa Gerbelli) morreu ao levar uma bala perdida. Cenas de
manifestações reais aconteceram na telenovela, cerca de 40 mil pessoas reuniram-se na
Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, no movimento Brasil sem armas, para pressionar a
aprovação do Estatuto do Desarmamento no Congresso Nacional.
A telenovela Insensato Coração exibida de 17 de janeiro a 20 de agosto de 2011
abordou um tema que vem ganhando destaque na teledramaturgia, a homofobia. Na trama
2
Memória Globo - http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273 230093,00.html
11. 10
havia seis personagens homossexuais: Roni (Leonardo Miggiorin), Eduardo (Rodrigo
Andrade), Hugo (Marcos Damigo), Xicão (Wendell Bendelack) e Gilvan (Miguel Roncato),
que, no decorrer dos capítulos, passaram por vários tipos de preconceito e violência. Um
deles, Gilvan (Miguel Roncato), espancado até a morte por pitboys3. A telenovela trouxe
cenas e diálogos em que se expõe a realidade social de perseguição, discriminação,
preconceito e violência contra os homossexuais.
A violência contra o homossexual acontece evidentemente fora da teledramaturgia.
Em São João da Boa Vista, São Paulo, o dia 15 de julho de 2011 ficou marcado para um pai
(42 anos) e seu filho (18 anos). Eles assistiam abraçados a um show na Exposição
Agropecuária Industrial e Comercial (EAPIC), quando um grupo de jovens se aproximou
questionando se os dois eram homossexuais. O pai explicou que o jovem era seu filho e o
bando foi embora. Mas após 5 minutos, voltou e começou a agredir os dois. O pai teve a
metade da orelha decepada após a agressão e o filho teve ferimentos leves 4. Esse foi apenas
um dos casos reais que aconteceu recentemente no Brasil.
O número de homossexuais cresce no país. São 19 milhões, segundo estimativa de
grupos ativistas. Cresce também a intolerância, de acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB).
A cada dois dias, um homossexual é morto no país vítima do preconceito. O Brasil é o país
com o maior número de crimes contra homossexuais do mundo, 260 mortes em 2010 5.
O principal objetivo deste trabalho, portanto, é perceber se existe influência da ficção
na realidade brasileira através dos temas abordados em telenovelas e de que forma os mesmos
são repercutidos na sociedade. Foi escolhida a telenovela Insensato Coração por ter sido
exibida no horário nobre da Rede Globo e por ser a que tratou de um assunto polêmico.
3
Pitboy- pit vem do cão feroz pitbull e boy significa rapaz, em inglês. Pitboy é um estereótipo ligado a
indivíduos do sexo masculino, de grande porte físico e que habitualmente se envolvem em brigas.
4
Folha.com http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/945603-pai-e-filho-sao-agredidos-apos-serem-confundidos-
com-casal-gay.shtml
5
Grupo Gay da Bahia
http://www.ggb.org.br/Assassinatos%20de%20homossexuais%20no%20Brasil%20relatorio%20geral%20compl
eto.html
12. 11
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este estudo pretende pesquisar qual a influência da telenovela Insensato Coração no
processo de aceitação das relações homoafetivas. Para este intento busca-se encontrar
referencial teórico e definições do que já foi produzido na literatura específica sobre os
seguintes temas: telenovela, homofobia, homossexualidade e as teorias indústria cultural e
estudos culturais, fundamentais para percebermos e interpretarmos a função da telenovela na
realidade das pessoas.
1.1 Dos folhetins às telenovelas
1.1.1 Folhetim
O folhetim teve origem na França, em 1836, com o principal objetivo de entreter os
leitores dos jornais. A história permitia que várias camadas sociais tivessem acesso à
literatura. A princípio vinha no rodapé, sendo produzido em fatias. Tratava-se de uma forma
de ficção de entretenimento, com histórias do cotidiano das classes baixas e ricas que, ao
lerem as narrativas, se identificavam com as personagens. O suspense, gerado pela história em
fatias que continuava no dia seguinte, servia para manter o leitor curioso e instigá-lo a
acompanhar o desfecho da trama (FIGUEIREDO, 2003, p. 25-26).
O gênero chegou ao Brasil no final de 1838, onde alcançou a mesma repercussão
positiva que tivera em seu país de origem. Porém, ao contrário da França, no Brasil as
histórias eram restritas à elite dominante, não atingindo a população analfabeta. Aqui ainda se
vivia numa sociedade colonial e escravocrata. No início, grande parte dos folhetins no Brasil
eram traduções de publicações da França, com exceções como O Guarani, de José de
Alencar, e outros escritos de Machado de Assis ou de Joaquim Manuel Macedo.
Meyer estrutura o folhetim da seguinte forma:
Corte sistemático para criar suspense no leitor; simplificação na caracterização
dos personagens; maniqueísmo explícito na descrição da personalidade dos
personagens (mocinho X vilão); busca de recursos estilísticos para prender o
leitor; o herói sempre vingador ou purificador; sempre há uma jovem pura
deflorada pelos homens do mal. (MEYER apud ROCHA, 2009, p. 33).
O folhetim funcionava como um teatro móvel que ia a busca de seu espectador. Por
isso, ele foi muito importante para a vendagem do jornal e vice-versa. O conteúdo e a forma
13. 12
do folhetim orientaram a produção da telenovela no mundo moderno. Mas entre o folhetim e a
telenovela existiu outro gênero também importante no processo de construção da telenovela e
que ganhou popularidade no século XX, a radionovela.
1.1.2 Radionovela
A radionovela chegou ao Brasil em 1941 na Rádio Nacional, em um momento de
expansão da indústria e da modernidade. O produto resulta da interação entre o folhetim do
século XIX, da Europa, a soap opera dos Estados Unidos6 e as experiências melodramáticas
radiofônicas de Cuba7. O rádio, como meio de comunicação de massa, teve um papel
fundamental na vida do brasileiro, pela música, informação do seu noticiário, publicidade ou
mesmo pelas fantasias dos melodramas das radionovelas. Colocou o cidadão em contato com
os fatos sócio-culturais e político-econômicos do País e do mundo.
A radionovela introduzida no Brasil teve grande audiência. Segundo Rocha, além do
paradigma impresso, soube aproveitar o suporte da sonoridade.
Vozes variadas e expressivas fizeram o público parar diante do aparelho de
rádio. Eram sempre melodramáticas, causavam emoção, e depois da
veiculação eram publicadas em capítulos, como nos folhetins (ROCHA, 2009,
p. 35).
