A alegoria da caverna de Platão descreve os seres humanos como prisioneiros acorrentados em uma caverna, vendo apenas sombras projetadas na parede em frente a eles. Um prisioneiro que é libertado e sai da caverna é ofuscado pela luz do sol, mas passa a perceber o mundo real das ideias. Ao retornar à caverna, ele tenta ensinar os outros sobre a existência de um mundo verdadeiro fora da caverna, mas é rejeitado.
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O MITO DA CAVERNA de Platão
1. 24 agosto, 2007 at 2:33 pm
E agora, deixa-me mostrar, por meio de uma comparação, até que ponto nossa natureza
humana vive banhada em luz ou mergulhada em sombras. Vê! Seres humanos vivendo em um
abrigo subterrâneo, uma caverna, cuja boca se abre para a luz, que a atinge em toda a extensão.
Aí sempre viveram , desde crianças, tendo as pernas e o pescoço acorrentados, de modo que
não podem mover-se, e apenas vêem o que está à sua frente, uma vez que as correntes os
impedem de virar a cabeça. Acima e por trás deles, um fogo arde a certa distância e, entre o
fogo e os prisioneiros, a uma altura mais elevada, passa um caminho. Se olhares bem verás uma
parede baixa que se ergue ao longo desse caminho, como se fosse um anteparo que os
animadores de marionetes usam para esconder-se enquanto exibem os bonecos.
[…] Pois esses seres são como nós. Vêem apenas suas próprias sombras, ou as sombras uns dos
outros, que o fogo projeta na parede que lhes fica à frente.”
Platão, República, Livro 7
Platão (c.428-348 a.C.) não achava que este era o melhor dos mundos. É uma espécie de prisão,
escreveu ele, onde estamos trancafiados em escuridão e sombras. Mas além dessa prisão reside
um brilhante e esperançoso mundo de verdades que ele chamou de idéias ou ideais, e é por isso
que chamamos essa doutrina de idealismo.
Sócrates compara nosso mundo cotidiano a um “abrigo subterrâneo”, uma caverna onde somos
mantidos acorrentados. À nossa frente ergue-se uma parede e atrás de nós, uma fogueira.
Incapazes de virar a cabeça, vemos somente as sombras projetadas na parede pelo fogo. Nada
conhecendo além disso, naturalmente tomamos essas sombras por “realidade”. Os seres
humanos, nossos companheiros, assim como todos os objetos da caverna, para nós não passam
de sombras; não têm, para nós, outra realidade além dessa.
Mas se pudéssemos nos libertar das correntes, se pudéssemos ao menos nos virar para a
entrada da caverna, poderíamos constatar o nosso erro. A princípio, a luz direta nos seria
dolorosa e perturbadora. Porém, logo nos adaptaríamos e começaríamos a perceber as pessoas
e objetos reais, que só conhecíamos em forma de sombras. Mesmo assim, devido ao hábito, nos
agarraríamos às sombras, ainda acreditando que elas fossem reais, e suas fontes, apenas
ilusões. Mas se fossemos tirados da caverna para a luz, cedo ou tarde chegaríamos à visão
correta das coisas e lamentaríamos nossa antiga ignorância.
Nossas mentes estão escravizadas a imitações que nós, desta maneira, confundimos com a
realidade. Somos prisioneiros em uma caverna filosófica.
“no mundo do conhecimento, a idéia do bem aparece por último e é percebida apenas com
esforço; mas, quando percebida, torna-se claro que ela é a causa universal de tudo que é bom e
belo, o criador da luz e o senhor do sol neste mundo visível.”
É uma alegoria para o mundo ilusório das aparências em que estamos aprisionados.
2. Se Vs. quiserem conhecer uma excelente versão literária atual do MITO DA CAVERNAleiam o
belíssimo romance de José Saramago, onde o “shopping center” é apresentado como sendo a
caverna dos dias de hoje.
