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Cap´ıtulo 9
Movimento dos planetas
Os planetas est˜ao muito mais pr´oximos de n´os do que as estrelas, de forma
que eles parecem se mover, ao longo do ano, entre as estrelas de fundo. Esse
movimento se faz, geralmente, de oeste para leste (n˜ao confundir com o mo-
vimento diurno, que ´e sempre de leste para oeste!), mas em certas ´epocas
o movimento muda, passando a ser de leste para oeste. Esse movimento
retr´ogrado pode durar v´arios meses (dependendo do planeta), at´e que fica
mais lento e o planeta reverte novamente sua dire¸c˜ao, retomando o movi-
mento normal. O movimento observado de cada planeta ´e uma combina¸c˜ao
do movimento do planeta em torno do Sol com o movimento da Terra em
torno do Sol, e ´e simples de explicar quando sabemos que a Terra est´a em
movimento, mas fica muito dif´ıcil de descrever num sistema em que a Terra
esteja parada e seja o centro do movimento dos outros astros, ou seja, num
sistema geocˆentrico.
9.1 O modelo geocˆentrico de Ptolomeu
Apesar disso, o geocentrismo foi uma id´eia dominante na astronomia durante
toda a Antiguidade e Idade M´edia. O sistema geocˆentrico tamb´em ´e conhe-
cido como sistema ptolemaico, pois foi Claudius Ptolemaeus (85 d.C.-
165 d.C.), o ´ultimo dos grandes astrˆonomos gregos, quem construiu o mo-
delo geocˆentrico mais completo e eficiente. Ptolomeu explicou o movimento
dos planetas atrav´es de uma combina¸c˜ao de c´ırculos: o planeta se move ao
longo de um pequeno c´ırculo chamado epiciclo, cujo centro se move em um
c´ırculo maior chamado deferente. A Terra fica numa posi¸c˜ao um pouco afas-
tada do centro do deferente (portanto, o deferente ´e um c´ırculo excˆentrico
em rela¸c˜ao `a Terra). At´e aqui, o modelo de Ptolomeu n˜ao diferia do modelo
63
usado por Hiparco aproximadamente 250 anos antes. A novidade introdu-
zida por Ptolomeu foi o equante, que ´e um ponto ao lado do centro do
deferente oposto em rela¸c˜ao `a Terra, em rela¸c˜ao ao qual o centro do epici-
clo se move a uma taxa uniforme, e que tinha o objetivo de dar conta do
movimento n˜ao uniforme dos planetas.
x .
Planeta
Equante
Centro do
Terra
Deferente
Epiciclo
Deferente
O objetivo de Ptolomeu era o de produzir um modelo que permitisse
prever a posi¸c˜ao dos planetas de forma correta e, nesse ponto, ele foi razoa-
velmente bem-sucedido. Por essa raz˜ao, esse modelo continuou sendo usado
sem mudan¸ca substancial por cerca de 1300 anos.
9.2 Cop´ernico e o modelo heliocˆentrico
No in´ıcio do s´eculo XVI, a Renascen¸ca estava sacudindo as cinzas do obs-
curantismo da Idade M´edia e trazendo novo fˆolego a todas as ´areas do co-
nhecimento humano. Nicolau Cop´ernico representou o Renascimento na
astronomia. Cop´ernico (1473-1543) foi um astrˆonomo polonˆes com grande
inclina¸c˜ao para a matem´atica. Estudando na It´alia, ele leu sobre a hip´otese
heliocˆentrica proposta (e n˜ao aceita) por Aristarco de Samos (310-230 a.C.),
e achou que o Sol no centro do Universo era muito mais razo´avel do que a
Terra. Cop´ernico registrou suas id´eias num livro - De Revolutionibus- pu-
blicado no ano de sua morte.
As realiza¸c˜oes mais importantes de Cop´ernico foram:
• introduziu o conceito de que a Terra ´e apenas um dos seis planetas
(ent˜ao conhecidos) girando em torno do Sol;
64
Figura 9.1: Movimento retr´ogrado dos planetas.
• colocou os planetas em ordem de distˆancia ao Sol: Merc´urio, Vˆenus,
Terra, Marte, J´upiter, Saturno (Urano, Netuno e Plut˜ao);
• determinou as distˆancias dos planetas ao Sol, em termos da distˆancia
Terra-Sol;
• deduziu que quanto mais perto do Sol est´a o planeta, maior ´e sua
velocidade orbital. Dessa forma, o movimento retr´ogrado dos planetas
foi facilmente explicado sem necessidade de epiciclos [ver figura (9.2)].