A partir de meados do século XX, com o surgimento da televisão, a época de ouro do
rádio começa a declinar e o mesmo teve de se adaptar às mudanças, modificando sua grade de
programação, voltando-se para as especificidades regionais.
1.1.3 Telenovela
A palavra novela vem do latim novellus, novella, novellum, que significa “novo”. Na
Idade Média, passou a ser enredo, entrecho; vem daí a narrativa enovelada, trançada, que
durante muito tempo ficou identificada com o fantástico e o inverossímil e, somente no
6
Os Estados Unidos exploraram sobremaneira a irradiação de histórias seriadas no rádio. No início ocupavam
quinze minutos na grade da programação, mas com o sucesso das soap operas (narrativas que tinham o
patrocínio de empresas de sabão) esse tempo foi expandido. A diferença entre o folhetim e o soap operas é que o
primeiro se organiza em sequências de capítulos dando pequenos indícios sobre o final da história enquanto que
o segundo tem um núcleo que se desenrola de maneira indefinida, sem vislumbrar um final. (FIGUEIREDO,
2003, p. 30).
7
Cuba importou o gênero soap operas dos Estados Unidos e, com o apoio comercial da Colgate-Palmolive e da
Procter & Gamble, Havana passou a exportar pequenos livretos sobre radionovela para toda a América Latina. A
história em capítulos atingiu o meio termo entre o conto e o romance. (FIGUEIREDO, 2003, p. 31).
14. 13
período do romantismo, ganhou reconhecimento literário. Data dessa fase uma característica
que permanece até agora, a saber: a sua extensão, decorrente da repetição. “Enquanto a
radionovela é baseada essencialmente na oralidade, a telenovela amplia seu alcance de
recepção pela imagem, transformando o ouvinte brasileiro em telespectador” (FIGUEIREDO,
2003, p. 34).
Ainda sem ser reconhecida como novela, a primeira narrativa seriada pela televisão no
Brasil nasceu na década de 50: Sua vida me pertence. Foi ao ar em dezembro de 1951, pela
TV Tupi, escrita por Walter Foster, que também interpretava o herói da história. Foram
exibidos 20 capítulos da novela, duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras, com
duração de vinte minutos. Mas com o seu sucesso, a produção procurou um formato que
permanecesse diariamente, no mesmo horário (FIGUEIREDO, 2003, p. 34-35).
Com a preocupação em se fazer uma produção ficcional com a cara do Brasil, no final
dos anos 60, Bráulio Pedroso escreveu Beto Rockefeller, exibida na TV Tupi (1968). A
telenovela foi tida como um marco das novas produções. Ela apresentava particularidades do
cotidiano da vida do brasileiro. Desde então, a telenovela passou a ser exibida diariamente, de
segunda a sábado, em diferentes horários: novela das seis, das sete, das oito, tradicionalmente
identificadas, principalmente, na programação da Rede Globo (FIGUEIREDO, 2003, p. 36).
Os anos 1970 foram um marco para a telenovela, que dialoga com o telespectador
sobre o seu cotidiano, trazendo os problemas dos enlaces e desenlaces dos heróis da novela,
bem como os conflitos familiares entre pais e filhos, os dramas da gravidez indesejada, das
drogas, do sexo, do racismo.
Segundo Figueiredo, a telenovela, ao penetrar o cotidiano do telespectador nas suas
práticas culturais, estabelece relações estreitas e contínuas com seu público, pois as narrativas
são construídas a partir do espaço em que os indivíduos produzem sua história, seu cotidiano.
A telenovela brasileira procura incluir no seu texto os fatos mais significativos para a
sociedade, tomando para si não só o papel informativo do jornal, mas também o
interpretativo, uma vez que julga o fato através da (re)ação de suas personagens. “A
telenovela envolve um grupo grande de personagens e de tramas paralelas, com cenários e
situações diferentes” (FIGUEIREDO, 2003, p. 67).
Desde a década de 1980, a homossexualidade vem ganhando destaque nas telenovelas
com trajetória de liberalização das representações de homossexuais de maneira tímida, um
começo difícil, devido à censura moral e aos costumes tradicionais da sociedade brasileira.
De acordo com Peret (apud COLLING, p. 08), a primeira novela da Rede Globo a
abordar o tema homossexualidade foi Rebu, do autor Bráulio Pedroso, exibida de novembro
15. 14
de 1974 a maio de 1975. Na década de 1980, os homossexuais começam a aparecer com mais
intensidade nas telenovelas da Rede Globo e provocaram, sempre, muita polêmica. Gilberto
Braga, com Vale Tudo (Rede Globo, exibida de 20/05/88 a 7/01/89) ampliou a questão
levando alguns telespectadores a criticarem as novelas nacionais. Em Marrom Glacê (Rede
Globo, exibida de 06/08/79 a 10/03/80), Cassiano Gabus tratou da relação homossexual entre
os garçons, protagonistas da novela 8.
Nos anos 1990, a homossexualidade feminina esteve presente na novela Torre de
Babel (Rede Globo, exibida de 25/04/98 a 26/01/99), de Silvio de Abreu, com as personagens
de Cristiane Torloni e Silvia Pfeiffer, gerando polêmica entre os telespectadores, que
rejeitaram o tema, abordado em horário nobre pela primeira vez. O fato levou ao
desaparecimento prematuro das personagens, através de um acidente9.
Anos depois, em 2003, a homossexualidade voltou a ocupar espaço na mídia, na
novela Mulheres Apaixonadas, de Manuel Carlos, que teve um casal de estudantes lésbicas
interpretado por Aline Morais e Paula Picarelli. Na trama, o romance provocou a ira da
família e de alguns estudantes da fictícia Escola Ribeiro Alves (ERA). Fora das telas, uma
pesquisa encomendada pela Rede Globo comprovou a simpatia do público pelas personagens,
desde que não houvesse cenas de beijo10.
1.2 Indústria Cultural
A Escola de Frankfurt surge no início da década de 1920, sendo caracterizada por um
grupo de pensadores e cientistas sociais alemães criadores da pesquisa crítica. Entre os
principais estão Theodor Adorno, Max Horkheimer, Erich Fromm e Hebert Marcuse. A teoria
crítica criada por eles é baseada em concepções marxistas não ortodoxas que encaram a mídia
como instrumento de influência e manipulação social capitalista.
O conceito Indústria Cultural foi utilizado pela primeira vez por Adorno e Horkheimer
na Dialética do Iluminismo11 e refere-se à conversão da cultura em mercadoria, ao processo
de subordinação da consciência à racionalidade capitalista, ocorrido nas primeiras décadas do
século XX. A obra de arte perde seu caráter artístico e passa a ter um aspecto capitalista de
consumo. “Uma prática social através da qual a produção cultural e intelectual passa a ser
8
http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-224151,00.html.
