Museu Nacional do Teatro: matéria leccionada pelo Professor Doutor Artur Filipe dos Santos no âmbito da cadeira de Património Cultural e Paisagístico Português, da Universidade Sénior Contemporânea do Porto
4. "A cultura é aquilo que permanece no
homem quando ele já esqueceu tudo o
resto.“
Emile Henriot, químico
4
5. "A cultura é a busca da nossa
perfeição total mediante a
tentativa de conhecer o
melhor possível o que foi dito
ou pensado no mundo, em
todas as questões que nos
dizem respeito.”
Arnold Mathew, filósofo
5
6. "o conceito de cultura
contemporânea, tão
apregoado, tem muito pouco
que ver com a mera produção
de objectos e eventos
culturais convencionais, como
exposições, peças de
teatro, filmes ou literatura.
6
7. A cultura
contemporânea, entendida
como criatividade, é hoje um
dos principais motores das
sociedades desenvolvidas e
está presente em
praticamente todas as
actividades humanas, das
económicas à
política, passando pelos
próprios modos de vida e
comportamentos sociais.
7
8. Ela emerge da capacidade de
inovação das comunidades e
dos indivíduos, assente no
acesso e partilha dos novos
saberes e da ousadia de uma
constante experimentação
sem limites.
8
9. E também, claro está, do
conhecimento da história e do
património que é
essencialmente matéria do
ensino e da museologia.“
Leonel Moura, artista conceitual
português cuja obra em fins da década de
1990 passou da fotografia para a
inteligência artificial e arte robótica
9
10. "A arte é um património
cultural da humanidade, e
todo ser humano tem direito
ao acesso a esse saber"
Lei de Directrizes e Bases da Educação
Nacional, Brasil
10
11. Arte (do latim ars, significando
técnica e/ou habilidade) geralmente
é entendida como a atividade
humana ligada a manifestações de
ordem estética ou
comunicativa, realizada a partir da
percepção, das emoções e das
ideias, com o objetivo de estimular
essas instâncias da consciência e
dando um significado único e
diferente para cada obra.
11
12. A arte vale-se para isso de uma
grande variedade de meios e
materiais, como a arquitetura, a
escultura, a pintura, a escrita, a
música, a dança, a fotografia, o
teatro e o cinema.
12
13. Numeração das artes
A numeração das artes refere-
se ao hábito de estabelecer
números para designar
determinadas manifestações
artísticas.
13
14. Por exemplo o termo "sétima
arte", usado para designar o
cinema, foi estabelecido pelo
cineasta e crítico de cinema, o
italiano Ricciotto Canudo no
"Manifesto das Sete Artes" , em
1912 (publicado apenas em 1923).
14
15. Posteriormente, foram propostas outras formas
de arte, umas mais ao menos consensuais, outras
que foram prontamente aceitas como o caso da
9ª Arte, que hoje em dia é uma expressão tão
utilizada para designar a "banda
desenhada”, como o é 7ª arte para o cinema.
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16. Presentemente, esta é a
numeração das artes mais
consensual, sendo no entanto
apenas indicativa, onde cada
uma das artes é caracterizada
pelos elementos básicos que
formatam a sua linguagem e
foram classificadas da
seguinte forma:
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17. 1ª Arte - Música (som);
2ª Arte - Dança/Coreografia
(movimento);
3ª Arte - Pintura (cor);
4ª Arte - Escultura (volume);
5ª Arte - Teatro (representação);
6ª Arte - Literatura (palavra);
7ª Arte - Cinema (integra os
elementos das artes anteriores mais
a 8ª e no cinema de animação a 9ª).
17
João Villaret
18. 18
Outras formas expressivas também consideradas artes foram
posteriores adicionadas à numeração proposta pelo manifesto
de Ricciotto Canudo :
8ª Arte - Fotografia (imagem) ;
9ª Arte - Banda desenhada (cor, palavra, imagem);
10ª Arte - Jogos eletrônicos (alguns jogos integram elementos
de todas as artes anteriores somado a 11ª, porém no
mínimo, ele integra as 1ª, 3ª, 4ª, 6ª, 9ª arte somadas a 11ª
desde a Terceira Geração);
11ª Arte - Arte digital (integra artes gráficas computorizadas
2D, 3D e programação).
