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Periódico: ª edição

“Nós somos a cidade1”

Volume

:1

Nov 2013

propriedade privada e da taxa de lucro foram
desafiados [...] (HARVEY, p.33, 2013).

Os movimentos populares em suma, reivindicam 1
aquilo que David Harvey(2013) 2 afirma como
“direito à cidade”. Mas em que constitui este
direito? Até que ponto o mesmo abrange? O
direito à cidade vai além do simples e básico
direito de ir e vir, mais que isso, o direito
efetivo à cidade é o poder para transforma-la e
como se sabe existem inúmeras forças que
lutam contra a conquista desses direitos e que
segundo o mesmo autor essas forças numerosas
lutam contra “o exercício de tais direitos, e
querem
[...] a concepção de direito à cidade toma novos
viés. Foi nas ruas que os tchecos se libertaram em
1989, de opressivas formas de governança; foi na
Praça da Paz Celestial que o movimento estudantil
chinês buscou estabelecer uma difusão alternativa de
direitos; foi através de massivos comícios que a
Guerra do Vietnã foi forçada a terminar; foi nas ruas
que milhões protestaram contra o prospecto de
uma intervenção imperialista norte-americana no
Iraque em 15 de fevereiro de 2003; foi nas ruas de
Seattle, Gênova, Melbourne, Quebec e Bangkok que
os direitos inalienáveis da

inclusive

impedir

que

tenhamos

consciência para agir contra essas forças
opostas”.
Será que os cidadãos já pararam para pensar o
que acontece quando todos, ou boa parcela,
resolve exercer o seu direito à cidade? Os
resultados são as lutas de classe e conflitos, não
há cidade pacífica, não há harmonia plena. O
“turbilhão da cena urbana” se dá de modo
complexo, por meio de processos construtivos,
quantos também destrutivos. E se fizer o
seguinte questionamento: O direito à cidade
2

1

Autora do artigo Fernanda E. Mattos (Nanda Luxemburg),
conteúdo criado para os periódicos do blog Um quê de Marx.

www.umquedemarx.com.br

HARVEY, David. A liberdade da cidade. In: ______
Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que
tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta
Maior, 2013. p. 28.

UM QUÊ DE MARX COMPARTILHA NA REDE
PROIBIDO A COMERCIALIZAÇÃO.
CASO UTILIZE, CITE A FONTE.
pertence a quem? “Marx escreveu, entre

que a tendência dessas diversidades cada vez

direitos iguais, quem decide é a força” (MARX,

mais se é de se acentuarem.

2013 apud HARVEY 2013, p.31) o direito à

Com a explosão da globalização e tendências

cidade se torna efetivo via lutas sociais, as vozes

neoliberais acentua-se o quadro da hegemonia,

das ruas, elas são indispensáveis para o exercício

essa força condutora de ideologias, políticas e

do direito à cidade, direito a tudo o que a

cidadania (direito à cidade), as cidades parecem

mesma pode proporcionar. É importante ter

ser feitas para a vida privada, para uma vida

consciência de que o direito à cidade, de forma

baseada apenas no consumo. Cada vez mais a

alguma se dá sob a perspectiva individual, esse
direito é se torna efetivo quando parte da

cidade parece não ter sido criada para o 2
sociabilização, para solidariedade, coletividade e

demanda coletiva.

comunhão entre povos, a cidade acaba sendo
lócus da alienação, até porque muitos nem
sabem que todos possuem o direito à cidade,
(todos). Mas caso não tenha consciência de que
esse desejo é um bem onde todos possam fazer
uso, esse

direito “perdido”

acaba

sendo

transferido para as mãos de quem tem
consciência, ou ainda pior, acaba sendo entregue
de bandeja para o lado hegemônico. Segundo
Harvey (2013) “o direito à cidade não é um
Refletindo sobre as palavras de Marx, citado

presente, e sim conquista, o mesmo deve se

anteriormente por Harvey, se os direitos iguais

garante pelo movimento político”.

eles serão determinados pela força, ou seja, pelo

Em outras palavras, os direitos sociais à cidade

lado que exerce maior poder, sob esta

acabam

perspectiva é importante salientar que se a

privados (a força hegemônica da cidade liberal) e

massa não vai à luta e não exerce o seu direito à

se a força for maior no lado dos direitos de

cidade, ela acaba se tornando o lado mais fraco.

liberais (de alguns) o mais fracos (que são a

E com bem se sabe, a cidade sempre foi local de

maioria) tem seus direitos negligenciados ou

desigualdades e na cidade sempre houve as

quando não são negados.

forças hegemônicas e em consequência desta

Por esses (e entre outros) fatores citados

força, o urbano foi e continua sendo o lugar

anteriormente é preciso compreender, pois

onde o desejo, a cultura, os direitos, as visões

para que a luta se efetive, é indispensável

de mundo e as religiões se chocam, muito se diz

promover o enfraquecimento das impiedosas

www.umquedemarx.com.br

sendo

esmagados

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PROIBIDO A COMERCIALIZAÇÃO.
CASO UTILIZE, CITE A FONTE.

pelos

direitos
políticas liberais que permeiam o urbano (e não
somente).