9
http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-235476,00.html
10
http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-230093,00.html
11
Texto iniciado em 1942 e publicado em 1947.
16. 15
orientada em função de sua possibilidade de consumo no mercado” (RÜDIGER, 2001, p.
138).
Para os estudiosos, a produção estética integra-se à produção mercantil em geral e
permite o surgimento da ideia de que o que somos depende dos bens que podemos comprar e
dos modelos de conduta veiculados pelos meios de comunicação. A família e a escola, depois
da religião, perdem sua influência socializadora para as empresas de comunicação. “O
capitalismo rompeu os limites da economia e penetrou no campo da formação da consciência
convertendo os bens culturais em mercadoria” (RÜDIGER, 2001, p. 139).
Em termos tecnológicos, o mercado de massas impõe estandardização e organização.
Os gostos do público e suas necessidades impõem estereótipos e baixa qualidade.
Neste círculo de manipulação e de necessidade que dela deriva, que a unidade
do sistema se reduz cada vez mais. Aquilo que a Indústria Cultural oferece de
continuamente novo não é mais do que a representação, sob formas sempre
diferentes, de algo que é sempre igual; a mudança oculta um esqueleto, no
qual muda tão pouco como no próprio conceito de lucro, desde que este
adquiriu o predomínio sobre a cultura (HORKHEIMER; ADORNO apud
WOLF, 1999, p. 85).
Após a Revolução Industrial12, várias transformações ocorreram na Europa e no
mundo. As novas descobertas científicas, o avanço tecnológico e, principalmente, a dimensão
econômica fez com que o capitalismo se fortalecesse. A lei do mercado passou a reger a
sociedade. E, na corrida pelo “ter”, nasce o individualismo, que, segundo Adorno, é o fruto de
toda essa Indústria Cultural.
1.3 Estudos Culturais
Os Estudos Culturais surgiram na Inglaterra, no final dos anos 1950, a partir de três
obras identificadas como fonte para essa teoria: The Uses of Literacy (1957), de Richard
Hoggart; Culture and Society (1958), de Raymond Williams e The Making of the English
Working-class (1963), de E.P.Thompson. Em 1964, Hoggart fundou o Centre for
12
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição
entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital
mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no
século XVII (http://www.culturabrasil.org/revolucaoindustrial.htm).
17. 16
Contemporary Cultural Studies (CCCS), que tinha como eixo principal de observação as
relações entre a cultura contemporânea e a sociedade em suas formas culturais.
O trabalho de Hoggart inaugura a ideia de que no âmbito popular não existe apenas
submissão, mas também resistência. O autor foca nos materiais culturais da cultura popular e
dos meios de comunicação, valorizando o que antes era desprezado pelos estudos acadêmicos.
Através da cultura orgânica da classe trabalhadora inglesa da época, utilizou a metodologia
qualitativa (ESCOSTEGUY, 2001, p. 153).
Williams contribuiu com a teoria de que a cultura é uma categoria-chave que conecta a
análise literária com a investigação social, através de um olhar diferenciado sobre a história
literária. Em sua obra The Long Revolution (1961) é intensificado o debate sobre o impacto
cultural dos meios massivos, mostrando um certo pessimismo em relação a cultura popular e
aos próprios meios de comunicação (ESCOSTEGUY, 2001, p. 153).
Em suas obras, E.P.Thompson influencia, de certa forma, o desenvolvimento da
história social britânica de dentro da tradição marxista. Para o autor, cultura era uma rede
vivida de práticas e relações que constituíam a vida cotidiana e o papel do indivíduo estava
em primeiro plano. Mas resistia ao entendimento de cultura como uma forma de vida global.
Ele a entendia enquanto um enfrentamento entre modos de vida diferentes (ESCOSTEGUY,
2001, p. 153).
De 1968 a 1979, Stuart Hall, outro membro de importante participação para a
formação dos Estudos Culturais, substituiu Hoggart na direção do CCCS e incentivou o
desenvolvimento da investigação de práticas de resistência de subculturas e de análises de
meios massivos, identificando seu papel central na direção da sociedade (ESCOSTEGUY,
2001, p. 154).
Segundo Agger,
O grupo do CCCS amplia o conceito de cultura para que sejam incluídos dois
temas adicionais. Primeiro: a cultura não é uma entidade monolítica ou
homogênea, mas, ao contrário, manifesta-se de maneira diferenciada em
qualquer formação social ou época histórica. Segundo: a cultura não significa
simplesmente sabedoria recebida ou experiência passiva, mas um grande
número de intervenções ativas que podem tanto mudar a história quanto
transmitir o passado (AGGER apud ESCOSTEGUY, 2001, p. 156).
O grupo de pesquisadores que caracterizou essa tradição analisa as práticas culturais
simultaneamente como formas materiais e simbólicas. Para eles a criação cultural se situa no
espaço social e econômico, dentro do qual a atividade criativa é condicionada.
18. 17
De acordo com Escosteguy, a relação entre marxismo e os Estudos Culturais se
desenvolve através da crítica reducionista e economista daquela perspectiva, resultando na
contestação do modelo base-superestrutura. A perspectiva marxista contribuiu para a teoria no
sentido de compreender a cultura na sua “autonomia relativa”. Ela não é dependente das
relações econômicas, nem seu reflexo, mas tem influência e sofre consequências das relações
político-econômicas (ESCOSTEGUY, 2001, p. 156).
De acordo com Schwarz, os princípios que se constituem em pilares do projeto dos
Estudos Culturais são:
A identificação explícita das culturas vividas como um projeto distinto de
estudo, o reconhecimento da autonomia e complexidade das formas
simbólicas em si mesmas; a crença de que as classes populares possuíam suas
próprias formas culturais, dignas de nome, recusando todas as denúncias, por
parte da chamada alta cultura, do barbarismo das camadas sociais mais baixas;
e a insistência em que o estudo da cultura não poderia ser confinado a uma
disciplina única, mas era necessariamente inter, ou mesmo antidisciplinar
(SCHWARZ apud ESCOSTEGUY, 2001, p. 158).
1.4 Homossexualidade
Até o início do século XIX as sociedades ocidentais tinham um modelo sexual que
hierarquizava os sujeitos ao longo de um único eixo, cujo vértice era o masculino. Entendia-se
que os corpos de mulheres e de homens diferiam em “graus” de perfeição; as mulheres tinham
“dentro de seu corpo” o mesmo órgão genital que os homens tinham externamente. Em outras
palavras, afirmava-se, cientificamente, que “as mulheres eram essencialmente homens, nos
quais uma falta de calor vital – de perfeição – havia resultado na retenção, interna, de
estruturas que nos machos eram visíveis” (LAQUEUR apud LOURO, 2009, p. 87).
