O documento descreve a sociedade e cultura das cidades medievais europeias entre os séculos XII e XIV. O crescimento do comércio e das atividades mercantis levou ao desenvolvimento de novas cidades e ao aumento da população urbana existente. A arquitetura gótica, com suas catedrais, simbolizava a nova cultura urbana florescente.
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
A cultura da catedral na Europa medieval
1. A CULTURA DA CATEDRAL
CONTEXTO HISTÓRICO
A SOCIEDADE DOS SÉCS. XII A XIV
2. Pol de Limburgo, pormenor de página iluminada do Livro de
Horas do Duquede Berry, século XV
Desenvolvimento das actividades mercantis (agricultura excedentária)
Reacendimento dos mercados internos e externos;
Aparecimento das actividades financeiras (seguros);
Formação de um novo grupo social – a burguesia:
Composta por artesãos, mercadores, lojistas e letrados.
3. Uma rua de comércio num burgo medieval (iluminura francesa do
século XIII)
4. O crescimento das cidades a partir do século
XII ficou bem exposto no alargamento do
espaço urbano fruto da actividade económica
protagonizada pelas feiras e pelo
desenvolvimento agrícola. Além do crescimento
das cidades existentes, novos espaços surgem
como resultado dos factores mencionados.
6. As cidades medievais foram planeadas de acordo com a
localização de alguns edifícios importantes como a
catedral, o palácio de administração e a casa das
corporações. As casas de habitação estavam agrupadas
por profissões ao longo de ruas estreitas e tortuosas.
A cidade medieval de Carcassone, França
9. Filosofia escolástica:
Nome dado ao conjunto de doutrinas teológico-filosóficas
que se ensinavam nas escolas e universidades medievais.
resumia-se ao estudo e comentário da filosofia clássica
(Platão, Aristóteles entre outros) e dos escritos dos principais
autores cristãos – doutores da Igreja – como Santo
Agostinho.
O ensino praticado era livresco e teórico, baseado na
autoridade do mestre, que nunca poderia ser refutado.
Uma aula numa universidade medieval (iluminura da época)
10. O renascimento urbano fez desenvolver uma nova cultura popular:
- Cantares e danças;
- Florescimento das línguas nacionais (poesia trovadoresca);
- Conforto e luxo dos grandes (nobres e eclesiásticos);
- jogos guerreiros e saraus palacianos;
- Desenvolvimento do mecenato:
- Apoio a artistas (alojamento e financiamento das obras elaboradas);
- Códigos de etiqueta (regras de comportamento e postura) nas cortes régias.
11. Dante Alighieri
Dante Alighieri cortou com a
tradição medieval de usar o latim na
escrita dos livros. Em substituição
desta língua, usou a língua italiana, o
que permitiu o seu aperfeiçoamento.
12. RECONHECER A IMPORTÂNCIA DA OBRA
“DIVINA COMÉDIA”
O título original é A Comédia – foi alterado mais tarde
para Divina Comédia pelo estatuto que Dante adquiriu
como poeta;
Consiste na viagem que um homem (consensualmente
julgado como sendo o próprio Dante) realiza pelos três
estádios pós-morte: o Inferno, o Purgatório e o
Paraíso;
Essa “viagem” foi o subterfúgio poético de que se
serviu para analisar a vida humana (particularmente a
da sua cidade) e expor o seu pensamento no campo
da filosofia e da teologia.
13. A Peste Negra propaga-se na Europa a
partir de 1347-48 (chega a Portugal em
1348).
O contágio fazia-se geralmente pela
picada de pulga ou pela mordidela de
rato. Esta pandemia trouxe
consequências demográficas e
económicas muito graves.
14. OS SINTOMAS DA PESTE
“As úlceras apareciam sob as axilas e nas virilhas e a
morte sobrevinha ao terceiro dia. Por vezes, os doentes
morriam sufocados pelo próprio sangue. O pavor era tal
que, logo que apareciam feridas no corpo de um doente,
todos o abandonavam, até os parentes: o pai deixava o
filho a agonizar no seu catre e o filho deixava o pai. (...)
Assim, faleciam por falta de cuidados muitos que, de outra
forma, poderiam sobreviver; outros, quando atingidos,
eram logo considerados condenados, levados para a vala
e sepultados antes de terem dado o último suspiro.”
Relatos de Bulize em Vidas dos Papas de Avinhão
16. PARA ESCLARECER
A palavra gótico tem como referência original o
povo godo, de origem germânica, cujo idioma
era o gótico.
A denominação gótica foi criada em jeito de
crítica por oposição ao estilo românico. Seja
como for, a sua designação manteve-se
inalterada até aos dias de hoje.
