O documento fornece notas biográficas e contexto sobre o poeta português Cesário Verde. Resume sua vida, incluindo seu nascimento em 1855 em Lisboa e morte em 1886. Também descreve a Lisboa do século XIX, marcada por contrastes sociais e condições precárias para a maioria dos trabalhadores.
1. CESÁRIO VERDE
NOTAS BIOGRÁFICAS:
Nasce a 25 de fevereiro de 1855 em Lisboa;
Passa a infância em Linda-a-Pastora (guarda boas
recordações do campo);
Do contacto com a natureza – desenvolve uma visão
positivista e realista (NÃO bucólica);
A morte dos irmãos por doença provoca no poeta o
isolamento;
Em adulto trabalha na loja de família na Rua dos Fanqueiros,
em Lisboa;
2. CESÁRIO VERDE
Diário de Notícias, em 1873, publica os seus primeiros
versos;
Até 1882 participa em alguns jornais – contudo, é
muitas vezes incompreendido;
Em 1884 agrava-se o seu estado de saúde;
Morre a 19 de Julho de 1886 no Lumiar, Lisboa;
Não publica nenhum livro em vida;
As suas poesias são publicadas postumamente por
Silva Pinto (seu grande amigo).
3. O SÉC XIX – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
Assiste-se a descobertas científicas que
revolucionam ideias e mudam valores e crenças;
Assiste-se a conflitos: competição económico-
militar e aparecimento do operariado;
Crise social;
Coexistem várias correntes estéticas: Realismo/
Naturalismo, Parnasiansimo, Simbolismo,
Modernismo – todas recusam o Romantismo;
4. O SÉC. XIX – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
Época de grande produção literária na Europa
(especialmente em França);
Em Portugal destaca-se Cesário Verde, Eugénio de
Castro e Camilo Pessanha;
Impressionismo: nova corrente artística – distancia-se
do realismo, revela-se mais pessoal, esbata-se os
limites do objetivo e subjetivo;
Simbolismo: movimento que pretende trazer à
consciência os sonhos e estados de alma, através de
cores e imagens (Sousa Pinto, Columbano, Silva Porto).
5. LISBOA – FINAL DO SÉC. XIX
Assiste-se a um êxodo do campo para a cidade;
Indústria diminuta – cidade tingida de aspetos
campesinos;
Instalação dos primeiros candeeiros a gás em 1848;
Maioria das ruas sem iluminação e de terra batida;
Falta de higiene impera nos bairros mais antigos (nas
traseiras das casas estavam os animais para consumo
doméstico);
6. LISBOA – FINAL DO SÉC. XIX
Água, canalizada muito recentemente, chegava a
muito poucas casas;
Acentuada diferença entre classes sociais;
Os mais abastados acreditavam que a pobreza era
natural – era uma “dádiva” de Deus para os ricos
poderem praticar caridade;
No verão de 1886, os albergues estavam
sobrelotados de pedintes e a impressa anunciava
vários pedidos de ajuda;
7. LISBOA – FINAL DO SÉC. XIX
Operários com salários miseráveis – alimentação
paupérrima – subnutrição – elevada taxa de
mortalidade;
Tuberculose (que vitimou C. Verde) e pneumonia;
Falta de segurança no trabalho – vitima
trabalhadores diariamente.