Segundo Louro, a substituição desse modelo (de um único sexo) pelo modelo de dois
sexos opostos (que é o modelo que até hoje prevalece) não foi um processo simples nem
linear. Essa transformação de ordem epistemológica – e também política – se deu junto com
todo um conjunto de transformações, e, por um largo tempo, houve embate e disputa entre
esses modelos sexuais (LOURO, 2009, p. 87).
Ao final do século XIX nascia a sexologia. Inventavam-se tipos sexuais, decidia-se o
que era normal ou patológico e esses tipos passavam a ser hierarquizados. Buscava-se
conhecer, explicar, identificar e também classificar, dividir, regrar e disciplinar a sexualidade.
“Tais discursos, carregados da autoridade da ciência, gozavam do estatuto de verdade e se
19. 18
confrontavam ou se combinavam com os discursos da igreja, da moral e da lei” (LOURO,
2009, p. 88).
É nesse contexto que surge o homossexual e a homossexualidade. Conceituado por
Louro como “práticas afetivas e sexuais exercidas entre pessoas de mesmo sexo (que sempre
existiram em todas as sociedades)” (LOURO, 2009, p. 89). Segundo a autora, a
homossexualidade ganhava uma nova conotação, não seria mais compreendida, como eram
até então, como um acidente, um pecado eventual, um erro ou uma falta a que qualquer um
poderia incorrer, pelo menos potencialmente. O homossexual não era simplesmente um
sujeito qualquer que caiu em pecado, ele se constituía num sujeito de outra espécie. Para este
tipo de sujeito, haveria que inventar e pôr em execução toda uma sequência de ações:
punitivas ou recuperadoras, de reclusão ou de regeneração, de ordem jurídica, religiosa ou
educativa.
A partir do século XX, a homossexualidade passou a ser reconhecida e estigmatizada
pela sociedade, considerada um desvio da normalidade sexual, sendo condenada e combatida
por instituições da sociedade, tais como a igreja, a justiça, a ciência, a família e o Estado.
Muitos homossexuais foram internados, presos ou submetidos a tratamentos médicos e
psicológicos com práticas duvidosas. Alguns contestaram e se arriscaram a viver a pluralidade
sexual na marginalidade, na fronteira de questionamento social e moral das práticas e dos
sentidos que lhes eram atribuídos (TONON, 2005, p. 106). Louro afirma que:
A homossexualidade, discursivamente produzida, transforma-se em questão
social relevante. A disputa centra-se fundamentalmente em seu significado
moral. Enquanto alguns assinalam o caráter desviante, a anormalidade ou a
inferioridade do homossexual, outros proclamam sua normalidade e
naturalidade – mas todos parecem estar de acordo que se trata de um ‘tipo’
humano distinto (LOURO apud TONON, 2005, p. 107).
A partir da década de 1970, a sociedade ocidental passou por profundas
transformações culturais, políticas e sociais, devido a movimentos de liberdade sexual e do
movimento feminista iniciaram-se discussões acerca de posturas identitárias e representações
sociais de gênero, de sexualidade, raciais e étnicas que passaram a ser questionadas. O
período caracterizou pela afirmação da identidade homossexual, quando o questionamento
sobre a autoridade da família tradicional patriarcal deu a oportunidade para gays e lésbicas
fazerem a opção por identidades sexuais plurais que não àquelas rigidamente segmentadas
entre o feminino e o masculino, de acordo com preferências sexuais, não apenas como sujeito
biológico (TONON, 2005, p. 107).
20. 19
Com o surgimento da AIDS na década de 1980, a visibilidade homossexual foi
comprometida. Grupos de conscientização e movimentos homossexuais aderiram
simpatizantes da militância, criando redes de solidariedade. Mas, segundo Tonon, o
preconceito, a homofobia e a intolerância aos homossexuais cresceram, “em meio aos
membros desses grupos, entendeu-se que assim como a AIDS, a homossexualidade também
era contagiosa e, que, portanto, as orientações sexuais plurais deveriam ser desprezadas,
recriminadas e excluídas da sociedade” (TONON, 2005, p. 110).
Em 1985, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou o homossexualismo da
categoria de “transtorno sexual ou desvio” do artigo 302 do Código Internacional de Doenças
(CID), passando-o ao capítulo “Dos sintomas decorrentes de circunstâncias psicossociais”. E
em sua última revisão, de 1995, o sufixo “ismo”, que significa doença, foi substituído pelo
sufixo “dade”, que carrega o sentido de modo de ser.
1.5 Homofobia
Homofobia é a discriminação e o preconceito contra homossexuais, que se manifesta
de várias maneiras, com ações de violência verbal e física, e em alguns casos extremos,
podem levar até a morte. A palavra é de origem grega, Homo quer dizer “o mesmo” e
phobikos quer dizer “ter medo de/e ou aversão a”.
Rios define preconceito e discriminação:
Por preconceito, designam-se as percepções mentais negativas em face de
indivíduos e de grupos socialmente inferiorizados, bem como as
representações sociais conectadas a tais percepções. Já o termo discriminação
designa a materialização, no plano concreto das relações sociais, de atitudes
arbitrárias, comissivas ou omissivas, relacionadas ao preconceito, que
produzem violação de direitos dos indivíduos e dos grupos (RIOS, 2009, p.
54).
O termo homofobia ganhou foros acadêmicos pela primeira vez em 1972, pelo
psicólogo estadunidense George Weinberg, em seu livro A Sociedade e o Homossexual
Saudável. Ele procurou identificar os traços da “personalidade homofóbica”, correspondendo
a uma condensação da expressão “homosexualphobia” (YOUNG-BRUEHL apud RIOS,
2009, p. 60).
Segundo Rios, homofobia é a “modalidade de preconceito e de discriminação
direcionada contra homossexuais” (RIOS, 2009, p. 59). Para ele, as definições valem-se
21. 20
basicamente de duas dimensões, veiculadas de modo isolado ou combinado, conforme a
respectiva compreensão.
Enquanto umas salientam a dinâmica subjetiva desencadeadora da homofobia
(medo, aversão e ódio, resultando em desprezo pelos homossexuais), outras
sublinham as raízes sociais, culturais e políticas desta manifestação
discriminatória, dada a institucionalização da heterossexualidade como norma,
com o consequente vilipêndio de outras manifestações da sexualidade humana
(RIOS, 2009, p. 60).