17. A ARTE GÓTICA
A arte gótica nasceu no Ocidente europeu – mais
propriamente na Île de France, coração de França – por
meados do século XII, perdurando pelos séculos XIII e XIV na
Itália, até ao século XV na França e para além deste século
nos países mais ao norte onde deixou duradoiras tradições.
21. Nesta perspectiva é possível observar todas
as inovações arquitectónicas do Gótico:
abóbadas de cruzaria ogival com nervuras;
arcobotantes duplos que possibilitaram que
as paredes se tornassem mais altas e mais
finas; trifório encimado por um alto clerestório
(sem galeria, portanto); e grandes vidraças
que dissolvem as paredes em luz.
Perspetiva, em secção, da Catedral
de Amiens, França, século XII
22. AS INOVAÇÕES DA
ARQUITECTURA
GÓTICA
A nível interior:
-No transepto, que passa a ser menos, ou nada, saliente, tornando a cruz
latina menos explícita na planta.
-Na cabeceira, que se tornou mais complexa e aumentou de tamanho,
chegando a ocupar cerca de um terço da área total da igreja;
-E na altura da nave central, que foi sendo progressivamente maior,
concretizando o ideal de verticalidade da estética gótica.
Catedral de Notre-Dame de Chartres
25. INOVAÇÕES A NÍVEL EXTERIOR
O portal oeste passa a ser triplo;
As arquivoltas tornam-se mais esguias;
A verticalidade é impulsionada pela
implementação de torres sineiras ladeando os
portais, em cima de cruzeiros ou adossadas no
transepto.
As torres sineiras tinham um telhado cónico ou
em agulha;
Uso de pináculos rendilhados;
Decoração estatuária em contraste com o
interior, em tímpanos, cornijas e botaréus.
26. Catedral de Notre-Dame de Reims, França
O portal Oeste passou a ser
triplo estando de acordo com a
estrutura interior.
A noção de verticalidade foi
reforçada com a construção de
torres sineiras.
27. Perspetiva do lado este – exterior do
Mosteiro de Santa Maria da Vitória,
Batalha
28. CARACTERÍSTICAS DA ARQUITETURA GÓTICA
EM PORTUGAL
Edifícios de dimensões mais modestas, com
verticalidade menos acentuada;
Persistência da influência do Românico na estrutura
e na planta do edifício;
Janelas mais pequenas e em menor número;
Uso de coberturas em madeira e pedra, mantiveram
as abóbadas e contrafortes românicos;
Decoração menos rica presente em cabeceiras e nos
capitéis das arcadas, com motivos vegetalistas e
quase sem figuração;
No gótico em Portugal, a grande exceção é o
Mosteiro de Santa Maria da Vitória.
32. Eckehard e Uta, Catedral de Naumburg, c. 1260
As figuras ganham maior realismo e
naturalismo (gestos e formas)
As figuras ganham expressividade
(transmitem sentimentos e emoções)
33. Pietá do Mosteiro de Sceon, Salzburgo, Alemanha, c. 1400
A morte e os temas
escatológicos tornaram-se
populares:
- a Descida da Cruz,
- as pietás ou a morte
personificada irromperam nas
artes francesa, flamenga e
germânica como temas
dominantes.
34. A partir do século XIV, as esculturas
são marcadas pela posição em “S”
dado por um balanceado requebro da
anca.
Virgem da Sainte-Chapelle, Paris, princípios
do século XIV, marfim, 41 cm de altura
35. TEMÁTICAS
Valorização do papel da mulher através as
representações das Senhoras do Leite e das
Senhoras do Ó, que também marcaram a tradição
portuguesa (representações de Nossa Senhora de
esperanças e a amamentar o Menino Jesus,
respetivamente);
Temas ligados à história, à fábula, ao mundo
animal e às diversas ciências e uma série de
motivos vegetalistas simples, de grande verismo e
naturalismo.
36. A Morte da Virgem, tímpano do portal do transepto sul da Catedral de Reims,
França
37. Reaparecimento da prática do retrato
TÚMULO DE D. PEDRO I, SÉC. XV, CALCÁRIO
(PATENTE NA IGREJA DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA)
Roda da Fortuna, símbolo da
incerteza do destino humano.
40. VITRAIS
Aproveitavam a luz natural para proporcionar um
ambiente celestial propício ao espírito religioso da
época;
Representavam cenas dos ofícios onde figuravam
reis, bispos e nobres que constituíam os
encomendadores destes painéis;
Os vitrais assumiam uma função documental e
simbólica.
41. COMO ERAM ELABORADOS?
Cortavam-se placas de vidro colorido em pequenos
pedaços com um desenho devidamente
estabelecido por um pintor;
Esses pedaços eram unidos por filetes de chumbo
cujos contornos eram definidos com uma tinta
escura junto ao chumbo;
As figuras são alongadas e bidimensionais (com
altura e largura, sem profundidade espacial);
A expressividade é visível nos gestos das figuras.