3
Carlos Vainer 3 aponta que uma cidade sob a
ótica neoliberal ela tende a ser regida pelas
necessidades gerais da acumulação e circulação
do capital, portanto, nessas circunstâncias, o
espaço para cidadania, solidariedade e direitos
humanos não são prioridades, pelo contrário, é
um incômodo para um sistema que apenas se
preocupa com os lucros. As cidades passam a
ser concebidas como se fossem “empresas” e
não um espaço comum, fruto do coletivo e dos
direitos

(coletivos)

econômicos,

sociais

e

humanos.
Os movimentos e manifestos em prol o
exercício da cidadania e dos direitos sociais
coletivos é a esperança que nos enche de utopia
para continuar crendo que outra realidade social
seria possível, que a lógica da acumulação seja
quem sabe enfraquecida. E não custa nada
sonhar, e utopia nos serve para não deixemos
de caminhar4.

VAINER, Carlos. A cidade neoliberal: empresa e
mercadoria. In: ______ Cidades rebeldes: Passe livre e as
manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo:
Boitempo: Carta Maior, 2013. p.35-40.
4
Ver mais em Eduardo Galeano, A utopia.
3

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REFERÊNCIAS
HARVEY, David. A liberdade da cidade. In:
______ Cidades rebeldes: Passe livre e as
manifestações que tomaram as ruas do Brasil.
São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. p.2734.
MARICATO, Ermínia. [et al] Cidades
rebeldes: passe livre e as manifestações que
tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo:
Carta Maior, 2013.
VAINER, Carlos. A cidade neoliberal: empresa e
mercadoria. In: ______ Cidades rebeldes:
Passe livre e as manifestações que tomaram as
ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta
Maior, 2013. p.35-40.