Neste último sentido, o termo “heterossexismo” é apontado como mais adequado,
disputando a preferência com o termo “homofobia”, para designar a discriminação
experimentada por homossexuais e por todos aqueles que desafiam a heterossexualidade
como parâmetro de normalidade em nossas sociedades (RIOS, 2009, p. 60).
22. 21
2. METODOLOGIA
O objetivo deste trabalho é perceber se existe influência da ficção na realidade
brasileira através dos temas abordados em telenovelas e de que forma os mesmos são
repercutidos na sociedade. Busca-se entender o processo de aceitação das relações
homoafetivas através da abordagem da telenovela e discutir a importância da mesma, como
elemento cultural na sociedade. Como objeto de estudo foi escolhido a telenovela Insensato
Coração, que tratou o tema homofobia. A metodologia escolhida para chegar ao objetivo
traçado foi a pesquisa de opinião, um método de investigação científica para a maioria dos
campos de conhecimento, inclusive para a Comunicação Social.
A pesquisa de opinião como método quantitativo possibilita a coleta de grande
quantidade de dados, originados de vasto número de entrevistados. Novelli destaca aspectos
positivos e negativos no que se refere ao método da pesquisa de opinião, dentre os positivos
estão:
A possibilidade de que a investigação do problema ocorra em ambientes reais,
sem a necessidade de se lançar mão de recursos de laboratório; a viabilidade
de realização de análises estatísticas de variáveis como dados
sociodemográficos, de atitude, dentre outras; a quase inexistência de barreiras
geográficas para a realização das entrevistas e o baixo custo de aplicação ao se
considerar a quantidade de informações recolhidas (NOVELLI, 2009, p. 164).
Dentre os aspectos negativos a autora destaca a possibilidade de interferência, e até
certa manipulação do pesquisador no desenrolar da entrevista, que pode se dar pela má
formulação da pergunta, ordenação confusa das questões ou constrangimento ocasionado ao
entrevistado pela presença do entrevistador. Para uso correto dessa metodologia, Novelli
afirma que é preciso estar ciente desses aspectos negativos e buscar, por meio de rigoroso
planejamento e apoio estatístico, corrigir antecipadamente os eventuais problemas
(NOVELLI, 2009, p. 164-165).
É importante a definição de um plano detalhado das etapas que envolverão a
realização da pesquisa de opinião. Devem-se identificar as estratégias a serem adotadas, a fim
de que os objetivos sejam alcançados. “O planejamento visa assegurar níveis de consistência
interna ao processo, a fim de possibilitar o alcance dos objetivos pretendidos e evitar
incoerências que possam comprometer os resultados obtidos” (NOVELLI, 2009, p. 165).
A técnica de coleta de dados na pesquisa de opinião pode ser por entrevista pessoal,
por telefone ou correio. Cada um desses métodos possui características que trazem vantagens
23. 22
e desvantagens. Deve ser escolhida a entrevista que mais se adapta à pesquisa proposta. “É
preciso potencializar os aspectos positivos e neutralizar os efeitos negativos” (NOVELLI,
2009, p. 165).
Na entrevista pessoal existe a possibilidade de explicação de perguntas complexas e
uso de recursos visuais para auxiliar a resposta; a entrevista pode ser mais longa; existe
segurança de que as instruções de preenchimento do questionário serão observadas e o índice
de resposta é elevado, pois é difícil que a entrevista seja interrompida antes de chegar ao final.
Dentre os aspectos negativos da entrevista pessoal, pode ser destacado o alto custo; maior
tempo de aplicação; o entrevistador pode introduzir algum viés na entrevista, mesmo sem
querer ou demonstrar qualquer reação ao invés de se manter neutro (NOVELLI, 2009, p.
166).
Dos aspectos positivos no método de entrevista por telefone destaca-se o menor custo
em relação às entrevistas pessoais; a rapidez na aplicação dos questionários; a facilidade na
gestão da aplicação das entrevistas; o entrevistado sente que o anonimato é preservado, o que
estimula o aumento do índice de respostas. Dentre os aspectos negativos está a limitação da
amostra à população que possui telefone; a entrevista pode ser interrompida se o entrevistado
desligar o telefone e a impossibilidade de uso de recursos visuais, o que limita a formação do
questionário (NOVELLI, 2009, p. 166).
Na entrevista por correio os pontos positivos são o baixo custo pela falta de
contratação e treinamento de entrevistadores; o uso de recursos visuais para complementação
das respostas; a inexistência do viés do entrevistador; o entrevistado pode responder quando
for mais conveniente e a entrevista garante que sua resposta seja anônima, pois não há contato
com qualquer entrevistador. Dos aspectos negativos existe a insegurança quanto à existência
de cooperação entre entrevistado e pesquisador; o índice de respostas é abaixo do dos outros
métodos; as dúvidas com relação ao questionário não pode ser esclarecida; o prazo para as
respostas é maior e existe a impossibilidade de garantir que a pessoa selecionada na amostra
seja a mesma que respondeu ao questionário (NOVELLI, 2009, p. 167).
Para a realização da pesquisa de opinião é preciso reunir o maior número possível de
informações disponíveis sobre o assunto ou a percepção do tema trabalhado. É importante a
identificação do universo da pesquisa, o conjunto de pessoas que possuem características
comuns e captam algum grau de informação sobre o tema a ser explorado. Após essa
identificação, é preciso decidir se a pesquisa irá englobar a totalidade de seus componentes,
um censo, ou se irá englobar apenas parte desse universo, caracterizando-se como pesquisa
24. 23
por amostragem, onde é preciso atentar as questões como a definição do tamanho da amostra
e os procedimentos para sua seleção dentro do universo (NOVELLI, 2009, p. 167-168).
De acordo com Novelli, a amostra de uma pesquisa pode ser selecionada de forma
probabilística ou não probabilística. Na primeira, todas as pessoas que fazem parte do
universo da pesquisa têm a mesma chance de serem selecionadas para participar das
entrevistas. A amostra não probabilística é selecionada de acordo com critérios de
intencionalidade e conveniência (NOVELLI, 2009, p. 168).
O questionário deve ser elaborado com um texto introdutório, que varia de acordo com
o método de coleta selecionado. A introdução serve para esclarecer ao entrevistado quais os
propósitos da pesquisa e busca sua cooperação nas respostas. Deve haver a indicação de que o
entrevistado foi escolhido por pertencer a determinado grupo, que sua participação é
importante e sua opinião valorizada, deve informar que as respostas são confidenciais e
anônimas e conter uma solicitação de autorização para prosseguir a entrevista (NOVELLI,
2009, p. 169-170).