19. Teatro, do grego θέατρον (théatron), é
uma forma de arte em que um ator ou
conjunto de atores, interpreta uma
história ou atividades para o público em
um determinado lugar, tendo como
objetivo apresentar uma situação e
despertar sentimentos no público.
Também denomina-se teatro o local
apropriado para esta forma de arte.
No entanto, para além do espaço onde
uma peça é interpretada, teatro designa
também a própria representação do texto
dramático.
19
20. Segundo a Enciclopédia Britannica, a palavra teatro deriva do grego
theaomai (θεάομαι) - olhar com atenção, perceber, contemplar
(1990, vol. 28:515). Theaomai não significa ver no sentido
comum, mas sim ter uma experiência
intensa, envolvente, meditativa, inquiridora, a fim de descobrir o
significado mais profundo; uma cuidadosa e deliberada visão que
interpreta seu objeto (Theological Dictionary of the New
Testament vol.5)
20
21. Existem várias teorias sobre a origem do
teatro. Segundo Oscar G.
Brockett, nenhuma delas pode ser
comprovada, pois existem poucas
evidencias e mais especulações.
Antropólogos ao final do século XIX e no
início do XX, elaboraram a hipótese de
que este teria surgido a partir dos rituais
primitivos (History of Theatre. Allyn e
Bacon 1995 pg. 1).
21
22. O primeiro evento com diálogos registrado foi uma apresentação
anual de peças sagradas no Antigo Egito do mito de Osíris e
Ísis, por volta de 2500 AC (Staton e Banham 1996 pg. 241), que
conta a história da morte e ressurreição de Osíris e a coroação de
Horus ( Brockett, pg. 9). A palavra 'teatro' e o conceito de
teatro, como algo independente da religião, só surgiram na Grécia
de Pisístrato (560-510a.C.), tirano ateniense que estabeleceu uma
dinâmica de produção para a tragédia e que possibilitou o
desenvolvimento das especificidades dessa modalidade
22
23. 23
Gil Vicente (c. 1465 — c. 1536?) é geralmente considerado o
primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de
renome. Enquanto homem de teatro, parece ter também
desempenhado as tarefas de músico, actor e encenador. É
frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do
teatro português, ou mesmo do teatro ibérico já que também
escreveu em castelhano - partilhando a paternidade da
dramaturgia espanhola com Juan del Encina.
Frontispício do Auto de Inês Pereira, de Gil Vicente.
24. 24
O Museu Nacional do Teatro é o museu nacional e o grande arquivo
das memórias e da História das artes do espectáculo em Portugal.
Através das suas colecções, procura desenvolver o conhecimento
tanto da história e da situação actual das artes do espectáculo, bem
como tratar, conservar preservar, organizar, investigar, documentar e
divulgar todas as suas colecções.
25. O Museu está instalado no
Palácio Monteiro-Mor, um
edifício do século XVIII que
foi restaurado e adaptado
especificamente para este
efeito. Actualmente, a
colecção do museu, que
começou a ser constituída
em 1979, já apresenta perto
de 250.000 peças.
25
26. Estas incluem trajes e adereços de
cena, cenários, figurinos, cartazes, progra
mas, discos e partituras e cerca de
120.000 fotografias. Existe também uma
biblioteca especializada com 35.000
volumes.
26
27. O Museu Nacional do Teatro apresenta
periodicamente exposições temporárias
dedicadas a companhias de teatro, a
figuras ligadas ao mundo do espectáculo
e a aspectos menos conhecidos do teatro
e de todas as actividades das Artes do
Espectáculo em geral.
27
28. O Museu Nacional do Teatro foi
oficialmente criado em 1982, através
do Decreto-Lei nº 241/82, de 22 de
Junho, no qual são definidas todas as
suas atribuições e
competências, nomeadamente, “proc
eder à
recolha, conservação, identificação, es
tudo, integração no seu contexto
histórico, exposição e divulgação de
espécies relativas ao teatro e a outras
formas de espectáculo com ele
relacionadas”
28
29. Sendo o museu nacional e o grande arquivo das
artes do espectáculo em Portugal, o seu objectivo
é recolher, preservar, registar, estudar e difundir
as suas colecções, promovendo o conhecimento
da história e da actividade contemporânea
daquelas artes.