Conv´em notar que Cop´ernico manteve a id´eia de que as ´orbitas dos
planetas eram circulares e, para obter posi¸c˜oes razo´aveis, teve de manter
pequenos epiciclos, mas n˜ao usou equantes.
9.2.1 Classifica¸c˜ao dos planetas pela distˆancia ao Sol
Planetas inferiores: Merc´urio e Vˆenus. Tˆem ´orbitas menores do que a
´orbita da Terra. Os dois planetas est˜ao sempre muito pr´oximos do
Sol, alcan¸cando o m´aximo afastamento angular em rela¸c˜ao ao Sol de
28◦, no caso de Merc´urio, e 48◦, no caso de Vˆenus. Por essa raz˜ao, eles
s´o s˜ao vis´ıveis ao anoitecer, logo ap´os o pˆor-do-sol (astro vespertino),
ou ao amanhecer, logo antes do nascer do Sol (astro matutino).
65
Planetas superiores: Marte, J´upiter, Saturno, Urano, Netuno e Plut˜ao.
Tˆem ´orbitas maiores do que a da Terra. Podem estar a qualquer
distˆancia angular do Sol, podendo ser observados no meio da noite.
9.2.2 Configura¸c˜oes planet´arias
Para definir as configura¸c˜oes dos planetas, que s˜ao as posi¸c˜oes caracter´ısticas
dos planetas em suas ´orbitas, vistas da terra, conv´em antes definir elonga¸c˜ao:
elonga¸c˜ao (e): distˆancia angular do planeta ao Sol, vista da Terra.
Configura¸c˜oes de um planeta inferior
• conjun¸c˜ao inferior: o planeta est´a na mesma dire¸c˜ao do Sol (e = 0) e
mais pr´oximo da Terra do que o Sol.
• conjun¸c˜ao superior: o planeta est´a na mesma dire¸c˜ao do Sol (e = 0),
e mais longe da Terra do que o Sol.
• m´axima elonga¸c˜ao: a distˆancia angular entre o planeta e o Sol ´e
m´axima, e vale 28◦ no caso de Merc´urio, e 48◦ no caso de Vˆenus.
Na m´axima elonga¸c˜ao ocidental, o planeta est´a a oeste do Sol (nasce e
se p˜oe antes do Sol) e, portanto, ´e vis´ıvel ao amanhecer, no lado leste.
Na m´axima elonga¸c˜ao oriental, o planeta est´a a leste do Sol (nasce e
se p˜oe depois do Sol) e ´e vis´ıvel ao anoitecer, no lado oeste.
Configura¸c˜oes de um planeta superior
• conjun¸c˜ao: o planeta est´a na mesma dire¸c˜ao do Sol (e = 0), e mais
longe da Terra do que o Sol;
• oposi¸c˜ao: o planeta est´a na dire¸c˜ao oposta ao Sol (e = 180◦). O
planeta est´a no c´eu durante toda a noite;
• quadratura (e = 90◦): O planeta est´a 6h a leste do Sol (quadratura
oriental) ou a oeste do Sol (quadratura ocidental).
9.2.3 Per´ıodo sin´odico e sideral dos planetas
Per´ıodo sin´odico (S): ´e o intervalo de tempo decorrido entre duas con-
figura¸c˜oes iguais consecutivas. ´E o per´ıodo de revolu¸c˜ao aparente do
planeta, em rela¸c˜ao `a Terra.
66
2
1
B A
3
3
B
1
A
1 2
B
3
A
2
Figura 9.2: Per´ıodo sin´odico e sideral.
Per´ıodo sideral (P): ´e o per´ıodo real de transla¸c˜ao do planeta em torno
do Sol, em rela¸c˜ao a uma estrela fixa.
