Este documento descreve a contribuição da história oral e dos testes de campo na pesquisa de arquitetura de informação. A história oral foi utilizada para registrar depoimentos de 16 funcionários do IBGE sobre a evolução do portal. Testes de campo foram realizados com pesquisadores em seus locais de trabalho e universidades para identificar problemas de usabilidade no portal. Os resultados levaram ao estabelecimento de critérios heurísticos para avaliação da interface.
A contribuição da história oral e testes de campo na pesquisa de arquitetura de informação
1. A contribuição da
história oral e dos
testes de campo
na pesquisa de arquitetura de informação
Luiz AGNER
Laboratório de Ergonomia e Usabilidade
Pesquisa de doutorado, PUC-Rio
7. Problema
Comunidade do Orkut - “para todos os
pesquisadores, universitários ou não, que:
– sentem calafrios quando precisam procurar algum
dado no site;
– sabem que o lema do site é quot;quem procura NUNCA
acha!quot;;
– sabem que é mais fácil descobrir qualquer
informação lendo borra de café do que acessando o
site;
– na hipótese de encontrar a planilha desejada, ela
provavelmente fará seu computador trancar;
– reconhecem o mérito dos pesquisadores do instituto
mas quase nunca acham os dados pesquisados por
eles.”
9. Pesquisa de AI
(ROSENFELD e
Objetivos da organização,
políticas, cultura,
MORVILLE)
Contexto
tecnologia e recursos
humanos
10. Pesquisa de AI
(ROSENFELD e
Objetivos da organização,
políticas, cultura,
MORVILLE)
Contexto
tecnologia e recursos
humanos
Documentos,
formatos/tipos, objetos,
metadados, estrutura
existente
Conteúdo
11. Pesquisa de AI
(ROSENFELD e
Objetivos da organização,
políticas, cultura,
MORVILLE)
Contexto
tecnologia e recursos
humanos
Perfil dos usuários,
Documentos, identificação das audiências,
formatos/tipos, objetos, tarefas, necessidades,
metadados, estrutura comportamento de busca de
existente informação, experiência,
Conteúdo Usuários
vocabulário
12. Arquitetura de
informação
Definições de AI
– AI é a atividade que combina a aplicação de
esquemas de navegação, de organização e
de rotulagem dentro de um sistema
informacional.
– AI é o Design estrutural de um espaço de
informação com o objetivo de facilitar as
tarefas e o acesso intuitivo aos conteúdos.
13. Arquitetura de
informação
– AI é a arte e a ciência de estruturar e
classificar websites e intranets para auxiliar
as pessoas a encontrar e a gerenciar
informação.
– AI é uma disciplina emergente e uma
comunidade de prática profissional.
(Morville)
14. Arquitetura de
informação
Papéis do arquiteto:
– Clarificar a missão e a visão do site fazendo
o balanceamento entre necessidades da
organização e as necessidades de seus
usuários.
– Determinar qual o conteúdo e a
funcionalidade que o site conterá.
– Especificar como usuários encontrarão
informação no site, por meio da definição da
sua organização, navegação, rotulagem e
sistemas de busca.
15. Arquitetura de
informação
Componentes da AI:
– Sistemas de Organização – como é apresentada a
organização e a categorização do conteúdo.
– Sistemas de Rotulação – signos verbais
(terminologia) e visuais (icônicos).
– Sistemas de Navegação – formas de o usuário se
mover através do espaço.
– Sistemas de Busca – define as perguntas que o
usuário pode fazer e o conjunto de respostas do
banco de dados.
17. O método
Concepções filosóficas e epistemológicas
diferentes sustentam paradigmas
metodológicos diferentes (GRESLER, 2003).
Existem duas grandes abordagens: a
quantitativa e a qualitativa.
18. O método
Abordagem quantitativa - caracteriza-se pela
formulação de hipóteses, definições operacionais de
variáveis, quantificação na coleta de dados e utilização
de tratamentos estatísticos.
O modelo quantitativo estabelece hipóteses que
exigem uma relação entre causa e efeito e apóia
conclusões em dados estatísticos, comprovações e
testes.
Os critérios são a verificação, a demonstração, os
testes e a lógica matemática.
19. O método
Abordagem qualitativa - não emprega instrumentos
estatísticos como base para a análise.
É utilizada quando se busca descrever a complexidade
de determinado problema - não envolvendo
manipulação de variáveis ou estudos experimentais.
Ela contrapõe-se à abordagem quantitativa, uma vez
que busca levar em consideração todos os
componentes de uma situação e suas interações e
influências recíprocas, numa visão holística.