29
30. A sua missão estratégica é
informar, formar, educar e divertir o
público que a ele
acorre, afirmando-se, de forma
clara, como uma instituição de
referência na museologia e na
história das artes em Portugal.
30
31. Inicialmente concebido e dedicado, em
exclusivo, à apresentação de exposições
temporárias (desde a sua fundação até
2002, puderam ser vistas mais de 20
exposições, dedicadas a Companhias, actores
e actrizes, cenógrafos e desenhadores
teatrais), em 2003 é inaugurada no edifício
principal do Museu (Palácio do Monteiro
Mor) a primeira exposição de carácter
permanente – “Peças de teatro: as colecções
do Museu” -, dando corpo a uma
necessidade que, cada vez mais, se ia
sentindo e manifestando das mais diversas
formas e das quais a voz do público era a
mais significativa.
31
Vasco Santana
32. Esta exposição, baseada numa
estrutura e num percurso
permanentes nos quais as peças
vão periodicamente
rodando, permite uma maior
dinâmica museográfica e, em
simultâneo, um maior
conhecimento e
entendimento, por parte dos
visitantes, do vasto acervo que
constitui este Museu e da forma
como as suas colecções estão
organizadas nas respectivas
reservas.
32
33. Na galeria situada no edifício
fronteiro à recepção/loja
continuam a ser apresentadas
exposições temporárias
dedicadas a todos os aspectos
que intervêm nas artes do
espectáculo, quer através de
colecções pertencentes ao
acervo do Museu, quer
privilegiando os criadores e a
criação contemporânea.
33
34. Desde o início do século XX que se assinalam tentativas
dispersas, tendentes à criação de um Museu do Teatro, assim
procurando preservar a tão efémera memória das Artes do
Espectáculo. No entanto, só em 1979, com a organização de uma
grande exposição teatral dedicada à célebre "Companhia Rosas &
Brasão (1880-1898)" foi possível concretizar essa aspiração.
Começaram a partir de então a ser reunidas as colecções do
futuro Museu, quase todas provenientes de doações, sendo o
Museu oficialmente criado em 1982.
34
35. Em 4 de Fevereiro de 1985, o Museu foi
inaugurado, ficando instalado num
edifício do século XVIII, o antigo Palácio
do Monteiro Mor, que, para esse fim, fora
rigorosamente recuperado e adaptado.
35
36. As colecções do Museu, cuja
constituição começou, a partir do
zero, em 1979, têm actualmente
cerca de 300 000
espécies, englobando a totalidade
das artes do espectáculo, e
incluem trajos e adereços de
cena, maquetes de
cenário, figurinos, desenhos, carica
turas, pinturas, esculturas, progra
mas, cartazes, recortes de
jornal, manuscritos, discos, partitu
ras, até um conjunto de cerca de
120 000 fotografias.
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37. O Museu tem apresentado sempre
exposições temporárias dedicadas
a companhias
teatrais, personalidades ligadas ao
mundo do espectáculo, e ainda a
aspectos menos conhecidos do
trabalho teatral em toda a sua
diversidade, estando actualmente
em preparação a montagem de um
núcleo permanente dedicado à
história e evolução do Teatro e das
Artes do Espectáculo em Portugal.
37
38. Palácio do Monteiro-Mor – História
O nome de Monteiro-Mor, consagrado da
toponímia local desde meados do século
XVIII, foi atribuído a este Parque, por confinar
com o pequeno Palácio onde habitaram dois
Monteiros-Mores na segunda metade deste
século; referimo-nos a D. Henrique de Noronha
(Monteiro-Mor - 1717, filho de D. António de
Noronha, 2o marquês de Angeja), que pelo seu
casamento com D. Maria Josefa de Melo (filha
do Monteiro-Mor Francisco de Melo) herdou
este cargo, e D. Fernão Teles da Silva (M.M.