Rela¸c˜ao entre os dois per´ıodos
Considere dois planetas, A e B, como na figura 9.2.3. O planeta A move-se
mais r´apido do que o planeta B, por estar numa ´orbita mais interna. Na
posi¸c˜ao (1), o planeta A passa entre os planeta B e o Sol. O planeta A
est´a em conjun¸c˜ao inferior visto de B, e o planeta B est´a em oposi¸c˜ao visto
de A. Quando A completou uma revolu¸c˜ao em torno do Sol, e retornou `a
posi¸c˜ao (1), o planeta B moveu para a posi¸c˜ao (2). De fato, A n˜ao alcan¸ca
o planeta B at´e os dois estarem na posi¸c˜ao (3), quando as posi¸c˜oes de A
e B em rela¸c˜ao ao Sol voltam a ser as mesmas que na situa¸c˜ao (1), e ter´a
decorrido um per´ıodo sin´odico para A e B. Mas, nesse ponto, o planeta A
ter´a ganho uma volta completa (360◦) em rela¸c˜ao a B.
Para achar a rela¸c˜ao entre o per´ıodo sin´odico e o per´ıodo sideral, vamos
chamar de Pi o per´ıodo sideral do planeta interior, e de Pe o per´ıodo sideral
do planeta exterior. S ´e o per´ıodo sin´odico, que ´e o mesmo para os dois.
67
O planeta interior, movendo-se 360◦
Pi
por dia, viaja mais r´apido do que o
planeta exterior, que se move a 360◦
Pe
por dia.
Ap´os um dia, o planeta interior ter´a ganho um ˆangulo de 360◦
Pi
− 360◦
Pe
em
rela¸c˜ao ao planeta exterior. Por defini¸c˜ao de per´ıodo sin´odico, esse ganho ´e
igual a 360◦
S , j´a que em S dias esse ganho ser´a igual a 360◦. Ou seja:
360◦
S
=
360◦
Pi
−
360◦
Pe
que ´e o mesmo que:
1
S
=
1
Pi
−
1
Pe
9.3 Exemplos de per´ıodos
1. Sabendo-se que Marte leva 780 dias para nascer quando o Sol se p˜oe
duas vezes seguidas, qual ´e o per´ıodo sideral (orbital) de Marte? Usa-
mos a f´ormula
1
S
=
1
Pi
−
1
Pe
identificando que, neste caso, i=Terra e Pi=1 ano, e=Marte e S=780 d
/ 365,25 (dias/ano) = 2,14 anos, j´a que o per´ıodo entre duas oposi¸c˜oes
´e o per´ıodo sin´odico S.
Calculado-se
1
Pe
=
1
Pi
−
1
S
obt´em-se Pe=1,87 anos = 687 dias.
2. Sabendo-se que Vˆenus leva 583,93 dias para aparecer em elonga¸c˜ao
m´axima a leste duas vezes seguidas (se p˜oe 3 horas depois do Sol),
qual seu per´ıodo sideral (orbital)? Usamos a f´ormula
1
S
=
1
Pi
−
1
Pe
identificando que, neste caso, e=Terra e Pe= 365,25 dias, i=Vˆenus e
S=583,93 dias, j´a que o per´ıodo entre duas elonga¸c˜oes m´aximas a leste
´e o per´ıodo sin´odico S.
Calculado-se
1
Pi
=
1
Pe
+
1
S
obt´em-se Pi= 224,7 dias.
68
9.3.1 Distˆancias dentro do Sistema Solar
Cop´ernico determinou as distˆancias dentro do sistema solar em termos da
distˆancia Terra-Sol, ou seja, em unidades astronˆomicas (UA).
Distˆancias dos planetas inferiores
emax
p
T S
Quando o planeta inferior est´a em m´axima elonga¸c˜ao (eM ), o ˆangulo
entre Terra e Sol, na posi¸c˜ao do planeta, ser´a de 90◦. Ent˜ao, nessa situa¸c˜ao
Sol, Terra e planeta formam um triˆangulo retˆangulo, e a distˆancia do planeta
ao Sol ser´a:
sen eM =
distˆancia(planeta−Sol)
distˆancia(Terra−Sol)
Portanto:
distˆancia(planeta−Sol) = sen eM × 1 UA
No caso de Merc´urio, cuja ´orbita tem alta excentricidade, a elonga¸c˜ao
m´axima varia de 23◦ a 28◦, e a distˆancia de 0,39 a 0,46 UA.
69
Distˆancias dos planetas superiores
E
.
E’
SP
P’
Observando Marte, Cop´ernico viu que o intervalo de tempo decorrido
entre uma oposi¸c˜ao e uma quadratura ´e de 106 dias.
Nesse per´ıodo de 106 dias, a Terra percorre uma distˆancia angular de
104,5◦, pois se em 365 dias ela percorre 360◦, em 106 dias ela percorre
106/365 × 360◦.