20. O método
Há domínios quantificáveis e outros qualificáveis.
Segundo RICHARDSON (1999), as investigações que se
voltam para uma análise qualitativa têm como
objeto de estudo situações complexas ou bastante
particulares (como é o caso do objeto de estudo deste
trabalho).
Estudos que empregam a metodologia qualitativa
podem descrever a complexidade dos problemas,
analisar a interação de variáveis, compreender e
classificar processos dinâmicos vividos por grupos
sociais, e contribuir no processo de mudança.
22. História oral
A história oral - como método de pesquisa - se
revela importante instrumento para
compreensão das construções das estratégias
de ação e das representações, de grupos ou de
indivíduos, em uma dada sociedade.
FERREIRA, Marieta (coord.)
“Entrevistas: abordagens e usos da história oral”.
Ed.FGV, 1994.
23. História oral
É utilizada no registro da história de grandes
empresas e de organizações governamentais.
O registro oral mostra-se a única possibilidade
de recuperar um passado que - apesar de
recente - deixou poucos traços.
DIAS, José L. Mattos.
“Entrevistas: abordagens e usos da história oral”.
Ed.FGV, 1994.
24. História oral
Permite abordar o mundo fechado da
burocracia “de dentro”, rachando a fachada de
neutralidade e de racionalidade, que busca
isolá-lo do público “externo”.
Motta, Marly Silva.
“Entrevistas: abordagens e usos da história oral”.
Ed.FGV, 1994.
25. História oral
Privilegia a recuperação do vivido conforme
concebido por quem o viveu.
É um diálogo entre entrevistado e
entrevistadores, uma construção e uma
interpretação do passado, atualizada através
da linguagem falada.
Não é fator negativo o fato de o depoente
poder “distorcer” a realidade, ter “falhas” de
memória ou “errar” em seu relato.
(ALBERTI).
26. História oral
A escolha de entrevistados não é orientada por
critérios quantitativos (amostragens), mas pela
posição do entrevistado no grupo ou por sua
experiência.
Entrevistados estão entre os que participaram,
viveram, presenciaram ou se inteiraram de
ocorrências e que possam fornecer
depoimentos significativos.
O processo de seleção de entrevistados se
aproxima da antropologia, tomados não como
unidades estatísticas mas como unidades
qualitativas.
27. História oral
16 entrevistas (2004 – 2007).
– Técnicos
– Conteudistas
– Designers
– Gerentes
– Profissionais de atendimento ao usuário
28. História oral
“(...) A busca no portal é [realizada pela]
pessoa que está fazendo uma pesquisa, que
vai ali ter uma resposta no [site] Cidades@.
Ou uma criança que vai lá no site Teen e
consegue fazer o levantamento dele. Agora, na
Loja Virtual, você já tem um perfil de
empresas, de consultorias, de pesquisadores
(...)”
Alcides Braga – Administrador da Loja Virtual
29. História oral
“(...) O que a Internet permitiu (...) é
justamente colocar, democraticamente, este
maior banco de dados sobre o Brasil à
disposição de todo o público. (...) Então, acho,
é mais um papel de cumprimento da missão do
IBGE - em levar a informação à sociedade.”
Francisco Alchorne - Jornalista
43. Testes de usabilidade
O feedback vivo de usuários operando
tarefas reais
Processo empírico de aprender a partir
dos usuários, sobre a usabilidade de
um produto, observando-os durante a
sua utilização.
(RUBIN, 1994; DUMAS & REDISH, 1994; BARNUM,
2002).
44. Testes de usabilidade
Registrados em vídeo
ou em áudio, usuários
interagem com o
sistema, em condições
controladas, para
checar o sucesso das
interfaces, observando
dados
comportamentais.
45. Testes de usabilidade
NIELSEN propôs testes com melhor relação custo-
benefício, utilizando entre quatro e cinco usuários
dispensa das gravações em laboratórios, para se
encaixar dentro dos orçamentos das empresas.
46. Testes de usabilidade
Participantes:
– Os objetivos específicos de cada teste
definem os participantes e as tarefas
executadas.
– Os participantes devem representar
usuários reais: membros do grupo que
utiliza ou que vai utilizar o produto.
– Os participantes devem executar tarefas
reais.
47. Testes de campo
Laboratório portátil:
– Notebook
– Internet Explorer 6.
– Webcam.
– Mouse.