Segundo Novelli, as perguntas do questionário devem seguir uma sequência lógica de
encadeamento de raciocínio. No início deve haver questões relacionadas ao tema da pesquisa
e fáceis de serem respondidas. “As primeiras perguntas têm a função de criar motivação e
interesse pelo questionário e fazer o entrevistado começar a refletir sobre o assunto”
(NOVELLI, 2009, p. 170).
Após as perguntas introdutórias, o questionário deve começar a aprofundar as
informações solicitadas ao entrevistado, aumentando o grau de complexidade de acordo com
o problema da pesquisa e os objetivos pretendidos. É preciso ter cuidado para não tornar a
entrevista monótona. O final do questionário é formado por categorias de temas mais
delicados e pelo conjunto de perguntas de caráter sociodemográfico, como faixa etária,
escolaridade, sexo, etc.
As perguntas do questionário podem ser abertas ou fechadas. Se a pergunta for aberta,
o próprio entrevistado pode formular livremente sua resposta, que será registrada no
questionário em forma de texto. Nas perguntas fechadas, o entrevistado irá selecionar uma ou
mais opções dentre uma lista prévia de respostas que será apresentada. As duas formas
possuem vantagens e desvantagens.
As questões abertas possibilitam conhecer de forma mais profunda e
espontânea a opinião do entrevistado sobre o assunto abordado, permitindo
variedade maior de respostas. No entanto, perguntas abertas devem ser usadas
com muita cautela nos questionários. É frequente a obtenção de respostas
25. 24
irrelevantes ou repetidas neste tipo de pergunta, pois sua eficácia depende
muito da capacidade comunicativa do entrevistado, que pode não saber
expressar exatamente qual sua opinião sobre o tema (NOVELLI, 2009, p.
172).
As perguntas fechadas apresentam uma lista de opções de respostas. Caso o
entrevistado não compreenda de imediato a pergunta, a seleção de respostas pode colaborar
com seu entendimento. Elas permitem a pré-codificação, o que facilita a digitação e as
respostas na base de dados. Dos aspectos considerados negativos pode-se destacar o fato de
que a lista de respostas apresentada ao entrevistado pode não corresponder a totalidade das
alternativas possíveis. “Uma forma de minimizar tal efeito é apresentar, no final da lista de
respostas, a alternativa “outros” seguida de um campo para anotação da resposta indicada”
(NOVELLI, 2009, p. 173).
Na elaboração da redação de perguntas do questionário, devem ser observados alguns
aspectos claros e objetivos. A linguagem das perguntas deve adaptar-se ao vocabulário dos
sujeitos da amostra. E o uso de perguntas longas e complexas deve ser evitado, para facilitar o
entendimento do entrevistado. A partir dos dados obtidos com o questionário se inicia o
processo de análise de resultado, que deve ser fundamentada estatisticamente, para que as
pessoas sejam avaliadas a partir da sua significância, com medidas de tendência central,
correlação entre variáveis e outras possibilidades (NOVELLI, 2009, p. 177-178).
A aplicação do questionário desta pesquisa de opinião será feita com base na técnica
de coleta de dados por meio da entrevista pessoal. O estudo irá englobar a técnica de pesquisa
por amostragem e selecionada de forma não probabilística. Foram selecionados 50
entrevistados de ambos os sexos com idade entre 18 e 40 anos, originários da cidade de
Goiânia. Foram distribuídos questionários para 25 mulheres e 25 homens, com sete perguntas
fechadas e uma lista prévia de opções de respostas.
26. 25
Questionário
Este questionário destina-se a uma pesquisa de cunho acadêmico e visa perceber se existe
influência dos temas abordados nas novelas na realidade social. Para responder as questões,
foram escolhidas pessoas entre 18 e 40 anos. Sua participação é muito importante para este
estudo e sua opinião valorizada. O questionário deve ser respondido com sinceridade, suas
respostas são confidenciais e não poderão ser identificadas após o preenchimento. Esta é uma
pesquisa acadêmica sem fins comerciais.
1) Você assistiu à novela Insensato Coração exibida na Rede Globo de 17 de janeiro a
19 de agosto de 2011?
( ) Sim ( ) Não ( ) Alguns capítulos
2) Qual tema social retratava a vida dos personagens Roni (Leonardo Miggiorin),
Eduardo (Rodrigo Andrade), Hugo (Marcos Damigo), Xicão (Wendell Bendelack) e
Gilvan (Miguel Roncato)? (Veja as fotos anexadas ao questionário)
( ) Alcoolismo ( ) Homossexualidade ( ) Violência contra a mulher
( ) Drogas
3) Você acha importante que as novelas abordem assuntos polêmicos?
( ) Sim, com a abordagem dos temas polêmicos abre-se um espaço para que a sociedade
discuta a questão.
( ) Não, novelas foram feitas para entreter o público e temas sociais não devem ser
misturados na trama.
( ) Outros ________________________________________________________
4) Você tem alguma forma de restrição ou preconceito contra homossexuais?
( ) Sim.
( ) Não.
5) Você concorda com a forma com que os personagens foram inseridos na trama?
( ) Sim , o autor aproximou o espectador da realidade dos homossexuais da vida real.
( ) Não, o autor distanciou o espectador da realidade dos homossexuais da vida real.
27. 26
6) Após ter assistido à novela, sua opinião mudou com o que se refere à
homossexualidade?
( ) Sim, eu ainda tinha um certo preconceito com relação aos homossexuais.
( ) Minha opinião continua a mesma, nunca tive preconceito com homossexuais.
( ) Minha opinião continua a mesma, sou contra homossexuais.
7) Para você, a novela Insensato Coração ajudou a diminuir o preconceito contra
homossexuais?
( ) Sim ( )Não
Fotos dos personagens:
Roni (Leonardo Miggiorin) Eduardo (Rodrigo Andrade) Hugo (Marcos Damigo)
Xicão (Wendell Bendelack) Gilvan (Miguel Roncato)
28. 27
3. ESTUDO QUANTITATIVO
Este trabalho utilizou a metodologia da pesquisa de opinião para chegar ao objetivo
traçado. Para entender o processo de aceitação das relações homoafetivas através da
telenovela, foi realizada a técnica de coleta de dados com a aplicação de um questionário. O
estudo englobou a técnica de pesquisa por amostragem. Foram escolhidos entrevistados de
Goiânia entre 18 e 40 anos de ambos os sexos. A seleção foi feita de forma não-probabilística,
de acordo com critérios de intencionalidade e conveniência. O questionário teve sete
perguntas fechadas, com uma lista de opções de resposta. Ao total foram aplicados 50
questionários, sendo 25 para pessoas de sexo feminino e 25 para pessoas do sexo masculino.