Como o per´ıodo sideral de Marte ´e de 687 dias, ent˜ao a distˆancia angular
percorrida por Marte nesse mesmo per´ıodo de 106 dias ser´a 55,5◦ (106/687
× 360◦).
Agora, considerando o triˆangulo formado pelo Sol, Terra e Marte na
quadratura (SE’P’ na figura), o ˆangulo entre o Sol e o planeta, visto da
Terra, ´e de 90◦, e o ˆangulo entre Terra e Marte, visto do Sol, ´e de 104,5◦ -
55,5◦ = 49◦.
Ent˜ao, a distˆancia entre Marte e Sol ´e:
distˆancia(Sol−Marte) =
1 UA
cos 49◦
= 1, 52 UA
A tabela a seguir mostra uma compara¸c˜ao entre os valores das distˆancias
dos planetas ao Sol, em unidades astronˆomicas, determinadas por Cop´ernico,
e os valores atuais.
70
Planeta Cop´ernico Moderno
Merc´urio 0,38 0,387
Vˆenus 0,72 0,723
Terra 1 1
Marte 1,52 1,523
J´upiter 5,22 5,202
Saturno 9,17 9,554
Apesar do grande sucesso de Cop´ernico em determinar as distˆancias dos
planetas ao Sol, e na simplicidade da explica¸c˜ao do movimento observado dos
planetas no seu sistema, as posi¸c˜oes previstas para os planetas nesse sistema
n˜ao eram melhores do que as posi¸c˜oes previstas no sistema de Ptolomeu.
Uma rela¸c˜ao emp´ırica para a distˆancia m´edia dos planetas em torno
do Sol foi proposta em 1770 por Johann Elert Bode (1747-1826) e Johann
Daniel Titius (1729-1796)
a =
2n × 3 + 4
10
com n = −∞ para Merc´urio, n=0 para Vˆenus, n=1 para a Terra, n=2
para Marte, n=3 para o cintur˜ao de aster´oides, n=4 para J´upiter, n=5
para Saturno, n=6 para Urano, Netuno n˜ao fita, e n=7 para Plut˜ao. Esta
rela¸c˜ao indica que deve haver algum tipo de resonˆancia mecˆanica no disco
protoplanet´ario que deu origem ao Sistema Solar.
71

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  • 1. Cap´ıtulo 9 Movimento dos planetas Os planetas est˜ao muito mais pr´oximos de n´os do que as estrelas, de forma que eles parecem se mover, ao longo do ano, entre as estrelas de fundo. Esse movimento se faz, geralmente, de oeste para leste (n˜ao confundir com o mo- vimento diurno, que ´e sempre de leste para oeste!), mas em certas ´epocas o movimento muda, passando a ser de leste para oeste. Esse movimento retr´ogrado pode durar v´arios meses (dependendo do planeta), at´e que fica mais lento e o planeta reverte novamente sua dire¸c˜ao, retomando o movi- mento normal. O movimento observado de cada planeta ´e uma combina¸c˜ao do movimento do planeta em torno do Sol com o movimento da Terra em torno do Sol, e ´e simples de explicar quando sabemos que a Terra est´a em movimento, mas fica muito dif´ıcil de descrever num sistema em que a Terra esteja parada e seja o centro do movimento dos outros astros, ou seja, num sistema geocˆentrico. 9.1 O modelo geocˆentrico de Ptolomeu Apesar disso, o geocentrismo foi uma id´eia dominante na astronomia durante toda a Antiguidade e Idade M´edia. O sistema geocˆentrico tamb´em ´e conhe- cido como sistema ptolemaico, pois foi Claudius Ptolemaeus (85 d.C.- 165 d.C.), o ´ultimo dos grandes astrˆonomos gregos, quem construiu o mo- delo geocˆentrico mais completo e eficiente. Ptolomeu explicou o movimento dos planetas atrav´es de uma combina¸c˜ao de c´ırculos: o planeta se move ao longo de um pequeno c´ırculo chamado epiciclo, cujo centro se move em um c´ırculo maior chamado deferente. A Terra fica numa posi¸c˜ao um pouco afas- tada do centro do deferente (portanto, o deferente ´e um c´ırculo excˆentrico em rela¸c˜ao `a Terra). At´e aqui, o modelo de Ptolomeu n˜ao diferia do modelo 63
