A história de sucesso do empresário Raulino Peretto e sua grife de produtos coloniais Doces Caseiros Maquiné
1. GENTE
O gringão do Maquiné
Raulino Peretto, o homem despachado e bonachão que deu vida à grife de produtos coloniais
que faz sucesso no Litoral Norte, tem orgulho de ser do campo, para onde quer voltar um dia
FOTOS JEFFERSON BOTEGA
ZELOSO DO
NEGÓCIO,
Raulino está
sempre
de olho na
empresa que
começou em
1965, num
galpão de
madeira às
margens do
Rio Maquiné
Osório chora”. Com um aperto na bochecha: “Esta é mi- lento, mas constante. Em 1968, a fábrica saiu
SEBASTIÃO RIBEIRO nha conterrânea”. do galpão e foi para uma pequena casa no
Dentro de uma das fábricas, isolado por pare- interior de Maquiné, então distrito de Osó-
D
e pé ao lado do balcão de uma de suas des de compensado, fica o escritório do dono. rio e hoje município. De puxadinho em pu-
lanchonetes à beira da RS-030, no Litoral Sem janelas, a parede de azulejos brancos, xadinho, a construção ficou 10 vezes maior
Norte, Raulino Peretto recebe Zero Hora to- as mesas tomadas por papéis e um velho do que a original. Em 1981, mudou-se nova-
mando um café pingadinho. É dia de Reis e, balde de margarina como lixeira, é ali que mente, para uma casa às margens da BR-101.
passadas as apresentações, já nos primeiros Raulino fica quando não está atendendo a – No primeiro dia, perto do Carnaval, fiz
minutos de conversa o empresário põe a fornecedores e clientes. Ao lado da cadeira oito pães e sobraram sete. Na Páscoa, fiz 40
mão no ombro do repórter e, nostálgico, canta: dele, um tijolo esfuracado de 500 gramas de rapadura pro- e vendi os 40 – conta Teresinha, responsável
– Oi senhor dono da casa, ôôôôôôôô... Nós aqui estamos va que o doce está nas veias do empresário. pelas receitas e pelo controle de qualidade dos mais de 200
chegando. Viemos anunciar o nascimento de Cristo... Quando – Passo o dia comendo. Rapadura, docinho de coco, man- produtos fabricados.
eu era criança, fui mestre no Terno de Reis em Maquiné. A dolate. Às vezes, pego 200 balas de coco e em meio dia já No início da década de 90, com a inauguração da Estrada
gente chegava cantando e era uma festa, uma comilança. terminou. E olha como estou bem (levanta-se e bota a mão do Mar, o fluxo de veranistas mudou-se para a RS-030. E o
Foi com seu jeito despachado e bonachão que esse gringo na barriga). Porque esse negócio de regime é bobagem. Sou Maquiné foi atrás. Agora, com a duplicação da BR-101, a em-
de 65 anos – “italiano de pai e de mãe” – fez do seu negó- saudável comendo doce – discursa. presa volta às origens. A reestreia foi com uma unidade de
cio uma grife de produtos coloniais no Litoral. Da fabriqueta 2,2 mil metros quadrados, com lugar para mais de 200 pes-
de fundo de quintal até o investimento de R$ 4 milhões na INÍCIO FOI COM PANELA DE POLENTA DA MÃE soas sentadas, piso de granito, TVs de plasma e “os melho-
loja às margens da BR-101, Raulino e a mulher, Teresinha res banheiros de beira de estrada do Brasil”, nas palavras de
acumulam 43 anos de casamento e de trabalho à frente da Raulino. A lancheria tem vista para a Lagoa da Pinguela, mas
Doces Caseiros Maquiné. A empresa é a vida e o orgulho do Raulino sua, fica vermelho, fala, fala, fala. Tem história para o empresário está mais interessado é na visão da 101.
casal. Sobre uma mesa abarrotada de roscas de polvilho e contar. A empresa começou em 1965, em um galpão de ma- – Hoje, ela serve mais de propaganda. Mas, quando
biscoitos amanteigados, o dono abre os braços e exclama: deira, às margens das águas frias e transparentes do Rio Ma- inaugurarem (a duplicação), esta loja vai ser a que mais
– Tudo que tem aqui é produção nossa! Quer dizer, menos quiné. O açúcar mascavo era diluído em uma panela de fazer vai vender. Não tem engano. E, do lado, vamos poder co-
os refrigerantes. Ah, os iogurtes, os queijos e os salames. polenta abandonada pela mãe. Um forno de barro torrava o locar um posto, umas lojinhas... – vislumbra Raulino, que
E as gostosuras que abastecem as duas lancherias da RS- amendoim. O trabalho de Raulino e Teresinha muitas vezes já tem terreno para construir outra loja no sentido oposto
030, no acesso à Estrada do Mar, ou a nova, na estrada fede- ia das 4h até depois do cair do sol. Na sexta-feira, ele saía pa- da rodovia.
ral, não vêm de uma única indústria. Raulino explica: “Pro- ra vender o pé-de-moleque em mercados da região. A consolidação das unidades deve marcar a despedida de
duzimos em todos os lugares”. Maquiné não tem uma fábri- – Quando comprei uma caminhonete, eu andava pelas es- Raulino da empresa. Daqui a dois anos, ele quer deixar tudo
ca, mas quatro – nos fundos das três lojas abertas e ainda na tradas cheias de areia até onde desse, até onde tivesse mais para os filhos Deveneza, Giovani e Tiago, que se criaram em
antiga lancheria fechada à beira da BR-101. um armazém aberto. Às vezes, só parava quando o carro meio ao negócio e hoje ajudam o pai e a mãe.
Na “parte industrial”, uma funcionária corta massa, outros atolava. Quando não aparecia ninguém para ajudar, eu dor- – Saí da colônia pra fazer negócio, mas sempre fui nostálgi-
embalam balas de coco, outros fazem pães e biscoitos. Rau- mia no meio da estrada mesmo – lembra. co. Quando vi que a situação estava mais esta-
lino faz questão de cumprimentar todos (nas quatro unida- Criado às margens do leito pedregoso do rio, Raulino sabe bilizada (década de 90), resolvi investir naqui-
des são 180). Com um sorriso: “Oi, jovens bonitas”. Com um bem o significado de um dos seus ditados preferidos: “pedra lo que também gosto: comprei terras. Quero
abraço: “Esta é a gerente, que manda em tudo, briga, xinga, que muito rola não cria limo”. Jura não se arrepender de ja- me mudar pra fazenda, voltar pro campo,
mais ter tirado férias em sua vida. No Brasil, foi a Santa Ca- cuidar dos meus boizinhos – planeja.
tarina, Paraná e São Paulo. No Exterior, só pisou em Rivera,
no Uruguai, sempre a trabalho. O crescimento da empresa foi ± sebastiao.ribeiro@zerohora.com.br
ZERO HORA > DOMINGO | 11 | JANEIRO | 2009 DINHEIRO 3