Na primeira questão foi perguntado se o entrevistado assistiu à novela Insensato
Coração. Das mulheres, 40% responderam que sim, assistiram à novela; 24% não assistiram e
36% responderam que assistiram a alguns capítulos.
Gráfico 1 (Mulheres):
29. 28
Dos homens entrevistados, 16% assistiram à novela, 40% não assistiram e 44%
assistiram a alguns capítulos.
Gráfico 2 (Homens):
30. 29
Juntando as respostas de ambos os sexos, 28% do total assistiram à novela, 32% não
assistiram e 40% assistiram a alguns capítulos.
Gráfico 3 (Mulheres e homens):
31. 30
Na segunda pergunta foi questionado ao entrevistado qual tema social retratava a vida
dos personagens Roni (Leonardo Miggiorin), Eduardo (Rodrigo Andrade), Hugo (Marcos
Damigo), Xicão (Wendell Bendelack) e Gilvan (Miguel Roncato). Ao final do questionário
foi anexada uma foto de cada um dos personagens citados, para que os entrevistados se
recordassem dos atores.
Roni (Leonardo Miggiorin) Eduardo (Rodrigo Andrade) Hugo (Marcos Damigo)
Xicão (Wendell Bendelack) Gilvan (Miguel Roncato)
32. 31
Apesar de alguns dos entrevistados não terem assistido à telenovela Insensato Coração
(44%), todos (50) acertaram a questão número 2 ao marcar a alternativa “homossexualidade”.
O que comprova que souberam do tema através de outro meio de comunicação ou até mesmo
por ouvir comentários de pessoas que assistiram à novela.
Gráfico 4 (Mulheres e homens):
33. 32
Na terceira questão foi perguntado se o entrevistado acha importante a abordagem de
temas polêmicos nas novelas. A maioria das mulheres entrevistadas acredita que, com a
abordagem dos temas polêmicos, abre-se um espaço para que a sociedade discuta a questão:
76% responderam “sim”, 12% responderam “não”, elas acreditam que as novelas foram feitas
para entreter o público e temas sociais não devem ser misturados na trama e 12% marcaram a
opção “outros”.
Gráfico 5 (Mulheres):
34. 33
A maioria dos homens, assim como as mulheres, acredita que assuntos polêmicos
devem ser abordados pelas novelas: 80% responderam “sim”, 16% responderam “não”, 4%
marcaram a opção “outros”.
Gráfico 6 (Homens):
35. 34
Do total dos entrevistados, 78% acreditam que a abordagem de assuntos polêmicos nas
novelas é importante; 14% não acham a abordagem importante e 8% escolheram a opção
“outros”.
Gráfico 7 (Mulheres e homens):
36. 35
A quarta questão buscou saber se o entrevistado tinha alguma forma de restrição ou
preconceito contra homossexuais. Todas as 25 mulheres entrevistadas (100%) responderam
que não têm restrição ou preconceito.
Gráfico 8 (Mulheres):
37. 36
Os homens ficaram mais divididos ao responderem à quarta questão: 44% admitiram
ter alguma forma de restrição ou preconceito contra homossexuais e marcaram a opção “sim”,
enquanto 56% responderam que não.
Gráfico 9 (Homens):
38. 37
Do total dos entrevistados 22% têm alguma forma de restrição ou preconceito contra
homossexuais e 78% não têm nada contra homossexuais.
Gráfico 10 (Mulheres e homens):
39. 38
A quinta pergunta questionou se os entrevistados concordavam com a forma com que
os personagens homossexuais foram inseridos na trama, 88% das mulheres concordaram e
12% discordaram.
Gráfico 11 (Mulheres):
40. 39
Os homens entrevistados ficaram mais divididos com a forma com que os personagens
foram inseridos na novela: 56% responderam “sim” e 44% responderam “não”.
Gráfico 12 (Homens):
41. 40
Analisando o total de entrevistados, 72% acreditam que o autor aproximou o
espectador da realidade dos homossexuais. Eles concordam com a forma com que os
personagens foram inseridos na trama e 28% acham que o autor distanciou o espectador da
realidade dos homossexuais da vida real.
Gráfico 13 (Mulheres e homens):
42. 41
Na sexta questão foi perguntado se após assistir a novela, a opinião do entrevistado
mudou com o que se refere à homossexualidade. 100% das mulheres entrevistadas
responderam a alternativa “Minha opinião continua a mesma, nunca tive preconceito com
homossexuais”.
Gráfico 14 (Mulheres):
43. 42
Dos entrevistados do sexo masculino, 4% responderam que a opinião mudou ao
assistir a novela, pois ainda tinha certo preconceito contra homossexuais, 68% mantiveram a
opinião, nunca tiveram preconceito, 28% mantiveram a opinião e afirmaram ser contra
homossexuais.
Gráfico 15 (Homens):
44. 43
Do total de entrevistados, 2% respondeu que sua opinião mudou ao assistir a novela,
pois ainda tinham certo preconceito com homossexuais; 84% mantiveram a opinião, nunca
tiveram preconceito; 14% mantiveram a opinião, são contra homossexuais.
Gráfico 16 (Mulheres e homens):
45. 44
Na sétima e última pergunta foi questionado se para o entrevistado a novela Insensato
Coração ajudou a diminuir o preconceito contra homossexuais. 76% das mulheres
responderam que não acreditam que a novela ajudou na diminuição do preconceito e 24%
acham que sim, que ajudou.
Gráfico 17 (Mulheres):
46. 45
Dos homens entrevistados, 28% responderam que sim, a novela ajudou a diminuir o
preconceito contra homossexuais e 72% não acreditam que a novela ajudou na diminuição do
preconceito.
Gráfico 18 (Homens):
47. 46
No total de entrevistados, de ambos os sexos, 26% acham que a novela ajudou a
diminuir o preconceito contra homossexuais e 74% acreditam que a novela não ajudou na
diminuição do preconceito.
Gráfico 19 (Mulheres e homens):
48. 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscou-se neste trabalho entender a influência da telenovela no processo de aceitação
das relações homoafetivas e discutir a importância da mesma, como elemento cultural na
sociedade. Com base no estudo quantitativo realizado no capítulo anterior, a telenovela não se
mostrou eficiente na diminuição do preconceito contra homossexuais. Do total de
entrevistados, apenas 2% mudou de opinião após assistir a novela (Questão 6). Essa pequena
parcela tinha preconceito contra homossexuais e deixou de ter.