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  • 1. 1 Periódico: ª edição “Nós somos a cidade1” Volume :1 Nov 2013 propriedade privada e da taxa de lucro foram desafiados [...] (HARVEY, p.33, 2013). Os movimentos populares em suma, reivindicam 1 aquilo que David Harvey(2013) 2 afirma como “direito à cidade”. Mas em que constitui este direito? Até que ponto o mesmo abrange? O direito à cidade vai além do simples e básico direito de ir e vir, mais que isso, o direito efetivo à cidade é o poder para transforma-la e como se sabe existem inúmeras forças que lutam contra a conquista desses direitos e que segundo o mesmo autor essas forças numerosas lutam contra “o exercício de tais direitos, e querem [...] a concepção de direito à cidade toma novos viés. Foi nas ruas que os tchecos se libertaram em 1989, de opressivas formas de governança; foi na Praça da Paz Celestial que o movimento estudantil chinês buscou estabelecer uma difusão alternativa de direitos; foi através de massivos comícios que a Guerra do Vietnã foi forçada a terminar; foi nas ruas que milhões protestaram contra o prospecto de uma intervenção imperialista norte-americana no Iraque em 15 de fevereiro de 2003; foi nas ruas de Seattle, Gênova, Melbourne, Quebec e Bangkok que os direitos inalienáveis da inclusive impedir que tenhamos consciência para agir contra essas forças opostas”. Será que os cidadãos já pararam para pensar o que acontece quando todos, ou boa parcela, resolve exercer o seu direito à cidade? Os resultados são as lutas de classe e conflitos, não há cidade pacífica, não há harmonia plena. O “turbilhão da cena urbana” se dá de modo complexo, por meio de processos construtivos, quantos também destrutivos. E se fizer o seguinte questionamento: O direito à cidade 2 1 Autora do artigo Fernanda E. Mattos (Nanda Luxemburg), conteúdo criado para os periódicos do blog Um quê de Marx. www.umquedemarx.com.br HARVEY, David. A liberdade da cidade. In: ______ Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. p. 28. UM QUÊ DE MARX COMPARTILHA NA REDE PROIBIDO A COMERCIALIZAÇÃO. CASO UTILIZE, CITE A FONTE.
  • 2. pertence a quem? “Marx escreveu, entre que a tendência dessas diversidades cada vez direitos iguais, quem decide é a força” (MARX, mais se é de se acentuarem. 2013 apud HARVEY 2013, p.31) o direito à Com a explosão da globalização e tendências cidade se torna efetivo via lutas sociais, as vozes neoliberais acentua-se o quadro da hegemonia, das ruas, elas são indispensáveis para o exercício essa força condutora de ideologias, políticas e do direito à cidade, direito a tudo o que a cidadania (direito à cidade), as cidades parecem mesma pode proporcionar. É importante ter ser feitas para a vida privada, para uma vida consciência de que o direito à cidade, de forma baseada apenas no consumo. Cada vez mais a alguma se dá sob a perspectiva individual, esse direito é se torna efetivo quando parte da cidade parece não ter sido criada para o 2 sociabilização, para solidariedade, coletividade e demanda coletiva. comunhão entre povos, a cidade acaba sendo lócus da alienação, até porque muitos nem sabem que todos possuem o direito à cidade, (todos). Mas caso não tenha consciência de que esse desejo é um bem onde todos possam fazer uso, esse direito “perdido” acaba sendo transferido para as mãos de quem tem consciência, ou ainda pior, acaba sendo entregue de bandeja para o lado hegemônico. Segundo Harvey (2013) “o direito à cidade não é um Refletindo sobre as palavras de Marx, citado presente, e sim conquista, o mesmo deve se anteriormente por Harvey, se os direitos iguais garante pelo movimento político”. eles serão determinados pela força, ou seja, pelo Em outras palavras, os direitos sociais à cidade lado que exerce maior poder, sob esta acabam perspectiva é importante salientar que se a privados (a força hegemônica da cidade liberal) e massa não vai à luta e não exerce o seu direito à se a força for maior no lado dos direitos de cidade, ela acaba se tornando o lado mais fraco. liberais (de alguns) o mais fracos (que são a E com bem se sabe, a cidade sempre foi local de maioria) tem seus direitos negligenciados ou desigualdades e na cidade sempre houve as quando não são negados. forças hegemônicas e em consequência desta Por esses (e entre outros) fatores citados força, o urbano foi e continua sendo o lugar anteriormente é preciso compreender, pois onde o desejo, a cultura, os direitos, as visões para que a luta se efetive, é indispensável de mundo e as religiões se chocam, muito se diz promover o enfraquecimento das impiedosas www.umquedemarx.com.br sendo esmagados UM QUÊ DE MARX COMPARTILHA NA REDE PROIBIDO A COMERCIALIZAÇÃO. CASO UTILIZE, CITE A FONTE. pelos direitos
  • 3. políticas liberais que permeiam o urbano (e não somente). 3 Carlos Vainer 3 aponta que uma cidade sob a ótica neoliberal ela tende a ser regida pelas necessidades gerais da acumulação e circulação do capital, portanto, nessas circunstâncias, o espaço para cidadania, solidariedade e direitos humanos não são prioridades, pelo contrário, é um incômodo para um sistema que apenas se preocupa com os lucros. As cidades passam a ser concebidas como se fossem “empresas” e não um espaço comum, fruto do coletivo e dos direitos (coletivos) econômicos, sociais e humanos. Os movimentos e manifestos em prol o exercício da cidadania e dos direitos sociais coletivos é a esperança que nos enche de utopia para continuar crendo que outra realidade social seria possível, que a lógica da acumulação seja quem sabe enfraquecida. E não custa nada sonhar, e utopia nos serve para não deixemos de caminhar4. VAINER, Carlos. A cidade neoliberal: empresa e mercadoria. In: ______ Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. p.35-40. 4 Ver mais em Eduardo Galeano, A utopia. 3 www.umquedemarx.com.br UM QUÊ DE MARX COMPARTILHA NA REDE PROIBIDO A COMERCIALIZAÇÃO. CASO UTILIZE, CITE A FONTE.
  • 4. REFERÊNCIAS HARVEY, David. A liberdade da cidade. In: ______ Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. p.2734. MARICATO, Ermínia. [et al] Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. VAINER, Carlos. A cidade neoliberal: empresa e mercadoria. In: ______ Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. p.35-40. Este artigo encontra-se armazenado em nosso blog, disponível em PDF. www.umquedemarx.com.br UM QUÊ DE MARX COMPARTILHA NA REDE PROIBIDO A COMERCIALIZAÇÃO. CASO UTILIZE, CITE A FONTE. 4