– Headphone com microfone
– Software de captura de telas
– Câmera digital
– Gravador analógico
– Acesso wireless à Internet
– Questionários e documentação
48. Testes de campo
Vantagens:
– ir ao usuário em vez de convidá-lo a vir até
ele;
– observar o ambiente real onde o usuário
trabalha ou vive;
– observar o usuário com todas as
interrupções e distrações do ambiente;
– verificar os artefatos criados pelos usuários
para as tarefas;
– pode acessar documentações específicas.
49. Testes de campo
Variáveis controladas – Acesso wireless, hardware, software, público-alvo, tarefas.
Variáveis intervenientes – Inúmeras, típicas dos testes de campo.
Locais – Campi universitários do Rio, residências e locais de trabalho
dos pesquisadores.
50. Testes de campo
Variáveis controladas – Acesso wireless, hardware, software, público-alvo, tarefas.
Variáveis intervenientes – Inúmeras, típicas dos testes de campo.
Locais – Campi universitários do Rio, residências e locais de trabalho
dos pesquisadores.
51. Testes de campo
Variáveis controladas – Acesso wireless, hardware, software, público-alvo, tarefas.
Variáveis intervenientes – Inúmeras, típicas dos testes de campo.
Locais – Campi universitários do Rio, residências e locais de trabalho
dos pesquisadores.
52. Tarefa 1
“A partir da home page do portal IBGE,
identifique em que estado do Brasil
reside a maior concentração de pessoas
idosas (com mais de 60 anos)”.
53. Tarefa 2
“A partir da home page do portal IBGE,
descubra em que bairro da cidade de
Recife reside a maior concentração de
cidadãos da terceira idade”.
54. Testes de campo
Exemplo de
registro
Protocolos
de verba-
lização
- concorrente
- retrospectivo
55. Análise dos dados
Após o registro e a categorização das
descobertas, procurou-se determinar a
causa dos problemas de usabilidade,
avaliou-se seu impacto individual e
recomendaram-se soluções.
O resultado do processo levou ao
estabelecimento de um conjunto de
critérios heurísticos específicos para a
avaliação do portal IBGE.
56. Análise dos dados
Estes critérios heurísticos foram
consubstanciados em uma lista de
verificação (checklist).
Checklist foi submetida a validação
junto à uma equipe com grande
experiência no desenvolvimento do
portal IBGE.
57. Participantes
Nível de instrução
29%
Mestrado
Doutorado
71%
61. Participantes
Experiência com computadores
12
10
8
6
4
2
0
ta
a
a
a
ta
ad
um
m
al
al
gu
er
te
nh
od
en
al
ne
m
am
ad
er
od
m
62. Participantes
Horas diárias na web
12
10
8
6
4
2
0
1-3h 3-8h mais de 8h
63. Participantes
Conhecimento ou utilização de estatística
sim
não
50%
50%
64. Resultados
Resultados - tarefa 1
sucesso
13%
sucesso
insucesso
insucesso
87%
65. Resultados
Resultados - tarefa 2
sucesso
0%
sucesso
insucesso
insucesso
100%
66. Resultados
Causas de insucesso - tarefa 1
desistência
5%
dado errado
47%
expiração do
tempo
48%
67. Resultados
Causas de insucesso - tarefa 2
desistência
17%
expiração do
tempo
83%
68. Resultados
Encontrar informações estatísticas é
muito difícil 7
difícil 13
nem fácil nem difícil 3
fácil 1
muito fácil 0
0 2 4 6 8 10 12 14
69. Resultados
O que menos gostou
3
descrições dos arquivos
3
excesso de informações/links
3
comunicação visual
4
outros
5
classificação de informações
5
dificuldade
5
falta de clareza
6
busca
0 1 2 3 4 5 6
70. Avaliação da técnica
Participante 10 – Achou “ótimo”. Considerou o procedimento de “pensar
alto” para gravação válido pois às vezes “fazemos coisas sem
perceber”.
Participante 20 – Considerou o método utilizado “perfeitamente válido” e
um “modelo aplicável” em outras pesquisas.
Participante 22 – Avaliou como “bastante completo”. Considera que há
diferenças no ato de navegar, quando as ações estão sendo gravadas
e que, fora do ambiente de teste, sua navegação seria “mais ágil”.
Participante 26 – Relatou inibição pelo fato de ser observada. Sentiu-se
“pressionada” e isto “interferiu de forma negativa na sua
performance”.
71. Conclusões parciais
Os problemas relacionam-se
largamente à ineficiência dos
mecanismos de busca, à taxonomia
aparentemente ilógica ou incompleta, à
falta de clareza dos rótulos e links, e
aos problemas de redação – todos
problemas típicos de arquitetura de
informação.