Quando foi questionado se a novela Insensato Coração ajudou a diminuir o
preconceito contra homossexuais (Questão 7), 74% dos entrevistados responderam “não”.
Desta maneira, não se pode afirmar que houve influência da telenovela no processo de
aceitação das relações homoafetivas. O conteúdo modificou muito pouco a realidade (2%).
Mas a maioria dos entrevistados acredita na importância de assuntos polêmicos serem
abordados em novelas: 78 % esperam que assim abre-se espaço para a sociedade discutir a
questão.
O autor levantou um assunto polêmico. Todos os entrevistados (50) souberam
responder qual era. Ao serem questionados que tema associava os personagens Roni
(Leonardo Miggiorin), Eduardo (Rodrigo Andrade), Hugo (Marcos Damigo), Xicão (Wendell
Bendelack) e Gilvan (Miguel Roncato), a totalidade marcou a opção “homossexualidade”. A
maioria concordou com a forma que os personagens foram inseridos na trama (72%), mas o
tema serviu somente para entretenimento do público e discussão da mídia.
A telenovela é um dos principais produtos da cultura popular da televisão brasileira e
pertence a um universo de discussão e introdução de hábitos e valores. O formato da
teledramaturgia influencia e é influenciado pelos telespectadores, que participam ativamente
no processo de recepção. Eles questionam e discutem os assuntos apresentados na trama,
muitas vezes até interferem em determinado percurso de um personagem ou no desenrolar dos
capítulos. Nesse sentido, a novela deve ser vista como parte da experiência cultural da
coletividade.
De acordo com Figueiredo, ao penetrar o cotidiano do telespectador, a telenovela
estabelece relações estreitas e contínuas com seu público. Segundo o autor, o formato da
teledramaturgia brasileira procura incluir no seu texto fatos mais significativos para a
sociedade, tomando para si não só o papel informativo do jornal, mas também o
interpretativo, uma vez que julga o fato através da (re)ação de suas personagens.
49. 48
Na teoria crítica da Indústria Cultural, a cultura é vista como mercadoria e existe uma
estandardização, ou seja, uma padronização de comportamentos, não de modificação. Apesar
dos resultados obtidos através do questionário, percebe-se na telenovela a aplicação de
pressupostos teóricos dos Estudos Culturais, que apontam possibilidades de transformação. A
perspectiva dos Estudos Culturais segundo Wolf, tem como foco analisar uma forma
específica de processo social, que dá contornos e sentido à realidade (WOLF, 2005, p. 102).
Por esta visão de mundo, existe estreita relação entre a cultura contemporânea, a popular e a
sociedade em suas formas culturais.
Esta pesquisa não comprovou a influência da telenovela no processo de aceitação das
relações homoafetivas. As concepções dos entrevistados sobre o tema não foram modificadas
em detrimento da representação na telenovela. Porém, a telenovela Insensato Coração pôde
oferecer elementos para discussão do tema homossexualidade.
Portanto, a telenovela é provocadora de debates e favorece a incorporação, apropriação
e adaptação de novas demandas culturais e sociais. No caso específico deste trabalho, suscitou
o assunto homossexualidade. Embora a conscientização seja um processo lento, a telenovela
contribui para que a cultura esteja em constante movimento de produção, reprodução e
transformação, assim como sugere o modelo teórico proposto pelos Estudos Culturais.
Percebe-se, desta forma, que a novela exerce o poder de informar e entreter. Porém,
esta espécie de entretenimento não influi na mudança de hábitos de pessoas que tenham
preconceitos arraigados. Do ponto de vista teórico da comunicação de massa, a novela é uma
modalidade que deve ser avaliada de forma multifacetada. Se por um lado ela insere temas
novos, demonstrando certa liberdade em sua fórmula cultural, por outro lado o efeito é
mínimo no sentido de gerar novos comportamentos.
A telenovela Insensato Coração não foi efetiva como instrumento de cidadania, não
serviu para emancipar as pessoas e modificá-las para uma visão que tende a liberdade e
igualdade. Ela não é inclusiva, o que atesta a Indústria Cultural. A novela fracassou ao tentar
diminuir o preconceito. E este é o paradoxo encontrado por esta pesquisa: ela nega efeito da
manipulação, mas não se estandardiza por completo. Enfim, não muda comportamentos, mas
insere uma nova temática para se pensar coletivamente.
O efeito da novela não é hipodérmico. A Indústria Cultural adota o mesmo modelo de
manipulação da bullet theory, onde os efeitos dos meios de comunicação são limitados. O fato
dos autores de telenovelas buscarem assuntos populares se encaixa na teoria dos Estudos
Culturais, que, ao contrário da teoria da Indústria Cultural, acredita na emancipação e que não
existe plena manipulação dos meios de comunicação. De acordo com Wolf, os Estudos
50. 49
Culturais atribuem à cultura um papel que não é meramente reflexivo nem residual em relação
às determinações da esfera econômica (WOLF, 2005, p. 103).
Pode-se concluir que pressupostos teóricos da Indústria Cultural e dos Estudos
Culturais se encaixam na telenovela. Talvez um modelo de interpretação ideal para a
telenovela seja a teoria da Agenda Setting, que nega a manipulação como efeito
comunicacional, mas diz ser função da mídia selecionar o que devemos discutir e debater.
Enfim, no que pensar e não como pensar.
51. 50
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Roberta Manoela Barros de. Realidade e ficção nas telenovelas. IN: O fascínio
de Scherazade - Os usos sociais da telenovela. São Paulo: Annablume, 2003.
COLLING, Leandro. Personagens homossexuais nas telenovelas da rede Globo:
criminosos afetados e heterossexualizados. Disponível em:
http://www.cult.ufba.br/arquivos/textoGenero.pdf Acesso em: 12 set. 2011.
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Os Estudos Culturais. IN: HOHLFELDT, Antonio;
MARTINO, Luiz; FRANÇA, Vera Veiga (Orgs). Teorias da Comunicação – Conceitos,
Escolas e Tendências. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
FIGUEIREDO, Ana Maria. A história da teledramaturgia e sua repercussão na
teledramaturgia brasileira. IN: Teledramaturgia brasileira: arte ou espetáculo? São Paulo:
Paulus, 2003.
_______. Os formatos da teledramaturgia. IN: Teledramaturgia brasileira: arte ou
espetáculo? São Paulo: Paulus, 2003.
_______. Teledramaturgia nacional: as minisséries e os seriados. IN: Teledramaturgia
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