  • 2. usado por Hiparco aproximadamente 250 anos antes. A novidade introdu- zida por Ptolomeu foi o equante, que ´e um ponto ao lado do centro do deferente oposto em rela¸c˜ao `a Terra, em rela¸c˜ao ao qual o centro do epici- clo se move a uma taxa uniforme, e que tinha o objetivo de dar conta do movimento n˜ao uniforme dos planetas. x . Planeta Equante Centro do Terra Deferente Epiciclo Deferente O objetivo de Ptolomeu era o de produzir um modelo que permitisse prever a posi¸c˜ao dos planetas de forma correta e, nesse ponto, ele foi razoa- velmente bem-sucedido. Por essa raz˜ao, esse modelo continuou sendo usado sem mudan¸ca substancial por cerca de 1300 anos. 9.2 Cop´ernico e o modelo heliocˆentrico No in´ıcio do s´eculo XVI, a Renascen¸ca estava sacudindo as cinzas do obs- curantismo da Idade M´edia e trazendo novo fˆolego a todas as ´areas do co- nhecimento humano. Nicolau Cop´ernico representou o Renascimento na astronomia. Cop´ernico (1473-1543) foi um astrˆonomo polonˆes com grande inclina¸c˜ao para a matem´atica. Estudando na It´alia, ele leu sobre a hip´otese heliocˆentrica proposta (e n˜ao aceita) por Aristarco de Samos (310-230 a.C.), e achou que o Sol no centro do Universo era muito mais razo´avel do que a Terra. Cop´ernico registrou suas id´eias num livro - De Revolutionibus- pu- blicado no ano de sua morte. As realiza¸c˜oes mais importantes de Cop´ernico foram: • introduziu o conceito de que a Terra ´e apenas um dos seis planetas (ent˜ao conhecidos) girando em torno do Sol; 64
  • 3. Figura 9.1: Movimento retr´ogrado dos planetas. • colocou os planetas em ordem de distˆancia ao Sol: Merc´urio, Vˆenus, Terra, Marte, J´upiter, Saturno (Urano, Netuno e Plut˜ao); • determinou as distˆancias dos planetas ao Sol, em termos da distˆancia Terra-Sol; • deduziu que quanto mais perto do Sol est´a o planeta, maior ´e sua velocidade orbital. Dessa forma, o movimento retr´ogrado dos planetas foi facilmente explicado sem necessidade de epiciclos [ver figura (9.2)]. Conv´em notar que Cop´ernico manteve a id´eia de que as ´orbitas dos planetas eram circulares e, para obter posi¸c˜oes razo´aveis, teve de manter pequenos epiciclos, mas n˜ao usou equantes. 9.2.1 Classifica¸c˜ao dos planetas pela distˆancia ao Sol Planetas inferiores: Merc´urio e Vˆenus. Tˆem ´orbitas menores do que a ´orbita da Terra. Os dois planetas est˜ao sempre muito pr´oximos do Sol, alcan¸cando o m´aximo afastamento angular em rela¸c˜ao ao Sol de 28◦, no caso de Merc´urio, e 48◦, no caso de Vˆenus. Por essa raz˜ao, eles s´o s˜ao vis´ıveis ao anoitecer, logo ap´os o pˆor-do-sol (astro vespertino), ou ao amanhecer, logo antes do nascer do Sol (astro matutino). 65