8. O REAL NA POESIA
Lisboa de Cesário: cidade de contrastes;
Retrata-a: destaca os bairros modernos onde se
instala a nova burguesia;
Ao captar o REAL – capta outra realidade lisboeta
– as condições dos trabalhadores;
DEAMBULAÇÕES – ao vaguear/ deambular –
denuncia o lado miserável da cidade, destaca os
humildes que sustentam a cidade;
VER é PERCEBER o que se esconde – perceciona
a cidade mi-nu-ci-o-sa-men-te através dos
SENTIDOS;
9. O REAL NA POESIA
Raramente retrata interiores – porque o sujeito
poético está em movimento, logo acompanha a
evolução do espaço;
O IMPRESSIONISMO e O REAL
POESIA do QUOTIDIANO – despoetiza o ato
poético – reflete a IMRESSÃO que o EXTERIOR
deixa no INTERIOR do poeta;
(ligação entre esta poesia e a pintura
impressionista);
Atitude antiliterária: o poeta projeta no exterior o
seu interior – permite-lhe rever-se nas coisas –
atingir o equilíbrio;
10. O REAL NA POESIA
A poesia intervém criticamente;
C. Verde – REPUBLICANO;
Faz denúncias ácidas e conclui... O MAIS FORTE
não é o mais rico – mas o POVO;
Dicotomia CIDADE/CAMPO;
11. O REAL NA POESIA
Campo não tem o aspeto idílico e paradisíaco de
poetas anteriores (longe do devaneio e lirismo
bucólico);
ESPAÇO REAL – observa os camponeses na sua
labuta diária, retratando as suas alegrias e
frustrações;
É o dia a dia concreto, autêntico e real – MAS
também sujetivo – através da manifestação da sua
preferência;
12. O REAL NA POESIA
CAMPO = vida, fertilidade, vitalidade,
rejuvenescimento PORQUE...
Não há miséria constrangedora, sofrimento,
poluição, cheiros nauseabundos, exploradores,
ricos pretensiosos que desprezam os humildes –
isto é a CIDADE;
Na CIDADE sente-se aprisionado, incomodado,
testemunha de injustiças sociais;
Os pobres são ricos aos olhos de C. Verde;
13. A MULHER EM C. VERDE
Dicotomia:
mulher citadina/ mulher campesina;
MULHER CITADINA (tal como a cidade) – associa-se à
fatalidade, morte, destruição, falsidade;
Apresentada como frígida, frívola, calculista, madura,
destrutiva, dominadora;
O erotismo da mulher fatal é humilhante – reacção
sado-masoquista entre a mulher artificial e a sua vítima
(o poeta);
14. A MULHER EM C. VERDE
MULHER CAMPESINA – frágil, terna, ingénua,
despretensiosa (mesmo que enquadrada na
cidade);
Desperta o desejo de proteção e estima;
“série de dualidades... derivadas da fundamental
oposição cidade/campo” (M. Mendes).
15. A POÉTICA E AS ESCOLAS LITERÁRIAS
Realismo: forma minuciosa como se interessa e
capta a realidade que o rodeia e pelo pormenor
descritivo;
Naturalismo: o meio surge como determinante dos
comportamentos;
Impressionismo: capta a realidade mas retrata-a
filtrada pelas suas percepções;
Parnasianismo: pela objetividade dos temas
(natureza do quotidiano)/ formas rígidas/ notações
dos aspectos vísiveis das coisas – poesia
aproxima-se das artes plásticas.
16. LINGUAGEM E ESTILO
Exatidão do vocabulário;
Imagens extremamente visuais – “pinto quadros
por letras, por sinais”;
Mistura o físico e o moral;
Combina sensações (logo... figura de estilo??)
Apresenta primeiro a sensação e depois o objeto
[“Amareladamente, os cães parecem lobos”];
17. LINGUAGEM E ESTILO
Dupla ou tripla adjetivação;
Termos desprovidas de conteúdo poético – nível
familiar ou técnico (martelo, batatal...);
Preferência por quadras;
Versos decassilábicos ou alexandrinos;
Uso frequente do transporte ou “enjambement”;
Em suma: estilo próprio difícil de classificar.
18. LINGUAGEM E ESTILO
Lirismo ou versos prosaicos?
Lirismo – associado à expressão que o “eu” faz do
seu mundo íntimo;
Prosa – voltada para o exterior, usando vocabulário
mais concreto e objetivo;
Versos prosaicos: vocabulário objetivo, realidade
exterior descrita – mas revestida de formas
poéticas – expressão da realidade objetiva é
conotativa;
Assiste-se à passagem do objetivo para o subjetivo
e vice-versa – não há lirismo puro.