É, ao meu ver um exemplo de paradigma, mas eu gosto mais de um outro exemplo que é o
seguinte:
Certa vez cientistas colocaram em uma jaula quatro macacos. Nesta jaula havia bem no meio
um poste, e no alto do poste os cientistas colocaram um cacho de bananas.
Um macaco, ao ver as bananas, subiu no poste, e, quando estava quase chegando nas bananas,
foi derrubado por um potente jato de água gelada, que molhou os demais macacos. E assim foi
com o segundo, terceiro e quarto macacos, subindo e caindo, e a água gelada molhando todos
eles. Foi então retirado o primeiro macaco e colocado um novo macaco no lugar dele. Este novo
macaco ao ver as bananas, subiu no poste, e teve o memso destino que os outros, e os outros
foram molhados também. E os demais macacos originais foram sendo trocados por macacos
novos e a história foi se repetindo até que não houvesse mais nenhum macaco original na jaula.
Foi colocado então um quinto macaco, que ao tentar subir, foi agredido pelos macacos que já
estavam na jaula. O resultado? Os macacos sabiam que não podiam subir no poste, mas não
sabiam porque. Estava criado um paradigma.
O que éo a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas
materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O
filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo
das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e
com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real
iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão
está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)? Porque
imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro.
A réstia de luz que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (as idéias) sobre
o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis que tomamos pelas
verdadeiras. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos e
opiniões.
O instrumento que quebra os grilhões e faz a escalada do muro é a dialética. O prisioneiro
curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do Ser, isto é, o Bem, que ilumina o
mundo inteligível como o Sol ilumina o mundo sensível.
O retorno à caverna é o diálogo filosófico. Os anos despendidos na criação do instrumento para
sair da caverna são o esforço da alma, descrito na Carta Sétima, para produzir a “faísca” do
conhecimento verdadeiro pela “fricção” dos modos de conhecimento.
Conhecer é um ato de libertação e de iluminação.O MITO DA CAVERNA apresenta a dialética
3. como movimento ascendente de libertação do nosso olhar que nos libera da cegueira para
vermos a luz das idéias.
Mas descreve também o retorno do prisioneiro para ensinar aos que permaneceram na caverna
como sair dela. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão (a dialética ascendente), que vai da
imagem à crença ou opinião, desta para a matemática e desta para a intuição intelectual e à
ciência; e o de descensão (a dialética descendente), que consiste em praticar com outros o
trabalho para subir até a essência e a idéia.
Aquele que contemplou as idéias no mundo inteligível desce aos que ainda não as
contemplaram para ensinar-lhes o caminho. Por isso, desde Mênon, Platão dissera que não é
possível ensinar o que são as coisas, mas apenas ensinar a procurá-las.
Para aqueles homens, a realidade não passava de um grupo de sombras. Mas se um deles se
libertasse e saísse da caverna, se defrontaria com a ofuscante luz do sol, até conhecer um
mundo infinitamente lúcido e rico. Haveria, então, dois mundos. O “visível” – dentro do qual a
maior parte da humanidade está presa, condenada ao império dos sentidos. E o “inteligível”,
pertencente aos que superam a ignorância do nascimento e encontram a luz, no reino da
inteligência, dominado pela razão.
Na caverna da modernidade os “zumbisapiens” sobrevivem. Seres cria-dores das multidões de
prédios, carros, bombas e, principalmente, dos sarcófagos metropolitanos nos quais se
entorpecem da droga, que mais os aniquila: a clareza e racionalizada civilização.
Presos aos grilhões de nossos preconceitos progressistas, atuamos como dominadores da
natureza e não como parte dela. Somos os prisioneiros de uma gruta donde não repomos o que
colhemos. Por meio da transparência da informação estamos cada vez mais cegos na opacidade
do sistema.
Vivemos em um mundo distraídos das coisas mais importantes. Vivemos com as máscaras
moldadas em rostos escravizados pela ditadura estética do consumo, desfocados nas sombras
do redemoinho das cidades.