  • 4. Planetas superiores: Marte, J´upiter, Saturno, Urano, Netuno e Plut˜ao. Tˆem ´orbitas maiores do que a da Terra. Podem estar a qualquer distˆancia angular do Sol, podendo ser observados no meio da noite. 9.2.2 Configura¸c˜oes planet´arias Para definir as configura¸c˜oes dos planetas, que s˜ao as posi¸c˜oes caracter´ısticas dos planetas em suas ´orbitas, vistas da terra, conv´em antes definir elonga¸c˜ao: elonga¸c˜ao (e): distˆancia angular do planeta ao Sol, vista da Terra. Configura¸c˜oes de um planeta inferior • conjun¸c˜ao inferior: o planeta est´a na mesma dire¸c˜ao do Sol (e = 0) e mais pr´oximo da Terra do que o Sol. • conjun¸c˜ao superior: o planeta est´a na mesma dire¸c˜ao do Sol (e = 0), e mais longe da Terra do que o Sol. • m´axima elonga¸c˜ao: a distˆancia angular entre o planeta e o Sol ´e m´axima, e vale 28◦ no caso de Merc´urio, e 48◦ no caso de Vˆenus. Na m´axima elonga¸c˜ao ocidental, o planeta est´a a oeste do Sol (nasce e se p˜oe antes do Sol) e, portanto, ´e vis´ıvel ao amanhecer, no lado leste. Na m´axima elonga¸c˜ao oriental, o planeta est´a a leste do Sol (nasce e se p˜oe depois do Sol) e ´e vis´ıvel ao anoitecer, no lado oeste. Configura¸c˜oes de um planeta superior • conjun¸c˜ao: o planeta est´a na mesma dire¸c˜ao do Sol (e = 0), e mais longe da Terra do que o Sol; • oposi¸c˜ao: o planeta est´a na dire¸c˜ao oposta ao Sol (e = 180◦). O planeta est´a no c´eu durante toda a noite; • quadratura (e = 90◦): O planeta est´a 6h a leste do Sol (quadratura oriental) ou a oeste do Sol (quadratura ocidental). 9.2.3 Per´ıodo sin´odico e sideral dos planetas Per´ıodo sin´odico (S): ´e o intervalo de tempo decorrido entre duas con- figura¸c˜oes iguais consecutivas. ´E o per´ıodo de revolu¸c˜ao aparente do planeta, em rela¸c˜ao `a Terra. 66
  • 5. 2 1 B A 3 3 B 1 A 1 2 B 3 A 2 Figura 9.2: Per´ıodo sin´odico e sideral. Per´ıodo sideral (P): ´e o per´ıodo real de transla¸c˜ao do planeta em torno do Sol, em rela¸c˜ao a uma estrela fixa. Rela¸c˜ao entre os dois per´ıodos Considere dois planetas, A e B, como na figura 9.2.3. O planeta A move-se mais r´apido do que o planeta B, por estar numa ´orbita mais interna. Na posi¸c˜ao (1), o planeta A passa entre os planeta B e o Sol. O planeta A est´a em conjun¸c˜ao inferior visto de B, e o planeta B est´a em oposi¸c˜ao visto de A. Quando A completou uma revolu¸c˜ao em torno do Sol, e retornou `a posi¸c˜ao (1), o planeta B moveu para a posi¸c˜ao (2). De fato, A n˜ao alcan¸ca o planeta B at´e os dois estarem na posi¸c˜ao (3), quando as posi¸c˜oes de A e B em rela¸c˜ao ao Sol voltam a ser as mesmas que na situa¸c˜ao (1), e ter´a decorrido um per´ıodo sin´odico para A e B. Mas, nesse ponto, o planeta A ter´a ganho uma volta completa (360◦) em rela¸c˜ao a B. Para achar a rela¸c˜ao entre o per´ıodo sin´odico e o per´ıodo sideral, vamos chamar de Pi o per´ıodo sideral do planeta interior, e de Pe o per´ıodo sideral do planeta exterior. S ´e o per´ıodo sin´odico, que ´e o mesmo para os dois. 67
  • 6. O planeta interior, movendo-se 360◦ Pi por dia, viaja mais r´apido do que o planeta exterior, que se move a 360◦ Pe por dia. Ap´os um dia, o planeta interior ter´a ganho um ˆangulo de 360◦ Pi − 360◦ Pe em rela¸c˜ao ao planeta exterior. Por defini¸c˜ao de per´ıodo sin´odico, esse ganho ´e igual a 360◦ S , j´a que em S dias esse ganho ser´a igual a 360◦. Ou seja: 360◦ S = 360◦ Pi − 360◦ Pe que ´e o mesmo que: 1 S = 1 Pi − 1 Pe 9.3 Exemplos de per´ıodos 1. Sabendo-se que Marte leva 780 dias para nascer quando o Sol se p˜oe duas vezes seguidas, qual ´e o per´ıodo sideral (orbital) de Marte? Usa- mos a f´ormula 1 S = 1 Pi − 1 Pe identificando que, neste caso, i=Terra e Pi=1 ano, e=Marte e S=780 d / 365,25 (dias/ano) = 2,14 