1728) segundo marido de D. Josefa (terceiro
filho do conde de Tarouca e Monteiro-Mor do
Reino), que adquiriu o Palácio a D. António de
Beja Noronha e Almeida, fidalgo da Casa de Sua
Majestade, que o adaptou.
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39. Confinante com a casa do
Nobre, constituiu-se por compras
sucessivas a vários proprietários, uma
grande quinta, de que viria a ser
herdeiro e senhor, D. Pedro José de
Noronha de Albuquerque Moniz e
Sousa (1716-1788), 3o marquês de
Angeja, 4o conde de Vila Verde, gentil
homem da Câmara de D. Maria I, e
Primeiro Ministro, que sucedeu a
Marquês de Pombal. Por interessante
coincidência, os dois irmãos "Angeja"
– D. Henrique e D. Pedro – dedicaram-
se à Ciência Botânica.
39
40. A este último mereceu-lhe o jardim
botânico particulares cuidados, tendo-
se iniciado na década de 1750 sob
orientação do botânico italiano
Domenico Vandelli (1735-1816), que
foi professor de ciências naturais e
química, e ainda director do Jardim
Botânico da Universidade de Coimbra
e do Jardim Botânico da Ajuda.
40
41. Palácio do Monteiro-Mor – História
Consta que em 1793 o jardim botânico era já
citado como sendo um dos três mais belos
jardins de Lisboa.
O Palácio e o Jardim foram transmitidos na
Casa Angeja até à descendente D. Mariana de
Castelo Branco, que os vendeu em 1840 ao
1o marquês do Faial e 2o duque de Palmela, D.
Domingos de Sousa Holstein Beck (1818-1864).
A requintada cultura Palmela contribuiu para
que o Palácio se transformasse num verdadeiro
museu de obras de arte, e o jardim
ornamentado com espécies exóticas
raras, vindas especialmente de Inglaterra, fosse
ainda mais enriquecido no seu já valioso
inventário .
41
42. 42
Em 1970, um enorme incêndio destrói quase todo o
Palácio, deixando de pé apenas as suas paredes exteriores. A
representação diplomática abandona em definitivo o pouco
que resta do edifício, totalmente reduzido a escombros.
Nesta situação foi adquirido pelo Estado em 1975, e assim
ficou até 1979.
Foi o Decreto-Lei no 558 de 27 de Setembro de 1975, que
autorizou a Direcção-Geral da Fazenda Pública a adquirir a
chamada "Quinta do Monteiro-Mor", situada no Lumiar em
Lisboa, e, por sua vez, também permitiu a instalação
condigna do então recente Museu Nacional do Trajo, no
grande Palácio aí existente. A "Quinta" encontra-se reservada
como zona verde no Plano Director da Cidade, o que a liberta
de qualquer outra utilização. Após a aquisição pelo
Estado, impunha-se, desde logo, tratar da recuperação do
que restava do Palácio do Monteiro-Mor.
43. Palácio do Monteiro-Mor – História
Em 1978, Vítor Pavão dos Santos propõe a
criação de um Museu do Teatro naquele
Palácio, o que acaba por ser aceite. Com esse
objectivo, é decidido proceder-se ao restauro
do edifício, embora ainda tivesse sido
considerada a hipótese da sua completa
demolição e construção de um totalmente
novo. Justificava-se esta radical sugestão com o
absurdo fundamento de o Palácio não ser
especialmente bonito.
43
44. 44
Felizmente, e também, uma vez mais, depois de insistência
de Vítor Pavão dos Santos, optou-se pela reconstrução das
fachadas e por um espaço interior aberto, que possibilitasse
utilizações diversas, de acordo com as necessidades
específicas de cada exposição.
Tal recuperação foi projectada pelo arquitecto Joaquim
Cabeça Padrão, que, compreendendo perfeitamente os
problemas que se levantavam para conjugar o edifício
existente, do qual apenas restavam as paredes
exteriores, com o programa do Museu, conseguiu, com raro
equilíbrio, conciliar um exterior do século XVIII, que respeitou
escrupulosamente, com um interior de museu moderno, com
duas muito amplas salas de exposição e, num
aproveitamento criterioso de espaço, encontrou lugar para
gabinetes, reservas e um excelente auditório, além de todos
os demais serviços.