anos, j´a que o per´ıodo entre duas oposi¸c˜oes ´e o per´ıodo sin´odico S. Calculado-se 1 Pe = 1 Pi − 1 S obt´em-se Pe=1,87 anos = 687 dias. 2. Sabendo-se que Vˆenus leva 583,93 dias para aparecer em elonga¸c˜ao m´axima a leste duas vezes seguidas (se p˜oe 3 horas depois do Sol), qual seu per´ıodo sideral (orbital)? Usamos a f´ormula 1 S = 1 Pi − 1 Pe identificando que, neste caso, e=Terra e Pe= 365,25 dias, i=Vˆenus e S=583,93 dias, j´a que o per´ıodo entre duas elonga¸c˜oes m´aximas a leste ´e o per´ıodo sin´odico S. Calculado-se 1 Pi = 1 Pe + 1 S obt´em-se Pi= 224,7 dias. 68
  • 7. 9.3.1 Distˆancias dentro do Sistema Solar Cop´ernico determinou as distˆancias dentro do sistema solar em termos da distˆancia Terra-Sol, ou seja, em unidades astronˆomicas (UA). Distˆancias dos planetas inferiores emax p T S Quando o planeta inferior est´a em m´axima elonga¸c˜ao (eM ), o ˆangulo entre Terra e Sol, na posi¸c˜ao do planeta, ser´a de 90◦. Ent˜ao, nessa situa¸c˜ao Sol, Terra e planeta formam um triˆangulo retˆangulo, e a distˆancia do planeta ao Sol ser´a: sen eM = distˆancia(planeta−Sol) distˆancia(Terra−Sol) Portanto: distˆancia(planeta−Sol) = sen eM × 1 UA No caso de Merc´urio, cuja ´orbita tem alta excentricidade, a elonga¸c˜ao m´axima varia de 23◦ a 28◦, e a distˆancia de 0,39 a 0,46 UA. 69
  • 8. Distˆancias dos planetas superiores E . E’ SP P’ Observando Marte, Cop´ernico viu que o intervalo de tempo decorrido entre uma oposi¸c˜ao e uma quadratura ´e de 106 dias. Nesse per´ıodo de 106 dias, a Terra percorre uma distˆancia angular de 104,5◦, pois se em 365 dias ela percorre 360◦, em 106 dias ela percorre 106/365 × 360◦. Como o per´ıodo sideral de Marte ´e de 687 dias, ent˜ao a distˆancia angular percorrida por Marte nesse mesmo per´ıodo de 106 dias ser´a 55,5◦ (106/687 × 360◦). Agora, considerando o triˆangulo formado pelo Sol, Terra e Marte na quadratura (SE’P’ na figura), o ˆangulo entre o Sol e o planeta, visto da Terra, ´e de 90◦, e o ˆangulo entre Terra e Marte, visto do Sol, ´e de 104,5◦ - 55,5◦ = 49◦. Ent˜ao, a distˆancia entre Marte e Sol ´e: distˆancia(Sol−Marte) = 1 UA cos 49◦ = 1, 52 UA A tabela a seguir mostra uma compara¸c˜ao entre os valores das distˆancias dos planetas ao Sol, em unidades astronˆomicas, determinadas por Cop´ernico, e os valores atuais. 70
  • 9. Planeta Cop´ernico Moderno Merc´urio 0,38 0,387 Vˆenus 0,72 0,723 Terra 1 1 Marte 1,52 1,523 J´upiter 5,22 5,202 Saturno 9,17 9,554 Apesar do grande sucesso de Cop´ernico em determinar as distˆancias dos planetas ao Sol, e na simplicidade da explica¸c˜ao do movimento observado dos planetas no seu sistema, as posi¸c˜oes previstas para os planetas nesse sistema n˜ao eram melhores do que as posi¸c˜oes previstas no sistema de Ptolomeu. Uma rela¸c˜ao emp´ırica para a distˆancia m´edia dos planetas em torno do Sol foi proposta em 1770 por Johann Elert Bode (1747-1826) e Johann Daniel Titius (1729-1796) a = 2n × 3 + 4 10 com n = −∞ para Merc´urio, n=0 para Vˆenus, n=1 para a Terra, n=2 para Marte, n=3 para o cintur˜ao de aster´oides, n=4 para J´upiter, n=5 para Saturno, n=6 para Urano, Netuno n˜ao fita, e n=7 para Plut˜ao. Esta rela¸c˜ao indica que deve haver algum tipo de resonˆancia mecˆanica no disco protoplanet´ario que deu origem ao Sistema Solar. 71